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PROFESSOR: CAPLAN NEVES FILOSOFIA 11º ANO ESAO

Lógica - Conceito
Os argumentos são centrais em filosofia (e também na
Comecemos por esta definição: ciência) porque, como vimos no 10º ano, o que a
caracteriza é constituir-se numa atividade racional.
A lógica (do grego λογική - lê-se “logos”) é o estudo
Ora, a racionalidade compreende o jogo de dar e pedir
dos argumentos válidos.
razões, isto é, de apresentar justificações para as
nossas ideias. A forma como justificamos as nossas
Analisemos os termos desta definição
ideias é através da argumentação. Argumentar é
prover razões para que os outros aceitem nossas
Logos
ideias. Quando argumentamos, não pretendemos
meramente plantar na mente do outro aquilo que nós
Etimologicamente, a palavra Logos provém do grego,
mesmo acreditamos. Neste caso nos limitamos a
que remete para distintas ideias como “conceito”,
manipular a outra pessoa. Queremos fornecer razões
“discurso”, “razão”, “palavra”, “fala”, entre outros.
para que o outro possa, com autonomia, seguir o
A origem etimológica da palavra não é, como se vê,
nosso raciocínio e chegar à mesma conclusão a que
particularmente informativa sobre natureza efetiva da
chegamos. Naturalmente que o facto de outras
ciência que a palavra designa, mas remete-nos para a
pessoas aceitarem o nosso raciocínio não significa que
sua origem: ela foi pela primeira vez sistematizada
estamos corretos e nem o facto dos nossos argumentos
pelo filósofo grego Aristóteles.
serem refutados significa que estamos errados.
Quando argumentamos estamos a oferecer para
Estudo
discussão e apreciação, um conjunto de razões a favor
de uma ideia em que acreditamos.
É aqui usado no sentido de análise, avaliação ou
investigação.
Podemos, de uma forma mais técnica dizer que um
argumento é um conjunto de proposições em que uma
Argumentos
ou mais, a que chamamos premissas, pretendem
justificar ou defender uma outra, a que denominamos
Raciocinar ou fazer inferência refere-se ao processo
conclusão.
de usar a informação disponível - aquilo em que
acreditamos ou assumimos como verdade - para
extrair consequências ou informação nova. Por
Falamos aqui de proposições e não de frases porque se
exemplo, se soubermos ou assumirmos que todos os
tratam de duas coisas diferentes. A proposição é
ruminantes são herbívoros e soubemos que o boi é um
aquilo que uma frase exprime. Frases diferentes
ruminante, poderemos, sem informação adicional,
podem exprimir diferentes proposições - o que
concluir que o boi é um herbívoro. Argumentar nada
constitui o fenómeno da ambiguidade - e a mesma
mais é do que expor os nossos raciocínios para
proposição pode ser expressa por frases diferentes - o
persuadir os outros a aceitar as nossas conclusões.
que reflete a sinonímia.

A palavra «juízo», é muitas vezes usada num sentido


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aproximadamente equivalente à «proposição». Os que estabelece a ligação que falta entre as


conceitos de «juízo» e «proposição» nos permitem premissas explícitas e a conclusão, neste caso
entender a relação entre três instâncias diferentes: a
realidade, o conteúdo dos pensamentos e as temos esta premissa suprimida:
palavras. Experimentamos a realidade e pensamos
sobre ela. Juízos e proposições expressam o nosso “Toda a morna é melancólica” .
pensamento acerca da realidade. Fazer um juízo é ter
uma determinada ideia sobre o estado de coisas na 4. Tornar o argumento explícito:
realidade. Para comunicar nossos juízos usamos
palavras. Proposições ou juízos exprimem ideias
acerca do mundo, que podem estar certas ou erradas,
consoante estejam, ou não, de acordo com o estado de
coisas do mundo. Assim, apenas frases declarativas
com valor de verdade expressam juízos ou
preposições. Dizer que uma frase tem valor de
verdade é dizer que pode ser falso ou verdadeiro.
Perguntas, exclamações, ordens ou frases sem sentido,
não expressam proposições porque não fazem Na linguagem comum e nos textos filosóficos os
nenhuma declaração acerca do estado de coisas da argumentos raramente são escritos de forma
realidade e portanto não podem ser verdadeiros ou completamente explícita, até porque seria demasiado
falsos. pedante. Mas é importante tornarmos os argumentos
explícitos, para deixarmos claros quais são as
Quando analisamos argumentos, o que nos interessa premissas e qual é a conclusão de forma a podermos
são as proposições ou juízos e não as frases que as avaliá-los cuidadosamente e assim exercer a nossa
expressam. Ao trabalho de identificar as proposições, atitude crítica.
que estão subjacentes às frases que expressam um
argumento e a forma com elas Denominamos de expressão canónica do
se articulam entre si, argumento a essa forma de representar os
denominamos de: argumentos.

