Você está na página 1de 4

As folhas no outono

Era outono e o tempo tinha-se tornado frio e cinzento.


Pelo ar, esvoaçam folhas coloridas que se desprendiam
das árvores. Um lápis e uma folha estavam a conversar
dentro de uma sala de aula, numa sexta-feira de chuva. A
sala era grande, quente e tinha muitas mesas e cadeiras.
Era um local acolhedor para estudar.
O lápis estava continuamente a escrever na folha.

5º D

Era apenas mais uma das muitas conversas que


pareciam infinitas. A determinada altura, foi mais longe,
escrevendo ternas palavras de amor: “Minha querida folha,
nem imaginas o quanto eu te amo. Prometo nunca mais te
riscar. Pelo contrário, sempre que te escrever e folhear,
será com imenso carinho.”
“Também eu te amo, querido lápis!” – respondia ela,
extremamente alegre e feliz. Porém, ele nem ouvia. Estava
a olhar lá para fora.
Não percebendo porquê, perguntou: “Para onde
olhas?”
“Para aquelas lindas folhas, lá fora. Já reparaste nas
belas cores que têm? Especialmente aquela.” – redigia ele,
enquanto apontava para uma das folhas. Era uma folha
pequena que, devido ao outono, tinha ficado com uma cor
vermelha, com alguns traços de verde e amarelo.
A pobre folha ficou um pouco triste, pois não era
colorida como as outras nem mudava de cor, consoante a
estação do ano. “Também me achas bonita, certo?” –
questionou.
“Sim. Só não tanto como aquela ali.”
Como não esperava tal resposta, ela ficou muito
preocupada. Porém, como o lápis continuou a insistir que
não queria nada com ela, nem ela fazia o seu género e
apenas se importava com a sua companheira, esta ficou
um pouco mais tranquila.
Contudo, no instante em que o Artur, o dono dos dois,
foi abrir a janela, a pedido da professora, a folha da árvore
aproveitou para entrar e não tardou muito para que a
borracha fosse dizer à folha branca: “Amiga, põe-te à
tabela, que o lápis anda a trair-te com aquela, filha! Se
fosse a ti, apagava a vossa história!”
8 D – Prof. Francisco Magalhães

A folha de papel não concordou com a borracha,


porque eles já estavam juntos há muito tempo.
– Eu confio nele – dizia ela para si.
O tempo foi passando e o lápis aparecia cada vez
menos. Este andava a namorar às escondidas com a folha
de outono.
Um dia, como a folha já não via o lápis há uma
semana, resolveu procurá-lo pela sala. Deslizou e caiu para
trás de uma cadeira. Encontrou-o debaixo da mesa com a
folha de outono. Escondeu-se atrás da cadeira e ouviu a
conversa. Ficou tão triste com o que ouviu que, logo logo,
foi chorar para o canto da sala.
Ao abraçar a folha de outono, o lápis virou-se e
reparou nela. Foi, então, ter com ela e perguntou o que se
passava. Ela ignorou-o e virou-lhe as costas. O lápis não
sabia o que fazer, mas desconfiou que ela tinha descoberto
a sua traição.
Durante algum tempo, a folha refletiu e acabou por
não o perdoar, porque ele tinha prometido amá-la e foi
desleal. A partir desse momento, não o deixou escrever
mais nada e pediu à borracha para apagar tudo o que ele
tinha escrito até então. Assim, ficou toda branquinha e
pronta para encontrar um novo amor.
– Não te preocupes! Ouvi dizer que há alguém que
gosta de ti e que gostaria de te desenhar – coscuvilhou a
borracha.
– Quem?
– O lápis azul. Ele adora desenhar e pintar,
principalmente em folhas branquinhas.
Entretanto, a folha de outono foi ficando castanha e
cada vez mais seca. O Artur, sem querer, ao sentar-se,
pisou-a e ela desfez-se. No dia seguinte, já não existia a
folha de outono. Tinha ido para o caixote do lixo.

3.º ano- SC2

Você também pode gostar