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8ª aula

COESÃO TEXTUAL: COMO AMARRAR IDEIAS?

Um texto não pode ser entendido apenas como um emaranhado de frases


isoladas. Faz-se necessário considerar que existem elementos linguísticos cuja função
principal é a de estabelecer relações textuais, que são chamadas de recursos de coesão
textual.
A coesão textual, portanto, é crucial para que um texto seja compreendido de
maneira eficaz. Quando bem aplicada, facilita a leitura e a interpretação, permitindo que
as ideias sejam apresentadas de forma ordenada e conectada. Isso contribui para a
clareza e a qualidade global da comunicação escrita.
Observe um exemplo:

“É sabido que o sistema do Império Romano dependia da escravidão, sobretudo para


produção agrícola. É sabido ainda que a população escrava era recrutada
principalmente entre prisioneiros de guerra.”

Pode-se observar a função de alguns elementos de coesão. A palavra ainda (em é


sabido ainda que) serve para dar continuidade ao que foi dito anteriormente e
acrescentar um outro lado que a população escrava era recrutada principalmente entre
prisioneiros de guerra.
Nota-se, portanto, que algumas palavras são utilizadas como elementos de
coesão. Elas podem ser entendidas de acordo com a sua morfologia:
• preposições
• a, de, para, com, por
• conjunções
• que, para que, quando, embora, mas, e, ou.
• pronomes
• ela, ela, seu, este, esse, aquele, que, o qual.
• advérbios
• aqui, aí, lá, assim
Mas também, podem ser utilizadas de acordo com a função que se queira dar,
diante da interpretação da sentença:
Elementos: e, pois, além disso, e ainda, mas também, outrossim, bem como, também
Adição Exemplo: Ele foi ao shopping e ainda visitou os amigos

Elementos: é evidente que, certamente, naturalmente, assim, por causa


Causa Exemplo: Ele ficou doente por causa do coronavírus.

Elemento: pelo mesmo motivo, pela mesma razão, da mesma forma, de forma
Semelhança semelhante
Exemplo: Ele ficou de recuperação da mesma forma que seus colegas de classe.

Elemento: mas, porém, todavia, no entanto, entretanto, embora


Oposição Exemplo:Embora ninguém acreditasse, ele conseguiu terminar a faculdade

Elemento: para que, a fim de, no intuito de, com o obetivo de


Finalidade Exemplo: É preciso investir em educação para que o Brasil cresça.

Podemos compreender que o uso dos elementos coesivos ajuda na compreensão


do texto. O seu uso inadequado acarreta problemas de entendimento do conteúdo.
Observe um exemplo de mau uso do elemento conectivo:

Ganhei o jogo, mas estou feliz.

O “mas” no trecho é um elemento coesivo aplicado de forma inadequada. Por


passar a ideia de oposição, ele atrapalha a construção dos sentidos da frase em questão.
Afinal, espera-se que quem ganha um jogo esteja feliz, e não o contrário.

Dicas para escrita coesa

Escrever um texto enorme e depois perceber que repetiu palavras e ideias. Quem
nunca? Esse é um problema muito comum e afeta consideravelmente a coesão textual.
Como evitar? Substitua

1. Substituição com pronomes pessoais:


Exemplo: Os alunos estavam muito agitados, por isso a professora pediu-lhes
que fizessem silêncio. (lhes = pronome pessoal).
(Evite: Os alunos estavam muito agitados, por isso a professora pediu aos alunos que
fizessem silêncio.)

2. Substituição por sinônimos


Exemplo: Os alunos haviam estudado bastante para a avaliação de Matemática,
pois sabiam que o conteúdo não era nada fácil. Contudo, o professor decidiu substituir a
prova por um trabalho em grupo, o que fez a alegria dos estudantes.
(Os alunos = os estudantes; avaliação = prova).

Essas substituições, na língua portuguesa, têm nomes específicos: anáfora e


catáfora. Vamos ver como podemos entendê-las melhor?

A anáfora

Na coesão textual, a anáfora é um mecanismo que consiste em fazer referência a


um termo já mencionado anteriormente no texto. A palavra "anáfora" tem origem no
grego "ana" (para trás) e "pherein" (levar), indicando que ela "leva de volta" o leitor a
algo mencionado anteriormente. Esse recurso é utilizado para evitar a repetição
excessiva de termos, tornar o texto mais fluido e estabelecer conexões entre as partes do
discurso.

Exemplos de anáfora:

Anáfora com Pronomes:


"Maria comprou um livro. Ela adorou a história."
Nesse exemplo, "ela" é um pronome que faz referência a "Maria", evitando a
repetição do nome.

Anáfora com Substituição por Sinônimos:


"O carro estava sujo. João lavou o veículo."
Aqui, "o veículo" faz referência ao termo anterior "o carro," utilizando um sinônimo
para evitar a repetição direta.

Anáfora com Expressões Equivalentes:


"A festa foi incrível. Os convidados aproveitaram muito."
Nesse caso, "os convidados" é uma anáfora que se refere à ideia geral de "a festa" sem
repetir a mesma palavra.

A anáfora contribui para a coesão textual, conectando partes do texto e


permitindo que o leitor mantenha a continuidade e o entendimento do conteúdo. É uma
estratégia eficaz para melhorar a clareza e a fluidez na escrita.

Antes de partirmos para a catáfora, é preciso atenção!


Não confunda a anáfora aqui estudada (a da coesão textual), com a anáfora que é
figura de linguagem.
A figura de linguagem que se baseia na repetição deliberada de uma palavra ou
grupo de palavras no início de frases ou versos é também conhecida como anáfora. Essa
técnica é empregada com o propósito de enfatizar uma ideia específica, estabelecer uma
cadência rítmica e intensificar o impacto do discurso.
Ao reiterar determinadas palavras no início de diferentes segmentos textuais, a
anáfora não apenas cria coesão, mas também realça a importância da mensagem que
está sendo transmitida. Este recurso é frequentemente utilizado em diversas formas
literárias, como poesia, discursos e prosa, para conferir ênfase e expressividade à
linguagem.
Temos aqui um exemplo bem conhecido: a música Segue o seco, interpretada
por Marisa Monte:
Segue seco

“Sem sacar que o espinho é seco.


Sem sacar que seco é ser sol.
Sem sacar que algum espinho seco secará.

Se acabar não acostumando.


Se acabar parado calado.
Se acabar baixinho chorando.
Se acabar meio abandonado.”

(Marisa Monte)

A catáfora
A catáfora, de modo inverso à anáfora, usa uma palavra ou expressão de modo
antecipado a outra palavra ou expressão que será apresentada posteriormente no
discurso. É o oposto, dessa forma, à anáfora, que faz referência a algo que já foi
mencionado anteriormente. Na catáfora, a referência ocorre antes da introdução do
termo ao qual se refere. Observe os exemplos:

Os ambientes que precisam de reforma são estes: quarto e banheiro.


Eu preciso mesmo fazer isso: tomar um banho e por um pijama.
Pedro a analisou e pensou: Mônica é uma boa filha.
Minha mãe comprou várias coisas: maquiagem, brinquedo, calçados.

Nos exemplos dados, vemos o uso de estes, isto, o (pronome) e várias coisas
para que a catáfora ocorra.

Para saber mais sobre coesão, leia o capítulo 8 de:

MARTINO, Agnaldo. Português: gramática, interpretação de texto, redação oficial,


redação discursiva. (Coleção Esquematizado®). [Digite o Local da Editora]: Editora
Saraiva, 2023. E-book. ISBN 9786553628199. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553628199/. Acesso em: 30 jan.
2024.

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