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Capítulo 4

Controles internos e aspectos societários


nas cooperativas de Crédito

Com o passar do tempo, o setor cooperativista foi evoluindo, melhor se estruturando e


atualmente está em grande expansão, especialmente as cooperativas de crédito, agora
favorecidas pelos importantes avanços normativos ocorridos no setor, em especial por meio
da emissão da Resolução 4.434/2015, que entre outras importantes mudanças, eliminou
totalmente as restrições quanto ao escopo associativo, e definiu nova classificação para as
cooperativas de crédito: Cooperativas de Crédito Plenas, Clássicas e de Capital e Empréstimo.

Dessa forma, tanto a área operacional, quanto a área contábil dessas instituições tiveram
que aprimorar suas técnicas, para poder ajustar-se a esse desenvolvimento e manter a
confiabilidade e segurança de seus processos e informações.

Nesse sentido, o Controle Interno desempenha importante função na proteção do patrimônio


das cooperativas de crédito e na confiabilidade das suas informações.

Neste capítulo, iremos conhecer a importância do Controle Interno nas Cooperativas de


Crédito, destacando pontos que consideramos importantes dentro da sua administração e
contabilidade. Além disso, a unidade apresenta os principais aspectos sobre a organização
societária de uma cooperativa de crédito.

Marco teórico
Gabriel Walter González Bocchetti

O controle Interno tem sido citado por diversos autores e organizações ao longo dos anos.
Destacamos o ensinamento do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, citado por
Antunes (1998, p. 63):

O controle interno, no sentido amplo, compreende controles que se podem


caracterizar como contábeis ou como administrativos, como segue:
a) controles contábeis compreendem o plano de organização e todos os
métodos e procedimentos referentes e diretamente relacionados com a
salvaguarda do ativo e a fidedignidade dos registros financeiros.
Geralmente, compreendem controles tais como: os sistemas da autorização
e aprovação, separação entre tarefas relativas à manutenção de registros,
elaboração de relatórios e aquelas que dizem respeito à operação ou custódia
do ativo, controles físicos sobre o ativo e auditoria interna;
b) controles administrativos são os que compreendem o plano de organização
e todos os métodos e procedimentos referentes principalmente à eficiência
operacional e obediência às diretrizes administrativas, e que normalmente se
relacionam apenas indiretamente com os registros contábeis e financeiros.
Em geral, incluem controles como análises estatísticas, estudos de tempo
e movimento, relatórios de desempenho, programas de treinamento de
empregados, e controles de qualidade.

MEDEIROS. Marcelo Correa. Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito . Palhoça : UnisulVirtual, 2016.
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

Em seu funcionamento, as cooperativas de crédito são consideradas como instituições


financeiras, por isso, as mesmas devem estar atentas às metodologias de controle interno,
utilizadas por essas instituições.

Oliveira e Linhares (2007, p. 162-163) ressaltam a importância do controle interno ao firmar


que “[...] um sistema de contabilidade que não esteja apoiado em um eficiente controle
interno perde a utilidade, uma vez que não é possível confiar nas informações contidas em
seus relatórios”.

Dessa forma, entende-se por controles internos todos os instrumentos da organização


destinados à vigilância, fiscalização e verificação administrativa, que permitam prever,
observar, ou governar os acontecimentos que são diagnosticados dentro da instituição,
particularmente aqueles que possam ser lesivos e/ou colidirem com os objetivos dela.

Desde os primórdios o homem busca se organizar em agrupamentos com o intuito de atingir


objetivos e propósitos comuns que venham a facilitar a vida em sociedade. Esses agrupamentos
deram origem às organizações em geral, particularmente a partir da Revolução Industrial, onde
passaram a sofrer um crescimento desordenado, tornando-se mais complexas, dificultando a
seus donos e administradores a realização de todas as atividades, quais que sejam:

•• produção;
•• comercialização;
•• segurança do grupo;
•• ampliação do patrimônio e capital.

Atualmente, para um ambiente de controle, encontramos diversos tipos de tecnologias que nos
permitem um alto grau de exatidão nas informações.

No cooperativismo de crédito o uso dos controles internos não é diferente das organizações
empresariais, pois os controles visam à minimização de riscos dentro da cooperativa, fazendo
com que todos tenham mais segurança em seus trabalhos. Tudo isso, a partir de observações
minuciosas, com uma periodicidade contínua e o emprego de ferramentas que proporcionam
maior exatidão nas informações.

Entre as responsabilidades do Agente de Controles Internos da cooperativa consta o dever de


analisar setorialmente toda a cooperativa, diagnosticando todas as operações e interações,
reduzindo, assim, as possibilidades de fraudes e erros dentro dela.

Por meio dos controles internos eficientes e eficazes é possível acompanhar todo o desempenho e
rotina dela, corrigindo tempestivamente os desvios detectados.

Para o cooperativismo de crédito não basta só indicar o problema. Por se tratar de uma
organização cooperativa, a ajuda mútua entre os envolvidos no sistema é primordial para
chegarmos ao objetivo desejado, pois, sem cooperação não existe controle. A partir de uma
organização solidária, a colaboração pode vir tanto dos cooperados, dirigentes, funcionários
em geral, como da supervisão e gerência.

Dessa forma, os controles devem ser feitos de uma forma mais humana, onde o Agente de
Controles Internos diagnostica o problema e ao mesmo tempo, junto com o responsável pelo
setor tenta buscar uma solução, primando pela segurança e transparência das operações.

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As autoridades monetárias decidiram dispensar atenção especial aos controles internos das
instituições financeiras e demais entidades sujeitas à fiscalização do Banco Central do Brasil.

Segundo Moraes (2003), em 1998 o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia publicou os


13 (treze) princípios que compõem os alicerces dos controles internos, com a finalidade de
aprimorar ainda mais a supervisão dos riscos e controles.

O Conselho Monetário Nacional do Brasil, em sintonia com as novas normas e


recomendações emanadas de órgãos e entidades internacionais, deliberou sobre a
implantação e implementação de sistemas de controles internos efetivos e consistentes nas
instituições financeiras, as quais são autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.

Nesse sentido, foi publicado, em 24 de setembro de 1998, a Resolução n° 2.554/98 do


BCB, que aponta para a necessidade do gerenciamento de riscos, em especial dos riscos
operacionais, nas instituições financeiras.

Uma das primeiras preocupações da gestão de riscos e controles internos foi a formação de
cultura, direcionando a atenção de gestores e funcionários para focos potenciais de riscos e
necessidades de controles.

O início desse processo passou pela uniformização dos conceitos e, portanto, pela unificação
da linguagem utilizada nas questões relacionadas a risco e controle.

Com o acirramento da concorrência, as instituições bancárias brasileiras viram-se forçadas


a investir na qualidade de seus produtos e serviços, bem como na busca de parceiros,
sobretudo estrangeiros, para se manterem competitivos.

Essa conjuntura tem exigido dos bancos a adoção de novas estratégias, não apenas de
posicionamento de seus produtos e serviços, mas também de seus controles internos. Isso
porque a indústria financeira está se tornando mais competitiva e com a utilização de alta
tecnologia a concessão do crédito com baixos níveis de exposição a riscos torna-se fator
preponderante para a sustentação no mercado.

Segundo Migliavacca (2002), a palavra controle apareceu por volta de 1600, como
significado de “cópia de uma relação de contas”, um paralelo ao seu original. Deriva do latim
contrarotulus, que significa “cópia do registro de dados”.

Taylor (1911 apud CHIAVENATO, 1983, p. 51-52), o grande pensador da Administração


Científica, doutrinava que existiam quatro princípios da administração, sendo um deles o
princípio do controle, consistindo em: Controlar o trabalho para se certificar de que está sendo
executado de acordo com as normas estabelecidas e segundo o plano previsto.

A gerência deve cooperar com os trabalhadores, para que a execução seja a melhor possível.

Fayol (1911 apud ANTUNES, 1998, p. 61) o criador da Corrente Anatômica da Administração, no
início do século, tal qual Taylor, também se manifestou sobre a função administrativa de controlar,
ou seja, o controle consiste em verificar se tudo corre em conformidade com o plano adotado, as
instruções emitidas e os princípios estabelecidos. Tem por objetivo apontar as falhas e os erros
para retificá-los e evitar sua reincidência. Aplica-se a tudo: coisas, pessoas, atos.

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De acordo com D’Ávila (2002, p. 15),

Na primeira metade do século passado, o controle de caixa era tido como o


principal elemento de preocupação. Para tanto, bastava a centralização do
caixa nas mãos de algum funcionário de confiança ou do próprio dono do
negócio, para que se tivesse a sensação de controles efetivos. Com a evolução
do sistema bancário e o uso em maior escala de meios de pagamento através
de bancos, o conceito de caixa foi ampliado para o de disponibilidades para
abranger recursos em espécie e depositados em contas correntes bancárias.

Ainda de acordo com o mesmo autor,

Talvez a primeira mudança importante sobre como controles internos são


vistos, tenha ocorrido com o surgimento da percepção de que informações
confiáveis são um meio indispensável de controle. O foco, então, desloca-se
do controle do caixa, para o uso de informações gerenciais mais abrangentes
incluindo informações financeiras e determinados indicadores de performance.
(D’ÁVILA, 2002, p. 15).

