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ISBN 85-319-0123-5
ASTRONOMIA
DO MACUNAÍMA
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
VOL.l
ASTRONOMIA
DO MACUNAÍMA
EDITORA ITATIAIA
Belo Horizonte - Rio de Janeiro
2000
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Do mesmo Autor:
Prefácio 9
Astronomia do Macunaíma 17
Vénus 23
As Plêiades 31
Cometas 39
Meteoros 43
Sol 47
Lua 53
Centauro 59
Bibliografia 71
Sobre o autor 73
Sobre o ilustrador 83
Prefácio
Dentre as obras mais significativas do pri
meiro Modernismo brasileiro, cujos limites
podem situar-se entre 1922 e 1928, ocupa o
Macunaíma um lugar de relevo. Buscando sin
tetizar mitos e lendas dos indígenas, em geral
caxinauás, taulipangues e arecunás, pretendia
Mário de Andrade revalorizar o folclore índio,
dar realce à mitologia pré-cabralina, querendo
desse modo chamar a atenção para as coisas
do Brasil — num momento em que os jovens
escritores se voltavam marcadamente para o
populário brasileiro, num nacionalismo não
raro xenófobo cuja contrapartida era a intelec
tualidade dominante, a se babar com a cultura
francesa e europeia em geral.
Macunaíma foi publicado em 1928, ano-
chave na evolução do nosso Modernismo.
Nesse ano saíram o Retrato do Brasil, de
Paulo Prado, e A Bagaceira, de José Américo
de Almeida. Esta, iniciando o moderno ciclo
regionalista do Nordeste; aquele, pondo no
espírito otimista dos modernos o tempero do
pessimismo e do desencanto. Ambos, a seu
modo, relacionam-se com o Macunaíma de tal
sorte que a obra de Mário vale bem como
uma síntese. À Bagaceira está ligado pelos
elementos regionalistas do entrecho, funda
dos sobretudo na tradição e no folclore, em
bora em Mário esses elementos tenham
sempre um aspecto funcional e não pitoresco.
Ao Retrato do Brasil, une-o a visão pessimista
que comparece nos desacertos do herói e
principalmente na sua desilusão final —
quando, não achando mais graça nesta Terra,
decide ser "o brilho inútil" de uma constela
ção a mais no vasto campo do céu. Compa
re-se, apenas a título de observação, com a
desilusão expressa pelo próprio Mário de An
drade, no final da vida, relativamente ao Mo
dernismo (que ajudara a instaurar) e ao que
considerava a pouca ou nenhuma importância
de sua obra — na sua célebre conferência
sobre O Movimento Modernista (1942). Em
bora pessoal, o desgosto de Mário transpunha
os limites da sua individualidade para se es
tender a toda uma concepção de arte, que
preferia fosse pragmática. Sabemos hoje ava
liar melhor a severidade de seu autojulgamen-
to, visto que Macunaíma aí está, várias vezes
reeditado, relido e estudado — tido quase
sem contraste como sua obra maior e mais
representativa.
I
agudeza. Cabe destacar o extraordinário Ro
teiro de Macunaíma, de M. Cavalcanti Pro-
ença (Edições Anhembi, 1955), obra básica
para a compreensão do livro de Mário. E entre
os aspectos especiais a importância dada à
astronomia dos índios tem aqui um desenvol
vimento e explanação metodizados e do
maior interesse não só para os estudiosos da
obra de Mário de Andrade, como também
para quem se debruce com curiosidade e pro
veito sobre o folclore dos ameríndios.
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1
Neste Astronomia do Macunaíma, Ronaldo
Mourão volta-se para o folclore ameríndio na
quilo que o atinge de mais perto: os mitos e
lendas relativos aos astros e a fenômenos ce
lestes. Chamou-lhe a atenção o fato de os ín
dios considerarem que todo herói, ao morrer,
"vira estrela no céu", o que sucede com vá
rias personagens do Macunaíma, inclusive a
que dá título à obra. A correlação existente
entre as lendas indígenas e alguns aspectos
da observação astronómica primitiva serve de
ponto de partida ao livro.
