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de Vida
Suporte
Imediato
de Vida
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
3ª Ed i ç ã o
Suporte Imediato de Vida
Immediate Life Support Portuguese translation
Agradecimentos
Ilustrações por Jean-Marie Brisart, Het Geel Punt bvba, Melkouwen 42a, 2590 Berlaar, Bélgica
(hgp@hetgeelpunt.be) e Mooshka&Kritis, Bélgica (info@mooshka.be).
Agradecemos a Oliver Meyer pela preparação digital das tiras de ritmo de ECG e a Annelies Pické
(ERC) pela coordenação administrativa.
Este manual é baseado no manual ILS 2010 do RC (Reino Unido), e tem como autores originais:
Editores: Jasmeet Soar, Jerry Nolan, Gavin Perkins, Mike Scott, Sarah Mitchell
Com o contributo de: Matthew Cordingly, Charles Deakin, David Gabbott, Neville Goodman, Carl
Gwinnutt, Anthony Handley, Bob Harris, Sara Harris, Andrew Lockey, Oliver Meyer, Sarah Mitchell,
Jerry Nolan, Gavin Perkins, David Pitcher, Mike Scott, Gary Smith, Jasmeet Soar and Karla Wright.
Publicado pelo European Resuscitation Council vzw, Emile Vanderveldelaan 35, 2845 Niel, Bélgica.
ISBN 9789492543479
Depot nr 2016/11.393/060
© European Resuscitation Council 2015. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, armazenamento em base de dados ou
transmissão por quaisquer meios, electrónicos, mecânicos, fotocópia, gravação ou outros desta publicação ou partes da mesma, sem o
consentimento escrito prévio do ERC. O conteúdo deste manual baseia-se nas Recomendações ERC 2015, no conteúdo do manual anterior, em
evidência da literatura, nas recomendações existentes e no consenso de peritos.
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Suporte Imediato de Vida
Tradução para Português
Editor
Conselho Português de Ressuscitação
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
Tradução
Adelina Pereira
Bruna Gonçalves
Mariana Taveira
Rita Loureiro
Revisão
Adelina Pereira
Bruna Gonçalves
Mariana Taveira
Rita Loureiro
Luís Costa
Agradecimentos
Luís Costa, pela coordenação administrativa
Esta publicação é a tradução do manual de Suporte Imediato de Vida (ISBN 9789079157877). A tradução foi efectuada
mediante as regras de escrita anteriores ao acordo ortográfico da língua portuguesa 1990 pelo Conselho Português de
Ressuscitação (Av. do Bessa, 216, Estúdio r/ch dto. 4100-012 Porto, Portugal) e sob sua supervisão, sendo este Conselho o
único responsável pelo seu conteúdo. Eventuais questões relativas à exactidão das informações contidas nesta tradução
devem ser esclarecidas através da consulta das recomendações da versão Inglesa, oficial. Quaisquer discrepâncias ou dif-
erenças criadas pela tradução não são atribuíveis ao European Resuscitation Council e não têm efeitos legais para fins de
conformidade ou obrigação.
This publication is a translation of the original manual Immediate Life Support (ISBN 9789079157877). The translation is
made by and under supervision of the Portuguese Resuscitation Council (Rua Sá da Bandeira 819 1º esq. 4000-438 Porto,
Portugal), solely responsible for its contents. If any questions arise related to the accuracy of the information contained in
the translation, please refer to the English version of the manual which is the official version of the document. Any discrep-
ancies or differences created in the translation are not binding to the European Rescuscitation Council and have no legal
effect for compliance or enforcement purposes.
3
Glossário
4
Conteúdo
0. Introdução 7
2.
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção
da paragem cardíaca 17
3. Reanimação intra-hospitalar 37
7. Desfibrilhação 97
APÊNDICES
Apêndice 1 Oximetria de pulso e Oxigenoterapia 125
Apêndice 2 Fármacos no tratamento da paragem cardíaca 129
Apêndice 3 Websites úteis 132
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Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
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Capítulo 0.
Introdução
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
Muitas das paragens cardio-respiratórias podem ser evitadas. O SIV ensina como reconhecer
e tratar o doente em deterioração usando a abordagem ABCDE (Via aérea, Respiração,
Circulação, Disfunção neurológica, Exposição). Os conhecimentos e competências de
SIV permitem aos elementos de primeira resposta reconhecer os doentes em risco de
deterioração e paragem cardíaca e iniciar o seu tratamento. No caso de ocorrer paragem
cardio-respiratória, as competências abordadas são aquelas que maior probabilidade
terão de conseguir reanimar o doente.
As intervenções que contribuem para a sobrevivência após uma paragem cardíaca podem
ser vistas como uma cadeia - a Cadeia de Sobrevivência.
A cadeia é tão fraca quanto o seu elo mais fraco. Todos os quatro elos da Cadeia de
Sobrevivência devem ser fortes. São eles:
• Reconhecimento precoce e pedido de ajuda 112 – Para prevenção da paragem
cardio-respiratória
• Suporte básico de vida precoce – Para ganhar tempo
• Desfibrilhação precoce – Para reanimar o coração
• Cuidados pós-reanimação – Para recuperar a qualidade de vida
7
Capítulo 0
Introdução
O SIV ensina como iniciar a reanimação cardiopulmonar em ambiente clínico. Isso inclui
a importância das compressões torácicas de elevada qualidade e da ventilação com
interrupções minimas e da desfibrilhação precoce em segurança.
Actualmente coloca-se uma grande ênfase nas competências não técnicas e nos factores
humanos. Trata-se de condicionantes da performance pessoal como sejam a avaliação da
situação, tomada de decisões, trabalho de equipa e gestão de tarefas.
Figura 0.1
Cadeia de Sobrevivência
C
h
on
aju
e
sfib
da
De
- p ara p r
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ed
eve
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r d í a ca a resta ur ar
-p -p
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g a n h ar te m po reinicia r o c o r a ç
Capítulo 1.
Competências não técnicas
e qualidade em reanimação
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OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender:
• o papel dos factores humanos na reanimação
• como usar ferramentas de comunicação estruturada como a SAAR e CHSP
• o
papel do registo de incidentes de segurança e das auditorias na melhoria dos
cuidados aos doentes
1. Introdução
Competências como desfibrilhação, compressões torácicas eficazes, capacidade de ventilar
e reconhecimento do ritmo cardíaco de paragem são componentes importantes para uma
reanimação bem-sucedida - são habitualmente designadas como competências técnicas.
Apesar de existir consenso que estas competências são necessárias para a reanimação,
surgiu recentemente outra categoria de competências ou factores igualmente importantes.
As competências não técnicas (CNT) são as capacidades cognitivas e de relação interpessoal
que permitem um trabalho em equipa eficaz; estima-se que 70-80% dos erros em cuidados
de saúde podem ser devidos a uma deficiência nestas capacidades. As competências não
técnicas incluem as capacidades interpessoais de comunicação, liderança e de seguir a
liderança (ser um membro da equipa), além das capacidades cognitivas tais como tomada
de decisões, avaliação da situação e gestão de tarefas. Estas competências fazem parte dos
chamados factores humanos. 1-,5
9
Capítulo 1
Competências não técnicas e qualidade em reanimação
2. Liderança
Um líder eficaz é uma pessoa com uma perspectiva global da situação que está a enfrentar
e, como resultado, atribui papéis a vários membros da equipa, a fim de que esta se
aproxime da sua perspectiva. A literatura médica é consensual que a liderança não é uma
característica, mas pode ser conseguida com treino contínuo. As competências de liderança
são complexas e podem diferir em estilo, apresentando uma ampla gama desde liderança
direccional até liderança de apoio. Não existe um padrão único para um estilo de liderança
ideal, esta depende do contexto e da situação. Nas equipas de ressuscitação, o líder da
equipa precisa:
1. Garantir que a equipa sabe exactamente o que é esperado de si. Isto envolve
um grau elevado de capacidade de avaliação da situação, de competência na
atribuição de tarefas aos membros da equipa em função da sua experiência,
de tomada de decisão baseada em evidência médica e de verbalização clara
dessas decisões. Um bom líder conhece e dirige-se aos membros da equipa
pelos seus nomes e é capaz de ser um exemplo para a equipa evoluir.
10
Tabela 1.1.
Taxonomia proposta das Competências Não Técnicas modificada da ref 9
11
Capítulo 1
Competências não técnicas e qualidade em reanimação
3. Trabalho de equipa
O trabalho de equipa é uma das CNT mais importantes para a abordagem da vítima em
paragem cardíaca. A competência e a experiência clínicas são importantes para o desfecho
da reanimação, mas não são uma garantia de sucesso10. O trabalho de equipa tem que
ser aprendido e praticado em vários cenários para melhorar o desempenho da equipa de
reanimação 11,12. Os elementos chave para um desempenho eficaz da equipa são:
1. Comunicação verbal e não verbal eficazes. A equipa precisa de transmitir
as descobertas à medida que ocorrem e os membros devem ser capazes de
compreender o plano do líder, desempenhando as tarefas alocadas e mantendo
4. Gestão de tarefas
Durante a reanimação de qualquer doente, tanto em situação de periparagem como após a
ocorrência da paragem cardíaca, existem numerosas tarefas que devem ser desempenhadas
pela equipa. Incluem-se:
1. Priorizar as tarefas que devem ser executadas de forma simultânea ou sequencial.
2. Adesão às recomendações actuais e às práticas aprovadas.
12
5. A importância da comunicação na gestão de um doente
A comunicação inclui a procura e transmissão da informação. Durante a RCP, a comunicação
entre membros de equipa pode ser verbal e não verbal, assim como, informal e estruturada.
É de salientar que as equipas de reanimação encontram muitos tipos de desafio na
comunicação a nível profissional, organizacional, de equipa, pessoal e/ou com o doente, e
que podem afectar a qualidade da RCP.
1
Trabalho de equipa eficaz e competências de comunicação são factores críticos para o
sucesso durante a RCP; comunicação insuficiente vai diminuir a eficácia da equipa e as taxas
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
de sobrevivência. Isto geralmente acontece devido à variação dos membros de equipa de dia
para dia, o que afeta de forma séria as competências de comunicação. Consequentemente,
a comunicação da equipa pode ser optimizada por treino de elevada qualidade, durante
o qual podem ser implementados conceitos de comunicação eficaz e respetiva aplicação,
focados em diferentes abordagens, interacção em equipa e gestão de relações.
A gestão local da RCP pode ser melhorada por um debriefing pós-RCP, com o intuito de
apurar erros na qualidade da RCP e mitigar a sua repetição em tentativas de reanimação
subsequentes. Exemplos destes erros são a frequência ou profundidade insuficiente das
compressões torácicas, interrupções prolongadas das mesmas e ventilação excessiva.
13
Capítulo 1
Competências não técnicas e qualidade em reanimação
Tabela 1.2.
Ferramentas de comunicação SAAR e CHSP
SAAR CHSP Conteúdo Exemplo
Situação Causa • A presentar-se e verificar que se está a • B om dia, eu sou o Dr. Silva,
falar com a pessoa correcta. médico interno.
• Identificar o doente sobre quem se está • E stou a ligar por causa do Sr.
a falar (quem e onde). Barbosa, que está no Serviço
• Dizer o que se pensa sobre qual é, ou de Urgência e que penso que
parece ser, o problema actual. tem uma pneumonia grave e
está séptico.
• Especificar o assunto sobre o qual se
precisa de conselho. • T em uma saturação de 90%
apesar de oxigénio em
• Frases úteis: alta concentração e estou
- O problema parece ser cardíaco/ muito preocupado com a sua
Avaliação Sinais • I ncluir observações específicas e sinais • N ão parece nada bem e está
Vitais vitais, com base na abordagem ABCDE: a ficar cansado.
• Via aérea • V ia aérea – consegue dizer
• Ventilação algumas palavras.
• Circulação • Ventilação – a frequência
respiratória é de 24, tem ron-
• Disfunção neurológica cos à esquerda, a saturação é
• Exposição de 90% com oxigénio em alta
• A pontuação no sistema de alerta concentração. Vou fazer uma
precoce é… gasometria e um RX de tórax.
• C irculação – o pulso é de 110
e a pressão arterial de 110/60.
• D isfunção neurológica – está
sonolento, mas consegue
dizer algumas palavras.
• E xposição – não tem
nenhum exantema.
Recomendação Plano • D izer explicitamente aquilo que • E stá a fazer fluídos IV e vou
pretende que a pessoa a quem esta a administrar antibiótico.
telefonar faça. • P reciso de ajuda – pode
• O quê e quando? por favor vir ver o doente
• Frases úteis: imediatamente?
- Vou começar o seguinte tratamento;
sugere mais alguma coisa?
- Vou pedir os seguintes exames;
sugere mais alguma coisa?
- Se não melhorar quando acha que o
devo contactar novamente?
