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de dizer: estratégias
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AULA
de polidez
Helena Feres Hawad
Metas da aula
Expor a importância da polidez na interação
linguística e apresentar algumas
estratégias linguísticas para sua realização.
objetivos
INTRODUÇÃO Diálogo entre uma dona de casa e sua nova empregada doméstica:
Maria Kaloudi
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/314832
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Nesta aula, veremos que executamos diferentes tipos de atos ao falar, e estu-
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AULA
daremos as condições situacionais que interferem em nossas decisões sobre
a forma de executar esses atos. Também exercitaremos algumas estratégias
para adequar nossos enunciados às situações por meio de escolhas dentre
as diferentes palavras e formas gramaticais disponíveis na língua portuguesa.
FALAR É AGIR
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Língua Portuguesa Instrumental | Formas de fazer, formas de dizer: estratégias de polidez
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Leszek na Litere Ka
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AULA
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/217825
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Observe que a forma imperativa, aqui, foi usada no verbo ver (veja).
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AULA
O chefe, então, não estaria ordenando que o funcionário terminasse a
tarefa, mas apenas que verificasse a possibilidade de terminá-la – o que
é bem menos custoso.
h. Você pode terminar aquele relatório até o fim da tarde?;
i. Dá para você terminar aquele relatório até o fim da tarde?: O teor de
imposição nesses casos é ainda menor que no caso anterior, porque a
forma interrogativa das frases deixa espaço aberto (pelo menos aparen-
temente...) para uma resposta negativa do funcionário. No caso de i, o
emprego da expressão “dá para...”, que exprime possibilidade, confere
um tom informal ao enunciado, o que ajuda a tornar a ordem menos
impositiva, pois cria maior aproximação entre o chefe e o subordinado.
Agora que exemplificamos alternativas gramaticais para atenuar
uma ordem, torná-la menos impositiva, vamos praticar essas possibili-
dades na Atividade 1.
Richard Dudley
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/860272
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Língua Portuguesa Instrumental | Formas de fazer, formas de dizer: estratégias de polidez
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
NIVEN, David. Os 100 segredos das pessoas felizes. Rio de Janeiro: Sextante, 2001. p.11.
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1108723
Exemplos:
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AULA
Seria melhor que você não enfrentasse os seus problemas sozinho.
RESPOSTA COMENTADA
Eis algumas possibilidades de resposta para a atividade:
12. Diga aos outros como eles são importantes para você.
Seria bom você dizer aos outros como eles são importantes para você.
Procure dizer aos outros aos outros como eles são importantes
para você.
E se você dissesse aos outros como eles são importantes para você?
13. Seja agradável.
É importante você ser agradável.
Não é bom que você seja desagradável.
Tente ser agradável.
14. Aceite-se tal como você é – incondicionalmente.
Que tal se aceitar tal como você é – incondicionalmente?
Talvez você devesse se aceitar tal como é – incondicionalmente.
Será ótimo você se aceitar tal como é – incondicionalmente.
15. Sorria.
Experimente sorrir.
Não é bom sorrir?
Que tal sorrir?
16. Goste daquilo que você tem.
Talvez você possa gostar daquilo que tem.
Procure gostar daquilo que você tem.
É importante você gostar daquilo que tem.
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FACE E POLIDEZ
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crítica a alguém, estou praticando um ato que põe em risco a aprovação
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que essa pessoa espera receber. Da mesma forma, se faço uma reclama-
ção por um serviço que não me agradou, também ponho em questão
a imagem de competência, seriedade, honestidade da pessoa que me
prestou o serviço. Quando dou uma ordem ou um conselho, ou quando
faço um pedido, também ponho em risco a face do outro – dessa vez,
em sua dimensão de desejo de liberdade, pois ordenar, aconselhar, pedir
são atos que visam a guiar a atividade do outro e, assim, interferem em
sua liberdade de ação.
A face daquele que fala também pode ser ameaçada. Se, por
exemplo, preciso pedir desculpas por algo errado que fiz, minha imagem
de pessoa correta, responsável, competente etc. pode ficar arranhada –
afinal, pedir desculpas implica reconhecer o erro. Se faço uma promessa,
crio uma obrigação para mim e, portanto, limitações para minha própria
liberdade – ou realizo o que prometi, ou minha imagem de pessoa séria
e confiável sofrerá danos!
Assim, toda interação verbal tem um potencial de risco para as
faces dos participantes. A face daquele que fala e a face do interlocutor
podem ser ameaçadas de formas bem complexas. Por exemplo, se alguém
diz algo ofensivo a seu interlocutor, as duas faces são ameaçadas: a pessoa
alvo da ofensa tem seus atributos positivos desacreditados (como ocorre
quando alguém é chamado de “safado”, “imbecil”, “incompetente”...);
a pessoa que proferiu as ofensas, por sua vez, transmite a imagem de
uma pessoa agressiva, mal-educada, impulsiva, já que se revelou capaz
de dizer aquelas coisas ao outro.
Colin Adamson
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/440262
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ATIVIDADE
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Atende ao Objetivo 2
Após a leitura, indique em qual das cartas há maior preocupação com a pre-
servação das faces, e identifique as estratégias de polidez usadas para isso.
Carta 1:
À (nome da construtora)
Prezados Senhores,
Aguardo providências.
Atenciosamente,
Fulano de Tal
Carta 2:
À (nome da construtora)
Prezados Senhores,
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Atenciosamente,
Fulano de Tal
(CERBINO, 2000).
