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ESTILIZAÇÃO

Produção Cultural e Design


® Reservados todos os direitos autorais e de reprodução à Fundação Bradesco
Homepage: www.fundacaobradesco.org.br

AUTORIA
Marco Antonio Cortez

ILUSTRAÇÕES
Marco Antonio Cortez

REVISÃO GRAMATICAL E ORTOGRÁFICA


WM Serviços Editoriais Ltda. ME.

PROJETO GRÁFICO
Fonte Artes Gráficas Ltda. ME.

Editoração
WM Serviços Editoriais Ltda. ME.

PUBLICAÇÃO: 2014

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Sumário

Apresentação 5

1. Introdução 7
1.1 Leveza e segurança no traço 7
1.2 Materiais 8
1.3 Estrutura 8
1.4 Deformação Squash e Stretch 8
1.5 Técnica versus Estilo 9

2. Mercado de trabalho e estilização de objetos 13

3. Estilização de cenários 21
3.1 Elementos de composição e processos de finalização 21
3.1.1 Dicas de composição 29
3.2 Desenhando a partir do natural 34

4. Perspectiva dinâmica 41
4.1 A câmera do diretor escolhendo o melhor ângulo de visão para os cenários e figuras 42
4.2 A perspectiva como base para os cenários e figuras 43

5. Estilização da cabeça, mãos e pés – masculino e feminino 53


5.1 Expressões 57
5.2 Princípios da caricatura 65

6. Estilização do corpo humano – masculino e feminino 73


6.1 Linhas de construção 73
6.2 Esquemas de proporção 78
6.3 Linha de ação 81

7. Estilização de animais 85
7.1 Linhas de construção e ação 87
7.2 Humanização de animais 91

8. Criação de personagens 97
8.1 Model sheet e style guide 99

9. Renderização – técnicas de arte-final e colorização 113


9.1 Arte-final 113
9.1.1 Etapas de finalização nos sistemas tradicional, digital e misto 114
9.1.2 Conservando a qualidade do traço – técnica mista tradicional com digital 116

PROJETO ESPECIAL 120


Projeto para encerramento do curso 120

Estilização 3
10. Aspectos do mercado 121
10.1 Narrativas transmídias e games 121
10.2 Como se começa a trabalhar 124
10.3 Quanto cobrar? 125
10.4 Como fazer um contrato? 125
10.5 Como proteger meus direitos de autor? 127
10.6 Quem já está no mercado como profissional não está sujeito a condições contrárias? 128
10.7 Considerações finais 128

Referências 129

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Apresentação
O estudo do desenho abrange diferentes tipos de linguagem e estilo, porém a
representação gráfica da forma tem sempre um fundamento básico em qual-
quer segmento ou tipo de expressão do desenho: a estrutura. As linhas e for-
mas geométricas servem de base para a construção do desenho. Conhecer bem
o processo de construção do desenho, utilizando as linhas estruturais, faz com
que a obra final tenha forma equilibrada e harmônica, sem distorções.

No entanto, o processo de evolução das técnicas do desenho fez com que o


estilo clássico passasse por transformações, levando a diferentes tipos de re-
presentação gráfica. O termo usado para isso é estilização. Estilizar nada mais
é do que fazer uma síntese da forma, simplificar seus detalhes.

A estilização encontra-se na caricatura, nas ilustrações editoriais e publicitá-


rias, nos quadrinhos, na animação e, também, no design gráfico. A propósito,
os designers são muito eficientes na estilização de formas, há muitos trabalhos
interessantes nos projetos de identidade visual, especificamente, em logotipos.

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Nas áreas da caricatura e animação, destacam-se artistas importantes que utili-
zam esse recurso gráfico, como: Mort Druker e Tom Richmond (caricaturistas
e quadrinistas americanos, com as ilustrações para a Revista Mad como traba-
lho mais significativo) e os designers de personagem de animação, como Glean
Keane e Bruce Timm.

Pode-se desenhar de vários modos e com diferentes materiais, explorando in-


finitas possibilidades de expressão artística, mas para se aprofundar no estudo
da estilização das formas é necessário bom conhecimento do desenho tradi-
cional, afinal não é possível simplificar a representação figurativa de uma for-
ma sem representá-la realisticamente.

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1. Introdução
A estilização parece ser um caminho rápido aos iniciantes na arte do desenho, pela impressão de ser uma
arte descompromissada, aparentemente sem muitas regras de proporção e acabamento. Esse pensamento é um
grande equívoco e muitos desenhistas acabam tendo dificuldades para ingressarem e/ou se manterem no mer-
cado profissional. Os desenhos estilizados, sejam para livros infantis, teen ou adultos, requerem conhecimento
avançado em todos os fundamentos do desenho, principalmente, no que se refere a proporção e movimento. Em
alguns casos, é mais difícil desenhar um personagem estilo cartum, do que um realista de estilo clássico.

Ao contrário do que muitos pensam, o desenho estilizado possui regras e conceitos próprios. Este curso
trata de algumas dessas particularidades, necessárias ao conhecimento dos recursos disponíveis para a execução
de um bom trabalho, de nível profissional.

1.1 Leveza e segurança no traço


Um dos primeiros passos para conseguir desenvolver habilidade e segurança no desenho é obter espon-
taneidade na expressão do traço; para isso, precisamos soltar a mão; controlar o peso/pressão do traço; sentir-se
sem tensão. Alguns exercícios são muito importantes para ajudar nesse processo, um deles é o treino do traço.
Repita esse modelo sempre que puder.

Trace círculos, elipses e traços ondulados, variando a pressão/peso da mão no lápis sobre o papel. Colo-
que pressão no início e procure soltar o lápis no final do traço. Perceba essa variação. Use um lápis 2B.

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1.2 Materiais
A escolha dos materiais corretos faz a diferença para o aspirante no caminho da estilização. Inicialmente,
do método tradicional, observa-se que o lápis deve ser de boa qualidade e, de preferência, macio. Os melhores
são Koh-I-Nor, Staedtler e Faber Castell. Para quem encontrar no Brasil o Col-Erase da Prismacolor Sanford é,
também, uma boa opção. As numerações: B, HB n. 2, 2B e 4B (no máximo). Para os fissurados em lapiseira, deve-
-se optar pelo grafite Pentel 2B Hi-Polymer. Use papel office A4 75g, é um papel bom e de custo acessível (Chamex
e Report são boas opções de marcas).

As canetas nanquim são bastante interessantes para o exercício proposto acima e, também, para a finali-
zação do trabalho. Canetas PITT B, da Faber Castell (pequena e grande), Staedtler Triplus Finiliner, Stabilo Point
88 fine 0.4 e outras descartáveis, também interessam. Para o método digital é indispensável uma mesa digitali-
zadora da WACOM – Bamboo, Intuos ou Cintq. As mesas de tamanho médio têm boa relação custo/benefício.

1.3 Estrutura
As linhas de construção são fundamentais dentro do processo de desenvolvimento do desenho. São elas
que auxiliam no alinhamento e na definição da forma. Isso foi visto no curso de desenho, mas aqui não podemos
nos esquecer de retomar esse importante fundamento. Na estilização, as linhas de construção, os eixos guias, aju-
darão a preparar o esboço-guia para a simplificação, ou deformação das formas (quando for o caso). Será feita,
agora, uma sessão de exercícios básicos para aquecer os motores para as próximas etapas.

Faça alguns exercícios de estudo de desenho de observação, pode ser com objetos ao vivo ou com refe-
rências de imagem.

1.4 Deformação Squash e Stretch


Squash (achatar, espremer) e stretch (esticar, estender) são expressões usadas para descrever um dos doze
princípios básicos da animação, estabelecidos por Frank Thomas e Ollie Johnston, em trabalho oficial sobre o es-
túdio Disney, intitulado The Illusion of Life. Os animadores da década de 30 iniciaram os estudos sobre movimen-
to e começaram a aplicar algumas regras no desenho de animação. A propósito, até hoje, a influência da escola
de animação faz com que muitos desenhistas tenham seus desenhos mais amadurecidos e soltos, menos duros.

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A proposta, agora, é fazer alguns exercícios utilizando esse princípio de animação, para avançar no estu-
do da estilização.

Reproduza o movimento da bola em queda, tentando entender a deformação da figura e o momento em


que isso ocorre, conforme o modelo proposto abaixo.

Compreenda no esquema abaixo que a deformação ocorre por conta da aceleração e desaceleração (Te-
oria da Gravidade).

1.5 Técnica versus Estilo


A técnica está diretamente ligada aos materiais que usamos em nosso trabalho, como por exemplo: gra-
fite, aquarela, guache, lápis aquarelável, pastel, óleo, massa de modelar, recorte, computador etc.

O estilo está na maneira individual que cada um vai se expressar graficamente. Encontramos artistas que
misturam técnicas em um mesmo trabalho criando muitas vezes um estilo próprio, alguns usam como base em
seus trabalhos características de escolas de arte, como dadaísmo, cubismo, surrealismo etc. Tudo isso podemos
considerar como um estilo de representação. Vamos exemplificar.

Trabalhos de técnica mista (aquarela e lápis aquarelável) de artistas da SIB – Sociedade dos Ilustradores
do Brasil (http://www.sib.org.br).

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Ilustração de Adriano Renzi Ilustração de Ana Maria Moura

Ilustração de Cecília Esteves Ilustração de Fábio Sgroi

Os trabalhos acima têm um estilo apropriado para a área editorial, observe como existe uma certa uni-
dade nas cores (tons pastéis), tipo de traço e composição.

Nesse caso alguns artistas usaram a técnica usando como suporte o papel (físico) e outros o digital
(softwares de pintura Adobe Photoshop e Painter), o mesmo você irá observar nos exemplos abaixo que utilizam
um estilo mais próximo ao cartum com traço vetorial e colorização mista (vetorial e bitmap).

Ilustração de Marcelo Castro Ilustração de Grego

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Ilustração de Jean

Ilustração de Galvão

EXERCÍCIOS
Vamos soltar a mão!

Para ganhar mais segurança, faça alguns exercícios substituindo a bola por outro elemento. Vale lem-
brar que deve-se entender as características reais do elemento que será representado. Se puder, use um modelo
real e faça, primeiramente, estudos de observação explorando as linhas de construção, para depois estudar a
deformação.

Fazer uma sessão simples de desenho de observação de algum objeto real em sala de aula.

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2. Mercado de trabalho e estilização de
objetos
Para boa compreensão da forma estrutural dos objetos que serão estilizados, é necessário fazer estudos
de observação, a partir do natural. Caso isso não seja possível, pode-se trabalhar com referências fotográficas.
Tal ponto parece repetitivo, mas esse princípio é fundamental para a boa estilização de qualquer figura. As linhas
de construção e estrutura são muito úteis, até adquirir bastante segurança e liberdade na expressão dos traços. O
termo em inglês usado no mercado de animação e quadrinhos para definir os objetos/elementos que compõem
uma cena/universo visual é props (adereços, acessórios). Os desenhistas responsáveis pela criação desses mode-
los nos estúdios de animação e quadrinhos, geralmente, são os profissionais com mais experiência e prática no
desenho, por isso é importante estudar e praticar bastante.

A parte com maior destaque na construção de um objeto (que, geralmente, se aproxima de uma figura
geométrica básica), será a que terá sua forma base mais exagerada. Veja-se no exemplo

Agora, a finalização desse objeto, considerando a simplificação dos traços. Optou-se pelo uso de traço
fino e grosso para dar mais estilo à figura.

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Depois de finalizado, o desenho foi colorido digitalmente no Photoshop. Em outra versão, usou-se um
jogo de lápis aquarelável Caran D’Ache da Prismacolor.

Colorização digital – Adobe Photoshop e mesa digitalizadora Wacom Intuos.

Colorização tradicional – Caneta Pitt Artist Pen B (cor preta) da


Faber Castell e lápis aquarelável Caran D’Ache da Prismacollor.

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Outros exemplos de estilização, a partir de estudos de observação do natural e de fotografias:

■■ Esboços preliminares de construção.

■■ Definição do traço.

Podemos finalizar a partir desse ponto, utilizando uma linha clara, ou como também chamamos strea-
mlined ou filetada. Os acabamentos - finalizações estilizadas - prezam a limpeza no traço, evitando-se hachuras,
texturas e outros elementos que transmitem exagero de realismo.

A seguir, dois tipos de acabamento: um filetado fino e grosso, e outro com traço quebrado e textura,
também fino e grosso.

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Dentro da estilização, que parece ser um campo simples, mas não é, cabe comentar que o processo de
estilização de um objeto, ou figura orgânica, pode seguir o caminho da humanização.

Exemplificando com o mesmo objeto.

A humanização de objetos e figuras orgânicas demanda tempo de estudo e pesquisa dos trabalhos de
artistas da área de animação, desde o princípio da animação, até como conhecemos hoje. Por volta de 1930,
quando o som passou a fazer parte dos filmes, percebe-se a evolução do desenho e das estruturas de construção
e formatização de regras que regem a criação e a animação de personagens. Artistas como Frank Thomas, Ollie
Jonhston, alguns dos intitulados nine old mans, deixaram grande legado ao estudo do desenho. O Artista Preston
Blair, contemporâneo de Thomas e Jonhston, também tem um trabalho acadêmico muito interessante sobre a
construção de personagens e animação.

Caso seu interesse nesse curso seja desenvolver-se nessa área, sugerimos a leitura das seguintes obras de
Preston Blair: Animation, Cartoon Animation e Advanced Animation. Todas da Walter Foster Publishing.

