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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

1ª Frequência - 8 de Fevereiro de 2022 - Turmas da Manhã – A, B e C

(Osvaldo da Gama Afonso)

Comece por ler as observações finais1

Escolha duas, e somente duas, hipóteses, que têm, cada uma delas, valor igual às
demais:
I
1. Durante o estado de emergência, por causa da pandemia, SHELSEA não conseguiu
assistir às aulas da Faculdade, realizadas via Zoom, nem dormir durante a tarde, como
sempre fazia, por causa do barulho de martelos pneumáticos no andar de cima.
WILLIAN, proprietário deste, aproveitara estar em casa para proceder a obras de
remodelação da cozinha e das 8h às 20h, todos os dias da semana, partiu pedra e paredes
para poder instalar uma cozinha nova. SHELSEA, desesperada, pretende travar a odisseia
de ruído. Quid iuris?

TÓPICO DE CORRECÇÃO
1) Os direitos de personalidade; noção
2) O elenco legal e a atipicidade possível dos direitos de personalidade;
3) O direito ao repouso desenvolvido por via judicial e o direito ao silêncio;
4) A violação desses direitos por Francisco;
5) As medidas coercivas de tutela geral da personalidade (art. 70.º, n.º 2 do CC) e a
responsabilidade civil.

2. Carlos aceita fazer parte de um grupo de teste de uma vacina contra a COVID-19.
Depois de tomar a substância em teste, desenvolve a doença e sofre danos pulmonares
severos em consequência de uma pneumonia causada pelo vírus. Pretende agora ser
indemnizado pelo Laboratório ao qual deu o seu consentimento. Qui iuris?

TÓPICOS DE CORRECÇÃO
- Direito de personalidade à integridade física
- Consentimento e violação do direito de personalidade

1
OBSERVAÇÕES: Cotações: I grupo: 5 VALORES / cada caso; II grupo: 10 VALORES | os alunos
podem escolher se querem começar a resolver o primeiro ou segundo grupo.
- Afastamento do dever de indemnizar.
- Eventual abuso de direito (artigo 334º, nº 1 do CC) sob a forma de venire contra factum
proprium

3. MÁRIO PAULO, filho de JOANA e de NEEMIAS, morre no parto. Como causa da


morte um medicamento com efeitos nocivos produzido pela farmacêutica MODERNAX,
que havia sido retirado do mercado duas semanas antes por imposição da MINSA, mas
que JOANA, contra a expressa indicação do seu médico, tomara, por julgar que facilitaria
o desenvolvimento do feto. MEENIAS, inconformado com a morte do filho, pretende
justiça. Quid iuris?
TÓPICO DE CORRECÇÃO
1) O problema da personalidade jurídica do feto humano. A negação da personalidade
jurídica antes do nascimento completo e com vida. António não chega a adquirir
personalidade jurídica;
2) O problema da violação da vida de feto humano pela Distinta. Não há violação do
direito à vida (pelo menos, na perspectiva do Direito positivo vigente), mas há violação
de normas de tutela de interesses juridicamente protegidos. Menção à responsabilidade
civil da Distinta;
3) Berta viola igualmente as normas de protecção do feto humano e pode igualmente ser
responsabilizada civilmente pelos danos de Carlos;
4) Uma indemnização a António não se pode considerar, justamente pela falta de
personalidade jurídica.

4. EFRAÍN, menor de 17 anos, comprou uma mota em parte com dinheiro do seu trabalho
e em parte com dinheiro dado pelo pai. Ao vendedor fez saber que tinha 18 anos e mostrou
identificação falsa. O pai descobriu o negócio uma semana antes de EFRAÍN perfazer 18
anos, mas a acção judicial de anulação entrou dois dias depois do aniversário. Quid iuris?

TÓPICOS DE CORRECÇÃO

- Incapacidade de exercício por menoridade. Noção e efeitos


- Menor que se faz passar por maior
- Nem o pai (porque não tem legitimidade) nem o menor (dolo do menor) podem anular
o negócio jurídico, que é válido
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
1ª Frequência - 8 de Fevereiro de 2022 - Turmas da Manhã – A, B e C
II

ALBERTINA, decidiu constituir a Fundação “Amigos dos sem Abrigos em Luanda”


(AAL), com uma parte do património que os seus avós paternos a legara, no valor de USD
1.000.000,00. Como Presidente da ALL, pediu a NAHARY que esta, em representação
da Fundação, concluísse a celebração um contrato de compra e venda de um apartamento
no Edifício Kilamba na Marginal, com ÉRIKA, sua amiga de longa data. O apartamento
tinha um quadro do Picasso, que pertencia a ÉRIKA. Sempre ficou assente que
ALBERTINA tinha de devolver o quadro a ÉRICA assim que se mudasse para o
apartamento. Depois do contrato estar celebrado, NAHARY entregou as chaves a
ALBERTINA e, passados cinco dias esta entra no apartamento pela primeira vez, depara
com o quadro do Picasso danificado. ALBERTINA, incrédula, telefona de imediato a
NAHARY e questiona-a sobre o sucedido. NAHARY confessou que tinha sido ela a
danificar o quadro visto que sempre tivera ciúmes da sua relação com a ÉRIKA. Na
sequência da discussão, ALBERTINA comunicou a NAHARY que iria reportar o
sucedido a ÉRIKA e, em consequência, NAHARY reagiu através da comunicação social,
referindo que “esta Fundação e a sua Presidente são uma farsa. Utilizam os sem Abrigos
para fazerem trabalhos de escravos em benefício dos seus responsáveis”. A par disto,
divulgou uma agenda que a Fundação preparou para ser comercializado, com as fotos
de cada um dos sem Abrigos (adultos e/ou incapacitados), de 5000 exemplares
encomendados à Editora POLIS, propriedade de ANSELMO, que já tinha contrato com
vários estabelecimentos comerciais para a sua comercialização. No dia em que saiu a
notícia, foi um choque total para o país. A Fundação perdeu grandes parcerias e
patrocinadores. Viu, assim, desvalorizado mais de metade do seu património.

A Fundação que afirma que a denúncia de NAHARY põe em causa os seus direitos e
interesses legalmente protegidos. E a POLIS também quer reagir contra a FUNDAÇÃO.

Elabore o seu parecer jurídico, pronunciando-se sobre os diversos aspectos jurídicos


relevantes que o caso sub judice encerra.

TÓPICOS DE CORRECÇÃO

- Discutir da constituição da fundação, em especial à luz do disposto no artigo 158º, nº 2


e nos artigos 185º e 188º do CC
- Caracterizar o fim como socialmente relevante:

- Discutir da capacidade para comprar imóvel (artigo 160º do CC)

- Discutir Direito à honra (vertente pessoal e social); avaliar o impacto em concreto da


violação do direito à honra vs. liberdade de informação dos jornais;

- Levantar o problema da veracidade ou não veracidade da notícia, visto que há uma


dúvida. Conferir se há interesse público nesta divulgação. Se não passar nos critérios da
veracidade e do interesse público da notícia, analisar as consequências jurídicas.

- Regime da representação voluntária (entre a Fundação e Nahary) – cf. artigos 258.º do


CC, artigo 262.º do CC; - Regime da responsabilidade civil das pessoas coletivas (cf.
artigo 165.º do CC), seria a Fundação que teria de responder civilmente pelos danos
causados, apesar de ter sido Nahary a causar os danos ao quadro de Picasso diretamente.
Posição do Professor Menezes Cordeiro em relação ao artigo 165.º do CC: só se aplica
aos representantes voluntários da pessoa coletiva e não aos representantes orgânicos.

- Quadro de Picasso: classificação como coisa móvel infungível (abrir a hipótese e


distinguir de coisas móveis fungíveis)

- Discutir da violação dos direitos de personalidade à honra e ao bom nome de Albertina


(artigo 32º da CRA e artigo 70 do CC) e os mecanismos de tutela (se for o caso)

- Discutir da tutela dos direitos de personalidade da pessoa colectiva Fundação (em


especial o artigo 484º do CC) e os mecanismos de tutela (se for o caso)

- Discutir da eventual prática de actos contrários ao fim da Fundação e da prossecução de


uma actividade ilícita.

- Discutir do eventual consentimento dos representantes legais ou tutores em relação à


imagem dos sem abrigos (afastar esta possibilidade, se considerar que a Fundação é a
instituição que os sem abrigo sob a sua tutela e protecção).

- Discutir da eventual extinção da Fundação tendo em conta a redução substancial do seu


substracto patrimonial.

- Concluir sobre a razão ou não de Nahary e em que termos a Fundação deve reagir.

Boa prova.

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