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FOTO: FUNAI
A revista Reconexão
Periferias de abril,
mês da visibilidade indí-
aumentava para 57,3%
quando eram conside-
rados somente aqueles
seus direitos ao longo dos
últimos séculos.
gena, propõe uma reflexão que viviam dentro das A revista traz o artigo
sobre a situação dos povos Terras Indígenas. Essa “Entre margens”, do poe-
ABRIL 2023
PROJETO RECONEXÃO PERIFERIAS DIRETOR RESPONSÁVEL ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOS COORDENADOR
DO PROJETO PAULO CÉSAR RAMOS EQUIPE ISAÍAS DALLE, LÉA MARQUES, MATHEUS TANCREDO TOLEDO, RUAN
BERNARDO, SOFIA TOLEDO, VICTORIA LUSTOSA BRAGA, VILMA BOKANY COLABORADORES SOLANGE GONÇALVES
LUCIANO EDIÇÃO E REVISÃO ROSE SILVA PRODUÇÃO EDITORIAL CAMILA ROMA PROJETO GRÁFICO CACO
BISOL DIRETORIA EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO PAULO OKAMOTO (PRESIDENTE), VÍVIAN FARIAS
(VICE-PRESIDENTA), DIRETORES: ALBERTO CANTALICE, ARTUR HENRIQUE, CARLOS HENRIQUE ÁRABE, ELEN COUTINHO,
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FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO RUA FRANCISCO CRUZ, 234 VILA MARIANA 04117-091 SÃO PAULO/SP WWW.FPABRAMO.ORG.BR
EDITORIAL
Tacuã, situada a cinco qualquer mandato, inclu- é uma sobrevivente dos
horas de barco de Porto sive nos movimentos so- escombros manicomiais,
Velho (RO), e também ciais, precisa se dirigir às dos labirintos psiquiátri-
sua chegada a São Paulo, pessoas a partir “das dores cos e frequenta há mais
quando deparou com da vida”, ouvi-las e ajudar de duas décadas um dos
o devastado Rio Tietê. a encontrar soluções maiores e últimos manicô-
“Meu encontro com o para os problemas. Dessa mios da América Latina,
Tietê me ajudou a pensar forma, abrem-se as portas o Hospital Psiquiátrico
o Rio Madeira, ou Rio para as mudanças estru- São Pedro. É nas Oficinas
Iruri (rio que treme), seu turais, para a tarefa de de Criatividade que Sol
nome mais antigo. Para o pensar o mundo e formas consegue fazer da arte uma
povo Mura, que antes do concretas de atingir essa ferramenta de auto resgate
contato com os brancos meta. “As pessoas estão onde dissipa as dores de
era denominado Buhua- sem paixão pela política? suas vivências e daquelas
ren (dominadores das Estão. Estão desacredita- pessoas com quem com-
águas), o Rio Iruri (o rio das. Como a gente supera partilha sua arte.
que treme) respira neles. isso? Quando fala de
Neste mês de abril
Quem me contou foi coisas que atingem a vida abrem-se caminhos
Márcia Mura, professora delas de verdade”, diz. promissores com o novo
e escritora indígena, uma governo, após a ruptura
parente do rio”. O perfil traz a história do
Coletivo Força Tururu, com uma era de necro-
O texto fala ainda sobre política que afetou sobre-
que atua na comunidade
forças que comprometem maneira os povos indíge-
de mesmo nome, em Pau-
nas, inclusive na forma
o futuro das águas, como lista (PE), para desenvol-
de genocídio. Temos pela
o garimpo, e provocam a ver projetos de comunica-
primeira vez um Minis-
morte acelerada de vários ção popular e comunitária
tério dos Povos Indígenas
rios no Brasil, entre eles o que se contraponham à
e uma mulher indígena
Madeira, um dos mais im- ideia hegemônica de que
na presidência da Funai.
portantes da bacia Amazô- as favelas sejam apenas
Que sejam sinais de uma
nica que corre sério risco de habitadas por pessoas
ABRIL 2023
N asci perto de um
rio, a casa com
a cara virada pra ele.
