Você está na página 1de 4

DIAGNÓSTICO

A infecção do trato urinário (ITU) ocorre devido a invasão do sistema urinário


por microrganismos, em especial bactérias, podendo atingir uretra, ureteres,
bexiga e rins. A propagação desses agentes pelo sistema urinário pode levar a
uma diversidade de repercussões clínicas e agravar o prognóstico do indivíduo
acometido, variando desde uma bacteriúria assintomática (BA) até um abcesso
perirenal,levando a sepse. Por esse motivo o rastreio e tratamento em tempo
oportuno é crucial para o não desenvolvimento de repercussões negativas
(SIQUEIRA et al., 2019). As mulheres possuem fatores facilitadores, como a
presença de uretra mais curta e a maior proximidade do ânus à uretra e o
vestíbulo vaginal,as bactérias que desenvolvem infecções do trato urinário em
gestantes, geralmente pertencem à microbiota intestinal e após o rompimento
do equilíbrio entre a virulência bacteriana e a defesa do organismo, ascendem
por meio da uretra e colonizam o sistema urinário, propagando-se e
desenvolvendo complicações clínicas (SILVA; SOUSA; VITORINO, 2019).
Portanto desenvolvem ITU com maior frequência comparadas aos homens.

A etiologia dessa doença normalmente repousa sobre bactérias que compõem


a microbiota intestinal, sendo a Escherichia coli sua principal representante.
O diagnóstico é realizado clinicamente,quando o paciente dispõe de
polaciúria, dor supra púbica, disúria e urina turva. Em caso de pielonefrite a
paciente grávida normalmente têm calafrios, febre acima dos 38°C e dor
lombar. Associado ao exame clínico que pode ser complementado através de
exames de laboratório como, por exemplo, a urocultura e o exame parcial de
urina. A urocultura é mencionada como padrão ouro para o diagnóstico de
ITU, especialmente nos casos de bacteriúria assintomática, na qual a ausência
de sintomas complica o diagnóstico clínico. Pelo fato de a urocultura
possibilitar o isolamento e identificação do agente causador, bem como
assegurar o perfil de sensibilidade dos microrganismos causadores da
infecção a variados antimicrobianos, conduzindo à escolha terapêutica mais
apropriada.

O diagnóstico assertivo e precoce da ITU é crucial para a condução adequada


do seu tratamento, evitando complicações para o feto e a gestante (SOUZA et
al.,2020). As manifestações clínicas possuem uma alta sensibilidade e alta
especificidade para o diagnóstico de cistite aguda. A presença de disúria,
polaciúria, hematúria,noctúria e urgência miccional, por exemplo, aumentam
a probabilidade de ser uma ITU, enquanto a presença de corrimento vaginal
diminui a probabilidade (SIQUEI-RA et al., 2019; ROSSI et al., 2020).
Podem ser solicitados alguns exames, complementando o diagnóstico clínico,
especialmente nos casos de BA, pois a ausência sintomatológica dificulta o
diagnóstico clínico (ROSSI et al., 2020). O sumário de urina pode auxiliar no
diagnóstico,quando em conjunto às queixas clínicas, ao apontar a presença de
leucocitúria, bacteriúria e hematúria. A primeira urina da manhã é a mais
apropriada para a execução do exame por possuir concentrações e acidez
normais. Essa deve ser avaliada imediatamente após a micção para evitar
dissolução de células e cilindros e contaminação por bactérias (SILVA; SOUSA;
VITORINO, 2019).Esse exame deve ser recomendado rotineiramente na
primeira consulta de pré-natal e repetido próximo a trigésima semana de
gravidez. Importante lembrar que não é considerado exame padrão ouro
apesar de baixo custo e fácil execução, já que os sinais encontrados são
indícios de inflamação e não necessariamente equivalem à bacteriúria
significativa (SILVA; SOUSA; VITORINO, 2019).O padrão ouro para o
diagnóstico de ITU em gestante é uma cultura de urina positiva, ou seja, o
crescimento microbiano superior ou igual a 10 5 UFC/mL em uma amostra
urinária (ROSSI et al., 2020). Ela possibilita o isolamento e identificação do
agente etiológico e determina a susceptibilidade dos microrganismos
encontrados aos antimicrobianos, conduzindo à escolha terapêutica mais
apropriada (SIQUEIRA et al., 2019; SILVA; SOUSA; VITORINO, 2019).
Apesar de não ser indicada na cistite não complicada, a urocultura e o teste de
suscetibilidade aos antimicrobianos (TSA) devem ser executados em mulheres
grávidas, mulheres com suspeita de pielonefrite aguda e infecção recorrente,
devido ao maior risco de resistência bacteriana (SILVA; SOUSA; VITORINO,
2019). Além disso,também são recomendados para mulheres que apresentam
sintomas atípicos, falhas terapêuticas, ou seja, ausência de melhora clínica
após 48h de tratamento e recorrência de ITU dentro de quatro semanas após
o final do tratamento. Atualmente, sua limitação é a demora normalmente
exigida para o alcance do seu resultado. A urocultura deve ser realizada na
primeira visita pré-natal e depois repetir durante o terceiro
trimestre (MUKHERJEE; MUKHERJEE, 2018; ROSSI et al., 2020).