Fernando Py
Astronomia do
Macunaíma
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Em Macunaíma, encontram-se reunidos al
guns dos principais conhecimentos astronómi
cos dos índios brasileiros. No seu estudo e pes
quisa, Mário de Andrade deve ter utilizado como
principais fontes as lendas astronómicas reuni
das pelo alemão Theodor Koch-Grunberg, no
livro Mitos e Lendas dos índios Taulipangue e
Arecuná; pelo nosso historiador Capistrano de
Abreu, na obra Rã-txa-hu-ni-ku-7, mais conhe
cida pelo seu subtítulo "A Língua dos Caxi-
nauás"; pelo cientista Barbosa Rodrigues, autor
da notável Poranduba Amazonense; assim
como pelos estudos do General Couto de Ma
galhães, em O Selvagem, e de Oliveira Cou-
tinho, em Lendas Amazônicas.
19
rio de Andrade realizar uma síntese representa
tiva do sincretismo astronómico dos índios brasi
leiros. Seu valor não é unicamente literário, mas
também o de objetivar uma tomada de cons
ciência das nossas tribos indígenas que, além
de conviverem intimamente com a natureza,
mantiveram sempre notável adoração e respeito
ao meio que as envolvia.
20
Alencar, a justificativa de que "hoje é estrelinha
no céu". Tal tradição indígena, de supor que
seus heróis serão estrelas no céu, está relatada
também nas obras de Capistrano de Abreu. Em
carta a Manuel Bandeira, escreveu certa vez
Mário de Andrade que o poeta "acabaria sendo
astro, que é o destino fatal dos seres". Destino
semelhante iria ter o personagem principal, Ma-
cunaíma, que acaba por se transformar na cons
telação da Ursa Maior.
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Nessas ideias observa-se um desejo de ca- i
21
I
poderiam ser adotadas, por homens cultos,
como o fez Mário de Andrade. Sua mensagem
não é só nacionalista, mas humana e cósmica,
pois os nossos índios viam no céu um espelho
das nossas flora e fauna.
22
Vénus
Em Macunaíma o planeta Vénus é desig
nado tanto como Papa-ceia, como Taína-cã. O
brasileirismo papa-ceia provém da aparição ves
pertina do planeta coincidir, em geral, com a
hora da ceia. Por outro lado, pelo vocabulário
dos índios carajás, sabemos que taína significa
estrela e cã, grande. Assim, Taína-cã equivale à
nossa expressão estrela grande, o que constitui
uma designação muito apropriada para o planeta
Vénus, que surge após o pôr-do-sol como um
dos astros mais luminosos do firmamento.
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25
Segundo a lenda, existiam na tribo carajá duas
irmãs: Imaerô, mais idosa, e Denaquê, mais jo
vem. A irmã mais velha se enamorou de Taí-
na-cã, mas, quando este veio para pedi-la em
26
Em uma das vezes em que Taína-cã vai ao
roçado, sua esposa o segue, apesar das suas
advertências para não acompanhá-lo. Ao vê-lo
trabalhar, descobre Denaquê que o esposo é
um rapaz belíssimo. Inconformada, Imaerô re
clama que Taína-cã lhe pertence, pois viera do
céu à sua procura. Mas, ao se ver desprezada,
Imaerô se desespera, dá um grito e cai, trans
formada em araponga, segundo Mário de An I
drade, embora na lenda original se tenha trans
formado, realmente, em um urutau. Além des í
i
tas, existem outras inúmeras adaptações, tais
como a introdução do pai do sono, Emoron-Pó-
dole, oriundo da mitologia taulipangue, relata''
por Koch-Grunberg, que não tem nenhuma
ção com a lenda carajá.
27
Segundo a lenda, existiam na tribo carajá duas
irmãs: Imaerô, mais idosa, e Denaquê, mais jo
vem. A irmã mais velha se enamorou de Taí
na-cã, mas, quando este veio para pedi-la em
26
Em uma das vezes em que Taína-cã vai ao
roçado, sua esposa o segue, apesar das suas
advertências para não acompanhá-lo. Ao vê-lo
trabalhar, descobre Denaquê que o esposo é
um rapaz belíssimo. Inconformada, Imaerô re
clama que Taína-cã lhe pertence, pois viera do
céu à sua procura. Mas, ao se ver desprezada,
Imaerô se desespera, dá um grito e cai, trans
formada em araponga, segundo Mário de An
drade, embora na lenda original se tenha trans
formado, realmente, em um urutau. Além des
tas, existem outras inúmeras adaptações, tais
como a introdução do pai do sono, Emoron-Pó-
dole, oriundo da mitologia taulipangue, relatada
por Koch-Grunberg, que não tem nenhuma rela
ção com a lenda carajá.
