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Aprendizagem pelas consequências:

O reforçamento
O segundo tipo de comportamento que engloba a maioria dos comportamentos dos organismos é o o
comportamento operante. Classificamos como operante o comportamento que produz consequências
que se constituem em alterações no ambiente e cuja probabilidade de ocorrência futura é afetada por
tais consequências. Conheceremos um outro tipo de aprendizagem, que se dá pelo procedimento
chamado de condicionamento operante. Nesse segundo tipo, faremos referência aos comportamentos
que são aprendidos em função de suas consequências, em função das modificações que produzem no
ambiente. Agora, em vez de falarmos de contingências S → R, falaremos de contingências R → S (ou
R → C), nas quais uma resposta do organismo produz uma alteração no ambiente, chamada de
consequência.

O comportamento operante produz consequências no ambiente.

Exemplos:

Comportamento (resposta) Consequência

Dizer “Oi!” → Outra pessoa responder “Olá!”

Apertar um botão → Chegada do elevador ao andar

Fazer o dever de casa → O professor elogiar

Fazer juras de amor → Ganhar um beijo

Chorar → Obter atenção das pessoas

O comportamento operante é influenciado (controlado) por suas conseqüências

Dizer que as consequências dos comportamentos os controlam, de maneira geral, é o mesmo


que dizer que elas determinarão se os comportamentos que as

produziram ocorrerão com maior ou menor frequência no futuro. Exemplos:

Comportamento (resposta) Consequência

Fazer “bagunça” em sala de aula → Obter atenção do professor

Fazer “bagunça” em sala de aula → Obter atenção dos colegas

Dizer que dirigiu em alta velocidade → Admiração dos amigos (de alguns)
“Matar” aula → Obter tempo livre

Consequência reforçadora é um tipo de consequência que aumenta a probabilidade de que


volte a ocorrer o comportamento que a produziu. Novamente, temos uma relação entre o
organismo e seu ambiente, na qual o organismo emite uma resposta (um comportamento); esta
produz alterações no ambiente; e essas alterações modificam a probabilidade de tal
comportamento voltar a ocorrer. Essa interação entre o organismo e o ambiente é descrita, em
termos técnicos, por uma contingência de reforçamento. A contingência de reforçamento é
expressa na forma se... então... – se o comportamento X ocorrer, então a consequência Y
ocorre. Isso é representado por R → C.

As características físicas de um estímulo, ou suas propriedades, não podem, por si só, qualificá-
lo como reforçador. Há um simples: se você está há dois dias sem comer, comida pode tornar-
se um estímulo reforçador. Entretanto, se acabou de comer muito, o seu prato predileto poderá
até mesmo ser aversivo.

Além de aumentar a frequência de um comportamento, o reforçamento tem, pelo menos, dois


outros efeitos sobre o comportamento dos organismos. Um deles é a diminuição da frequência
de outros comportamentos diferentes do comportamento reforçado. Outro efeito do
reforçamento é a diminuição da variabilidade na topografia da resposta reforçada. A
topografia da resposta é um conceito relativo à forma de uma resposta, podendo envolver
padrões sonoros de vocalizações ou de movimentos da pessoa, por exemplo. Geralmente, nas
primeiras vezes em que um rato, em uma caixa de condicionamento operante, pressiona a barra,
ele o faz de maneiras bem diferentes, por exemplo, o faz com a pata esquerda, com a direita,
com as duas ou com o focinho. À medida que o comportamento de pressão à barra é
continuamente reforçado, o mesmo passa a ocorrer de uma forma – com uma topografia – cada
vez mais parecida, ou seja, passa a ocorrer quase todas as vezes com a mesma pata apoiada
basicamente no mesmo ponto da barra.

Extinção operante
Quando suspendemos (encerramos) o reforçamento de um comportamento, verificamos que a
frequência de sua ocorrência diminui, retornando ao seu nível operante, isto é, retornando à
frequência com que ocorria antes de ter sido reforçado. Portanto, a suspensão do reforçamento
é um procedimento de extinção operante. A suspensão do reforçamento produz uma
diminuição na frequência de um comportamento, é possível concluir que os efeitos do
reforçamento em relação à manutenção do comportamento são temporários.