A seguir, mais algumas possibilidades de estilização de objetos e figuras orgânicas. A sequência de exem-
plos é de um projeto para aplicação em embalagem e rótulos.

Aqui, o estudo para estilização partiu de referências fotográficas de imagens pesquisadas na internet.

Com base nas fotos, foram feitos estudos de composição diretamente no computador, para em seguida
serem preparados os traços básicos da figura e a arte-finalização com traço fino e grosso, imitando crayon.

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E, finalmente, ser colorizada e finalizada. Esse trabalho teve uma estilização, porém mantendo o realis-
mo, sem deformação da forma.

Outros exemplos de estilização, de figuras orgânicas.

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Observe a existência de uma limpeza de detalhes, o traço é bem limpo e definido. Em alguns casos, opta-
-se por uma linha fina e grossa, mas com regularidade.

Outros exemplos de estilização de objetos.

Ilustrações de Marco Antonio Cortez.

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Podem-se associar efeitos, quando for pertinente, para valorizar a expressão visual. Lembrando que, em ter-
mos de linguagem, o acréscimo de efeitos, onomatopeias e balões levam o desenho estilizado à categoria de cartum.

Ilustrações de Bruce Blitz. www.bruceblitz.com.

Ilutrações de Marco Antonio Cortez.

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EXERCÍCIOS
Com base no que vimos sobre estilização, prepare três estudos de objetos e figuras orgânicas, a partir
de referências fotográficas, ou, diretamente do natural. Faça primeiro um reconhecimento da forma, desenhando
de forma tradicional. Em seguida, trabalhe na estilização exagerando a forma principal. Uma das opções deve ser
estilizada de forma mais realista, sendo trabalhada com mais ênfase na arte-final, como mostramos em exemplos
anteriores.

Não se esqueça: temos desenhos estilizados mais realistas e outros que vão para linha de cartum.

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3. Estilização de cenários
Os cenários são muito importantes quando elabora-se uma ilustração, quadrinho ou animação. Eles
integram os elementos e personagens, posicionam a cena ao expectador e muitas vezes, quando bem planejados,
criam a sensação para que o expectador sinta-se dentro da cena.

Estilizar cenários não é tarefa fácil. É preciso ter prática em desenhos de observação, luz e sombra e,
também, perspectiva. A deformação e/ou simplificação das formas unida ao traço limpo, simplificado, é uma boa
combinação para que os resultados do trabalho sejam satisfatórios.

Já estudamos a estilização de objetos e formas orgânicas, esse aprendizado anterior terá sua complemen-
tação nesse capítulo.

Os elementos que compõem os cenários estão diretamente ligados aos ambientes externos (cidade, cam-
po, praia, espaço) e internos (interiores de ambientes, como: cavernas, túneis, fendas, edificações e meios de
transporte). Trabalharemos com referências fotográficas e referências a partir do natural.

3.1 Elementos de composição e processos de finalização


Formas principais que compõem um cenário externo partem de figuras geométricas básicas, como: cír-
culos, quadrados, retângulos etc.

Que levam à construção estilizada dos elementos de composição do cenário.

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Cabe ressaltar que esse exemplo apresenta um desenho estilizado que serve tanto para uma ilustração,
quanto para uma animação. Além de compreender o conceito de estilização (simplificação das formas), deve-se
considerar e perceber a questão de estilo.

O exemplo anterior usa alguns recursos de distorção da perspectiva, forçando a deformação da linha de
horizonte do plano médio. Pode-se forçar essa perspectiva também nos prédios, utilizando um terceiro ponto de
fuga (PFF – Ponto de fuga falso), mas a opção foi manter um caminho mais simplificado.

Vejamos como seria o exemplo da utilização do terceiro ponto de fuga.

As formas dos elementos como árvores, vegetação, prédios, Sol e nuvens, podem ser estilizadas de ma-
neiras diferentes; essas maneiras diferentes são questões do estilo. Ter um estilo próprio e marcante é o que todos
os artistas que ingressam no mercado profissional buscam: o reconhecimento de seu traço. O estilo varia de
acordo com a linguagem gráfica que o profissional utiliza.

Para exemplificar, vejamos a estilização de uma árvore em diferentes estilos.

Fase de esboços
De forma bastante simples, é definida a forma e o estilo de traço como linguagem gráfica. Uma vez de-
finido o estilo da linguagem gráfica, ele será mantido em toda a arte. O exemplo apresenta diferentes formas de
interpretar graficamente uma árvore, desde um estilo mais próximo do real, até um totalmente estilizado.

Fase de arte-finalização
O traço final é outra questão marcante para enfatizar o estilo, pois dá continuidade ao processo de cons-
trução da arte.

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Fase de colorização
A cor e a forma de sua aplicação influenciam, também, na definição do estilo. No método tradicional,
podemos usar como suporte: lápis aquarelável, aquarela, guache. Já no digital, há grande variedade de brushes e
texturas em softwares, como: Photoshop, Painter, Illustrator etc.

É importante observar nesta introdução que deve-se começar a separar os conceitos de estilização e
estilo. Em seguida, como criar uma unidade de estilo em uma arte. Estudaremos a construção de um cenário
estilizado para ilustração e animação.

Vejamos mais dois exemplos de estilos diferentes de cenários.

Cluckie-vampire-concept-art :http://theconceptartblog.com/2012/01/08/
conheca-cluckie-the-vampire-chick
Rise of guardians: http://livlily.blogspot.hu/2012/12/rise-of-guardians-2012-concept-art.
htmlhttp://livlily.blogspot.hu/2012/12/rise-of-guardians-2012-concept-art.html.

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http://livlily.blogspot.hu/2012/12/rise-of-guardians-2012-concept-art.html
A base é vetorial, feita no software Adobe Illustrator, utilizando o esboço feito a lápis como template.
(Template é uma camada – layer, onde a imagem do lápis fica visível de forma rebaixada).

Tanto a linha de horizonte, quanto as formas dos elementos que compõem a cena, estão ligeiramente
deformadas e simplificadas. Usamos como base formas geométricas.

Construção no Illustrator
Utilizando as ferramentas de desenho, prepara-se toda a base da ilustração e faz-se a aplicação das cores
chapadas no próprio Illustrator, para depois aplicar os efeitos finais no Photoshop. Esse processo se deve ao fato
do estilo gráfico escolhido não utilizar filete. Se a escolha tivesse sido com filete, poderia ser feita, apenas, a arte-
-finalização no Illustrator, ou seja, somente o traço ou filete, para depois ser feita a colorização em um software
apropriado.

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Finalização no Photoshop
Com a base preparada no Illustrator, o arquivo é aberto no Photoshop e nele são aplicados degradês e
efeitos de iluminação e textura.

É importante destacar que, na elaboração de cenários, a aplicação de vários planos, na maioria dos casos,
é fundamental para criar sentido de profundidade na arte. Como dica, sugerimos que o estudo da perspectiva
seja presença constante em seu processo de criação.

Se a opção de finalização for o método tradicional, deve-se considerar o suporte adequado para a técnica
escolhida. Nesse caso, em grande parte das vezes, traça-se a lápis bem leve no papel, para em seguida aplicar cor
e, por último, o filete (traço), se for o caso.

Vejamos agora alguns estudos de cenários com temas urbanos. Observe a presença indispensável da téc-
nica da perspectiva como apoio na construção.

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Outros exemplos de cenários estilizados:

A sequência a seguir é parte de estudos do artista Luc Desmarchelier, para cenários do filme Hotel Transil-
vânia, da Sony Pictures Animation. Observe a deformação, tanto nas linhas de construção, como na perspectiva.

http://livlily.blogspot.hu/2012/12/hotel-transylvania-2012-visual_19.html
http://www.ldesmarchelier.com/

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A próxima sequência pertence aos estudos do artista Tory Davis, da Blue Sky Studios, para o filme Rio.
A fase deste trabalho é a de desenvolvimento visual. Foram feitos estudos de observação, a partir do natural.

http://theconceptartblog.com/tag/tori-davis/
http://toricat.blogspot.com.br/

Há muitos exemplos de estilização interessantes, como a sequência a seguir, da http://tcstarnes.blogspot.


com.br/p/animation-background-layout-line.html:

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Imagens de © Disney Television.

Observe que os objetos comuns têm suas características principais ligeiramente distorcidas. Algumas
linhas de perspectiva também sofrem pequenas alterações que fogem um pouco da regra literal e criam maior
dinamismo ao cenário. Apesar de bastante detalhada, as artes têm traço simplificado, limpo.

As imagens de referência foram retiradas do blog Living Lines Library <http://livlily.blogspot.com.br>.


Acreditamos ser bastante interessante uma pesquisa detalhada do material publicado que, apesar de ser um con-
teúdo específico de animação, cabe como estudo da estilização dos objetos, cenários e personagens e, também,
como pesquisa das variações de estilo.

28 Estilização
3.1.1 Dicas de composição
Tangenciamento de linhas
Um problema comum a todos os artistas e que deve ser sempre observado com cautela é o tangencia-
mento de linhas dos elementos que compõem uma arte. O tangenciamento é o encontro de linhas de figuras
diferentes que, ao se encontrarem, criam tensão visual, o que muitas vezes prejudica a visualização das figuras e
dos planos.

Vejamos um exemplo. Observe a primeira arte com os pontos marcados em vermelho (áreas que sofrem
o tangenciamento de linhas). Em seguida, veja o exemplo com a correção dessas áreas de conflito. Como resul-
tado há uma melhor visualização dos elementos e dos planos.

Estilização 29
Quando a ênfase da arte for o cenário, comece com alguns estudos em tamanho pequeno (thumbnails).
Escolhido o caminho, esboce-o primeiro, aplicando as massas dos volumes e os diferentes planos para que exista
profundidade na cena. Se um personagem ou elemento compor a cena, esboce-o depois, equilibrando o seu vo-
lume com a composição da cena. LEMBRE-SE de conferir se não existe tangenciamento de linhas.

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Ilustrações de Marco Antonio Cortez.

Quando a ênfase da arte for o personagem, comece com alguns estudos em tamanho pequeno (thum-
bnails). Escolhido o caminho, esboce primeiro o personagem aplicando as massas dos volumes, e observe se é
possível que a figura tenha sua construção evidenciando a linha de ação. Em seguida, esboce o cenário, avaliando
os planos e a perspectiva. LEMBRE-SE de fazer o mesmo: conferir se não existe o tangenciamento de linhas.

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Estilização
Ilustrações de Marco Antonio Cortez.
Quando o personagem ou elemento principal e o cenário tiverem o mesmo peso, esboce-os todos
juntos, avaliando o peso das massas dos elementos para que não exista tensão ou desequilíbrio na interação das
formas. Verifique se os elementos de composição estão em harmonia, equilíbrio e que não tenha tangenciamento
de linhas, o que seria prejudicial à composição final.

Não se esqueça de uma regra áurea da perspectiva: o que estiver em primeiro plano será sempre maior.
Com isso em mente, na criação de uma composição, explore os detalhes do que está mais próximo.

Estilização 33
Ilustrações de Marco Antonio Cortez.
3.2 Desenhando a partir do natural
Um processo de estudo muito interessante para o desenhista é o desenho de observação, nele pode-se
desenvolver no traço: confiança, desenvoltura e mais foco nos detalhes das formas.

Alex Raymond. Sessão de modelo vivo para profissionais e estudantes de ilustração.

Muitos desenhistas experientes utilizam-se desse recurso para aprimorarem seu traço e também conse-
guirem resultados mais precisos e realistas em seus trabalhos. Os desenhistas de quadrinhos e animação são os
profissionais que mais exploram essa técnica. Vejamos dois exemplos do artista de animação da Disney, Jin Kim:

34 Estilização
Pode-se, também, fazer uso de referências fotográficas, caso não seja possível preparar uma sessão de
desenho de observação, a partir do natural. De qualquer forma, seja utilizando referências a partir do natural ou
fotográficas, deve-se fazer uma boa pesquisa durante o processo de desenvolvimento de um trabalho.

Outro recurso interessante para desenvolver disciplina nos estudos de desenho de observação é o chama-
do sketchbook. O sketchbook nada mais é do que um pequeno caderno com folhas brancas, não pautadas, onde o
desenhista registra seus estudos de observação, em qualquer lugar que esteja (viagens, passeios etc.), utilizando
lápis, caneta nanquim, esferográfica, lápis aquarelável, aquarela, entre outros.

Esse tipo de caderno de estudo foi utilizado por artistas famosos, como Leonardo da Vinci (que registrou
vários de seus estudos, anotações e pesquisas), Rembrandt van Rijin, Goya, Paul Cézanne, Vincent Van Gogh,
entre outros.

Um movimento recente de artistas gráficos resgatou esse recurso muito utilizado por artistas no passado.
Temos os grupos de Sketch Draw e o movimento internacional Sketch Crawl, que promovem um passeio visual
pela cidade, registrando prédios antigos, pessoas, monumentos, detalhes do dia a dia de uma cidade. Ver Urban
Sketchers Brasil: <http://brasil.urbansketchers.org>, <http://www.sketchcrawl.com>.

Leonardo da Vinci

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36
Estilização
Ilustrações de Eloar Guazelli
Segundo Flávio Remontti, autor do blog TheCab: criar sketches é mesmo uma parte deliciosa do processo
de desenho. Muitas vezes ele próprio se resume em todo o processo. Vamos conhecer uma série de sketchs do artista
Stéphane Kardos em formato de making of.