Interpretação, identificação Conceitos


e reconstrução . Aos elementos constituintes das proposições,
denominamos de conceitos. Assim a
Vejamos seguinte texto: proposição “Sodade é uma canção
melancólica”, é composto por conceitos
“- Nunca escutei “sodad” como “canção” e “melancólico”.
mas sei que é uma canção
melancólica, afinal é uma morna”. A intensão (com “S”) ou compreensão de um
conceito refere-se as propriedades que nos permitem
Para interpretar, identificar e reconstruir o identificar os objetos a que o conceito se refere. Por
argumento subjacente, seguiremos os seguintes exemplo, a intensão do conceito “humano”, inclui a
propriedade “ser membro da espécie homo sapiens”.
passos: Tal como as proposições são diferentes das frases, os
conceitos são diferentes das palavras. Por exemplo, a
1. Identificar a conclusão que se quer palavra “humano” pode ter a intensão “membro da
defender: “Sodade é uma canção melancólica”. espécie homo sapiens” ou pode ter a intensão “ser
racional, auto-consciente, sensível, com linguagem
2. Identificar as premissas (as razões sofisticada e curiosidade.
apresentadas para sustentar a conclusão):
A extensão refere-se a todos os elementos que podem
“Sodad é uma morna”. ser identificados aplicando-se o conceito. Se a
intensão do conceito “humano” for “membro da
3. Em alguns casos temos um entimema espécie homo sapiens” a extensão do conceito serão
todos os organismos que sejam geneticamente homo
(que é um argumento com premissas sapiens, inclusive o zigoto (a célula fecundada). Se a
suprimidas). No caso dos entimemas, intensão do conceito fizer referências a propriedades
precisamos identificar a premissa suprimida como “racional” então a extensão do conceito não
inclui o zigoto.
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Validade

Quando estudamos Lógica, pretendemos avaliar um Verdade e Validade


determinado aspeto dos argumentos, a saber a sua
validade. Mas o que é a validade? Considere os seguintes argumentos:

A validade é a propriedade de um argumento ou 1- Todo os cães são instrumentos musicais


raciocínio que faz com que seja impossível, ou 2- Todos os bonés são cães
improvável, que as premissas sejam verdadeiras e Logo todos os bonés são instrumentos musicais
a conclusão falsa
Amílcar Cabral escrevia poemas
O que quer isto dizer? Cabo Verde foi uma colónia portuguesa
Logo, o mar é azul
Considere os seguintes argumentos:
A O primeiro argumento é válido, porque se as
1- Todo os passageiros do autocarro nº6 estão
premissas fossem verdadeiras, seria impossível a
feridos
2- Não estás ferido
conclusão ser falsa. O problema é que, neste
Logo não és um passageiro do autocarro nº6 argumento, todas as premissas são ridiculamente
falsas. O segundo argumento é obviamente inválido
(porque a conclusão não se segue das premissas),
embora as premissas e a conclusão sejam verdadeiras.
B Para que serve um argumento válido com premissas
1. Todo os passageiros do autocarro nº6 estão falsas ou um argumento inválido com premissas e
feridos conclusão verdadeiras? Para nada, se o nosso objetivo
2 . Não és um passageiro do autocarro nº6 for alcançar conhecimento. A validade conserva a
Logo não estás ferido verdade, mas isso só garante que é impossível partir
de verdades e chegar a falsidades. Assim, a validade é
apenas uma condição necessária para que um
Qual destes argumentos - A ou B - é um argumento
argumento seja bom, mas não é suficiente. Por outro
válido? Para responder a esta questão, pense na nossa
lado, se chegamos a uma conclusão verdadeira através
definição: em qual dos argumentos é impossível ter
de um raciocínio inválido não temos conhecimento,
premissas verdadeiras e a conclusão falsa?
porque a nossa conclusão não está devidamente
justificada.
Se observares o argumento A com atenção, verás que
é impossível imaginar qualquer circunstância em que
Assim um bom argumento deve partir de premissas
seja verdade que todos os passageiros estejam
feridos, que tu sejas um passageiro mas não estejas verdadeiras e ser válido. Argumentos inválidos ou
ferido. “Não és um passageiro” segue, com premissas falsas não permitem construir
necessariamente, das premissas, portanto este é um conhecimento. Os argumentos válidos com premissas
argumento válido. verdadeiras são denominados argumentos sólidos.

