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PROPÓSITO
Refletir sobre a complexidade dos desenhos experimentais e dos procedimentos que permitem
desenhar pesquisas mais válidas e confiáveis no campo da Psicologia permite o
desenvolvimento de destrezas na execução de pesquisas científicas e na análise crítica do
futuro profissional.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Analisar a importância da realização de experimentos controlados em Psicologia
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
Determinar quando ocorre a causalidade propriamente dita é uma das tarefas mais
desafiadoras da pesquisa em Psicologia. Exatamente por essa dificuldade, muitas vezes,
assumimos conclusões precipitadas, que podem levar a decisões equivocadas no campo
científico. Devemos buscar a melhor maneira de formular e pesquisar as várias perguntas que
precisam ser respondidas na Psicologia, sempre tomando direcionamentos baseados no
método científico. Assim, é fundamental reconhecer como se dá a manipulação experimental,
bem como as diferentes formas de elaborar o planejamento de uma pesquisa científica válida e
confiável.
MÓDULO 1
A correlação é um procedimento estatístico de análise, que nos permite observar em que grau
e em que direção uma variável muda em conjunto com outra variável, mas esta variação não
implica uma relação de causa e efeito. O maior erro cometido pelos pesquisadores é concluir
que, somente porque um evento ocorre conjuntamente com outro, um deles seria a causa do
outro.
Na imagem, temos o ovo e a galinha. Há uma ampla discussão acerca de qual veio primeiro.
Esse é um dilema de causalidade. Ao considerarmos que a galinha nasceu do ovo e o ovo foi
colocado pela galinha, torna-se difícil determinar o responsável pela criação original.
Uma das formas mais utilizadas para verificar causalidade é por meio de experimentos
randomizados e controlados. Ou seja, para ocorrer a inferência de que uma variável
independente causou modificações na variável dependente, é necessário planejar um
experimento com um rigoroso controle experimental, com a manipulação das variáveis de
pesquisa e com a adoção da randomização como forma de escolher ou organizar os
participantes do experimento.
RANDOMIZAÇÃO
É preciso impor exigências rigorosas para concluir que existe realmente uma relação causal.
Alguns estudiosos argumentam que a relação de causa e efeito somente é comprovada se a
causa for necessária e suficiente para a ocorrência do efeito.
Na imagem, podemos entender a causa da queda das fichas de dominó, na medida em que
elas só caem quando a pessoa bate com a mão na primeira ficha, que bate na ficha seguinte, e
assim sucessivamente. Se uma das fichas finais cair antes do tempo, podemos duvidar dessa
lógica causal.
Para que se estabeleça uma relação causal, é importante observar algumas características: a
temporalidade, a covariação das variáveis e o controle das variáveis externas.
TEMPORALIDADE
A questão da temporalidade quer dizer que uma situação só se modifica se houver uma
variável independente atuando no momento anterior ao da modificação da variável
dependente. Portanto, a variável independente teria que ser apresentada antes na ordem
temporal dos eventos e, então, ser seguida pelo efeito na variável dependente. Ao
administrar o método experimental, o investigador trata da ordem temporal, manipulando
primeiro a variável independente e, então, observando se existe algum efeito sobre a variável
dependente.
COVARIAÇÃO DAS VARIÁVEIS
A covariação entre as variáveis também é um elemento importante, tendo em vista que uma
variável deve modificar os seus resultados em função da variação da outra variável, portanto,
para estabelecer uma relação causal, deve haver a covariação das duas variáveis. Uma
mudança na primeira variável deve ser acompanhada por uma mudança na segunda.
O MÉTODO CORRELACIONAL
Para falarmos sobre o método correlacional, vamos pensar no seguinte problema psicológico:
muitos estudos mostraram que existe uma relação entre ansiedade e depressão. Com isso,
pacientes que apresentam altos níveis de ansiedade também apresentam altos níveis de
depressão (CLARK; WATSON, 1991).
VER RESPOSTA
RESPOSTA
A resposta é não! Depressão e ansiedade são variáveis correlacionais, ou seja, uma implica o
resultado da outra, mas não podemos afirmar que uma é causa da outra.
A covariação implica o grau de interdependência entre duas variáveis. Isso quer dizer que,
quando uma das variáveis é alterada, observamos sempre alterações na outra variável. Então,
ainda que não possamos afirmar quem causa essa variação, pois a ela pode ser entendida
dois lados, podemos ter certeza de que essas duas variáveis estão fortemente associadas.
