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Qual exame devo solicitar

para confirmar o
diagnóstico de infecção
do trato urinário e como
fazer o seguimento por
imagens, segundo
recomendação da
Sociedade Brasileira de
Pediatria?

8.1 INTRODUÇÃO
A Infecção do trato urinário (ITU), doença importante e bastante
comum na infância, caracteriza-se pela multiplicação bacteriana
em qualquer segmento do aparelho urinário, incluindo próstata e
epidídimo, que resulte em sintomas. A ITU alta, pielonefrite, pode
levar a cicatrizes renais, hipertensão e doença renal crônica.
Embora crianças com pielonefrite geralmente se apresentem
com febre, é sempre difícil distinguir clinicamente entre cistite e
pielonefrite, particularmente nas crianças com menos de 2 anos.
Com exceção daquela que ocorre no período neonatal, a maioria
das ITUs são infecções ascendentes, em que as bactérias
penetram pela uretra, chegam à bexiga e, eventualmente,
ascendem pelo ureter, atingindo os rins.
8.2 EPIDEMIOLOGIA
A prevalência geral em crianças menores de 2 anos e febris é de
aproximadamente 7%, mas pode variar de acordo com a idade, a
raça, o sexo e a presença ou não de circuncisão nos meninos.
Lactentes do sexo feminino têm duas a quatro vezes mais ITUs do
que meninos circuncidados. De maneira geral, predominam no
sexo feminino (exceto nos primeiros seis meses de vida, quando
ocorre mais no sexo masculino), podendo chegar à proporção de
20:1 a partir do sexto mês de vida. Seu pico de incidência
acontece ao redor de 3 a 4 anos.
No 1º ano de vida, a infecção de urina febril pode corresponder a
pielonefrite aguda na maioria dos casos (90%).
Os recém-nascidos de mães que apresentaram, na gestação, ITU
de repetição têm risco maior, até quatro vezes, de ter ITU no
período neonatal.
8.3 ETIOLOGIA
Escherichia coli é o agente bacteriano mais comum da ITU,
responsável por, aproximadamente, 80% a 90% dos casos na
infância.
Outras bactérias Gram negativas incluem Klebsiella, Proteus e
Enterobacter. Patógenos bacterianos Gram positivos incluem
Staphylococcus saprophyticus, Enterococcus e, raramente,
Staphylococcus aureus.
As ITUs causadas por bactérias que não a E. coli estão mais
associadas a anomalias do trato urinário, ITU materna no período
neonatal e tratamento prévio com antibióticos. Vírus e fungos
também são causas menos comuns de ITUs em crianças.
A patogênese das ITUs, principalmente as relacionadas com a E.
coli, deve-se à contaminação pela flora fecal da região periuretral,
que chega à bexiga ou às vias urinárias altas pela via ascendente.
Proteus é responsável por cerca de 30% das cistites e apresenta
maior incidência em meninos não circuncisados, pois nestes as
bactérias que ascendem pela uretra são provenientes do
prepúcio. Porém, a presença de bactérias na mucosa periuretral
não é suficiente para a ocorrência de ITU. A ligação das bactérias
com as células uroepiteliais constitui um processo ativo mediado
por adesinas bacterianas e receptores específicos dessas células
(pili ou fímbrias).
Em recém-nascidos, como a infecção pode ocorrer pela via
hematogênica, o agente etiológico fica na dependência do foco
original da infecção. Muitas vezes, a ITU no recém-nascido é
oriunda da disseminação transplacentária da infecção urinária
