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Hoje, o professor, em qualquer curso presencial, precisa aprender a gerenciar vários espaços

e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora, pois antes ele só se preocupava com
o aluno em sala de aula. Agora, continua com o estudante nos laboratórios (físicos-virtuais
para algumas atividades de uso mais intensivo de tecnologias, de práticas exigidas pela
exigência da disciplina ou módulo), na Internet (atividades on e offline) e no
acompanhamento das práticas, dos projetos, das experiências que ligam o aprendiz à
realidade, ao seu trabalho, às práticas profissionais (ponte entre a teoria e a prática) – e tudo
isso fazendo parte da carga horária da sua disciplina, estando visível na grade curricular,
flexibilizando o tempo de estada em aula e incrementando outros espaços e tempos de
aprendizagem.

Educar com qualidade implica em organizar e gerenciar atividades didáticas em, pelo menos,
quatro espaços.

1) Reorganização dos ambientes e atividades presenciais


A sala de aula como ambiente presencial tradicional precisa ser redefinida e ampliada.
Dependendo da idade e maturidade dos alunos esse espaço será mais presencialmente
intenso ou menos, com frequência maior ou menor. Aos poucos começa a ser tornar um local
multifuncional, multiatividade, multitecnológico, onde os mais pequenos permanecem mais
tempo, enquanto os mais adultos os alternam com outros espaços e tempos de forma mais
flexível.

O formato mais interessante e promissor é o híbrido ou blended, o ambiente


semipresencial, com parte das atividades iniciadas no ambiente virtual e finalizadas na sala
de aula.

Um modelo interessante de ensino híbrido é a Aula Invertida ou Flipped Learning, que


concentra, no ambiente virtual, o que é informação básica e, na sala de aula, as atividades
mais criativas e supervisionadas. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas
reais, jogos, com a aula invertida é muito importante para que os alunos aprendam fazendo,
aprendam juntos e aprendam, também, no seu próprio ritmo. E é decisivo também para
valorizar mais o papel do professor como gestor de processos ricos de aprendizagens
significativas e não o de um simples repassador de informações.
Sobre qualquer tema, há materiais muito ricos, variados, que transmitem as informações
básicas de forma adequada.
O papel do professor é o de ajudar na escolha e validação dos materiais mais interessantes,
roteirizar a sequência de ações prevista e mediar a interação com o grande grupo, com os
pequenos grupos e com cada um dos alunos. É um papel mais complexo, flexível e dinâmico.
Antes podia preparar uma mesma aula ou atividade para todos. Hoje precisa ir além e
concentrar-se no essencial, que é aprofundar o que os alunos não percebem, ajudar a cada
um de acordo com o seu ritmo e necessidades e isso é muito mais difícil e exige maior
preparação em todos os sentidos: preparação em competências mais amplas, além do
conhecimento do conteúdo, como saber adaptar-se ao grupo e à cada aluno; planejar,
acompanhar e avaliar atividades significativas e diferentes, utilizando todos os recursos,
aplicativos em sala de aula, nos outros ambientes da escola e fora da escola.

O educador hoje precisa combinar atividades colaborativas com atividades mais


personalizadas.
As atividades podem ser muito mais diversificadas, com metodologias mais ativas, que
combinem o melhor do percurso individual e grupal. As tecnologias móveis e em rede
permitem conectar todos os espaços e elaborar políticas diferenciadas de organização de
processos de ensino e aprendizagem adaptados à cada situação, aos que são mais proativos e
aos mais passivos; aos muito rápidos e aos mais lentos; aos que precisam de muita tutoria e
acompanhamento e aos que sabem aprender sozinhos.

É possível planejar atividades diferentes para grupos de alunos diferentes, em ritmos


diferentes e com possibilidade real de acompanhamento pelos professores. Esses recursos
mapeiam, monitoram, facilitam e interaprendem com a prática e a experiência. Há hoje um
grande avanço na análise dos metadados, na geração de relatórios personalizados, no
desenvolvimento de plataformas adaptativas e aplicativos que orientam os professores
sobre como cada aluno aprende, em que estágio se encontra, o que o motiva mais1.

Existem fundamentalmente dois tipos de professores em relação ao uso de tecnologias e


materiais: Os que precisam ser mais monitorados e seguem mais fielmente roteiros e guias
feitos por especialistas e os que utilizam esses materiais como ponto de partida para uma
reelaboração criativa e personalizada.