Esse conceito remete àquele questionamento popular: vende mais porque é fresquinho ou é
fresquinho porque vende mais?
O objetivo dessa pesquisa foi verificar uma possível relação entre percepção da imagem
corporal e a incidência de transtornos alimentares em estudantes brasileiras saudáveis. Esse
artigo contou com a utilização de escalas aplicadas em 219 participantes no Brasil. Para
mensurar as características relacionadas aos transtornos alimentares, a escala EAT-26 foi
aplicada. Já para aspectos da imagem corporal, a escala BSQ-34 foi administrada nas
participantes. Em ambas as escalas, quanto maior era a percepção corporal, mais frequentes
ou intensos eram os sintomas relacionados a distorções na percepção da imagem corporal e
em disfunções no comportamento alimentar. Os resultados corroboram a ideia de que a
insatisfação corporal e os transtornos alimentares estão associados.
ESCALA EAT-26
EAT-26 (Eating Attitudes Test) é uma escala de atitudes alimentares composta por 26 questões
em uma escala tipo Likert de 6 pontos, que varia de nunca a sempre.
ESCALA BSQ-34
BSQ-34 (Body Shape Questionnaire) é uma escala para avaliação da imagem corporal nos
transtornos alimentares. A versão original do BSQ tem 34 itens, organizados em uma escala
tipo Likert de 6 pontos, que varia de nunca a sempre.
Correlação entre a percepção sobre a imagem corporal e transtornos alimentares.
A partir da análise do gráfico, podemos inferir que a correlação nesse caso foi positiva, pois
enquanto a variável Imagem corporal aumentava, a outra variável Transtornos alimentares
também aumentava em proporções semelhantes. O gráfico indica que as duas variáveis estão
relacionadas. Apesar de esse gráfico não se referir a uma correlação forte ou perfeita, é
possível testar formalmente a correlação entre ambas as variáveis.
Uma das regras fundamentais do delineamento correlacional é que não se pode inferir
causalidade a partir de correlações.
No exemplo, não poderíamos afirmar que a percepção sobre a imagem corporal iria causar os
transtornos alimentares, mas sim que essas variáveis estão correlacionadas. A pesquisa
correlacional busca explorar as relações que possam existir entre as variáveis, exceto a
relação de causa e efeito.
SAIBA MAIS
O termo correlação, portanto, é definido como o relacionamento entre duas variáveis, quando o
valor de uma variável se modifica conjuntamente com o de outra. O principal objetivo do uso de
correlações na Psicologia é descobrir as variáveis que estão conectadas umas às outras.
Assim, a pesquisa correlacional em Psicologia permite estabelecer de que forma as variáveis
interagem entre si. Dessa maneira, quando a mudança em uma delas é evidenciada, pode-se
supor como será a mudança na outra diretamente relacionada a ela.
TIPOS DE CORRELAÇÃO
Na literatura, existem três tipos de correlação linear diferentes: correlação positiva, correlação
negativa e a ausência de correlação.
A correlação positiva ocorre quando uma variável modifica os seus valores em relação aos
valores de outra variável na mesma direção. Ela é observada quando há uma concentração
dos pontos em tendência crescente nos gráficos de dispersão, ou seja, conforme a variável
independente aumenta, a dependente também aumenta.
EXEMPLO
Podemos citar a relação entre depressão e ansiedade. Enquanto uma variável se modifica, a
outra se modifica simultaneamente. A correlação positiva ocorre quando as variáveis tendem a
ir para o mesmo caminho, se uma aumenta, a outra também aumenta; se uma diminui, a outra
também diminui. Elas mantêm a direção, seja crescente ou decrescente. Quanto maior a
correlação entre as variáveis, maior será a proximidade dos pontos, ou seja, estarão menos
dispersos no gráfico, denotando uma tendência clara, que no gráfico fica expressa por uma
linha também conhecida como linha de regressão.
Essa correlação acontece quando uma variável aumenta e a outra diminui, ou vice-versa.
Ocorre quando há uma concentração dos pontos em tendência decrescente no gráfico de
dispersão, ou seja, conforme a variável independente aumenta, a variável dependente diminui.