27
ele quem ganha os bolos de mandioca.'' Assim
falando, Caiuanogue desapareceu deixando ao
Sol o domínio do céu. Com efeito, é velho há
bito dos índios colocarem os bolos de man
dioca, depois de assados, sobre o teto de casa,
com o fim de secarem ao Sol.
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gada”, admite ter visto estrelas a tremerem no
ar frio.
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30
As Plêiades
Pela análise das lendas da astronomia dos
índios brasileiros colhidas por Koch-Grúnberg,
Barbosa Rodrigues e inúmeros outros estudio
sos, é fácil compreender a importância das
Plêiades.
33
a segunda relaciona-se com o fato de sua apari
ção no céu coincidir com os primeiros sinais da
descida das águas, com a época de muda dos
pássaros e com o renascimento periódico da
vegetação.
34
í
35
A primeira está associada a uma lenda caxi-
nauá, colhida por Capistrano de Abreu, que re
lata a história de um irmão solteiro, Boró, que
trai o irmão casado, Macari, ao brincar com a
linda esposa deste, Iriqui. Em Mário de An
drade, Iriqui, desprezada por Macunaíma, pede
a seis araras-canindés que a conduzam ao céu.
1B8II
36
Esta lenda foi colhida por Koch-Grúnberg,
através do índio Maiuluaipu, da tribo dos tauli-
pangue. Para esses índios, as Plêiades formam,
com o grupo de Aldebarã e uma parte de Órion,
a figura do perneta Jilicavaí, ou Jiliguaipu, que
tendo tido uma das pernas decepadas pela es
posa adúltera, subiu ao céu. Antes de sua as
censão, mantém uma conferência com o irmão
e o filho, quando anuncia a subida ao céu e que
o seu desaparecimento anual seria o sinal do
princípio da época das chuvas. Sua cabeça
constitui o aglomerado das Plêiades, o corpo é o
grupo das Híades e a estrela Aldebarã, e a perna
é uma parte de Órion.
37
índio encarregado de modificar e corrigir os de
feitos e males que assolavam o mundo, e, em
particular, acabar com o domínio das índias
sobre os índios. Depois de eliminar a influência
das mulheres, Jurupari estabeleceu uma série
de cultos e festas sagradas, proibidas ao sexo
feminino. Caso ouvissem os cantos ou ruídos
dessas festas, as mulheres morriam imediata
mente. Embora conhecesse este perigo, Ceiuci
desobedeceu ao filho e procurou assistir a um
dos rituais. Faleceu por causa disso. Não po
dendo restituir-lhe a vida, Jurupari conduziu a
mãe para o céu, onde ela se transformou nas
Plêiades, conjunto de estrelas que os índios
chamam de Ceiuci.
38
Cometas
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Em sua obra, Mário de Andrade não absor
veu Ceiuci como a jovem que se transformou
nas Plêiades. Aceitou, no entanto, a história da
mulher gigante de fome pantagruélica. Da lenda
surgiu uma rapsódia de rara beleza literária, que
conservou, entretanto, o seu objetivo de expli
car como surgiram os cometas. Com efeito,
com relação à origem dos cometas, Mário de
Andrade colheu em O Selvagem, de Couto Ma
galhães, a lenda da velha Ceiuci, que teria rou
bado a tarrafa de um pescador. Ao levar o peixe
para casa, a filha de Ceiuci depara com o jovem
pescador. Depois de acender o fogo, a velha
não mais encontra o pescado. A filha recusa-se
a entregar o peixe e, expulsa de casa, se trans
forma em cometa. Na rapsódia andradiana, o
pescador desta lenda astronómica foi substi
tuído pelo herói, Macunaíma, que, depois de
41
possuir a filha de Ceiuci, assiste à sua transfor
mação em cometa, que corre o céu "batendo
perna de déu em déu".
42
Meteoros
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Em Macunaíma, o meteoro, esse fenô
meno celeste mais conhecido como estrela ca
dente, é Suzi, esposa de Jiguê, o qual, depois
de encontrá-la em amores com Macunaíma,
expulsa-a de casa: "Vai embora, perdição." Suzi
sorri, cata piolhos e vai para o céu, onde passa a
ser uma "estrela que pula". A história tem fun
damento na crença popular segundo a qual as
estrelas que correm no céu são espíritos erran
tes, zelações, que estão pagando os seus peca
dos antes de entrar no Paraíso, como nos relata
Pereira da Costa em Folclore Pernambucano.
