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O ENVELHECIMENTO NATURAL:

Nada mais óbvio que o envelhecimento. E, no entanto, nada mais inadmissível que o
envelhecimento. Todos os dias novas clínicas de estética inauguram procedimentos
revolucionários, empresas de cosméticos criam mais um anti-idade inovador, mais
uma tinta que melhor esconde os fios brancos, cirurgiões plásticos discutem novas
intervenções que nos pouparão de mostrar qualquer sinal da passagem do tempo. As
rugas, as manchas, a falta de firmeza da pele… tudo deve ser combatido, eliminado ou,
no mínimo, atrasado ao máximo. É inaceitável envelhecer, graças à marcha da
sociedade diante de súplicas do tempo, e a teimosia da natureza, é exatamente isso
que fazemos. Nunca se envelheceu tanto e se envelhece cada vez mais.

O envelhecimento da população já é uma realidade. Contudo, apesar dos esforços de


especialistas em sugerir novas formas de encarar a velhice e o envelhecimento,
inúmeros tabus, preconceitos e dificuldades ainda privam pessoas idosas de dar real
significado à passagem do tempo. Envelhecer é um êxito, um fenômeno da ciência.
Nunca na história tivemos expectativas de vida tão longevas. Porém, o que deveria ser
celebrado como uma conquista da humanidade, torna-se um fardo. Um fardo
compartilhado por cada vez mais pessoas, cabe dizer. 

AS VELHICES LGBTQIA+

De acordo com a população total de idosos, é possível supor que haverá também um
aumento gradual na proporção de idosos LGBTQIA+, Contudo, o estudo sobre essa
população demorou para conquistar o interesse dos pesquisadores. Para o
antropólogo Carlos Henning, no artigo “Gerontologia LGBT: velhice, gênero,
sexualidade e a constituição dos ‘idosos LGBT’”, o campo da gerontologia social,
durante um longo período, voltou suas atenções para sujeitos heterossexuais, brancos,
de classe média e com níveis escolares mais altos. Era o aposentado, do sexo
masculino, heterossexual e cisgênero que caracterizava o idoso ideal. 

No entanto, esse cenário de pesquisas vem mudando consideravelmente nas últimas


décadas, e estudiosos sugerem que a partir desse modelo geral não é possível
entender experiências diversas de envelhecimento, e abrigar de forma eficiente
sexualidades dissidentes e envelhecimentos gays, lésbicos, bissexuais, transexuais,
entre outros. Pesquisadores vem se atentando um pouco mais para esses indivíduos
que, tendo vivido contextos de intensa perseguição, controle e estigmatização,
conquistaram o direito de envelhecer e atingem a meia-idade e a velhice em
ambientes de maior abertura para expressar suas sexualidades. Porém, o envelhecer
desse grupo, que deveria ser um aspecto positivo e uma conquista social, embasada
por décadas de luta por representação e direito de existência, torna-se um
emaranhado de silenciamentos e privações. 

Para Luis Baron, presidente da Eternamente SOU, ONG voltada para o atendimento
psicossocial de idosos LGBTQIA+, essas velhices não têm a devida representatividade e
atenção no movimento LGBT, e muito menos nos movimentos e serviços voltados para
os idosos. “Esse é um recorte praticamente inexistente. Se você fala de etarismo, você
não fala da população LGBTQIA+, se você fala da população LGBTQIA+, você não fala
de etarismo. São coisas que parecem andar separadas, exatamente porque as pessoas
não acreditam que possa existir velho gay”. Essa população acaba sendo duplamente
invisibilizada e por essa razão, mais exposta à vulnerabilidades e a ausência de
cuidados, mesmo tendo sido a militância desses, hoje, idosos, que permitiu a conquista
de inúmeros direitos para essa comunidade.

ETARISMO DENTRO DA COMUNIDADE LGBTQIA+

Sobre o etarismo dentro da comunidade LGBTQIAP+ que é a fobia de se relacionar,


seja afetivamente ou socialmente, com pessoas mais velhas - o profissional de saúde
afirma que existem três pontos básicos a serem analisados a respeito.

“Primeiro, pessoas de dentro da comunidade sofrem com algo que chamamos de


'adolescência tardia'. Elas passam a adolescência reprimindo a sexualidade e começam
a viver, a se relacionar e a explorar quem elas são só depois de alcançar a
independência financeira, o que acontece próximo dos 30 anos de idade”, diz.

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