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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ALICE MARCELLE DA SILVA LINS (494343)


ANTONIO ROGER VERAS FERNANDES (511648)

ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO - RELATÓRIO


EXPERIMENTO DE ESQUEMAS DE REFORÇAMENTO

FORTALEZA - CE
2023
1. INTRODUÇÃO

O experimento, para ser executado, pressupôs que aplicássemos princípios teóricos


básicos da Análise Experimental do Comportamento (AEC), a saber: o conceito de reforço e de
esquemas de reforçamento.
De acordo com (MOREIRA & MEDEIROS, p. 51, 2007) “o reforço é um tipo de
consequência do comportamento que aumenta a probabilidade de um determinado
comportamento voltar a ocorrer”. Com efeito, tudo que for consequente à ação do organismo e
que produza de resposta um aumento na frequência de emissão de um dado comportamento,
pode-se dizer que é reforçador.
No experimento, o tipo de reforçamento se deu a partir de palavras de afirmação (a
exemplo de “muito bem”, "ótimo"), que denotam um desempenho adequado, a cada vez que o
comportamento alvo foi realizado pelo sujeito experimental.
No dia a dia, os reforços são múltiplos e, em geral, se organizam de formas distintas, de
acordo com a relação mantida entre o organismo e as contingências ambientais. Dessa maneira,
há esquemas de reforço contínuo, em que o organismo é reforçado constantemente ao emitir o
comportamento desejado e há esquemas intermitentes, em que ora o organismo recebe reforço e
ora não, sendo essa frequência definida por intervalos de tempo fixo ou variável, ou por número
de resposta fixa ou variável.
Em fins comparativos, o reforço contínuo se mostra proveitoso para a aquisição de novos
comportamentos, enquanto o reforço intermitente é o mais presente na vida cotidiana e se mostra
eficaz na manutenção de um comportamento, devido a sua maior resistência à extinção
(MOREIRA & MEDEIROS, 2007).
Na aplicação, buscou-se observar os efeitos do reforço no comportamento do sujeito
experimental e de que forma se dava sua preferência e escolha por certos comportamentos em
detrimento de outros.

2. DETALHES DA APLICAÇÃO
O experimento foi feito no dia 19/05/2023, em uma sexta-feira, por volta das 12h10min
da tarde, na Biblioteca de Ciências Humanas, localizada no Centro de Humanidades I da
Universidade Federal do Ceará (UFC).
Convidamos a estudante do quinto semestre de Letras Luana Maria, de 21 anos, que se
propôs a participar por intermédio da estudante Alice Marcelle – que faz parte da elaboração do
experimento e deste relatório.
Dispomos de um horário em que Luana já estivesse livre das atividades discentes, no
período da tarde, e nos organizamos para realizarmos a experimentação em lugar calmo,
silencioso e reservado, motivo pelo qual nos direcionamos à biblioteca.
Desse modo, escolhemos uma mesa próxima à janela e nos sentamos. O estudante Roger
Veras, ficou responsável por anotar, na folha de registro, os pronomes usados por Luana na
elaboração das frases, além de indicar, com um asterisco, quando houve o reforçamento. Alice,
por sua vez, esteve na função de – além de indicar os verbos a serem utilizados por Luana –
reforçar, por meio de palavras afirmativas, quando o sujeito experimental emitia o
comportamento de nosso interesse.
A distribuição dessas funções, para a realização do experimento, não foi por acaso.
Consideramos que o reforçamento deveria vir de Alice, pelo fato de que ela e Luana já tinham
previamente uma relação de proximidade, de modo que, quando houvesse o reforço, ele fosse
mais facilmente identificado por Luana.