Estilização 37
38 Estilização
A sugestão é que você providencie um desses cadernos para começar a desenvolver estudos de observa-
ção de paisagens, naturezas mortas, viagens, amigos e familiares. Esse treino melhorará a expressividade do seu
traço.

EXERCÍCIOS
1. Desenvolvimento do sketchbook

Providencie um sketchbook e comece a registrar estudos de paisagens, natureza morta, amigos, fa-
miliares, momentos interessantes em que você tenha possibilidade de desenhar. Seja espontâneo e desenhe de
forma despretensiosa para conseguir captar a expressão da cena. Esse será um dos projetos que deverão ser
entregues para conclusão do curso.

2. Prepare dois estudos de observação

Prepare um estudo de observação utilizando uma referência a partir do natural e outro utilizando
uma referência fotográfica.

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4. Perspectiva dinâmica
A técnica da perspectiva é um recurso muito importante para o desenhista, ela é um dos pilares funda-
mentais do desenho. Um desenho com erros de perspectiva causa desconforto para quem o vê, além de ser pre-
judicial para a vida profissional do desenhista. Lembre-se sempre desta informação; que ela possa servir como
conselho aos novatos e, até mesmo, àqueles que, sem pretensão profissional, encaram o estudo e a prática como
hobby.

Apesar desse tema ser trabalhado nos cursos básicos de desenho, não pretende-se ser redundante e sim
entender que, devido a sua importância e relevância, é preciso retomar alguns conceitos e tentar mostrar certos
aspectos sobre uma ótica diferente, afinal, existem infinitas possibilidades para se expressar.

A perspectiva respeita o princípio da convergência, o qual afirma que um objeto com lados paralelos,
quando visto em perspectiva, tem as linhas paralelas (linhas de fuga) vindas do observador, de forma que pare-
cem se encontrar na linha de horizonte (pontos de fuga). Logo, ao usar o terceiro ponto de fuga, chega-se a um
desenho mais próximo do que o olho humano enxerga. Dentro do contexto da estilização, a perspectiva também
é importante enquanto técnica e sofre algumas alterações em suas regras para criar maior dinamismo e estilo.

O primeiro aspecto a ser observado é que as regras da perspectiva são sempre mantidas em qualquer
tipo de desenho, seja com um, dois ou três pontos de fuga e sua aplicação no desenho é fundamental; no entanto,
sofre as alterações que acabamos de comentar, quando aplicadas numa obra estilizada. Essa é a segunda situação
que estudaremos: as exceções às regras fundamentais, motivo de um estudo específico.

O grande artista Leonardo da Vinci viveu no período do Renascimento e dedicou-se ao estudo minucio-
so da técnica da perspectiva. Por seus múltiplos talentos, é considerado o maior gênio da história.

http://www.taringa.net/posts/info/14299774/Leonardo-Da-Vinci-Su-Arte-Completo-Primera-parte.html.

Há algum tempo atrás, era comum o editor de arte da área de quadrinhos, ou diretor de animação, pedir
ao desenhista: “coloque uma perspectiva dinâmica nessa página ou cena.”

Mas, é possível sair um pouco de suas regras rígidas e deixar a perspectiva mais estilizada? A resposta é
sim e, nesse capítulo, a intenção é provocar a procura por novos estilos de representação gráfica.

Estilização 41
Perspectiva dinâmica:
Na área artística serve para designar os trabalhos onde a perspectiva é explorada de maneira mais
elaborada, incluindo conceitos da linguagem cinematográfica. Desenhos com enquadramentos mais
ousados são bastante utilizados nos quadrinhos e na animação, por esse motivo nos concentraremos
em compreender seus princípios e aplicarmos efeitos nas composições com coerência, evitando exageros
ou aplicações aleatórias..

4.1 A câmera do diretor escolhendo o melhor ângulo de visão para os


cenários e figuras
Usaremos o termo câmera no sentido literal, por ser uma forma mais simples e objetiva de entender o que
pretende-se passar sobre os conteúdos de enquadramento, planos e suas relações com a técnica da perspectiva.

O olho humano tem um cone de visão localizado entre 45º a 60º. O enquadramento limita o campo de
visão dentro de uma área retangular.

Essa compreensão ajuda a transferir tais informações para o momento da criação de um desenho. “Onde
eu quero colocar o observador na cena que irei desenhar?” Modifique a pergunta para: “onde colocarei a câmera
para focar a cena que quero registrar?” Veremos a similaridade no resultado.

42 Estilização
É importante ressaltar que o desenhista que desenvolve a habilidade de imaginar tomadas interessantes
tem como resultado um trabalho mais expressivo. Uma dica aos iniciantes desejosos em melhorar seu repertório
criativo é a de assistir a filmes e animações com o foco na variação das tomadas de câmera e enquadramentos,
observando o momento do enredo em que isso acontece. O olho do desenhista como câmera.

4.2 A perspectiva como base para os cenários e figuras


Na estilização, a perspectiva usada com mais frequência é a com três pontos de fuga, ela oferece uma
sensação visual mais agradável e expressiva, além de colocar mais dinamismo na cena. Mas, isso não é uma regra.
Nesse tipo de perspectiva, nenhuma das três dimensões está paralela ao plano da câmera e o terceiro ponto de
fuga encontra-se fora da linha de horizonte, num ponto perpendicular a ela. Existem distorções em três sentidos:
altura (dimensão perpendicular a linha de horizonte); largura e profundidade (dimensões orientadas pelos pon-
tos de fuga na linha de horizonte).

Em alguns casos, onde um elemento de composição do cenário encontra-se numa vista de ângulo dife-
rente, serão construídas linhas de orientação específicas para esse elemento (veja o caso do caminhão no guin-
daste, na imagem do exemplo a seguir), consequentemente, com pontos de fuga específicos a ele. Não se esqueça
que ângulos inferiores a 90º entre os pontos de fuga da linha de horizonte causam sensação acentuada de distor-
ção, logo, desconforto para o observador.
© Disney

Estilização 43
Vamos fazer um estudo um pouco mais detalhado nesse trabalho da Disney. Na imagem vemos as linhas
básicas do cenário principal com três pontos de fuga.

Como explicitado no capítulo anterior, ao analisar sua aplicação na estilização de cenários, em alguns
casos, é possível distorcer certas linhas, fugindo um pouco da regra para obter mais expressividade na cena. Vi-
mos isso no exemplo dos cenários do filme Hotel Transilvânia, do capítulo anterior, e vamos observar no estudo
a seguir, do cenário da Blue Sky Studios. Não se esqueça: essas alterações que aparentemente parecem um erro de
perspectiva, dentro da regra é uma questão de estilo gráfico.

44 Estilização
Tori Davis © Blue Sky Studios. http://theconceptartblog.com/wp-content/uploads/2011/05/RIO-Tori-03.jpg
Tais distorções são agradáveis quando usadas com bom senso e devidamente planejadas, mantendo co-
erência em relação ao estilo. Observe mais um exemplo que servirá de guia para o desenvolvimento de nossos
estudos.

Tori Davis © Blue Sky Studios. http://theconceptartblog.com/wp-content/uploads/2011/05/RIO-Tori-04.jpg

Estilização 45
Ilustração de Mark Blagey: Http://comicartcommunity.com/gallery/categories.php?cat_id=170

A perspectiva é parte integral de uma arte. Ela cria profundidade, drama e, se bem utilizada, em alguns
casos cria movimento. Numa dica para desenhistas de quadrinhos, o artista e quadrinista Ethan Van Sciver des-
tacou: “uma arte exageradamente estilizada pode ser boa para chamar atenção, mas ela corre o risco de ficar datada
e você perder a chance de ter trabalhos a longo prazo nos quadrinhos.”

Nas figuras podemos aplicar as mesmas regras comentadas sobre cenários, o terceiro ponto de fuga,
em muitos casos, quando pertinente, cria dinamismo, melhor profundidade e expressividade na arte. Vejamos
alguns exemplos.

46 Estilização
Jim Lee © Marvel
© Disney

© Steven Gordon. Stevenegordon.blogspot.com

Observe como se comporta uma figura orgânica com as linhas auxiliares de perspectiva.

Estilização 47
Mais uma vez, pode-se observar que essas distorções requerem muito estudo e dedicação, pois não é uma
tarefa fácil. É recomendado o uso de referências fotográficas ou do natural.

Retomando um pouco o assunto das deformações e distorções das figuras no desenho, é considerável
comentar sobre o trabalho do desenhista e animador americano Craig McCracken, conhecido por criar as séries
animadas: As Meninas Superpoderosas, A Mansão Foster para Amigos Imaginários e A Vaca e o Frango.

Observe os dois cenários em As Meninas Superpoderosas. Veja como a relação de perspectiva está total-
mente fora das regras.

A mesa tem um plano de visão para o topo e um outro totalmente diferente na lateral, porém o ambiente
respeita algumas regras básicas, principalmente na construção geral do ambiente, como as paredes e a base do
chão. Isso se deve ao estilo gráfico definido pelo artista na criação.

48 Estilização
Outro artista com uma linha de estilo parecida é o desenhista e animador russo-americano Genndy
Tartakovsky. Seu trabalho tem fortes influências de quadrinhos americanos, cultura pop e anime. É o criador do
Laboratório de Dexter e Samurai Jack.

Nota:
Tartakovsky, com o Laboratório de Dexter, veio antes das Meninas Superpoderosas.

Estilização 49
EXERCÍCIOS
Faça alguns estudos de cenários na forma tradicional, buscando usar três pontos de fuga. Sugerimos
algumas fotos antigas de Osasco e São Paulo.

50 Estilização
Tomando as fotos como base, procure primeiramente simplificar as formas, resumindo o essencial de
cada figura. Depois, procure encontrar um traço de finalização diferenciado. Para isso faça uma pesquisa de
estilos de artistas diferentes: www.sib.org.br, http://www.deviantart.com

Não limite-se a apenas um estudo, faça alguns esboços em forma de thumbnail, explore possibilidades
diferentes. Troque com um colega para que um avalie o trabalho do outro, colocando observações e críticas
construtivas.

Explore também exercícios com figura humana e animais.

Estilização 51
5. Estilização da cabeça, mãos e pés –
masculino e feminino
O desenho pode ser estilizado em maior ou menor grau, a intensidade varia de acordo com o estilo que
o desenhista está desenvolvendo. Em desenho, tradicionalmente, estuda-se primeiro as partes do corpo huma-
no, para depois estudá-lo por completo. Os iniciantes no estudo da anatomia humana, geralmente, apresentam
dificuldades no desenho da cabeça, mãos e pés. Isto só é resolvido com bastante treino, muito desenho de obser-
vação e um olhar crítico, construtivo ao seu próprio trabalho.

Começaremos os estudos utilizando a técnica tradicional de construção, a partir de sólidos geométricos.

O desenho começa pelo esboço da base, de acordo com a forma escolhida (oval, redonda, triangular e
quadrada) e com a marcação dos eixos centrais. Em seguida, são feitas marcações dos detalhes de olhos, nariz,
boca, orelhas e cabelo. Após a construção do esboço, é feita a limpeza do traço e a arte-finalização.

Com base oval

Descrição técnica: esboço feito com lápis col-erase blue 20044, da Prismacolor. Finalização feita com
paintbrush tool, no Adobe Illustrator, em plataforma Apple e tablet Wacom Intuos.

Com base circular

Com base quadrangular

Estilização 53
Com base triangular

Descrição técnica: esboços feitos no Adobe Photoshop, utilizando paintbrush tool e lápis. Finalização
feita com paintbrush tool, no Adobe Illustrator, em plataforma Apple e tablet Wacom Intuos.

EXERCÍCIO
Desenvolva alguns estudos de cabeça, seguindo os modelos de base redonda, quadrangular, triangular
e oval. Esboce com lápis HB n.2 as formas base e depois construa os detalhes. Para fazer um traço definitivo, use
um lápis 2B ou 4B.

Já vimos as variações de formato da base para o desenvolvimento do desenho. Vale ressaltar que estuda-
remos as nuances de estilo com essas quatro bases principais, porém, veremos agora como funcionam as distor-
ções do desenho da cabeça, utilizando as linhas de construção base.

Para a construção da cabeça no método tradicional, conforme já apresentado, usa-se, no curso de dese-
nho, os eixos e linhas de construção.

Estudaremos, especificamente, as quatro linhas horizontais que correspondem à área dos olhos, nariz,
orelhas e boca. Para criar variações, vejamos alguns estudos alterando as relações de proporção entre essas linhas.

54 Estilização
Dentro dessas alterações nas linhas de construção, observe as mudanças no estilo do desenho e
finalização (técnica escolhida), mantendo as mesmas proporções.

Como é possível notar, dentro do mesmo esquema de construção podem-se variar as características do
rosto, como: idade, tipo de olhos, tipo de traço etc.

Esses esquemas básicos de estrutura oferecem condições para o desenvolvimento de uma série de varia-
ções, porém, não se esqueça de que na fase de aprendizagem, é preciso ter referências fotográficas e de trabalhos
de outros artistas, que servirão de inspiração para a criação de um novo estilo.

No começo, na fase de estudos, é comum se apropriar do trabalho de um artista admirado, até a aquisição
de confiança e conhecimento das variações de técnica e estilo de artistas atuantes no mercado. Após essa fase
de estudos, surge uma maneira mais pessoal de expressão artística, no entanto, cabe um alerta: jamais copie um
trabalho de outro artista num trabalho profissional que esteja desenvolvendo ou, até mesmo, para publicação em
portfólio. Isso é plágio e punível de processos legais de direitos autorais. Falaremos um pouco mais sobre esse
assunto adiante.

