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Universidade Federal Fluminense

Técnicas em Exame Psicológico


Prof: Josemberg Andrade
Por: Vanessa Monteiro
FIDEDIGNIDADE

Hogan, no capítulo sobre Fidedignidade, inicia sua explicação com a


distinção entre esta e a validade, dois conceitos fundamentais à psicometria. A
validade trataria da indagação de se o teste mede aquilo a que se propõe a
medir, enquanto a fidedignidade trata da consistência, replicabilidade e
confiança da medida, “sem se importar com o que está sendo de fato medido”.
Sobre esta distinção, comenta que é possível haver fidedignidade sem validade,
mas a recíproca não é possível.
Para bem compreender o assunto, o autor explica a importância de
entender os conceitos de coeficientes da correlação e suas medidas derivadas
(erros padrões e fórmulas de predição). E, quanto a isso, aponta que o mais
utilizado em testes psicológicos é o coeficiente de correlação de Pearson,
referido ao grau de relação linear entre as variáveis.
Para a produção de uma mensuração fidedigna, destacam-se três teorias
que dão base ao processo: a Teoria da Resposta ao Item, a Teoria da
Generalizabilidade e a Teoria Clássica do Teste. O autor se calca principalmente
na última, em que o escore observado é a nota obtida pelo examinando, mas o
escore verdadeiro é o que seria obtido se todas as fontes de não-fidedignidade
fossem eliminadas; e o escore de erro é justamente a diferença entre eles,
sendo ou positivo ou negativo.
Hogan coloca a questão de quais fatores podem conduzir a uma
mensuração não-confiável, e sua resposta é tudo o que resulte de uma variação
não-sistemática nos escores. Cada uma das formas de mensurar fidedignidade
dá conta ou não de determinados fatores. Esses fatores podem sem: a correção
inadequada dos testes, as variações nas determinações dos itens (o conteúdo),
os procedimentos e condições impróprias à aplicação (como falta de instrução,
ambiente desconfortável) e condições temporárias dos examinandos (como
ansiedade, estresse).
Um modo de determinar a fidedignidade é o ‘teste-reteste’, através da
aplicação do mesmo teste nos mesmos indivíduos em situações diferentes,
sendo baseado na correlação entre os escores obtidos em cada caso. Esse
método não considera as influências das variações no conteúdo nem da sua
aplicação; e é relativo quanto à correção (depende de se foi a mesma pessoa
quem corrigiu em todos os casos), além do problema do primeiro teste ter
efeitos sobre o segundo.
Outro é a ‘fidedignidade Interavaliadores’, que mensura a variação não-
sistemática em função de quem corrige o teste, correlacionando os escores
atribuídos por dois avaliadores. Já a fidedignidade de forma alternada consiste
em aplicar duas formas iguais ou semelhantes – quanto a fatores como número
de questões, limites de tempo e conteúdo – e correlacionar os escores obtidos.
Há, também, a fidedignidade de consistência interna, determinada a
partir de vários métodos, sendo três explicados pelo autor:
 Um é a fidedignidade das duas metades, de processo parecido com a
fidedignidade de forma alternada, embora sua forma alternada seja
aplicada em um teste dividido em dois (e não em dois testes diferentes).
Calcula-se a correlação entre as duas metades do teste, ou seja, nas
palavras do autor “a correlação fornece a fidedignidade de um teste que
tem metade daquele que nos interessa”.
 Outro método, chamado Fórmulas de Kuder-Richardson, implica na
obtenção da correlação média entre todas as possíveis maneiras de se
dividir o teste e na obtenção de uma estimativa de fidedignidade. Este
modo exige que as questões sejam corrigidas dicotomicamente.
 Por último, o coeficiente alfa, em que as questões podem ser corrigidas
segundo qualquer tipo de escores contínuos. A divisão, neste método, é
dos itens, gerando uma fidedignidade de consistência interna; conforme
a correlação média entre itens aumenta, maior a fidedignidade. O
método indica até que ponto os diferentes itens estão mensurando os
mesmos construtos e o coeficiente alfa está relacionado justamente a
falta de fidedignidade devido ao conteúdo.

O autor também afirma que a interpretação prática do coeficiente de


fidedignidade depende do erro padrão da medida, “o desvio padrão de um
número hipoteticamente infinito de escores obtidos tomando como base o
escore verdadeiro de um examinando”, que também pode ser usado para criar
uma faixa de confiança. Já o erro padrão da média, segundo Hogan, é ‘o desvio
padrão de uma população hipotética de médias das amostras distribuídas em
torno da média populacional’, sendo utilizado ao interpretar a média de escores
de um teste para um grupo e sendo mais afetado pelo tamanho da amostra do
que pelo próprio coeficiente de fidedignidade.
Ao falar em fidedignidade, um ponto que deve ser ressaltado é que esta
é fornecida em termos quantitativos, em forma de coeficientes de fidedignidade
e erros padrões de medida, embora também haja como relatar o desempenho
do teste de modo narrativo. As narrações podem facilitar a interpretação dos
escores, mas nem todas são facilmente adaptáveis às ferramentas tradicionais
de análise de fidedignidade.
Mais adiante em seu capítulo, Hogan comenta a fidedignidade pela
perspectiva da Teoria da Resposta ao Item, a qual a compreende somente em
relação à consistência interna, ou seja, dependente do funcionamento dos itens
dentro do teste. Porém, enquanto para a TCC existe uma interdependência
entre o os itens, para a TRI eles funcionam independentemente. Outro aspecto
é que o erro padrão é chamado de índice de precisão da medida e há uma
suposição de que o erro padrão médio seja o mesmo para todos os níveis de
escores.
Além disso, o autor conclui que não existe UMA fidedignidade,
considerando que existem vários tipos. Em seguida, cita a Teoria
Generabilizante, uma tentativa de avaliar simultaneamente as diferentes fontes
de não-fidedignidade, baseada em uma análise de variáveis independentes que
atuam sobre a variável de resposta. Assim como a TCC, a TG também lida com
a idéia de que cada pessoa possui um escore verdadeiro, agora denominado de
escore universal; sendo este a média dos escores obtidos por um examinando
em todas as ocasiões de teste.
Hogan, por fim, reafirma pontos cruciais para o entendimento da
fidedignidade: esta tem uma ampla aplicabilidade, indo além do campo da
testagem psicológica; nenhuma medida é isenta de erro, por mais meticulosa
que tenha sido a mensuração; a necessidade do grau de confiança no teste
depende do propósito do teste; e, enfim, a fidedignidade é sempre importante,
assim como a validade, a qual ele explica no capítulo seguinte.

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