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Os passos da transgressão não são ascendentes, mas descendentes, e

conduzem ao abismo que está ligado ao inferno.

1. Ela viu. Ela poderia ter desviado os olhos para não contemplar
futilidades. Mas ela cai em tentação, ao olhar com prazer para o fruto
proibido. Observe que uma grande quantidade de pecado tem início nos
olhos (1 Jo 2.15-17). Nestas janelas Satanás atira os seus dardos ardentes
que perfuram e envenenam o coração. Os olhos afetam o coração com
culpa e tristeza. Portanto, façamos, como o santo -Jó, um concerto com os
nossos olhos, para não olharmos nada que corramos o risco de cobiçar
depois, Provérbios 23.31; Mateus 5.28. Que o temor a Deus sirva sempre
como um véu para os nossos olhos, cap. 20.16.

2. Ela tomou o fruto. Foi um ato voluntário. O diabo não o tomou e o


colocou na sua boca, quer ela o desejasse ou não. Ela mesma o tomou.
Satanás pode tentar, mas não pode forçar. Ele pode persuadir alguém a se
lançar daqui abaixo, mas não pode atirar a pessoa abaixo, Mateus 4.6. O
fato de Eva tomar o fruto constituía um roubo, como quando Acã tomou
do anátema, se apropriando daquilo a que não tinha direito. Certamente
ela o tomou com mãos trêmulas.

3. Ela o comeu. Talvez ela não tivesse a intenção, quando o olhou, de


tomá-lo, nem, quando o tomou, de comê-lo. Mas este foi o resultado.
Observe que o caminho do pecado é descendente. O homem não será
capaz de parar, quando desejar. O começo do pecado é como o jorrar da
água, à qual é difícil dizer: Até aqui virás, e não mais adiante. Portanto, é
nossa sabedoria reprimir as primeiras emoções do pecado, e deixá-lo de
lado antes de nos envolvermos com ele. Obsta principiis Nip - Devemos
deter o mal no início.

4. Ela também o deu ao seu marido. É provável que ele não estivesse com
ela quando foi tentada (certamente, se tivesse estado com ela, teria
interferido para evitar o pecado). Mas o marido veio para junto dela
quando ela já o tinha comido, e foi convencido, por ela, a comer da
mesma maneira. Pois é mais fácil aprender o que é ruim, do que ensinar o
que é bom. Ela o deu a ele, persuadindo-o com os mesmos argumentos
que a serpente tinha usado com ela, acrescentando este, que ela mesma
tinha comido, e o tinha julgado tão longe de ser mortal, que era
extremamente agradável e satisfatório. As águas roubadas são doces. Ela
o deu ao marido, sob o pretexto de gentileza. Ela não poderia comer estes
bocados deliciosos sozinha. Mas na verdade esta foi a maior crueldade
que ela poderia ter feito a ele. Uma outra possibilidade é que ela o tivesse
dado a ele, para que, se resultasse prejudicial, ele pudesse compartilhar
da sua desgraça, o que realmente parece ser algo estranhamente cruel.
Porém é possível, sem dificuldade, supor que uma atitude como esta
pudesse surgir no coração de alguém que tinha comido o fruto proibido.
Observe que aqueles que ocasionam o mal a si mesmos, normalmente
desejam atrair outros para que façam a mesma coisa. Assim como o diabo,
Eva também pode ter agido como pecador e, simultaneamente, como
tentador.

5. Ele comeu, derrotado pela importunação da esposa. É desnecessário


dizer: “Qual teria sido a conseqüência se somente Eva tivesse violado a
lei?” Podemos ter a certeza de que a sabedoria de Deus teria solucionado
este problema, de acordo com a justiça. Mas, ai! Não era este o caso.
Adão também comeu. “E que grande mal é aceitar o raciocínio corrupto e
carnal de uma mente fútil. Que dano!” Ora, este ato envolveu a descrença
na Palavra de Deus, juntamente com a confiança na palavra do diabo. O
descontentamento com a sua situação atual, e o orgulho pelos seus
próprios méritos. A ambição pela honra que não vem de Deus. A inveja da
perfeição de Deus, e a indulgência para com os apetites do corpo. Ao
negligenciar a árvore da vida - da qual tinha permissão para comer - e
comer da árvore da ciência, que lhe era proibida, Adão mostrou
claramente um desprezo pelos favores que Deus lhe tinha concedido, e
uma preferência por aquilo que Deus não julgou adequado para ele. Ele
desejou ser, ao mesmo tempo, seu próprio escultor e seu próprio senhor.
Quis ter o que desejava e fazer o que desejasse: o seu pecado foi, em uma
só palavra, desobediência (Rm 5.19), desobediência a um mandamento
claro, fácil e expresso, que provavelmente ele sabia que era um
mandamento de teste. Ele pecou contra o grande conhecimento, contra
as muitas graças, contra a luz e o amor, a luz mais clara e o maior amor
contra os quais nenhum pecador jamais havia pecado. Ele não tinha em si
uma natureza corrupta que o traísse. Mas tinha livre arbítrio, não era
escravizado, e este agia plenamente, não sendo enfraquecido nem
debilitado. Adão se desviou rapidamente. No entanto, é certo que ele
conservou a sua integridade, embora por muito pouco tempo: criado em
honra, não permaneceu nela. Mas o grande agravo do seu pecado é o fato
de que, por causa dele, toda a sua posteridade foi envolvida no pecado e
na ruína. Tendo Deus lhe dito que a sua raça povoaria a terra, certamente
ele não poderia deixar de saber que era uma pessoa pública, e que esta
desobediência seria fatal a toda a sua descendência. E, neste caso, a
atitude de Adão foi certamente a maior traição e a maior crueldade que
jamais houve. Como a natureza humana estava inteiramente alojada nos
nossos primemos pais, ela não poderia ser transmitida a partir deles sem
uma mancha de culpa, uma mácula de desonra e uma doença hereditária
de corrupção e pecado. Então será que alguém poderia dizer que o
pecado de Adão provocou somente um pequeno mal?