Variações de formato e estilo

Estilização 55
© Disney
© Disney

© Don Bluth

EXERCÍCIO
Repita os estudos acima, seguindo os seguintes passos: esboce com lápis HB n. 2 as formas base e de-
pois construa os detalhes. Para fazer um traço definitivo, use lápis 2B ou 4B.

56 Estilização
5.1 Expressões
As expressões, na construção da cabeça humana, são responsáveis por boa parte do resultado final da
criação. Elas dão sentido às características físicas e psicológicas do tipo de personagem que está desenvolvendo-
-se. Os olhos, orelhas nariz e boca sofrem diferentes variações, assim como na realidade, permitindo que se
enxergue, no desenho estilizado, alguns detalhes para obter maior expressividade e personalidade.

Nos exemplos anteriores foi possível verificar as variações no formato e estilo. Estudaremos algumas,
mas, antes disso, vamos nos inspirar num material sugestivo de expressões publicado numa das edições do Pato
Donald, pela Editora Abril:

© Disney
Os olhos e a boca são os mais destacados nas alterações de expressão, além, é claro, de nuances de strash
e squash na base da cabeça, nariz e orelhas (quando existir!). Esse material serve de referência para a construção
de diferentes personagens em estilos variados. Mesmo assim, faremos alguns estudos separados.

Estilização 57
Olhos
O desenho estilizado dos olhos tem suas variações no formato da base geométrica. Geralmente, usamos
a oval ou a circunferência, de acordo com o estilo.

■■ Algumas sugestões de variações de expressão

■■ Algumas variações de estiloN

Observe as expressões dos olhos no traço do desenhista da Dreamworks, Toby Shelton.

58 Estilização
Orelhas
O desenho estilizado da orelha é bastante simples, parte-se de uma base oval. A altura da orelha é mar-
cada entre as linhas da sobrancelha e da base do nariz.

Boca
O desenho estilizado da boca pode ser representado de diferentes formas e estilos. A boca masculina
comporta mais variações na forma, a feminina fica um pouco limitada, até mesmo, porque mantém-se a carac-
terística da beleza da mulher, através da expressão dos olhos e boca.

Nariz
O desenho estilizado do nariz tem variações na sua forma e é a parte da face/cabeça que, na maioria dos
casos, mais expressa a personalidade do personagem.

Com o envelhecimento, ocorre a flacidez da pele. Pode-se transmitir a ideia de mais idade acrescentando
algumas linhas ao redor dos olhos, nariz e, em alguns casos, das orelhas. Podemos, também, alterar as proporções.

Estilização 59
Alguns exemplos da cabeça completa em diferentes estilos.

EXERCÍCIO
Desenvolva alguns estudos de cabeça, seguindo os modelos de expressão dos olhos, nariz, orelhas e
boca. Esboce com lápis HB n. 2 as formas base e depois construa os detalhes. Para fazer um traço definitivo, use
lápis 2B ou 4B.

Mãos e pés
Mãos
No desenho, geralmente, delega-se maior importância aos estudos das mãos do que dos pés, até, porque
os pés aparecem calçados, na maioria dos casos. Mas, isso não dispensa o estudo da sua construção e do método
de estilização. Para as mãos, pode-se partir de duas bases: uma mais geométrica, usando um retângulo; outra
mais orgânica, utilizando formas mais ovais.

Vejamos como se comporta a estrutura no desenho estilizado.

60 Estilização
Estilização 61
EXERCÍCIO
Repita os estudos acima, seguindo os seguintes passos: esboce com lápis HB n. 2 as formas base e de-
pois construa os detalhes. Para fazer um traço definitivo, use lápis 2B ou 4B.

Abaixo dois exemplos de estudos de poses num estilo cartum feitos pelo desenhista da Dreamworks, Toby
Shelton.

Houve um período onde era moda os desenhos estilizados infantojuvenis serem construídos com apenas
4 dedos. Fazia parte, principalmente, dos desenhos animados, em especial, da Disney. Para os profissionais mais
antigos no mercado de animação, devia-se ao fato de simplificar o processo de animação das mãos, além de ser,
também, uma questão estética – a mão com quatro dedos tem design mais agradável.

Gostos à parte, hoje em dia, essa não é uma proposta bem aceita no mercado editorial - principalmente,
pelas normas do MEC no que refere-se aos critérios das leis de diretrizes e bases para as obras que são incluídas
no Programa Nacional do Livro Didático, por exemplo. O desenho estilizado é bem recebido pelo mercado edi-
torial, no entanto, há os critérios de responsabilidade social e de não discriminação social e racial por parte do
ilustrador. O uso de estereótipos não é recomendado.

Observe o processo de construção para o desenho estilizado de mãos com quatro dedos.

62 Estilização
EXERCÍCIO
Repita os estudos acima, seguindo os seguintes passos: esboce com lápis HB n. 2 as formas base que
partem de uma circunferência e depois construa os detalhes. Para fazer um traço definitivo, use lápis 2B ou 4B

Arte de Giorgio Cavazzano


Pés
Para os pés podemos partir de duas bases: uma mais geométrica, usando uma forma retangular imitando
um sapato; outra mais orgânica, utilizando formas mais ovais.

Estilização 63
Modelos com 4 dedos:

EXERCÍCIO
Repita os estudos acima, seguindo os seguintes passos: esboce com lápis HB n. 2 as formas base que
partem de uma circunferência e depois construa os detalhes. Para fazer um traço definitivo, use lápis 2B ou 4B.

64 Estilização
5.2 Princípios da caricatura
Caricatura é o termo usado para definir os desenhos que possuem seus detalhes exagerados, carregados
em alguns pontos. Muitas pessoas consideram que a caricatura atende somente ao rosto, ou a uma figura huma-
na “deformada” em seus detalhes. Porém, tudo pode ser caricaturado, desde que suas características principais
sejam “exageradas” na forma de representação gráfica.

A caricatura tem origem na expressão artística do ser humano que nos remete às pinturas primitivas
da Pré-História, Grécia e Egito antigo, Idade Média. Pesquisadores consideram originária da Itália, por volta
de 1585 com os irmãos Carracci - Annibale e Agostino - e seu primo Ludovico, fundadores da Accademia degli
­Incamminati. Destacaram-se, também, na então ”Escola de Bolonha”, Domenichino e Guercino, mas foi Pier
Leone Ghezzi que dedicou-se quase que integralmente ao trabalho de caricatura. Apesar da Escola de Bolonha,
como as demais, dedicar-se ao estudo do desenho e pintura realístico, foi o “bom humor” de seus participantes
que fez com que esse tipo de estilização ganhasse espaço.

No Brasil, Manoel de Araujo Porto Alegre foi o percussor da caricatura, por volta de 1837, publicando
no “Jornal do Commércio” uma sátira dos funcionários do governo recebendo propinas. Parece que não mudou
muita coisa referente a esse tema, desde então.

Estilização 65
O mercado editorial acabou se apropriando desse estilo de trabalho. Ao longo da história, até aos dias
modernos, é justamente nos jornais e revistas que encontra-se espaço para esse tipo de estilo. Há, também, pu-
blicações significativas nessa área como o Pasquim, com a participação dos caricaturistas Jaguar, Henfil. Millôr
Fernandes, Ziraldo etc. A princípio, a publicação trazia temas comportamentais, falando sobre sexo, drogas,
feminismo, divórcio, entre outros. Com o aumento da repressão da ditadura, o Pasquim foi se tornando mais
politizado, principalmente, após a promulgação do repressivo ato AI-5.

Os humoristas Hupert, Reinaldo e Claudio Paiva, saídos do Pasquim, criaram um jornal de oposição,
chamado Planeta Diário que, mais tarde, transformou-se em programa televisivo pela Rede Globo – o Casseta
e Planeta. Raul Pederneiras (Raul), Calixto Cordeiro (K. Lixto) e J. Carlos surgem como os primeiros artistas
exclusivamente caricaturistas. Destacam-se, também: Nair de Tefé, a primeira mulher caricaturista do mundo;
Henrique Fleiuss; Max Yantok; Lan; Chico Caruso; Cássio Loredano; Angeli; Glauco Villas-Boas; Laerte, entre
outros.

66 Estilização
No mercado profissional, a caricatura ganha espaço, principalmente, no editorial, como falado anterior-
mente, especialmente em jornais, revistas e portais de entretenimento na internet. Encontra-se espaço para o uso
desse tipo de trabalho em eventos de empresas e, de maneira menor e bastante informal, para trabalhos pessoais,
como convites de casamento, presentes etc.

Vamos analisar o processo de criação de outro artista americano que se destacou com seu trabalho para
a revista Mad: Tom Richmond.

Estilização 67
Observando as etapas de desenvolvimento, primeiro é feita uma estrutura base, bem esquemática, mar-
cando as formas principais do rosto. Em seguida, são acrescentados, gradativamente, os detalhes do rosto.

A utilização de referências fotográficas auxiliam o desenvolvimento de uma boa caricatura, lembrando


que o artista se vale da sua criatividade e boa observação das características físicas que serão ressaltadas.

Arte: Tom Richmond


Observe como Richmond alterou e exagerou algumas proporções da pessoa caricaturizada, houve uma
diminuição da área 1, a linha dos olhos ficaram menores e o nariz foi aumentando – a área 2 teve um pequeno au-
mento; a área 3 teve um aumento maior inclusive ressaltando o queixo da pessoa de referência. Essas alterações
de “áreas” entre as linhas base de construção são necessárias no desenho de caricatura. A utilização de referên-
cias fotográficas auxiliam o desenvolvimento de boa caricatura, o artista usa sua criatividade e a capacidade de
observação das características físicas que serão ressaltadas. Para o desenvolvimento de uma caricatura podem-se
utilizar dois métodos: 1) desenho de observação do modelo-vivo; 2) desenho utilizando referências fotográficas.

Detalhes: cabeça
Detalhes: olhos
Detalhes: nariz
Detalhes: boca
Detalhes: orelhas
Detalhes: mãos
Detalhes: pés
Detalhes: corpo

68 Estilização
EXERCÍCIO
Com base na foto, faça primeiro um esboço estrutural, com as linhas de construção.

Comece a marcar os detalhes do rosto, em esboços soltos, buscando definir os traços mais importantes.

Comece a refinar os detalhes utilizando também um trabalho de iluminação (sombreamento), isso fará
com que o desenho tenha mais realismo. Estamos tratando, ainda, somente da parte de estudo a lápis. Nesse
estudo utilizamos lápis Faber Castell Regent 1250 B.

Estilização 69
Veremos como dois outros artistas interpretaram a figura do apresentador de TV Silvio Santos.

http://peteleco.webs.com/caricaturas.htm
Baptistão: http://baptistao.zip.net

Agora é a sua vez! Repita esse processo com a foto do Silvio Santos e depois, para exercitar faça estudos
baseando-se nas fotos propostas.

70 Estilização
http://spyhollywood.com/tom-cruises-50-million-lawsuit/ http://celebzter.com/mick-jaggers-two-year-obsession-with-angelina-jolie-revealed-in-new-book/

Tom Cruise
Angelina Jolie

Estilização
71
72 Estilização
6. Estilização do corpo humano – masculino e
feminino
Após estudarmos exclusivamente a cabeça e as expressões, vamos nos dedicar ao corpo humano. É im-
portante ressaltar dois pontos: as linhas de construção e ação. Elas são importantes em qualquer desenho, mas
nesse curso faremos uma abordagem mais específica.

6.1 Linhas de construção


As linhas de construção devem ser sempre esboços leves e soltos, mas para conseguir esse ponto
é preciso treinar repetidas vezes, até ganhar confiança e compreensão. A forma como é definida varia
de acordo com o estilo e a escola dos autores. Utilizaremos a linha simples com pontos de articulação.

Estilização 73
Nos primeiros estudos, ou ao desenvolver um personagem pela primeira vez, deve-se fazê-lo
numa posição em que o corpo esteja inteiro, como se estivesse posando para uma foto. Vejamos na
sequência alguns estudos do designer de personagem Steven Gordon.

74 Estilização
Evitamos que a figura esteja em pose de movimento, pois às vezes dificulta a compreensão das
proporções, detalhes e forma.

Arte Steven Gordon

Deve-se, também, fazer as partes completas, mesmo as que não estejam visíveis. Opte pela trans-
parência. Uma vez compreendida as proporções da figura e sua forma principal com os volumes do
corpo, definem-se os detalhes.
Para compreendermos melhor, segue um estudo do personagem Max, pelo desenhista Phill
Young da Disney.

Estilização 75
O próximo é do desenhista Shane Prigmore.

Observe que os personagens desenhados de frente ou ¾ proporcionam melhor compreensão de


suas formas, detalhes e proporções.
Dentro do processo de criação, muitas vezes, o desenhista explora uma série de variações até
chegar ao resultado final.
Arte de Dennis Zilber

76 Estilização
Arte Marco Antonio Cortez

EXERCÍCIO
Faça alguns estudos seguindo os exemplos apresentados anteriormente. Esboce várias vezes mudando
a posição e a expressão. Lembre-se: até o desenhista adquirir boa bagagem visual e segurança no traço, o melhor
para a criação de figuras/personagens é o uso de referências. Criar usando só a imaginação é muito difícil.

Estilização 77
6.2 Esquemas de proporção
Assim como fizemos com a cabeça, distorcendo as linhas de construção, para o corpo humano, comu-
mente mensurado por 8 cabeças para o corpo masculino e 7 a 7 ½ cabeças para o feminino, podemos fazer o
mesmo. Neste caso, alteramos as relações de proporções de cabeças, aumentando ou diminuindo o tamanho
total, e de tronco e pernas.