Será que acontece o mesmo com o segundo A validade não garante que a nossa conclusão será
argumento? A resposta é “não”. Neste caso “não estás verdadeira, mas deve ser sempre o nosso ponto de
ferido” não segue necessariamente das premissas. Se partida ao analisar um argumento, dado que se o
observarmos com cuidado perceberemos que mesmo
argumento for inválido, não precisamos saber se as
que não sejas um passageiro, não é impossível que
não estejas ferido. Podes estar ferido, por exemplo, premissas são verdadeiras ou falsas, para saber que o
por ter caído de bicicleta, porque te cortaste a argumento não é bom. Por fim, vimos que a
cozinhar, etc. Logo, pela nossa definição, o argumento argumentação, ao contrário do raciocínio, não visa
é inválido, na medida em que as premissas podem ser apenas explorar a relação entre as ideias, mas
verdadeiras e a conclusão falsa. persuadir ou convencer racionalmente o nosso
interlocutor. Para convencermos as outras pessoas
Concluindo, se quisermos avaliar intuitivamente a
validade de um argumento, precisamos pensar se não basta ter um argumento sólido (válido e com
existe alguma circunstância possível onde poderíamos premissas verdadeiras), mas é preciso, ademais, que as
ter as premissas verdadeiras e a conclusão falsa. Se premissas dos quais partimos sejam aceites pelo nosso
existir tal circunstância o argumento é inválido. Se interlocutor, para depois avançarmos, validamente,
não existir, o argumento é válido. para uma conclusão que ele inicialmente consideraria
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disputável. A esta propriedade dos argumentos Existem fundamentalmente três tipos de argumentos
podemos chamar de cogência. não dedutivos:

Validade Dedutiva e Validade não Dedutiva a) Generalizações e Previsões Indutivas - a partir


de um conjunto de observações de alguns casos
Definimos “validade” como propriedade de um chegamos a conclusões mais gerais (“todos os cisnes
argumento ou raciocínio que faz com que seja
que já vi até hoje são brancos, logo os cisnes são
impossível, ou improvável, termos premissas
verdadeiras e conclusão falsa. Por quê “impossível” brancos”) - generalização - ou então, fazemos
ou “improvável”. Na verdade estes dois termos se previsões acerca de um caso particular a partir de
referem a duas formas distintas de validade: premissas que se baseiam no passado (“geralmente
quando o céu está nublado chove, o céu está hoje
a) Na Validade Dedutiva é impossível um nublado, logo vai chover”). Falaremos mais
argumento válido ter premissas verdadeiras e pormenorizadamente sobre generalizações e previsões
conclusão falsa.
indutivas quando abordarmos o tema da
b) Na Validade não dedutiva é apenas Epistemologia.
improvável, embora possível, ter premissas
verdadeiras e conclusão falsa. b) Argumentos por analogia - A partir de um
caso ou exemplo específico procuramos provar que
Todos os exemplos que vimos até agora referem-se a outro caso, semelhante ao primeiro num aspecto
validade dedutiva, na medida em que a sua validade relevante, partilha com esta uma determinada
depende exclusivamente do raciocínio linguístico e da propriedade. Eis um exemplo de um argumento por
sua forma. Nestes casos a verdade das premissas analogia:
garantem a verdade da conclusão. Todos os
argumentos que possuem, por exemplo a forma lógica Um moçambicano não tem o direito de declarar que
do modus ponens são válidos, independentemente do
Portugal lhe pertence por «direito de descoberta»
seu conteúdo e da informação do mundo. Nos
argumentos não dedutivos, por outro lado, estão apenas porque desembarcou ali pela primeira vez,
sempre associados a algum grau de incerteza, na porque Portugal é habitado pelo seu povo há séculos.
medida que a informação acerca do mundo afeta a
validade do argumento. A pretensão dos portugueses de que Moçambique lhes
pertencia «por direito de descoberta», é semelhante à
O que quer isto dizer? Observe os seguintes pretensão de moçambicano que declarasse “direito de
argumentos: descoberta” de Portugal.