Outros efeitos da extinção é que pode haver um aumento na frequência da resposta no início
do procedimento de extinção. Durante um procedimento de extinção, antes de a frequência da
resposta começar a diminuir, ela pode aumentar abruptamente. Um exemplo simples dessa
característica do processo de extinção no comportamento cotidiano pode ser observado quando
tocamos a campainha da casa de um amigo e não somos atendidos. Provavelmente você já
passou por uma situação assim. O que geralmente fazemos antes de virarmos as costas e ir
embora? Começamos a pressionar o botão da campainha várias vezes antes de desistir. É
importante lembrar que esse aumento inicial pode ocorrer, e não que necessariamente ocorrerá
em todos os processos de extinção. Outra característica é o aumento na variabilidade
da topografia da resposta. Logo no início do processo de extinção, a forma como o
comportamento estava ocorrendo começa a modificar-se.
Pode haver também no processo de extinção evocação de respostas emocionais.

Resistência à extinção
Quantas vezes o ex-namorado irá ligar para a ex-namorada tentando reatar o romance até que
desista de uma vez por todas? Quando nos perguntamos isso estamos indagando. sobre
resistência à extinção, que pode ser definida como o tempo ou o número de vezes que um
determinado comportamento continua ocorrendo após a suspensão do reforçamento. Dizemos
que, quanto mais tempo, ou quanto maior o número de vezes que o comportamento continua a
ocorrer sem ser reforçado, maior é a sua resistência à extinção.

Por que algumas pessoas prestam vestibular para medicina oito ou nove vezes sem serem
aprovadas, enquanto outras desistem já na primeira reprovação? Em que condições
continuamos a emitir um comportamento não reforçado? Ou seja, que condições afetam a
resistência à extinção? Vários fatores (ou, dito de outra forma, diversas variáveis) influenciam a
resistência à extinção de um comportamento. A seguir, serão descritos alguns deles.

Número de exposições à contingência de reforçamento: Quanto mais vezes um


comportamento for reforçado, mais resistente à extinção ele será. Custo da resposta:
Quanto mais esforço é necessário para emitir um comportamento, menor será a sua resistência à
extinção; em outras palavras, “se for mais difícil, desisto mais rápido”.
Intermitência do reforçamento: Quando um comportamento às vezes é reforçado e às vezes
não, ele se tornará mais resistente à extinção do que um comportamento reforçado todas as
vezes que ocorre. É mais fácil, por exemplo, extinguir o comportamento de fazer birra que é
reforçado todas as vezes em que ocorre do que extinguir aqueles que são reforçados apenas
ocasionalmente.

Modelagem
O bebê emitiu a resposta “dizer ‘mã’”, e a consequência desse comportamento foi receber
atenção e carinho da mãe, os quais, geralmente, são potentes estímulos reforçadores no controle
do comportamento humano. Se essas consequências apresentadas pela mãe resultarem no
aumento da probabilidade de que o bebê volte a dizer “mã” quando ela estiver próxima,
podemos afirmar que o carinho e a atenção dela são estímulos reforçadores para os
comportamentos daquela criança. Se depois de algum tempo, provavelmente a mãe deixará de
dar tanta atenção e carinho quando seu filho disser apenas “mã”. O fato de a mãe fazer isso
consiste no procedimento de extinção. Vimos que, quando um comportamento é colocado em
extinção, ocorre um aumento na variabilidade de sua topografia. Esse aumento na
variabilidade topográfica poderá acontecer com o comportamento do bebê, de modo que ele
provavelmente emitirá variações de “mã”, como “mãb”, por exemplo. É provável que a criança,
em algum momento, repita o “mã” logo após emitir o primeiro “mã”, formando, “mãmã”.
Provavelmente, a mãe passará a reforçar essa resposta verbal, uma vez que se assemelha mais a
“mamãe”. Agora, emitir a topografia de resposta “mãmã” é fortalecido pelas consequências
providas pela genitora – até que ela deixe de reforçar essa topografia, como fizera antes com
“mã”. Denominamos o procedimento que a mãe, intuitivamente, utilizou para ensinar seu filho
a dizer “mamãe” de modelagem comportamental ou apenas de modelagem. A modelagem é
um procedimento de reforçamento diferencial de aproximações sucessivas de um
comportamento-alvo. O resultado final desse procedimento é um novo comportamento
construído a partir de combinações de topografias de respostas já presentes no repertório
comportamental do organismo.