Na primeira figura, vemos o corpo humano de um homem com um estilo próximo do realista e, em se-
guida, estilizado – com uma redução de detalhes e da simplificação da forma.

Em alguns casos, para adequação da idade do personagem, altera-se a proporção para menos ou mais,
evitando que fique nas medidas padrões normais. No entanto, às vezes usa-se uma proporção maior, como para
o caso de super-heróis, vilões, monstros etc. As proporções, nestes casos, são a partir de 10 cabeças, até 15 ou 16
para os brutamontes e monstros.

As mulheres são, em média, de ½ a 1 cabeça menores que os homens. Preservamos, assim, uma estética
mais adequada. Como dica para o desenho estilizado da mulher, faça as pernas mais longilíneas.
Arte S. Gordon

78 Estilização
Marvel Comics – Special: how to draw

Nos estudos do designer Steve Gordon, observamos uma distorção na estilização do corpo humano: al-
guns detalhes são suprimidos e algumas proporções alteradas das medidas convencionais. O Colossus da Marvel
é um exemplo de proporção anatômica quase tradicional – (possui 8 cabeças e ½) – o que vemos neste caso é
um aumento da massa muscular, que se assemelha a figuras humanas reais. É um exemplo de figura em estilo
realista.

Já no desenho do personagem Pitt feito pelo desenhista Dale Keown, ao contrário do que alguns autores
indicam como regra para construção de super-heróis, vilões e monstros (a utilização da proporção de mais de
8 cabeças), foi feita a construção do personagem com 7 cabeças e, em compensação, um corpo extremamente
exagerado em suas proporções.

No próximo estudo, podemos avaliar as alterações de uma figura realista medindo 8 cabeças e uma mes-
ma estilizada em padrões de super-heróis. A figura do meio tem proporções alteradas em relação ao tronco e as
pernas.

Estilização 79
Os desenhos estilizados para o público infantojuvenil são construídos, geralmente, por 2 ½ cabeças,
tanto os masculinos quanto os femininos. Há pequenas variações para mais ou menos, que valorizam alguma
característica do personagem, ou reforçam visualmente sua idade, por exemplo. Nesses casos, podemos ter cons-
truções com 2, 3, 3 ½, 4, 4 ½ e variações.

Vejamos alguns exemplos que ilustram esse processo.

2 cabeças e ½

2 cabeças

80 Estilização
3 cabeças e ¾ - Disney

4 cabeças e ½ - Disney

6.3 Linha de ação


A linha de ação no desenho tem fortes raízes na escola de animação, principalmente dos artistas america-
nos. Nada mais é do que uma linha que sustenta o curso do movimento - ação do corpo. É, também, a primeira a
ser feita no momento de construção do esboço. Quanto mais acentuada e em movimentos curvos e diretos, mais
expressividade e dramaticidade obtém-se ao resultado final do desenho.

Por falar nas influências da animação, vejamos alguns exemplos do animador Preston Blair:

Estilização 81
Preston Blair (Redlands, Califórnia, 1918-1994), animador estadunidense, destacou-se por seus traba-
lhos nos estúdios da Walt Disney e no departamento de animação dos estúdios Metro-Goldwyn-Mayer - MGM.
Seus livros didáticos sobre animação, mesmo sendo da década de 60, continuam atuais e são grandes referências
para desenhistas interessados nos desenhos de animação e estilizados.

Nos próximos exemplos, veremos a aplicação da linha de ação em um desenho estilizado para o público
infantojuvenil.

Projeto: personagem infantojuvenil para aplicação em revistas e quadrinhos.

Observe que o planejamento da linha de ação valoriza o movimento/ação do personagem.

82 Estilização
Como resultado, temos uma ilustração eficiente e agradável esteticamente. Nesse exemplo, os traços fo-
ram feitos com a ferramenta paintbrush do Illustrator e colorido no Photoshop, utilizando tablet Wacom Intuos,
em plataforma Macintosh.

Lembre-se: profissionalmente, é preciso conhecer as técnicas tradicionais e as digitais. Os materiais fí-


sicos, como guache, aquarela e nanquim têm seus equivalentes em sistemas digitais, porém, pela agilidade e
praticidade, os estúdios praticamente não usam mais os materiais físicos.

Projeto: ilustrações para livro didático.

Estilização 83
EXERCÍCIO
Desenvolva alguns estudos de movimento com ênfase na linha de ação. Para auxiliar esse exercício,
utilize referências fotográficas ou sites de referência para desenho, como: <http://www.posemaniacs.com> ou
<http://artists.pixelovely.com>.

84 Estilização
7. Estilização de animais
Um aspecto importante a ser observado no desenho de animais é a construção da estrutura básica, que
parte das formas geométricas primordiais. Outra questão relevante é o conhecimento prévio da anatomia e
articulação do animal que será trabalhado, lembrando que variam de acordo com as espécies. Sugerimos que
seja feita, como sempre, boa pesquisa visual com referências fotográficas e, também, de desenhos realistas que
explorem os dois aspectos.

Mais uma vez, é na escola de animação que encontramos as melhores soluções estéticas para o desenho
estilizado e, muitas vezes, no estilo humanizado. Artistas clássicos como: Preston Blair (desenhista animador dos
estúdios Disney e MGM, autor de vários livros sobre desenho e animação); Frank Thomas (desenhista animador,
considerado um dos nine old man da Disney, responsável pelo design de importantes personagens dos filmes mais
clássicos de animação); Carl Barks (desenhista criador de Patópolis e seus personagens: Tio Patinhas, Pato Donald,
Professor Pardal, Maga Patalójika, Gastão, entre outros) e Chuck Jones (desenhista criador do Pernalonga, Patolino,
Coyote e Papa-Léguas, entre outros). Um dos artistas mais representativos da classe dos ilustradores de literatura
infantil, apesar da forte influência realista na maior parte de sua obra, é o francês Paul Gustave Doré, autor de
ilustrações clássicas como: Gato de Botas, o Lobo e a Chapeuzinho Vermelho, Fábulas de La Fontaine, entre outras.
Viveu no século XIX e destacou-se pelas ilustrações com temas de fantasia e por iniciar a humanização de animais.

Arte Chuck Jones- http://johnkstuff.blogspot.com.br/2009/11/chuck-jones-drawings.html

Estilização 85
86
Estilização
Arte Paul Gustave Doré: http://ecoledenoailly.over-blog.com/article-les-
illustrations-du-petit-chaperon-rouge-61366308.html

Arte Paul Gustave Doré: http://ecoledenoailly.over-blog.com/article-les-


illustrations-du-petit-chaperon-rouge-61366308.html

Arte Carl Barks - http://universodisney2.wordpress.com/2011/08/page/2/


7.1 Linhas de construção e ação
Estudaremos alguns exemplos de construção do desenho estilizado, observando, em especial, as estru-
turas geométricas básicas e as linhas de ação. Estamos enfatizando, ao longo do curso, a importância de uma
boa base estrutural para o desenho. Neste capítulo sobre animais, iremos um pouco adiante, compreendendo,
também, algumas características específicas do movimento.

Primeiramente, como referência visual, vejamos os estudos da construção esquemática em perfis feitos
com base no trabalho de pesquisa dos desenhistas Eliot Goldfinger e Preston Blair.

Cavalo

Cachorro

Elefante

Estilização 87
Leão

Artes: Marco Antonio Cortez


Urso

Como vimos, o estudo da estrutura básica do esqueleto é muito importante para que se possa
criar posições em movimento.
Veremos agora a representação visual. Estudaremos a evolução do desenho estilizado de um
urso com uma variação de estilo. Partimos de duas formas geométricas básicas: círculo e oval. O estilo
segue uma linha mais realista.

Artes: Marco Antonio Cortez

Agora, alguns estudos dentro de uma linha de estilo cartum ou animated. Observe que a relação aproximada
do real transformou-se em mais simplificada, porém, as formas geométricas básicas são mantidas. Os membros nesse
tipo de estilo são comumente chamados de tubinho, pois suas formas lembram um canudo – permitem maior flexi-
bilidade na representação do animal em movimento e são mais simples na representação estética da forma.

88 Estilização
Arte: Marco Antonio Cortez
A seguir, três formas de interpretar a figura de um cavalo usando variações de estilo nas bases de cons-
trução. Na primeira, o cavalo tem uma estrutura mais simples e arredondada, sem evidenciar a parte anatômica.

Arte: Marco Antonio Cortez


As duas próximas variações apresentam um desenho onde a parte anatômica do cavalo é um pouco mais
evidenciada.
Arte: Marco Antonio Cortez

No exemplo abaixo, as linhas de estrutura/articulação são evidenciadas.


Arte: Marco Antonio Cortez

Estilização 89
Vejamos algumas sugestões para estilização de outras espécies de animais.

Arte: Marco Antonio Cortez


Um passarinho pode ser construído a partir de uma estrutura geométrica muito simples. No exemplo, o
corpo foi construído por dois círculos de tamanhos diferentes, mas, pode ser exemplificado também pela forma
de um feijão.

Mais alguns exemplos da construção de outros animais.

Arte: Marco Antonio Cortez

Arte: Marco Antonio Cortez


Arte: Marco Antonio Cortez

90 Estilização
Exemplos de trabalhos para livros didáticos.

Arte: Marco Antonio Cortez


EXERCÍCIO
Faça estudos de animais em poses/ações diferentes, usando os princípios de construção explicados
até agora. Use o apoio de referências. Nesses estudos, daremos ênfase aos esboços: tente fazê-los leves e soltos,
deixando a definição do traço para o final. Somente nesse momento defina com um traço mais forte.

Nota:
Nossa intenção é reforçar o aprendizado do esboço. Hoje em dia, as técnicas de finalização variam
bastante e é seguro dizer que a maior parte delas acontece em sistema digital, por isso é muito impor-
tante que você compreenda a importância da construção do desenho. Compreendendo bem isso você
poderá usar qualquer suporte para fazer a sua arte.

7.2 Humanização de animais


Dentro deste capítulo daremos destaque ao estudo do desenho de animais como personagens
humanizados. É o caso de aplicações em animações, quadrinhos e games. O que muda, basicamente, é
a estrutura do corpo que passa a ter características humanas. No capítulo anterior falamos sobre os de-
senhos para o público infantojuvenil e também sobre a linha de ação. Usaremos a mesma metodologia
neste tópico: a utilização de duas a, no máximo, cinco cabeças.

Estilização 91
Uma fórmula básica para construção é de, aproximadamente, duas cabeças e meia. Veja a estrutura.

Arte: Marco Antonio Cortez


Observe como a base do corpo, nesse método, suporta diferentes tipos de animais estilizados.

Os detalhes de mãos, pés e roupas permitem melhor identificação e personalização do personagem. A


escolha do estilo também cria um diferencial no design do personagem. Vejamos, como exemplos variações do
personagem urso.

92 Estilização
Vamos ver o trabalho de alguns artistas profissionais nessa área de criação de desenhos estilizados de
animais.

http://www.characterdesignpage.com
Alan Stewart

http://www.characterdesignpage.com
Dan Norton
http://www.characterdesignpage.com

Nicolas Ilic

Estilização 93
94
Colin Jack
Phil Postma’s

Estilização
Marco Antonio Cortez
http://www.characterdesignpage.com

http://www.characterdesignpage.com
http://www.characterdesignpage.com
Ben Caldwell

EXERCÍCIO
Desenvolva três animais de espécies diferentes (ações diferentes), usando os princípios de construção
de humanização de duas a três cabeças. Use o apoio de referências. Nesses estudos, continuaremos enfocando os
esboços: tente fazê-los leves e soltos, deixando a definição do traço para o final. Somente nesse momento defina
com um traço mais forte.

Nota:
Se possível, veja a referência do livro Animation - Learn How to draw animated cartoons, de Preston
Blair. Existem ebooks disponíveis na internet.

Estilização 95
8. Criação de personagens
A criação de personagens ganhou importância maior nos últimos anos aqui no Brasil. Não muito tempo
atrás, eram poucos que realmente sabiam o que era de fato isso, principalmente, as agências de publicidade e seus
clientes. Era comum chamar um ilustrador para criar um mascote e isso, geralmente, se restringia a ilustração
de um personagem numa pose fixa, para acompanhar um logotipo ou ser aplicado num produto ou embalagem.
A questão é que muitos ilustradores não tinham formação ou experiência com personagens e, também, com
animação (hoje em dia, isso ainda acontece). Assim, seus trabalhos, na maioria das vezes, não funcionavam para
uma produção em grande escala desse personagem criado, porque, na maior parte dos casos, não eram criados
com critérios mais aprofundados dos model sheets e style guide. Logo, a imagem do personagem era apenas um
carimbo da figura que não tinha uma construção adequada para se movimentar, ser desenhado em outras poses
e atitudes.

Esse problema foi resolvido com facilidade por artistas do mercado de animação ou dos quadrinhos.
Hoje em dia, ainda encontramos o problema, mas em menor grau.

Paranorman. Disponível em: <http://www.characterdesignpage.com>.


Com a massificação da arte digital e o fácil acesso aos conteúdos artísticos pela internet, a função do
character designer (designer de personagens) passou a ter um pouco mais de destaque. E, verdade, que isso por
conta dos excelentes trabalhos publicados por esses profissionais, principalmente, os da área de entretenimento.