COMPLICAÇÕES

O motivo pela qual as ITUs podem ser ainda mais comuns em mulheres
grávidas, é que uma vez que no período gestacional são diversas as alterações
causadas no corpo, o que a torna mais susceptível. Hipertrofia, hipotonicidade
muscular uretral,hipomotilidade muscular uretral, modificação da bexiga que
ocorre durante o segundo trimestre de gestação, aumento urinário, estase
urinário, refluxo vesicouretral e alteração do pH da urina são algumas das
alterações fisiológicas que o corpo da mulher sofre durante a gravidez e que
podem ser propícios à proliferação das bactérias causadores da ITU (Oliveira
et al. 2021).
Sabe-se que várias complicações podem ocorrer no período gestacional,tanto
no que diz respeito à gestação em si, quanto danos ao recém-nascido.
Portanto, para que esses danos sejam, pelo menos, minimizados, no ano de
2000, o Ministério da Saúde do Brasil criou um programa destinado,
principalmente, a atenção pré-natal e ao nascimento. Intitulado Programa de
Humanização Pré-natal e Nascimento (PHPN), o programa visa reduzir as
taxas de mortalidade materna no país. Outro programa nacional destinado
para este fim é a Rede Cegonha, criado em 2011 pelo Ministério da Saúde,
que tem, como principal objetivo, garantir os cuidados às mulheres desde o
parto ao puerpério, bem como assegurar a saúde do bebê. A Rede é composta
por quatro componentes: I – atenção pré-natal; II- Parto e nascimento; III –
Puerpério e atenção integral à saúde da criança; e IV – Sistema logístico
(transporte sanitário e regulação).Todo esse cuidado é tomado durante a
gestação pois, várias complicações perinatais podem ocorrer como
consequência da doença, como: o trabalho de parto (O início do trabalho de
parto pode ser explicado por resposta inflamatória com a produção de
quimiocitocinas e fosfolipase A2 e C, mediadores da produção de
prostaglandinas ou pela colonização do fluido amniótico por bactérias
procedentes do foco infeccioso urinário,consequentemente deflagrando o
trabalho de parto. Gestações complicadas por infecção urinária estão
associadas também a aumento de mortalidade fetal.) e parto pré-termo,
recém-nascido de baixo peso, ruptura prematura de membranas
amnióticas,restrição de crescimento intrauterino, paralisia cerebral, retardo
mental e óbito perinatal,anemia, pré-eclâmpsia, choque séptico e falência
múltipla dos órgãos, prematuridade,infecção e leucomalácia periventricular.
Em relação as alterações locais, como obstrução urinária, abscesso e celulite
perinefrótica, são mais raras e associadas à litíase ou quadros resistentes ao
tratamento antimicrobiano. As complicações maternas decorrentes da ITU são
secundárias ao dano tecidual causado por endotoxinas bacterianas, que
ocorrem principalmente nos quadros de pielonefrite. A bacteremia é
demonstrada em 15% a 20% das mulheres com pielonefrite grave, no entanto
poucas desenvolvem as manifestações clínicas de choque séptico. A
insuficiência respiratória decorre do aumento da permeabilidade da
membrana alvéolo capilar,resultando em edema pulmonar. A hiper-hidratação
e uso de tocolíticos, utilizados para inibição do trabalho de parto pré-termo,
pode agravar o quadro clínico.