Os professores podem utilizar as tecnologias em suas disciplinas ou áreas de atuação,


incentivando os alunos a serem produtores e não só receptores.

Podem disponibilizar os conteúdos (ao menos, uma parte deles) em ambientes virtuais de
aprendizagem, para sentirem-se livres da tarefa monótona, repetitiva, cansativa e pouco
produtiva de falar e escrever os mesmos assuntos para diversas turmas e concentrar-se em
atividades mais criativas e estimulantes, como as de orientação, tirar dúvidas, aprofundar as
informações básicas adquiridas e contextualizá-las.

1
Patricia GOMES. Entenda como funcionam as plataformas adaptativas. Disponível em
http://porvir.org/porcriar/entenda-como-funcionam-plataformas-adaptativas/20130328
2
s tecnologias nos libertam das tarefas mais penosas – as repetitivas – e nos permitem
concentrar-nos nas atividades mais criativas, produtivas e fascinantes. Não podemos
esquecer, porém, que há nelas usos dispersivos. É cada vez mais difícil concentrar-se em um
único assunto ou texto, pela quantidade de solicitações que encontramos nas tecnologias e
aplicativos móveis. Tudo está na tela, para ajudar e para complicar, ao mesmo tempo.

As tecnologias e técnicas de comunicação também são importantes para o sucesso do


educador.

Um professor que fala bem, que conta histórias interessantes, que tem feeling para sentir o
estado de ânimo da classe, que se adapta às circunstâncias, que sabe jogar com as metáforas,
o humor, que usa as tecnologias adequadamente, sem dúvida conseguirá bons resultados
com os alunos. Os alunos gostam de alguém que os surpreenda, que traga novidades, que
varie suas técnicas e métodos de organizar as atividades de ensino e aprendizagem.

As tecnologias móveis permitem que alunos e professores participem em processos muito


mais intensos de atividades de grupo e individuais, em ritmos diferentes para cada um e
supervisionados pelo professor.

Permitem experimentar muitas formas de pesquisa e desenvolvimento de projetos, jogos,


atividades dentro e fora da sala de aula, individual e grupalmente. O professor não precisa
focar sua energia em transmitir
informações, mas em disponibilizá-las,
gerenciar atividades significativas
desenvolvidas pelos alunos, saber
mediar cada etapa das atividades
didáticas. Poderemos ensinar e
aprender a qualquer hora, em qualquer
lugar e da forma mais conveniente para
cada situação. Os próximos passos na
educação estarão cada vez mais
interligados à mobilidade, flexibilidade e
facilidade de uso que os tablets e
celulares oferecem a um custo mais
reduzido e com soluções mais
interessantes, motivadoras e
encantadoras. Não podemos esquecer
que há usos dispersivos. É cada vez mais
difícil concentrar-se em um único
assunto ou texto, pela quantidade de CC0 Domínio Público
solicitações que encontramos nas tecnologias móveis. Tudo está
na tela, para ajudar e para complicar, ao mesmo tempo.

As inovações mais promissoras encontram-se em escolas que têm tecnologias móveis na sala
de aula, utilizadas por professores e alunos. Os programas de um computador ou tablet por
aluno, ainda em fase experimental em centenas de escolas municipais, estaduais e
particulares, sinalizam mudanças muito importantes na forma de ensinar e de aprender. As
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aulas são mais focadas em projetos colaborativos, os alunos aprendem juntos, realizam
atividades diversificadas em ritmos e tempos diferentes. O professor muda sua postura. Ele
sai do centro, da lousa para circular orientando os alunos individualmente e em pequenos
grupos. As aulas de 50 minutos não fazem sentido, porque dificultam a sequência de tempos
para atividades de pesquisa, análise, apresentação, contextualização e síntese.

Alguns aplicativos para tecnologias móveis:


Existem centenas de aplicativos interessantes para a sala de aula para diferentes faixas
etárias e áreas de conhecimento.