Conforme D’Ávila (2002, p. 16),

Sob a perspectiva de auditoria, reconheceu-se que uma auditoria das


demonstrações financeiras com sistemas de controles internos efetivos
poderia ser efetuada de forma mais eficiente direcionando-se a atenção para
os controles internos.

Observa-se pela definição acima a clareza de que todos os funcionários - desde a alta
administração até os colaboradores de apoio - participam da execução do controle.

Essa colocação, isto é, de que o controle é executado por todos, é muito importante para que seja
entendido o conceito de controle em sua amplitude.

Segundo Antunes (1998), uma pequena organização quando administrada diretamente pelo
proprietário possui, mesmo que informalmente, um sistema normativo de regras e procedimentos,
o qual permite verificar se o que ele estabelece é cumprido. E, também, se os valores materiais e
imateriais colocados à sua disposição operacional estão sendo salvaguardados.

A eficácia e eficiência dessas regras e procedimentos ficam válidas até o ponto que ele
“alcança” monitorar. À medida que esse conjunto de regras e procedimentos ficar complexo,
ou a organização for se expandindo, o proprietário sozinho, ou até mesmo um grupo pequeno
de pessoas ou recursos, não seria capaz de garantir com condições razoáveis de certeza que
tais regras e/ou procedimentos estão sendo executados de uma forma eficaz e eficiente.

E isso certamente compromete a continuidade das firmas. Assim, conforme o mesmo autor,
nesse momento surge a necessidade de se organizar uma estrutura sistematizada de controle,
que possa garantir, mesmo sem a presença do proprietário da organização, a verificação e
monitoramento das políticas e planejamento definidos por ele.

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A expressão controle interno significa que o conjunto de regras e procedimentos foi criado pela
empresa e para ela mesma, e que devem estar em sintonia com as normas e leis vigentes no país.

Além disso, destacamos a importância para o conjunto de normas, sistemas, rotinas e


procedimentos que formam o plano organizacional da empresa, com os objetivos de proteger
os ativos, produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administração na condução
ordenada dos negócios da empresa.

Já como fatores de controles internos temos:

•• eficiência operacional;
•• cumprimento das políticas;
•• proteção dos ativos;
•• exatidão;
•• confiabilidade dos dados contábeis, bem como planos de organização.

Temos como tipos de controle os controles administrativos e os contábeis. Temos como


fator inibidor de desvios dentro dos controles internos, embora seja mais psicológica do que
prática, o aumento das facilidades, ou de outra forma, a inexistência de controles internos
consistentes determinará probabilidades sempre crescentes do surgimento intensificado de
erros e fraudes operacionais.

Os problemas de Controle Interno encontram-se, na empresa moderna, em todos os seus


segmentos, sejam: vendas, fabricação, desenvolvimento, compras, tesouraria, entre outros.

O exercício de um adequado controle sobre cada uma dessas áreas assume fundamental
importância para que se atinjam os resultados mais favoráveis com menores desperdícios.

É impossível conceber uma empresa que não disponha de controles que possam garantir
a continuidade do fluxo de suas operações e informações propostas. Por analogia, toda
empresa possui controles internos.

A diferença básica é que eles podem ser adequados ou não. A função da contabilidade como
instrumento de controle administrativo é hoje unanimemente reconhecida. Um sistema de
contabilidade que não esteja apoiado em um sistema de controle interno eficiente é, até certo
ponto, inútil, uma vez que não é possível confiar nas informações contidas em seus relatórios.

Informações contábeis distorcidas podem levar a conclusões erradas e danosas para a empresa.

Um controle adequado é aquele estruturado pela administração e que possa propiciar uma
razoável margem de garantia que os objetivos e metas serão atingidos de maneira eficiente e com
a necessária economicidade.

Razoável margem de garantia pode ser entendida como medidas de efetividade e a


custos razoáveis, estabelecidas para evitar desvios ou restringi-los a um nível tolerável.
Isso significa que erros e procedimentos ilegais ou fraudulentos serão evitados e, na sua
ocorrência, serão detectados e corrigidos dentro de curto prazo, pelos funcionários, como
parte de suas funções habituais.

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Medidas de efetividade e de custos razoáveis são decorrentes do conceito de comparar


o valor do risco ou da perda potencial contra o custo do controle respectivo. Controles
eficientes permitem cumprir os objetivos de maneira correta e tempestiva, com a mínima
utilização de recursos.

Tratando-se de risco inerente, o controle desenvolve um plano global de auditoria, e o auditor deve
avaliar o risco inerente em nível de demonstrações contábeis.

Ao desenvolver o programa de auditoria, o auditor deve estabelecer uma relação entre essa
avaliação e os saldos de contas e classes de transações relevantes em nível de asserção, ou
então presumir que o risco inerente é alto para a asserção.

Para avaliar o risco inerente, o auditor usa seu julgamento profissional para avaliar numerosos
fatores, como, por exemplo, nível de demonstrações contábeis: a integridade da administração.

A experiência e conhecimento da administração, bem como as mudanças por que passou


a administração durante o período ou a inexperiência da administração podem afetar a
preparação das demonstrações contábeis da entidade.

Pressões anormais sobre a administração, como, por exemplo, quando o setor está passando
por uma fase de muitos fracassos ou quando uma entidade não tem capital suficiente para
continuar suas operações, podem levar a demonstrações contábeis distorcidas.

A natureza do negócio da entidade, como, por exemplo, o potencial de obsolescência


tecnológica de seus produtos e serviços, a complexidade de sua estrutura de capital, a
significância das partes relacionadas, e o número de locais e dispersão geográfica de suas
instalações produtivas são riscos que também podem afetar as demonstrações contábeis.

Podemos citar como exemplos de risco:

•• a complexidade de transações subjacentes e outros eventos que poderiam


exigir o uso do trabalho de um especialista;
•• o grau de julgamento envolvido na determinação de saldos de contas;
•• a suscetibilidade de ativos a perda ou apropriação indébita, como, por exemplo,
ativos altamente cobiçáveis e movíveis, como dinheiro. O encerramento de
transações anormais e complexas, particularmente no fim do ano ou perto dele;
•• transações não sujeitas a processamento normal. Após estudarmos um pouco
sobre Controles Internos, podemos então afirmar que nada mais é que a
fiscalização das atividades feita pela própria empresa (pelo administrador da
mesma, por exemplo).

Finalmente, podemos acrescentar que o controle é uma das funções do administrador. Não
basta apenas planejar, organizar e dirigir a empresa. Sem um controle eficaz, é possível que o
administrador não consiga alcançar os objetivos pretendidos.

É o sistema de controle interno que vai indicar alguma falha (roubos, desperdícios) no
andamento normal das atividades da empresa.

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O controle interno pode ser: preventivo (que tem por objetivo evitar desperdícios e irregularidades),
detectivo (para detectar erros) ou corretivo (o erro já existe e o controle vem para corrigi-lo).

O sistema financeiro nacional é monitorado pela fiscalização constante do Banco Central do


Brasil, que também é responsável por estabelecer sua organização e disciplinamento. Bancos,
financeiras e cooperativas de crédito devem se adequar a cada Resolução determinada pelo
Banco Central do Brasil.

O Sistema de Controle Interno e Risco (SCIR) é mais um instrumento de controle e


monitoramento da segurança das instituições financeiras. O SCIR compreende a elaboração de
Manual de Gerenciamento de Risco de Mercado (MRM); Manual de Gerenciamento de Risco
Operacional (MRO); Manual de Controle Interno (MCI) e o preenchimento e acompanhamento
da Lista de Verificação de Conformidades (LVC). Em cada instituição, o Agente de Controle é
responsável por apurar e gerenciar as estratégias e políticas de Controle Interno estabelecidas.

Governança corporativa e controle nas cooperativas


de crédito
Gabriel Walter González Bocchetti

De acordo com Lethbridge (1997), é possível distinguir dois tipos extremos de controle
corporativo: shareholder, no qual a obrigação primordial dos administradores é agir em nome
dos interesses dos acionistas; e stakeholder, em que, além dos acionistas, um conjunto mais
amplo de interesses deve ser contemplado pela ação e pelos resultados da corporação.

No controle shareholder, do contexto anglo-saxão, a ênfase é dada ao acionista e o


objetivo principal é a obtenção de lucro. O acerto das estratégias adotadas é avaliado
primordialmente pelo mercado, onde as análises dos investidores são refletidas nas
oscilações dos mercados secundários de títulos.

Na perspectiva stakeholder, base do ambiente nipo-germânico, os interesses dos acionistas


buscam ser equilibrados aos de outros grupos que são impactados pelas suas atividades,
como empregados, fornecedores, clientes e a comunidade.

Analisando esses modelos de governança acima e considerando as características das


cooperativas de crédito de pertencerem ao setor financeiro, entende-se que o melhor sistema
de governança para essas instituições é o stakeholder. Isso porque o setor financeiro é
altamente exposto a risco sistêmico, ou seja, o risco da quebra de uma instituição financeira
contaminar todo o sistema – e, ao mesmo tempo, não pertencerem ao mercado acionário,
portanto, não estão sujeitas ao escrutínio dos investidores, e serem organizações associativas.

Portanto, as boas práticas de governança nas cooperativas de crédito devem abranger


suas relações com os diversos agentes diretamente ligados a ela e com os demais agentes
econômicos que também são partes interessadas.