- Penso que não consigo fazer mais
nada; gostava que visse o doente
14
As instituições são encorajadas a submeter os dados da RCP de forma padronizada a
auditorias nacionais e/ou registos internacionais, com o objectivo de melhoria contínua
da qualidade. Estas práticas já conduziram ao desenvolvimento de modelos validados
de predição de resultados, o que pode facilitar o planeamento antecipado de cuidados.
Adicionalmente, uma análise prévia de dados de registos quantificou a frequência de erros
do sistema de reanimação e o seu impacto na mortalidade intra-hospitalar após paragem
cardíaca desfibrilhável e não-desfibrilhável. Os resultados dos registos têm mostrado
melhorias significativas dos resultados em paragem cardíaca entre 2000-2010. 1
15
Capítulo 1
Competências não técnicas e qualidade em reanimação
REFERÊNCIAS:
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2. Glavin RJ, Maran NJ. Integrating human factors into the medical curriculum. Medical Education. 2003;
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3. Dunn EJ, Mills PD, Neily J, Crittenden MD, Carmack AL, Bagian JP. Medical Training: Applying Crew
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and Patient Safety 2007; 33, 6: 317-325.
4. Flin R., O’Conner P, Crichton M. Safety at the Sharp End: A guide to non-technical skills. Aldershot:
Ashgate Publishing, 2008.
5. Catchpole K. Towards a Working Definition of Human Factors in Healthcare. www.chfg.org/news-
blog/towards-a-working-definition-of-human-factors-in-healthcare (Last accessed: January 7 2015.)
6. Leape LL. Error in medicine. JAMA 1994; 272:1851-1857.
7. Sexton JB, Thomas EJ, Helmreich RL. Error, stress and teamwork in medicine and aviation: cross
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8. Bhangu A, Bhangu S, Stevenson J. Lessons for Surgeons in the final moments of Air France Flight 447.
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9. Cooper S, Cant R, Porter J, Sellick K, Somers G, Kinsman L, Nestel D. Rating medical emergency
teamwork performance: development of the Team Emergency Assessment Measure (TEAM).
Resuscitation. 2010;81:446-452.
10. Wayne DB, Butter J, Siddall VJ, et al. Simulation-based training of internal medicine residents in
advanced cardiac life support protocols: a randomized trial. Teach Learn Med 2005;17:210-216.
11. Perkins GD, Boyle W, Bridgestock H, et al. Quality of CPR during advanced resuscitation training.
Resuscitation 2008;77:69-74.
12. Kim J, Neilipovitz D, Cardinal P, Chiu M, Clinch J. A pilot study using high-fidelity simulation to
formally evaluate performance in the resuscitation of critically ill patients: the University of Ottawa
critical care medicine, high-fidelity simulation, and crisis resource management I study. Crit Care Med
2006;34:2167–74.
Capítulo 2.
Reconhecimento do doente em
deterioração e prevenção da
paragem cardíaca
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender:
• a importância do reconhecimento precoce do doente em deterioração
• as causas de paragem cardio-respiratória nos adultos
• c omo identificar e tratar doentes em risco de paragem cardio-respiratória
usando a abordagem ABCDE (Via Aérea, Respiração, Circulação, Disfunção
neurológica, Exposição)
1. Introdução
O reconhecimento precoce do doente em deterioração e a prevenção da paragem
cardíaca constitui o primeiro elo da cadeia de sobrevivência. Uma vez ocorrida a paragem
cardíaca intra-hospitalar, menos de 20% das vítimas sobreviverão até à alta. A prevenção
da paragem cardíaca intra-hospitalar requer formação dos profissionais, monitorização
dos doentes, reconhecimentos dos doentes em deterioração, um sistema de pedido de
ajuda e uma resposta eficiente.
A maior parte das paragens cardíacas no hospital não são súbitas nem imprevisíveis. Em
cerca de 80% dos casos existiram sinais de deterioração clínica nas horas que antecederam a
paragem. Estes doentes têm muitas vezes uma deterioração fisiológica lenta e progressiva,
frequentemente com hipóxia e hipotensão que não foram reconhecidas pelo pessoal
clínico ou que não foram tratadas de forma adequada. O ritmo de paragem neste grupo de
doentes é habitualmente não desfibrilhável (AEsP ou assistolia) e a taxa de sobrevivência
até à alta hospitalar é muito baixa.
17
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
18
Figura 2.1
Cadeia de Prevenção
mação ec
conh iment Res
posta
For
Re o
itorizaç dido de ajud
Mon ão Pe a
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Tabela 2.1
Exemplo de sistema de pontuação de alerta precoce (PAP)*
* De Prytherch et al. ViEWS - Towards a national early warning score for detecting adult in-patient deteriora-
tion. Resuscitation. 2010;81(8):932-7
Pontuação 3 2 1 0 1 2 3
91 - 111 -
Pulso (min-1) ≤ 40 41-50 51-90 ≥ 131
110 130
Frequência
Respiratória ≤8 9-11 12-20 21-24 ≥ 25
(min-1)
35.1 - 36.1 - 38.1 -
Temperatura (°C) ≤ 35.0 ≥ 39.1
36.0 38.0 39.0
PA Sistólica
≤ 90 91-100 101-110 111-249 ≥ 250
(mmHg)
Saturação de
≤ 91 92-93 94-95 ≥ 96
oxigénio (%)
Oxigénio Ar oxigenoterapia
inspirado
AVDS Alerta Voz (V)
(A) Dor (D)
Sem resposta (S)
19
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
Pontuações de alerta precoce são dinâmicas e alteram-se com o tempo, pelo que pode
ser necessário aumentar a frequência das avaliações para monitorizar a melhoria ou a
deterioração clínica do doente. Se for claro que um doente está a deteriorar-se, deve ser
chamada ajuda e não aguardar que um doente atinja uma determinada pontuação.
Mesmo quando os médicos são alertados devido a uma condição fisiológica anormal de
um doente, há muitas vezes um atraso na observação do doente ou na sua referenciação
para níveis de cuidados mais elevados.
20
em UCI, e pode ainda facilitar decisões de limitação de tratamento (por exemplo decisões
de não tentar reanimação [NTR]). As intervenções das equipas de emergência interna
envolvem tarefas simples como iniciar administração de oxigénio ou fluídos intravenosos.
As intervenções da EEM estão associadas a uma diminuição da incidência de paragem
cardíaca/respiratória e a uma melhoria das taxas de sobrevivência.
Tabela 2.2
Exemplo de protocolo baseado em pontuação de alerta precoce (PAP)
observação
MÍNIMA Acção de quem regista Acção do médico 2
Informar enfermeiro responsável
3-5 4 por hora
de turno
Observação médica dentro de
6 4 por hora Informar médico
uma hora
7-8 1 hora Informar médico Observação médica dentro de
Considerar monitorização 30 minutos e discutir com
contínua médico sénior e/ou equipa
diferenciada
≥ 9 30 minutos Informar médico Observação médica dentro de
Iniciar monitorização contínua 15 minutos e discutir com
médico sénior e equipa de UCI
Todos os doentes em estado crítico devem ser admitidos numa área de cuidados críticos,
por exemplo, UCI, unidade de cuidados intermédios, sala de observações ou sala de
emergência. Os profissionais destas áreas devem ser médicos e enfermeiros experientes
em reanimação avançada e em técnicas de cuidados críticos.
Os doentes que têm alta da UCI para as enfermarias gerais à noite têm um risco aumentado
de morte intra-hospitalar, comparativamente aos doentes que são transferidos durante o
dia ou que são transferidos para a unidade de cuidados intermédios.
21
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
Tabela 2.3
Critérios de activação da equipa de emergência médica (EEM)
4.1.1. Causas
A obstrução da via aérea pode ser completa ou parcial. A obstrução parcial habitualmente
antecede a obstrução completa, levando rapidamente à paragem cardíaca. A obstrução
parcial da via aérea pode causar edema cerebral ou pulmonar, exaustão, apneia secundária
e lesão cerebral hipóxica e, eventualmente, paragem cardíaca.
22
Causas de obstrução de via aérea
• Depressão sistema nervoso central
• Sangue
• Vómito
• Corpo estranho (por exemplo, dentes, comida)
• Trauma directo da face ou da garganta
• Epiglotite
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Em alguns indivíduos, a via aérea superior pode obstruir durante o sono (apneia obstrutiva
do sono). Isto é mais frequente em doentes obesos e a obstrução pode agravar-se na
presença de outros factores (por exemplo uso de sedativos).
4.1.2. Reconhecimento
Deve avaliar-se a permeabilidade da via aérea em todos os indivíduos com risco de
obstrução. Um doente consciente queixar-se-á de dificuldade em respirar, pode estar
engasgado e estará angustiado. Com uma obstrução parcial da via aérea, os esforços
respiratórios são ruidosos.
23
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
4.1.3. Tratamento
A prioridade é assegurar que a via aérea permanece permeável. Deve tratar-se qualquer
problema que coloque a via aérea em risco, por exemplo, aspirando sangue ou conteúdo
gástrico das vias aéreas e, excepto se contraindicado, colocando o doente em decúbito
lateral. Independentemente da causa, deve assumir-se que um indivíduo com depressão
do nível de consciência tem, ou irá ter, obstrução da via aérea. Devem tomar-se medidas
para salvaguardar a via aérea e evitar outras complicações, tais como a aspiração de
conteúdo gástrico. Isto pode incluir colocar o doente em decúbito lateral ou com elevação
da cabeceira, manobras simples de desobstrução da via aérea (extensão da cabeça/
Deve administrar-se oxigénio logo que possível para atingir uma saturação de oxigénio
arterial, por oximetria de pulso (SpO2) entre 94-98%.
4.2.1. Causas
Uma respiração ineficaz pode ser aguda ou crónica. Pode ainda ser contínua ou
intermitente e suficientemente grave para causar apneia (paragem respiratória), o que
causará rapidamente uma paragem cardíaca na ausência de tratamento. Frequentemente,
a paragem respiratória ocorre devido a uma combinação de factores. Num doente com
insuficiência respiratória crónica, uma infecção respiratória, fraqueza muscular ou fractura
das costelas podem levar à exaustão, deprimindo ainda mais a função respiratória. Se a
respiração for insuficiente para oxigenar adequadamente o sangue, a diminuição de aporte
de oxigénio aos órgãos vitais vai levar a perda de consciência e eventualmente a uma
paragem cardíaca.
• Drive respiratório
A depressão do sistema nervoso central pode diminuir ou abolir o estímulo respiratório. As
causas são as mesmas que condicionam obstrução da via aérea por depressão do sistema
nervoso central.
• Esforço respiratório
Os principais músculos respiratórios são o diafragma e os músculos intercostais. Estes
últimos são inervados ao nível das respectivas costelas e podem ser paralisados por uma
lesão da medula espinal acima deste nível. A inervação do diafragma dá-se ao nível do
terceiro, quarto e quinto segmentos da medula espinal. Com uma lesão grave da medula
cervical acima deste nível, a ventilação espontânea não é possível.
24
O esforço respiratório insuficiente, causado por uma fraqueza muscular ou uma lesão
nervosa, verifica-se em muitas doenças (por exemplo, miastenia grave, síndrome de
Guillain-Barré e esclerose múltipla). A malnutrição crónica e as doenças graves prolongadas
podem também contribuir para uma fraqueza generalizada.
• Doença pulmonar
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4.2.2. Reconhecimento
Um doente consciente queixar-se-á de falta de ar e estará angustiado. A anamnese e a
observação indiciam, geralmente, a causa subjacente. Hipoxémia e hipercápnia podem
causar irritabilidade, confusão, letargia e diminuição do nível de consciência. A cianose é
um sinal tardio. Uma frequência respiratória rápida (> 25 min-1) é um indicador útil e simples
de problemas respiratórios. A oximetria de pulso é uma forma simples e não invasiva de
avaliar a adequação da oxigenação (ver Anexo 1). Contudo, não é um indicador fiável para
a adequação da ventilação. É necessária a medição dos gases arteriais para determinar a
adequação da ventilação. Um aumento da pressão parcial de dióxido de carbono arterial
(PaCO2) indica hipoventilação.
4.2.3. Tratamento
Deve administrar-se oxigénio a todos os doentes críticos com hipoxémia e tratar a causa
subjacente. O oxigénio deve ser administrado a 15 L/min com uma máscara de alta
concentração com reservatório. Depois de o doente estabilizar, deve titular-se o fluxo de
oxigénio (usando os dispositivos de oxigenoterapia apropriados) e ter como alvo uma
SpO2 entre 94-98% (nos doentes com DPOC um alvo de 88-92%). Por exemplo, deve-se
iniciar, logo que possível, terapêutica com antibióticos EV num doente com pneumonia
severa ou começar terapêutica com broncodilatadores (nebulização com salbutamol) e
corticoesteróides num doente com asma severa.