O Rio Madeira, “Madei-
rão” (como o chamavam
bém um caminho por
onde passava o mundo, e
lá em casa), era o nosso Tacuã era um canto onde
Alguns passos e a gente parente mais antigo. Aos o bicho descansava e trazia
chegava na beira. Lembro poucos minhas irmãs me histórias. Sim, um bicho:
da prancha imensa de “todo o rio é um tipo de
ensinaram mais coisas:
madeira bruta, escura, es- bicho”, dizia Tia Dalila,
que se pegasse um barco
ABRIL 2023
ficavam na cozinha perto menores como a nossa. seu corpo, seu sangue, pele
ARTIGO
e caroço. Dizia ainda que ventos culturais. Cidade líptica. Um enorme bicho
tem duas maneiras de um grande. Centro econômi- morto estendido sobre a
rio morrer, ou ele seca, ou co do Brasil. Aos poucos cidade, com seu corpo sem
ele estanca, fica parado, foi se revelando para mim vida, apodrecendo, um rio.
apodrecendo, sem vida a Racionais Mcs na sua mais
água fica morna, salobra. completa tradução, e algu- Tietê é seu nome, que em
ma coisa certamente acon- Tupi significa "água verda-
Depois o tempo e o rio me teceu no meu coração. deira". Os dados apontam
levaram para longe de Ta- Não foram as avenidas, que aproximadamente
cuã, e entre as correntezas nem o rosto do monstro 33,6% do seu trecho é
da vida me escapei poeta. na multidão, nem a barra considerado morto, 163
Esse ofício que permite de ferro fria do metrô, os km de rio sem vida. Ali, o
manter o estado de curiosi- avisos de medo, a parte cheiro tomando conta da
dade e achar na poesia uma mais triste da música do estação portuguesa Tietê
maneira de voltar para casa, Caetano diante dos olhos. na linha azul do metrô, to-
exercitar um idioma, criar Gente fingindo que gente dos parecem se acostumar
uma linguagem que conce- não existe. com o cenário. Talvez por-
de a capacidade de enxer- que estamos adestrados na
gar e escutar um rio. Como Não vou dizer que não ti- busca pela sobrevivência,
se o rio fosse mesmo um nha me preparado pra isso. jogando as regras impostas
tipo de bicho. Nos rumos do Norte só por um sistema violento
sopram notícias do Sudeste. que planta cidades tristes.
Não é uma tarefa fácil,
ainda mais nos tempos Mas teve um acontecimen- O Tietê é um rio que se
de hoje, onde a borra- to, um espanto perverso, move diferente, se volta
cheira do capitalismo não me esqueço, a imagem para o interior e não para
enfeitiçou o mundo num de uma paisagem apoca- o oceano, isso fez com
encantamento ao contrá-
rio, e não somente os rios
e florestas, mas o planeta
inteiro é explorado e
ABRIL 2023
miséria de bilhões.
de, do Instituto Nacional sova, e isso é catastrófico. via e no Peru que também
de Pesquisas da Amazônia Sem contar as milhares vão impactar a bacia.
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
Agradecimentos :
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
Márcia Mura, Arine Caçador, Iremar Ferreira, Almicio Fernandes, Seu Natan
Fontes:
https://vejasp.abril.com.br/cidades/trecho-morto-rio-tiete-avanca/
https://infoamazonia.org/2022/07/11/a-morte-silenciosa-do-rio-madeira/
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https://amazoniareal.com.br/especiais/meninos-garimpeiros/
ENTREVISTA COM JULIANA CARDOSO
A política como arte de acolher e ajudar pessoas
ISAÍAS DALLE
Juliana Cardoso foi eleita deputada federal em 2022, logo em sua primeira
tentativa, após ter se consolidado como vereadora em São Paulo.
movimentos sociais, pre- seria o ingresso para a fase gue virar essa chave”, diz
cisa se dirigir às pessoas que se convencionou cha- Juliana.
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
conquistando-as para a ta- Como a gente supera isso? de ajudar grupos e co-
ENTREVISTA COM JULIANA CARDOSO
da Câmara. Nas comis-
sões, como funciona o
dia a dia? Por mais que
eu tenha sido vereadora
da cidade de São Paulo,
o que já dá uma boa base
para chegar aqui, ainda
assim é diferente. Eu que-
ro me dedicar pelo menos
nesses três meses, quatro
meses, ao dia a dia aqui
na Câmara Federal. E in-
JULIANA CARDOSO EM SEU GABINETE, EM ENTREVISTA AO JORNALISTA ISAÍAS DALLE, DA REVISTA clusive ter subsídios para
RECONEXÃO PERIFERIAS
entender o que se conecta
munidades a encontrar das populações desses com nosso estado, nossa
soluções para problemas territórios. Como uma base, no que a gente pode
diários, mostrando as deputada federal pode caminhar, principalmente
ferramentas já existentes, trazer essa pauta para um nesse governo do presi-
mas desconhecidas, ou espectro tão grande e dente Lula, em políticas
elaborando novas. muitas vezes até com um que foram completamen-
alcance difícil de enxergar, te abandonadas e agora
Histórias que viveu tam- no plano federal? estão sendo resgatadas.