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45
Sol
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*
A designação de Vei aplicada ao Sol provém
duma lenda narrada pelo índio arekuná Akúli ao
etnólogo alemão Koch-Grúnberg. Segundo o re
lato, o Sol, Vei, e a Lua, Capei, eram dois gran
des companheiros que andavam sempre juntos.
Capei era um índio jovem e forte que tinha um
rosto muito bonito e limpo. Um dia se apaixo
nou por uma das filhas de Vei e brincou com ela
durante a noite. Como Vei não desejasse tal ca
samento, pediu à filha que passasse sangue do
menstruo no rosto de Capei. Desde então, os
dois passaram a se odiar, razão pela qual an
dam, no céu, longe um do outro. É motivo,
também, pelo qual a Lua, Capei, tem manchas
no rosto.
49
naíma, porém, o Sol e a Lua são femininos, tal
vez por influência tupi, que designava o Sol pelo
nome de Coaraci e a Lua por Jaci. Nestes dois
vocábulos, o final ci significa mãe.
50
O casamento de Vei, o Sol, com Macunaíma,
deve ser associado a uma lenda narrada pelo
índio Maiuluaipu, da tribo taulipangue, segundo
a qual um rapaz chamado Akalapijeima desejava
pegar um sapo, Waloma.. que perseguido jurou I
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Lua
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Aproveitando uma história contada pelo ín II
dio Maiuluaipu, que relata como a Lua chegou
ao céu, Mário de Andrade faz uma adaptação ll
imaginando a figura de uma boiúna Capei, ou
seja, de uma cobra-preta Capei, que vivia em
companhia das saúvas, formigas que consti
tuem uma das piores pragas que prejudicam a
nossa agricultura. De acordo com os índios tau- <1
lipangues, Capei e as filhas sobem ao céu por
um cipó, que um pássaro teria amarrado no céu.
Em Macunaíma, Capei sobe ao céu comendo o 1
fio da teia de uma aranha tatamanha. As filhas
de Capei, segundo a crença dos taulipangues,
vão para dois céus, um mais próximo e outro
mais distante. Parece que os taulipangues acre
ditavam na existência de dez céus, imaginando li
que os astros estivessem a distâncias diferentes.
Tal idéia deve estar associada à noção de que,
quanto mais afastada uma estrela, menos lumi-
55
i
nosa, pois deviam imaginar que todos os astros
possuíam o mesmo brilho. Ao contrário do que
imaginavam os gregos, que colocavam as estre
las incrustadas numa única esfera de cristal, o
que os conduziu a classificarem as estrelas com
base na intensidade do brilho. Ambas as idéias,
embora verdadeiras, representam só uma parte
da realidade.
56
vez mais gordo. Depois a outra, que lhe dá
pouca comida, e ele, então, emagrece. Por I
ciúme, ambas brigam. A fim de evitar essas bri
gas é que os índios dessa tribo não têm duas, e
sim três ou quatro mulheres.
57
Centauro
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62
Através de sua extraordinária rapsódia, Mário
I
de Andrade faz que o nosso povo participe do
cosmo, levando-o para o céu, onde se torna es
trela, não por meio de idéias provenientes da
civilização colonizadora, mas através dos contos
e lendas astronómicas da mitologia autóctone. I
â3B
63
Os motivos são, em resumo: a falta de uma lin
guagem escrita e de um sistema de numeração
que permitisse o desenvolvimento de um ca
lendário, com o qual fosse possível marcar e de
limitar datas e ocorrências dos fenômenos as
tronómicos. A ausência do instrumental mate
mático impossibilitou que se criassem as mais
elementares correlações astronométricas. Por
outro lado, a falta de uma escrita contribuiu para
que as lendas e os mitos, ao se desenvolverem,
permitissem a criação de uma cosmologia, em
nada inferior à de qualquer outra civilização pri
mitiva. Com efeito, no mito babilónico existia a
Água, mãe de todas as coisas e suporte do Céu
e da Terra. Esta última era uma montanha que
flutuava num Oceano, no interior do qual habita
vam os mortos. A abóbada celeste era de cons
tituição sólida e fixa, através da qual os astros
— animais, deuses e heróis — percorriam os
seus caminhos usuais. Assim, o Sol, todas as
manhãs, aparecia na porta do Oriente, subia até
o meio-dia e descia para retornar à sua casa
pela porta do Ocidente.