Esse modelo de governança deve abranger as políticas, os procedimentos, as sanções,


prevenções, o processo adotado nas tomadas de decisões, a estrutura legal, os organismos
governamentais e, adicionalmente, os valores, os princípios e a cultura desenvolvidos para
proteger os interesses dos diferentes stakeholders ligados à organização. (PARADIS, 2001).

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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

A discussão sobre a importância da fiscalização e controle na estrutura de governança passa por


alguns conceitos teóricos importantes tratados na Teoria da Agência – problemas de agência e de
comportamento dos agentes.

Embora os comportamentos sejam únicos, não passíveis de quantificação, portanto, incertos


(WILLIAMSON, 1987), são operacionalizados por meio dos conceitos de risco moral, seleção
adversa e efeito carona (free rider).

Segundo Desrochers e Fischer (2002), a principal causa de quebra de instituições financeiras


decorre de problemas relacionados à governança. Eles identificam duas causas principais.

A primeira causa seria de risco moral, definido por eles como o risco de exposição, por
exemplo, risco de crédito, risco de taxa de juros, risco de liquidez, riscos assumidos e não
contabilizados – off balance.

A tomada de decisão pelos dirigentes, sobre o nível de exposição desses riscos, embora
sejam próprios da atividade financeira, pode ser no interesse dos acionistas – aumentando
a exposição aos riscos de maneira que prejudique os credores (depositantes, poupadores,
credores etc.); ou assumindo uma posição mais conservadora, ou seja, com menor
alavancagem, dando mais conforto para os credores e menos retorno para os acionistas.

Nessa decisão há, portanto, um conflito de interesses entre os credores e acionistas.

Trazendo esse conceito para a realidade das cooperativas de crédito, tem-se a seguinte
situação: os credores, em geral, salvo alguns organismos oficiais repassadores de recursos,
são os próprios associados.

Aparentemente não haveria o risco moral dos dirigentes tomarem decisões favoráveis aos
associados em detrimento dos credores, uma vez que esses também são associados.

O fato de os credores serem também os proprietários da cooperativa tende a reduzir o risco


de exposição, mas não o elimina, por exemplo, entre os associados, há grupos de poupadores
e tomadores líquidos de recursos.

As decisões na gestão da cooperativa certamente geram conflitos de interesses entre esses


dois grupos de sócios. Se os dirigentes decidirem por maximizar o retorno para os credores,
poderá prejudicar o grupo de tomadores líquidos e vice-versa.

A segunda causa de quebra de instituições financeiras se refere a problemas de agência, que


consiste na hipótese do comportamento do dirigente, nas tomadas de decisões, ser favorável
à maximização de sua própria utilidade, em detrimento do interesse dos associados.

Pode-se cair em um equívoco, semelhante ao do risco moral, ao pensar que esse comportamento
não existe nas cooperativas de crédito, uma vez que seus dirigentes são também proprietários.

Segundo os autores da atualidade, essa é a principal causa das falências em instituições com
propriedades difusas e não pertencentes ao mercado acionário, como as cooperativas de crédito.

Outro engano que pode existir com relação à governança em cooperativas é pensar que
não existe conflito decorrente de assimetria de poder entre os proprietários, uma vez
que o princípio que rege a divisão de poder nessas instituições é: “um sócio, um voto”,
independente do capital.

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Apesar de não existir concentração de propriedade, há outro problema de comportamento


igualmente danoso para a governança e que indiretamente gera assimetria de poder – o
chamado “efeito carona (free rider)”.

Esse comportamento que está diretamente relacionado ao sentimento de pertencimento e


propriedade dos associados se manifesta quando as pessoas sentem que sua contribuição
individual representa pouco para o todo ou não lhe permite capturar benefícios individuais.

Dadas as dificuldades em se quantificar esses riscos de comportamento, melhor denominados


como incertezas de comportamento, a única maneira de reduzi-los é por meio de efetivos
instrumentos de fiscalização e controle.

O comportamento oportunista dos agentes somente é possível naquelas organizações em que


os mecanismos de controle são falhos ou insuficientes. (LAMB, s/d).

No entanto, para criar uma estrutura de fiscalização e controle deve-se ter em conta que,
qualquer mecanismo de controle resulta de um processo de arbitragem entre os efeitos dos
comportamentos oportunistas dos agentes, e os custos de controle que buscam alinhar os
interesses dos dirigentes aos interesses dos proprietários – os chamados custos de agência.
De acordo com Jensen e Meckling (1976), são a soma dos seguintes custos:

•• custos de criação e estruturação de contratos entre proprietários e dirigentes;


•• custos de monitoramento das atividades dos dirigentes pelos proprietários
(monitoring costs) – por exemplo, custos com auditorias;
•• custos promovidos pelos próprios dirigentes para prestar contas aos
proprietários (bonding costs) – relatórios e pareceres enviados aos proprietários;
•• custos residuais (residual loss) – custos inerentes à divergência de
interesses entre proprietários e dirigentes, decorrentes de escolhas não
necessariamente ótimas.

Analisando esses custos no ambiente das cooperativas de crédito, pode-se acrescentar aos
custos de monitoramento, os custos com controles internos (1) e com o Conselho Fiscal (2):
o primeiro, a ser exercido pelos dirigentes para evitar os comportamentos oportunistas dentro
da instituição; o segundo se refere a um instrumento de fiscalização obrigatório no ambiente
de cooperativas no Brasil.

A Lei Cooperativa 5.764/71 determina em seu art. 56 que:

A administração da sociedade será fiscalizada, assídua e minuciosamente,


por um Conselho Fiscal, constituído de 3 (três) membros efetivos e 3 (três)
suplentes, todos associados eleitos anualmente pela Assembléia Geral, sendo
permitida apenas a reeleição de 1/3 (um terço) dos seus componentes.

A potencial diferença de interesses entre dirigentes e proprietários e eventuais comportamentos


oportunistas podem ser reduzidos por instrumentos de controle internos e externos. (LAMB).

Os instrumentos internos de controle consistem no conjunto de arranjos sob a alçada da


cooperativa que permitem reduzir a possibilidade de ações indevidas, assim entendidas tanto
aquelas associadas a dolo, imperícia ou imprudência, quanto as ações bem-intencionadas,
mas que não estão plenamente aderentes ao desejo dos cooperados, principais interessados
nos resultados da cooperativa.

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Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

Esses instrumentos visam à supervisão do conjunto de contratos e acordos dentro da


cooperativa, reforçando, principalmente, o monitoramento do conselho de administração
sobre a gestão executiva e desses sobre o restante da organização.

É importante destacar que os instrumentos de controle interno não são apenas aqueles
formalmente constituídos – como, por exemplo, um sistema padronizado de controle, exercido
por equipe especializada que, em muitos casos, faz parte da auditoria interna – mas podem
ser constituídos pelos agentes (partes interessadas) da cooperativa.

Entre os agentes que podem atuar como instrumentos de fiscalização e controle interno nas
cooperativas de crédito destacam-se:

•• Associados: pelo exercício ativo e bem informado dos seus direitos e deveres.
•• Conselho Fiscal: por meio do exercício de uma fiscalização efetiva e independente.
•• Auditores internos: exercitando a profissão com qualidade e independência,
adotando os padrões legais de auditoria e comunicando os resultados
materialmente relevantes, por meio de relatórios objetivos e inteligíveis, à
gestão executiva, Conselho de Administração e Conselho Fiscal.
•• Empregados: pelo entendimento dos processos de controle aprovados pela
gestão executiva e Conselho de Administração, a adoção dos valores éticos
institucionais da cooperativa. Pela comunicação de preocupações relativas
a práticas ilegais ou antiéticas, para essa finalidade, devem ser assegurados
canais institucionais de comunicação e sigilo de informação.

Embora a responsabilidade principal pelo bom funcionamento dos instrumentos de controle e


fiscalização seja do Conselho de Administração e da gestão executiva, esses podem falhar se
interesses oportunistas dos conselheiros estiverem alinhados com os dos gestores, visando a
obter benefícios em detrimento dos interesses dos demais associados.

Nesse sentido, há necessidade de se estabelecer também controles externos, arranjos ou


dinâmicas existentes fora do âmbito da organização, que atuam limitando os comportamentos
oportunistas dos dirigentes (Conselho de Administração e gestão executiva).

Em sociedades por ações, os mecanismos do mercado regulam e disciplinam sua governança:


as flutuações nos valores das ações sinalizam verde, amarelo ou vermelho, e fusões e
propostas de aquisições convidam equipes de gerenciamento de baixa performance a saírem.

As cooperativas de crédito, diferentemente dos bancos, por não possuírem títulos no


mercado secundário, não estão sujeitas à avaliação dos investidores e não gozam do efeito
disciplinador desse mercado.

Mas um poderoso instrumento de fiscalização e controle externo e, portanto, provedor de


qualidade de governança, é a integração de cooperativas individuais em rede (PARADIS,
2001). Nesse sentido, os seguintes agentes atuam como instrumentos de fiscalização e
controle nas cooperativas de crédito:

•• Órgãos reguladores e fiscalizadores do sistema financeiro: ao normatizar


e fiscalizar o segmento, o Banco Central estimula a criação de padrões
desejáveis de comportamentos. Por ter como missão a segurança sistêmica,
articula também os diversos mecanismos externos de monitoramento, visando
a melhorar sua efetividade.