Os doentes com dificuldade respiratória ou que comecem a ficar cansados irão necessitar
de suporte ventilatório. A ventilação não invasiva com uma máscara facial pode ser útil e
pode evitar a necessidade de entubação traqueal e a ventilação mecânica. Nos doentes
que não conseguem respirar adequadamente é necessário pedir ajuda diferenciada, uma
vez que pode ser necessário uma admissão na UCI para sedação, entubação traqueal e
ventilação controlada.
25
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
4.3.1. Causas
Os problemas circulatórios podem ser causados por uma doença cardíaca primária ou por
anomalias cardíacas secundárias a outros problemas. Em termos cardíacos pode ocorrer
paragem súbita ou ocorrer um período de débito cardíaco insuficiente antes da paragem.
26
4.3.2. Reconhecimento
Os sinais e sintomas de doença cardíaca incluem a dor torácica, dispneia, síncope (desmaio),
taquicardia, bradicardia, taquipneia (frequência respiratória elevada), hipotensão, má
perfusão periférica (tempo de preenchimento capilar prolongado), alteração do estado de
consciência e oligúria (débito urinário baixo).
A maioria das mortes súbitas cardíacas (MSC) ocorrem em indivíduos com doença cardíaca
pré-existente, mas que pode não ter sido previamente diagnosticada. A doença cardíaca
assintomática ou silenciosa pode incluir a cardiopatia hipertensiva, doença valvular
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
Por vezes o desconforto é acompanhado por eructação, o que pode induzir o diagnóstico
errado de indigestão. Uma história de dor torácica aguda sustentada (isto é igual ou
superior a 20-30 minutos) típica de EAM, com subida do segmento ST no ECG de 12
derivações é a base de diagnóstico de EAM com ST.
Alguns doentes apresentam-se com dor torácica sugestiva de EAM com anormalidades
no ECG menos específicas, como depressão do segmento ST ou inversão das ondas T. Se o
doente tiver história clínica sugestiva de SCA e testes laboratoriais com subida significativa
da troponina, indica que ocorreu lesão miocárdica. Nestes casos, estamos perante um EAM
sem ST.
27
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
palpitações, sopro cardíaco) que devem alertar os profissionais de saúde para a necessidade
de apoio especializado, a fim de prevenir a paragem cardíaca. As características que indicam
uma probabilidade elevada de síncope arrítmica incluem:
• síncope em decúbito, isto é, desmaiar quando já na posição deitada;
• síncope durante ou após exercício (apesar da síncope após exercício ser
frequentemente vasovagal);
• síncope sem pródromos ou com apenas escassos sintomas, por exemplo, colapso
súbito sem sinais de aviso;
4.3.3. Tratamento
Deve tratar-se a causa subjacente da insuficiência circulatória. Em muitos doentes, isto
significa a administração de fluídos por via intravenosa para tratar a hipovolémia como
parte da abordagem ABCDE (ver abaixo).
A maioria dos doentes com dor cardíaca isquémica ficará mais confortável na posição
sentada. Em alguns casos, estar deitado pode provocar dor ou agravá-la. Deve ponderar-se
a utilização de um antiemético, especialmente se existirem náuseas.
28
angiografia coronária e stenting). Quanto mais precoce for o início do tratamento, maior a
probabilidade de sucesso, sendo por isso necessário a procura precoce de ajuda diferenciada.
5. A abordagem ABCDE
29
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
30
• Procurar manter uma saturação de oxigénio entre 94-98%. Nos doentes em risco
de insuficiência respiratória hipercápnica (ver abaixo) procurar alcançar uma
saturação de oxigénio entre 88-92%.
Oxigénio
2
Durante a avaliação imediata da respiração é essencial diagnosticar e tratar imediatamente
as situações potencialmente fatais como, por exemplo, asma aguda grave, edema
pulmonar, pneumotórax hipertensivo, hemotórax massivo.
1. Ver, ouvir e sentir os sinais gerais de dificuldade respiratória: sudorese, cianose central,
utilização dos músculos acessórios da respiração e respiração abdominal.
2. Avaliar a frequência respiratória. A frequência normal é 12 a 20 ventilações/min. Uma
frequência respiratória elevada (> 25 min-1) ou a aumentar é um marcador de doença
e um sinal de que o doente poderá vir a deteriorar subitamente.
3. Avaliar a profundidade de cada respiração, o padrão (ritmo) da respiração e se a
expansão torácica é igual nos dois lados.
4. Observar possíveis deformidades torácicas (que podem aumentar o risco de
deterioração em doentes ainda a respirar normalmente) e a presença e permeabilidade
de drenos torácicos. Lembrar que a distensão abdominal pode limitar os movimentos
do diafragma, agravando a dificuldade respiratória.
5. Registar a concentração de oxigénio inspirado (%) e a leitura de SpO2 no oxímetro de
pulso. Este último não detecta hipercápnia. Se o doente estiver a receber oxigénio
suplementar, a SpO2 pode ainda ser normal mesmo na presença de uma PaCO2 muito
elevada.
6. Ouvir os sons respiratórios do doente a curta distância da sua face: som de gorgolejo
indica a presença de secreções, causadas geralmente pela incapacidade do doente
tossir adequadamente ou de respirar profundamente. Estridores ou sibilos sugerem
obstrução parcial, mas significativa, da via aérea.
7. Percutir o tórax: timpanismo aumentado pode ser sugestivo de pneumotórax; macicez
indica geralmente consolidação ou líquido pleural.
8. Auscultar o tórax: ventilação brônquica indica consolidação pulmonar com via aérea
permeável; ausência de sons ou sons reduzidos são sugestivos de pneumotórax ou
de líquido pleural ou de consolidação pulmonar causada por obstrução brônquica
completa.
9. Verificar a posição da traqueia na fúrcula supraesternal: desvio para um dos lados indica
deslocação do mediastino (por exemplo pneumotórax, fibrose do pulmão ou líquido
pleural).
31
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
32
1. Observar a cor das mãos e dos dedos: estão cianosados, rosados ou marmoreados?
2. Avaliar a temperatura das mãos do doente: estão frias ou quentes?
3. Avaliar o tempo de preenchimento capilar (TPC). Para isso aplicar pressão cutânea
durante 5 seg. sobre a ponta de um dedo mantido ao nível do coração (ou
imediatamente acima) com pressão suficiente para causar palidez. Cronometrar o
tempo necessário até a pele regressar à mesma cor da que a rodeia, após libertar
a pressão. O valor normal para o TPC é geralmente < 2 seg. Um TPC prolongado
é sugestivo de insuficiente perfusão periférica. Outros factores (por exemplo,
ambiente frios, luz insuficiente ou idade avançada) podem prolongar o TPC.
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
33
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
34
de 50 ml de solução de glicose a 10%, por via intravenosa. Se necessário, administrar
doses adicionais de glicose intravenosa a 10% a cada minuto até o doente recuperar
a consciência ou até perfazer um total de 250 ml de glicose a 10%. Repetir a avaliação
da glicémia para monitorizar os efeitos do tratamento. Se não houver melhoria
ponderar doses adicionais de glicose a 10% e chamar ajuda diferenciada. Existem
outras concentrações de glicose intravenosas que podem ser usadas de acordo com
os protocolos locais.
6. Colocar os doentes inconscientes em posição lateral se a sua via aérea não estiver
protegida.
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
35
Capítulo 2
Reconhecimento do doente em deterioração e prevenção da paragem cardíaca
LEITURA ADICIONAL
• Soar J, Nolan JP, Bottiger BW, et al. European Resuscitation Council
Guidelines for Resuscitation 2015. Section 3 Adult Advanced Life Support.
Resuscitation 2015:95:99-146.
• Smith GB. In-hospital cardiac arrest: Is it time for an in-hospital ‘chain of prevention’ Resuscitation
2010;81:1209-11.
• Featherstone P, Chalmers T, Smith GB. RSVP: a system for communication of deterioration in hospital
patients. Br J Nurs 2008;17:860-4.
• Marshall S, Harrison J, Flanagan B. The teaching of a structured tool improves the clarity and content
of interprofessional clinical communication. Qual Saf Health Care 2009;18:137-40.
36
Capítulo 3.
Reanimação intra-hospitalar
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
Compreender:
• como iniciar a reanimação no hospital
• como continuar a reanimação até à chegada de ajuda especializada
• a importância de Suporte Básico de Vida (SBV) de elevada qualidade,
minimizando as interrupções
1. Introdução
Após uma paragem cardíaca intra-hospitalar, a divisão entre o suporte básico de vida e o
suporte avançado de vida é arbitrária. A comunidade leiga espera que o corpo clínico seja
capaz de executar manobras de RCP. Para todas as paragens cardíacas intra-hospitalares
deve-se garantir que:
• a paragem cardio-respiratória é reconhecida de imediato
• é pedido auxílio através de um número de telefone padronizado
• a RCP é iniciada de imediato e, se indicado, é tentada desfibrilhação logo que
possível (dentro de 3 minutos, no máximo).
37
Capítulo 3
Reanimação intra-hospitalar
• Equipamento disponível
• Sistema hospitalar de resposta à paragem cardíaca e às emergências médicas, por
exemplo, equipa de emergência médica (EEM), equipa de reanimação.
2.1. Localização
Nos doentes sob vigilância apertada ou monitorizados, a paragem cardio-respiratória é
geralmente identificada e tratada com rapidez.
Idealmente, todos os doentes com elevado risco de paragem cardíaca deverão ser assistidos
Uma revisão do Resuscitation Council (UK) sobre incidentes de segurança graves associados
à RCP e deterioração do estado clínico dos doentes, reportados à National Patient Safety
Agency, mostrou que são frequentes os problemas relacionados com o equipamento (por
exemplo falta ou falha do equipamento).
38
Todos os equipamentos de reanimação devem ser verificados regulamente, de forma
a garantir que estão prontos a ser utilizados. Deve ser ponderada a colocação de DAE
em áreas clínicas e não clínicas, onde os profissionais não tenham competências para
reconhecimento de ritmos ou raramente utilizem um desfibrilhador.
Em alguns hospitais, uma equipa de reanimação (por exemplo, EEM) é chamada em caso
de deterioração clínica do doente, antes que ocorra a paragem cardíaca.
39
Capítulo 3
Reanimação intra-hospitalar
Figura 3.1
Algoritmo de reanimação intra-hospitalar
Doente colapsado/crítico
RCP 30:2
Com oxigénio de
adjuvantes da via aérea
Chamar equipa de
reanimação se indicado
Aplicar placas/monitor
Tentar desfibrilhação, se
indicado
40
3. Sequência para um doente colapsado no hospital
A figura 3.1 mostra um algoritmo para a abordagem inicial de paragem cardíaca intra-
hospitalar.
41
Capítulo 3
Reanimação intra-hospitalar
Figura 3.2
Abanar e gritar
42
Figura 3.3
Extensão do pescoço e elevação do queixo
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43
Capítulo 3
Reanimação intra-hospitalar
Figura 3.4
Pesquisa de respiração e qualquer outro movimento
44
3.4A. Se o doente tem pulso palpável ou outros sinais de vida
• É necessária avaliação médica urgente. Dependendo dos protocolos institucionais,
esta poderá ser feita por uma equipa de reanimação. Enquanto se espera por
essa equipa, deve avaliar-se o doente através da abordagem ABCDE, administrar
oxigénio, monitorizá-lo e inserir um cateter intravenoso.
• Seguir os passos acima descritos em 3A enquanto se espera pela equipa.
• O doente tem risco elevado para deterioração adicional e paragem cardíaca e
necessita de observação contínua até à chegada da equipa.
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45
Capítulo 3
Reanimação intra-hospitalar
Figura 3.6
Chamar a equipa de ressuscitação
Figura 3.8
Mãos colocados no meio da metade inferior do esterno
46
• Se disponível, usar um mecanismo de feedback (por exemplo, metrónomo,
desfibrilhador inteligente) para ajudar a garantir compressões torácicas de elevada
qualidade. Não tentar palpar pulso para verificar a eficácia das compressões.
• De cada vez que as compressões forem retomadas, colocar as mãos sem demora
no centro do tórax.
• A pessoa que estiver a fazer compressões vai ficar cansada. Se houver elementos
suficientes, deve-se trocar a cada 2 minutos ou mais cedo para manter compressões
de elevada qualidade. Esta mudança deve ser feita com um tempo mínimo de
interrupção de compressões.
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• Para manutenção da via aérea e ventilação deve ser utilizado qualquer equipamento
disponível. Deve ser iniciada ventilação com máscara de bolso, ou ventilação a dois
reanimadores com máscara e insuflador manual, que pode ser complementada
com um tubo orofaríngeo. Em alternativa, utilizar um dispositivo supraglótico
(DSG) e um insuflador manual. Manter a via aérea e a ventilação pulmonar com o
equipamento imediatamente disponível mais apropriado.
