Você está na página 1de 7

Interações Entre a Doença Cardiovascular e a

Doença Renal Crônica


Interactions Between Cardiovascular Disease and
Chronic Kidney Disease
Alexandre Manoel Varela, Roberto F. S. Pecoits Filho

Pontifícia Universidade Católica do Paraná


Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

RESUMO
Introdução: A Doença Cardiovascular (DCV) é a principal causa de óbito entre os pacientes portadores de Doença Renal Crônica (DRC). Sua prevalência
está relacionada à presença de uma maior incidência de fatores de risco clássicos assim como ao aparecimento de fatores de risco não tradicionais. A
associação destes fatores nos desafia a entender melhor a fisiopatologia da DCV na DRC, bem como desenvolver ferramentas diagnósticas e terapêuticas
eficazes no controle desta “nova” entidade clínica. Discussão: A presença de co-fatores que aumentam o risco de DCV nos portadores de DRC está sendo
amplamente estudada. Alterações no metabolismo dos lipídeos, ativação do sistema renina-angiotensina, aumento de fluído extracelular, metabolismo
anormal de cálcio e fósforo, anemia, má nutrição, aumento do estresse oxidativo, inflamação crônica, níveis elevados de homocisteína, alterações diretas
das toxinas urêmicas e alterações do sistema trombótico são alguns dos alvos destes diferentes estudos. A disfunção endotelial como ponto comum a
estas entidades fisiopatológicas torna-se o foco central das discussões, podendo suas alterações serem demonstradas mesmo em pacientes com DRC
em estágios precoces. A ênfase no controle dos fatores de risco tradicionais especialmente como medida de prevenções primaria e secundaria e o manejo
adequado dos fatores de risco peculiares da DRC (que aparecem como decorrência da queda da filtração glomerular) devem ser considerados prioridade
no tratamento desta entidade clínica. Conclusão: Apesar de que o vínculo entre a DRC e o risco de DCV é bem estabelecido, observa-se que pouco se
sabe sobre a fisiopatologia da DCV na DRC. Somente a determinação correta dos fatores de risco tradicionais e não tradicionais em conjunto com um
correto estagiamento da DRC nos trará informações para buscar a otimização e controle destas manifestações.

Descritores: Doença renal crônica. Doença cardiovascular. Fatores de risco cardiovascular.

ABSTRACT
Introduction: Cardiovascular disease (CVD) is the main cause of death in patients with chronic kidney disease (CKD). Its high prevalence is related to an
elevated prevalence of classic risk factors for CVD in CKD and, as the renal as function declines, the appearance of CKD-related risk factors. The
association between those risk factors challenge us to improve the knowledge of the pathophysiology of CKD-related CVD, and raise the need of developing
new diagnostic tools for risk assessment and therapeutic strategies for this new clinical condition. Discussion: The presence of factors that increase CVD
risk in CKD patients has been extensively studied recently. Lipid disorders, mineral metabolism disorders, activation of the renin angiotensin system, anemia,
malnutrition, oxidative stress, inflammation, hyperhomocysteinemia, uremic toxicity and coagulation disorders have all been analyzed in different studies.
Endothelial dysfunction appears to be a central point in those disorders and had been the focus of a number of analysis, and can be observed early in the
progression of kidney disease. The emphasis on the management of traditional risk factors and the aggresive control of CKD-related risk factors should be
a priority of the treatment of CVD in CKD. Conclusion: Although the link between CKD and the risk of CVD is well established, it is noticeable that little is
known about the pathophysiology of this disease. Only the detection and management of the traditional and CKD related risk factors will lead to an
improvement in the CVD-related mortality in patients with CKD.

Keywords: Chronic kidney disease. Cardiovascular disease. Cardiovascular risk factors.

INTRODUÇÃO rentes da queda na função renal1. Pacientes com DRC


possuem uma maior prevalência de isquemia miocárdica
A Doença Cardiovascular [DCV] permanece silenciosa, arritmias ventriculares complexas, fibrilação
sendo a principal causa de morte entre os portadores de atrial, hipertrofia ventricular esquerda, calcificação do
Doença Renal Crônica [DRC] e o seu aparecimento está anel mitral e da valva aórtica2. Outro ponto que parece
relacionado ao aumento da prevalência dos fatores de estar diretamente relacionado ao prognóstico devastador
risco tradicionais associado à contribuição dada pelo apa- da DCV em pacientes urêmicos é o desenvolvimento de
recimento de fatores de risco peculiares da DRC e decor- pequena quantidade de circulação colateral coronariana3.
J Bras Nefrol Volume XXVIII - nº 3 - Supl. 2 - Setembro de 2006 23