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•• Auditores externos: são profissionais sujeitos às normas e à supervisão


da Comissão de Valores Mobiliários e respondem judicialmente por seus
pareceres e relatórios, tanto na esfera civil quanto na criminal. Isso tende a
tornar o trabalho da auditoria externa um instrumento eficaz de fiscalização e
controle dos registros contábeis.
•• Fundos garantidores de crédito: visam a assegurar determinado valor dos
depositantes, no caso de quebra das cooperativas; eles podem e devem
supervisionar essas instituições, a exemplo do que ocorre nos EUA, onde o Federal
Deposit Insurance Corporation (FDIC) também tem função de supervisão bancária.
•• Demais agentes que tenham interesses na cooperativa: por exemplo,
instituições privadas e governamentais fornecedoras de recursos.

É importante destacar, em relação aos instrumentos de fiscalização e controle, que a


assimetria de informação entre os agentes é um grande estimulador de comportamentos
oportunistas. Portanto, a eficiência e a eficácia de qualquer instrumento de fiscalização e o
controle, tanto interno quanto externo, estão fortemente associadas à quantidade e qualidade
das informações disponibilizadas aos agentes responsáveis pela função.

Dessa forma, os instrumentos propostos a seguir são norteados pelo princípio da


transparência, tanto na relação entre os agentes/atores quanto na divulgação das informações.

Atores responsáveis pelo monitoramento, controle e fiscalização das cooperativas de crédito


– os associados, a auditoria interna e externa, o conselho fiscal e as demais instituições que
compõem o sistema cooperativo – podem agir de modo a obter mais segurança e fortalecer o
sistema cooperativista de crédito no Brasil.

Deve ser ressaltado que outros atores/órgãos também podem e devem cumprir esse papel,
como por exemplo, o Conselho de Administração, e que as propostas não pretendem ser
exaustivas – ou seja, existem outras possibilidades, aqui não tratadas.

•• Associados: o associado, como proprietário, é a parte mais interessada nos


negócios da cooperativa. Portanto, a administração tem o dever de criar
instrumentos para assegurar sua participação e, assim, evitar o chamado
efeito carona (free rider).

De acordo com dados da pesquisa realizada por Maria de Fátima Cavalcante Tosini e
Alexandre Martins Bastos por intermédio do Comitê de Pesquisa da Aliança Cooperativa
Internacional no V Encontro de Pesquisadores Latino-americanos de Cooperativismo,
realizado de 06 a 08 agosto 2008, em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, na última Assembleia
Geral ordinária das cooperativas pesquisadas, em 65% das cooperativas, menos de 15% dos
associados assinaram a lista de presença, configurando uma baixa participação, portanto.

Os principais motivos apontados pelos dirigentes/cooperativas para essa baixa participação são a
“confiança dos associados na administração da cooperativa” (32,2%) e a “falta de conhecimento do
associado a respeito da sua importância na assembleia” (27%).

Todavia, na visão dos associados em relação à sua baixa participação, as principais


motivações estão relacionadas a fatores pessoais (38,9% das respostas), sendo: 12,9%
afirmando que “não faz diferença ir” à assembleia; 12,4% que o “tempo gasto é muito

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grande”; 10% que há “dificuldade de deslocamento”; e somente 3% apontam que o motivo


é a “confiança na administração da cooperativa” – embora 85,5% afirmem que confiam
totalmente nos dirigentes.

Mais da metade dos associados (51%) respondeu pela existência de “outros” motivos. A análise
desses “outros” motivos mostra que 55,9% são relacionados a fatores pessoais, tais como falta
de tempo (35,9%), falta de interesse (12,2%) e horário, data ou distância incompatível (7,7%).

Entre os motivos apontados para a baixa participação, que se referem à percepção do


associado sobre as ações da cooperativa, está a falta de divulgação da realização da
assembleia, com 8,8% das respostas.

Essas respostas mostram a fragilidade dos sistemas internos de controle e monitoramento


por parte dos associados, evidenciando o chamado “efeito carona”, pelo qual o associado
pondera a importância de participar frente aos benefícios que pode obter pela melhoria
advinda dessa supervisão.

Alguns entendem que não há espaço para melhorar a gestão e outros simplesmente
consideram sem importância sua presença. Ao não participar, torna-se menos consciente de
seu papel e interpreta como cada vez menos produtiva sua participação, gerando um ciclo
que enfraquece o controle interno pelos associados.

A falta de consciência de seus direitos e deveres é outro fator que contribui para fragilizar o
sistema de controle por parte dos associados: 50,6% dos associados entrevistados nunca
leu o estatuto da cooperativa; 23,9% não conhecem seus direitos e deveres e 41,3% os
conhecem apenas parcialmente.

Além disso, a ausência de mecanismos formais que permitam aos associados ou delegados
incluírem itens nas pautas das assembleias também contribui para tornar o controle e a
fiscalização ineficientes: 62,72% das cooperativas da amostra indicam que não possuem
esse tipo de mecanismo.

E mais, das cooperativas que dispõem desse mecanismo (36,36%), em apenas 6,01% houve
algum caso de inclusão de item pelos associados na última assembleia.

Essa falta de controle dos associados é preocupante, uma vez que nas cooperativas de
crédito, como os usuários dos serviços são também os donos do negócio, eles assumem
riscos e responsabilidades que extrapolam as de um simples usuário de serviços financeiros.

Em decorrência da previsão expressa no art. 1.095 do Código Civil e nos arts. 89 e 80 da Lei n°
5.764/1971, o sócio de uma cooperativa passa a responder não somente pela parcela de sua
contribuição ao capital social, correspondente às quotas por ele integralizadas, mas também
pelos prejuízos porventura verificados, na proporção das operações que tiver realizado.

O § 2° do art. 1.095, do Código Civil, também se refere a uma responsabilidade ilimitada dos
sócios: “É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais”.

Já o art. 36 da Lei n° 5.764/1971 afirma: “A responsabilidade do associado perante terceiros,


por compromissos da sociedade, perdura para os demitidos, eliminados ou excluídos até
quando aprovadas as contas do exercício em que se deu o desligamento”.

Para associados empregados, o art. 31 da Lei n° 5.764/1971 traz a seguinte ressalva: “O


associado que aceitar e estabelecer relação empregatícia com a cooperativa perde o direito de
votar e ser votado, até que sejam aprovadas as contas do exercício em que deixou o emprego”

95
Universidade do Sul de Santa Catarina

Nesse caso, continua como associado, respondendo somente limitadamente à parcela de sua
contribuição ao capital social.

Apesar dessa responsabilidade, os associados se mostram pouco conscientes da importância


de exercerem um efetivo controle sobre os negócios das cooperativas.

Somente 8,3% das respostas dos dirigentes/cooperativas aos fatores que melhor explicam a
motivação dos cooperados a comparecerem às assembleias aponta a “comunicação do rateio
de perdas e/ou despesas”.

Dado o nível de responsabilidade dos associados, essa deveria ser, pela lógica, a principal
motivação para o comparecimento.

Diante dos resultados das pesquisas e da responsabilidade que a legislação brasileira


imputa aos associados, propõe-se que a administração das cooperativas assegure canais
institucionais para que eles exerçam efetivamente seu direito-dever de fiscalizar e controlar os
negócios da cooperativa, uma vez que em cooperativas a responsabilidade legal dos sócios
pode ser limitada ou ilimitada.

A administração deve criar meios para que todos os associados tenham ciência de seus
direitos e deveres legais e estatutários, especialmente em casos de perda e/ou prejuízo.

•• Auditorias: uma das contribuições do trabalho de auditoria é reduzir a


assimetria de informação – fator que favorece o comportamento oportunista
dos responsáveis pela gestão executiva. Existe assimetria de informação entre
Conselho Fiscal, Conselho de Administração e gestão executiva.

Os gestores tendem a conhecer mais os negócios da cooperativa do que os responsáveis pela


fiscalização e monitoramento, consequentemente podem omitir informações em seu benefício.

A auditoria pode reduzir essa assimetria ao confrontar a veracidade dos dados informados
nos relatórios gerenciais e econômico-financeiros enviados ao Conselho Fiscal e Conselho
de Administração.

Outra contribuição da auditoria é na mitigação do risco operacional, também conhecido


como risco de processo – riscos de falhas humanas, defeito de equipamento ou processo e
risco de fraude e/ou omissão.

Especialmente em cooperativas pequenas, onde não há controles informatizados, o


gerenciamento desse risco depende muito da auditoria, que pode, com independência, relatar
irregularidades e fatos relevantes ao Conselho de Administração e ao Conselho Fiscal.

De acordo com as respostas das cooperativas, 74,48% não possuem estrutura de auditoria
interna. Parte disso é explicada pela transferência desse serviço às cooperativas centrais.

Nas que possuem suas próprias estruturas de auditoria interna, essa não está subordinada
exclusivamente ao Conselho de Administração – apenas 17,18% das respostas das
cooperativas indicaram o Conselho de Administração como o responsável pela definição das
diretrizes e atuação da auditoria.

Se não é o Conselho de Administração quem define as diretrizes e a atuação da auditoria, o


trabalho pode ficar comprometido e sem a independência necessária.

96
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

Para ser um importante instrumento de fiscalização e controle, a auditoria interna precisa


ter independência e, para assegurá-la, é necessário estabelecer regras e procedimentos
garantindo a qualidade do trabalho.