3
• A entubação traqueal deve ser realizada apenas por profissionais de saúde treinados
e com experiência regular na técnica.
• Utilizar um tempo inspiratório de 1 segundo, insuflando um volume de ar suficiente
para produzir expansão torácica normal. Administrar oxigénio suplementar para
obter a máxima fracção inspirada de oxigénio possível, assim que isso for exequível.
• Evitar insuflações rápidas ou forçadas.
• Se o doente tiver sido entubado, continuar com compressões torácicas contínuas
(excepto durante a desfibrilhação ou verificação de pulso, quando indicado), numa
frequência de 100-120 por minuto, e com ventilações pulmonares a cerca de 10/min (isto
é, não interromper compressões torácicas para as ventilações). Evitar hiperventilação
(quer por excesso de frequência ou volume), uma vez que podem piorar o resultado.
Se um dispositivo supraglótico (DSG) (por exemplo, máscara laríngea) for colocado, é
possível continuar ventilações sem parar compressões torácicas.
• Deve-se usar a capnografia para confirmar o posicionamento do tubo traqueal e
monitorizar a frequência respiratória. A capnografia pode também ser utilizada
com insuflador manual, máscara facial e com DSG. A curva de capnografia é uma
monitorização utilizada sempre durante a anestesia e em doentes críticos que
necessitem de ventilação mecânica. Deve ser utilizada para confirmar a colocação
correcta do tubo traqueal durante a ressuscitação e deve também ajudar a guiar
as intervenções na ressuscitação. A monitorização por curva de capnografia
está disponível nos desfibrilhadores mais recentes, como parte de monitores ou
dispositivos isolados portáteis.
• Se não estiver disponível qualquer equipamento de via aérea e ventilação, deve
considerar-se fazer ventilação boca-a-boca. Se existirem razões clínicas para
evitar o contacto boca-a-boca, ou se se for incapaz de o fazer, devem-se realizar
compressões torácicas de elevada qualidade até à chegada de ajuda ou de
equipamento de via aérea.
47
Capítulo 3
Reanimação intra-hospitalar
• Uma máscara de bolso ou um insuflador manual com máscara deve estar disponível
em todas as áreas clínicas. Na prática, isto significa que a ventilação boca-a-boca
raramente é necessária.
• Quando o desfibrilhador chegar, aplicar as placas auto-adesivas de desfibrilhação
ao doente mantendo as compressões torácicas e só então interromper para analisar
o ritmo. A utilização das placas auto-adesivas permitem uma avaliação do ritmo
cardíaco mais rápida quando em comparação com a ligação dos eléctrodos de ECG.
• Usar preferencialmente as placas auto-adesivas para a desfibrilhação, apesar de
placas do desfibrilhador poderem ser utilizadas em algumas situações.
48
Figura 3.9
Manter compressões torácicas enquanto as placas auto-adesivas são colocadas
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
49
Capítulo 3
Reanimação intra-hospitalar
PONTOS-CHAVE DE APRENDIZAGEM
• A
sequência exacta de acções após paragem cardíaca intra-hospitalar depende
da localização, das competências dos primeiros profissionais envolvidos, do
número de profissionais, do equipamento disponível e do sistema hospitalar de
resposta à paragem cardíaca e às emergências médicas.
• R
ealizar compressões torácicas de elevada qualidade com profundidade de
cerca de 5 cm (não mais de 6 cm), frequência de 100-120/min, permitindo
que o tórax descomprima totalmente entre compressões.
LEITURA ADICIONAL
• Perkins GD, Handley AJ, Koster KW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation
2015 Section 2 Adult basic life support and automated external defibrillation. Resuscitation 2015.
• Soar J, Nolan JP, Böttiger BW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2015.
Section 3. Adult Advanced Life Support. Resuscitation 2015:95:99-146.
• Soar J, Callaway CW, Aibiki M, et al. Part 4: Advanced life support: 2015
International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
Cardiovascular Care Science With Treatment Recommendations. Resuscitation 2015;95:e71-e122.
• Meaney PA, Nadkarni VM, Kern KB, Indik JH, Halperin HR, Berg RA. Rhythms and outcomes of adult
in-hospital cardiac arrest. Crit Care Med 2010;38:101-8.
Capítulo 4.
Algoritmo de Suporte Avançado
de Vida
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender:
• a função do algoritmo de Suporte Avançado de Vida (SAV)
• a importância de compressões torácicas de elevada qualidade,
minimizando as interrupções
• o tratamento de ritmos desfibrilháveis e não desfibrilháveis
• quando e como administrar fármacos durante uma paragem cardíaca
• as causas potencialmente reversíveis de paragem cardíaca
1. Introdução
Os ritmos cardíacos associados a paragens cardíacas dividem-se em dois grupos: os
desfibrilháveis (fibrilhação ventricular/taquicardia ventricular sem pulso [FV/TVsP]) e os
não desfibrilháveis (assistolia e actividade eléctrica sem pulso [AEsP]). A principal diferença
na abordagem destes dois grupos de arritmias é a necessidade de realizar a desfibrilhação
em doentes com FV/TVsP. As acções subsequentes, incluindo compressões torácicas,
abordagem da via aérea e ventilação, acessos venosos, administração de adrenalina e a
identificação e correcção de factores reversíveis, são comuns a ambos os grupos.
51
Capítulo 4
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida
52
Figura 4.1
Algoritmo de suporte avançado de vida no adulto
Chamar a equipa
de reanimação
RCP 30:2
Ligar o monitor/desfibrilhador
Minimizar interrupções
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
Avaliar o ritmo
4
1 Choque
Restabelecimento de
Minimizar as
circulação espontânea
interrupções
n Controlar a temperatura
53
Capítulo 4
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida
13. Se a FV/TVsP persistir, repetir os passos 6-8 descritos acima e aplicar um terceiro
choque. Sem reavaliar o ritmo ou o pulso, retomar RCP (30:2) imediatamente após o
choque, começando pelas compressões torácicas.
14. Se já se tiver obtido um acesso IV/IO, durante os 2 minutos seguintes de RCP
administrar 1 mg de adrenalina e 300 mg de amiodarona.
15. Repetir os 2 minutos de RCP – Reavaliar o ritmo/pulso - Se a FV/TVsp persistir
continuar com a sequência de desfibrilhação.
16. Administrar 1 mg de adrenalina IV após choques alternados (isto é, na prática, uma
vez a cada dois ciclos do algoritmo)
Figura 4.2
Continue as compressões torácicas durante o carregamento das placas do desfibrilhador manual
Figura 4.3
Aplicação do choque
54
Se há recuperação de sinais de vida durante a RCP (movimentos intencionais,
respiração normal ou tosse) ou se há um aumento significativo do ETCO2, verificar
o monitor;
Se for observada actividade eléctrica organizada compatível com débito cardíaco,
durante uma verificação de ritmo, procurar evidência de RCE:
• Pesquisar o pulso central e o traçado de ETCO2, se disponível.
• Se houver evidência de RCE, iniciar cuidados pós-reanimação.
• Se não houverem sinais de RCE, continuar RCP e mudar para o algoritmo de ritmos
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
não desfibrilháveis.
Quando o ritmo é verificado 2 min após um choque, se está presente um ritmo não-
desfibrilhável e o ritmo é organizado (complexos parecem regulares ou estreitos), deve
tentar palpar um pulso central e procurar por outras evidências de RCE (por exemplo:
aumento súbito do ETCO2 ou evidência de débito cardíaco em qualquer dispositivo de
monitorização invasivo).
As verificações de ritmo devem de ser breves e a verificação do pulso deve de ser realizada
apenas se é observado um ritmo organizado. Se este é observado durante o período de 2
55
Capítulo 4
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida
minutos de RCP, não interrompa as compressões torácicas para palpação do pulso, a menos
que o doente apresente sinais de vida que sugerem RCE. Se existir alguma dúvida a respeito
da presença de pulso durante um ritmo organizado, reassuma RCP. Se o doente recupera
a circulação espontânea devem de ser iniciados os cuidados pós-reanimação. Se o ritmo
do doente se alterar para assistolia ou AEsP, verifique os ritmos não-desfibrilháveis abaixo.
Se houver dúvidas acerca do ritmo ser assistolia ou FV muito fina, não se deve tentar
desfibrilhar; em vez disso, continuar com compressões torácicas e ventilações. A FV muito
fina é difícil de distinguir da assistolia e tem poucas probabilidades de ser desfibrilhada com
sucesso para um ritmo com perfusão. A continuação de RCP de elevada qualidade pode
melhorar a amplitude e a frequência da FV, aumentando a probabilidade da desfibrilhação
subsequente resultar num ritmo com perfusão. A aplicação de choques repetidos na tentativa
de desfibrilhar o que se pensa ser uma FV muito fina vai aumentar a lesão do miocárdio,
tanto directamente pela corrente eléctrica, como indirectamente pelas interrupções no
fluxo miocárdico. Se o ritmo for claramente uma FV, então tentar a desfibrilhação.
56
• Se o terceiro choque não foi bem-sucedido, iniciar compressões torácicas e
continuar RCP durante dois minutos.
Esta estratégia dos três choques pode também ser considerada para uma paragem
cardíaca em FV/TVsP inicial presenciada se o doente já estiver ligado a um desfibrilhador
manual – estas circunstâncias são raras.
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
Lembrar que qualquer verificação de ritmo, idealmente, não deve exceder mais de 5
segundos e que as interrupções das compressões torácicas contínuas, de alta qualidade,
devem ser priorizadas em relação à análise detalhada do ritmo.
57
Capítulo 4
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida
4. Durante a RCP
Durante o tratamento de uma FV/TVsP ou AEsP/assistolia persistente, a ênfase é colocada
nas compressões torácicas de elevada qualidade entre tentativas de desfibrilhação, no
reconhecimento e tratamento de causas reversíveis (4 H e 4 T), na obtenção de uma via
aérea segura e no acesso vascular.
Durante RCP numa relação 30:2, o ritmo subjacente pode ser visto distintamente no monitor
quando as compressões são interrompidas para permitir a ventilação. Se for detectada uma
FV nesta breve pausa, (quer seja no braço desfibrilhável ou não desfibrilhável do algoritmo),
não se deve tentar a desfibrilhação nesta fase; pelo contrário, deve continuar com a RCP
até o período de 2 minutos estar completo. Sabendo que o ritmo é FV, a equipa deve estar
preparada para aplicar um choque sem mais demora no final do período de 2 minutos de RCP.
Assim que se obtenha uma via aérea segura, devem continuar-se as compressões torácicas
sem pausas durante a ventilação. Para diminuir o cansaço, trocar o reanimador a cada 2
min ou mais cedo se necessário. Quando disponíveis, devem utilizar-se dispositivos de RCP
com comandos e/ou feedback. Notar que alguns dispositivos podem não ser capazes de
compensar a compressão do colchão durante a RCP, ao fornecer o feedback.
58
Após a colocação do dispositivo supraglótico, deverá tentar fazer compressões torácicas
contínuas, sem interrupções para a ventilação. Ventilar os pulmões a 10 insuflações por
minuto; não hiperventilar os pulmões. Se um excesso de fuga de ar causar ventilação
pulmonar inadequada, as compressões torácicas terão de ser interrompidas para permitir
a ventilação (usando uma relação de 30:2).
Após a intubação traqueal, devem de ser realizadas compressões torácicas contínuas, com
uma frequência de 100-120 por minuto, sem pausa para a ventilação.
4
4.2. Acessos vasculares
Caso ainda não tenha sido feito, obter um acesso intravenoso. Apesar do pico de
concentração dos fármacos ser mais elevado e o tempo de circulação ser menor quando
os fármacos são injectados através de um cateter venoso central comparativamente a
um cateter periférico, a inserção de um cateter venoso central obriga à interrupção da
RCP e associa-se a diversas potenciais complicações. A cateterização venosa periférica é
mais rápida, mais fácil e mais segura. Os fármacos administrados por via periférica devem
ser seguidos de um bólus de pelo menos 20 mL de fluído e da elevação da extremidade
durante 10-20s, para facilitar a chegada do fármaco à circulação central.
59
Capítulo 4
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida
Figuras 4.4
Dispositivos intraósseos
• Hipóxia
• Hipovolémia
• Hipercaliémia, hipocaliémia, hipoglicémia, hipocalcémia, acidemia e outras
alterações metabólicas
• Hipotermia, hipertermia
• Trombose (embolia pulmonar ou trombose coronária)
• Pneumotórax hipertensivo
• Tamponamento cardíaco
• Tóxicos
60
Figura 4.5
Os quarto Hs e os quarto Ts
Hypoxia
Hipóxia Hypothermia
Hipotermia
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Hyperkalaemia
Hipercaliémia Hypovolaemia
Hipovolémia
Tamponade
Tamponamento
T
Pneumotoráx
Tension Trombose
Thrombosis
hipertensivo
Pneumothorax
4
Toxins
Tóxinas
4.3.1. Os quarto Hs
Minimizar o risco de hipóxia ao assegurar que os pulmões do doente estão devidamente
ventilados com oxigénio a 100%. Garantir que há expansão torácica adequada e sons
respiratórios bilaterais. Recorrendo às técnicas descritas no capítulo 5, verificar cuidadosamente
que o tubo traqueal não está incorrectamente colocado num brônquio ou no esófago.