Essa correlação tem direções opostas, o aumento de uma acarreta a diminuição da outra, ou
vice-versa.
EXEMPLO
O gráfico se assemelha a uma nuvem. Essa condição ocorre quando os pontos não seguem
uma tendência positiva nem negativa, há uma dispersão entre eles. Isso significa que não há
correlação significativa entre as variáveis.
COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO
O coeficiente de correlação indica quando uma relação entre variáveis é relativamente fraca ou
forte. A correlação de Pearson é apresentada por r, e é formada por um valor numérico e um
sinal. Os valores de um coeficiente de correlação podem variar de 0 a 1.
quando o resultado dá 0, significa que não existe relação entre essas variáveis;
quando uma correlação é 1, costuma-se dizer que a relação é perfeita, porque as duas
variáveis caminham juntas de forma perfeita.
Sobre a força das correlações, os dados em uma pesquisa realizada sobre a similaridades
nos escores de inteligência entre irmãos, ilustraram que a relação entre os escores de gêmeos
idênticos é muito forte (correlação de 0,86), demonstrando uma forte similaridade dos escores
de teste entre irmãos.
A correlação para gêmeos fraternos criados juntos é menor, com um valor de 0,60. Já a
correlação entre irmãos que não são gêmeos e foram criados juntos é 0,47 e aquela entre
irmãos que não são gêmeos e foram criados separados é 0,24 (BOUCHARD; MCGUE, 1981).
Observe que, segundo esses dados, a força da correlação é maior (mais próxima de 1), na
medida que a semelhança genética é maior.
COMENTÁRIO
Apenas para registrar, visto que não entraremos em detalhes, existem vários tipos de
coeficientes de correlação. Cada coeficiente é calculado de forma um pouco diferente,
dependendo da escala de mensuração aplicada às duas variáveis. O coeficiente de correlação
r de Pearson é aplicado quando os valores das duas variáveis que estão sendo relacionadas
estão em uma escala intervalar ou de razão.
A CAUSALIDADE E OS MÉTODOS
CORRELACIONAIS
A especialista Maira Leon menciona a seguir o conceito de causalidade, e demonstra como
reconhecer as características do método correlacional e as diferenças entre os métodos
correlacionais e experimentais. Vamos lá!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Como identificar a causalidade? – correlação não é causalidade
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Ao utilizar instrumentos não confiáveis ou sem validade, corremos o risco de inferir resultados
equivocados, causando consequências para a construção sólida do campo de conhecimento
da Psicologia. Daí vem a importância de sabermos avaliar corretamente se um instrumento é
confiável e válido.
CONFIABILIDADE
De acordo com Souza, Alexandre e Guirardello (2017), a confiabilidade também é denominada
na literatura como fidedignidade e consiste na capacidade que o instrumento possui de
reproduzir um resultado de forma consistente no tempo e no espaço. Um instrumento, para ser
confiável, deve possuir as características de estabilidade, equivalência e homogeneidade.
Estabilidade
Homogeneidade
Equivalência
Refere-se ao grau de concordância entre dois ou mais pesquisadores quanto aos escores de
um instrumento. Como exemplo, vamos supor que você irá analisar o grau de agressividade
que o indivíduo demonstrou em uma situação específica, utilizando uma escala de 0 a 10. Para
isso, você e o outro observador terão treinamentos específicos para identificar os níveis de
agressividade, ou seja, existirá uma padronização para essa avaliação. Com isso, se os dois
investigadores derem a mesma nota, a equivalência desse instrumento será ótima. Quando
existe elevada concordância entre os avaliadores, infere-se que os erros de medição foram
minimizados, e que o instrumento apresenta equivalência. Essa propriedade é frequentemente
medida por meio do teste estatístico Coeficiente de Kappa. Quanto maior o valor de Kappa,
maior a concordância entre os observadores. Valores próximos ou abaixo de 0,00 indicam a
ausência de concordância.
VALIDADE
De acordo com Cozby (2003, p. 101), “validade refere-se à verdade e à representação correta
da informação”. Para ilustrar melhor os conceitos de validade e confiabilidade, vamos ao
exemplo proposto por Andrade Martins (2006), de análise do depoimento de uma testemunha
em um caso jurídico. Ela pode demonstrar o seu depoimento de forma consistente, ou seja, os
diversos relatos apresentados por ela são sempre os mesmos; com isso, dizemos que esse
depoimento teve confiabilidade. Porém, não sabemos ao certo se o que a testemunha disse foi
verdade, logo, não sabemos se esse discurso teve validade. Nessa perspectiva, um
instrumento de pesquisa pode ser confiável, e não válido para aquela população de estudo,
porém, todos os estudos que são válidos apresentam confiabilidade.