Diante dessa constatação, recomenda-se que:

•• a auditoria interna seja subordinada diretamente ao Conselho de Administração;


•• a contratação dos auditores internos também esteja sob a responsabilidade
desse conselho;
•• os relatórios da auditoria interna sejam encaminhados ao Conselho de
Administração, Conselho Fiscal e aos responsáveis pela gestão executiva;
•• os normativos da cooperativa contenham dispositivos que assegurem a
independência da auditoria interna.

Quanto à auditoria externa, para ser eficaz, também precisa de métodos ou/e regras que
garantam sua independência. A cooperativa deve adotar regras que reduzam o risco de os
auditores omitirem irregularidades ou fatos relevantes, por exemplo.

Ainda, a cooperativa pode adotar a rotatividade obrigatória de auditores, bem como outras regras e
limites pertinentes e permitidos por lei.

Dado o risco de se contratar uma auditoria apenas para cumprimento legal e sem a
independência necessária, é aconselhável que a contratação da auditoria externa também seja
aprovada pelo Conselho de Administração e que os normativos da cooperativa contenham
dispositivos os quais assegurem sua independência.

Todavia, e como exemplo de que isso pode não estar acontecendo, apenas 37,11% das
cooperativas da amostra indicaram existir mecanismo formalizado que impeça a empresa
de auditoria externa contratada ter vínculos com membros ou com parentes de membros
dos órgãos estatutários da cooperativa, isso pode evidenciar a baixa preocupação com o
estabelecimento de regras que garantam sua independência.

•• Conselho Fiscal: o Conselho Fiscal é um dos mais importantes instrumentos


de fiscalização e controle, uma vez que ele é subordinado exclusivamente
à Assembleia Geral e, portanto, está fora do conflito de interesse entre
administradores – Conselho de Administração e gestão executiva.

Apesar de sua relevância, o Conselho Fiscal é visto por muitos, de forma equivocada, como
um órgão que deve se ater apenas a assuntos de natureza contábil, por meio da análise de
balancetes trimestrais e das demonstrações financeiras do exercício social, emitindo sobre
essas últimas sua opinião.

No entanto, a primeira e a mais importante competência do Conselho Fiscal é a de “fiscalizar


os atos dos administradores e verificar o cumprimento de seus deveres legais e estatutários”,
entendendo como atos dos administradores qualquer ato de gestão praticado, seja pelo
administrador ou, por delegação de autoridade, por qualquer funcionário da cooperativa.

97
Universidade do Sul de Santa Catarina

Entretanto, as atribuições e a importância do Conselho Fiscal são desconhecidas de quase


todas as partes, a começar pelos associados: apenas 20,2% responderam que conhecem
totalmente as atribuições desse conselho; outros 13% responderam que conhecem
parcialmente, enquanto a maioria, 54,3%, desconhecem tais atribuições.

Ainda assim, 77% dos cooperados que responderam à pesquisa consideram que o Conselho
Fiscal é eficaz e preocupado com a solidez da cooperativa.

Sobre a independência do Conselho Fiscal, 62,6% dos cooperados consideram sua atuação
totalmente independente da Administração, mas, por outro lado, segundo os dirigentes/
cooperativas, a principal motivação para a candidatura ao Conselho Fiscal é a indicação/
convite de diretores ou conselheiros (58,47%).

Isso evidencia uma situação de baixa independência dos conselheiros fiscais frente aos
dirigentes, o que contribui para reforçar as percepções obtidas na fase das entrevistas, quais
sejam, que o conselho fiscal é percebido muitas vezes como um mecanismo de entrada de
futuros dirigentes nas cooperativas, desvirtuando suas funções e fragilizando as estruturas de
controle e fiscalização.

O escopo de fiscalização do conselheiro fiscal deve ser o mais amplo possível, em virtude das
responsabilidades legais que lhe são impostas, em caso de má conduta.

O art. 1.070 do Novo Código Civil e o art. 53 da Lei 5.764/1971 estabelecem que os
componentes da administração e do Conselho Fiscal se equiparam aos administradores das
sociedades anônimas para efeito de responsabilidade criminal, podendo responder às ações
oriundas de cooperados ou terceiros.

De igual modo, a Lei n° 6.404/1976 amplia a atuação do Conselho Fiscal ao estabelecer,


como de sua competência, opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a
serem submetidas à assembleia-geral, relativas à modificação do capital social, planos de
investimento ou orçamentos de capital, transformação, incorporação, fusão ou cisão.

Considerando a importância do Conselho Fiscal como instrumento de fiscalização e controle e


o escopo do seu trabalho, algumas recomendações são necessárias.

Como exemplo, o Conselho Fiscal pode requerer à administração os recursos humanos,


materiais e financeiros para a consecução de suas funções; a pedido de qualquer
dos seus membros, poderá solicitar aos órgãos de administração esclarecimentos ou
informações, desde que relativos à sua função fiscalizadora, bem como a elaboração de
demonstrações financeiras ou contábeis especiais e solicitar aos auditores externos e internos
esclarecimentos ou informações e a apuração de fatos específicos.

Ainda, o Conselho Fiscal pode convocar membros do Conselho de Administração, da gestão


executiva ou do quadro funcional, bem como convidar associados, a fim de prestar esclarecimentos.

A eficácia da atuação do Conselho Fiscal depende de sua independência e imparcialidade na


realização dos trabalhos, podendo o estatuto da cooperativa e/ou o regimento do conselho
estabelecer regras para isso, ponderando as características da cooperativa e os limites da lei.

A legislação estabeleceu algumas regras para assegurar a independência desse conselho – §


1° do art. 1.066 do Novo Código Civil.

Assim, recomenda-se que os membros do Conselho Fiscal não devam ter negócios com
a cooperativa além daqueles realizados na condição de associados, nem devem ser

98
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

empregados de entidade e/ou empresa que esteja oferecendo algum serviço ou produto à
cooperativa e também não devem ser cônjuges ou parentes até segundo grau de membros da
diretoria executiva ou de gerentes da cooperativa.

O trabalho do Conselho Fiscal deve ser sistematizado e possuir padrão mínimo para evitar
que o conselho deixe de executar trabalhos básicos que permitam identificar os problemas e
situações mais prováveis de ocorrer em uma cooperativa de crédito.

Para isso, recomenda-se que o Conselho Fiscal tenha regimento interno que discipline o
funcionamento do órgão e o planejamento das atividades, contendo, no mínimo, o plano
de trabalho e a forma de divulgação dos resultados de sua atuação, que poderão ser por
pareceres, opiniões, recomendações e o encaminhamento de denúncias recebidas.

O relatório de trabalho do Conselho Fiscal deve expressar a atuação do órgão,


abordando os aspectos relevantes constatados em suas análises e fazendo referência às
recomendações dos auditores.

Embora o Conselho Fiscal e as auditorias sejam órgãos pertencentes à estrutura de


fiscalização e controle, suas funções dentro da cooperativa são distintas e complementares.

As auditorias devem prestar contas tanto ao Conselho de Administração quanto ao Conselho


Fiscal. Portanto, o Conselho Fiscal não só pode, mas deve usar os relatórios, pareceres e
recomendações das auditorias, interna e externa, como fonte de informação para realização
e conclusão de seus trabalhos, bem como reunir-se com a auditoria de forma a buscar a
colaboração mútua.

Em relação à capacitação técnica dos conselheiros fiscais, 31,28% das respostas de


dirigentes/cooperativas informaram que não há pré-requisito de capacitação técnica para
membros do Conselho Fiscal.

A compreensão expressa nesta questão é que, diferentemente da administração, no caso


das cooperativas é um órgão de alta representatividade política, no Conselho Fiscal deve-
se predominar a capacidade técnica dos seus membros. As respostas indicaram que nesse
aspecto há necessidade de melhoria.

Com relação ao rigor e frequência da fiscalização, de acordo com o art. 56 da Lei n°


5.764/1971, as cooperativas devem ser fiscalizadas assídua e minuciosamente.

Mas uma fiscalização com esse nível de profundidade só é possível com pessoas qualificadas,
que devem ser, se possível, adequadamente remuneradas.

•• Organização sistêmica: a estrutura em rede é um importante instrumento de


controle externo para as cooperativas de crédito, uma vez que essas não estão
sujeitas ao controle exercido pelos investidores em mercado de capitais.

Para compensar a falta desse controle, as cooperativas precisam de mais supervisão e


regulação que as demais instituições financeiras. Se elas estiverem vinculadas a um sistema
cooperativista ou a uma cooperativa central que possui mecanismos de autorregulação e
supervisão próprios, isso complementaria a estrutura de controle e supervisão, contribuindo
para a boa governança dessas instituições.

As confederações ou sistemas organizados, ao cumprirem suas próprias responsabilidades


relativas à governança, lideram a conciliação das estratégias individuais de governança de
suas filiadas e das cooperativas singulares que as compõem.

99
Universidade do Sul de Santa Catarina

Das 1199 cooperativas que responderam ao questionário, apenas 223 estão sem vínculo
com algum sistema. Vale lembrar, entretanto, que a atuação da confederação ou sistema
organizado não isenta a responsabilidade das centrais e singulares pela efetividade individual
das boas práticas de governança.

Quanto à relação entre as instituições em um sistema cooperativo, é importante que os sistemas


organizados estabeleçam e divulguem a política de relacionamento entre suas filiadas, buscando
mitigar conflitos de interesses entre centrais e, ainda, entre essas e as respectivas singulares.

