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O livro de Michel Morpurgo, “Um elefante em meu jardim”, publicado no Brasil

pela Panda Books em 2011, é interessante na medida que apresenta uma narrativa
aparentemente simples (geralmente destinada ao público infanto-juvenil), mas que
discute temas caros sob um pano de fundo de um dos períodos históricos mais tristes da
história humana: a ascensão do nazismo e a segunda guerra mundial.

O livro tem duas camadas narrativas. Na primeira, que se passa na Inglaterra,


uma enfermeira inominada é a narradora. Trabalhando em um asilo, sua vida é um
pouco agitada porque precisa cuidar sozinha do filho, Karl. Algumas vezes, ela o leva
para o trabalho, pois o lugar é agradável e ele distrai os idosos, que ficam extremamente
contentes com a presença de uma criança. Elisabeth, uma das idosas internas, é quem
mais se apega a Karl e decide lhe contar a história de sua vida. Lizzie, como é
conhecida, parece já não “bater bem da cabeça”, pois afirma constantemente que existe
um elefante no jardim do asilo. Ela então, contando sua história, vai explicar a história
do elefante.

            É aí que entra a segunda camada narrativa. Lizzie se torna a narradora e o tempo
recua até à segunda guerra mundial. O lugar: a Alemanha Nazista. Lizzie e sua família
moram em Dresden. Levam uma vida normal até que a guerra acontece. Ela tem um
irmão mais novo chamado Karli (a semelhança entre os nomes de Karl e Karli é que faz
com que Lizzie, depois de tantos anos, resolva tocar em assuntos tão delicados para ela).
     
Sua mãe trabalha em um zoológico onde todos os animais serão sacrificados por
conta de um possível ataque à cidade. Como Karli adora Marlene, a elefanta da
zoológico, sua mãe pede para o diretor para levar o animal para sua casa. Sim, parece
absurdo, mas o diretor aceita o pedido e a dócil Marlene, que adora batatas, vai viver
com a família. É ela que, sem querer, acabar salvando a vida da família, tirando-a da
cidade minutos antes do ataque a Dresden. A partir daí o caos se instaura e a família de
Liz sofrerá, na pele, as consequências de uma guerra.
     
Uma das cenas importantes (em um recuo temporal de alguns anos) é a
discussão entre o pai e o tio de Lizzie. Em uma visita ao sitio do irmão, Papi e ele
discutem fortemente sobre Adolf Hitler. O tio acredita que o líder trará a glória e a
honra de volta à Alemanha. Ambos lutaram juntos na primeira guerra e somente uma
nova guerra, na opinião do tio, é que faria o mundo ver o quanto a Alemanha é grande.
O pai, por sua vez, acha Hitler um lunático que fará com que muita gente morra numa
possível guerra (o pai iria ser obrigado a lutar quando a segunda guerra eclodisse). Na
discussão, a família de Liz é convidada a se retirar da casa do tio.
           
As reflexões sobre o humano são importantes não só apresentando os
personagens feridos, a fome, a morte em condições terríveis, mas também colocando
frente a frente inimigos de guerra. É o que acontece com a presença de Peter, piloto
canadense que ajudou a bombardear Dresden. O encontro do soldado com a família de
Lizzie é extremamente importante nessa discussão e será essencial para a continuação
da história e para o entendimento sobre quem é que manda e quem é obrigado a
obedecer, a matar e a morrer em uma guerra sem sentido.
            Para o público alvo, “Um elefante em meu jardim” se torna então um livro de
importante leitura, uma vez que, além do entreter de uma narrativa bem escrita, há
também questões históricas extremamente relevantes, com temas que se tornam
imperativos à discussão, sobretudo nos dias de hoje, tempo em que o fascismo impera
nas novíssimas gerações.

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