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Nada mais óbvio que o envelhecimento. E, no entanto, nada mais inadmissível que o
envelhecimento. Todos os dias novas clínicas de estética inauguram procedimentos
revolucionários, empresas de cosméticos criam mais um anti-idade inovador, mais
uma tinta que melhor esconde os fios brancos, cirurgiões plásticos discutem novas
intervenções que nos pouparão de mostrar qualquer sinal da passagem do tempo. As
rugas, as manchas, a falta de firmeza da pele… tudo deve ser combatido, eliminado ou,
no mínimo, atrasado ao máximo. É inaceitável envelhecer, graças à marcha da
sociedade diante de súplicas do tempo, e a teimosia da natureza, é exatamente isso
que fazemos. Nunca se envelheceu tanto e se envelhece cada vez mais.
AS VELHICES LGBTQIA+
De acordo com a população total de idosos, é possível supor que haverá também um
aumento gradual na proporção de idosos LGBTQIA+, Contudo, o estudo sobre essa
população demorou para conquistar o interesse dos pesquisadores. Para o
antropólogo Carlos Henning, no artigo “Gerontologia LGBT: velhice, gênero,
sexualidade e a constituição dos ‘idosos LGBT’”, o campo da gerontologia social,
durante um longo período, voltou suas atenções para sujeitos heterossexuais, brancos,
de classe média e com níveis escolares mais altos. Era o aposentado, do sexo
masculino, heterossexual e cisgênero que caracterizava o idoso ideal.
Para Luis Baron, presidente da Eternamente SOU, ONG voltada para o atendimento
psicossocial de idosos LGBTQIA+, essas velhices não têm a devida representatividade e
atenção no movimento LGBT, e muito menos nos movimentos e serviços voltados para
os idosos. “Esse é um recorte praticamente inexistente. Se você fala de etarismo, você
não fala da população LGBTQIA+, se você fala da população LGBTQIA+, você não fala
de etarismo. São coisas que parecem andar separadas, exatamente porque as pessoas
não acreditam que possa existir velho gay”. Essa população acaba sendo duplamente
invisibilizada e por essa razão, mais exposta à vulnerabilidades e a ausência de
cuidados, mesmo tendo sido a militância desses, hoje, idosos, que permitiu a conquista
de inúmeros direitos para essa comunidade.