Todos os dias que vivi até hoje sol nasceu Logo, Colombo não tinha direito de proclamar a
Logo daqui a 500 anos o sol continuará a nascer
posse da América em nome de outro povo, nem
Todos os dias que vivi até hoje acordei vivo, mesmo «por direito de descoberta».
Logo daqui a 300 anos continuarei vivo
c) Argumentos de autoridade - não temos
acesso direto a maior parte das coisas em que
Os dois argumentos possuem a mesma forma lógica. acreditamos. Precisamos apelar às pessoas que têm
Mas é fácil perceber que o primeiro é um argumento este acesso. Apelar a autoridade é uma forma de
aceitável, enquanto que o outro é ridiculamente mau. argumento não dedutivamente válido, desde que
Isso não depende da forma do argumento, que como sigamos determinados critérios, como a autoridade ser
vimos é a mesma, mas da informação que temos um especialista no tema em questão, haver consenso
acerca da realidade. A conclusão do segundo entre as autoridades, citarmos adequadamente a fonte,
argumento parece-nos obviamente absurda porque etc.
sabemos qual é a esperança média de vida dos seres
humanos. Mas isto não acontece com os argumentos
dedutivos. Aquilo que sabemos acerca do mundo
possui pouca relação com a sua validade, que
podemos avaliar apelando exclusivamente a relação
lógica e linguística entre as premissas e a conclusão.
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Forma Lógica proposição complexa é uma proposição que surge da


conexão entre duas ou mais proposições simples.
Considere os seguintes argumentos:
Unimos ou conectamos preposições simples através
Se tiveste negativa, então reprovaste
de operadores proposicionais. Um operador
Não reprovaste
Logo Não não tiveste negativa proposicional é uma expressão que nos permite
formar proposições complexas, acrescentando-o a
Se chove, então o chão está molhado uma proposição ou proposições.
O chão não está molhado
Logo Não choveu Podemos, por exemplo, criar uma nova proposição
adicionando o operador “não” a proposição simples
“João é Professor” - “João não é professor”.
Estes dois argumentos são, aparentemente, muito
distintos. Uma fala reprovação, outra fala de chuva. Podemos também unir a proposição “João é
Mas se observarmos seguem exatamente a mesma Professor”, com a proposição “Pedro é filho de um
fórmula: começam por estabelecer uma condição homem culto”, ficando com a proposição ““João é
através do se....então...; depois negam a segunda parte Professor e Pedro é filho de um homem culto”
do se-então e concluem negando a primeira parte do
se-então. A seguir temos outros exemplos de operadores
proposicionais, que podemos usar para criar
Se substituirmos as proposições (em sublinhado) pelas
proposições complexas a partir de proposições
letras P e Q e isolarmos a conectiva que une as duas
simples.
preposições (o Se-então), veremos que possuem,
exatamente a mesma forma:

