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º ANO
GRUPO I
Era uma vez um menino sem tempo para ficar quieto. Quando se cansava de
ler ou de brincar sozinho, uma névoa toldava-lhe os grandes olhos castanhos. Sabia
que apenas o deixavam sair se fosse para ir à escola, ou a recados à mercearia do
senhor Carvalho (…). Por isso, o João era este o nome do menino – passava horas
5 sem fim à janela.
Vivia no primeiro andar de um prédio novo, mas baixo, numa rua estreita de
casinhas velhas, habitadas por gente pobre, onde, pelo fim da tarde, se ouvia por
vezes a corneta do azeiteiro, sempre acompanhado do seu burro. (…)
Da janela, observava aquela travessa de pessoas humildes, onde a sua família
10 era a única de «gente remediada» – como dizia a mãe e por onde, ao fim da tarde,
circulava um polícia – gordo e pachorrento, com cara de trator amolgado, a quem a
garotada chamava «o Bigodes». Era também na rua, quase sem trânsito, que brincava
e jogava à bola, com grande alarido, a miudagem das casas pobres. (…)
Em frente à casa do João vivia o senhor Olímpio, um pedreiro já entradote que,
15 todos os fins de tarde, afogava a solidão em que vivia em copinhos de vinho tinto. Da
janela, o menino ria dos disparates com que o homem zurzia aquele mundo pequeno
e pobre, e divertia-se com a cara irritada do Bigodes. (…)
– Queres vir andar com nós? – Era assim, gritando «com nós» em vez de
«connosco», que o desafiavam os rapazitos rotos e de monco no nariz, que passavam
20 horas deslizando pela rua num tosco carrinho de rodas de metal e tábuas velhas, (…)
Mas João não respondia. Sem querer, exibia aquele sorriso triste de quem pouco
mais podia fazer do que sonhar com uma viagem no carrinho de madeira.
(…) Apenas se alegrou ao ver os dois garotos, que já conhecia, deslizarem rua
abaixo no carrinho, até se despistarem pela centésima vez e caírem do passeio, um
25 por cima do outro, com grande estardalhaço de gritos e palavrões. Era nesses
momentos que João se desfazia em gargalhadas de menino, até as lágrimas lhe virem
aos olhos.
Naquela tarde, porém, a liberdade da velha Travessa das Musas atraía-o como
um íman e, por isso, não foi capaz de resistir ao desafio dos dois moços. Sabendo a
30 mãe a braços com o jantar, pôs-se na rua enquanto o diabo esfrega um olho e, sem
sequer olhar para ele, passou pelo senhor Olímpio que cambaleava na soleira. Num
instante estavam os três no cimo da rua preparados para a vertigem da descida, o
João agarrando a corda que servia de volante e os dois companheiros atrás, um
encavalitado no outro.
35 O carrinho ganhou velocidade na descida, antes da curva. Vencida esta, (…), eis
que surge pela frente, (…), o Bigodes, no seu giro preguiçoso de fim de dia.
Nem sequer teve tempo de rodar a cabeça para averiguar de onde vinha o
tremendo barulho do metal no cimento do passeio. Em poucos segundos foi colhido
pelo carrinho que os garotos já em queda não souberam controlar. Apanhado de
40 surpresa, perdeu por momentos o equilíbrio e soltou um rugido, mas ainda teve tempo
de agarrar pela gola o João, mais branco que a cal e sem saber como se livrar das
garras do agente, enquanto os colegas, aguilhoados pelo medo, se raspavam rua
acima, de calcanhares a bater nos fundilhos.
Ouviu-se então uma voz rouca e avinhada: uns metros acima, Olímpio dera um
45 salto desengonçado da soleira para o meio da rua:
– Ó só guarda, ó só guarda, então já só consegue deitar mão à canalha?!
Vocabulário:
zurzia – criticava
aguilhoados – feridos
canalha – crianças
2. O João brincava com os restantes meninos da sua rua? Justifica a tua resposta.
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9. Retira do texto uma frase que revele que o João não foi capaz de resistir a participar
nas brincadeiras da rua.
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10. Explica por palavras tuas o sentido da expressão destacada (linhas 9 a 10).
“…onde a sua família era a única de «gente remediada» …”
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11. De acordo com a informação do texto, assinala com um X, nas questões de 11.1.
a 11.3., a opção correta.
11.1. «Naquela tarde, porém, a liberdade da velha Travessa das Musas atraía-o como
um íman…» (linhas 28 a 29).
A expressão sublinhada significa que o João…
11.2. «… pôs-se na rua enquanto o diabo esfrega um olho (…).» (linha 30).
A expressão sublinhada na frase anterior significa que:
12. «Olímpio dera um salto desengonçado da soleira para o meio da rua: (…)» (linhas
44 a 45).
Qual consideras ter sido a razão que levou o Sr. Olímpio a saltar para o meio da rua?
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GRUPO II
GN ______________________________ GV ______________________________
embelezar
despistado
reaparecer
infiel
8. Liga as frases à opção que revela o seu significado, de acordo com a expressão
destacada.
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GRUPO III
A brincadeira do João com os amigos não terminou da melhor forma, porém o
João conseguiu realizar o seu sonho de andar no carrinho de madeira.
Num texto cuidado fala-nos da tua brincadeira preferida.
No texto deve constar o nome da brincadeira, como se realiza, quantos
jogadores participam, o material necessário para a jogar e claro, o porquê de ser a tua
brincadeira preferida.
Não te esqueças de:
– atribuir um título ao teu texto;
– no final, rever o que escreveste.
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Oralidade
uma lenda.
uma fábula.
O lobo.
A lebre.
Aparência enraivecida.
8. De acordo com o texto que ouviste, a lebre não foi visitar o leão porquê?
Porque não gostava de ajuntamentos.