A actividade eléctrica sem pulso causada por hipovolémia deve-se geralmente a uma
hemorragia que pode ser causada por trauma, hemorragia gastrointestinal ou ruptura
de um aneurisma aórtico. O volume intravascular deve de ser rapidamente restabelecido
com fluídos e sangue. Obviamente, estes doentes necessitam de controlo urgente da
hemorragia, através de cirurgia ou outros meios.
61
Capítulo 4
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida
4.3.2. Os quatro Ts
O pneumotórax hipertensivo pode ser a causa primária de uma AEsP. Este pode seguir-se à
tentativa de inserção de um cateter venoso central. O diagnóstico é feito clinicamente. Os sinais
de pneumotoráx hipertensivo incluem: diminuição da entrada de ar, diminuída expansão
torácica e hiperressonância à percussão no lado afectado. Descomprimir rapidamente por
toracotomia ou toracocentese com agulha e inserir posteriormente um dreno torácico.
62
Após paragem da RCP, observar o doente durante no mínimo 5 min antes de declarar a
morte. A ausência de função cardíaca mecânica é geralmente confirmada através da
combinação de:
• ausência de pulso central à palpação;
• ausência de sons cardíacos à auscultação.
LEITURA ADICIONAL
• Perkins GD, Handley AJ, Koster KW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resusci-
tation 2015 Section 2 Adult basic life support and automated external defibrillation. Resuscitation
2015:95:81-99
• Soar J, Nolan JP, Böttiger BW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation
2015. Section 3. Adult Advanced Life Support. Resuscitation 2015:95:99-146.
• Soar J, Callaway CW, Aibiki M, et al. Part 4: Advanced life support: 2015
• International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care
Science With Treatment Recommendations.
• Resuscitation 2015;95:e71-e122.
63
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
64
Algoritmo de Suporte Avançado de Vida
Capítulo 4
Capítulo 5.
Gestão da via aérea e ventilação
Cópia pessoal de Tânia Vanessa Borges Silva (ID: 1557927)
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender:
• as causas e o reconhecimento da obstrução da via aérea
• o tratamento da asfixia
• as técnicas para abordagem da via aérea quando se inicia a reanimação
• a utilização de adjuvantes simples para manter a permeabilização da via aérea
• a ventilação com máscara de bolso e com insuflador
• a utilização de dispositivos supraglóticos
1. Introdução
As competências como membro de equipa e liderança podem ser ensinadas e melhoradas
através do treino, reflexão e coaching. Por exemplo, ao assumirem vários papéis ao longo
da sessão de treino, independentemente das suas funções em circunstâncias reais, ajuda a
compreender o papel e as funções que cada membro desempenha numa equipa.
A obstrução pode também ser causada por vómito ou sangue, devido a regurgitação de
conteúdo gástrico, trauma ou por corpos estranhos. A obstrução laríngea pode ser causada
por edema decorrente de queimaduras, inflamação ou anafilaxia.
65
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
comum, mas pode ser causada pelo excesso de secreções brônquicas, edema da mucosa,
broncospasmo, edema pulmonar ou aspiração do conteúdo gástrico.
Durante a respiração normal o abdómen é empurrado para fora à medida que o tórax
expande. Pelo contrário, se a via aérea está obstruída o abdómen é puxado para dentro
quando o tórax tenta expandir, durante a inspiração. Isto é frequentemente descrito como
“respiração tipo baloiço”. Se a via aérea está obstruída os músculos acessórios da respiração
são utilizados: os músculos do pescoço e dos ombros contraem para assistir os movimentos
da caixa torácica. Podem também estar presentes tiragem intercostal e subcostal. O
exame completo do pescoço, tórax e abdómen é necessário para distinguir entre estes
movimentos paradoxais e uma respiração normal; por vezes, é bastante difícil o diagnóstico
de obstrução completa da via aérea, devendo procurar a ausência de ruídos respiratórios.
Quando estiver a avaliar o fluxo de ar, lembrar que a respiração normal deve ser suave; a
respiração com obstrução completa será silenciosa; e a respiração ruidosa é indicativa de
obstrução parcial da via aérea. A menos que a obstrução seja resolvida de forma a permitir
uma ventilação adequada, em poucos minutos, verificar-se-á lesão neurológica e de outros
órgãos vitais conduzindo a paragem cardíaca.
66
À medida que a permeabilidade da via aérea melhora, os valores de saturação de oxigénio
no sangue serão restaurados mais rapidamente se a concentração de oxigénio inspirada
for inicialmente elevada. As concentrações inspiradas de oxigénio podem, então, ser
ajustadas para manter SaO2 a 94-98%.
4. Asfixia
sintomas que permitem distinguir entre obstrução ligeira e grave da via aérea estão
resumidos na tabela 5.1.
Tabela 5.1
Sinais de asfixia
• Sibilos respiratórios.
67
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
Figura 5.1
Algoritmo da asfixia no adulto
Avaliar a gravidade
68
5. Técnicas básicas para permeabilizar a via aérea
Depois de reconhecer a obstrução da via aérea, actuar de imediato para aliviar a obstrução
e manter a via aérea permeável. Três manobras que podem ser utilizadas para aliviar a
obstrução da via aérea são:
• extensão da cabeça
• elevação do queixo
• protrusão da mandíbula
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Figura 5.2
Extensão da cabeça e elevação do queixo
Figura 5.3
Quando existe o risco de lesão da coluna cervical permeabilizar a via aérea através de
protrusão da mandíbula ou elevação do queixo, associado a estabilização manual em linha
(EMEL) da cabeça e pescoço, com o auxílio de um ajudante. Se a obstrução potencialmente
fatal da via aérea persistir apesar da protrusão da mandíbula ou da elevação do queixo
serem feitas eficazmente, realizar a extensão da cabeça pouco a pouco até obter a
permeabilização; assegurar a permeabilidade da via aérea é prioritário quando comparado
com a preocupação relativa a possíveis lesões da coluna cervical.
70
6. Adjuvantes das técnicas básicas da via aérea
Os adjuvantes simples da via aérea são frequentemente úteis, e por vezes essenciais, na
manutenção da permeabilização da via aérea, particularmente quando a reanimação
é prolongada. Os tubos orofaríngeo e nasofaríngeo ultrapassam a obstrução gerada
pela queda posterior do palato mole e língua nos doentes inconscientes, mas pode ser
necessário realizar também a extensão da cabeça e protrusão da mandíbula.
Figura 5.4
Tubos orofaríngeo e nasofaríngeo
71
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
Figura 5.5
Estimar o tamanho de um tubo orofaríngeo
• Após a colocação, verificar a permeabilidade da via aérea pela técnica de ver, ouvir
e sentir, enquanto se mantém o alinhamento da cabeça e pescoço, com extensão da
cabeça, elevação do queixo ou protusão da mandíbula se necessário.
Figura 5.6
Inserção de tubo orofaríngeo
72
6.2. Tubo nasofaríngeo
O tubo nasofaríngeo é feito de um plástico maleável, biselado numa extremidade e
flangeado na outra (figura 5.4). Em doentes que não estão profundamente inconscientes,
este é melhor tolerado do que um tubo orofaríngeo. Pode salvar a vida a doentes com
maxilares bloqueados, trismo ou lesões maxilofaciais. Usar com precaução nos doentes
com suspeita de fractura da base do crânio e lembrar que a sua inserção frequentemente
causa sangramento nasal.
Figura 5.7
Inserção de tubo nasofaríngeo
73
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
7. Oxigénio
Na ausência de dados que indiquem a saturação arterial de oxigénio (SaO2) óptima durante
a RCP, ventilar os pulmões com oxigénio a 100% até a recuperação espontânea da circulação
ser alcançada. Após a RCE e em qualquer doente crítico ou inconsciente, administrar
oxigénio em elevados fluxos até que a SaO2 possa ser mensurável. Uma máscara de oxigénio
standard (máscara de Hudson) irá entregar mais de 50% de oxigénio inspirado se garantido
um fluxo de oxigénio elevado o suficiente. Inicialmente administrar a concentração de
oxigénio inspirado máxima possível – uma máscara com reservatório pode administrar uma
concentração inspirada de oxigénio de 85% com fluxos de 10-15 L/min.
8. Aspiração
Use uma sonda rígida de largo calibre (Yankauer) para remover o líquido (sangue, saliva
e conteúdo gástrico) da via aérea superior (figura 5.8). Tenha cuidado se o doente tiver
o reflexo de vómito intacto - a aspiração pode provocar vómitos. Sondas flexíveis de
aspiração de fino calibre podem ser usadas em doentes com abertura limitada da boca.
Estas podem também ser usadas através dos tubos oro ou nasofaríngeos. Certifique-se que
sabe como usar qualquer equipamento portátil de aspiração presente na sua área clínica.
Vómito espesso pode ser difícil de aspirar sem uma cânula de aspiração de grande calibre
e boa sucção. Grandes pedaços de alimentos podem ter que ser removidos com a mão ou
com uma pinça de Magill.
Figura 5.8
Aspiração
74
9. Ventilação
Os doentes em apneia ou com respiração inadequada necessitam de ventilação artificial.
A ventilação com ar expirado (respiração do reanimador) é eficaz mas a concentração
expirada do oxigénio é somente 16-17%; por isso, deve ser substituído o mais rapidamente
possível por ventilação com ar enriquecido com oxigénio. A ventilação boca-a-boca não
requer qualquer equipamento, mas é desagradável, particularmente quando há vómito ou
sangue. Existem adjuntos simples que evitam o contacto directo de pessoa com pessoa.
A máscara de bolso é vastamente utilizada. Esta é semelhante a uma máscara facial usada
na anestesia e permite a ventilação boca-a-boca. Tem uma válvula unidireccional, que
afasta do reanimador o ar expirado pelo doente. A máscara é transparente para que o
vómito e o sangue do doente possam ser vistos. Algumas máscaras têm uma entrada para
o oxigénio. Esta porta também tem uma válvula unidireccional simples para que não haja
fuga se o oxigénio não estiver conectado. Quando são utilizadas máscaras sem entrada
para oxigénio, pode ser administrado oxigénio suplementar através da colocação de um
tubo de oxigénio debaixo de um dos lados da máscara, desde que seja garantida uma
selagem adequada. A principal dificuldade é a manutenção da selagem entre a máscara e
a face, de modo que, a técnica de duas mãos é muito melhor.
Cada insuflação deve de ser feita durante 1 segundo, administrando um volume que
corresponde a um movimento torácico visível; isto significa um compromisso entre
administrar o volume adequado e minimizar o risco de distensão gástrica, garantindo
tempo suficiente para as compressões torácicas. Durante a RCP com via aérea não protegida,
devem fazer-se 2 insuflações após cada sequência de 30 compressões torácicas.
75
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
Quando é utilizado com uma máscara facial (figura 5.9) é difícil de obter uma boa selagem
entre a máscara e a face do doente e manter a permeabilidade da via aérea com uma mão,
enquanto a outra aperta o insuflador. É fácil hipoventilar o doente devido à existência de
fuga ou a demasiada pressão ao empurrar a máscara obstruindo a via aérea. A compressão
excessiva do insuflador quando usado com máscara facial pode insuflar o estômago,
diminuindo ainda mais a ventilação, aumentando o risco de regurgitação e aspiração.
É preferível que a ventilação com insuflador e máscara facial seja feita com dois reanimadores
(Figura 5.10). Um dos reanimadores fixa a máscara facial fazendo protrusão da mandíbula
com as duas mãos e um assistente comprime o insuflador. Assim, é possível obter melhor
selagem e os pulmões do doente podem ser ventilados com maior eficácia e segurança.
76
Figura 5.9
Ventilação máscara-insuflador
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Figura 5.10
Técnica com duas pessoas para ventilação máscara-insuflador
77
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
Figura 5.11
Máscara laríngea
78
10.1.1. Técnica para a inserção de uma máscara laríngea
• Tentar inserir a ML sem parar as compressões torácicas. Se necessário, tentar limitar
qualquer pausa nas compressões até um máximo de 5 segundos.
• Seleccionar uma ML com o tamanho apropriado. Para a maioria dos homens o
tamanho 5 é adequado, enquanto para a maioria das mulheres é o 4. Desinsuflar
o cuff completamente. Aplicar gel lubrificante na face externa do cuff (a parte que
não vai estar em contacto com a laringe).