materna. Já em adolescentes, 20% a 30% das ITUs são causadas
pelo Staphylococcus saprophyticus.
As bactérias que mais comumente causam quadros de ITU a
depender da situação são:
▶ Klebsiella sp.: mais frequentes em recém-nascidos;
▶ Proteus sp.: 30 a 40% dos meninos;
▶ Staphylococcus saprophyticus: 30% dos adolescentes de
ambos os sexos;
▶ Proteus sp., Enterococcus, Pseudomonas, Staphylococcus
aureus ou epidermidis: crianças com malformação ou disfunção
do trato urinário.
8.4 FATORES DE RISCO
8.4.1 Idade
A prevalência é bem maior nos meninos com menos de 1 ano e
nas meninas com menos de 4 anos.
8.4.2 Meninos não circuncidados
Meninos não circuncidados com febre de origem desconhecida
têm até 20 vezes mais chances de estarem com ITU do que
meninos circuncidados da mesma idade. Além de a mucosa do
prepúcio ser mais suscetível à colonização de uropatógenos do
que a pele queratinizada, a obstrução parcial do meato uretral
também está relacionada com maior facilidade a essa colonização
e consequente desenvolvimento de ITU.
8.4.3 Disfunção miccional temporária
Durante o treinamento ao uso do banheiro, em meninas, há uma
disfunção miccional temporária, pois a criança pode reter a urina
para permanecer seca, ao mesmo tempo em que há contração da
musculatura vesical. Assim, há tendência a retenção urinária e
ITU.
Muitas vezes, as disfunções miccionais estão associadas a
disfunções intestinais, como constipação e incontinência fecal.
Essas duas alterações da função intestinal também estão
relacionadas como fatores de risco para ITU.
8.4.4 Uropatia obstrutiva
Crianças com esta condição podem apresentar esvaziamento
incompleto da bexiga, sendo a urina estagnada um excelente
meio de cultura para a maioria dos patógenos relacionados. A
predisposição às anormalidades obstrutivas pode ser anatômica
(válvula de uretra posterior, estenose de junção ureteropélvica e
estenose de junção ureterovesical), neurológica
(mielomeningocele com bexiga neurogênica) ou funcional;
alterações que podem cursar simultaneamente com refluxo
vesicoureteral e, em alguns casos, levar a hidronefrose e lesões
parenquimatosas renais. Essas lesões serão mais graves se
estiverem associadas à ITU.
Em meninos, a válvula da uretra posterior é a principal causa
obstrutiva primária de uropatia.
A obstrução pode ocorrer em qualquer nível do trato urinário, do
meato uretral aos infundíbulos dos cálices renais. Pode ser
causada por processos traumáticos, neoplasia (tumor de Wilms,
neuroblastoma), cálculos, processos inflamatórios (tuberculose)
ou mesmo procedimentos cirúrgicos.
8.4.5 Refluxo vesicoureteral
O refluxo vesicoureteral é a anomalia urológica mais comum nas
crianças e compreende a passagem retrógrada da urina da bexiga
para o trato urinário alto.
Crianças com refluxo vesicoureteral apresentam risco aumentado
para o desenvolvimento de ITUs recorrentes e pielonefrite clínica
à medida que a urina presente na bexiga retorna em direção ao
ureter, podendo chegar até os cálices renais, na dependência da
gravidade do refluxo.
8.5 QUADRO CLÍNICO
A ITU pode apresentar-se com sinais e sintomas inespecíficos,
particularmente no período neonatal e nos lactentes jovens. O
quadro clínico varia conforme a faixa etária e o segmento do trato
urinário acometido.
8.5.1 Faixa etária
8.5.1.1 Recém-nascidos e lactentes