Toda medida, portanto, deve reunir a confiabilidade e a validade. Medidas confiáveis são
replicáveis e consistentes, ou seja, geram o mesmo resultado. Medidas válidas são
representações precisas das características que se pretende medir (DE ANDRADE MARTINS,
2006). Os conceitos de validade e confiabilidade estão intimamente relacionados, porém,
existem algumas diferenças entre eles.
SAIBA MAIS
Validade interna
Refere-se à capacidade para tirar conclusões sobre relações de causa e efeito entre as
variáveis. Em outras palavras, essa validade determina até que ponto os resultados de um
estudo são corretos para a amostra estudada. Um método científico rigoroso confere maior
validade interna para um estudo.
Quanto mais rigoroso e detalhado for o método de pesquisa, mais validade interna o estudo ou
o instrumento de medida terá.
Por isso, o método experimental é considerado um delineamento com grande validade interna,
visto que ele possui um controle rigoroso sobre as variáveis intervenientes, e com isso
podemos estabelecer relações causais entre as variáveis.
Validade externa
Refere-se ao grau de generalização que um estudo possui. Vamos supor que você irá testar se
uma intervenção psicológica é capaz de reduzir o uso de álcool na população. Quanto mais
essa pesquisa puder ser aplicada em diversos locais, e em diversas populações de estudo,
mais generalizável ela será. A validade externa, portanto, diz respeito ao grau de
aplicabilidade, ou de generalização, dos resultados de um estudo em particular, para outros
contextos.
Os estudos sobre a vacina para a pandemia do coronavírus, por exemplo, são bons exemplos
de estudos com grande validade externa, já que essas pesquisas podem ser disseminadas
para vários países, com populações com idades e características diversas. Esses estudos
também apresentaram grande validade interna, visto que o intuito seria a aplicação global das
vacinas de forma segura, a fim de garantir a saúde da população.
Validade de conteúdo
Um instrumento que avalia a autoestima deve incluir não somente a autoestima como também
outras variáveis relacionadas a ela, como o autoconceito, a autoimagem, entre outros subitens.
Como os constructos são conceitos subjetivos, um comitê de especialistas no assunto é
consultado para checar a validade de constructo de forma qualitativa. Com isso, esses
especialistas devem relatar o grau de concordância que eles apresentam sobre determinados
conceitos e subdivisões do teste.
Validade de constructo
Um constructo é definido como algo hipotético que faz parte das teorias que tentam explicar o
comportamento humano, como a inteligência e a ansiedade, que são constructos psicológicos.
Sendo assim, a validade de constructo é definida como a obtenção de evidências que
sustentam aquela teoria. Ou seja, para eu saber o que estou medindo, tenho que conhecer os
conceitos, e as teorias que fundamentam esse processo.
Quanto mais subjetivo for o conceito, mais difícil é estabelecer a validade de constructo.
Dificilmente, esse tipo de validade é obtido com um único estudo; geralmente, são realizados
diversos estudos sobre a teoria do constructo que se pretende medir.
Validade de critério
Na área de álcool e outras drogas, por exemplo, um teste considerado padrão-ouro é o Alcohol
use disorders test – AUDIT (MORETTI-PIRES; CORRADI-WEBSTER, 2011). Esse instrumento
é amplamente utilizado pela Organização Mundial de Saúde, é validado para vários países e
serve de comparação quando se almeja desenvolver outros testes sobre o uso de álcool na
população.
A CONFIABILIDADE E A VALIDADE EM
PESQUISA
A especialista Maira Leon explica a seguir o conceito de confiabilidade e suas características, e
compara confiabilidade e validade como requisitos de uma pesquisa. Vamos lá!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
A Confiabilidade – diferentes procedimentos de confiabilidade
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
A MANIPULAÇÃO E O CONTROLE
EXPERIMENTAL
Existem diversos problemas ou incógnitas que precisam de resposta na Psicologia e, como já
vimos, estes questionamentos podem ser respondidos através do método experimental. Uma
pesquisa experimental consiste essencialmente em determinar um objeto de estudo, selecionar
e manipular as variáveis, e definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a
variável produz no objeto de pesquisa.