Considera-se que uma em cada nove pessoas nos DISCUSSÃO


Estados Unidos da América do Norte possua alguma
manifestação de DRC, podendo variar desde microalbu- A idéia de que as complicações ateroscleróticas
minúria com filtração glomerular normal até insuficiência cardiovasculares se manifestam de uma forma mais
renal avançada com a necessidade de alguma forma de acentuada nos pacientes em tratamento de reposição renal
terapia de reposição. O número de pacientes nos diversos não é nova12, mas foi apenas em 2004 que este conceito
estágios da DRC no Brasil é alarmante, especialmente se foi expandido para aqueles pacientes com disfunção renal
analisarmos que, alem do risco atualmente inexorável de de menor gravidade13. Uma análise recente demonstrou
progressão para os estágios mais avançados da doença com grande clareza que a cada decréscimo de 10 unidades
renal, estes pacientes estão expostos a um risco elevado na Taxa de Filtração Gromerular ocorre um acréscimo de
de complicações cardiovasculares 4. 10% no risco relativo de morte ou complicação
No Brasil, as principais causas de DRC em estágio cardiovascular não fatal14. Observando estes aconteci-
5 são a nefroesclerose hipertensiva e nefropatia diabética, mentos em pacientes diabéticos, Deckert et al15 sugeriu
ambas doenças por si só caracterizadas por distúrbios im- um novo conceito: a albuminúria seria um marcador de
portantes associados a um risco de DCV elevado5. A So- uma alteração endotelial sistêmica. Isto foi confirmado
ciedade Brasileira de Nefrologia, em seu censo de 2005, mais tarde com o reconhecimento da albuminúria e da
revelou que cerca de 70.000 pacientes encontravam-se proteinúria como sendo fatores de risco para DCV em
mantidos em algum tipo de terapia de substituição renal6. pacientes que não eram portadores de diabetes mellitus 16.
A prevalência de níveis elevados de creatinina sérica O reconhecimento de fatores de risco cardio-
entre adultos com mais de 60 anos foi de 5,09% em um vascular em pacientes com DRC é, no mínimo, desa-
estudo realizado pelo Departamento de Clínica Médica da fiador. Os pacientes com DRC normalmente apresentam
Universidade Federal de Minas Gerais7. Dados do Sis- diabetes mellitus e hipertensão arterial que, por sua vez
tema de Informações Hospitalares do Sistema Único de também são fatores fortes de risco cardiovascular,
Saúde do Ministério da Saúde do Brasil [SIH/SUS] reve- dificultando a determinação de causa efeito neste grupo
lam que no ano de 2004 foram realizadas 62.246 inter- de pacientes17, alterações no metabolismo dos lipídeos
nações hospitalares em conseqüência de Insuficiência são mais comuns em pacientes com DRC que na
Renal, com uma média de permanência de 8,7 dias e com população em geral18, pacientes em terapia de reposição
cerca de 6.740 óbitos, 10,82%, acarretando um custo total renal apresentam níveis de lipoproteína (a) duas vezes
para o ministério de R$ 81.499.451,83 8. Este custo se de- mais altos que aqueles encontrados em pacientes com
ve principalmente ao manejo das complicações cardiovas- DCV e função renal normal19. Desta forma, uma das
culares. explicações para o aparecimento de complicações
A expectativa de vida de indivíduos em DRC é cardiovasculares nos pacientes com DRC é uma maior
bastante reduzida e a DCV é responsável por cerca de prevalência dos fatores de risco tradicionais nesta
50% das mortes prematuras ocorridas na Europa Oci- população20. No grupo de pacientes que necessitam de
dental e América do Norte em pacientes que se submetem alguma forma de reposição de função renal surgem novos
à diálise. Pode-se considerar que o risco de DCV em um fatores de riscos, estes associados diretamente a queda da
paciente em DRC com 30 anos de idade é similar ao de filtração glomerular: ativação do sistema renina-angio-
um paciente com 80 anos sem doença renal estabelecida9. tensina, aumento de fluído extracelular, metabolismo
Em 2003 a American Heart Association, publicou um anormal de cálcio e fósforo, anemia, má nutrição,
relatório de diretrizes onde considerou que pacientes com aumento do estresse oxidativo, inflamação crônica, níveis
DRC devem ser incluídos no mais alto grupo de risco para elevados de homocisteína, alterações diretas das toxinas
DCV e, portanto devem receber medidas preventivas urêmicas e alterações do sistema trombótico21-23. Recen-
agressivas na tentativa de reduzir a prevalência e a seve- temente Schrier et al formularam o conceito de uma
ridade das manifestações desta doença10. Cálculos mate- “síndrome cardio-renal” baseado nos dados que sugerem
máticos e tabelas de projeção indicam que, em 2030, exis- uma via de sinalização neurohumoral entre os dois
tirão cerca de 2,24 milhões de pacientes em DRC nos órgãos24. Isto reflete uma via de duplo sentido entre a
Estados Unidos da América do Norte11. Desta forma, a disfunção renal e cardíaca (Figura 1).
presença do risco elevado de DCV nesta população e suas A disfunção endotelial é um mecanismo que
conseqüências, desafiam a comunidade cardiológica e aparenta ser central na gênese dos mais variados aspectos
nefrológica internacional a buscar aprimoramentos diag- da disfunção cardiovascular em pacientes renais e que
nósticos e terapêuticos na tentativa de oferecer uma maior pode ser medido através de métodos diretos e indiretos,
e melhor sobrevida a estes indivíduos. como a vasodilatação fluxo mediada, marcadores circu-
24 Interações Entre a Doença Cardiovascular e a Doença Renal Crônica

lantes e marcadores de processos que interferem na fun- precoce. Vários achados corroboram a idéia de que níveis
ção endotelial como o estresse oxidativo e a microinfla- elevados de ânions superóxido (.O2-) possuem uma ação
mação25. Mesmo em pacientes com função renal global importante na fisiopatologia da aterosclerose tanto
preservada, mas com doença renal primária instalada, inativando o óxido nítrico como diminuindo sua dispo-
podemos demonstrar a presença de fatores com efeito nibilidade35. Trabalhos recentes apresentam a idéia de que
adverso na função celular endotelial. São exemplos a o processo de dano no aparelho cardiovascular inicia-se já
presença de anormalidades da apolipoproteína assim nas fases iniciais da DRC estabelecida36,37. Yilmaz et al38,
como níveis elevados de dimetil-L-arginina assimétrica e considera que o comprometimento dos mecanismo de
da homocisteína26-29. O efeito patogênico do hormônio antioxidação além de se iniciarem precocemente na evo-
paratireoídeo em pacientes com hipertrofia ventricular lução da DRC são, também, um fenômeno progressivo.
esquerda determinando fibrose intersticial e espessa-
mento das arteríolas intramiocárdicas já foi descrito a
mais de uma década por Amann et al30. Esta situação fisio- TRATAMENTO
patológica vem mostrando-se compatível com resultados
clínicos que indicam a sua correlação com morbidade e Está bem estabelecido que as seguintes drogas apre-
mortalidade cardíaca em pacientes em programa de sentam ação comprovada no tratamento da DCV: antia-
diálise. Ainda, segundo o mesmo autor, as anormalidades gregantes plaquetários, beta bloqueadores, estatinas, ini-
cardíacas são amplificadas pela ativação de sistemas co- bidores da enzima conversora da angiotensina e bloquea-
mo o da renina-angiotensina e o da endotelina31. Estudos dores do receptor da angiotensina. Além disso, estes fárma-
experimentais em camundongos submetidos à nefrec- cos possuem a reputação de serem protetores vasculares.
tomia subtotal demonstram uma redução na densidade de
capilares além das alterações arteriolares já descritas, oca- Antiagregantes plaquetários
sionando uma menor oferta de oxigênio a estes tecidos32,33.
O estado urêmico não só causa uma diminuição na densi- Covic et al 39 relata que os pacientes com DRC
dade capilar como acarreta uma maior distância entre os recebem menos terapia anticoagulante quando compa-
capilares remanescentes comprometendo o suprimento de rados à população geral. Isto em virtude do receio de
oxigênio a uma população de cardiomiócitos já sobre- aumentar o risco de sangramento. O estudo UK-HARP-1
carregados levando a uma maior suscetibilidade à mostrou que doses baixas de aspirina (100mg/dia) não
isquemia34. causam sangramento excessivo em pacientes pré-diálise,
Outro ponto de especial interesse na atualidade é a recebendo diálise ou transplantados40. Em preparação
relação do estresse oxidativo e a aterosclerose na DRC para um estudo do uso combinado da aspirina com o
clopidogrel, Kaufman et al 41 avaliou um pequeno grupo
de pacientes em hemodiálise que fez uso de 75mg diárias,
durante duas semanas, deste composto. Ele observou,
neste pequeno grupo, que a administração do clopidogrel
não afetou o tempo necessário para atingir a hemostasia
após a retirada das agulhas de diálise assim como nenhum
dos pacientes apresentou evidências de sangramento. Ao
realizar o estudo randomizado, comparando o uso de
325mg/dia de aspirina em associação a 75mg/dia de
clopidogrel à administração de placebo, e após a randomi-
zação de 200 pacientes observou um aumento signifi-
cativo no risco de sangramento do grupo tratado com a
associação o que ocasionou a recomendação da finali-
zação do estudo pelo comitê de segurança. Desta forma,
apesar da associação destes agentes antiadesivos plaque-
tários possuírem um importante impacto no tratamento da
síndrome coronariana aguda e no período pós intervenção
percutânea coronariana42,43, devem ser usados com cau-
Figura 1. Relação entre a doença renal crônica e a doença cardiovascular
tela e sob intensa vigilância, principalmente no grupo de
(TFG: Taxa de Filtração Glomerular; IAM: Infarto Agudo do Miocárdio; DRC que está em uso de algum tipo de terapia de
AVC: Acidente Vascular Cerebral; ICC: Insuficiência Cardíaca) reposição da função renal.
J Bras Nefrol Volume XXVIII - nº 3 - Supl. 2 - Setembro de 2006 25

Beta Bloqueadores Inibidores da enzima conversora da angiotensina e


bloqueadores do receptor da angiotensina
Nenhuma análise do efeito dos beta bloqueadores
relativa à função renal basal foi ainda publicada, entre- O tratamento com inibidores da enzima conver-
tanto, com base em estudos sobre insuficiência cardíaca e sora da angiotensina reduz a mortalidade e a morbidade
por ser uma droga que sabidamente melhora o prognós- em pacientes com insuficiência cardíaca, disfunção ven-
tico após infarto do miocárdio é possível assumir que seus tricular esquerda após infarto do miocárdio e com hiper-
efeitos cardioprotetores estão também presentes em tensão arterial, além disso, tem mostrado um efeito de
pacientes com DRC44. Da mesma forma que para os anti- redução na progressão da DRC52,53, já os bloqueadores do
agregantes, esta classe de drogas parece ser subutilizada receptor da angiotensina tem se mostrado uma alternativa
em pacientes com DRC. eficaz naqueles indivíduos que apresentam alguma
intolerância aos inibidores54-56. O estudo HOPE57, de
Estatinas 2001, mostrou que os benefícios relativos do captopril es-
tavam presentes em pacientes com função renal compro-
As estatinas têm se mostrado extremamente efi- metida e mais recentemente, 2003, o estudo VALIANT58
cientes na prevenção primária e secundária de eventos mostrou que o valsartan em dose de 160 mg duas vezes ao
vasculares e isto parece se repetir em pacientes com dia é tão eficaz quanto o captopril.
DRC45,46. Há sugestão de um efeito renoprotetor no uso Como já mencionado acima, no contexto da DCV
da pravastatina, pois observou uma redução na associada à DRC fatores de risco não tradicionais se
velocidade de deterioração da função renal em grande apresentam e estes fatores podem trazer novos objetivos
número dos pacientes envolvidos em um estudo no tratamento deste grupo de pacientes. O combate à má
recente47. Uma consideração a ser feita é a de que os nutrição, o equilíbrio do metabolismo anormal do cálcio e
pacientes com DRC avançada geralmente entram no do fósforo, o tratamento da anemia e a redução do estresse
grupo de exclusão dos grandes estudos randomizados e oxidativo são exemplos de condutas terapêuticas que me-
que nestes pacientes o tipo de dislipidemia assim como a recem ser corretamente investigadas. Nesta linha temos
tolerância às estatinas podem diferir daquelas apre- os resultados do estudo SPACE59 que usou a adminis-
sentadas por pacientes com DRC menos severa44. O tração de 800 UI de vitamina E nas sessões de diálise e
estudo ALERT48 mostrou que o uso de fluvastatina em observou uma redução significativa em eventos cardio-
dose única diária de 80 miligramas (mg) por um período vasculares.
maior que 5 anos é seguro e eficiente em pacientes Finalmente, o impacto do transplante renal na
transplantados renais. Apesar desta droga não ter redu- evolução clínica de pacientes com DRC sob o ponto de
zido o risco composto de morte cardíaca, infarto do vista da DCV tem apresentado resultados consistentes.
miocárdio não fatal e revascularização miocárdica de Ao se corrigir mais eficazmente (em relação à diálise) a
forma significativa ela reduziu, de forma isolada, o risco função renal é observada uma melhora da função
de infarto do miocárdio e morte cardíaca. Já o Estudo endotelial com potencial benefício na redução na
4D49 quando da liberação de seus resultados no 37º. progressão da DCV neste grupo de pacientes60,61.
Encontro anual da Sociedade Americana de Nefrologia44
mostrou ausência de significância estatística no uso de 20
mg diárias de artovastatina por um período médio de 4 CONCLUSÃO
anos quando comparado ao uso de placebo na tentativa
de reduzir o composto de morte cardíaca, infarto do Apesar de que as associações entre DRC e um
miocárdio não fatal e acidente vascular cerebral. O elevado risco de DCV são bem reconhecidas, o enten-
estudo AURORA50 irá acessar os efeitos de uma dose dimento da fisiopatologia desta doença e seu manejo ideal
diária de 10 mg de rosuvastatina numa população de são ainda pouco conhecidos. Os fatores de risco para a
2700 pacientes em hemodiálise. Já o estudo SHARP51 DCV e a DRC são comuns e as doenças evoluem em
vai avaliar o uso de uma associação de sinvastatina e paralelo, porém quando cai a filtração glomerular, fatores
ezetimibe, um inibidor da absorção do colesterol, em de risco peculiares à DRC alteram o perfil da evolução
uma população de cerca de 9000 pacientes, dos quais fisiopatológica da DCV. As indicações de que este grupo
aproximadamente um terço estará em regime de diálise. de pacientes está sendo sub-medicado do ponto de vista
Certamente estes estudos trarão respostas sobre o real de terapias de redução de risco para DCV são reais e
efeito desta categoria de medicamentos na população consideráveis, e deve-se revisar as recomendações no
com DRC. manejo destes pacientes10,21,61-63. O reconhecimento dos
26 Interações Entre a Doença Cardiovascular e a Doença Renal Crônica

fatores de risco (tradicionais ou peculiares da DRC) 13. Ritz E, McClellan WM. Overview: increased cardiovascular
risk in patients with minor renal dysfunction: an emerging
presentes e seu adequado controle, o correto estagiamento issue with far-reaching consequences. J Am Soc Nephrol
da DRC, a instalação de terapias consagradas de forma 2004; 15:513-6.
eficiente parecem ser, no momento, as únicas armas na 14. Anavekar NS, McMurray JJ, Velazquez EJ, Solomon SD,
tentativa de conter o avanço das alterações observadas na Kober L, Rouleau JL, et al. Relation between renal
associação da DCV e da DRC. Certamente novos estudos dysfunction and cardiovascular outcomes after myocardial
infarction. N Engl J Med 2004; 351:1285-95.
tanto na análise fisiopatológica da DCV na DRC quanto
estudos clínicos testando novas estratégias de intervenção 15. Deckert T, Feldt-Rasmussen B, Borch-Johnsen K, Jensen T,
Kofoed-Enevoldsen A. Albuminuria reflects widespread
serão necessários para que a redução no enorme risco vascular damage. The Steno hypothesis. Diabetologia 1989;
cardiovascular dos renais crônicos seja alcançada. 32:219-26.
16. Kannel WB, Stampfer MJ, Castelli WP, Verter J. The
prognostic significance of proteinuria: the Framingham study.
REFERÊNCIAS Am Heart J 1984; 108:1347-52.
17. Coresh J, Wei GL, McQuillan G, Brancati FL, Levey AS,
1. Qunibi WY. The CARE study and cardiovascular calcification. Jones C, et al. Prevalence of high blood pressure and
Manag Care 2006; 15(3 Suppl):1-5. elevated serum creatinine level in the United States: findings
from the third National Health and Nutrition Examination
2. Das M, Aronow WS, McClung JA, Belkin RN. Increased Survey (1988-1994). Arch Intern Med 2001; 161:1207-16.
prevalence of coronary artery disease, silent myocardial
ischemia, complex ventricular arrhythmias, atrial fibrillation, 18. Kasiske BL. Hyperlipidemia in patients with chronic renal
left ventricular hypertrophy, mitral annular calcium, and aortic disease. Am J Kidney Dis 1998; 32(5 Suppl 3):S142-56.
valve calcium in patients with chronic renal insufficiency.
Cardiol Rev 2006; 14:14-7. 19. Cressman MD, Heyka RJ, Paganini EP, O’Neil J, Skibinski
CI, Hoff HF. Lipoprotein(a) is an independent risk factor for
3. Sezer M, Ozcan M, Okcular I, Elitok A, Umman S, Umman B, cardiovascular disease in hemodialysis patients. Circulation
et al. A potential evidence to explain the reason behind the 1992; 86:475-82.
devastating prognosis of coronary artery disease in uraemic
patients: Renal insufficiency is associated with poor coronary 20. Jungers P, Massy ZA, Nguyen Khoa T, Fumeron C, Labrunie
collateral vessel development. Int J Cardiol 2006. M, Lacour B, et al. Incidence and risk factors of
atherosclerotic cardiovascular accidents in predialysis
4. Moe SM, Chen NX. Pathophysiology of vascular calcification chronic renal failure patients: a prospective study. Nephrol
in chronic kidney disease. Circ Res 2004; 95:560-7. Dial Transplant 1997; 12:2597-602.

5. Noronha IL, Schor N, Coelho SN, Jorgetti V, Romao Junior 21. K/DOQI clinical practice guidelines for chronic kidney
JE, Zatz R, et al. Nephrology, dialysis and transplantation in disease: evaluation, classification, and stratification. Am J
Brazil. Nephrol Dial Transplant 1997;12:2234-43. Kidney Dis 2002; 39(2 Suppl 1):S1-266.
22. Vlagopoulos PT, Sarnak MJ. Traditional and nontraditional
6. Nefrologia SBd. Censo 1999 a 2002 Dados Consolidados.
cardiovascular risk factors in chronic kidney disease. Med
2002.
Clin North Am 2005; 89:587-611.
7. Passos VM, Barreto SM, Lima-Costa MF. Detection of renal 23. Vlagopoulos PT, Tighiouart H, Weiner DE, Griffith J, Pettitt D,
dysfunction based on serum creatinine levels in a Brazilian Salem DN, et al. Anemia as a risk factor for cardiovascular
community: the Bambui Health and Ageing Study. Braz J disease and all-cause mortality in diabetes: the impact of
Med Biol Res 2003; 36:393-401. chronic kidney disease. J Am Soc Nephrol 2005; 16:3403-10.
8. SUS MdS-SdIHd. Morbidade Hospitalar do SUS por local de 24. Schrier RW. Role of diminished renal function in
Internação. 2004 [cited; Available from:(falta alguma cardiovascular mortality: marker or pathogenetic factor? J
coisa) Am Coll Cardiol 2006; 47:1-8.
9. Stenvinkel P, Pecoits-Filho R, Lindholm B. Coronary artery 25. Amann K, Wanner C, Ritz E. Cross-Talk between the Kidney
disease in end-stage renal disease: no longer a simple and the Cardiovascular System. J Am Soc Nephrol
plumbing problem. J Am Soc Nephrol 2003; 14:1927-39. 2006;17:2112-9.
10. Sarnak MJ, Levey AS, Schoolwerth AC, Coresh J, Culleton B, 26. Kronenberg F, Kuen E, Ritz E, Junker R, Konig P, Kraatz G, et
Hamm LL, et al. Kidney disease as a risk factor for al. Lipoprotein(a) serum concentrations and apolipoprotein(a)
development of cardiovascular disease: a statement from the phenotypes in mild and moderate renal failure. J Am Soc
American Heart Association Councils on Kidney in Nephrol 2000; 11:105-15.
Cardiovascular Disease, High Blood Pressure Research,
Clinical Cardiology, and Epidemiology and Prevention. 27. Kronenberg F, Kuen E, Ritz E, Konig P, Kraatz G, Lhotta K,
Circulation 2003; 108:2154-69. et al. Apolipoprotein A-IV serum concentrations are elevated
in patients with mild and moderate renal failure. J Am Soc
11. Wali RK, Henrich WL. Chronic kidney disease: a risk factor for Nephrol 2002; 13:461-9.
cardiovascular disease. Cardiol Clin 2005; 23:343-62.
28. Kielstein JT, Boger RH, Bode-Boger SM, Frolich JC, Haller H,
12. Lindner A, Charra B, Sherrard DJ, Scribner BH. Accelerated Ritz E, et al. Marked increase of asymmetric dimethylarginine
atherosclerosis in prolonged maintenance hemodialysis. N in patients with incipient primary chronic renal disease. J Am
Engl J Med 1974; 290:697-701. Soc Nephrol 2002; 13:170-6.
J Bras Nefrol Volume XXVIII - nº 3 - Supl. 2 - Setembro de 2006 27

29. van Guldener C, Stam F, Stehouwer CD. 44. McMurray JJ. Chronic kidney disease in patients with cardiac
Hyperhomocysteinaemia in chronic kidney disease: focus on disease: a review of evidence-based treatment. Kidney Int
transmethylation. Clin Chem Lab Med 2005; 43:1026-31. 2005; 68:1419-26.

30. Amann K, Ritz E, Wiest G, Klaus G, Mall G. A role of 45. Tonelli M, Moye L, Sacks FM, Kiberd B, Curhan G.
parathyroid hormone for the activation of cardiac fibroblasts in Pravastatin for secondary prevention of cardiovascular
uremia. J Am Soc Nephrol 1994; 4:1814-9. events in persons with mild chronic renal insufficiency. Ann
Intern Med 2003; 138:98-104.
31. Amann K, Miltenberger-Miltenyi G, Simonoviciene A, Koch A,
Orth S, Ritz E. Remodeling of resistance arteries in renal 46. Tonelli M, Isles C, Curhan GC, Tonkin A, Pfeffer MA,
failure: effect of endothelin receptor blockade. J Am Soc Shepherd J, et al. Effect of pravastatin on cardiovascular
Nephrol 2001; 12:2040-50. events in people with chronic kidney disease. Circulation
2004; 110:1557-63.
32. Amann K, Wiest G, Zimmer G, Gretz N, Ritz E, Mall G.
Reduced capillary density in the myocardium of uremic rats— 47. Tonelli M, Moye L, Sacks FM, Cole T, Curhan GC. Effect of
a stereological study. Kidney Int 1992; 42:1079-85. pravastatin on loss of renal function in people with moderate
chronic renal insufficiency and cardiovascular disease. J Am
33. Tornig J, Amann K, Ritz E, Nichols C, Zeier M, Mall G. Soc Nephrol 2003; 14:1605-13.
Arteriolar wall thickening, capillary rarefaction and interstitial
fibrosis in the heart of rats with renal failure:the effects of 48. Holdaas H, Fellstrom B, Jardine AG, Holme I, Nyberg G,
ramipril, nifedipine and moxonidine. J Am Soc Nephrol Fauchald P, et al. Effect of fluvastatin on cardiac outcomes in
1996; 7:667-75. renal transplant recipients: a multicentre, randomised,
placebo-controlled trial. Lancet 2003; 361:2024-31.
34. Amann K, Breitbach M, Ritz E, Mall G. Myocyte/capillary
49. Wanner C, Krane V, Marz W, Olschewski M, Asmus HG,
mismatch in the heart of uremic patients. J Am Soc Nephrol
Kramer W, et al. Randomized controlled trial on the efficacy
1998; 9:1018-22.
and safety of atorvastatin in patients with type 2 diabetes on
35. Kojda G, Harrison D. Interactions between NO and reactive hemodialysis (4D study): demographic and baseline
oxygen species: pathophysiological importance in characteristics. Kidney Blood Press Res 2004; 27:259-66.
atherosclerosis, hypertension, diabetes and heart failure. 50. Fellstrom B, Zannad F, Schmieder R, Holdaas H, Jardine A,
Cardiovasc Res 1999; 43:562-71. Rose H, et al. Effect of rosuvastatin on outcomes in chronic
haemodialysis patients - design and rationale of the AURORA
36. Vanholder R, Massy Z, Argiles A, Spasovski G, Verbeke F,
study. Curr Control Trials Cardiovasc Med 2005; 6:9.
Lameire N. Chronic kidney disease as cause of
cardiovascular morbidity and mortality. Nephrol Dial 51. Baigent C, Landry M. Study of Heart and Renal Protection
Transplant 2005; 20:1048-56. (SHARP). Kidney Int Suppl 2003; S207-10.
37. Redon J, Cea-Calvo L, Lozano JV, Fernandez-Perez C, 52. Fournier A, el Esper N, Makdassi R, Hue P, Westeel PF,
Navarro J, Bonet A, et al. Kidney function and cardiovascular Achard JM, et al. Hypertension and progression of renal
disease in the hypertensive population: the ERIC-HTA study. insufficiency. Nephrol Dial Transplant 1994; 9 Suppl 3:28-34.
J Hypertens 2006; 24:663-9.
53. Boos CJ. Cardiovascular protection with ace inhibitors—more
38. Yilmaz MI, Saglam M, Caglar K, Cakir E, Sonmez A, HOPE for EUROPA? Med Sci Monit 2004;10:SR23-8.
Ozgurtas T, et al. The determinants of endothelial dysfunction
in CKD: oxidative stress and asymmetric dimethylarginine. 54. Maggioni AP, Anand I, Gottlieb SO, Latini R, Tognoni G,
Am J Kidney Dis 2006; 47:42-50. Cohn JN. Effects of valsartan on morbidity and mortality in
patients with heart failure not receiving angiotensin-
39. Covic A, Gusbeth-Tatomir P, Goldsmith DJ. The challenge of converting enzyme inhibitors. J Am Coll Cardiol 2002;
cardiovascular risk factors in end-stage renal disease. J 40:1414-21.
Nephrol 2003; 16:476-86.
55. Granger CB, McMurray JJ, Yusuf S, Held P, Michelson EL,
40. Baigent C, Landray M, Leaper C, Altmann P, Armitage J, Olofsson B, et al. Effects of candesartan in patients with
Baxter A, et al. First United Kingdom Heart and Renal chronic heart failure and reduced left-ventricular systolic
Protection (UK-HARP-I) study: biochemical efficacy and function intolerant to angiotensin-converting-enzyme inhibitors:
safety of simvastatin and safety of low-dose aspirin in chronic the CHARM-Alternative trial. Lancet 2003; 362:772-6.
kidney disease. Am J Kidney Dis 2005; 45:473-84.
56. Barnett A. Preventing renal complications in type 2 diabetes:
41. Kaufman JS, Fiore L, Hasbargen JA, O’Connor TZ, Perdriset results of the diabetics exposed to telmisartan and enalapril
G. A pharmacodynamic study of clopidogrel in chronic trial. J Am Soc Nephrol 2006;17(4 Suppl 2):S132-5.
hemodialysis patients. J Thromb Thrombolysis 2000;
10:127-31. 57. Mann JF, Gerstein HC, Pogue J, Bosch J, Yusuf S. Renal
insufficiency as a predictor of cardiovascular outcomes and
42. A randomised, blinded, trial of clopidogrel versus aspirin in the impact of ramipril: the HOPE randomized trial. Ann Intern
patients at risk of ischaemic events (CAPRIE). CAPRIE Med 2001; 134:629-36.
Steering Committee. Lancet 1996; 348:1329-39.
58. Pfeffer MA, McMurray JJ, Velazquez EJ, Rouleau JL, Kober
43. Yusuf S, Zhao F, Mehta SR, Chrolavicius S, Tognoni G, Fox L, Maggioni AP, et al. Valsartan, captopril, or both in
KK. Effects of clopidogrel in addition to aspirin in patients with myocardial infarction complicated by heart failure, left
acute coronary syndromes without ST-segment elevation. N ventricular dysfunction, or both. N Engl J Med 2003;
Engl J Med 2001; 345:494-502. 349:1893-906.
28 Interações Entre a Doença Cardiovascular e a Doença Renal Crônica

59. Boaz M, Smetana S, Weinstein T, Matas Z, Gafter U, Iaina 62. Ezekowitz J, McAlister FA, Humphries KH, Norris CM, Tonelli
A, et al. Secondary prevention with antioxidants of M, Ghali WA, et al. The association among renal
cardiovascular disease in endstage renal disease (SPACE): insufficiency, pharmacotherapy, and outcomes in 6,427
randomised placebo-controlled trial. L a n c e t 2 0 0 0 ; patients with heart failure and coronary artery disease. J Am
356:1213-8. Coll Cardiol 2004; 44:1587-92.
63. McCullough PA, Sandberg KR, Borzak S, Hudson MP, Garg
60. Passauer J, Bussemaker E, Lassig G, Gross P. Kidney M, Manley HJ. Benefits of aspirin and beta-blockade after
transplantation improves endothelium-dependent vasodilation myocardial infarction in patients with chronic kidney disease.
in patients with endstage renal disease. Transplantation Am Heart J 2002; 144:226-32.
2003; 75:1907-10.
Endereço para correspondência:
61. Kocak H, Ceken K, Yavuz A, Yucel S, Gurkan A, Erdogan O,
et al. Effect of renal transplantation on endothelial function in
Roberto Pecoits-Filho
haemodialysis patients. Nephrol Dial Transplant 2006;
Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prado Velho
21:203-7.
80215-901, Curitiba - PR
E-mail: r.pecoits@pucpr.br

Você também pode gostar