Os sintomas são pouco específicos, principalmente nos recém-


nascidos (apresentam-se geralmente com um quadro séptico) e
nos lactentes jovens (nos quais a febre é o principal sinal clínico).
Caracterizam-se por febre ou hipotermia, vômitos, anorexia,
irritabilidade, icterícia, distensão abdominal e baixo ganho
ponderal. Nos casos mais graves, apresentam-se sob a forma de
bacteremia ou sepse. A febre é o sintoma mais frequente no
lactente. Até os 2 anos, raramente se identificam sintomas
urinários. É importante lembrar que os menores de 1 ano
apresentam risco elevado para pielonefrite e, consequentemente,
cicatriz renal. Lactentes jovens com quadros febris sem sinais
localizatórios do processo infeccioso devem ser sempre
investigados para ITU.
8.5.1.2 Acima de 2 anos

A partir dessa idade surgem os sintomas urinários típicos, como


disúria, polaciúria, urgência miccional, incontinência urinária,
enurese secundária e sintomas sistêmicos com febre e dor
abdominal, mais predominantemente em região hipogástrica. A
presença de febre, tremores e dor lombar é altamente sugestiva
de pielonefrite em crianças mais velhas.
8.5.1.3 Adolescência

Em adolescentes e jovens, a ITU é uma importante causa de


morbidade no sexo feminino. Nas adolescentes, as alterações
hormonais favorecem a colonização vaginal por bactérias
nefrogênicas, que, migrando para a área periuretral, podem
ascender pelo trato urinário, causando ITU. As infecções baixas
são as mais frequentes. Com exceção dos abscessos perirrenais e
renais decorrentes de bacteriemia, as infecções urinárias altas
são secundárias a cistites. A disseminação ascendente envolve
diversos fatores: urodinâmicos, de virulência, de suscetibilidade
da medula renal e obstrução ou refluxo vesicoureteral (RVU).
8.5.2 Segmento acometido
8.5.2.1 Pielonefrite aguda

Há o comprometimento do parênquima renal, que pode resultar


em cicatriz pielonefrítica, ou seja, lesão renal sequelar localizada
ou global. Apresenta-se com comprometimento do estado geral,
dor abdominal, febre e mal-estar. O exame do sedimento urinário
pode demonstrar cilindros leucocitários.
8.5.2.2 Cistite

O comprometimento ocorre na bexiga urinária ou desta em


direção ao meato uretral, já que a localização precisa pode ser
difícil. Apresenta sintomas característicos, como disúria,
polaciúria, dor suprapúbica, incontinência urinária e alteração do
cheiro da urina.
8.5.2.3 Bacteriúria assintomática
Há urocultura positiva para bactérias sem existirem sintomas
indicativos de infecção. No entanto, pode evoluir para ITU
sintomática.
Vale lembrar que essa divisão é didática, sendo muito difícil a
diferenciação clínica, principalmente em menores de 2 anos.
8.6 DIAGNÓSTICO
A urocultura, coletada por método adequado, é considerada o
padrão-ouro para confirmação de ITU.
A anamnese detalhada e o exame físico podem direcionar o
quadro para o diagnóstico de ITU, mas a sua confirmação deve
ser feita pela cultura de urina, que evidencia a proliferação de
micro-organismos no trato urinário.
A avaliação laboratorial da criança com suspeita de ITU inclui a
obtenção de urina para avaliação bioquímica ou de celularidade e
para cultura.
A cateterização vesical ou punção suprapúbica são os métodos
de escolha para a coleta de urina para cultura em lactentes e
crianças sem controle esfincteriano. Para crianças já treinadas, a
urina de jato médio é o método preferencial.
As urinas coletadas por meio de sacos coletores estéreis não são
recomendadas em razão dos altos índices de falsos positivos.
Resultados de culturas de urina coletadas desta forma só terão
valor caso sejam negativos.
A urina coletada deve ser analisada o mais rápido possível para
diminuir a chance de resultados falsos positivos ou falsos
negativos.
8.6.1 Diagnóstico laboratorial
8.6.1.1 Urina tipo I

▶ Leucocitúria: em 80% dos casos, nos primeiros surtos de ITU há


leucocitúria. Entretanto, isso não é suficiente para o diagnóstico,
pois em outras patologias pode-se encontrar leucocitúria estéril,
como na leucorreia, balanopostite, glomerulonefrite,
gastroenterocolite, litíase e mesmo processos febris de etiologia
viral. Leucocitúria é definida como mais de 10 leucócitos/mm3;
▶ Hematúria: hematúria microscópica pode estar presente;
▶ Teste de nitrito: quando positivo, é sugestivo de infecção
urinária, pois é altamente específico, com poucos falsos positivos,
porém é necessário que a urina esteja na bexiga por pelo menos 4
horas para os nitritos serem detectados;
▶ Bacterioscopia: é definida pela presença de qualquer bactéria
por intermédio da coloração de Gram.
8.6.1.2 Urocultura

