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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERIAS

PSICOLOGIA

ANA CLARA DE MOURA REIS

EXPERIMENTO COMPORTAMENTO VERBAL

BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS

2022
Introdução

Nesse trabalho irei apresentar os resultados encontrados no experimento de comportamento verbal


proposto pela professora Maria Cristiana Seixas Villani, da disciplina de Análise do Comportamento.

Para introduzirmos o trabalho, é importante explicarmos o conceito de Comportamento Verbal. O


comportamento verbal se encaixa no que denominamos de comportamento operante.

Podemos afirmar que a maior parte de nossos comportamentos produz mudanças no ambiente.
Quando as consequências do comportamento alteram a probabilidade de sua ocorrência no futuro,
estamos falando de um comportamento operante. Essas consequências podem aumentar a
probabilidade desse comportamento voltar a ocorrer no futuro (consequências reforçadoras), como
podem diminuir a probabilidade desse comportamento ocorrer novamente (consequências punitivas).

Além dos conceitos de reforço e punição, também é importante entendermos o conceito de extinção.
A extinção acontece quando há a suspensão de uma consequência reforçadora anteriormente
produzida por um comportamento, diminuindo a frequência daquele comportamento.

Além de ser um comportamento operante, o comportamento verbal tem outras particularidades.

A característica mais marcante do comportamento verbal é o seu caráter relacional. Diferentemente


do comportamento não - verbal, ele é sempre mediado por outra pessoa.

Exemplos de comportamento verbal: Falar, gesticular, expressões faciais, escrever, etc.


Após explicarmos o conceito, acho relevante trazer sobre o foco de estudo do nosso trabalho.O
objetivo do estudo é investigar o efeito do reforço sobre o comportamento verbal. Para isso usaremos
90 fichas de papel com verbos e vamos solicitar que o participante formule frases com cada um
desses verbos, alternando entre os 6 pronomes.

Vamos emitir reforço, de maneira sutil, a um pronome escolhido não aleatoriamente. Dessa maneira
poderemos observar os efeitos do comportamento do ouvinte sobre o comportamento do falante
(sujeito experimental), verificando se a frequência do pronome reforçado aumenta a partir do
momento em que se estabeleceu o reforço, e se ela vai diminuir com o processo de extinção.

Portanto, para preparar o experimento precisamos de providenciar as 90 fichas de papel, além de


uma folha de instruções e uma folha de registro que foram disponibilizadas previamente. Para
participar da sessão experimental, devemos escolher um sujeito ingênuo. Em outras palavras, é
necessário se certificar que o participante escolhido não tenha conhecimento prévio acerca do
experimento e de suas bases teóricas. Após escolhido o participante, é importante procurar um local
adequado, sem interrupções. Nesse local deve-se sentar- se de frente para o sujeito, e fazer a
contagem dos pronomes sem que ele perceba. É importante sempre respeitar o ritmo do participante.

O experimento é divido em 3 etapas. É importante ressaltar que as fases são apenas do


conhecimento do avaliador. O instrumentador deve percorrer as fases do teste de acordo com as
instruções de cada fase. Cada fase contém 30 verbos. Em cada fase o instrumentador deve anotar a
frequência de cada pronome. Não é necessário anotar as frases formadas.

Linha de Base: apresentar as fichas uma a uma, sem emissão de reforço a nenhum pronome,
mantendo uma postura assertiva. Fazer a contagem correta da frequência.

Fase de Treino: apresentar as fichas uma a uma, com emissão de reforço a um pronome escolhido.
O reforço deve ser sutil, como um leve sorriso ou um comentário discreto. Não deve ser escolhido o
pronome mais frequente da LDB nem o menos frequente. Fazer a contagem correta da frequência.

Fase de Teste: nessa fase temos o processo de extinção, suspendendo o reforço ao pronome
escolhido previamente. Deve-se apresentar as fichas uma a uma, sem emissão de reforço a nenhum
pronome, fazendo a contagem correta da frequência.
Descrição da metodologia

A princípio, procurei preparar com antecedência o que seria necessário para o experimento. Escolhi
90 verbos e os separei em fichas. Além disso, procurei realizar o experimento em um local
adequado. Escolhi um quarto da casa com o mínimo de distrações, onde não fossemos
interrompidas por terceiros. Para participar do processo escolhi minha irmã, que não tem
conhecimento prévio acerca do experimento e das bases teóricas da Análise do Comportamento.

Expliquei a ela acerca de todo o procedimento. Ressaltei que é um processo no qual ela não precisa
se preocupar com seu desempenho, e me coloquei a disposição para sanar quaisquer dúvidas.
Mantive alguns detalhes apenas ao meu conhecimento, como acerca das fases do processo.
Conversei com ela até que ela se sentisse mais confortável. Por fim, entreguei a folha de instruções
e sinalizei o início do procedimento.

Ao longo de todo o processo foi feita a entrega de uma ficha por vez. Ao longo da primeira fase não
emiti reforço a nenhum pronome, mantendo uma postura assertiva. Na fase de treino, dei início ao
processo de reforço. Escolhi o pronome “Eu” tendo em vista que ele não foi o pronome mais emitido
nem o menos emitido. Nos momentos de sua emissão eu emitia um sorriso sutil ou um comentário
discreto: "Isso”, “Correto”.

