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Introdução
Nos últimos doze anos, grandes transformações foram conduzidas na região
portuária da cidade do Rio de Janeiro. Desde 2009, quando foi aprovada a lei
complementar municipal nº 101, que instituiu a Operação Consorciada da
Região do Porto do Rio de Janeiro, teve início uma gigantesca operação de
remodelação urbana que receberia a alcunha de Projeto Porto Maravilha.
A antiga área, conquistada ao mar por aterramento e formada por
armazéns deteriorados, já há muito destituídos de suas funções portuárias, deu
lugar a um novo bairro formado de edifícios corporativos, com escritórios, hotéis
e prédios de órgãos públicos, além de museus, restaurantes e praças restauradas.
A derrubada do Elevado da Perimetral constituiu a ação simbólica
representativa da transformação definitiva daquele espaço. Grande aparato
cinematográfico foi disponibilizado pela Prefeitura para registrar e divulgar o
acontecimento.No entanto, foram as aberturas da Praça Mauá e do Boulevard
Olímpico que imprimiram a nova identidade da região: hoje, trafegam por ali
milhares de visitantes diariamente. A Praça, restaurada e reformada, já consta
como um dos lugares de identificação da cidade; tornou-se uma marca do Rio
de Janeiro.
Todavia, apesar de toda a originalidade da operação e a rápida identificação
do carioca com esse ‘novo’ espaço, a remodelação da zona portuária do Rio
não se trata de um caso único, mas se assemelha a diversas outras operações
de renovação/requalificação urbanas ocorridas em antigas áreas portuárias
realizadas mundo afora. Nova Iorque, Boston, Baltimore, Seattle, Toronto,
Londres, Barcelona, Bilbao, Hamburgo, Sidney, Porto Madero, são muitos casos
que se juntam numa tendência urbanística global que vem sendo conhecida
como ‘renascença das beiras d’água (MANN, 1988).
No caso carioca, a proposta de transformação da área portuária surgiu
na década de 1980 com o empresário Paulo Manoel Protásio que, através da
Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), protagonizou uma longa
campanha para a criação de um Centro Internacional de Comércio na cidade.
Naquele momento, essa proposta foi apresentada a empresários nacionais e
internacionais e a gestores públicos e encontrou mais apoios que oposições.
O grupo de Protásio mobilizou como pôde as forças políticas no sentido
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Figura 4 – Cartograma das Zonas Central e Portuária da Cidade do Rio de Janeiro, destacando
as empresas ligadas ao comércio exterior ali instaladas (Revista da ACRJ, 1984).
Figura 1 — Imagem do WTC de Nova Iorque destacada em capa do discurso de Ruy Barreto na
WTCA (Revista da ACRJ, 1982b).
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seus recursos partilhados por grande número de empresas no estudo e nas ações
que marcaram e delimitaram aquele espaço irrevogavelmente internacional da
urbe” (PROTASIO, 2011, p. 7) — a zona portuária da cidade.
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A área portuária do Rio é uma das zonas mais interessantes da cidade, marcada
por um elenco de ruas e prédios antigos, onde é possível se restituir uma boa
parte da nossa história. Ainda hoje, é possível se encontrar nos velhos sobrados
descendentes de famílias tradicionais, no local, e que, há gerações, moram e
trabalham em um dos três bairros que compõem a área: Saúde, Gamboa, Santo
Cristo. Associações de moradores e entidades culturais estão mobilizados
no sentido de preservar a região de investidas que possam descaracterizá-
la completamente, não apenas na defesa de interesses históricos, artísticos
e culturais, mas, até mesmo, por uma questão de sobrevivência para muitos
pequenos comerciantes, lá estabelecidos há tempos. Essa é também a filosofia
do projeto Rio Internacional, como o têm atestado em diversas ocasiões os seus
principais coordenadores (Revista da ACRJ, 1983c, p. 4).
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Fig. 4 – Cartograma das Zonas Central e Portuária da Cidade do Rio de Janeiro, destacando as
empresas ligadas ao comércio exterior ali instaladas (Revista da ACRJ, 1984).
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ricos. Nesta terceira versão, o evento reuniu pouco mais de 500 participantes e
representantes de cerca de 30 países.