O diagnóstico de certeza só pode ser feito na presença de


urocultura positiva, e o seu resultado depende diretamente da
técnica de coleta. A urocultura deve ser solicitada junto com a
avaliação de antibiograma.
Se a urocultura for coletada por punção suprapúbica, como a
bexiga é estéril, o crescimento de qualquer patógeno
independentemente do número de colônias, confirma o
diagnóstico. Na coleta por cateterização vesical, a urocultura é
considerada positiva se o crescimento bacteriano for maior ou
igual a 1000 UFC/mL. Na coleta por jato médio, com assepsia
prévia adequada, a contagem bacteriana maior do que 100 mil
UFC/mL ou mais de 50 mil UFC/mL, associada à análise de urina
demonstrando evidência de piúria, também confirma o
diagnóstico de ITU.
A coleta de urina para urocultura por saco coletor tem resultados
falsos positivos em até 80% dos casos, portanto os resultados só
devem ser valorizados quando a cultura resultar negativa, ou seja,
para descartar o quadro de ITU.
Figura 8.1 - Punção suprapúbica

Fonte: Blamb.

8.6.2 Exames de imagem


Segundo o Documento Científico sobre Infecção do trato urinário
da Sociedade Brasileira de Pediatria, de 2016, toda criança que
tiver um diagnóstico de certeza de ITU deve realizar investigação
com exame de imagem, priorizando, sempre que possível, os
métodos com menor radiação possível a fim de evitar efeitos
deletérios.
8.6.2.1 Ultrassonografia

Por ser exame não invasivo e isento de radiação, a


ultrassonografia deve ser realizada em todos os que
apresentaram ITU com o objetivo de confirmar e/ou diagnosticar
malformações. Poderá revelar aumento do volume renal,
alterações da ecogenicidade do parênquima, perda da
visualização normal das pirâmides e dilatação pielocalicial. É um
exame não invasivo e não expõe o paciente à radiação, mas é
examinador-dependente e, por isso, a USG normal não exclui a
existência de alterações.
8.6.2.2 Cintilografia

A cintilografia renal com DMSA é o exame considerado padrão-


ouro para o diagnóstico de cicatriz renal, portanto deve ser
realizada em todos os lactentes com ITU febril, crianças com
refluxo vesicoureteral e crianças que tiveram diagnóstico de
pielonefrite, mesmo que a US tenha sido normal. Deve ser
realizada de quatro a seis meses após o episódio de ITU inicial.
8.6.2.3 Uretrocistografia miccional (UCM)

Exame realizado com administração de contraste iodado


intravesical. Nele podem-se visualizar alterações da coluna,
visualizar uretra, RVU e alterações da bexiga. Deve ser realizado
em pacientes que apresentam USG de rins e vias urinárias e/ou
cintilografia com DMSA alteradas e/ou quadros repetitivos de
infecção urinária associados à disfunção miccional.
8.7 TRATAMENTO
Os objetivos incluem:
▶ Eliminação da infecção e prevenção de sepse – e tratamento da
sepse quando houver;
▶ Prevenção da recorrência e de complicações em longo prazo,
incluindo hipertensão, cicatrizes renais e alterações da função
renal;
▶ Alívio dos sintomas agudos.