Ao adentrar a fase de Teste, suspendi o reforço, como foi solicitado. Me certifiquei que tinha todas as
anotações necessárias e encerrei o experimento. De maneira geral, é importante ressaltar que
realizei corretamente as instruções de cada uma das fases do processo. Realizei as anotações
discretamente e fiz a contagem correta dos pronomes. Tomei o máximo de cautela para não cometer
nenhum erro que alterasse o resultado final do teste. Procurei sempre adotar uma postura adequada
para que a participante se sentisse o mais confortável possível. Por fim, conclui explicando em mais
detalhes o experimento para a participante, assim como foi solicitado.
Resultados

Na tabela acima temos os valores da frequência de cada um dos seis pronomes ao longo das três
fases do experimento. Acima da tabela temos a representação gráfica desses valores para uma
melhor visualização. Como podemos observar pelos dados apresentados, na primeira fase, a
participante formou frase com todos os verbos, sendo o pronome mais utilizado o “Ele”, usado 15
vezes. O pronome menos utilizado foi o “Vocês”, sendo usado apenas uma vez.

A partir da Fase de Treino, o pronome “Eu” foi escolhido para ser reforçado. É possível perceber que
houve um aumento significativo na frequência desse pronome após o reforço. A partir da fase de
Teste, suspendi o reforço para o pronome escolhido. Mesmo com a suspensão do reforço, o
pronome não diminui de frequência. Discutiremos acerca disso no próximo tópico do trabalho.

Em relação a participante, ela entendeu bem as instruções dadas a ela. Não apresentou nenhum tipo
de resistência. No começo do teste estava um pouco ansiosa, mas de maneira geral aderiu muito
bem ao teste e apresentou facilidade para cumpri-lo.
Discussão e Conclusão

Como foi mencionado anteriormente, a emissão de reforço para o pronome escolhido gerou os
resultados que eram esperados. Já a fase de extinção gerou resultados curiosos. O pronome “Eu”
manteve a mesma frequência na fase de treino e na fase de teste, mesmo com a extinção do reforço.
É relevante levantarmos hipóteses com o objetivo de entender porque a suspensão do reforço não
causou diminuição na frequência do pronome.

Acredito que o processo de extinção não gerou os resultados esperados porque a quantidade de
pronomes era muito pequena para vermos o processo de extinção tomar forma. Estudamos
previamente que quando suspendemos o reforço temos um processo acontecendo até a diminuição
daquele comportamento. A diminuição da frequência daquele comportamento não é algo imediato.
Aprendemos ao longo das aulas que logo após a suspensão do reforço, existe uma tendência
daquele comportamento aumentar de frequência e variabilidade até começar a diminuir sua
frequência aos poucos. Acredito que se repetirmos esse experimento aumentando o número de
verbos conseguiríamos ver esse processo acontecer.

Além disso, é válido ressaltar que inúmeros fatores podem influenciar no resultado de uma avaliação.
O próprio estado mental do participante, o fator ansiogênico típico das avaliações. Um participante
que não dormiu bem, ou que não está se sentindo bem provavelmente vai refletir esses aspectos no
resultado. O desejo do paciente de encerrar o procedimento para engajar em atividades mais
prazerosas. Inúmeros fatores podem ser distratores. Apesar de acreditar que a brevidade do teste foi
fator determinante para o processo de extinção não ter acontecido da forma esperada, é importante
considerar outras possibilidades.

Talvez a escolha do pronome tenha sido um desses atravessamentos. Acredito que temos uma
tendência de a princípio fazer uso do pronome “Eu” para formular frases. Isso porque para muitas
pessoas pode ser mais prático formular frases na primeira pessoa. Principalmente em um contexto
de avaliação, um contexto ansiogênico, acho que as pessoas tendem a escolher o pronome mais
fácil, para não cometer erros. Porém teríamos que verificar se essa hipótese possui fundamento.
Talvez esse fator também tenha sido um reforçador ao uso desse pronome.

De qualquer forma, foi muito gratificante poder observar o que foi aprendido ao longo da disciplina na
prática. Acho que o maior desafio da execução do experimento foi manter uma postura mais neutra
ao avaliar uma integrante da minha família. Tenho uma relação de muita leveza e intimidade com
minha irmã, e o contexto de avaliação exigiu que eu tivesse uma postura mais neutra e assertiva. O
que eu mais gostei no experimento é a possibilidade de rever o que foi estudado ao longo do
semestre de maneira mais dinâmica e interessante. A disciplina de Análise do Comportamento é uma
das bases da prática profissional do psicólogo, independentemente da sua abordagem.
Particularmente o contato com essa disciplina foi uma experiencia proveitosa. Que o conhecimento
adquirido permita sermos um agente transformador através da nossa prática. Agradeço a
oportunidade.
Bibliografia

SÉRIO E Col. (2004). Capítulo 5. Comportamento Verbal. Em controle de estímulos e


comportamento operante uma (nova) introdução pp.113 - 137. São Paulo.

MATOS, A M. As categorias formais de comportamento verbal em Skinner.

MOREIRA, M B ; MEDEIROS A C . Princípios básicos de análise do comportamento. Editora Artmed,


2019. 2° edição.

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