50 ferramentas online para professores:


http://canaldoensino.com.br/blog/conheca-50-ferramentas-online-para-professores

 Os 101 sites mais úteis da Internet:


http://www.youpix.com.br/top10/top-101-sites-uteis-para-favoritar/

 Aplicativos e Games para Ciências, Idiomas:


http://www.techtudo.com.br/softwares/educacao/ciencias/todos/downloads.html

 Os melhores aplicativos para crianças (1-5 anos e 6-10 anos):


http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/melhores-aplicativos-criancas-729539.shtml

Top 100 Tools for Learning 2013:


http://c4lpt.co.uk/top100tools/

Aprendendo com as Tecnologias:


http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011621.pdf

Ensinando e aprendendo com as tecnologias:


http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011620.pdf

 Túnel das mídias:


http://webeduc.mec.gov.br/portaldoprofessor/biologia/teiadavida/conteudo/index.html

2) Atividades nos ambientes presenciais conectados


O conceito de laboratório hoje mais amplo do que antes. Os laboratórios físicos se conectam
e se integram com os virtuais, muitas simulações podem ser feitas nos laboratórios físicos e
também remotamente, de qualquer lugar. O conceito mais rico de laboratório é o que integra
as diversas áreas de conhecimento em um espaço maior – hub - com impressoras digitais, em
que podemos desenvolver a cultura do aprender fazendo em projetos multidisciplinares. Há
uma combinação de situações práticas de aprendizagem que, em alguns momentos exigem a
presença física de todos e em outros podem ser realizadas remotamente.

Para as escolas que não tem tecnologias móveis na sala de aula, o laboratório digital é uma
opção para iniciar aos alunos nas competências digitais, de aprender a pesquisar, a saber

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comunicar-se online e offline, a saber colaborar, co-produzir, publicar, remixar conteúdos e
realizar projetos colaborativos.

Mesmo numa escola conectada totalmente em rede, o laboratório pode ser o espaço da
multimídia, da integração das tecnologias audiovisuais, do acesso a programas mais
complexos que exigem mais dos equipamentos, espaço da edição digital, da multiprodução.

3) A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem


Os alunos já se conhecem, já tem as informações básicas
de como pesquisar e de como utilizar os ambientes virtuais
de aprendizagem. Agora já podem iniciar a parte a
distância do curso, combinando momentos em sala de aula
com atividades de pesquisa, comunicação e produção a
distância, individuais, em pequenos grupos e todos juntos.

O professor precisa hoje adquirir a competência da gestão


dos tempos a distância combinados com o presencial. O
que vale a pena fazer pela Internet que ajuda a melhorar a
aprendizagem, que mantém a motivação, que traz novas experiências para a classe, que
enriquece o repertório do grupo.

Existem ambientes virtuais simples (como por exemplo blogs ou as páginas de grupos em
redes sociais) e existem ambientes complexos (plataformas virtuais integradas). Existem
ambientes gratuitos (como o Moodle) e ambientes virtuais pagos (como o Blackboard ou o
Desire2Learn). Existem ambientes de código fechado (gratuitos ou pagos, nos quais não se
pode mexer no código-fonte) ou de código aberto (que permitem modificar o programa,
como o Moodle).

Estes ambientes virtuais incorporam cada vez mais recursos de comunicação em tempo
real (webconferência) e off line, de publicação de materiais impressos, vídeos, etc. Recursos
de edição on-line: professores e alunos podem compartilhar ideias, modificar textos,
comentá-los. Podem fazer discussões organizadas por tópicos (off line) e fazer discussões ao
vivo, com som, imagem e texto. Os ambientes de aprendizagem se integram aos programas
de gestão acadêmica e financeira, onde os dados são cada vez mais personalizados.
Professores e alunos podem acompanhar seu percurso, seus avanços e dificuldades. Os
professores podem assim adaptar as atividades às necessidades de cada aluno.

Há três campos importantes para as atividades virtuais: o da pesquisa, o da comunicação e


o da produção-divulgação.

A pesquisa individual de temas, experiências, projetos, textos. A comunicação pode realizar


debates off e on-line sobre esses temas e experiências pesquisados. Já a produção deve
divulgar os resultados no formato multimídia, hipertextual, “linkada” e publicar as conclusões
para os colegas e, eventualmente, para a comunidade externa ao curso.