Se P, então Q
Q
Logo P

Denominamos este tipo de estrutura abstrata comum a


vários argumentos de forma lógica. Esta forma
anterior, por exemplo chama-se modus ponens (do
latin «o modo de pôr»: ponha p, fique com q).
Qualquer argumento que siga este formato será
Estes operadores lógicos, são denominados de
dedutivamente válido.
conjunção (e), disjunção (ou), a condicional (se,
Operadores Lógicos então) e a bicondicional (se e somente se) e possuem
uma característica muito importante, são
Vimos que para avaliar, intuitivamente, a validade de verofuncionais. O que há de especial nos operadores
um argumento, precisamos pensar se existe alguma verofuncionais? Observa a seguinte proposição
circunstância possível onde poderíamos ter as complexa, conectada pelo operador “Se, então”:
premissas verdadeiras e a conclusão falsa.
Se o João está em São Vicente, então está em Cabo
Alguns argumentos usados em filosofia são Verde
demasiado complexos para serem avaliados de forma
intuitiva. Assim, precisamos aprender formas mais Mesmo que não façamos a mínima ideia de onde,
rigorosas e formais para avaliar a validade dos efectivamente, o João se encontra, sabemos que a
argumentos. proposição só será falsa se o João estiver em São
Vicente e não estiver em Cabo Verde - o que
Para avaliar argumentos devemos conhecer a forma
demonstraria que não é verdade que estar em Cabo
como são formadas as proposições que a compõem.
Verde é uma condição necessária para se estar em São
As proposições podem ser simples como: “João é
Vicente. De resto sabemos que em qualquer outra
Professor”,ou “Pedro é filho de um homem culto”
circunstância (o João não estar em nenhum destes
podem ser “compostas” ou complexas. Uma
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lugares, estar em Cabo Verde e não estar em São


Vicente, etc) torna a proposição verdadeira.

Acontece o mesmo com os outros operadores listados.

Por exemplo, a proposição “Ou o Pedro ou a Maria Designação Símbo Exemplo Leituras Regra
lo
virão para ajudar”, só será falsa se nem o Pedro nem a
Maria vierem para ajudar. Em qualquer outro caso
será verdadeira, nomeadamente se vier só a Maria, só
Negação ¬ ¬p não; não é é falsa unicamente
o Pedro ou ambos. verdade quando a
que; é proposição de
Se trocarmos “Ou” por “E” a proposição “Pedro e a falso que partida é
verdadeira, e vice-
Maria virão para ajudar” só será verdadeira se ambos -versa.
estiverem. Afinal a proposição afirma que ambos
estarão.

Conjunção ∧ p∧q e; mas; no só é verdadeira


A proposição “A água se congela se e somente se a
entanto; quando as
temperatura estiver a 0ºC só será falsa na embora proposições que a
circunstância da água estar congelada e a temperatura constituem são
verdadeiras.
estiver acima dos 0ºC, ou a temperatura estiver em
0ºC e a água não estiver congelada.

Significa isto que estes operadores obedecem a certas Disjunção ∨ p∨q ou só é falsa quando
inclusiva todas as
regras que nos permite perceber todas as condições de
proposições que a
verdade e falsidade das proposições formadas a partir constituem são
delas. Estas regras estão resumidas na tabela a direita. falsas.

Nesta tabela podemos ver que a negação é também


um operador lógico. A negação é um pouco diferente Disjunção ⊻ p⊻q ou ... ou só é falsa quando
dos outros porque não é um conector, na medida em exclusiva ... as proposições que
a constituem têm
que se aplica apenas a uma proposição. Na tabela diferente valor de
vemos, ademais, dois tipos de disjunção: a disjunção verdade.
inclusiva e a disjunção exclusiva. Por exemplo, em
proposições como “O João nasceu em Santo Antão ou
em São Vicente” a disjunção é exclusiva porque não Condicional → p→q se ..., só é falsa quando a
ele não pode ter nascido nos dois lugares ao mesmo então ... proposição que
antecede a “→”
tempo. Nestes casos quando ambas as proposições
(chamada
tem o mesmo valor de verdade a proposição será falsa. antecedente) é
verdadeira e a que
Por uma questão de economia, simplicidade e clareza, se segue a “→”
(chamada
podemos recorrer aos símbolos da tabela para consequente) é
representar os operadores. Assim, podemos falsa.