No que tange à instalação do Centro Internacional de Comércio, desta
vez, a CDRJ fez a primeira concessão, embora tímida: cedeu o antigo prédio
do Touring para abrigar o CIC-Rio. No evento, o prefeito Marcelo Alencar
anunciou a intenção do governador Brizola (líder do seu partido, o PDT) de não
cobrar ICM na área do CIC-Rio. A criação de um Porto Franco, sem cobrança
de impostos para exportação, também foi tema do evento. A partir de então foi
constituída a Comissão Permanente para Estudos da Criação do Porto Franco
do Rio de Janeiro
Em agosto de 1985 foi formada uma Comissão Especial para cuidar da
implantação do Centro Internacional de Comércio na zona portuária do Rio.
Compuseram a comissão o presidente da ACRJ, Amaury Temporal, o presidente
da Embratur, Mac Dowell Leite de Castro, sendo presidida pelo presidente da
Portobrás, Carlos Theóphilo de Souza Mello.
Na IV Semana Rio Internacional, realizada em outubro de 1985, foi
organizada, em paralelo, a 16ª Assembleia do WTCA, com apoio da OEA.
Também ocorreu o Encontro Empresarial da América do Sul, “para estimular
a criação de Centros de Comércio na América do Sul” (Revista da ACRJ, 1985,
p. 9).
Foi durante a quarta Semana que o projeto ganhou a concepção final e
mais complexa de sua gestação no núcleo empresarial. Nos anos seguintes, 1986,
1987 e 1988, também realizaram-se outras Semanas, no entanto estas foram
produzidas apenas pela Riopart, por fora da organização da ACRJ. No entanto,
o conceito já estava definido, agora restaria apresenta-las à classe política e de
servidores das instituições envolvidas na região portuária e convencê-los de
viabilizá-lo.
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Conclusão
Com o avanço do governo do prefeito Cesar Maia, foi decidido, a contragosto da
ACRJ e da Riopart, que o Teleporto seria instalado na Cidade Nova, área próxima
da região portuária, mas separada pelos morros da Providência, da Formiga
e São Diogo e pela Avenida Presidente Vargas. Dessa forma, ficou dissociada
do projeto original do Centro Internacional de Comércio com reforma da área
portuária da cidade. Uma vez encampado pela prefeitura, o ACRJ perdia às
rédeas do projeto, embora continuasse a buscar influir sobre o mesmo.
A partir dessa nova gestão municipal, muita coisa mudou. A estrutura da
cidade foi bastante alterada: a Barra da Tijuca despontou como uma nova área
residencial e nela projetou-se a construção de um novo sub-centro, canalizando
a maior parte dos investimentos imobiliários da cidade e diluindo o interesse
empresarial pelo Centro e pela zona portuária. Em termos tecnológicos, a
privatização da telefonia, a difusão da internet e a disseminação de cabos de
fibra ótica pela cidade, e para além dela, pelos territórios regional e nacional e
por linhas submarinas transoceânicas, diminuíram relativamente a importância
dos teleportos.
No que tange ao Centro de Comércio Internacional, a inclusão da
proposta de reurbanização da área portuária, teve uma consequência, que talvez
só viesse a ser percebida anos depois: a alteração de sua natureza geral. Ou seja,
embora o foco da ACRJ, e das demais associações patronais relacionadas, tenha
permanecido por longo tempo na implantação de um Centro Internacional de
Comércio, ligado a um porto franco e servindo para a implantação de um Centro
Financeiro Internacional, a transformação urbana a ele associada não apenas
mudava sua escala como transformava sua natureza: de centro empresarial
de alto padrão, tornou-se num grande projeto urbanístico/imobiliário. O
desejo de constituir um centro empresarial classe A, dotado de um sistema
de telecomunicações de alto desempenho não perdeu sua centralidade para a
ACRJ e o Riopart, no entanto, dentro do conjunto da transformação urbana
que se propunha, este centro aparecia como um entre outros elementos, como
museus, marinas, aquários, boulevards e áreas residenciais e poderia, inclusive,
ser dele removido.
A versão atual da reurbanização portuária, o Projeto Porto Maravilha, que
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Referências
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Loyola, 2000.
REVISTA DA ACRJ. Rio de Janeiro: ACRJ, nº 1038, dezembro, 1970. ISSN 2446-
7162.
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Iconografia
EMMERLING, Bruce. A view of the Baltimore Inner Harbor during daytime.
2018. Disponível em: commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Baltimore_In-
ner_Harbor.jpg. Acessado em 30/05/2020.
REVISTA DA ACRJ. Rio de Janeiro: ACRJ, nº 1175, maio, 1982. ISSN 2446-7162.
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