Aí mora um grande perigo: a ação de profissionais aventureiros que não conhecem a arte a fundo e, mui-
tas vezes, sem habilidade para isso, acabam fazendo trabalhos de qualidade duvidosa, o que prejudica a área de
modo geral. Assim, nossa orientação é que você se especialize na área que gosta, faça parte de alguma associação,
tenha conhecimento de tabelas e contratos. Junto com a criação de personagem, outra modinha considerada
por muitos irritante é a do concept art e dos concept artists. Nossa cultura valoriza muito uma linguagem bem
elaborada e um excesso de utilização de termos e definições em inglês; o concept art, na verdade, não passa de
um layout para estudo e aprovação. Como a arte digital tomou o mercado profissional, e novos profissionais já
entraram nesse boom tecnológico, o que se vê é uma nivelação de médio para baixo no mercado, pois muitos dos
novos artistas mal sabem usar guache, aquarela e ecoline, além de verem as ferramentas digitais como o único
caminho que, na verdade, não é. Os sistemas digitais são ótimos, agilizam os processos de produção e a qualidade
final da arte, porém, um artista deve ser completo e conhecer outras técnicas e ferramentas.

Estilização 97
Disponível em: <http://livlily.blogspot.com.br>.
Thomas Brissot. Disponível em: <http://www.characterdesignpage.com/1/post/2013/04/thomas-brissot.html>.

Com tudo isso, nota-se que a diferença, hoje em dia, está na qualidade criativa e técnica do artista, não
importando se a ferramenta é digital ou tradicional. Dentro deste curso, estamos construindo conceitos e técni-
cas necessárias para a criação de personagens, mas essa é uma matéria complexa que, por si só, daria um curso
de no mínimo 100h, tempo necessário para abordarmos todos os detalhes e nuances. Nosso objetivo é que você,
aluno, tenha um primeiro contato com esse universo e que possa ter uma base sólida para desenvolver bons
trabalhos.

98 Estilização
O que diferencia a criação do desenho estilizado de uma criança, um homem ou um animal, do desenho
de um personagem está na forma que o desenhista interpreta sua construção e agrega informações específicas
dentro de um briefing, passado pelo cliente ou por ele mesmo. A construção do personagem implica o estudo
detalhado da estrutura base do desenho e, principalmente, o estudo de estilo, movimentação/articulação, que
levará ao estudo de variações de poses, formas de estilo gráfico (design) e cores. Detalhes estruturais e visuais
devem ser estudados não como uma imagem, mas como um personagem tridimensional, afinal, espera-se a uti-
lização intensa desse personagem em diferentes poses e atitudes, logo, suas características principais devem ser
mantidas. O briefing direciona a construção dos conteúdos das características psicológicas e visuais.

Disponível em: <http://livlily.blogspot.com.br/search?q=turnaround>.

8.1 Model sheet e style guide


Model sheet é o termo usado para designar o tratamento gráfico tridimensional que apresenta o desenho
de um personagem em diferentes vistas – frente, ¾, lado e costas. Essa padronização visual permite que vários
desenhistas representem um personagem graficamente, sem perder nenhuma de suas características visuais. É
muito usado na área de quadrinhos e animação, justamente pela necessidade que essas áreas demandam, de uma
unidade visual dos personagens, onde diversos profissionais são envolvidos na produção. O model sheet também
é bastante útil em tudo que relaciona-se ao personagem, como por exemplo o desenvolvimento de produtos (se-
tor de licenciamento) e merchandising.

O model sheet pode variar na sua complexidade:

a) dos mais simples, onde aparece somente uma prancha com o giro do personagem, também chamado
turnaround;
b) aos mais complexos, que envolvem pranchas de construção esquemática do corpo, membros sepa-
rados, como cabeça, mãos, pés...; prancha de lip sync (sincronização labial do personagem de acordo
com fonemas básicos, produzido especificamente para animação); prancha de atitudes e expressões
principais do personagem; prancha com o guia de cor nos diferentes padrões (cmyk, rgb, pantone).

Estilização 99
Estudaremos os model sheets do filme Paranorman, desenvolvidos pela Laika Entertainment e Focus
Features:

100 Estilização
Estilização
Disponível em: <http://livlily.blogspot.com.br/search?q=turnaround>.

101
Os exemplos apresentam um belo model sheet dos personagens, mas se a produção for considerada com-
plexa, segue-se para o Style Guide, que é algo semelhante a um MIV – Manual de Identidade Visual do persona-
gem. Neste caso, além de tudo que já foi descrito anteriormente, podemos ter as pranchas de props – acessórios
e objetos de cena usados pelo personagem ou inseridos dentro do universo visual do mesmo; as pranchas com
detalhamento de cenários; a de sugestão de cores dos cenários, Color Key and Color Scripts; a prancha com logo
e fontes usadas; um grupo de artes prontas do personagem em pose e atitudes diferentes em formato digital co-
lorido e PB; e a prancha com guia de elementos gráficos criados dentro do estilo gráfico do personagem, como:
ícones, molduras, texturas e fundos.

Vejamos os model sheets/characters do filme Nocturna, da Filmax Entertainment:

102 Estilização
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104 Estilização
Estilização 105
106
Estilização
Exemplos de Color Key:

Disponível em: <http://www.digitalfilmtree.com/blog/2011/10/the-art-of-pixar-artwork-from-all-pixar-films-to-date/>.

Disponível em: <http://livlily.blogspot.com.br/2011/05/nocturna-2007-model-sheets.htm>.


Estilização
Disponível em: <http://livlily.blogspot.hu/2012/12/rise-of-guardians-2012-color-keys-color.html>.

107
Disponível em: http://livlily.blogspot.com.br/2012/08/the-lion-king-1994-color-keys.html>.

Atualmente, existem poucas opções de formação acadêmica específica nas áreas de graduação em ilus-
tração e animação, temos ainda algumas variações de conceituação dessas terminologias. É seguro afirmar que
muitas pessoas ainda não compreendem os processos que envolvem o desenvolvimento e a utilização do model
sheet e style guide. O mais comum ainda é o pedido de um model sheet que muitos compreendem ser apenas a
prancha de turnaround, mas, como acabamos de ver, trata-se de um material muito mais completo e complexo.

108 Estilização
EXERCÍCIO
1. Mão na massa! Faça alguns estudos de um personagem que você queira desenvolver. Em princípio,
faça estudos soltos sem se importar muito com detalhes, o objetivo é experimentar o visual, proporções e expres-
sões. Por isso, crie opções diferentes.

Arte Marco Antonio Cortez – Projeto Filme Como Nasce um Livro – Editora Adonis.

Estilização 109
2. Com o apoio do orientador, escolha um personagem dentro dos estudos que você produziu. Refine um
pouco os detalhes e defina melhor o visual, para isso faça esboços a lápis (sugerimos HB, HB n. 2 ou 2B) num pa-
pel Canson A3. Em seguida, faça estudos de cor com guache (técnica de aguada) ou aquarela, faça a colorização
sobre o lápis, de forma que fiquem manchas soltas. Veja como os artistas da Disney fizeram estudos soltos para
encontrar um caminho para o personagem Alladin.

Obs: Outra opção bastante interessante é usar as canetas tipo markers.

Algumas sugestões: 1) PrismaColor Premier - com duas opções de ponta, disponível em versão pontas
de feltro e feltro/ultrafine; 2) ProMarker - caneta produzida pela LETRASET, disponível com duas opções de
ponta, esta caneta é basicamente utilizada por ilustradores de desenhos do tipo Mangá; 3) Magic Color - produ-
zida pela Tinta Mágica (indústria nacional), é muito popular entre os estudantes e profissionais de arte, design,
publicidade, arquitetura, moda, entre outros. (Tem preço mais acessível, se comparada com as importadas).

As marcas sugeridas são comercializadas no Brasil, em lojas especializadas de desenho, como a Papelaria
Universitária e a Casa do Artista.

Disponível em: <http://livlily.blogspot.com.br/2010/11/aladdin-1992.html>.

Disponível em: <http://livlily.blogspot.com.br/2010/11/aladdin-1992.html>.

110 Estilização
3. Desenvolva, agora, um turnaround do personagem escolhido. Importante: faça linhas horizontais de
apoio e evite mudar o ângulo de visão da perspectiva, ou seja, fixe uma câmera imaginária e gire o personagem
com ela na mesma posição – câmera fixa.

Arte Marco Antonio Cortez.


Ajustes feitos em um personagem já existente – redesign para produção de animação.

Estilização 111
9. Renderização – técnicas de arte-final e
colorização
A maneira como finalizamos o trabalho influencia em uma melhor leitura e definição de estilo e técnica.
Podemos afirmar, sem receio algum, que as melhores técnicas de finalização encontram-se em softwares gráficos,
como: Painter, Manga Studio, Illustrator e Photoshop, entre outros. Softwares de animação, como TV Paint e
Toon Boom, também permitem uma finalização de alta qualidade. Todas as técnicas e materiais tradicionais são
reproduzidos com muita fidelidade nos softwares mencionados, mas não devemos esquecer: o computador é só
mais uma ferramenta, por isso, é importante sempre manter contato com as técnicas tradicionais de finalização,
como: nanquim (com pincel e caneta), aquarela, lápis aquarelável, guache e ecoline.

O desenho estilizado é um conjunto que envolve as etapas de criação, definição de estilo e acabamento/
finalização. Os módulos anteriores de estudos de técnicas oferecidos pela Instituição tiveram como escopo in-
cluir o conhecimento das técnicas tradicionais e fornecer ferramentas importantes para sua complementação
profissional, por este motivo, não nos aprofundaremos em explicar os fundamentos das técnicas de pintura com
ecoline, guache, aquarela e lápis aquarelável; entendemos que seria redundante, dentro da grade de formação. No
entanto, queremos apontar alguns caminhos, através de exemplos de trabalhos profissionais, que farão com que
seu trabalho tenha o refinamento adequado ao nível esperado pelo mercado.

9.1 Arte-final
No desenho estilizado, temos alguns caminhos para finalizar o trabalho, de maneira que a relação entre
estilo e qualidade final seja preservada. É preciso, antes de mais nada, definir a finalidade do trabalho. Se o obje-
tivo for um trabalho impresso, sem sombra de dúvidas, o melhor caminho é o da finalização digital; neste caso, o
maior cuidado está em acertar o setting de configuração do software, do qual falaremos adiante. Se o objetivo for
um trabalho artístico, o melhor caminho é uma arte tradicional, pois a ênfase do trabalho é o valor do original.
Neste caso, o mais importante é a escolha do suporte adequado à técnica que será utilizada.
Técnica Suporte
Papel fabriano
Aquarela Archés
Canson
Acrílica/óleo Tela
Frank Frazetta disponível em: <http://viladorpg.wordpress.com/2011/09/22/tinta-pena-frank-
frazetta-espada-magia-e-sensualidade>

Arte digital: Marco Antonio Cortez Arte em tela: Frank Frazetta

Estilização 113
Falaremos um pouco sobre um modelo de rotina de finalização de um trabalho artístico, também cha-
mado workflow, termo muito usado nos estúdio de arte. O objetivo de um workflow é agilizar e otimizar o pro-
cesso de produção, e garantir a qualidade final.

9.1.1 Etapas de finalização nos sistemas tradicional, digital e misto


No sistema tradicional, a etapa de finalização é a seguinte:

1. Limpeza do esboço em um papel adequado para finalização (Canson, Fabriano, Hahnemuhle, entre
outros), utilizando preferencialmente uma mesa de luz;
2. Colorização/pintura – utilizando o suporte de preferência; e por último,
3. Definição do traço-filete (com pincel ou caneta nanquim).
Importante: caso o trabalho seja impresso, o original deverá ser tratado digitalmente (captura e ajustes
de correção de cor) em scanners profissionais de alta qualidade, equipamentos geralmente usados por gráficas,
em departamentos de CTP - Computer To Plate. CTP é um processo computadorizado de gravação das chapas
usadas na impressão offset. A chapa é gravada através de laser controlado por um computador, de forma similar
às impressoras a laser. Isso permite que a chapa seja gerada diretamente de um arquivo digital, sem a necessidade
da produção de um fotolito intermediário.

Foto: Marco Antonio Cortez – Original papel Schoeller, pintura com aerógrafo Gatti AG3,
tinta acrílica Liquitex e traço (filete) feito com pincel winsor&newton série 7 nº 1.

No sistema digital, a etapa de finalização é a seguinte:

Captura do esboço, feito de forma tradicional via scanner (equipamento simples - preferencialmente,
com 2400dpi), em forma de imagem tipo 24-bit Color e com resolução de, no mínimo, 200dpi.

O esboço deverá ser salvo em jpg (high resolution) e carregado como um template, se a finalização for
feita em um software vetorial (Illustrator, Corel Draw, entre outros), ou aplicado como um layer (camada), se o
software utilizado trabalhar com base bitmap (Painter, Manga Studio, Photoshop, entre outros). No digital existe
uma inversão na ordem, se comparado ao método tradicional. Nesse caso, faremos, preferencialmente, o traço-
-filete em primeiro lugar, para depois colori-lo utilizando as ferramentas adequadas.

114 Estilização
Marco Antonio Cortez
No exemplo abaixo, foram utilizados dois softwares diferentes para finalização: o traço foi feito no Illus-
trator (em camadas e com variação de cor do filete), e a colorização no Photoshop.

Marco Antonio Cortez

Para alguns profissionais, a fase de construção do desenho é feita diretamente no computador. Elimi-
namos as etapas de escaneamento e tratamento de imagem, o que agiliza consideravelmente o processo de
produção.