bém quando esteve na Na relação orçamentária,
Juliana Cardoso: Quando
posição de quem preci- na questão de projetos
você está no Estado, tem que estavam parados, de
sava de ajuda, como no
um diálogo quase diário obras como creches, Mi-
caso trágico do assassinato
com as pessoas que acom- nha Casa, Minha Vida,
de seu pai, na presença
panham o mandato. E aí obras que foram paradas
dela, ainda criança. Ou
vem para Brasília. Se está durante seis anos e rapi-
na descoberta contínua
aqui, você some da base. damente, em menos de
de sua ancestralidade,
Se está na base, as pessoas 100 dias, já começaram a
ABRIL 2023
que dão show, que falam de violência obstétrica. Então meu bisavô, por
muito melhor do que Então, na área da saúde, parte da minha mãe, por
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
E tem vontade de
um debate lá na minha para fins de legislação aprender?
casa, né? Porque pegamos eleitoral, a opção por
Siiiimm, inclusive eu
inclusive toda a árvore declarar a etnia afro-
tenho parentes terenas,
genealógica, para enten- indígena?
aqui em Brasília tem um
der como a gente iria se Exato. Essa luta está em museu coordenado por
comportar. Se fala assim, curso e deve-se trabalhar um terena, e ele já falou
afrodescendente, negro, com ela, é um dos debates diversas vezes pra eu ir
mas e a questão indíge- que vou ter de fazer aqui. lá falar, que ele quer me
na, onde fica então? Na Dentro dessa relação in- ensinar. E quero visitar
nossa árvore genealógica, dígena, depois tem a luta Mato Grosso do Sul.
mesmo com a minha mãe dos indígenas aldeados e
Nesse espaço que meu
negra, percebe-se que na não aldeados. Nesse diálo-
pai nasceu, Aquidauana,
parte da minha mãe tem go dos indígenas, quando
não estive, em que pese
um grande número de você não é aldeado não é
ele tenha sido registra-
indígenas. Mas a parte muito aceito.
do em Nioaque. Muita
do meu pai é toda terena,
Não é muito aceito por gente que fica tentando
de Mato Grosso do Sul.
quem? desconstruir, inclusive
Então, quando se olha a
no partido: “mas ela não
minha família por parte Pelo povo indígena, por-
é indígena”, ou “ela está
de pai, você vê todos os que você sai da sua cultu-
ra, que teria de ser, para ir chegando agora”. Sem en-
traços indígenas muito
para outra, para urbano. tender que não existe uma
fortes. Meu pai morreu
E aí no urbano, eu, por legislação eleitoral em que
quando eu tinha cinco
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cidade?
No Jaraguá e em Pare-
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
Paulo entre 2001 e 2005), JULIANA CARDOSO EM REUNIÃO COM OS MOVIMENTOS SOCIAIS. FOTO ACERVO PESSOAL
ENTREVISTA COM JULIANA CARDOSO
Estadual, ali todo mundo do, muitas pessoas que saiu da aldeia para poder
me conhecia. O apelido estavam na linha de frente estudar. O certo era ter
do meu pai era Índio. Ele de alguma ação política voltado para fazer as ações
era muito alegre, muito morreram. Foram balea- lá, mas era muito precá-
festeiro, e as pessoas ti- dos, enfim. A minha mãe rio. Os povos indígenas
nham um carinho muito sempre conta um pouco sempre foram muito
especial por ele, e foram essa história. A repressão abandonados, expulsos
me ajudando nesse dia até também quase chegou do seu território e as suas
minha mãe chegar. E aí, perto dela. O tempo em culturas acabam sendo
quando minha mãe che- que ela teve de ir para desmontadas. Só quem
gou e resgatou, logo em Salvador, enfim, tinha está muito perto ou quem
seguida ele faleceu. Acho ali as suas ligações com o tem muitos parentes pró-
que ele até ficou esperan- Carlos Marighella. Tanto ximos consegue resistir.