As conseqüências derradeiras da transgressão.

Vergonha e medo dominaram os criminosos, ipso facto - pelo fato em si.


Estes dois sentimentos vieram ao mundo juntamente com o pecado, e
ainda o acompanham. 1. A vergonha os dominou, despercebida, v. 7, onde
observe: (D As fortes convicções que sentiram, no seu íntimo: foram
abertos os olhos de ambos. Isto não se refere aos olhos do corpo. Eles
estavam abertos antes, como está claro, porque o pecado se apresentou
diante deles. Os olhos de Jônatas foram aclarados ao comer o fruto
proibido (1 Sm 14.27), isto é, ele se revigorou e reviveu, graças a isto. Mas
com os olhos deles não aconteceu assim. Nem isto se refere a algum
progresso conseguido através de um conhecimento verdadeiro. Mas os
olhos das suas consciências foram abertos, os seus corações os feriram
pelo que tinham feito. Agora, quando era tarde demais, eles viram a tolice
que é comer o fruto proibido. Eles viram a felicidade da qual tinham caído,
e a infelicidade em que tinham caído. Eles viram um Deus amoroso
provocado, sua graça e os seus favores perdidos, a sua imagem e
semelhança perdidas. O domínio completo que o homem tinha sobre as
criaturas havia acabado. Eles viram as suas naturezas corrompidas e
depravadas, e sentiram uma desordem nos seus próprios espíritos da qual
nunca tinham tido consciência antes. Eles viram uma lei dos seus
membros combatendo contra uma lei das suas mentes, e deixando-os
cativos do pecado e também da ira. Eles viram, como Balaão, quando seus
olhos se abriram (Nm 22.31), o Anjo do Senhor, que estava no caminho, e
a sua espada desembainhada na mão. E talvez vissem a serpente que os
tinha enganado insultando-os. O texto nos diz que eles viram que estavam
nus, isto é: [1] Que estavam despidos, privados de todas as honras e
alegrias da sua condição no paraíso, e expostos a todas as infelicidades
que poderiam, com razão, ser esperadas de um Deus irado. Eles estavam
desarmados. A sua defesa os tinha abandonado. [2] Que estavam
envergonhados, envergonhados para sempre, diante de Deus e dos anjos.
Eles se viram despidos de todos os seus ornamentos e insígnias de honra,
reduzidos na sua dignidade e desgraçados ao máximo, expostos ao
desprezo e à censura do céu, e da terra, e das suas próprias consciências.
Veja aqui, em primeiro lugar, Que desonra e inquietação é o pecado. Ele
traz danos onde quer que seja aceito, coloca os homens contra si mesmos,
perturba a sua paz e destrói todos os seus consolos. Mais cedo ou mais
tarde, ele trará vergonha, seja a vergonha do verdadeiro arrependimento,
que resulta em glória, seja aquela vergonha e desprezo eterno para o qual
os ímpios ressuscitarão no grande dia. O pecado é uma reprovação a
qualquer pessoa. Em segundo lugar, Que enganador é Satanás. Ele disse
aos nossos primeiros pais, quando os tentou, que os seus olhos seriam
abertos. E realmente o foram, mas não como eles o entenderam. Eles
foram abertos à sua vergonha e tristeza, e não à sua honra nem benefício.
Portanto, mesmo que o diabo fale de uma forma polida, não creia nele. A
desculpa dos mentirosos mais maldosos e prejudiciais freqüentemente é a
seguinte: que eles apenas se expressam de uma maneira ambígua. Mas
Deus não os perdoará.

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