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RESPOSTA COMENTADA
A carta que revela maior preocupação com a preservação das faces
é a Carta 2. Essa preocupação se mostra, já no início, pelo uso do
advérbio infelizmente, que sugere que o autor da carta não está
contente por ter de fazer a reclamação, que está ciente de que
a reclamação não é agradável para o destinatário. Há, ainda, o
emprego da construção “verbo ser + adjetivo + oração”, na frase
Seria prudente mandar verificar com urgência. Como vimos, essa é
uma forma para atenuar o teor de imposição de ordens, pedidos
e conselhos. (A frase, nesse caso, corresponde à forma direta, sem
atenuação: “mandem verificar com urgência”.)
O autor da carta também usa uma estratégia de impessoalização na
frase A demora na avaliação do problema certamente acarretará pre-
juízos maiores para sua empresa. Aqui, o emprego dos substantivos
demora e avaliação, em vez dos verbos demorar e avaliar, facilita a
ocultação dos responsáveis pelo problema. Percebemos isso clara-
mente se compararmos a frase com: Se os senhores demorarem a
avaliar o problema, os prejuízos serão maiores. Finalmente, o autor
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AULA
da carta encerra com elogios à empresa, o que contribui para pre-
servar a face na medida em que implica o reconhecimento de que
a empresa tem atributos positivos, e que os problemas apontados
não comprometem sua boa imagem.
Na Carta 1, vemos o contrário. O autor põe em xeque a credibilidade
da empresa, de modo que sua reclamação se mostra mais con-
tundente. Isso talvez se explique pelo fato de a reclamação anterior
não ter sido atendida, como informado no início da própria carta.
CONCLUSÃO
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ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 3
Imagine que você é professor/professora em uma escola e que vai precisar faltar
ao trabalho na quarta-feira da próxima semana para levar seu filho ao médico.
A partir dessa situação, escreva dois e-mails, conforme indicado abaixo.
E-mail 1: Escreva para um colega pedindo que substitua você nas aulas nesse dia.
Esse colega é um grande amigo seu, de longa data.
E-mail 2: Escreva para um colega pedindo que substitua você nas aulas nesse dia.
Você não tem intimidade com esse colega e já pediu isso a ele em outra ocasião
recentemente.
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RESPOSTA COMENTADA
Vamos examinar uma possibilidade de solução para cada caso.
E-mail 1:
Oi, Lúcia!
Daria para você me substituir na aula na próxima quarta-feira? Preciso levar o
Bruninho ao médico e não consegui outro horário.
Super obrigada!
Beijos,
Carmem
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E-mail 2:
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Lúcia,
AULA
Lamento incomodar você de novo, mas realmente estou precisando muito de sua
ajuda. Meu filho tem uma consulta médica na próxima quarta-feira. Infelizmente,
não há outra pessoa que possa levá-lo, e não foi possível conseguir outro horário.
Queria saber se você pode me substituir na aula. Faço questão de compensar esse
transtorno que estou lhe causando substituindo você em outro dia.
Agradeço muito.
Abraços,
Carmem
É claro que seus textos podem diferir dos que apresentamos aqui como sugestão de
resposta. De qualquer maneira, porém, você deve se certificar de que eles ficaram
diferentes um do outro com relação aos cuidados de que o pedido foi cercado.
Observe inclusive que, na resposta que propomos, a primeira mensagem ficou mais
curta, e a segunda, mais longa.
Isso é uma decorrência do fato de que, na segunda, o custo do favor é maior,
seja pela falta de intimidade entre os envolvidos, seja pelo fato de o pedido estar
se repetindo. Sendo assim, foi preciso ter mais cuidado na preservação das faces.
O produtor do e-mail fez isso, primeiro, deixando claro que estava ciente do esforço
que seu pedido exigiria do outro, e que não estava contente com isso (lamento
incomodar, infelizmente). Além disso, também cercou seu pedido de explicações,
justificativas (não há outra pessoa que possa levá-lo, e não foi possível conseguir outro
horário). Usou, em seguida, uma forma bem atenuada para apresentar o pedido
em si (Queria saber se você pode me substituir na aula). Finalmente, ofereceu uma
retribuição do favor (Faço questão de compensar esse transtorno que estou lhe
causando substituindo você em um outro dia).
Na primeira mensagem, ao contrário, a amizade pessoal entre os envolvidos faz
com que o favor não seja percebido como tendo um custo tão alto. Sendo assim, o
produtor do e-mail pode iniciar indo direto ao pedido. Observe que explicações ou
justificativas são mais breves nessa mensagem.
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RESUMO
As ações que praticamos por meio da atividade de falar são chamadas atos de fala.
Embora existam algumas formas linguísticas próprias para executar certos atos de
fala, não há correspondência fixa e obrigatória entre o tipo de ato e a forma usada
para realizá-lo. É possível realizar os atos de fala de formas diretas, explícitas, ou
de formas indiretas e atenuadas. A atenuação é especialmente necessária no caso
de atos que ameaçam as faces dos participantes da interação, como acontece com
ordens, conselhos, reclamações e pedidos, por exemplo. Esses tipos de atos são
potencialmente ameaçadores porque põem em risco o desejo de aprovação e o
desejo de liberdade que, em geral, todas as pessoas têm. A preservação das faces
é conseguida por meio do emprego de estratégias de polidez, que são recursos
existentes na língua – palavras e estruturas gramaticais.
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