3. RESULTADOS

Para a realização do experimento, o comportamento de emitir o pronome "nós" foi


escolhido para reforço, em um esquema de reforço intermitente de razão variável (2,3). Na
contingência apresentada, se o sujeito experimental emitisse o comportamento de formar frases
com o pronome "nós", então ele era reforçado com palavras afirmativas, indicadoras de bom
desempenho.
Conforme a tabela 1, o pronome selecionado foi emitido 33 vezes na fase de
reforçamento, equivalente a 27,5%. Dessa forma foram disponibilizados 12 reforços, de acordo
com o esquema em vigência. No entanto, percebe-se ao analisar as tabelas e os gráficos que o
comportamento não seguiu o padrão esperado, visto que o comportamento não aumentou de
frequência ao se comparar a linha de base e a fase de reforçamento, tampouco no comparativo
entre os demais pronomes do experimento durante a fase de reforçamento. Contudo, se manteve
constante em 6 respostas, com pequena variação de 1 resposta a mais no bloco de 81-100 e 2
respostas a menos no bloco de 41-60.
Ademais, vê-se que o pronome mais utilizado foi o “eu”, com aumento de frequência no
decorrer dos blocos. Já o pronome “ele”, teve sua frequência diminuída e o pronome “eles”
aumentou em comparação à linha de base, porém se manteve constante na fase de reforçamento.

EU ELE NOS ELES


FR % FR % FR % FR %
LINHA DE
BASE 5 25% 5 25% 7 35% 3 15%
REFORÇA
MENTO 36 30% 22 18,3% 33 27,5% 29 24,01
Tabela 1: Comparativo de frequência em número absoluto e porcentagem entre as duas
fases o experimento

Gráfico 1: Comparativo de frequência em porcentagem entre as duas fases do


experimento

EU ELE NOS ELES


FR % FR % FR % FR %
21-40 5 25% 4 20% 6 30% 5 25%
41-60 6 30% 5 25% 4 20% 5 25%
61-80 5 25% 5 25% 6 30% 4 20%
81-100 8 40% 2 10% 5 25% 5 25%
101-120 6 30% 3 15% 6 30% 5 25%
121-140 6 30% 3 15% 6 30% 5 25%
Tabela 2: Comparativo de frequência em número absoluto e porcentagem entre blocos de
20 verbos

Gráfico 2: Comparativo de frequência em porcentagem entre blocos de 20 verbos

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


A partir dos resultados obtidos da aplicação do experimento, observamos a necessidade
de uma análise funcional para compreensão das variáveis que controlam o comportamento
verbal analisado.
No final do experimento, foi perguntado à Luana a respeito de como ela compreendeu o
reforço e sobre como o reforçamento afetou na construção das frases. Do modo como ela nos
contou, o reforço foi entendido com o objetivo de sustentar frases mais complexas, consequente
que, a cada reforçamento, ela visava a construir sentenças mais longas e elaboradas.
Para nós, levou-se em consideração o contexto de Luana, como estudante de Letras, por
estar cotidianamente imersa em atividades acadêmicas associadas à compreensão, ao estudo e à
elaboração de frases. Com efeito, usar sentenças mais complexas pode ser mais reforçador, em
sua história de vida, do que frases de caráter mais simples e imediatas.
Além disso, na construção do experimento, fica-se possível interpretar a partir de dois
tipos possíveis de comportamento a serem reforçados. Isto é, da escolha de determinados
pronomes (eu, ele, nós, eles), ou em relação, como já foi citado, à formação de frases – mais
simples ou complexas. Apesar de ser esclarecido nas instruções a não preferência por certas
estruturas, ainda há a possibilidade dessa interpretação.
No mais, a escolha do esquema de reforçamento interfere diretamente no efeito do
reforço. Pois, como citado anteriormente, o esquema mais eficaz para a aquisição de novos
comportamentos seria o de reforço contínuo. Dado que o sujeito receberia um número maior de
reforços e consequentemente seria mais provável de compreender o comportamento que estaria
sendo reforçado.
Sendo assim, é possível mudar o modo como uma pessoa fala, porém, é necessário ter em
vista que há fatores diversos que influenciam no comportamento verbal do sujeito, como a
comunidade verbal da qual ele faz parte e os reforços anteriores que ele recebeu em sua história
de vida. Nesse sentido, se estabelece uma perspectiva funcional, ou seja, uma análise das
contingências responsáveis por aquele comportamento.
A análise funcional possibilita que identifiquemos variáveis relacionadas para a
ocorrência de um fenômeno e por isso permite intervenções, ao possibilitar planejamento para
manutenção ou modificação desse fenômeno (MATOS, 1999).

5. REFERÊNCIAS

MOREIRA, M. B. MEDEIROS, C. A. de. Princípios básicos de análise do comportamento.


Porto Alegre: Artmed, 2007

Matos, M. A.. (1999). Análise funcional do comportamento. Estudos De Psicologia (campinas),


16(3), 8–18. https://doi.org/10.1590/S0103-166X1999000300002

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