O reforçamento diferencial consiste em reforçar algumas respostas que obedecem a algum


critério e em não reforçar aquelas que não atendem a tal critério, para reforçar um determinado
comportamento. Três aspectos devem ser levados em consideração:

O primeiro é a imediaticidade do reforço em relação à resposta: quanto mais temporalmente


próximo da resposta o estímulo reforçador for apresentado, maior será o seu efeito sobre o
comportamento.

O segundo aspecto principal é que não se deve reforçar demasiadamente em cada passo
intermediário. Como vimos, o reforçamento vai reduzindo a variabilidade da resposta. Assim,
se reforçamos muito uma resposta intermediária, ela pode ficar muito fortalecida, dificultando o
aparecimento de respostas mais

próximas ao comportamento final quando colocarmos a resposta intermediária em extinção.

O terceiro aspecto é que se deve ter passos intermediários graduais, reforçando pequenos
avanços a cada passo. Caso a distância topográfica entre um passo e outro seja muito longa,
muitas respostas ocorrerão sem serem reforçadas, o que pode resultar na deterioração do que já
fora aprendido previamente. Isso atrasaria a modelagem, uma vez que as respostas outrora
estabelecidas precisarão ser novamente ensinadas.

Modelagem versus modelação


Na modelagem os comportamentos são gradualmente selecionados por suas consequências. Já
na modelação, ou aprendizagem por observação de modelos, o comportamento de um
organismo tem a sua probabilidade alterada em decorrência da observação do comportamento
de outro organismo e da consequência que este produz.

Reforçadores sociais e não sociais


Nos estímulos reforçadores sociais, a mudança produzida pelo comportamento no ambiente é
justamente seu efeito sobre o comportamento de outra pessoa. Reforçadoras sociais são então
aquelas alterações no comportamento alheio que resultam no aumento da frequência do
comportamento que as produz,Quando o bebê do exemplo anterior dizia “mã”, sua mãe sorria e
lhe acariciava a barriga. O sorriso e a carícia da mãe, nesse caso, seriam exemplos de
reforçadores sociais, uma vez que se constituíram no comportamento de outra pessoa (a mãe) e
fortaleceram o comportamento do bebê de dizer “mã”.

Podemos definir os não sociais como aqueles cuja função fortalecedora independe dos efeitos
de um comportamento sobre o comportamento de outra pessoa. Reforçadores não sociais, dessa
forma, podem ser definidos como alterações no ambiente não social, isto é, no ambiente que
não se refere ao comportamento alheio. Alguns exemplos seriam: a luz acender após apertar o
interruptor; abrir uma torneira e a água sair.

Reforçadores naturais e arbitrários


Alguns autores, diriam que, se o comportamento do músico de tocar violão é reforçado pelo
som que sai do instrumento, o som produzido seria um estímulo reforçador natural. Esses
mesmos autores diriam ainda que, se esse mesmo comportamento fosse reforçado pelo
pagamento do cachê, talvez pudéssemos falar que o dinheiro seria um estímulo reforçador
arbitrário. Nesse sentido, estímulos reforçadores naturais seriam aqueles produzidos
diretamente pelo comportamento, ao passo que estímulos reforçadores arbitrários seriam
aqueles mediados, de alguma forma, pelo comportamento de outra pessoa.

Comportamento, respostas e classes de respostas


Uma instância do comportamento, por sua vez, pode ser definida como uma ocorrência isolada
desse comportamento. Quando, por exemplo, o rato pressiona a barra, dizemos que ocorreu
uma resposta de pressão à barra. O conjunto de todas as respostas de pressão à barra, nesse
caso, é chamado de comportamento de pressão à barra e também designado de classe de
respostas de pressão à barra. É por isso que dizemos, por exemplo, que o rato emitiu 10
respostas de pressão à barra, e não 10 comportamentos de pressão à barra.

Agrupamento pela relação funcional:

Agrupamento pela topografia da resposta;

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