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Arquitetura e Urbanismo – Fundamentos Socioeconômicos I

Caldeira, Teresa P. R. – Enclaves fortificados: a nova segregação urbana. p.155-176.


Novos Estudos, 1997.
Sinopse: No artigo, a autora analisa o surgimento de um novo modelo de
segregação espacial e social, os enclaves fortificados, espaços privatizados e
monitorados para inúmeras atividades, atraindo aqueles que querem dar as costas
ao espaço público, consequentemente gerando cidades fragmentadas. Assim,
negam a experiência de cidadania dentro dos seus muros que agora constituem o
cenário da vida pública atual.
Anotações:
“Enclaves fortificados geram cidades em que é difícil manter os princípios
básicos de livre circulação e abertura dos espaços públicos que serviram de
fundamento para a estruturação das cidades modernas" (CALDEIRA, 1997, p.155)
"[...] são fisicamente isolados, [...] voltados para dentro, e não para a rua; são
controlados por guardas armados e sistemas de segurança privada que põem em
prática regras de admissão e exclusão.” (CALDEIRA, 1997, p.159)
“A imagem que confere maior status e, portanto, a mais sedutora é a de uma
comunidade fechada e isolada, um ambiente seguro no qual se pode [...] sobretudo,
viver apenas entre iguais.” (CALDEIRA, p.160, 1997)
"[...] shopping centers, complexos de escritórios e outros ambientes com
controle privado, representam uma nova forma de organizar diferenças sociais e
criar segregação" (CALDEIRA, 1997, p.164)
"Para estas elites, [...] também é necessário assegurar que a vida das ruas,
com sua heterogeneidade e imprevisibilidade, fique fora de seus enclaves."
(CALDEIRA, 1997, p.164)
“Percebido como mais perigoso, fraturado pelos novos vazios e enclaves,
desprovido de seus antigos alinhamentos, privatizado [...], pontilhado por
seguranças armados, cães de guarda, guaritas e toda a parafernália para impor
controle, excluir e restringir a circulação, o espaço público em São Paulo é
progressivamente abandonado àqueles que não têm chance de viver, trabalhar e
consumir em enclaves privados, internalizados e fortificados.” (CALDEIRA, 1997,
p.169)
"[...] a "arquitetura-fortaleza" é uma realidade inevitável, mas que tem
consequências profundas na maneira pela qual o espaço e as interações públicas
são conformados." (CALDEIRA, 1997, p.173)
“Uma das condições necessárias para a democracia é que as pessoas
reconheçam os membros de grupos sociais diferentes dos seus como concidadãos,
isto é, como pessoas que têm os mesmos direitos.” (CALDEIRA, 1997, p.175)
“As cidades de muros não reforçam a cidadania; antes, contribuem para sua
erosão.” (CALDEIRA, 1997, p. 176)
Temas para discussão:
Entende-se por enclaves fortificados, espaços privatizados e controlados,
para fins residenciais, de lazer, comércio, etc. A tendência isolacionista se dá no
medo da violência. Dessa forma, abandonando os espaços públicos para os pobres,
afetando sua qualidade e manutenção, pela ausência de participação civil.

Primordialmente, a autora coloca em discussão a inserção da segregação


social no espaço das cidades variando de acordo com o contexto histórico. No
começo do século, São Paulo era uma cidade extremamente concentrada. Já da
década de 40 à de 80, a divisão urbana ficou mais evidente, entre periferia e centro.
Entre os anos 80 e 90 quatro processos resultaram na adoção dos enclaves: A crise
econômica; Movimentos sociais organizados por moradores da periferia; Processo
de terceirização de São Paulo; E o crescimento do crime.

Os anúncios dos enclaves contribuíram para a criação de uma imagem


sedutora, que confere status ao seu público alvo. Concebendo o isolamento e a
homogeneidade de classes sociais que o enclave promete. Sendo uma alternativa à
qualidade de vida na cidade e ao espaço público. Assim, os enclaves oferecem
diversos serviços, que vão desde faxineiras e motoristas até mesmo médicos.
Desse modo, as classes médias e altas criam seu sonho de independência e
liberdade às custas dos trabalhadores pobres que muitas vezes moram em favelas
do outro lado do muro.

A segurança dos condomínios fechados configura outra forma de segregação


através da exclusão dos indesejáveis e do controle dos que lá trabalham. Desta
forma, surge uma relação ambígua de dependência e evitação entre patrão e
empregado. Assim, os enclaves caracterizam uma forma de organização social
pautada na segregação. Eles usam barreiras físicas, como muros, e grandes
espaços vazios para criar separação em relação ao espaço público. São voltados
para o interior, excluindo a interação com a rua e o espaço público. Pretendem ser
independentes e rejeitam a vida exterior, virando as costas para a cidade. Com isso,
as ruas públicas se tornam espaços para a circulação das elites em seus veículos,
enquanto os menos privilegiados dependem do transporte coletivo.

Tais enclaves negam elementos triviais da vida pública moderna, como a


abertura, à diversidade e a circulação livre. Eles representam uma forma de
segregação urbana que vai contra os ideais de igualdade e acessibilidade da cidade
aberta, tendo como primazia a segregação. Teresa argumenta que os atuais
enclaves se utilizam de recursos dos desenhos modernistas visando o isolamento e
ressalta que os elementos do ideal que foram mantidos são os que destroem o
espaço público, e os abandonados são exatamente os pensados para criar
igualdade (fachadas de vidro, ausência de delimitação por muros ou cercas).

A autora ainda apresenta as relações entre Los Angeles e São Paulo. Expondo
os distintos processos na estruturação de suas urbanização, já que a primeira é
definida por uma dispersão e segregação de classes em áreas distintas bem
demarcada e a segunda, uma forte imposição de barreiras físicas e dispositivos de
segurança por meio da “arquitetura defensiva”, pela proximidade com a população
periférica, como descrito na comparação do Morumbi com West Side..

É válido destacar ainda a utilização das classes angelinas de associações


lobistas para obtenção de vantagens políticas, o que para as paulistanas não se faz
necessário pela eficiência governamental nas práticas segregacionistas.

Teresa finaliza o artigo discutindo a maneira como os enclaves fortificados


evidenciam a desigualdade social, econômica e espacial nas cidades em que se
estabelecem. A autora demonstra que esses “muros sociais” chegaram até a vida
cotidiana e têm reflexo nas nossas ações. Por conseguinte, sua justificativa é
reforçada midiaticamente, haja vista que as constantes falas sobre a criminalidade
criam um estereótipo no imaginário da população. Por fim, ela argumenta que essa
nova configuração urbana segregacionista, já consolidada no cenário urbano, não
contribui para a manutenção da democracia, pois vai contra os princípios de
cidadania. No entanto, Caldeira termina o texto com um viés esperançoso, devido a
conscientização da “classe perigosa” quanto ao seu direito ao espaço público e
mostrando que a cidadania resiste.

Autores: Anthony Corrêa/RA 231030495, Bianca Tamarozzi/RA 231034172,


Gabriel Trinca/RA 231030819,Gabriela Ribeiro/RA 231031122, Luan Pereira /RA
231033443, Reginaldo Migliorini /RA 231031751

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