8.7.1 Antibioticoterapia
O tratamento com antibióticos deve ser instituído imediatamente
quando há suspeita de ITU em crianças sintomáticas (febre ou
sintomas locais), mesmo antes do resultado da urocultura e do
antibiograma. A instituição da terapêutica imediata visa evitar o
aumento da gravidade da infecção e a possibilidade de lesão
renal.
8.7.1.1 Crianças com mais de 2 meses

A maioria pode ser tratada ambulatorialmente, desde que


estejam garantidos as reavaliações e o acompanhamento.
8.7.1.2 Recém-nascido e lactentes com menos de 2 meses

Quando a infecção ocorre em recém-nascidos, lactentes jovens


com estado comprometido, imunodeprimidos ou crianças de
qualquer idade com suspeita de pielonefrite, devem-se proceder
a internação e antibioticoterapia intravenosa com cefalosporinas
de terceira geração ou aminoglicosídeos.
8.7.1.3 Conforme resultado da bacterioscopia e da urocultura

Quando a urocultura estiver disponível com o antibiograma


correspondente, o antibiótico deverá ser adequado à
sensibilidade do agente etiológico. Em lactentes ou outras faixas
etárias sem suspeita de pielonefrite, o tratamento pode ser
iniciado empiricamente por via oral, até o resultado da urocultura
e do antibiograma.
A bacterioscopia pela coloração de Gram já pode orientar a
escolha do antibiótico. Como a maioria das ITUs é causada pela E.
coli, a orientação é optar por uma droga que a elimine e a escolha
deve ser determinada pelo padrão de resistência local.
8.7.1.4 Antibióticos

Desse grupo fazem parte as cefalosporinas de primeira, segunda


e terceira gerações, sulfametoxazol-trimetoprima e amoxicilina-
clavulanato. As fluoroquinolonas são eficazes contra E. coli e
podem ser utilizadas em casos selecionados e complicados de
ITU e pielonefrite, embora sua segurança em crianças ainda não
tenha sido totalmente determinada. Também podem ser
utilizadas nas ITUs por Pseudomonas aeruginosa ou outras
bactérias multirresistentes.
A duração do tratamento nunca deve ser inferior a sete dias,
dando-se preferência aos tratamentos por dez dias, e, no caso de
pielonefrites, deve-se estender por 14 dias.
O tratamento, sempre que possível, deve ser realizado por via
oral. Quando o tratamento é iniciado por via parenteral não há
obrigatoriedade em manter-se esta via por dez dias. O paciente
pode ser reavaliado entre 48 a 72 horas e, se houver melhora do
quadro, pode-se optar por completar o tratamento por via oral
com antibiótico de espectro semelhante ao parenteral e/ou
sabidamente sensível ao teste de sensibilidade antimicrobiana.
As drogas de escolha estão relacionadas no Quadro 8.1.
Quadro 8.1 - Medicamentos para tratamento da infecção do trato urinário por via
parenteral

Quadro 8.2 - Medicamentos para tratamento da infecção do trato urinário por via
oral

8.7.2 Conduta cirúrgica


Crianças com abscesso renal ou perirrenal e aquelas com ITU
obstruído devem ser submetidas a procedimento cirúrgico para a
drenagem do abscesso e medidas que visem à liberação do fluxo
urinário, além da introdução de antibióticos.
8.8 REFLUXO VESICOURETERAL
O refluxo vesicoureteral é classificado segundo a aparência do
trato urinário na UCM.
Classificação:
▶ Grau I: refluxo apenas para ureter;
▶ Grau II: atinge pelve e cálices sem dilatação;
▶ Grau III: leve ou moderada dilatação da pelve ou cálices;
▶ Grau IV: tortuosidade do ureter e dilatação da pelve renal e
cálices;
▶ Grau V: dilatação severa do ureter, pelve e cálices. Perda das
impressões papilares.
Figura 8.2 - Representação esquemática dos graus de refluxo vesicoureteral

Fonte: Infecção do Trato Urinário, 2016.