do. Ele demorou tanto, que o filho do Marighel- Mas quando são aldeias
porque ele estava num la é padrinho da minha menores e são abando-
processo muito difícil, irmã, falecida também, a nadas, elas acabam tendo
mas ele só partiu quan- Maria Luíza. E o meu pai muita dificuldade. Então
do ele teve certeza que a foi isso, foi tirada a vida eu falo que é uma vida de
minha mãe me achou. dele e, nos autos, diz que trabalhadores, né? Pessoas
foi uma pessoa que estava que nunca deixaram de
O seu pai era um lutador lá, que não gostava muito entender que precisavam
social, não era? Ele estava dele, e atirou. E até hoje a ter consciência política
na luta... gente não sabe exatamen- de direitos. Tanto que
Estava, na enfermagem, te o porquê. eu acho que chegar aqui
na relação com o SUS. como deputada federal
Naquele período ainda Você também falava também faz parte da
era muito novo, mas na da pesquisa que fez, da minha história de vida,
defesa do serviço públi- árvore genealógica. Das de busca pelos direitos e
co, do servidor público, descobertas que fez ao igualdade social.
no Hospital do Servidor pesquisar suas origens, há
Público de São Paulo, na alguma que a encantou Quando os povos
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constante naquele perío- parte do meu pai, ele algumas casas antes, que é
ENTREVISTA COM JULIANA CARDOSO
este mandato, porque não
é só a Juliana. Nós somos
um time. Eu entendo que
o mandato é o instrumen-
to da luta popular. Então,
temos de estar a serviço
de. E estar a serviço de é
compreender que há pon-
tos importantes e pessoas
que militam, ajudam,
trabalham, e dedicam a
vida. Então perguntam,
FOTO: ACERVO PESSOAL
“mas Juliana, você não vai
pautar a luta indígena?”
a relação ambiental, todo para o mandato, qual
Sim, eu estou junto, mas
o contexto que vivemos, você considera prioritário,
tem mandatos aqui, como
não só no Brasil, mas no que você pretende
Célia Xakriabá, como
mundo, dos desastres. transformar numa marca?
Sônia Guajajara, que está
Tudo isso passa por uma São vários pontos que eu agora como ministra, que
relação mais ampla de trabalho. Saúde, assis- dedicam a vida a isso. A
sobrevivência. A sobrevi- tência social, moradia. O minha pauta, a minha
vência inicia pelos povos ponto que eu quero mui- vida, e eu sou formada
indígenas, que são os to ajudar e ter marcas é a em Gestão Pública, é
guardiões das florestas. E área da saúde, em especial entender que o centro da
são mesmo. Aqueles que a saúde voltada para as política de Estado tem
têm a sabedoria milenar, mulheres. E na área vin- que ser forte. E, para ser
a ancestralidade anterior culada à assistência social: forte, você tem de cons-
a nós. Mas eu acho que a acho que temos de virar a truir subsídios, desde
partir de tudo o que tem chave, para as pessoas en- legislação, mas acima de
acontecido com a gente, tenderem que assistência tudo ajudar quem hoje
se não iniciarmos rapida- social não é só cesta bási- está no governo, que é o
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mente uma ação efetiva ca, pode ser muito mais presidente Lula, a fincar
ampla. E, claro: quando essas políticas, para quan-
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
Dos planos que você tem renda. É muito diverso há problemas, mas há
ENTREVISTA COM JULIANA CARDOSO
eu costumo dizer que é as fake news, não conse-
a do microfone, entre gue estar todo o tempo
outras, para traduzir para em todos os lugares. Acho
as pessoas que nem tudo que nós temos de virar essa
acaba quando termina o chave. Então, talvez, com
mandato. É por isso que alguns mecanismos como
eu sempre digo que, em o orçamento participativo e
cada lugar que eu vou, outras formas de as pessoas
não adianta ir só para enxergarem o Estado, a
fazer um discurso bonito, política pública voltada
mas precisa semear, en- para elas, consigam en-
tender que aquela pessoa
tender que há projetos de
pode ter uma capacidade
vida, com o do Lula, e há
FOTO: ACERVO PESSOAL
de entender, se informar,
projetos de morte, como o
um postinho ao lado da e dessa informação conse-
do Bolsonaro.
casa delas. Isso tinha de guir ir abrindo portas.