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É fundamental hoje pensar o currículo de cada curso como um todo, e planejar o tempo de
presença física em sala de aula e o tempo de aprendizagem virtual. A maior parte das
disciplinas pode utilizar, ao menos parcialmente, atividades a distância. Algumas que exigem
menos laboratório ou estar juntos fisicamente podem ter uma carga maior de atividades e
tempo virtuais. Podemos ter disciplinas totalmente a distância e outras com mais carga
presencial. Essas características marcam o modelo semipresencial que constitui uma das
tendências mais fortes na educação em todos os níveis, principalmente no superior.

A flexibilização de gestão de tempo, espaços e atividades é necessária, principalmente no


ensino superior ainda tão engessado, burocratizado e confinado à monotonia da fala do
professor num único espaço que é o da sala de aula.

4) Inserção em ambientes experimentais, profissionais e culturais


A escola pode estender-se fisicamente até os limites da cidade e virtualmente até os limites
do universo. A escola e a universidade podem integrar os espaços significativos da cidade:
museus, centros culturais, cinemas, teatros, parques, praças, ateliês, centros esportivos,
centros comerciais, centros produtivos, entre outros. Podem organizar também os currículos
com atividades profissionais ou sociais, com apoio da comunidade.

Os cursos de formação, os de longa duração, como os de graduação, precisam ampliar o


conceito de integração de reflexão e ação, teoria e prática, sem confinar essa integração
somente ao estágio, no fim do curso. Todo o currículo pode ser pensando em inserir os
alunos em ambientes próximos da realidade que ele estuda, para que possam sentir na
prática o que aprendem na teoria e trazer experiências, cases, projetos do cotidiano para a
classe. Em algumas áreas, como administração, engenharia, medicina, parece mais fácil e
evidente essa relação, mas é importante que aconteça em todos os cursos e em todas as
etapas do processo de aprendizagem, levando em consideração as peculiaridades de cada
um.

Se os alunos fazem pontes entre o que


aprendem intelectualmente e as situações
reais, experimentais, profissionais ligadas aos
seus estudos, a aprendizagem será mais
significativa, viva, enriquecedora. As
universidades e os professores precisam
organizar nos seus currículos e cursos
atividades integradoras da prática com a
teoria, do compreender com o vivenciar, o
fazer e o refletir, de forma sistemática,
presencial e virtualmente, em todas as áreas CC BY por AFS Intercultural Programs EUA

e ao longo de todo o curso.

A escola e a universidade podem integrar-se com os espaços culturais e profissionais da


cidade (museus, teatros, quadras esportivas, parques, praças, ateliês, fábricas, cinemas,

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centros culturais) e assim ampliar sua interação, o seu currículo, suas práticas, sua inserção
social. É importante integrar as experiências individuais de Ongs, de empresas, de entidades
religiosas e de classe com a educação formal. O governo pode apoiar as melhores práticas e
fazer com que façam parte de cursos reconhecidos, de escolas oficiais.

Podemos aproveitar melhor a aprendizagem prévia de cada aluno, principalmente do adulto.


Fazer programas especiais para profissionais que precisam de determinadas certificações.

O currículo pode alternar etapas na universidade e em atividades profissionais desde o


começo; pode prever parcerias de práticas, integradas a reflexões na universidade. Isso já
existe hoje, mas ainda é muito complicada a forma de gerenciar essas situações
diferenciadas.

O currículo pode ser “negociado” entre a universidade e alunos mais maduros. Cada aluno
deveria ter um professor orientador, para decidir em cada etapa, em conjunto, o que é
melhor para o estudante. No modelo atual, massificador, essa proposta é ingênua, mas é
possível viabilizá-la em instituições sérias com projetos pedagógicos avançados.

As tecnologias móveis, bem utilizadas, facilitam a interaprendizagem, a pesquisa em grupo, a


troca de resultados, ao mesmo tempo que facilitam as trocas banais, o narcisismo, o querer
aparecer, o consumismo fútil. As tecnologias móveis podem ajudar a desenvolver a intuição,
a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição, porque as informações vão
sendo descobertas por acerto e erro, por conexões “escondidas”. As conexões não são
lineares, vão “linkando-se” por hipertextos, textos, sons e imagens interconectados, com
inúmeras possibilidades de visualização e de decodificação. Desenvolvem a flexibilidade, a
adaptação a novas situações, informações, emoções. Cada um pode construir percursos
fascinantes de aprendizagem, que, na troca, iluminam múltiplos caminhos. Infelizmente
muitos se perdem na dispersão superficial da banalidade repetitiva.

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