Os cargos executivos em cooperativas singulares, centrais e confederações não devem ser


ocupados pela mesma pessoa, a fim de assegurar a independência dos trabalhos dessas
centrais e confederações, especialmente de supervisão.

Em 36% das cooperativas, pelo menos um de seus membros de órgãos estatutários são
também membros de órgãos estatutários na central ou confederação.

A acumulação de cargos, principalmente os de natureza executiva, pode criar situação


conflituosa, uma vez que as centrais têm como atribuição a supervisão das singulares, além
de reduzir a dedicação desse membro na singular quando passa a assumir função na central
e/ou na confederação.

Ainda, é aconselhável que as cooperativas centrais produzam e divulguem classificação/


indicadores de suas cooperativas filiadas – tais como custos administrativos frente à receita, nível
de exposição a riscos e índices de inadimplência, entre outros de interesse dos cooperados.

Esses indicadores podem servir como fonte de referência para as diversas partes interessadas
– associados, funcionários, comunidade, órgãos de supervisão e controle, instituições
financeiras fornecedoras de recursos.

Aspectos Societários das Cooperativas de Crédito


Miguel Impaléa

Mesmo sendo uma sociedade simples, de pessoas, formada com o objetivo de propiciar
melhorias da condição econômica de seus associados, a cooperativa de crédito está sujeita
às normas que regulam o funcionamento das sociedades. Essas normas estão previstas
em legislação especial, que regula a atividade das cooperativas, mas também podem estar
expressas em normas gerais, aplicáveis aos demais tipos de sociedades.

Veremos, na sequência, quando será utilizada uma norma geral e quando somente caberá a
utilização de uma norma especial, para regular determinadas situações jurídicas que envolvam
questões societárias das cooperativas de crédito.

O novo Código Civil


O novo Código Civil inovou em relação ao seu antecessor, ao regular mais amplamente as
associações e sociedades, traçando a natureza jurídica básica e a estruturação própria de
cada espécie de pessoa jurídica.

As determinações do Código Civil/2002, porém, devem ser consideradas como normas gerais a
serem complementadas e detalhadas pela legislação especial, aplicável a cada tipo societário.

100
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

No que se refere às Cooperativas, foram respeitadas pelo Código Civil as disposições da Lei
Cooperativista (Lei n°. 5.764/71), como se depreende da leitura do artigo 1.093, o qual diz
que “a sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto do presente Capítulo, ressalvada a
legislação especial.” (BRASIL, 1971).

O artigo 1.094, por sua vez, trata das características da sociedade cooperativa, a seguir elencadas:

Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:


I - variabilidade, ou dispensa do capital social;
II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração
da sociedade, sem limitação de número máximo;
III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio
poderá tomar;
IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade,
ainda que por herança;
V - quorum, para a assembléia geral funcionar e deliberar, fundado no número
de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado;
VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a
sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação;
VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações
efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao capital
realizado;
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de
dissolução da sociedade.

As principais novidades trazidas pelo novo Código Civil, no que diz respeito às cooperativas,
são a dispensa de capital social, a determinação do registro público das sociedades
cooperativas junto ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, e a não exigência de número
mínimo de sócios para a constituição de cooperativas.

A dispensa do capital social diz respeito à não exigibilidade de que os sócios subscrevam e
integralizem um capital mínimo como condição para a constituição da entidade cooperativa.
Essa dispensa se mostra viável no caso das cooperativas cujo objeto social não exija a reunião
de recursos fixos de seus associados para que se viabilize a busca dos resultados sociais.
Entre essas, incluem-se as cooperativas de trabalho e de prestação de serviços terceirizados.

Já no caso das cooperativas de crédito, a ausência de capital social inviabiliza as suas atividades,
pois elas dependem da existência de capital integralizado, para que possam prestar assistência
financeira aos associados. A esse respeito, Campos (2003, p. 44) argumenta que “as particularidades
das cooperativas de crédito recomendam que essas entidades tenham e acumulem seus próprios
recursos financeiros para socorro aos associados, provindos da necessária capitalização própria.”

O mesmo ocorre com as cooperativas de consumo, de produção e todas aquelas que se


dedicam à transformação, industrialização e comercialização da produção, e que demandam
altos investimentos para a montagem de uma estrutura de maquinário e equipamentos industriais.

O artigo 1.095 do novo Código Civil, por sua vez, traz a previsão de que os sócios podem ter
responsabilidade limitada ou ilimitada.

Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios pode ser


limitada ou ilimitada.
§ 1º É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde
somente pelo valor de suas quotas e pelo prejuízo verificado nas operações

101
Universidade do Sul de Santa Catarina

sociais, guardada a proporção de sua participação nas mesmas operações.


§ 2º É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde
solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. (BRASIL, 2002).

Outra inovação do Código Civil diz respeito ao registro público das sociedades cooperativas.
O artigo 1.150 determina que a inscrição dos atos constitutivos da sociedade empresária deve
ser feita no Registro Público de Empresas Mercantis. Já a inscrição dos atos constitutivos das
sociedades simples deve ser feita no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

As cooperativas são consideradas sociedades simples pelo Código Civil (artigo 982).
Consequentemente, a inscrição dos atos constitutivos das cooperativas deveria ser feito no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

A Lei regente do cooperativismo (Lei nº. 5.764/71), porém, determina que os atos constitutivos
das cooperativas sejam inscritos na Junta Comercial. A doutrina se divide nesse particular,
pois parte defende que o disposto na Lei Cooperativista continua em vigor, enquanto outra
parte acredita que a regra trazida pelo novo Código Civil é a que passou a vigorar.

De qualquer maneira, o que se pode dizer é que as sociedades cooperativas não guardam
nenhuma afinidade jurídica com as sociedades mercantis ou empresárias, e, por isso, mostra-
se de certa forma incongruente que a inscrição de seus atos constitutivos seja feita junto ao
mesmo órgão utilizado por aquelas sociedades.

Por outro lado, todas as sociedades simples (às quais são equiparadas as sociedades
cooperativas) procedem à inscrição de seus atos constitutivos junto ao Registro Civil de
Pessoas Jurídicas, o que seria mais lógico que fosse feito também pelas cooperativas.

No que tange ao número mínimo de sócios para a constituição de cooperativas, a Lei nº.
5.764/71 exige pelo menos vinte pessoas físicas para constituir uma cooperativa singular,
três cooperativas singulares para constituir uma cooperativa central (também denominada
federação de cooperativas) e três federações (ou cooperativas centrais) para a formação de
uma confederação de cooperativas.

O novo Código Civil apenas prevê que deve haver um número mínimo de sócios, necessário
para compor a administração da sociedade, sem estabelecer um limite máximo de sócios.

Criação de sociedades cooperativas de crédito


Destacamos aqui o mais recente avanço normativo, que define os critérios para a constituição
e o funcionamento das cooperativas de crédito no Brasil, a Resolução 4.434/2015, de
05/08/2015, que entre outras relevantes mudanças eliminou totalmente as restrições quanto
ao escopo associativo nas instituições financeiras cooperativas, e também estabeleceu uma
nova classificação para as cooperativas, em apenas três categorias: Cooperativas de Crédito
Plenas, Clássicas, e De Capital e Empréstimo.

Apesar de a Lei Cooperativista (Lei nº. 5.764/71) estabelecer que a criação de sociedade
cooperativa pode ocorrer por assembleia geral dos fundadores, por meio da elaboração
de ata, ou por instrumento público, por escritura pública registrada em cartório, os
regulamentos do Sistema Financeiro Nacional apenas reconhecem a criação de
cooperativas de crédito pela assembleia geral.

102
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

Como é atribuição do Conselho Monetário Nacional (CMN) a definição do processo de


criação de instituições financeiras, bem como sua estruturação e regulamentação, devem ser
observadas as regras do CMN, conforme determinação da Lei de regência das instituições
financeiras em geral, a Lei de Reforma Bancária (Lei nº. 4.595/64).

Em primeiro lugar, a cooperativa de crédito deve ser o resultado e a materialização da


intenção de criar uma ferramenta de utilidade prática, para auxiliar o desenvolvimento das
atividades de seus cooperados.

Definida essa vontade, a comissão organizadora (composta por cerca de três dos futuros
fundadores) providenciará a publicação e um edital de convocação para a assembleia
geral de fundação, comunicando hora, dia e local da sua realização, convidando todos os
interessados a participar.

Na assembleia geral de fundação será formado o ato constitutivo da cooperativa de crédito


e concretizado por meio da ata da assembleia. Essa ata deve conter a explícita aprovação
do estatuto da entidade, a denominação da cooperativa de crédito (sendo obrigatório o uso
da palavra “cooperativa”), sua sede, objeto social e todas as informações dos associados
fundadores. Além disso, nessa ata deve haver a indicação daqueles eleitos para compor o
Conselho de Administração, a Diretoria e o Conselho Fiscal da sociedade e, ainda, o valor e o
número mínimo de quotas-partes do capital de cada um dos associados-fundadores.

O Conselho Monetário Nacional determina a regra de subscrição e integralização de capital


mínimo, para a constituição da entidade. Por isso, os associados-fundadores deverão
subscrever o capital inicial mínimo, depositando o valor correspondente junto ao Banco do
Brasil, à ordem do Banco Central.