ser para tudo: moradia, Esse espaço de manda-
assistência social. Essa consciência, como
to é isso: não tem que
é que a gente consegue
construir?
resolver só o asfalto, e
Você acha que o SUS,
pela consolidação
sim entender o que eu
Essa construção é per- desperto nessa pessoa,
dos princípios dele no manente. Eu sempre
imaginário popular, pode para ela entender que
digo que você tem que
ser referência para todas precisa se colocar melhor,
conversar com as pessoas
as demais políticas? entender quais são os
em cima das dores delas.
instrumentos que tem
Tinha de ser. Se isso Não adianta ir lá e dizer
para lutar, e assim obter
acontecesse, eu acho que assim “olha, porque agora
algum serviço ou política
a gente não passaria por nós vamos ter Minha
para a sociedade. Vou dar
tanto problemas como Casa, Minha Vida, Bolsa
passa hoje, quando se Família, Mais Médicos”, um exemplo: visitei uma
faz um desmonte. As sendo que ela está passan- cidade paulista um tempo
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forte nas suas vidas na a pensar, naquele mo- e cultura para crianças e
hora que elas perdem. mento, para matar a fome jovens. Disse para eles que
Os mandatos precisam, dela. E a igreja evangé- existe verba federal para
todos, Executivo, Le- lica aprendeu isso. Nós isso, basta acessar. E que
gislativo, movimentos também estamos em um o município teria de arcar
sociais, a gente tem de outro momento, a gente apenas com uma parte. As
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usar essa capacidade, que briga hoje com as redes, pessoas não sabiam disso.
ENTREVISTA COM JULIANA CARDOSO
Então, eu achei nesse Você está falando vida dela de verdade, con-
caminho do Congresso inclusive de segue virar essa chave.
Federal um lugar de fazer parlamentares?
essa disputa nacional, de Sobre essa bancada
Só de parlamentares, há periférica. Muita gen-
falar sobre isso. Agora, na
muitos casos aqui. São te vem me perguntar
campanha pela reforma
99 deputados, de 513, por que o PT precisa se
tributária que está che-
gando aqui, na forma de que se elegeram pela rede juntar numa base gover-
medidas provisórias, isso social. Eu costumo dizer nista com pessoas que
vai ter de servir pra dia- isso na tribuna: o que anteriormente xingaram,
logar com as cidades que vocês estão produzindo bateram. Isso ocorre exa-
não têm serviços como para a sociedade? tamente porque a gente
esses. Numa cidade que não tem a capacidade de
Há bancadas temáticas, conseguir trabalhar para
eu visitei, a creche é das 7
como a do boi, da bala ter mais parlamentares
e meia às 11 e meia e as
crianças não têm almoço. e da bíblia. Faz sentido no nosso campo. Sabe
montar uma bancada por quê? Porque a gente
Pautas que são capazes periférica? fica brigando entre nós.
de suscitar mobilização
popular. Mas está
faltando um pouco de
encantamento com a
política. Ou não?
Sim, porque as pessoas
estão desacreditadas. A
televisão faz muito isso
também. Você liga a TV,
o que se passa lá? Gente
morrendo, corrupção. Esse FOTO: ACERVO PESSOAL
E aqui na Câmara Federal sem paixão? Estão. Estão Agora, quando a gente
você vê nitidamente essa desacreditadas. Como a vai avançar para disputar
parte da sociedade que só gente supera isso? Quan- o outro lado em que os
vive nessas redes sociais, do a gente fala de coisas adversários sempre estão?
principalmente aqueles que atingem a vida delas Quando a gente vai con-
que produzem o ódio e de verdade. Quando pega seguir disputar o espaço
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fake news. assuntos que atingem a que hoje eles têm muito,
ENTREVISTA COM JULIANA CARDOSO
que é uma pessoa que governo que não investiu
estava desempregada, aí o suficiente para o médico
foi pra igreja, conseguiu ir até a periferia. Isso é
um trabalho. E quando demorado, é longo. Então
conseguiu um trabalho, nós temos de repensar
dialogou sobre outros esse jeito de enxergar o ser
problemas, sobre um fa- humano. A esquerda não
miliar com drogadição. E pode só ficar nos grandes
aí disseram para ela: “Es- discursos.
pera que vamos te ajudar
Os movimentos sociais
de outra forma”. Daí em
poderiam, como parte
diante a pessoa foi lá fazer
desse esforço, funcionar
o tratamento, melhorou.