No Painter, o setting é o seguinte: para o esboço, utilize o lápis Thick and Thin Pencil com tamanho de
brush 7, e o pastel seco preto Tapered Artist Chalk, brush 10. No Photoshop existem muitas opções de brushes,
o esboço é feito no paintbrush tool com tamanho de brush variando de 6 a 10. Importante: essa receita é apenas
uma sugestão, existem vários caminhos para finalização digital que variam de acordo com a preferência e da
habilidade do artista.

Estilização 115
9.1.2 Conservando a qualidade do traço – técnica mista tradicional com digital
Muitos desenhistas ainda fazem a arte-final, filete do traço, de forma tradicional utilizando canetas e
pincel com nanquim. Neste caso, sugerimos que a captura do desenho tenha resolução maior, com no mínimo
600dpi, em forma de imagem tipo preto e branco. Lembre-se que, na maioria dos casos, a imagem capturada
deverá ser tratada no Photoshop para correção de alguma sujeira ou imperfeição. Alguns desenhistas optam por
capturar a imagem em 24-bit Color e no Photoshop fazer o tratamento do traço, para depois transformá-lo em
um traço preto e branco com qualidade. Esse é mais um dos caminhos, mas preferimos utilizar o que apresenta-
mos, por ser mais direto e simples.

Vetorizando um traço – arte-final em bitmap.

Para melhorar a qualidade de um traço feito de forma tradicional e tratado no Photoshop, existe a possi-
bilidade de remover os prováveis serrilhados que podem aparecer na imagem. Neste caso, usamos a ferramenta
Image Trace do Illustrator (ou similar no Corel Draw) para melhorar sua condição, vetorizando a arte a traço em
bitmap. Depois do traço vetorizado, é possível abrir o arquivo vetorial no software de colorização de sua escolha.

116 Estilização
Na primeira imagem existe uma quantidade muito grande de serrilhado no traço. Após a vetorização
feita no Illustrator, a quantidade diminuiu consideravelmente, mesmo assim restaram algumas imperfeições,
as quais podem ser editadas no próprio software vetorial. Lembre-se: o traço tremido faz parte de um estilo de
finalização e cabe em ilustrações, principalmente, as direcionadas ao público infantojuvenil.

Vejamos alguns exemplos de ilustrações de artistas brasileiros.


http://luizcatani.blogspot.com.br

http://www.ceciliaesteves.com.br

Estilização 117
Ilustraçõess de Jorge Zaiba.
No blog do artista Jorge Zaiba existe um passo-a-passo com configuração semelhante àquela que men-
cionamos anteriormente.

Alguns artistas utilizam ferramentas digitais que produzem o mesmo resultado de uma arte-final feita
com nanquim (pincel e caneta). Outros usam ainda o método tradicional até a arte-final. Como você pode ob-
servar, é uma questão de escolha de cada artista, de acordo com suas preferências.

Vejamos um exemplo da arte do artista Frank Cho.


http://www.tencentticker.com/projectrooftop/tag/frank-cho/

118 Estilização
Antes de ser feita a colorização digital, a definição dos traços é feita em uma camada (layer). É muito importante
que o planejamento da arte seja feito de forma minuciosa para que as etapas de colorização (rendering) sejam feitas com
precisão e boa velocidade. A mais importante é a organização das camadas (layers). Preserve sempre uma cópia do layer
do traço salva para que possa ser recuperado, em caso de alguma necessidade. Os layers de colorização podem ser feitos
separados (cor base, sombras, brilhos e efeitos), o que permite mais opções de ajustes e também maior agilidade.

O tempo gasto na produção de uma arte é um detalhe muito importante. Pensando em trabalhos profis-
sionais, geralmente, as agências de publicidade e editoras trabalham com prazos apertados. Utilize o tempo de
estudo para começar a organizar uma rotina de trabalho.

Como dica profissional, sugerimos que os arquivos sempre sejam salvos em duplicidade (uma versão
para backup, com todas os layers, seleções de máscaras, paths etc.).

Não se esqueça: a estilização busca simplificar a representação gráfica das formas de uma figura. Tem
também como objetivo enfatizar as características pessoais do artista, o que remete aos estilos. A boa combi-
nação do desenho, traço e cor permitirá que exista uma identificação rápida e objetiva do conteúdo trabalhado.

Para ilustrar o que estamos explicando, vejamos os trabalhos do artista ucraniano Denis Gonchar:

http://stupid-monkey.ru/denis-gonchar-kubicheskiy-effekt-i-yarkie-kraski

EXERCÍCIO
Desenvolva a finalização de um desenho já produzido durante o curso, variando a maneira de finali-
zar. Faça de duas a três formas de acabamento, usando técnicas e estilos diferentes.

Sugestões:
■■ Traço a lápis e colorização com guache na técnica de aguada ou aquarela.
■■ Traço filetado fino e grosso utilizando pincel e caneta nanquim, com colorização com ecoline ou aqua-
rela, ou lápis aquarelado.
■■ Traço filetado único (estilo irregular) com colorização com ecoline ou aquarela.
Se possível, faça um estudo de colorização digital utilizando alguma rotina sugerida neste capítulo 9.

Faça boa pesquisa, escolha algum artista de sua preferência e tente imitá-lo somente para estudo. Lem-
bre-se de que a cópia é plágio e as obras artísticas têm direitos autorais. Nossa proposta é apenas para estudo e
treino. Não utilize estudos feitos com base em trabalhos de outros artistas em seu portfólio.

Estilização 119
PROJETO ESPECIAL
Projeto para encerramento do curso
Queremos criar um espaço onde você possa aplicar os conceitos e técnicas aprendidas neste curso e, na
medida do possível, dar um toque pessoal do seu trabalho. Em grupo, com a orientação do instrutor do curso,
escolham um dos temas para desenvolvimento do trabalho final:

■■ Cartão de boas festas (final de ano);


■■ Cartaz com tema livre (de preferência, algum tema de sustentabilidade).

Tenha como objetivo no desenvolvimento da sua arte o destaque da técnica, o estilo e a representação
gráfica do tema.

Boa sorte!

120 Estilização
10. Aspectos do mercado
O mercado de arte comercial passa por seus modismos e por suas alterações de volume de demanda, mas
uma questão é certa: o desenho estilizado tem sempre um espaço maior nos trabalhos profissionais, variando, é
claro, as questões de estilo de cada artista.

O mercado editorial ainda é o maior consumidor desse tipo de arte, tanto nos segmentos de livros didá-
ticos e paradidáticos, quanto também nos segmentos de revistas. Não podemos deixar de considerar o fenômeno
tecnológico que vivemos atualmente, a expansão e a popularidade dos aplicativos móveis interferem diretamente
na forma de produção, obrigando quase que naturalmente a criação de novas linguagens e formatos. Saímos do
multimídia e o termo da vez é transmídia. Cabe aqui um parêntese: a transmídia é o fenômeno da movimentação
da informação nas múltiplas plataformas de comunicação. Pensar a longo prazo é algo importante, mas o que
vemos no mercado é a demanda urgente, e cada vez mais popular, de novos recursos para serem adaptados a
evolução dessas novas mídias. Podemos considerar que muito em breve profissões e alguns tipos de trabalho não
existirão mais e novos tipos, ainda não criados, surgirão.

Em um artigo publicado no blog da PUC – SP, por Thiago Mittermayer, podemos compreender melhor
a questão da transmídia.

10.1 Narrativas transmídias e games


A narrativa transmídia ou narrativa transmidiática é uma área das mídias digitais que vem me instigando
à pesquisa nos últimos meses, principalmente, pelo fator dos projetos transmidiáticos conseguirem contar histórias
em diversas mídias. O objetivo deste post será apresentar aspectos iniciais sobre narrativa transmídia e fazer uma
pequena relação de um filme de animação dos anos 90 que teve um jogo para o console Super Nintendo Entertain-
ment System, mais conhecido apenas por Super Nintendo, na mesma década.

O termo narrativa transmídia, do inglês transmedia storytelling, foi cunhado por Henry Jenkins em seu
livro Cultura da Convergência (2009),  e é apresentado como a técnica de contar uma história em múltiplas pla-
taformas de mídia. No livro, Jenkins aborda alguns conceitos como: inteligência coletiva, cultura do conhecimento,
importância dos consumidores nesses projetos, entretenimento na era da convergência, letramento midiático, dentre
outros, bibliografia obrigatória para esta área.

Uma visão de alguém da indústria pode ser conferida em uma entrevista feita pelo site ISTOÉ Dinheiro,
com Jeff Gomez, um dos pioneiros na criação de projetos de narrativa transmídia, que trabalha nesta área desde
meados dos anos noventa. Gomez é CEO da Starlight Runner Entertainment, que possui como clientes pequenas
empresas como Disney, Coca-Cola, entre outras, ele também é produtor transmídia de Avatar e Piratas do Caribe.

Fonte: Artigo e imagem disponíveis em <http://blog.pucsp.br/csgames/2012/04/09/narrativa-transmidia-e-games-2>. Acesso: junho de 2013.

Estilização 121
O mercado editorial tem a característica de adaptação, por isso deve-se pensar em soluções de aplicação
da arte (de forma geral) nesses novos espaços, principalmente, nos e-books e apps. O Segundo maior consumi-
dor é a publicidade que, mesmo passando por seus períodos de alta e baixa, também vem se adaptando a essa
nova realidade e demanda. Anteriormente, podemos observar como as grandes empresas encaram esse espaço
de comunicação.

Mas, não pense que tudo é tecnologia na arte, muitas vezes, vemos soluções bastante criativas utilizan-
do técnicas tradicionais. As técnicas tradicionais são fundamentais para um bom aprendizado prático da arte.
Técnicas que sugerimos serem aplicadas neste curso, como guache, aquarela e lápis aquarelável permitem ao es-
tudante recursos importantes para sua vida de uma forma ampla e não limitada. Queremos deixar claro que não
estamos aqui para levantar bandeiras favoráveis ou contrárias a uma ou outra ferramenta (tradicional X digital),
nem plataformas digitais (MAC X PC), queremos, sim, promover a consciência de que quanto mais completo
for o artista, mais capacitado estará para o mercado de trabalho e, consequentemente, para a construção de uma
sólida carreira profissional.

Veja, por exemplo, esse trabalho de autoria do designer Carlo Giovani para uma capa de livro da Editora
Ática.

Fonte: disponível em: <http://carlogiovani.com/Journey-to-Center-of-the-Earth>

Outros trabalhos expressivos de artistas brasileiros.

Daniel Bueno
Fonte: disponível em: <http://www.buenozine.com.br/Into-
Pieces-1>. Acesso: junho de 2013.

122 Estilização
Carlos Meira

Fonte: disponíveis em: <http://www.carlosmeira.com.br/>. Acesso: junho de 2013.


Cecília Esteves
Fonte: disponível em: <http://www.ceciliaesteves.com.br/?id=30>.
Acesso: junho de 2013.

El Tosco
Fonte: disponível em: <http://www.estudiodrops.com.br>.
Acesso: junho de 2013.

Pensar em aplicação da arte, em especial do desenho estilizado, dentro desse contexto é fundamental. A
palavra de ordem é: pesquisar, estudar, capacitar!

E por falar em pesquisar, existem excelentes fontes de pesquisa na internet, dentro do contexto deste
curso, vamos a algumas.

Estilização 123
■■ Deviant Art: <http://www.deviantart.com>
■■ SIB - Sociedade dos Ilustradores do Brasil: <http://www.sib.org.br>
■■ AEILIJ - Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura InfantoJuvenil: <http://www.aeilij.org.
br/home/index.asp>
■■ Character Design: <http://www.characterdesignpage.com>
■■ Character Design: <http://characterdesign.blogspot.com.br>
■■ Living Lines Library: <http://livlily.blogspot.com.br>
Outra questão a ser considerada: como se colocar profissionalmente e ser remunerado adequadamente?
Uma equação que parece simples, mas que requer muito trabalho e atenção. O aspirante ao concorrido merca-
do profissional, geralmente, aceita qualquer condição e remuneração para ter a oportunidade de publicação do
seu trabalho, o que na maioria das vezes resulta em prejuízo tanto para o novato quanto para os profissionais
experientes. Mas, como se começa a trabalhar? Quanto cobrar? Como fazer um contrato? Como proteger meus
direitos de autor? Quem já está no mercado como profissional não está sujeito a condições contrárias? Vamos
tentar responder de forma bem simples e objetiva a alguns desses questionamentos.

10.2 Como se começa a trabalhar


O aspirante ao mercado profissional deve, antes de mais nada, ter uma boa formação acadêmica, o que
não significa obrigatoriamente cursar excelentes e renomadas escolas. Muitos profissionais da área de Artes
saíram das ETEC e FATEC (ensino gratuito do Governo do Estado de São Paulo), como, por exemplo, a ETEC
Carlos de Campos que formou nomes como: Spacca, os Gêmeos e Marcelo D’Salete. Logo, negligenciar o estudo
e a sua continuidade cria obstáculos na construção de uma carreira sólida.

Organize seus trabalhos e monte um portfólio (organização de seus trabalhos em uma pasta tipo book,
ou em meios digitais, como: Blogs, DeviantArt, Facebook, Behance, Filcker, entre outros). Geralmente, surge
uma pergunta: o que eu coloco nesse portfólio se nunca trabalhei? Muito bem, a ideia é mostrar o que você é
capaz de fazer e a maneira que lida com as técnicas e as ferramentas.