• Segurar a ML como uma caneta, introduzindo-a na boca (figura 5.12). Avançar
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Figura 5.12
Inserção de uma máscara laríngea
79
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
Figura 5.13
Inserção de máscara laríngea – técnica com duas pessoas
80
10.2. Máscara laríngea i-gel
A i-gel tem um cuff constituído por um gel de elastómero termoplástico e não requer
insuflação. A estrutura da i-gel tem incorporado um bloqueador de mordedura e um canal
estreito para drenagem gástrica que permite a passagem de uma sonda nasogástrica
(figura 5.14). É fácil de inserir sem parar a RCP, exige apenas treino mínimo e promove uma
boa selagem laríngea (figura 5.14). A facilidade de inserção da i-gel e a sua favorável pressão
de escape tornam-na muito atractiva como um dispositivo de reanimação para quem não
tem experiência na intubação traqueal. O uso da i-gel durante a paragem cardíaca tem sido
relatado extensivamente quer ao nível intra como extra- hospitalar.
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81
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
Figura 5.14
Dispositivo supraglótico i-gel
Figura 5.15
Tubo laríngeo
82
10.3.1. Técnica de inserção de um tubo laríngeo (TL)
• Manter as compressões torácicas durante a tentativa de inserção; se necessário
parar as compressões torácicas durante a tentativa de inserção, limitando a pausa a
um máximo de 5 segundos.
• Seleccionar um TL do tamanho adequado ao doente e esvaziar completamente
o cuff. O tamanho 5 é o correcto para um doente >180 cm; o tamanho 4 é para
doentes com 155–180 cm e o 3 para doentes <155 cm. Lubrificar a extremidade do
TL com gel hidrossolúvel.
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10.3.2. Limitações do TL
• Quando existe resistência elevada das vias aéreas ou baixa compliance pulmonar
(edema pulmonar, broncospasmo, doença pulmonar obstrutiva crónica), existe
risco de fuga significativa em redor do cuff, o que provoca hipoventilação. A maior
parte do gás que escapa à volta do cuff sai geralmente pela boca do doente, mas
pode ocorrer alguma distensão gástrica.
• Não existem dados que demonstrem se é possível ou não a ventilação adequada
com TL sem interrupção das compressões torácicas. É provável que as compressões
torácicas contínuas causem, no mínimo, alguma fuga de gás durante a tentativa
de ventilação. Inicialmente tentar aplicar compressões contínuas, mas abandonar a
técnica se houverem fugas persistentes e hipoventilação.
83
Capítulo 5
Gestão da via aérea e ventilação
Quando perante uma emergência é importante saber se o doente tem uma via aérea
superior normal e um tubo de traqueostomia ou se realizou uma laringectomia:
• Alguns tubos traqueais podem ser desbloqueados removendo um tubo interno.
Caso contrário, se um tubo de traqueostomia estiver bloqueado, retirar e ventilar
os pulmões do doente selando o estoma (o orifício na frente do pescoço através
do qual a traqueostomia foi inserida). O doente normalmente terá uma via aérea
superior normal. Use as técnicas padrão de abordagem da via aérea e ventilação
descritas neste capítulo (por exemplo, ventilação com insuflador e máscara), com
o estoma ocluído por um penso hermético. Alternativamente, substitua o tubo de
traqueostomia, se treinado para isso.
• Uma laringectomia consiste num doente que removeu a sua laringe (caixa de voz),
geralmente, por cancro - em termos leigos, às vezes são referidos como “respiradores
de pescoço”. O doente respira através de um estoma traqueal (furo na frente do
pescoço). Nestes doentes administrar oxigénio e, se necessário, auxiliar a ventilação
através do estoma e não da boca. Isso pode ser feito boca-estoma, segurando uma
pequena máscara facial sobre o estoma ou inserindo um tubo traqueal no estoma,
dependendo das competências do profissional de saúde.
84
PONTOS-CHAVE DE APRENDIZAGEM
• A
gestão da via aérea e ventilação são partes essenciais da reanimação
cardiopulmonar.
• A
obstrução da via aérea geralmente pode ser resolvida com manobras de
permeabilização simples.
• A
djuntos da via aérea simples tornam a abordagem da via aérea mais efectiva
e aceitável.
• Q
uando não existem profissionais com competência para intubação traqueal o
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LEITURA ADICIONAL
• Soar J, Nolan JP, Bottiger BW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation
2015 Section 3 Adult Advanced Life Support. Resuscitation 2015:95:99-146.
• Soar J, Callaway CW, Aibiki M, et al. Part 4: Advanced life support: 2015 International Consensus on
Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment
Recommendations. Resuscitation 2015;95:e71-e122.
• Soar J, Nolan JP. Airway management in cardiopulmonary resuscitation. Curr Opin Crit Care
2013;19:181-7.
85
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86
Gestão da via aérea e ventilação
Capítulo 5
Capítulo 6.
Ritmos de paragem cardíaca –
Monitorização e reconhecimento
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OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender:
• as razões para monitorização do ECG
• como monitorizar o ECG
• como reconhecer ritmos cardíacos associados a paragem cardíaca
1. Introdução
A monitorização do ECG permite a identificação do ritmo cardíaco em doentes em
paragem cardíaca.
87
Capítulo 6
Ritmos de paragem cardíaca – Monitorização e reconhecimento
Pode ser difícil diagnosticar de forma fidedigna um ritmo peri-paragem. Mesmo assim,
seguindo regras simples, qualquer arritmia é reconhecida facilmente como um ritmo
anormal, permitindo avaliar o efeito da mesma no estado clínico do doente, de forma a
seleccionar o tratamento mais apropriado. Por exemplo, a classificação electrocardiográfica
precisa duma bradicardia é habitualmente menos importante do que o reconhecimento
que aquela frequência cardíaca inapropriada para aquele doente, sendo necessário
iniciar tratamento com atropina ou pacing cardíaco. É igualmente importante avaliar o
impacto hemodinâmico duma taquicardia. Em muitas situações, o tratamento preciso
duma taquicardia e a urgência do mesmo, depende sobretudo do efeito da arritmia no
débito cardíaco. Por sua vez, este depende da função cardíaca do doente; a mesma arritmia
2. Monitorização ECG
A maioria das derivações têm códigos de cores para auxiliar à colocação correcta. O
esquema habitual (figura 6.1) usa vermelho para a derivação do braço direito (Red to the
Right), amarelo para a derivação do braço esquerdo (Yellow to Left), e verde para a derivação
da perna, aplicado abaixo do músculo peitoral ou na região superior do abdómen (Green
for Spleen). A colocação dos eléctrodos nas superfícies ósseas em vez dos músculos reduz
a interferência eléctrica. Deixar o pré-cordio livre para as compressões e desfibrilhação. Se
possível, depilar as áreas onde os eléctrodos são colocados e limpar a pele com álcool para
retirar a oleosidade. A maioria dos eléctrodos adesivos incluem um gel condutor eléctrico
para permitir um melhor contacto.
Alguns eléctrodos têm uma superfície rugosa no invólucro para raspar a pele suavemente
antes da colocação do eléctrodo, melhorando o contacto. Em doentes colaborantes, reduzir
os artefactos de movimento mantendo-os quentes e calmos.
88
Figura 6.1
Posição dos eléctrodos de ECG
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Figura 6.2
Placas desfibrilhadoras
89
Capítulo 6
Ritmos de paragem cardíaca – Monitorização e reconhecimento
Divisão posterior
Nó sinoauricular
Nó
auriculoventricular
Feixe de His
Ramo direito
Ramo esquerdo
Divisão anterior
90
A despolarização dos ventrículos é vista no ECG sob a forma do complexo QRS. A sequência
normal da despolarização cardíaca descrita acima é conhecida como ritmo sinusal. A onda
T que segue o complexo QRS representa a repolarização ventricular.
A FV é por vezes classificada como normal ou fina dependendo da amplitude (altura) dos
complexos. Se houver dúvida se o ritmo é assistolia ou FV muito fina, não tentar desfibrilhar;
em vez disso, continuar compressões torácicas e ventilação. A FV muito fina que é difícil
de distinguir da assistolia habitualmente não é revertida com sucesso para um ritmo de 6
perfusão. A continuação de RCP de qualidade pode melhorar a amplitude e frequência
da FV e aumentar a probabilidade duma desfibrilhação bem-sucedida para um ritmo de
perfusão. Se o ritmo for claramente FV, deve-se tentar desfibrilhação.
Figura 6.5
Fibrilhação ventricular (FV)
91
Capítulo 6
Ritmos de paragem cardíaca – Monitorização e reconhecimento
Figura 6.6
Taquicardia ventricular (TV)
Sempre que se suspeitar de assistolia, deve-se verificar que o ganho do monitor está bem
colocado (1mV cm-1) e que as derivações estão correctamente conectadas. Se o monitor
tiver essa opção, deve-se mudar para outra derivação.
A actividade auricular, isto é, as ondas P, podem continuar por um curto período após
o início da assistolia ventricular: vão existir ondas P no ECG mas nenhuma evidência de
despolarização ventricular (figura 6.8). Estes doentes podem ser elegíveis para “pacing”
cardíaco.
Figura 6.7
Assistolia
92
Figura 6.8
Assistolia com ondas P
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4.4.1. Bradicardia
O tratamento da bradicardia (menos de 60 batimentos por minuto) depende das suas
consequências hemodinâmicas. Bradicardia pode significar uma paragem cardíaca iminente.
PONTOS-CHAVE DE APRENDIZAGEM
• Monitorizar o ECG em todos os doentes em paragem cardíaca.
• O
s desfibrilhadores automáticos externos (DAE’s) vão reconhecer os ritmos
desfibrilháveis (FV/TV) e aconselhar um choque.
93
Capítulo 6
Ritmos de paragem cardíaca – Monitorização e reconhecimento
5. Tiras de ritmo
Tira de ritmo 1
Ritmo sinusal normal
Tira de ritmo 3
Fibrilhação ventricular fina
Tira de ritmo 4
Taquicardia ventricular
Tira de ritmo 5
Assistolia
94
Tira de ritmo 6
Assistolia com ondas P
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Tira de ritmo 7
Bradicardia sinusal
Tira de ritmo 8
Ritmo agónico
95
Capítulo 6
Ritmos de paragem cardíaca – Monitorização e reconhecimento
LEITURAS ADICIONAIS
• Soar J, Nolan JP, Bottiger BW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2015
Section 3 Adult Advanced Life Support. Resuscitation 2015:95:99-146.
• Perkins GD, Roberts C, Gao F. Delays in defibrillation: influence of different monitoring techniques.
British journal of anaesthesia 2002;89:405-8.
96
Capítulo 7.
Desfibrilhação
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OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender:
• o mecanismo da desfibrilhação
• os factores que afectam o sucesso da desfibrilhação
• c omo aplicar um choque em segurança com um desfibrilhador automático
externo (DAE)
• como aplicar um choque em segurança com um desfibrilhador manual
• a importância de minimizar as interrupções das compressões torácicas
durante a desfibrilhação
1. Introdução
Quando ocorre uma fibrilhação ventricular ou uma taquicardia ventricular sem pulso (FV/
TVsP), o débito cardíaco cessa e no espaço de 3 minutos inicia-se a lesão cerebral hipóxica.
Para haver recuperação neurológica completa é essencial a desfibrilhação precoce bem-
sucedida, com restabelecimento de circulação espontânea. Quanto menor o intervalo
entre o início da FV/TVsP e a administração do choque, maior a probabilidade de
desfibrilhação com sucesso e de sobrevivência.
97
Capítulo 7
Desfibrilhação
leader. Estes dois factores vão maximizar a probabilidade de reanimação com sucesso.
Caso demore a chegada do desfibrilhador, enquanto este é conectado, devem iniciar-se
imediatamente as compressões torácicas e as ventilações.
A utilização de dispositivos de RCP com “feedback” ou avisos apenas deve ser considerada
como parte de um sistema de cuidados alargados que incluam iniciativas para melhorar a
Se o ritmo não for reconhecido com confiança, deve ser utilizado um DAE (ou um
desfibrilhador com modo DAE). Ligar o DAE e seguir os avisos verbais e visuais.
2. Mecanismo de desfibrilhação
A desfibrilhação é definida como o término da fibrilhação ou, mais precisamente, a ausência
de FV/TVsP após cinco segundos da aplicação do choque. Para que isto aconteça, uma
corrente eléctrica atravessa o miocárdio para uma despolarização síncrona da massa crítica
do músculo cardíaco, que permite que o tecido de condução cardíaca retome o controlo
sincronizado. Para obter isto, todos os desfibrilhadores têm: uma fonte de energia capaz de
disponibilizar corrente directa; um acumulador que possa ser carregado até um nível de
energia predeterminado; e dois eléctrodos de desfibrilhação que são colocados no tórax
do doente, através dos quais o acumulador é descarregado.