Figura 8.3 - Diferentes graus de evolução do refluxo vesicoureteral

No refluxo vesicoureteral primário, há deformidade anatômica da


junção ureterovesical. Quando produzido por pressão intravesical
aumentada, por processos inflamatórios ou como resultado de
procedimentos cirúrgicos envolvendo a junção ureterovesical, o
refluxo é chamado secundário.
O momento mais apropriado para a realização da UCM ainda é
controverso; alguns autores sugerem que seja adiada em duas a
seis semanas após a resolução da ITU, para permitir a resolução
do processo inflamatório na bexiga.
É importante ressaltar que esse exame não deve ser realizado
sob anestesia geral, por invalidar uma parte do exame
(esvaziamento vesical ou fase miccional). Alguns autores
recomendam que crianças com menos de 2 anos recebam
antibioticoterapia profilática até a realização da UCM.
No caso de a USG das vias urinárias apresentar alteração, a
criança deve ser submetida a cintilografia com DMSA ou
urografia excretora, em se tratando de refluxo vesicoureteral. Já
quando a UCM apresenta alteração, deve-se realizar cintilografia
com DTPA ou urografia excretora, em caso de obstrução ao fluxo
urinário.
Quando as recorrências se tornam frequentes, mesmo na
ausência de alterações evidenciadas por meio de USG de vias
urinárias e, ou UCM, deve-se pesquisar a presença de fatores
predisponentes. Eventualmente, pode-se encontrar constipação
acentuada. Por isso, informações sobre o hábito intestinal sempre
devem ser colhidas no acompanhamento da criança com ITU, e
quadros de obstipação intestinal devem ser tratados de forma
assertiva.
8.9 PROFILAXIA
Alguns grupos de crianças necessitam de profilaxia das ITUs com
antibióticos administrados diariamente. Os casos em que se deve
considerar esse tipo de profilaxia com o objetivo de prevenir
recidivas e/ou dano renal são:
▶ Pacientes com achados ultrassonográficos do pré-natal
sugerindo uropatias;
▶ Crianças em curso de investigação ultrassonográfica de
alterações do trato urinário;
▶ Dilatação grave no trato urinário;
▶ Refluxo vesicoureteral graus 3, 4 e 5.
ITUs de repetição, mesmo na ausência de malformação de trato
geniturinário, têm sua indicação de antibioticoterapia profilática
discutível e variam a cada serviço. Não há recomendação
específica para essa situação, e o uso de antimicrobiano aumenta
o risco de seleção de cepas resistentes.
Os antimicrobianos de escolha são nitrofurantoína,
sulfametoxazol-trimetoprima e cefalosporina de primeira
geração.
As doses são apresentadas no Quadro 8.3.
Quadro 8.3 - Doses dos antimicrobianos