64
e no centro, limitado pelas montanhas, fluía um
grande rio, do qual se originou o Nilo. A Via- h
láctea constituía o Nilo Celeste, através do qual
se deslocam os astros-deuses, em seus bar
cos.
Sr
65
tações é a projeção no firmamento das particu
laridades terrestres. Assim, o céu dos nossos ín
dios é a imagem projetada da flora e da fauna
brasileiras. É o domínio de um antropocentrismo,
de um animismo, enfim, de um naturocen-
trismo comum na estrutura do processo mental
de todos os povos primitivos. Deste modo,
quando não são heróis ou deuses, são animais
e árvores que povoam os céus. Por suas rela
ções entre si justifica-se o aparecimento dos as
tros e fenômenos de duração etemera. Os co
metas são almas não aceitas; os meteoros,
mulheres que pagam seus pecados; as manchas
da Lua, sinais primitivos de uma relação inces
tuosa de irmãos; os eclipses, lutas ou disputas
entre dois irmãos ou casais que não se com
preendem; a Via-láctea, como em todas as
cosmologias, sempre um caminho, seja das al
mas ou das antas, como dizem os nossos ín
dios.
66
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67 í
i
evoluídas como as dos nossos índios que, em
bora mais atrasados, não chegaram ao retro
cesso cultural da astrolatria. Só no século VI
a.C. surgiram, entre os gregos, as primeiras
grandes concepções, num verdadeiro milagre,
que marca o início do espirito científico, quando
as idéias místicas começaram a ser abandona-
68
II
i
I
69 Ç
l
I
Bibliografia I
71 í
II I
DUHEM, Pierre, Le Système du Monde, His-
toire des doctrines cosmologiques de Platon a
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do Brasil Central, Revista do Arquivo de São
Paulo, N.° 34 s 58, São Paulo, 1940.
72
Sobre o autor
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È
I
75
tendo sido, no ano seguinte, convidado pela
União Astronómica Internacional e pela Acade
mia de Ciências dos EUA para participar do
Simpósio sobre Estrelas Duplas Visuais que se
realizou em Berkeley, Califórnia, EUA. Ainda em
1960, publicou o seu primeiro livro: Astronomia
Popular, edição especial da revista Ciência Popu
lar.
76
i
l
77
i
landa. Coordenou os setores de Matemática e
Astronomia da Enciclopédia Mirador Internacio
nal, publicada em 1975 pela Encyclopaedia Bri-
tannica do Brasil. Nessa obra, além dos inúme
ros verbetes monográficos sobre astronomia,
redigiu e desenhou uma uranografia com mais
de vinte e seis pranchas.
78
vidade, física e astronáutica, e procura demons
trar a importância da astronomia, assim como
da astronáutica, na atualidade e no futuro.
80
■
81
Sobre o ilustrador
*
■:
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tos astros, ou constelações, e as mudanças sa
zonais. Quando muito, tentavam explicar, atra
vés de lendas, algumas características dos as
tros, como o brilho trémulo das estrelas, o apa
recimento de meteoros, as manchas na super
fície da Lua, etc. Para eles, contudo, o céu era
“um espelho das nossas fauna e flora”. Viven
do em estreita comunhão com a natureza, os
índios simbolizavam no céu o seu obscuro an
seio de sublimação. E, não tendo conhecimen
to maior do universo e da mecânica celeste,
criaram uma cosmologia mitológica bem de
senvolvida, a que não faltam explicações pito
rescas acerca das origens dos cometas, das fa
ses da Lua, dos meteoros, da Via-láctea, etc.
Mas sua maior qualidade parece residir nc
fato de não haverem incidido numa astrolatria
comum aos babilónios, egípcios, sumerianos e
maias. Embora mais atrasados culturalmente,
não chegaram a esse retrocesso — pois os as
tros do céu eram para eles a representação da
alma dos mortos, e nada mais.
Astronomia do Macunaíma é um livro que
se lê com agrado cada vez maior. Em suas pá
ginas, nota-se o interesse permanente pelos
estudos de antropologia e etnografia, folclore
e ciência — e tudo isto servido por uma lin
guagem que valoriza a obra de Mário de
Andrade (sempre tão cioso de uma fala colo
quial) e, principalmente, a cultura indígena.
FERNANDO PY