TRATAMENTO

Quando realizado o tratamento antibiótico, nota-se a eficácia na eliminação


dos quadros de bacterúria assintomática, pielonefrite e também da incidência
de parto prematuro ou bebês com baixo peso ao nascer. O antibiótico
escolhido para tratar a gestante deve ser bem tolerado, experimentalmente
conhecido por ser inofensivo para mãe e feto e com baixos níveis de
resistência bacteriana. Portanto, ao escolher drogas para uso na gravidez,
fármacos bem estabelecidos com propriedades conhecidas são geralmente
preferidos para tratamento. A Sociedade de Doenças Infecciosas da América 7
(IDSA) recomendam a fosfomicina,nitrofurantoína e trimetoprim-
sulfametoxazol como drogas de primeira linha para tratar ITUs
não complicadas agudas em mulheres adultas, reservando fluoroquinolonas,
amoxicilina clavulanato e outros β-lactâmicos como drogas de segunda linha.
De acordo com Karlowsky et. Al 3 , em estudo publicado recentemente,
relatou as taxas de resistência antimicrobiana entre E. coli isolado de
pacientes com infecção urinário. Os resultados obtidos para taxas de
suscetibilidade foram: 74,7% para trimethoprim-sulfametoxazol; 77,4% para
ciprofloxacina; 81,3% para amoxicilina-clavulanato; 96,1% para
nitrofurantoína e 99,4% para fosfomicina. A identificação internacionalmente
crescente de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL), tem sido associada
com a resistência concomitante à amoxicilina-clavulanato, ciprofloxacina e
trimethoprim-sulfametoxazol.

ANTIBIÓTICOS VIA ORAL DE USO SEGURO ANTIBIÓTICOS VIA PARENTERAL DE


NO PERÍODO GESTACIONAL USO SEGURO NO PERÍODO
GESTACIONAL
Curta duração – 3 a 5 dias
Nitrofurantoína 100mg VO de 6/6h Ampicilina 1g + Gentamicina 3 a 5mg no
Ampicilina 500mg VO de 6/6h período de 8/8 hrs
Amoxilina 500mg VO de 6/6h Ceftriaxona 1g no período de 1 vez por
Cefalexina 500mg VO de 6/6h diavia IM ou IV
ANTIBIÓTICOS CONTRAINDICADOS NO
PERÍODO GESTACIONAL
Longa duração – 7 a 10 dias
Nitrofurantoína 100mg VO de 6/6h Fluoroquinolonas (levofloxacino,
Ampicilina 500mg VO de 6/6h Ciprofloxacino, Norfloxacino)
Amoxilina 500mg VO de 8/8h Eritromicina
Cefalexina 500mg VO de 6/6h Tetraciclina
Sulfametoxazol + Trimetoprima –
Especialmente no 1° trimenstre

FONTE: Nascimento e Carvalho

→ A tabela apresentada acima foi retirada da Revista Científica da


Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA

BIBLIOGRAFIA
https://sis.unileao.edu.br/uploads/3/BIOMEDICINA/
ANDERSON_PEREIRA_FIRMINO.pdf
https://repositorio.faema.edu.br/bitstream/123456789/2447/1/document.pdf
https://revista.unifeso.edu.br/index.php/cadernosdemedicinaunifeso/article/
view/1289/574
https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/
27297/21592
https://periodicos.set.edu.br/cadernobiologicas/article/view/9701/4451

Você também pode gostar