Convém ressaltar que não se recomenda nitrofurantoína antes de


2 meses de vida. Algumas recomendações básicas de higiene e
hábitos devem ser realizadas para todas as crianças, mesmo as
que não apresentam malformações do trato urinário. Em meninas,
deve ser orientada a higiene anal sempre de frente para trás,
visando evitar levar bactérias da flora intestinal em direção à
vagina. Além disso, o hábito de ingerir grandes quantidades de
líquidos para aumentar a diurese também é eficaz para a
prevenção de ITU, já que a urina eliminada serve como limpeza
mecânica do urotélio, eliminando as bactérias da região uretral.
Dieta rica em fibras, atividade física e prevenção da obesidade
são outros fatores protetores do trato urinário, principalmente em
meninas, uma vez que a constipação intestinal é um grande fator
de risco para ITU.
Qual exame devo solicitar
para confirmar o
diagnóstico de infecção
do trato urinário e como
fazer o seguimento por
imagens, segundo
recomendação da
Sociedade Brasileira de
Pediatria?
A urocultura é o exame padrão-ouro para a confirmação
do diagnóstico de ITU e deve ser coletada por punção
suprapúbica, cateterização vesical ou urina por jato
médio, mas não por saco coletor.
Se a urocultura for coletada por punção suprapúbica, o
crescimento de qualquer patógeno,
independentemente do número de colônias, confirma o
diagnóstico. Na coleta por cateterização vesical, a
urocultura será considerada positiva se o crescimento
bacteriano for maior ou igual a 1.000 UFC/mL. Na coleta
por jato médio, com assepsia prévia adequada, a
contagem bacteriana maior que 100.000 UFC/mL ou
mais de 50.000 UFC/mL, associada à análise de urina
demonstrando evidência de piúria, também confirma o
diagnóstico de ITU.
Toda criança que tiver um diagnóstico de certeza de ITU
deve realizar investigação com exame de imagem,
priorizando, sempre que possível, os métodos com
menor radiação possível a fim de evitar efeitos
deletérios.
Por ser exame não invasivo e isento de radiação, a
ultrassonografia deve ser realizada em todos os que
apresentaram ITU com o objetivo de confirmar e/ou
diagnosticar malformações. A cintilografia renal com
DMSA é o exame considerado padrão-ouro para o
diagnóstico de cicatriz renal, por isso deve ser realizado
em todos os lactentes com ITU febril, crianças com
refluxo vesicoureteral e crianças que tiveram
diagnóstico de pielonefrite, mesmo que a US tenha sido
normal. Já a uretrocistografia miccional deve ser
realizada em pacientes que apresentam USG de rins e
vias urinárias e/ ou cintilografia com DMSA alteradas
e/ou quadros repetitivos de infecção urinária
associados à disfunção miccional.
Universidade Estadual de Londrina
Para a prova objetiva da UEL você encontrará 75 questões de
múltipla escolha, divididas igualmente entre as áreas de
conhecimento de Clínica Médica, Ginecologia e Obstetrícia,
Pediatria, Cirurgia Geral e Medicina Preventiva e Social. Cada
questão apresenta cinco alternativas e apenas uma resposta
correta, então é preciso estar atento. O candidato aprovado
deverá passar, então, pela análise do currículo para garantir a
vaga.
Na primeira fase do processo você poderá encontrar questões
sobre casos clínicos e diagnósticos, com os temas Infectologia,
saúde do trabalho, Sistema Único de Saúde (SUS), complicações e
doenças na gestação, aleitamento, doenças respiratórias e
Cardiologia.
UEL | 2020
Com relação às infecções do trato urinário na infância, considere
as afirmativas a seguir:
I - A alta incidência de infecção urinária no primeiro ano de vida
está correlacionada à colonização do períneo e da zona uretral, do
neonato e do lactente, por bactérias como a Escherichia coli, a
Enterobacteriaceae e a Enterococcus sp.
II - O hábito miccional normal evitando a estase, a urina de
composição e a osmolaridade adequadas e o estímulo à reação
inflamatória, com consequente produção de citocinas na
presença de bactérias patogênicas, são os fatores de resistência
do hospedeiro contra a infecção do trato urinário.
III - A incidência de pielonefrite é maior em crianças no período
escolar, sendo a cistite mais prevalente em lactentes jovens com
diminuição gradativa de incidência quando se aproxima de idade
escolar.
IV - O nitrito positivo deve ser usado como método de triagem, já
que apresenta um alto índice de sensibilidade, com poucos
resultados falsos negativos.
Assinale a alternativa correta:
a) somente as afirmativas I e II são corretas
b) somente as afirmativas I e IV são corretas
c) somente as afirmativas III e IV são corretas
d) somente as afirmativas I, II e III são corretas
e) somente as afirmativas II, III e IV são corretas
Gabarito: a
Comentários:
a) I - Correta.
II - Correta.
III - A incidência de pielonefrite é maior no lactente jovem e a
cistite no período escolar.
IV - O nitrito positivo tem baixa sensibilidade e especificidade no
diagnóstico de ITU.
b) Veja o comentário geral na alternativa correta.
c) Veja o comentário geral na alternativa correta.
d) Veja o comentário geral na alternativa correta.
e) Veja o comentário geral na alternativa correta.

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