O estatuto social da cooperativa pode fazer parte do teor da ata ou estar a ela anexado. O ato
constitutivo será encaminhado ao Banco Central do Brasil, com o pedido de autorização para
funcionar. Cumpridas todas estas exigências, é expedida uma carta autorizativa pelo Banco
Central, e os documentos devem, então, ser encaminhados à Junta Comercial do Estado para
registro e constituição da personalidade jurídica da cooperativa de crédito.

Após o registro na Junta Comercial, a entidade criada deverá ser inserida no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ – do Ministério da Fazenda, junto ao órgão da Receita
Federal do município sede da cooperativa.

A partir de então, iniciam-se as atividades da cooperativa, e seus associados devem buscar


captar mais associados, que subscreverão quotas-parte do capital social e ajudarão, assim,
a constituir o recurso monetário inicial para a estruturação básica da cooperativa (móveis e
utensílios) e para o custeio de despesas gerais.

Para que se iniciem as operações financeiras, a cooperativa precisa contar com um capital
social disponível que lhe proporcione liquidez e equilíbrio econômico-financeiro.

Dissolução e liquidação das cooperativas de crédito


A Lei Cooperativista prevê hipóteses de dissolução voluntária da sociedade cooperativa.
Entre estes casos, estão:

•• a livre deliberação da assembleia geral;


•• o decurso do prazo de duração da entidade;

103
Universidade do Sul de Santa Catarina

•• a consecução dos objetivos predeterminados;


•• a alteração na sua forma jurídica;
•• o cancelamento da autorização para funcionar;
•• a paralisação de suas atividades por mais de cento e vinte dias.

Somente às cooperativas de crédito é admitida a iniciativa dos órgãos governamentais


para a sua dissolução e liquidação, pois um dos princípios do cooperativismo é o da
autodeterminação, que deve ser respeitado.

As cooperativas de crédito constituem exceção a esse princípio pela própria natureza de sua
atuação, pois realizam atividade financeira na qual prevalece o interesse público. Desse modo,
podem sofrer intervenção administrativa por parte da União, por meio dos órgãos do Sistema
Financeiro Nacional, sempre que o recomendem as circunstâncias. A proteção ao interesse
público nas operações com a moeda nacional, nesse particular, justifica a abstração da sua
condição especial de cooperativa.

A Resolução CMN nº. 2.771/2000 autoriza o cancelamento do funcionamento da cooperativa


de crédito, a ser feita pelo Banco Central do Brasil, quando:

•• as atividades da cooperativa estejam paralisadas ou essa se encontre em


regime de liquidação;
•• houver deliberação da assembleia geral dos cooperados no sentido da
paralisação ou liquidação;
•• o Banco Central apurar, a qualquer momento, a paralisação das atividades da
cooperativa, a partir de 120 dias ou do envio dos demonstrativos financeiros,
exigidos pela regulamentação em vigor, àquela autarquia;
•• pelo aviso espontâneo, dirigido pela cooperativa ao Banco Central do Brasil.

Ao Banco Central caberá optar entre o cancelamento da autorização de funcionamento ou o


acompanhamento, fiscalização e controle do processo liquidatário.

A Lei Federal 6.024/74 dispõe sobre a Intervenção e Liquidação Extrajudicial de Instituições


Financeiras, estabelecendo que as cooperativas de crédito não se sujeitam à falência. A este
respeito, Campos (2003, p. 67) argumenta que:

Esse tratamento especial decorre, assim, da simples razão da não-afinidade


operacional com as sociedades mercantis, pois as sociedades cooperativas de
crédito têm uma peculiaridade que as distingue das sociedades especulativas,
porque atuam em nome e por conta dos associados, portanto por eles
assumem direitos e obrigações.

Assim, em virtude das características peculiares das sociedades cooperativas, a elas não se
aplicam os institutos da falência.

104
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

A intervenção do Banco Central nas cooperativas de crédito


Quando a sociedade cooperativa sofre prejuízos que sujeitem seus credores a risco - prejuízos
esses provenientes de má administração - ou quando forem verificadas reiteradas infrações
aos dispositivos da legislação bancária, não regularizadas após determinação, pode haver
intervenção do Banco Central em caráter preventivo.

Essa intervenção se destina à correção de distorções administrativas da sociedade, e ocorre por


meio de medidas saneadoras da situação econômica da sociedade. Tais intervenções buscam
evitar a liquidação da sociedade cooperativa, para proteger o interesse dos seus credores e sócios.

A princípio, a intervenção tem um período de duração de seis meses, podendo ser prorrogado
uma única vez, por, no máximo, mais seis meses.

Os efeitos da intervenção são a suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas,


suspensão da fluência de prazo das obrigações vincendas contraídas anteriormente e
inexigibilidade dos depósitos já existentes à data da decretação da intervenção.

Tendo-se normalizado a situação da entidade, o Banco Central decretará a cessação


da intervenção. Ainda, quando os interessados tomarem a responsabilidade pelo
prosseguimento das atividades da empresa, ou quando for decretada a liquidação
extrajudicial, também cessará a intervenção.

Assim, neste texto vimos que as cooperativas de crédito se sujeitam a regras especiais, desde
a sua formação, em aspectos de sua constituição, dissolução e liquidação.

A proteção ao interesse público, no que se refere às operações com a moeda nacional, justifica
as exceções feitas à sua condição de cooperativa, como ente legalmente protegido, e, também,
autoriza a quebra do princípio da autodeterminação, aplicável às cooperativas dos demais ramos.

A intervenção do Banco Central nas atividades da cooperativa de crédito, visando a proteger


o interesse dos credores e dos associados, que é, antes de tudo, responsabilidade do
Estado, é a expressão máxima do controle das atividades da cooperativa de crédito por um
órgão governamental.

A possibilidade desse tipo de controle faz parte do conjunto de disposições especiais


aplicáveis às cooperativas de crédito, sujeitas à regulamentação pelos órgãos competentes,
dentro do Sistema Financeiro Nacional, que integram.

As relações de consumo
O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 2º, conceitua o consumidor como “pessoa
física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

Pois bem, na cooperativa, os cooperados não são simples consumidores finais dos serviços
ou produtos oferecidos, e sim donos do negócio cooperativo. São, ao mesmo tempo, os
tomadores de crédito e os financiadores das atividades da empresa cooperativa. Por esse
motivo, o cooperado não se enquadra na definição legal de consumidor, utilizada nas
relações de consumo em geral.

105
Universidade do Sul de Santa Catarina

Até mesmo porque, na cooperativa, não se pode dizer que haja relação de consumo, pois,
apesar de ser uma pessoa jurídica, a sociedade cooperativa é, antes de tudo, uma extensão
dos interesses dos associados, um instrumento de persecução dos objetivos em comum,
determinados no estatuto social da cooperativa.

Além disso, o Direito Cooperativo, como ramo independente do Direito, disciplina as relações
jurídicas das cooperativas conforme as regras jurídicas elaboradas para reger especificamente
esse tipo de sociedade, não havendo subordinação a outros ramos do Direito, até mesmo
porque as normas jurídicas aplicáveis às cooperativas são muito peculiares e incompatíveis
com o conteúdo das normas dos demais ramos jurídicos.

A cooperativa, porém, se distingue conceitualmente das demais organizações


por um traço altamente característico: enquanto nas empresas não cooperativas
a pessoa se associa para participar dos lucros sociais na proporção do capital
investido, já na cooperativa a razão que conduz à filiação do associado não
é a obtenção de um dividendo de capital, mas a possibilidade de utilizar-se
dos ‘serviços’ da sociedade para melhorar o seu próprio ‘status econômico’.
(FRANKE, 1973, p. 13-14).

Outro argumento que se pode levantar para afastar a incidência do Código de Defesa do Consumidor
nas relações cooperativistas é que os atos praticados pela cooperativa e seus associados não
configuram atos de comércio, na acepção que lhes é dada pelas relações de consumo.

Nas relações entre sociedade e associado, não há intermediação ou objetivo de lucro, o


objetivo é a comunhão de interesses na busca de um ideal comum: a melhoria nas condições
econômicas e financeiras dos cooperados.

Contexto jurídico das cooperativas de crédito


As cooperativas de crédito são pessoas jurídicas enquadradas como instituições financeiras
privadas não bancárias, prestadoras de assistência financeira aos seus associados, sem
finalidade de lucro, que dependem de autorização de funcionamento e são fiscalizadas pelo
Conselho Monetário Nacional.

As cooperativas de crédito dependem de autorização governamental para seu


funcionamento, integram o sistema financeiro nacional e estão submetidas às normas
do Banco Central do Brasil, mas não se pode confundi-las com os bancos, dos quais se
diferenciam por alguns aspectos-chave.

Em primeiro lugar, as cooperativas não estão sujeitas à falência, diferentemente dos bancos e
demais instituições financeiras. São consideradas sociedades civis, pois são sociedades de
pessoas, e não de capital, como é o caso dos bancos, sociedades comerciais.

As cooperativas não desempenham atividade mercantil, já que seu objetivo é prestar


serviços a seus associados para a melhoria do seu status econômico pessoal, e não realizar
atividades de mercancia.

106
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

Diferenças entre o sistema cooperativo e o sistema bancário


Em primeiro lugar, a cooperativa é considerada instituição financeira não bancária, e não
banco, sendo inclusive proibida a utilização da expressão “banco” em sua denominação. Já
os bancos são considerados instituições financeiras bancárias.