Para uma desfibrilhação com sucesso é necessário que a quantidade de corrente (medida
em amperes) aplicada ao miocárdio seja suficiente. No entanto, é difícil determinar o nível
óptimo de energia necessário, já que este depende de alguns factores como a configuração
da onda bifásica, impedância transtorácica, a posição dos eléctrodos e a perda de corrente
eléctrica do tórax até ao coração. É estimado que apenas 4% da corrente atinge o coração.
98
A presença de medicamentos transdérmicos no tórax do doente pode impedir bom
contacto e provocar arcos voltaicos e queimaduras se os eléctrodos auto-adesivos forem
colocados sobre os transdérmicos: deve-se remover e secar a zona antes de aplicar os
eléctrodos e tentar desfibrilhar. Os eléctrodos não devem ser colocados sobre os geradores
de pacemaker, CDI’s (cardioversor/desfibrilhador implantável) ou outros dispositivos
implantados. Cuidado com as cicatrizes! (ver capítulo 7.7.)
Figura 7.1
Posição das placas para desfibrilhação
A desfibrilhação deve ser feita assim que possível e já não é recomendado um período
específico de RCP (por exemplo 2-3 min) antes da análise de ritmo e da aplicação do choque.
No que respeita ao algoritmo de SAV, estes 3 choques sucessivos, devem ser vistos como o
primeiro choque.
100
Esta estratégia dos três choques pode também ser considerada para uma paragem
cardíaca em FV/TVsP presenciada se o doente já estiver ligado a um desfibrilhador manual,
isto é, se o doente já tiver as placas colocadas – por exemplo, durante a transferência dum
doente instável, de elevado risco.
Se estiver a usar um DAE, não é necessário escolher a energia do choque porque o DAE
selecciona automaticamente. É apenas necessário seguir as indicações do DAE.
Com a desfibrilhação manual, é possível manter a RCP durante a carga diminuindo assim a
pausa pré-choque (o intervalo entre a paragem das compressões e a aplicação do choque)
para <5 s.
7
Na desfibrilhação manual, todo o processo de suspender as compressões torácicas,
afastar-se, aplicar o choque e reiniciar imediatamente as compressões torácicas, deve ser
feito em menos de 5 segundos. Uma verificação de segurança lenta da “cabeça aos pés”
(por exemplo; “afastar da cabeça, tronco, pés, o próprio, oxigénio”) após o desfibrilhador
ser carregado e antes da administração do choque, como frequentemente ensinado e
utilizado na prática clínica, diminui significativamente a probabilidade de desfibrilhação
eficaz.
101
Capítulo 7
Desfibrilhação
4. Segurança
Não administrar o choque se alguém estiver a tocar no doente. Não se deve tocar nos
sistemas de perfusão intravenosa ou na maca do doente durante a aplicação do choque.
O reanimador deve assegurar-se que todos estão afastados do doente antes de aplicar o
choque. Secar água ou fluídos do tórax do doente antes da desfibrilhação. Usar luvas, uma
vez que estas podem oferecer alguma protecção limitada de um choque acidental.
102
Figura 7.2
Desfibrilhador automático externo (DAE)
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O treino para a utilização de DAE é muito mais fácil e rápido do que para o uso dos
desfibrilhadores manuais. Os equipamentos automáticos permitiram disponibilizar a prática
de desfibrilhação a uma variedade muito maior de médicos, enfermeiros, paramédicos
e leigos (por exemplo polícias e prestadores de primeiros socorros – “desfibrilhação do
elemento de primeira resposta”). Os profissionais de saúde envolvidos na RCP devem
estar treinados, equipados e autorizados a desfibrilhar. A tentativa de desfibrilhação pelo
elemento de primeira resposta é vital, já que o atraso na aplicação do primeiro choque é o
principal determinante de sobrevivência na paragem cardíaca.
103
Capítulo 7
Desfibrilhação
A colocação de DAE’s em locais onde é expectável que ocorra uma paragem cardíaca a cada
5 anos é custo-efectivo e comparável a outras intervenções médicas.
104
6. Continuar a seguir as instruções do DAE até que:
-- Chegue ajuda qualificada (por exemplo ambulância ou equipa de
reanimação) e assuma o comando
ou
-- A vítima comece a acordar, isto é, se movimente, abra os olhos ou respire
normalmente
ou
-- Fique exausto.
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Figura 7.3a
Colocação das placas de desfibrilhação durante as compressões torácicas
Figura 7.3b
Toda a gente se afasta enquanto o DAE verifica o ritmo
105
Capítulo 7
Desfibrilhação
Figura 7.3c
Administração de choque quando recomendado pelo DAE
Figura 7.3d
Recomeçar compressões torácicas
106
5.5. O algoritmo de DAE
O algoritmo de DAE encontra-se ilustrado na figura 7.4. É baseado em reanimadores leigos
da comunidade. Dependendo do treino e dos protocolos locais, além do uso do DAE, os
profissionais de saúde devem considerar:
• Verificar pulso e sinais de vida para diagnóstico de paragem cardíaca.
• Chamar a equipa de reanimação após paragem cardíaca intra-hospitalar.
• Reconhecer e tratar as causas reversíveis de paragem cardíaca.
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6. Desfibrilhação manual
Os desfibrilhadores manuais apresentam algumas vantagens relativamente aos DAE’s.
Permitem ao reanimador o diagnóstico do ritmo e administração de choque rapidamente
sem ter de esperar pela análise do ritmo.
1. Confirmar a paragem cardíaca (não mais de 10s) – procurar sinais de vida ou, na
presença de treino adequado, avaliar a respiração e o pulso em simultâneo.
2. Chamar a equipa de reanimação.
3. Efectuar compressões torácicas ininterruptas enquanto se aplicam as placas auto- 7
adesivas de desfibrilhação/monitorização (figura 7.5) – uma abaixo da clavícula direita
e a outra na posição V6, na linha axilar média.
4. Planear os procedimentos antes de parar a RCP para analisar o ritmo. Verificar que
toda a equipa percebeu o plano antes de parar compressões torácicas.
5. Parar as compressões torácicas; confirmar FV no ECG.
6. Retomar compressões torácicas de imediato; simultaneamente, a pessoa designada
selecciona a energia apropriada no desfibrilhador e carrega no botão de carga (figura 7.6).
7. Enquanto o desfibrilhador carrega, avisar todos os reanimadores para se afastarem,
com excepção do que se encontra a fazer as compressões torácicas, e retirar quaisquer
fontes de oxigénio.
107
Capítulo 7
Desfibrilhação
8. Logo que o desfibrilhador esteja carregado, avisar o reanimador que está a efectuar as
compressões torácicas para se afastar e, assim que ele o faça, aplicar o choque.
9. Sem reavaliar o ritmo ou pesquisar o pulso, reiniciar o SBV numa relação 30:2,
começando com compressões torácicas.
10. Continuar a RCP durante 2 min; o líder de equipa prepara a pausa seguinte na RCP.
Certificar-se que existe um plano antes de parar as compressões.
11. Fazer uma breve pausa para verificar o monitor.
12. Em caso de FV/TVsP, repetir os passos 6-11 descritos acima e aplicar um segundo
108
Figura 7.4
Algoritmo de DAE
Sem resposta?
Pedir ajuda
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O DAE
avalia
o ritmo
1 choque
7
109
Capítulo 7
Desfibrilhação
Figura 7.5
Aplicação de placas auto-adesivas de desfibrilhação
Figura 7.6
Carregar o desfibrilhador manual durante as compressões torácicas
110
7. Cardioversão sincronizada
Quando é necessária a cardioversão eléctrica na conversão de taquiarritmias auriculares ou
ventriculares, o choque tem de ser sincronizado para ocorrer com a onda R (e não a T) do
electrocardiograma. O risco de induzir FV é menor quando se evita o período refractário
relativo. A maioria dos desfibrilhadores manuais tem um botão que permite que o choque
seja activado pela onda R do electrocardiograma.
Os eléctrodos são aplicados na parede torácica e a cardioversão é feita nos mesmos moldes
da desfibrilhação, mas o reanimador deve antecipar um ligeiro atraso entre carregar no
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Relatos recentes descrevem casos de reanimadores que receberam choques de CDI quando
estavam em contacto com o doente durante a RCP. É especialmente importante usar luvas e
evitar o contacto com a pele do doente durante a RCP, já que não há qualquer aviso antes do
CDI descarregar. 7
PONTOS-CHAVE DE APRENDIZAGEM
• N
o doente com FV a desfibrilhação precoce é a única forma eficaz de
restabelecer circulação espontânea.
• Ao usar um desfibrilhador, minimizar as interrupções das compressões torácicas.
• U
tilizar um DAE se não houver prática no reconhecimento dos ritmos ou na
desfibrilhação manual.
111
Capítulo 7
Desfibrilhação
LEITURA ADICIONAL
• Perkins GD, Handley AJ, Koster KW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation
2015 Section 2 Adult basic life support and automated external defibrillation. Resuscitation 2015.
• Soar J, Callaway CW, Aibiki M, et al. Part 4: Advanced life support: 2015 International Consensus
on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment
Recommendations. Resuscitation 2015;95:e71-e122.
• Soar J, Nolan JP, Böttiger BW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2015.
Section 3. Adult Advanced Life Support. Resuscitation 2015:95:99-146.
112
Capítulo 8.
Cuidados pós-reanimação
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OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender:
• a necessidade de continuar a reanimação após o restabelecimento de
circulação espontânea
• como tratar a síndrome pós-paragem cardíaca
• como simplificar a transferência de doentes em segurança
• o papel e as limitações da avaliação do prognóstico após paragem cardíaca (PCR)
1. Introdução
O sucesso com as manobras de suporte imediato de vida (SIV) pode ocorrer antes da
chegada de ajuda diferenciada. O restabelecimento de circulação espontânea (RCE) é o
primeiro passo importante, mas o objectivo final da Reanimação é o retorno do doente
a um estado de função cerebral normal, restabelecer e manter ritmo cardíaco estável e
função hemodinâmica normal. A qualidade do tratamento que recebem neste período
pós-reanimação – o elo final da cadeia de sobrevivência - influencia significativamente o
prognóstico final. A fase pós-reanimação começa no local onde se consegue o RCE, mas,
depois de estabilizado, o doente transfere-se para a área de cuidados diferenciados mais
adequada, por exemplo, Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), Unidade de Cuidados
coronários (UCC), para continuar o tratamento. São necessários cuidados pós reanimação
diferenciados para os sobreviventes de PCR.
113
Capítulo 8
Cuidados pós-reanimação
Outros doentes, mesmo após reanimação rápida e com sucesso podem não ter uma
recuperação neurológica imediata. Tanto a hipóxia como a hipercápnia aumentam
a probabilidade de nova paragem cardíaca e podem contribuir para a lesão cerebral
secundária. A evidência mostra que a hipóxia é deletéria após enfarte agudo do miocárdio e
pode aumentar a lesão neurológica após paragem cardíaca, pelo que, assim que se consiga
monitorizar a saturação arterial de oxigénio de forma fiável (através de oximetria de pulso
e/ou gasimetria do sangue arterial), deve-se titular a concentração de oxigénio para manter
a saturação no intervalo 94-98%.
Evitar a hipoxemia que também é prejudicial – garantir que se tem uma medição fidedigna
da pressão arterial de oxigénio antes de diminuir a concentração inspiratória de oxigénio.
Examinar o tórax do doente e verificar que os movimentos torácicos são simétricos. Ouvir
e confirmar que os sons respiratórios são simétricos. Um tubo traqueal que tenha sido
inserido em demasia em situações de emergência tende a ir para o brônquio principal
direito, falhando na ventilação do pulmão esquerdo. Se ocorrer durante a compressão
torácica fractura de costelas pode haver um pneumotórax (diminuição ou ausência de
114
sons respiratórios) ou “volet” costal. Procurar/excluir evidência de edema pulmonar ou
aspiração de conteúdo gástrico. Inserir a sonda nasogástrica para descompressão gástrica
após ventilação boca a boca ou com insuflador com máscara, prevenindo a compressão do
diafragma e permitindo a drenagem do conteúdo gástrico.
Figura 8.1
A abordagem ABCDE nos cuidados pós-reanimação
3.2. Circulação
Objectivo: manter ritmo sinusal normal e adequado débito cardíaco para adequada
perfusão dos órgãos vitais.