Pesquisa experimental.
Vamos supor que você foi trabalhar com Psicologia Organizacional e queira saber se um
treinamento realizado em uma empresa foi eficaz para aumentar o conhecimento dos
funcionários sobre os processos internos de gestão de pessoas. Com isso, você irá medir os
conhecimentos dos funcionários acerca dos processos de gestão de pessoas antes do
programa de treinamento, e irá medir novamente esses conhecimentos após finalizado esse
programa.
Nesse caso, você irá manipular as variáveis com o treinamento aplicado, e o programa de
treinamento será a variável independente; o conhecimento sobre os processos internos de
gestão de pessoas será a variável dependente; e o que pode interferir nesse processo, como a
forma de ministrar estes treinamentos, por exemplo, pode ser uma variável estranha.
É importante ressaltar que um desenho experimental requer a presença de pelo menos uma
variável independente manipulada. Em determinadas situações, os níveis da variável
independente são determinados depois da execução do experimento, com base em
determinadas características da população estudada (por exemplo, níveis de escolaridade).
CONTROLE EXPERIMENTAL
Em relação ao exemplo anterior, sobre a investigação de como um treinamento sobre gestão
de pessoas iria influenciar o conhecimento dos funcionários em relação a esse tema, como
iremos garantir que somente o treinamento terá aumentado o conhecimento desses
indivíduos? Será que essa relação de causa e efeito pode realmente ser confirmada? Existem
fatores externos ou variáveis intervenientes que podem interferir nesse processo? Sempre
devemos fazer todas essas perguntas quando falamos de controle experimental.
Para que se estabeleça uma boa relação causal entre as variáveis, existem maneiras para
atenuar os efeitos das VEs. No exemplo de Psicologia Organizacional, sendo a VI o
treinamento e a VD o conhecimento sobre GP, caso a empresa tivesse dois mil colaboradores,
seria muito exaustivo se o pesquisador realizasse todos os treinamentos e aplicações dos
testes sozinho.
Logo, seria necessária uma equipe de pesquisadores para conduzir esse experimento. Imagine
se nesse treinamento cada palestrante tivesse uma abordagem diferente e falasse de temas
diferentes do programado. Essa pesquisa estaria permeada por vários vieses, principalmente
pelo viés do pesquisador. Uma medida simples de controle experimental seria treinar todos
os aplicadores para que eles fizessem os mesmos tipos de treinamento, abordagem e tema, e
até com vestimentas e tom de voz semelhantes, para assim diminuir esse tipo de viés.
Além dos vieses do treinador, os instrumentos de pesquisa utilizados também podem ser fontes
de outros vieses. Vamos supor que, na avaliação do treinamento aplicado sobre GP, o
questionário fosse muito longo, exaustivo e enfadonho.
SERÁ QUE OS FUNCIONÁRIOS TERIAM
MOTIVAÇÃO E COMPROMETIMENTO EM
RESPONDÊ-LO?
VER RESPOSTA
RESPOSTA
Esse estudo piloto é como um ensaio e pode ser realizado antes da aplicação da pesquisa
propriamente dita, com poucos participantes, para testar se os instrumentos estão adequados
para aquela amostra. É relativamente fácil operacionalizar um estudo piloto, e ele seria uma
“mini versão do estudo completo”, como afirmam Bailer, Tomitch e D’Ely (2011, p. 130). Um
estudo piloto garante um bom controle experimental, pois os participantes irão entender as
questões dos instrumentos, e assim irá diminuir o viés da instrumentação.
Outra confusão ou viés que pode ocorrer nesse experimento é o viés de contexto. Imagine
que, no mesmo exemplo, os trabalhadores tenham passado por um período de demissão em
massa na organização, aumentando os níveis de estresse no trabalho. Será que todos os
funcionários iriam absorver os conteúdos sobre GP da mesma maneira? Uma medida de
controle experimental seria abordar os participantes em momentos diferentes durante o tempo,
a fim de diminuir a interferência do viés de contexto na pesquisa.