COM CÉLIA XAKRIABÁ MINDÃ NYNTHÊ. como uma espécie de
FOTO: ACERVO PESSOAL Eles vão construindo um
porta para atender as
como o espaço da igreja trabalho entre eles, uma
pessoas?
evangélica? rede que é orgânica à vida
das pessoas. Sem dúvida Desde que entendam que
Você acha que nenhuma tem a pauta não podemos ficar no
tem alguma coisa fundamentalista, mas não assistencialismo, mas estar
irreconciliável entre uma é a principal questão. na vida, no dia a dia das
pauta fundada muito em pessoas e tentando dialo-
questões morais e a pauta Eu volto a dizer que nós gar com elas.
da esquerda? Tem como vamos conseguir criar
abrir diálogo? certa consciência a partir Organizar as lutas
do diálogo com a dor pontuais ali, tentando
Temos de ocupar esses
da comunidade. Vou resolver, por exemplo,
espaços, achar o cami-
dar exemplo a partir da a falta de médico no
nho de como eles estão
questão da saúde. A pes- posto de saúde, mas a
fazendo isso. Porque eles
soa está sem médico. É a partir disso construir uma
acharam um caminho de
agenda de mudanças
dialogar com a vida das partir desse momento que
estruturantes.
pessoas através da fé. Eu você vai lá e ajuda, que
ABRIL 2023
ATIVIDADE DO COLETIVO FORÇA TURURU SOBRE A FORÇA DAS EMPREITEIRAS NA CIDADE DE PAULISTA
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REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
ABRIL 2023
RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
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Ouvi dizer que toda rosa tem espinhos e sem querer te fiz chorar.
Mas somos essas rosas com espinhos e viemos o seu mundo enfeitar.
RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
REDES SOCIAIS:
Instagram: @oficinadecriatividadehpsp
LIVE VIVA
As lutas das mulheres e a democracia
Gustavo Fernandes
AGENDA DE ABRIL DE 2023
Data: 19/04 às 19h II Seminário do Grupo de Pesquisa
Onde: Centro Universitário Fametro - em Sociologia Política da
Unifametro (Campus Carneiro da Cunha) Educaçãoa
- Rua Carneiro da Cunha, 180, Bloco B, Data: 27 e 28/04
Jacarecanga - Fortaleza, CE Onde: Faculdade de educação - Av.
Inscrições aqui Roberto Vieira - Coroado - Manaus, AM
Mais informações aqui
Visita Mediadas pela exposição
“Mejtere: histórias recontadas” Circuito Herança Africana - VI
Data: 22/04 das 15h às 17h30 Temporada - Abril
Onde: Museu Paranaense - Rua Kellers, Data: 29/04 às 10h
289 São Francisco - Curitiba, PR Onde: Ponto de encontro na Estátua
Ingressos disponíveis aqui Merced Baptista - Largo São Francisco
da Prainha, 5, Estátua , Saúde - Rio de
Oficina | Histórias de Pano Janeiro, RJ
Data: 22/04 às 15h Ingressos aqui
Onde: Museu da Imigração do Estado
de São Paulo - R. Visc. de Parnaíba, 1316 I Congresso Internacional de
- Mooca - São Paulo, SP História da Amazônia: Cultura
Mais informações aqui Popular na Amazônia
Data: entre 2 e 4/05
II SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE Onde: Fundação Universidade Federal
EDUCAÇÃO, DIREITOS HUMANOS E de Rondônia - Campus BR PVH - Av.
CIDADANIA Pres. Dutra, 2965 - Olaria - Porto Velho,
Data: entre 25 e 27/04 RO. Mais informações aqui
Onde: evento online, no youtube.
Inscrições e mais informações aqui XXIX Semana Acadêmica de
História | FURB - Povos Indígenas e
Seminário Latino Americano Água Afrodescendentes: Protagonismo
e Gênero - 20ª edição Histórico, Identidades e Trajetórias
Data: 27/04 das 14h às 16h Data: entre 2 e 4/5
Veja aqui Onde: Universidade Regional de
Blumenau - 89030-903, Rua Antônio da
SEMINÁRIO TEMÁTICO III - Veiga, 140, Itoupava Seca - Blumenau,
Educação Escolar Indígena SC. Mais informações aqui
ABRIL 2023
e resolução de problemas,
inovação, empreendedorismo
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS