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Procedimentos metodológicos na

elaboração de testes psicológicos


Para que a mensuração de determinada variável seja confiável, é necessário, entre
outras condições (como qualificação técnica do profissional para utilização do teste,
respeito aos preceitos éticos da profissão, uso adequado do teste), que o
instrumento meça de forma consistente aquilo que foi projetado para medir.
Ou seja, o instrumento deve ser válido e fidedigno.
Para que isso ocorra, os cuidados se iniciam na construção do teste.
Há 10 perguntas que devem ser respondidas criteriosamente para avaliar
se vale a pena investir no desenvolvimento de um novo instrumento

1. É necessária a construção do teste?


2. Há outros testes que medem a mesma variável?
3. Quais as vantagens apresentadas por esse novo teste?
4. O que esse teste visa medir?
5. Qual o seu objetivo?
6. Quem o utilizará?
7. Que qualificações são exigidas da pessoa que vai aplicá-lo?
8. Quem vai respondê-lo?
9. Como ele será administrado?
10. Como serão levantados os escores e atribuído sentido a eles?
Construção de testes

Algumas etapas devem ser consideradas para a construção do instrumento


para que se obtenha um teste psicológico com características psicométricas
adequadas.

conceitualização do teste, revisão da literatura acerca do construto em questão,


passando pela criação dos itens, aplicação destes a uma amostra, análise dos itens,
revisão do teste, análises estatísticas.

Procedimentos teóricos
Procedimentos empíricos
e analítico
Construção de itens

Primeiro passo são os procedimentos teóricos:


a) revisão da literatura relacionada ao novo teste (teoria em que o novo teste se
baseia e testes construídos segundo ela);
b) procedimentos complementares à revisão teórica (entrevistas e consulta a juízes
sobre a definição operacional);
c) construção da definição operacional;
d) construção dos itens.

Deles resultará um conjunto preliminar de itens


Construção de itens

O segundo passo refere-se à coleta de dados:


- aplicação da versão preliminar a grupos focais, à amostra-piloto e à amostra-alvo
(amostra para a qual o teste está sendo construído).

A terceira etapa refere-se às análises estatísticas e compreende a análise do teste e


a redação de uma versão final.
Parâmetros de um Teste Psicológico
Quando se trata de elaboração de testes, vocês ouvirão constantemente
duas palavrinhas:

VALIDADE E FIDEDIGNIDADE

Conselho Federal de Psicologia determinou que é requisito


mínimo e obrigatório para os testes psicológicos a
apresentação de evidências de VALIDADE e FIDEDIGNIDADE.
Vamos entender esta validade...

Ex1: usar uma fita métrica para medir o comprimento de um quarto. Há


necessidade de provar que essa medida é válida?

Diferente das ciência exatas, nas quais se tem um objeto físico medindo
propriedades físicas; nas ciências sociais, a validade constitui um parâmetro da
medida, é essencial demonstrá-la diante dos instrumentos.
Vamos entender esta validade...

Isto é particularmente o caso nos enfoques que, em Psicologia,


trabalham com o conceito de traço latente, onde se deve demonstrar a
correspondência (congruência) entre traço latente e sua representação
física (o comportamento).

Traço latente Comportamento


Validade

“O teste mede o que se propõe a medir?”

Ex: Teste para medir a atenção concentrada.


Esse teste está realmente medindo esse construto?
Validade

“O teste mede o que se propõe a medir?”

Isso significa que um teste é válido quando os itens medem os comportamentos que são a
expressão do traço latente que se deseja mensurar.
Validade dos testes é o parâmetro mais importante e
fundamental no desenvolvimento e avaliação do teste (AERA
et al., 2014; Cohen, Swerdlik, & Sturman, 2014).
Validade de construto
“O teste constitui uma representação legítima adequada do construto?”

Constitui a maneira direta de verificar a hipótese da legitimidade da representação comportamental dos traços latentes.
Validade de conteúdo
“O teste cobre todo o conteúdo do traço latente?”

Objetivo de averiguar se o conteúdo do instrumento apresenta os construtos que se


deseja mensurar

Ex: Teste para avaliar a aprendizagem. Itens que abranjam todo o processo de
aprendizagem.

O processo para identificação dessa evidência de validade é composto por uma análise de juízes, ou seja,
profissionais peritos no assunto ou teoria abordada no instrumento, dão o seu parecer em relação à
equivalência dos itens com a teoria abordada (Ambiel & Carvalho, 2017).
Validade de conteúdo

Se um pesquisador decidir desenvolver um instrumento para avaliar a


esperança, ele pesquisará a literatura relacionada ao assunto e consultará os
pesquisadores e peritos que trabalham nesta área, buscando definir todos os
aspectos do construto.

Possivelmente o pesquisador concluirá que esperança é um estado


emocional que emerge da interação entre desejo e esperança.

Assim, estes aspectos precisam ser abordados no testes.


Validade de critério O grau de eficácia que
um teste tem em
predizer um
desempenho específico
de um sujeito

“O quanto o teste pode predizer o desempenho do sujeito em tarefas


específicas.”

Ex: Teste de personalidade em seleção de pessoas.

A evidência de validade relacionada ao critério pode ser medida por meio do


grau de eficácia que o teste tem em predizer o desempenho do indivíduo. A
performance do participante na tarefa especificada torna-se o critério por
meio do qual a validade do teste será avaliada.
Fidedignidade
Fidedignidade = Precisão = Confiabilidade

Complementando o objetivo de verificar a aplicabilidade de um teste


psicológico, os itens presentes nos instrumentos psicológicos também
são avaliados no quesito que tange a

FIDEDIGNIDADE.
“Quanto que um
Fidedignidade teste é estável,
confiável e
consistente.”

Refere-se à estabilidade com que os escores dos testandos conservam-se em


aplicações distintas de um mesmo teste. Quanto mais similares forem os
escores dos testandos, maior será a fidedignidade de um teste.

ou seja,
o mesmo teste com as mesmas pessoas,
em ocasiões diferentes
(mantendo condições similares de aplicação)
os escores alcançados precisam ser razoavelmente semelhantes.
Como estimar a fidedignidade de um teste?

A fidedignidade precisa ser estimada em dois momentos:

1. Nos delineamentos do teste (Procedimentos de coletas de informação);

2. Análises estatísticas dos dados coletados.


Como estimar a fidedignidade de um teste?
1. Os delineamentos – teste reteste

Uma amostra de sujeitos, um mesmo teste e duas ocasiões – basicamente consiste na


correlação dos escores do mesmo testando avaliado em momentos diferentes.

1ª Ocasião 2ª Ocasião

Mesmos sujeitos Mesmos sujeitos


Mesmo teste Mesmo teste
Como estimar a fidedignidade de um teste?
2. Análises estatísticas dos dados coletados

Há várias técnicas estatísticas para estimação da fidedignidade

Correlação simples – Obtém-se o coeficiente de fidedignidade, que expressa


o nível de relação existente entre dois eventos.

Ex: Um teste aplicado a 100 sujeitos num dia e reaplicado depois de 30 dias, se a
classificação dos 100 sujeitos for idênticas nas duas ocasiões existe uma
correspondência de 100% entre as duas aplicações e o coeficiente de correlação será 1.
Quanto mais próximo de 1 mais fidedigno.
De acordo com a Resolução CFP Nº 009/2018, os testes psicológicos, para
serem reconhecidos para uso profissional, devem possuir consistência
técnico-científica e atender os seguintes requisitos mínimos obrigatórios:

I - Apresentação de fundamentação teórica, com especial ênfase na definição


do(s) construto(s), descrevendo seus aspectos constitutivo e operacional;

II - Definição dos objetivos do teste, detalhando a


população-alvo;

III - Pertinência teórica e qualidade técnica dos estímulos


utilizados nos testes;
De acordo com a Resolução CFP Nº 009/2018, os testes psicológicos, para
serem reconhecidos para uso profissional, devem possuir consistência
técnico-científica e atender os seguintes requisitos mínimos obrigatórios:

IV - apresentação de evidências empíricas sobre as características técnicas


dos itens do teste;

V - apresentação de evidências empíricas de validade e


estimativas de fidedignidade das interpretações para os
resultados do teste, caracterizando os procedimentos e os
critérios adotados na investigação;
De acordo com a Resolução CFP Nº 009/2018, os testes psicológicos, para
serem reconhecidos para uso profissional, devem possuir consistência
técnico-científica e atender os seguintes requisitos mínimos obrigatórios:

VI - apresentação do sistema de correção e interpretação dos escores,


explicitando a lógica que fundamenta o procedimento, em função do
sistema de interpretação adotado;
a) Referenciada à norma, devendo, nesse caso, relatar as características da amostra de
normatização de maneira explícita e exaustiva, preferencialmente comparando com
estimativas nacionais, possibilitando o julgamento do nível de representatividade do grupo
de referência usado para a transformação dos escores.
b) Diferente da interpretação referenciada à norma, devendo, nesse caso, explicar o
embasamento teórico e justificar a lógica do procedimento de interpretação utilizado.

VII - apresentação explícita da aplicação e correção para que


haja a garantia da uniformidade dos procedimentos.
Aprovação pelo SATEPSI

Art. 9º - A submissão do teste psicológico para avaliação deverá ser realizada


por meio do SATEPSI.
Parágrafo único – A submissão de teste psicológico ao SATEPSI está
condicionada à indicação de responsável técnico com CRP ativo.
Art. 10 - Os testes psicológicos submetidos ao SATEPSI serão avaliados pela
CCAP.
Aprovação pelo SATEPSI
O SATEPSI (sistema de avaliação de testes psicológicos)
foi desenvolvido pelo CFP para avaliar a qualidade técnico-científica
de instrumentos psicológicos, a partir da verificação objetiva de um
conjunto de requisitos técnicos e divulgar informações sobre os
testes psicológicos.

A Resolução CFP Nº 009/2018 estabelece diretrizes para a realização de Avaliação


Psicológica no exercício profissional do psicólogo e regulamenta o Sistema de Avaliação
de Testes Psicológicos – SATEPSI, bem como estabelece quais requisitos mínimos os
instrumentos devem apresentar para serem reconhecidos como testes psicológicos.
A tramitação dos testes psicológicos submetidos ao SATEPSI
obedecerá às seguintes etapas:
I - Submissão on-line ao SATEPSI;
II - Designação de 2 (dois) pareceristas para análise do teste psicológico;
III - Avaliação do teste psicológico por pareceristas;
IV - Análise dos pareceres emitidos e elaboração de relatório conclusivo por membro da
CCAP;
V - Apreciação do relatório conclusivo pelo colegiado da CCAP;
VI - Apreciação e decisão pelo Plenário do CFP do relatório da CCAP;
VII - Envio do parecer final do CFP aos requerentes;
VIII - Prazo para interposição de recurso;
IX - Análise do recurso pela CCAP;
X - Apreciação da análise do recurso pelo Plenário do CFP;
XI - Envio do parecer final sobre o recurso aos requerentes.
§3º - O CFP encaminhará o resultado da avaliação ao requerente, e quando este
for desfavorável, o requerente poderá apresentar recurso por meio do SATEPSI
no prazo de até 30 dias, a contar da data de envio da comunicação do
resultado.

§5º - A avaliação final desfavorável prevalecerá quando, mediante análise do


recurso, a avaliação da CCAP se mantiver, ou quando o recurso não for
apresentado no prazo estabelecido.

Art. 13 - Os testes psicológicos com parecer final desfavorável do CFP poderão


ser reapresentados a qualquer tempo.
Art. 14 - Os estudos de validade, precisão e normas dos testes psicológicos
terão prazo máximo de 15 (quinze) anos, a contar da data da aprovação do
teste psicológico pela Plenária do CFP.

§3º - Não sendo apresentada a revisão no prazo estabelecido no caput deste


artigo, o teste psicológico perderá a condição de uso e será excluído da
relação de testes com parecer favorável pelo SATEPSI.
• Art. 16 - Todos os testes psicológicos estão sujeitos ao disposto nesta Resolução,
considerando que:
• §1o - Os manuais de testes psicológicos devem informar que sua comercialização
e seu uso é restrito a psicólogas e psicólogos, regularmente inscritos no CRP.
• §2o - Na comercialização de testes psicológicos, as editoras manterão
procedimento de controle, no qual conste o nome da psicóloga e do psicólogo
que os adquiriu, o seu número de inscrição no CRP e o(s) número(s) de série dos
testes adquiridos.
Parágrafo único - Os Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) manterão cadastro
atualizado de pessoas físicas e jurídicas que, em sua jurisdição, comercializem
testes psicológicos.

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