O ponto mais notado pelos art buyer e editores de arte é o estilo. Um material de qualidade precisa ter
estilo bem definido, boa composição artística (que vai da estrutura ao uso das cores) e boa aplicação de luz e
sombra (projeções coerentes ao ponto de iluminação e linha de perspectiva). Quando se tratar de efeitos de
volume (tipo aerógrafo), que sejam equilibrados evitando o efeito borracha (aplicação dura e muito evidente
que faz com que a área colorida se pareça com uma textura de borracha) e; quando se tratar de formato digital,
é preciso ter cuidado com a resolução, perguntando sempre sobre a finalidade. Aconselhamos que os trabalhos
sejam feitos sempre com maior resolução, por exemplo: se o trabalho tem como finalidade mídia impressa, o
valor mínimo de resolução é 300dpi/inches; em padrão CMYK, aconselhamos que você faça maior: 450/600. Os
trabalhos para mídia eletrônica (vídeo) já não precisam de tanto, 150dpi/inches é o suficiente. Lembre-se que,
nesse caso, o padrão é RGB.

Apresente-se com sinceridade, muitos começam e fazem cartão de visita e material de apoio se auto-in-
titulando Designer, Diretor de Arte, sem nunca ter sequer trabalhado com isso. É um risco para a sua reputação
e carreira.

Faça contato com as empresas. Hoje em dia, muitas disponibilizam cadastros online (o que é ruim), por
isso tente descobrir quem é o responsável pelo setor e mande um e-mail pedindo permissão para enviar seus tra-
balhos por e-mail (é deselegante entupir a caixa de entrada de um profissional com imagens/arquivos pesados).
Envie em jpg com 72 e no máximo 150 dpi/inches, RGB resolução média.

Você pode também montar um pdf com algumas boas imagens. Não pense em quantidade e sim qualida-
de, escolha as que melhor representam seu trabalho. Não é problema nenhum mandar trabalhos feitos no curso

124 Estilização
– destaque-os como trabalhos acadêmicos. Tenha bom senso, não coloque muita coisa e, se possível, converse
antes com algum profissional experiente, pedindo sua opinião. Para as empresas, procure os departamentos de
marketing e RH; nas editoras procure pelos editores de arte; agências de publicidade e produtoras, procure pelo
art buyer ou trafego.

10.3 Quanto cobrar?


Algumas entidades, preocupadas em orientar os artistas gráficos, desenvolveram índices referenciais fo-
cados no mercado editorial e outros específicos para a área de design. Algumas são.

■■ Sociedade dos Ilustradores do Brasil: <http://sib.org.br/media/downloads/irv_sib_2011.pdf>


■■ Sindicato dos Jornalistas de SP: <http://sjsp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id
=146&Itemid=54>
Procure participar de grupos de discussão pela internet, neles muitas vezes existem tópicos que abor-
dam esse tema. Muitos desses tópicos não são claros e objetivos, por isso é importante procurar a orientação
de profissionais experientes, atuantes no mercado. Avalie o tempo que será gasto para a execução do trabalho, a
finalidade do trabalho e a forma de cessão de direitos autorais. Tudo isso compõe o valor final do trabalho. Por
exemplo: uma ilustração feita para uma empresa que a utilizará somente para seu público interno, não pode ter o
mesmo valor de uma utilizada para divulgar produtos em anúncios, cartazes, mídia eletrônica etc. O valor, neste
caso, deve ser maior, porque a ilustração passará a ter uma ação de apoio à venda ou agregará valor a uma marca.

Os trabalhos editoriais são mais baratos que os utilizados para publicidade, por questões de mercado e
finalidade. Às vezes, a diferença é absurda. Por exemplo, uma ilustração num formato próximo de A4, que para
uma editora poderá ser cobrado por R$ 200,00, para uma agência de publicidade, com tema específico para
anúncio de um produto, pode custar a partir de R$ 3.000,00. O que ocorre é que o artista vende seu trabalho e os
direitos autorais sobre ele, e é nessa composição de valores que os direitos autorais levam a maior porcentagem.
O direito de uso da imagem desse trabalho será negociado por período de um, dois, cinco anos…E alguns clien-
tes querem a compra definitiva, chamada buy out, onde não existe período de tempo.

Estamos ousando pincelar um pouco sobre essa questão para fornecer alguns parâmetros para que você
tenha uma ideia de onde se posicionar, porque essa questão é muito abrangente, cheia de nuances que são temas
para um curso específico, tal sua complexidade.

10.4 Como fazer um contrato?


O contrato de prestação de serviços, geralmente, é proposto pelas editoras e empresas quando a nego-
ciação é direta. As agências de publicidade já são um pouco mais resistentes a negociações com contrato, porém
deve-se insistir para garantir os direitos de prestador de serviço. A lei sofre alterações, por isso nossa orientação
é a de que você se filie a alguma associação de classe e também participe de fóruns e grupos de discussão, para
que esteja sempre atualizado. A lei que garante os direitos autorais é a Lei 9610/98, art. 49: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil/leis/L9610.html>

É possível encontrar modelos de contratos e orientações no site da SIB -Sociedade dos Ilustradores
do Brasil: <http://sib.org.br/orientacao-profissional> e no site do SJSP – Sindicato dos Jornalistas de São Paulo
<http://sjsp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=376&Itemid=54>.

Neste site, no menu Preços, há mais informações de tabelas e contratos.

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Exemplo de um dos modelos referente a contrato de licença de reprodução de Obra e recibo de paga-
mento de direitos autorais

Contrato de licença de reprodução de Obra e recibo de


pagamento de direitos autorais (*)

Contrato n° ...................

LICENCIANTE:............................................................................................................................................................................

Crédito (nome autoral a figurar junto à obra): ........................................................................................................................

Reg. Profissional (MTb):..................... RG:..................................... CPF: ........................................

Endereço:................................................................... Nº: ............................... CEP: ..........................

E-mail:................................................ Tel/fax: .................................. Cel. ..................................

LICENCIADO:.............................................................................................................................................................................

CNPJ/CPF: ............................................... Inscr. Estadual: .......................................

Endereço:........................................................................... CEP: ..........................

E-mail: ................................................................ Tel/fax: ..................................

neste ato representado(a) por ...................................... cargo ............................. a seguir denominado(a) apenas
Licenciado.

Obra objeto da presente licença

Descrição da obra licenciada (no caso do envio por e-mail, este campo pode ser utilizado para colar o texto, a
ilustração ou a foto): .....................................................................................................................................................

Valor da licença

Valor da licença: .......................................................................................................... R$ ....................................

Valor orçado mais imposto de renda incidente: ..................................................... R$ ....................................

Condições de licenciamento da obra

Total de originais entregues: ...............................................................................................................................

É objeto desta licença a obra de criação intelectual do jornalista autor Licenciante, o que em hipótese alguma pode
ser confundido com mera prestação de serviço. A Lei 9.610 /98 define qualquer obra intelectual com bem material,
caracterizando-se, assim, a presente transação como um NEGÓCIO JURÍDICO DE LICENCIAMENTO DE
DIREITOS AUTORAIS.

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O autor Licenciante da obra acima discriminada é o único e exclusivo titular dos seus direitos patrimoniais
e morais e, nessa condição, autoriza o Licenciado a reproduzi-la conforme as condições aqui especificadas e
previstas na Lei, a saber:

1. Esta licença abrange uma única utilização, conforme discriminação a seguir: ...............................................................
.........................................................................................................................................................................................................

2. A reutilização de cópia do original publicada e arquivada ou qualquer outra utilização do objeto desta licença só poderá
ocorrer mediante assinatura de novo Contrato de Licença, com o conseqüente pagamento de novos direitos ao autor;

3. OS .................. (...........) ORIGINAIS acima discriminados foram entregues ao Licenciado em perfeitas condições
de uso, em consignação, para seleção, devendo ser devolvidos ao Licenciante nas mesmas condições;

4. A(s) obra(s) deverão ser publicadas no prazo máximo definido por Lei, contado a partir da data da quitação
desta licença, sob pena de devolução dos originais e sem prejuízo dos valores pagos ao autor da obra;

5. Esta licença só será válida após a respectiva quitação. O pagamento será feito à vista, no ato da assinatura desta
licença, ou em até ....... dias após a data da emissão desta licença;

6. O desrespeito a qualquer cláusula deste contrato implicará multa de quinze vezes o valor desta licença;

7. Por estar justo e contratado, fica eleita a Comarca de .............................., Distrito Central, como foro para o
julgamento de qualquer pendência judicial resultante deste ato.

Local e Data: ......................, ....... de ....................... de 200.....

Licenciante ..................................................................................................

Licenciado ..................................................................................................

RECEBI O VALOR TOTAL DA LICENÇA DE REPRODUÇÃO DE OBRA, acima discriminado, em cheque de


n°..........., Banco ........................., ou em depósito na conta do Licenciante,

Banco ............, Ag. ............, CC .................................., Depósito n°......................, .em ....... de ...........................de 200 .....

Ass.: ............................................................................ 

Local e Data: .................................., .................. de ............................... de 200...

(*) Modelo de contrato sugerido pela APIJOR - Associação Brasileira de Proteção à Propriedade Intelectual dos
Jornalistas, habilitada por lei para fiscalizar o aproveitamento econômico das obras criadas por jornalistas.

10.5 Como proteger meus direitos de autor?


Todo desenho (lápis, ilustração, personagem…) pode ter o seu visual registrado na Escola de Belas Artes
da Universidade Federal do Rio de Janeiro: <http://www.eba.ufrj.br/index.php/servicos/direitos-autorais> e tam-
bém na Fundação Biblioteca Nacional: <http://www.bn.br/portal/?nu_pagina=32>. Destacamos o visual, porque
os caminhos que orientamos para esse registro não registram nomes e marcas, sendo os textos e roteiros regis-
trados, somente, na Fundação Biblioteca Nacional. Nomes e marcas são registrados no INPI - Instituto Nacional
de Propriedade Industrial: <http://www.inpi.gov.br/portal>, já os textos, roteiros e histórias são registrados na
Fundação Biblioteca Nacional, conforme endereço eletrônico postado.

Estilização 127
10.6 Quem já está no mercado como profissional não está sujeito a
condições contrárias?
Mesmo os profissionais experientes sofrem problemas de negociação de contratos, direitos autorais e
valores. Não pense que isso é um problema só dos iniciantes. Como todo mercado de prestação de serviços, o
da Arte também tem concorrência justa e desleal, profissionais corretos e aproveitadores. Nesse universo, o mais
importante é preservar o seu nome e sua reputação, honrar os compromissos assumidos e buscar oferecer sempre
um trabalho de excelente qualidade. Dê o seu melhor!

Não será sempre possível manter um padrão de excelência, às vezes os prazos e condições podem interfe-
rir no conjunto do seu trabalho (qualidade, preço e prazos), mas uma conversa franca e pontual termina sempre
em boas negociações.

10.7 Considerações finais


Explore ao máximo as possibilidades de criação e definição de um estilo. Não fique preso a uma só téc-
nica e/ou estilo. Pesquise muito, estude o trabalho de artistas renomados, tenha sempre bastante referenciais de
qualidade e, ouse, não tenha preguiça de refazer o trabalho quantas vezes forem necessárias até que fique bom!

Boa sorte!

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Referências
Bibliográficas
BLITZ, Bruce. How to draw Cartoons. Philadelphia: Running Press Book Publishers, 1991.
BLAIR, Preston. Animation: Learn How to Draw Animated Cartooons. Philadelphia: Running Press Book Pub-
lishers, 1991.
_____. Cartoon Animation. Philadelphia: Running Press Book Publishers, 1991.
CALDWELL, Ben. Fantasy Cartooning. New York: Sterling Publishing Co, 2005.
GOLDFINGER, Eliot. Animal Anatomy For Artists. New York: Oxford University Press, 2004.
HART, Christopher. Cartooning for the beginner. New York: Watson-Guptill Publications, 2000.
______. Cartoon Cool: How to draw New Retro-Stylers Characters. New York: Watson-Guptill Publications,
2005.
______. Drawing on the Funny Side of the Brain. New York: Watson-Guptill Publications, 1998.
______. Simplified Anatomy for the Comic book Artist. New York: Watson-Guptill Publications, 2007.
HALLAWELL, Philip. A Mão Livre: a linguagem do desenho. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1996.
______. A Mão Livre: técnicas de desenho. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1994.
HAZLEWOOD, Robin. An Introduction to Drawing. London: Arcturus Publishing Limited, 2004.
HULTGREN, Ken. The Art of Animal Drawing. USA: Calla Edition, 1993.
SONKIN, Susan. How To Draw baby Animals. USA: Watermill Press - Troll Communications, 1982.
WEBSTER, Chris. Animation The Mechanics of Motion. Oxford: Focal Press, 2005.
WHITE, Tony. The Animator’s workbook: step-by-step techniques of draw animation. New York - USA: Wat-
son-Guptill Publications, 1986.

Eletrônicas
Sessions Online Schools of Art and Design. Disponível em: <http://www.sessions.edu>
Dynamic Figure Drawing Burne Hogarth. Disponível em: <http://www.scott-eaton.com/anatomy-and-sculp-
ture-reference-library/bridgemans-constructive-anatomy>
Passo a passo colorização. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TD9vLqk_SMU>
Tutorial de aprenda a colorir e sombrear usando o Photoshop. Disponível em: <http://www.photoshopcreative.
com.br/tutoriais/aq0-122-7385-1-aprenda+a+colorir+e+sombrear+usando+o+photoshop.html>

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www.fundacaobradesco.org.br

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