representar a proposição «Se P, então Q», por “p → q”


ou a proposição “P ou Q” por “p ∨ q”, etc.
Bicondicional ↔ p↔q se e só se; só é verdadeira
Estes operadores lógicos ocorrem com grande é quando ambas as
condição proposições que a
frequência na nossa linguagem, e portanto são necessária constituem têm o
essenciais no raciocínio e na argumentação. Aprender e mesmo valor de
a lidar com argumentos cuja validade depende destes suficiente verdade.

operadores verofuncionais, é o conhecimento básico


para a compreensão da lógica.
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Passos Para Testar a Validade de Argumentos O resultado do processo de interpretação seria o


Dedutivos seguinte:

Considera o seguinte argumento: P= Ele dormiu demais


Q= Ele está atrasado
Apesar de se ter deitado muito tarde, o João
c) Formalização
chegou pontualmente à aula, como de costume.
É óbvio que ele não dormiu demais. Uma vez feita a interpretação, estamos em condições
de formalizar o argumento.
Este argumento é válido? Estamos agora em
condições de o testar formalmente. Assim o argumento tem a forma:
Para isso seguimos os seguintes passos: Se P então Q,
Não Q
Logo, Não P

Se trocarmos os operadores lógico por símbolos o


resultado será o seguinte:

p → q,
¬q
∴ ¬p

usamos o símbolo ∴ para representar a conclusão


(Logo).

d) Inspector de Circunstâncias com Recurso a


Tabelas de Verdade

Vimos que um argumento é válido quando é impossível


ter premissas verdadeiras e conclusão falsa. Mas não
temos, necessariamente, que saber o valor de verdade
das premissas e da conclusão (isto é se são verdadeiras
Vamos por partes:
ou falsas) para avaliarmos a validade dos argumentos.
a) Expressão canónica do argumento: Podemos simplesmente simular as diferentes
circunstâncias de ocorrência de verdade e falsidade das
Vimos, anteriormente, como proceder para expressar proposições, para observar se em alguma circunstância
argumentos na sua forma canônica. O resultado deste teremos premissas verdadeiras e conclusão falsa
processo neste argumento seria o seguinte:
Através de uma tabela de verdade, podemos observar
Se dorme demais então se atrasa, todas as condições de verdade ou falsidade de uma
não está atrasado determinada forma proposicional. Se considerarmos as
Logo, não dormiu demais
regras da tabela anterior teremos as seguintes
b) Interpretação circunstâncias de verdade e falsidade das proposições
complexas. Em relação às proposições simples, iremos
Por uma questão de economia, em vez de colocar todas as combinações possíveis em que se
escrever toda a proposição eu posso podem combinar a verdade e a falsidade destas
simplesmente representá-lo por um símbolo proposições - ambas podem ser verdadeiras (VV)
como P, Q, R, etc. ambas podem ser falsas (FF) e uma pode ser verdadeira
e a outra falsa (VF ou FV). são estas todas as
Neste caso posso, por exemplo representar circunstâncias possíveis.
“Ele dormiu demais” por P e “Ele está
atrasado” por Q. p q p∧ p∨ p→q p↔q p⊻q
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q q

V V V V V V F

V F F V F F V

F V F V V F V

F F F F V V F

O inspector de circunstâncias consiste em coloacr o


nosso argumento numa tabela de verdade, e analisar
todas as circunstâncias possíveis de verdade ou
falsidade do nosso argumento. No nosso argumento
temos a negação das proposições P e Q. Vimos que a
regra da negação estabelece que é falsa unicamente
quando a proposição de partida é verdadeira, e vice-
-versa. Portanto, para sabermos o valor de verdade de
¬q e ¬p é só inverter o valor de verdade de p e q.

Ficamos assim, para o nosso argumento, com o


seguinte inspector de circunstâncias.

p q p → q, ¬q ∴ ¬p

V V V F F

V F F V F

F V V F V

F F V V V

Neste caso temos um argumento válido dado que na


única circunstância onde temos ambas as premissas
verdadeiras, a conclusão é verdadeira ou, dito de outra
forma, não existe nenhuma circunstância em que
temos premissas verdadeiras e conclusão falsa.

Esta forma válida é reconhecida e tem um nome:


“Modus Tollens”. Na tabela à esquerda temos outros
exemplos de formas válidas.
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