Outro viés importante a ser controlado é o viés do participante. Por exemplo, se algum
desses colaboradores apresentasse estresse acentuado no trabalho, desmotivação com as
normas da organização, ou transtornos mentais, como depressão, transtornos de ansiedade,
transtorno bipolar, entre outros, essas questões poderiam alterar os resultados do experimento.
Portanto, uma avaliação inicial, a fim de balancear esses participantes ou excluir esses dados
ao final da pesquisa, pode auxiliar na diminuição dos vieses. Outras características dos
participantes poderiam também influenciar no resultado final, como o luto, conflitos na
organização, conflitos familiares, entre outros. Com isso, é indicado que a amostra de um
experimento tenha um número expressivo, como nesse exemplo hipotético de dois mil
funcionários.
Nem sempre podemos incluir na pesquisa todos os sujeitos que desejamos conhecer, mas
precisamos escolher uma amostra numerosa e significativa para evitar o viés do participante.
Para isso, você precisará, além do apoio institucional, de um planejamento de pesquisa bem
metódico, a fim de alcançar os resultados necessários. Uma sugestão para esse estudo
seria aplicar intervenções com treinamentos programados em um grupo de funcionários
específicos, e separar os funcionários em dois grupos: os que receberão o treinamento
de gestão de pessoas e os que não receberão o treinamento. Nesse caso específico, os
funcionários que receberão o treinamento farão parte do grupo experimental, e os funcionários
que não receberam farão parte do grupo controle.
(COZBY, 2003)
Grupo experimental
No exemplo discutido até aqui, esse grupo irá receber o treinamento, ou seja, os funcionários
receberão a intervenção proposta. O grupo experimental, portanto, é o grupo de indivíduos
designados à experimentação. Esses funcionários serão comparados com o grupo controle
para chegar a uma conclusão.
SAIBA MAIS
Grupo controle
No problema debatido, esse grupo não irá receber o treinamento sobre GP. Será um grupo de
funcionários que não receberá nenhuma intervenção. O grupo controle serve apenas como
parâmetro de comparação para o grupo experimental. Ou seja, se os funcionários que
receberam o treinamento apresentarem mais conhecimento sobre GP, e se não houver essa
melhoria de conhecimento no grupo que não recebeu a intervenção, quer dizer que o
treinamento foi bem-sucedido nessa empresa.
Nem todos os experimentos incluem um grupo controle, mas aqueles que incluem são
chamados de "experimentos controlados". Os grupos controle podem ser os denominados
grupos placebo. Veja:
MÓDULO 4
DELINEAMENTOS EXPERIMENTAIS
Quando falamos do delineamento de uma pesquisa, estamos falando sobre o seu desenho, ou
sobre um plano de como a pesquisa será conduzida.
EXEMPLO
Quando uma pessoa está prestes a construir uma casa, antes de sua execução, precisará
planejar qual é o local do imóvel, quantos quartos a casa terá, qual será a sua área, quantas
janelas irá colocar, quem vai fazer a base, o teto, entre outras questões.
Da mesma forma, é o planejamento de uma pesquisa, é necessário pensar em todos os
detalhes antes de construir um estudo, ou seja, devem ser pensados seu local de execução, os
participantes, as questões éticas envolvidas, a duração do estudo, a coleta de dados, entre
outros. Esse planejamento das etapas de uma pesquisa denominamos de delineamento.
Haverá randomização?
COMENTÁRIO
Para clarificar sobre os procedimentos adotados, iremos falar um pouco mais sobre dois tipos
de delineamentos existentes em uma pesquisa experimental, os delineamentos intersujeitos e
intrassujeitos.
DELINEAMENTOS INTERSUJEITOS
A seleção dos grupos controle e experimental deve ser feita de forma aleatória e garantindo
que ambos os grupos sejam equivalentes.
Nesse tipo de delineamento, temos no mínimo dois grupos diferentes a serem comparados,
porém podem existir diversos grupos experimentais. Por isso, vem a denominação
intersujeitos, ou entre grupos separados. Esses indivíduos são submetidos a condições
experimentais diferenciadas, cada um recebe um tipo de ação específica.
COMENTÁRIO
Como afirma Gil (2008, p. 99), quando se dispõem os grupos olhando para cada sujeito e
dizendo: “Você vai para o grupo tal", é possível que haja um grupo mais hábil do que o outro. É
possível que, consciente ou inconscientemente, sejam selecionados os mais aptos para o
grupo experimental. Muitos experimentos permanecem insuscetíveis de interpretação em
função da falha do pesquisador em garantir a distribuição aleatória nos grupos separados.
