Você está na página 1de 3

Texto de apoio - Yohji Yamamoto

Produto de uma cultura japonesa devastada pela guerra, Yohji Yamamoto nasceu em Tóquio
no Japão no ano de 1943. Desde jovem ele tinha uma relação muito próxima com a moda, pois
sua mãe era dona de uma loja onde eram produzidas roupas sob medida para as clientes da
alta elite japonesa. As vestimentas confeccionadas eram ultra femininas, e Yohji sempre
questionou isso. Ele não entendia o motivo daquelas peças serem desta forma, e dizia que
aquilo reforçava a ideia de que mulheres eram “bonecas servidas para o homem”. O designer
progressista construiu seus 50 anos de carreira na recusa em se curvar diante à essa tradição,
acabou se apaixonando pela moda feminina e era movido por desconstruir alguns dogmas
relacionadas à ela.

Ele teve a oportunidade de estudar moda em uma das mais renomadas faculdades do Japão e
do mundo, a faculdade de Bunka. Yohji foi com o simples intuito de aprender a modelar e
costurar, ele não fazia ideia de que havia um sistema de moda muito bem consolidado no
mundo e só queria adquirir os conhecimentos necessários para ajudar sua mãe na confecção
da loja. Depois de se formar em 1969, teve a oportunidade de morar por um ano na França.
Naquela época a alta costura estava entrando em declínio com o início do ready to wear. Isso o
deixou perdido porque em Bunka ele havia estudado na maior parte do curso a alta costura, e
então ficou desiludido achando que a moda não era para ele, e que não tinha os
conhecimentos necessários para entrar no mercado. Sendo assim, Yamamoto volta para o
Japão e começa a trabalhar com sua mãe e também como freelancer. Nesse período ele já
demonstrava aquelas que seriam suas características mais marcantes. Começou a produzir
roupas assimétricas que colidiam com as linhas rígidas e geométricas que dominavam a moda
parisiense.

Incomodado com o fato de estar criando roupas sem sentido com sua mãe, ele decide montar
sua marca com criações próprias, a Y’S. Foi nessa época que Yamamoto conheceu uma aliada e
parceira, a eclética designer fundadora da marca Come dês Garçons, Rei Kawakubo. Apesar de
temperamentos radicalmente opostos, eles compartilhavam uma semelhança na moda: ambos
eram atraídos pelo anormal, sem restrições por regras e tradições convencionais. Os dois
estavam procurando uma nova maneira de projetar roupas para mulheres.

As primeiras idéias ele carrega consigo até os dias atuais. As peças de Yohji são
extremamente influenciadas por sua origem e pela maneira que ele enxergava o mundo. A
monocromia (principalmente utilizando-se do preto), a modelagem e cortes diferenciados, a
assimetria e a mistura do formal com o informal são processos criativos que sempre estiveram
aliados às suas indumentárias. Dizia que as cores tinham sentimentos e ele não queria passá-
los através deste recurso, por isso o uso do preto. O seu foco era na silhueta, ou seja, nos
cortes e modelagens. Yamamoto foi um dos primeiros a afastar um pouco da ideia da
modelagem tradicional. Ele realmente estudou e investigou outras formas em que o vestuário
pode estar sendo construído. Dizia que todo corpo humano é assimétrico e buscava sempre
trazer isso em suas peças. Suas coleções são construídas principalmente em torno do conforto
e confiança que as roupas podem proporcionar às mulheres, desinteressado em apresentá-las
como objeto do desejo masculino.

Segundo o próprio designer, as palavras-chave de sua linguagem são: assimétrico,


contraditório, oposto, imoral, estúpido, ridículo, resistir, destruir, destruição, desobediente,
incompleto, aproveitar e dano. Conseguimos inseri-las perfeitamente em suas criações. Essas
palavras fazem parte de sua história e tem muito a ver com o que vivenciou em suas origens.
Yohji perdeu seu pai na guerra do Japão e teve que passar sua infância e juventude vendo sua
mãe trabalhando 16 horas por dia para poder sustentá-lo. A partir dessas situações Yamamoto
conseguiu transformar a raiva em inspiração. Ele cita que esse sentimento é um bom ponto de
partida em seu processo criativo.

Demorou um pouco mas Yohji Yamamoto encontrou seu primeiro grande sucesso. Sua
primeira coleção publica em Tóquio se tornou bem sucedida e então a Y’S capitalizou-se
rapidamente a medida que se espalhava pelo país.