A cooperativa é uma sociedade de pessoas, cujo objetivo principal é a prestação de serviços


de assistência aos seus associados; já o banco é sociedade de capital com objetivo de lucro.

Enquanto os bancos possuem um número limitado de acionistas, as cooperativas de crédito


podem filiar tantos cooperados quantos forem os interessados em participar da sociedade.

O controle das cooperativas é democrático, ou seja, cada homem tem direito a um voto. Já,
nos bancos, os votos correspondem ao número de ações, assim uma única pessoa pode ter
direito a vários votos, se for detentora de numerosas ações.

O quorum das assembleias das cooperativas é baseado no número de cooperados. Nos


bancos, o quorum depende do capital.

Pela natureza das relações pessoais que se desenvolvem em uma cooperativa, as quotas-
partes pertencentes aos associados não podem ser transferidas a terceiros estranhos à
sociedade. Nos bancos, é admitida a transferência das ações a terceiros.

Nas cooperativas, ocorre o retorno das sobras proporcional ao valor das operações
desenvolvidas pelos associados; já, nos bancos, o dividendo é proporcional ao valor das ações.

As atividades das cooperativas são restritas aos associados. Nos bancos, são livres.

As cooperativas de crédito não oferecem perigo ao Sistema Financeiro Nacional, já que os


prejuízos são suportados pelos associados. Os bancos, por sua vez, oferecem riscos ao
SFN e se sujeitam à falência.

A cooperativa não é subsidiada por fundos do governo, enquanto os bancos recebem esses subsídios.

Por todos esses traços característicos, as sociedades cooperativas se afastam das demais
sociedades financeiras de natureza mercantil, e afastam, categoricamente, assim, a
possibilidade de serem aplicadas as regras do Direito Consumerista às suas relações.

A atuação da sociedade cooperativa não configura, de maneira nenhuma, relação de


consumo, mas, antes, relação de mutualidade, pois seu objetivo é o bem comum de todos os
associados, não havendo intermediação do lucro.

O próprio ato cooperativo, conceituado pela Lei Cooperativista (Lei nº. 5.764/71) em
seu artigo 79 como “aquele praticado entre as cooperativas e seus associados ou entre
cooperativas”, não é considerado como uma operação de mercado, nem contrato de
compra e venda de produto ou mercadoria.

107
Universidade do Sul de Santa Catarina

O serviço crédito oferecido pelas cooperativas de crédito


A razão de ser de uma cooperativa de crédito é a administração do capital, empregando-o
para o bem comum de todos os cooperados, proporcionando autodesenvolvimento e
sustentabilidade financeira aos associados.

Daí se depreende que a sociedade não possui interesse próprio, mas é mera gestora e
instrumentadora do interesse de seus membros. Por essa característica da sociedade, o
“sócio” da cooperativa ocupa, ao mesmo tempo, a posição de sócio e proprietário, sendo o
beneficiário e o benfeitor do negócio desenvolvido pela cooperativa.

Assim, não se admite que um cooperado (que, em verdade, é também dono da cooperativa)
se utilize das suas relações com a sociedade como meio de obter vantagens individuais em
detrimento do interesse coletivo.

Confirma tal argumentação o seguinte julgado:

Código de Defesa do Consumidor. Não tem aplicação a Norma Consumerista


em relação contratual de empréstimo entre cooperado e o ente cooperativo,
vez que os recursos financeiros advêm do patrimônio comum aos membros
cooperados, quando não, da captação de recursos financeiros subsidiados ao
crédito rural (TAPR – AC 0161061-7 – (14081) – 2ª C.Cív. – Rel. Juiz Jurandyr
Souza Junior – DJPR 01.06.2001).

Nesse mesmo sentido, o Relator do acórdão citado assim se manifestou:

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – No caso concreto, não tem aplicação


norma especial Consumerista. Trata-se de relação negocial de empréstimos
financeiros entre cooperativa de crédito rural e um de seus cooperados,
dentro do sistema associativo regido pelas normas coletivas estabelecidas
pelo Cooperativista, inexistindo relação de consumo. O ato cooperativo, em
regra, é um suposto jurídico, ausente de lucro e de intermediação, que realiza
a organização cooperativa em cumprimento de um fim preponderantemente
econômico e de utilidade social. Cooperativa é produto de união de interesses
e esforços individuais de seus membros para atingir fins próprios e de interesse
comum dos cooperados. No cooperativismo há presunção de que age no
interesse do outro, onde a confiança atinge níveis elevados, e os fins buscados
só podem ser alterados em assembléia interna. A Constituição Federal dispõe
sobre o cooperativismo tratando da matéria em diversos dispositivos, e,
especificamente, sobre sua criação no artigo 5º, inc. XVII, Constituição Federal/88.
Por seu turno, a cooperativa, além da legislação especial que rege seus atos
Lei 5764/71, está vinculada às normas estabelecidas pela Assembléia Coletiva
dos Cooperados, a que pertence o embargante apelante, tendo suas normas e
regulamentos estabelecidos por decisões coletivas, democraticamente tomadas
em assembléia, no interesse coletivo, inadmitindo tratamento privilegiado, sob
pena de prejuízo aos demais associados. O ato cooperativo é suposto jurídico,
ausente de lucro e de intermediação, que realiza a organização cooperativa em
cumprimento de um fim preponderantemente econômico e de utilidade social.
Assim, o ato cooperativo, que não configura operação mercantil, e nem compra
e venda – art. 79, Lei 5764/71 – e, portanto, situa o contrato à margem de
relações de consumo, independentemente do nome que se dê ao instrumento
celebrado. Desume-se que a relação jurídica que se estabelece entre cooperativas
e associados-cooperados não está sujeita às disposições do CODECON, pois o
associado não é consumidor, mas sim um dos titulares da sociedade, com quota
de capital e direto de voto.

108
Tributação e Contabilidade nas Cooperativas de Crédito

Conclui-se, então, que as relações entre o associado e a cooperativa são autorreguladas, ou seja, é
o próprio associado quem decide, em assembleia geral e pelo voto, as diretrizes da administração.

Como todos os associados têm direito igual a voto, independentemente de sua cota de
participação societária, as decisões são democraticamente tomadas e não se pode alegar
prejuízo ou tratamento privilegiado de uns em detrimento de outros, pelo menos, não, tendo
como base as disposições do CDC.

Como podemos ver nesse texto, as relações entre as cooperativas e seus cooperados
configuram relações de mutualidade. A sociedade cooperativa ocupa o papel de facilitadora
junto a seus associados, na consecução dos objetivos comuns, expressos no estatuo social e
determinados democraticamente por meio de voto em assembleia, da qual participam todos
os associados, de maneira igualitária.

Não se identifica na sociedade cooperativa qualquer objetivo próprio, diferente do objetivo


coletivo, buscado pelos associados. Dessa maneira, não há argumentos nem fatos que
possam autorizar a aplicação da legislação consumerista às relações cooperativistas.

Pelas características peculiares das sociedades cooperativas, essas não podem ser
demandadas em juízo, sob o argumento de desrespeito à relação de consumo, pois as normas
do Código de Defesa do Consumidor a ela não se aplicam, uma vez que não se identifica
consumidor final nas atividades que a cooperativa desenvolve para com seus associados.

As cooperativas de crédito e as relações trabalhistas


Miguel Impaléa

Diversos aspectos cercam a cooperativa de crédito, inclusive o aspecto das relações


trabalhistas, o qual, como outras tantas particularidades, precisou ser discutido e decidido
conforme as características especiais que possui esse tipo societário.

Mas a pacificação do entendimento não ocorreu sem que algumas contendas judiciais fossem
instauradas, e sem que, inevitavelmente, fosse levantada a equivocada possibilidade de aplicação das
normas que regem a atividade dos bancários aos funcionários das cooperativas.

O sistema financeiro nacional


As cooperativas de crédito, como entidades equiparadas às instituições financeiras, são
regidas pela Lei 4.595/64, a denominada Lei da Reforma Bancária, que regulamenta a atividade
econômica das empresas e instituições que atuam com atividades financeiras. Assim, são
regulamentadas por essa Lei as instituições bancárias e as instituições monetárias e creditícias.

A equiparação das cooperativas de crédito às instituições financeiras, feita pela referida


Lei, justifica-se pelo fato de haver características comuns entre instituições bancárias e
cooperativas de crédito, no que concerne à atividade financeira desempenhada por ambas.

Esse é o único ponto de contato entre os dois tipos de entidades, pois a respectiva forma de
atuação e operacionalização de suas atividades os distanciam.

109
Universidade do Sul de Santa Catarina

A coincidência na natureza da atividade desenvolvida pelas duas instituições, por si só, não
autoriza que os empregados de uma e outra sejam tratados da mesma maneira. Isso porque
sua forma jurídica e finalidade social evidenciam a impossibilidade de tratamento igualitário
entre dois entes substancialmente diferentes, como são as cooperativas de crédito e as
demais instituições financeiras.

As cooperativas de crédito e as instituições bancárias integram um mesmo sistema, o


Sistema Financeiro Nacional, pois são reguladas e fiscalizadas pelos mesmos órgãos – o
Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil, e são equiparadas apenas para o
cumprimento de sua atividade financeira.

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