SAIBA MAIS
A amostra do delineamento intersujeitos tende a ser maior, tendo em vista que haverá dois
grupos ou mais sendo comparados. À medida que o número de pessoas em um experimento
aumenta, aumenta a probabilidade de obter-se uma distribuição igual daquelas variáveis que
podem interferir na relação causal que está sendo testada. Por essa razão, existe uma
tendência a considerar experimentos com amostras maiores como mais confiáveis
(BREAKWELL; HAMMOND; FIFE-SCHAW; SMITH, 2010).
DELINEAMENTOS INTRASSUJEITOS
Em relação ao exemplo sobre a investigação se o hábito de leitura causa a melhoria das
habilidades linguísticas nos alunos, vamos supor que um estudante de Psicologia trabalhasse
em uma sala de alunos, e que optasse por aplicar a prática de leitura em todos os alunos
dessa turma.
Esse estudante iria medir, por meio de instrumentos padronizados, a habilidade linguística
antes da aplicação do programa de leitura e iria repetir a aplicação desses instrumentos depois
dessas intervenções.
Com isso, os mesmos indivíduos, ou seja, os mesmos alunos, iriam passar pela testagem
antes e depois das práticas de leitura.
E aí teríamos uma medida pré-teste e pós-teste, ou seja, antes da intervenção e após a
intervenção.
Quando os mesmos indivíduos passam por uma testagem antes e depois, falamos de um
delineamento intrassujeitos, ou medidas repetidas, ou medidas de sujeito único. A terminologia
“intra” se refere a algo interno, ou seja, a medição ocorre com os mesmos sujeitos de pesquisa.
O delineamento intrassujeitos possui a vantagem de ser mais fácil de operacionalizar, visto que
a amostra pode ser menor em comparação a um delineamento intersujeitos. Esses estudos
também não necessitam de randomização, já que se referem a uma amostra única.
Vantagens Vantagens
Desvantagens Desvantagens
Como desvantagem, esse delineamento pode ser mais permeável às variáveis estranhas. Por
exemplo, pode ocorrer o efeito de ordem, ou seja, os participantes tendem a memorizar ou a
lembrar dos instrumentos anteriormente aplicados, e isso pode alterar os resultados do estudo.
Na medida em que um participante ganha experiência com uma condição experimental, este
vai se aprimorando com o passar do tempo, como as crianças, que podem memorizar os textos
lidos e melhorar as habilidades linguísticas. Com isso, os melhores resultados virão do fato de
se decorar os textos, e não de uma melhoria nas habilidades linguísticas em si.
Se comparado com o delineamento intersujeitos, esse tipo de estudo demonstra ter menor
confiabilidade, e menor validade interna, ou seja, não se pode estabelecer uma relação de
causa e efeito totalmente confiável com esse delineamento. Apesar dessas questões, o
delineamento intrassujeitos pode contribuir para a comunidade científica, tendo em vista a
grande abrangência e facilidade de operacionalização.
ATENÇÃO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo trabalhamos conceitos e procedimentos fundamentais na pesquisa
experimental. Inicialmente, apresentamos detalhes sobre o método correlacional e as
diferenças entre os métodos correlacionais e experimentais. Enquanto no método correlacional
existe uma relação entre as variáveis, isto é, uma variável modifica os seus valores em função
da outra, no método experimental é buscada uma relação de causa e efeito bem estabelecida,
entre variável independente e variável dependente.
PODCAST
Para encerrar, a especialista Maira Leon fala sobre a importância dos diferentes procedimentos
de manipulação de variáveis e controle experimental, assim como sobre os diversos
delineamentos de pesquisa, para avaliar as possibilidades de pesquisa experimental na
Psicologia. Vamos ouvir!
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AFONSO JR, A. et al. Aspects Related to Body Image and Eating Behaviors in Healthy
Brazilian Undergraduate Students. Global Journal of Educational Studies. v. 4, n. 1., 2018.
BOUCHARD JR., T. J.; MCGUE, M. Familial studies of intelligence: a review. Science, 212,
p. 1055-1059, 1981.
DANCEY, C. P. et al. Estatística sem matemática para as ciências da saúde. Porto Alegre:
Penso, 2017.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
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Maira Leon