CURIOSIDADE: Yohji tinha um mapa do Japão em sua parede e usava um alfinete para marcar
toda cidade que ele tinha alguma conexão com um shopping ou boutique lá instalada, e então
em 1980 ele percebeu que o mapa estava quase todo coberto, foi ai que o designer decidiu
que era a hora de voltar a tentar se inserir no mercado europeu.

Após 3 anos com sua marca no Japão, Yohji decide voltar a Paris para tentar se consolidar no
mercado europeu. Nesse período Rei Kawakubo também estava indo ao continente com o
mesmo intuito. Em 1981 ele abre uma loja em Paris e no mesmo ano estreia uma coleção
colaborativa com Kawakubo na Paris Fashion Week, que abalou as bases da expectativa
tradicional. Com toda a polêmica desse desfile os ataques vieram em peso. Ainda que tenham
conquistado certa parcela da crítica, a maioria do público não gostou. Para Rei tais críticas
soaram como um sinal de que tinha dado certo o desfile, pois era a intenção dela perturbar o
sistema de moda dominante, mas para Yohji foi profundamente perturbador. Ele só queria
expressar o que sentia através dos vestíveis, não queria aquela sensação de que estava indo
contra a moda.

Apesar dos protestos, aquela parcela que aplaudiu a coleção se converteu fielmente a esse
novo senso de design, e no final foi melhor que as pessoas reagissem com ódio ou amor do
que com simplesmente a indiferença. Para aqueles que odiaram era só o início de uma longa
jornada. Yamamoto superou todos os obstáculos, preconceito e xenofobia em sua jornada,
sempre da sua maneira. Seguiu trilhando seu caminho sem abandonar suas características
revolucionárias e, junto de Rei Kawakubo, começou a ser visto como uma onda invasora do
design japonês.

A estética do design do Yamamoto evoluiu ao longo dos anos. Desde a primeira apresentação
de sua marca “YOHJI YAMAMOTO” em 1981 durante a semana de moda de Paris, cada coleção
é recebida pelo mundo com grande alvoroço e aplausos. Sua carreira atingiu o auge na coleção
de casamento de 1999. Isso confirmou o novo caminho romântico que ele havia tomado ao
mudar o registro do masculino para o feminino
YOHJI YAMAMOTO PRIMAVERA 1999 – COLEÇÃO DE CASAMENTO: A coleção transcende a
moda e o consumo, chegando muito próximo da arte. Era um espaço amplo, onde as modelos
desfilavam lentamente como se estivessem mesmo a caminho do altar. Yohji partiu dos
tecidos e formas básicas de vestidos de noiva, como seda marfim, tule e crepe, e deu a eles
novas formas e significados jamais vistos: os chapéus dramáticos cobertos por tule, pijama
suits e os vestidos que se transformavam ao longo do show. As modelos permaneciam
no stage por mais tempo do que o normal, e iam modificando o look, adicionando ou retirando
peças de maneiras completamente inesperadas. A descontrução de gênero também marcou o
desfile, que hoje é uma das principais referências no tema. Yohji Yamamoto levou o público
às lágrimas ao mesmo tempo em que se deliciavam com sua maravilhosa irreverência .
Alguns presentes disseram que nunca haviam visto tanta gente chorando de emoção na como
nesse desfile.

Em 2002 se tornou um dos primeiros designers a unir a alta costura com o alto desempenho e
performance, colaborando com a Adidas e lançando a linha Y-3, muito antes da moda
esportiva entrar na cultura mainstream. O próprio sistema começou a se apropriar de seus
recursos criativos e várias marcas utilizaram-se dessas ferramentas como investigação de
formas e materiais. Isso aconteceu não só na parte de design mas também no branding, tendo
em vista que ele foi pioneiro ao fazer colaborações com empresas de público-alvo distinto,
como a Adidas. Depois disso, essas colaborações se tornaram tendência e hoje em dia é muito
comum.

Apesar do sucesso como designer, Yamamoto nunca teve interesse pelo lado empresarial.
Preferia lidar com o elemento criativo e deixar que os outros cuidassem dos negócios. Isso
teve conseqüências e em 2009 ele declarou falência, mas felizmente foi resgatado por um
grupo de investidores japoneses que apoiaram uma reabilitação e o negócio pode continuar a
funcionar.

Yamamoto sempre esteve mais preocupado em seguir seus instintos do que com a
expectativa dos outros. Ele está sempre ansioso pelo que vem a seguir, a única coisa que ele
pretende superar é a si mesmo, cada coleção é projetada para movê-lo para frente como
designer e artista. Hoje aos 78 anos sempre desconsidera a ideia de aposentadoria e ainda
pratica uma dedicação feroz ao ofício e sua equipe.

Você também pode gostar