O ritmo cardíaco e função hemodinâmica são susceptíveis de estar instáveis após PCR. A
monitorização contínua do ECG é essencial. O registo de pulso, pressão arterial e avaliação
da perfusão periférica: extremidades quentes e rosadas com tempo de preenchimento
capilar inferior a 2 segundos implica perfusão adequada. O engurgitamento das veias
do pescoço nos doentes a 45 graus pode indiciar disfunção ventricular direita, mas em
alguns casos raros, pode indicar tamponamento cardíaco. Pode-se suspeitar de disfunção 8
ventricular esquerda na presença de crepitações inspiratórias na auscultação pulmonar
e expectoração rosada. A fluidoterapia pode ser necessária para aumentar a pressão de
preenchimento cardíaco direito ou pelo contrário, diuréticos e vasodilatadores podem ser
necessários para tratar falência ventricular esquerda.
Deve-se fazer um ECG de 12 derivações o mais cedo possível. Elevação aguda do segmento
ST ou bloqueio ramo esquerdo de novo, num doente com história típica de Enfarte Agudo
115
Capítulo 8
Cuidados pós-reanimação
do Miocárdio (EAM) é indicação para terapêutica de reperfusão quer seja com terapêutica
trombolítica, quer por intervenção coronária percutânea emergente (ICP). A ICP primária
é o tratamento de eleição para o EAMcomST se executada por equipas com experiência e
dentro dos tempos alvo.
Nos doentes pós PCR, dor torácica e elevação do segmento ST são fracos preditores de
oclusão coronária aguda; por esse motivo, ICP deve ser equacionada em todos os doentes
pós PCR e suspeita de doença arterial coronária como causa de paragem, mesmo se sedado
e ventilado. Vários estudos mostraram que a combinação de hipotermia (ver abaixo) e ICP é
possível e segura após PCR causada por EAM.
Apesar da paragem cardíaca ser frequentemente causada por doença cardíaca primária,
devem ser excluídas outras causas precipitantes, especialmente em doentes internados
(por exemplo hemorragia maciça, insuficiência respiratória, embolia pulmonar). Devem
avaliar-se os outros sistemas orgânicos rapidamente, para que os cuidados pós-reanimação
possam ser dirigidos às necessidades do doente. Para examinar convenientemente o
doente, poderá ser necessário despi-lo totalmente.
Mesmo que não tenha implicações imediatas para o tratamento do doente, deve avaliar-se
rapidamente o seu estado neurológico e registar o valor da escala de coma de Glasgow
(tabela 8.1). A máxima pontuação possível é 15 e a mínima é 3.
116
Tabela 8.1
Pontuação da escala de Coma Glasgow
Verbal Orientada 5
Confusa 4
Palavras inadequadas 3
Sons incompreensíveis 2
Sem resposta 1
4. Avaliação adicional
4.1. História
Objectivos: avaliar o estado de saúde e uso regular de fármacos prévios à PCR.
Obter uma história adequada tão brevemente quanto possível. Os intervenientes nos
cuidados do doente imediatamente antes da paragem cardíaca podem ser uma ajuda
(por exemplo operacionais de emergência pré-hospitalar, médico de família e familiares).
Nomeadamente, devem ser averiguados sintomas de doença cardíaca. Considerar outras 8
causas de paragem cardíaca, se os dados forem pouco sugestivos de causa cardíaca
primária (por exemplo: sobredosagem de fármacos, hemorragia subaracnoídea).
117
Capítulo 8
Cuidados pós-reanimação
A reserva fisiológica basal do doente (antes da paragem cardíaca) é um dos factores mais
importantes a ter em conta pela equipa da UCI quando determina se é apropriado suporte
multiorgânico prolongado.
4.2. Monitorização
Objectivos: avaliação contínua da função dos órgãos vitais e identificar tendências.
4.3. Investigação:
Inúmeras variáveis fisiológicas podem estar alteradas imediatamente após a paragem
cardíaca e devem ser efectuados exames de diagnóstico bioquímicos e cardiológicos
urgentes (tabela 8.2).
118
Tabela 8.2
Exames após o restabelecimento da circulação
Hemograma completo
Para excluir a anemia como agravante de isquemia do miocárdio e para estabelecer valores basais.
Bioquímica
ECG de 12 derivações
Radiografia do tórax
Para estabelecer a posição de tubo traqueal, gástrico e/ou de um cateter venoso central
Para procurar evidência de edema pulmonar
Para procurar evidência de aspiração pulmonar
Para excluir pneumotórax
Para detectar sequelas imprevistas da RCP (por exemplo: fractura esternal ou das costelas)
Para avaliar a silhueta cardíaca (a avaliação rigorosa do tamanho do coração exige uma
radiografia padronizada PA em pé – nem sempre praticável em situações pós-reanimação)
Gasimetria
Ecocardiografia
119
Capítulo 8
Cuidados pós-reanimação
5. Transferência do doente
Objectivos: transferência segura do doente entre o local da reanimação e o local
onde vai receber cuidados finais.
Na ausência de dados definitivos que definam um valor objectivo para a pressão arterial,
o alvo da pressão arterial média é conseguir um débito urinário adequado (1ml/Kg/h) e
valores de lactatos normais ou a descer, tendo em consideração os valores habituais do
doente, a causa de paragem e gravidade da disfunção miocárdica.
120
Referenciar a cardiologista com experiência em arritmologia antes da alta.
isso, deve manter-se a pressão arterial média próxima do nível que é normal para o doente.
121
Capítulo 8
Cuidados pós-reanimação
• Como arrefecer?
Controlo de Temperatura TTM está dividido em 3 fases: Indução, Manutenção e
Reaquecimento. Técnicas de arrefecimento internas e /ou externas podem ser usadas para
iniciar ou manter a TTM.
• Contra-indicações a hipotermia:
Reconhecidas contra-indicações gerais para o controlo de temperatura incluem:
• infecção sistémica grave e coagulopatia preexistente (a terapêutica fibrinolítica não
é uma contra-indicações para hipotermia ligeira induzida).
7. Avaliação de prognóstico
2/3 dos doentes que morrem após admissão nas UCI, no pós PCR extra-hospitalar, morrem
por lesão cerebral. 1/4 dos doentes que morrem após admissão nas UCI, no pós PCR intra-
hospitalar, morrem por lesão cerebral. É necessária uma forma de prever o prognóstico
neurológico que possa ser aplicada individualmente a todos os doentes imediatamente
após RCE. Qualquer teste de prognóstico deve ter uma especificidade de 100% ou zero taxa
de falso positivo, ou seja, nenhum indivíduo deve ter um bom resultado a longo prazo se
previsto ter um mau resultado.
122
Não existem sinais clínicos neurológicos que prevejam resultados desfavoráveis
(incapacidade cerebral grave ou morte) nas primeiras 24 horas após a paragem cardíaca.
Em doentes adultos, após paragem cardíaca, que não tenham sido tratados com
hipotermia e que não tenham fatores confundidores (tais como hipotensão, sedativos ou
relaxantes musculares), a ausência de reflexo pupilar e reflexo corneano em mais de 72
horas é preditivo de mau prognóstico.
Testes electrofisiológicos também podem ser úteis. Dada a limitada evidência disponível,
as decisões de limitar os cuidados não devem basear-se nos resultados de um único
método de avaliação.
8. Doação de órgãos
Doentes de PCR que não sobrevivem devem ser considerados potenciais dadores de
órgãos, seja após morte cerebral, quer nos dadores de coração parado.
PONTOS-CHAVE DE APRENDIZAGEM
• A
pós uma paragem cardíaca, o retorno da circulação espontânea é só a
primeira etapa no contínuo da reanimação.
• A
qualidade dos cuidados pós-reanimação vai influenciar significativamente o
prognóstico final do doente.
• E stes doentes exigem monitorização adequada, transferência segura para
unidades de cuidados intensivos e suporte continuado de órgãos.
• A
nossa capacidade para prever o prognóstico neurológico final dos doentes
que permanecem em coma após reanimação cardiopulmonar continua a ser
muito deficiente.
8
LEITURA ADICIONAL
• Soar J, Nolan JP, Bottiger BW, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation
2015 Section 3 Adult Advanced Life Support. Resuscitation 2015:95:99-146.
• Nolan JP, Soar J, Cariou A, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2015.
Section 5. Post resuscitation care. Resuscitation 2015.
123
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124
Cuidados pós-reanimação
Capítulo 8
APÊNDICE 1.
Oximetria de pulso e
Oxigenoterapia
1. Introdução
A oximetria de pulso é usada para avaliar a saturação arterial de oxigénio. Sem a oximetria
de pulso pode não ser possível detectar a diminuição da saturação arterial de oxigénio até
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A oximetria de pulso é simples de usar, relativamente barata, não invasiva e permite uma
determinação objectiva e imediata da saturação de oxigénio do sangue arterial.
A maioria dos oxímetros de pulso possui um tom audível relacionado com a SpO2,
diminuindo a medida que aumenta a hipoxemia. A frequência de pulso é habitualmente
também apresentada. Um sinal fraco indica pressão arterial baixa ou má perfusão tecidular
- deve reavaliar-se o doente.
As leituras da oximetria de pulso não devem ser usadas de forma isolada: é vital interpretá-
las à luz do contexto clínico e de outros dados clínicos, bem como, de fontes potenciais de
erro.
A oximetria de pulso fornece apenas uma medida da saturação de oxigénio, não do seu
conteúdo em oxigénio, e como tal não permite uma indicação exacta da verdadeira
oxigenação tecidular. Além disso não fornece informação relativa à adequação da
ventilação. Um doente pode estar a respirar de forma inadequada e ter um teor elevado
de dióxido de carbono apesar de uma saturação de oxigénio normal. Nos doentes críticos
é necessária uma gasimetria para avaliar a oxigenação e a ventilação.
1.1. Limitações
A relação entre a saturação de oxigénio e a pressão parcial de oxigénio arterial (PaO2) é
demonstrada pela curva de dissociação da oxihemoglobina. (Figura A.1). A forma sinusóide
da curva significa que uma diminuição inicial a partir da PaO2 normal não se acompanha de
uma queda de magnitude semelhante da saturação de oxigénio do sangue, mascarando
APÊNDICE
uma hipoxemia em início. No ponto em que a SpO2 atinge 90-92% a PaO2 terá diminuído
para cerca de 60 mmHg. Por outras palavras, o sangue arterial terá diminuído em quase
50% do seu conteúdo em oxigénio apesar de uma redução na saturação de oxigénio de
apenas 6-8%.
125
Apêndice 1
Oximetria de pulso e Oxigenoterapia
Figura A.1
Curva de Dissociação da Oxihemoglobina
126
-- Vasoconstrição
-- Hipotermia
Os oxímetros de pulso não são afectados por:
• Anemia (hemoglobina baixa)
• Icterícia (hiperbilirrubinemia)
• Pigmentação da pele (foram observadas leituras de oximetria imprecisas em
pacientes pigmentados. Em pacientes críticos, observou-se um viés de mais de 4%,
com maior frequência em pacientes de raça negra (27%) do que em brancos (11%)
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1.2. Indicações
A oximetria de pulso tem quatro principais indicações:
1. Detecção/ rastreio de hipoxemia;
2. Titulação de terapia com oxigénio;
3. Monitorização de rotina durante anestesia;
4. Diagnóstico (por exemplo, apneia do sono).
• Tipo I: PaO2 baixa (<60 mmHg), e PaCO2 normal (< 45-52 mmHg). Nestes doentes
é seguro administrar desde o início uma elevada concentração de oxigénio com o
127
Apêndice 1
Oximetria de pulso e Oxigenoterapia
LEITURA ADICIONAL
• O’Driscoll BR, Howard LS, Davison AG. BTS guideline for emergency oxygen use in adult patients.
Thorax 2008;63 Suppl 6:vi1-68.
• Jubran A, Intensive Care Medicine 2004, 30:2017-20
128
APÊNDICE 2.
Fármacos no tratamento da
paragem cardíaca
Fármaco Ritmos Desfibrilháveis Ritmos Não Desfibrilháveis
(FV/TVsP) (AEsP/Assistolia)
Adrenalina • Dose: 1 mg (10 mL 1:10.000 ou 1 • D
ose: 1 mg (10 mL 1:10.000 or
mL 1:1.000) IV 1 mL 1:1.000) IV
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Fármaco Ritmos Desfibrilháveis Ritmos Não Desfibrilháveis
(FV/TVsP) (AEsP/Assistolia)
Fluídos Na suspeita de hipovolemia, infundir fluídos rapidamente. Não há evidência
clara para o uso de colóides durante a reanimação, por isso deve usar-se
cloreto de sódio a 0,9% ou solução de Hartmann. Evitar a administração de
dextrose, que se redistribui rapidamente para fora do espaço intravascular
provocando hiperglicemia que, por sua vez, piora o resultado neurológico
após a paragem cardíaca.
Trombolíticos • Tenecteplase 500-600 mcg/kg bólus IV
APÊNDICE
131
Apêndice 3
Websites uteis
APÊNDICE 3.
Websites úteis
www.erc.edu European Resuscitation Council
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133
Notas pessoais
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Contactos
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Emile Vanderveldelaan 35 - 2845 Niel - Belgium
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