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RELACIONAMENTO ABUSIVO: Uma análise das possíveis

intervenções psicológicas

Julia Previatti Duarte¹

RESUMO
O presente artigo trata-se de uma análise a respeito das possíveis intervenções
psicológicas em um relacionamento abusivo de mulheres que sofrem os mais
variados tipos de violências com seus parceiros. A pesquisa foi realizada em face da
seguinte indagação: como a Psicoterapia pode interferir e influenciar no tratamento
de mulheres que viveram um relacionamento abusivo?. Por ser uma área que trata
do psicológico humano, o artigo foi desenvolvido para ressaltar o papel da
Psicoterapia frente ao tratamento de mulheres que em algum momento viveram ou
vivem relacionamento abusivo. Dessa maneira, o mesmo tem como objetivos
específicos abordar o que significa um relacionamento abusivo, apontar as
consequências de um relacionamento abusivo e destacar a relevância das possíveis
intervenções psicológicas que a mulher pode ter diante de tal situação,
acompanhada por um profissional de Psicologia. A pesquisa trata-se de um
levantamento bibliográfico feito por meio da leitura de artigos científicos,
dissertações e livros que abordam a temática em questão. Para embasamento
teórico da pesquisa, foram utilizados os estudos de pesquisadores e teóricos, bem
como documentos e leis que abordam este tema, como: Barreto (2018), Lei Maria da
Penha (2010), Conselho Federal de Psicologia (2000), Hirigoyen (2006),
Nascimento; Souza (2018), Osório (2017), entre outros. Assim, a Psicologia, em
especial a Psicoterapia surge neste contexto como forma de cuidado para com a
vítima, oferecendo à mulher métodos de intervenções psicológicas para o tratamento
dos traumas e das consequências geradas por ter vivido um relacionamento
abusivo.

Palavras-chave: Intervenção. Mulher. Psicoterapia. Relacionamento abusivo.

INTRODUÇÃO
Ao longo da vida, o ser humano cria e desenvolve várias relações, através
das quais é possível vivenciar várias experiências, emoções e partilhas. As relações
amorosas são o alvo de maior investigação, e são vários os estudos para
compreender a sua estrutura, causa e efeitos no indivíduo (SCHLOSSER, 2014).
Os relacionamento entre as pessoas são comuns e necessários para
qualquer ser humano. Os relacionamentos afetivos, nos quais homem e mulher se
unem por atração, sentimento e decisão além de serem comuns, desde sempre
existiu. Apesar de haver muitas semelhanças entre as pessoas que se relacionam
de maneira amorosa, há também as diferenças, que muitas das vezes acabam se

¹ Estudante do curso de Odontologia pela Universidade Ceuma de Imperatriz – Maranhão.


Email: jujupreviatti@outlook.com
tornando motivos para conflitos entre ambos. O rompimento do relacionamento
também pode ser apontado como mais um motivo de conflito entre os parceiros.
A forma correta de se resolver as diferenças é por meio do diálogo entre os
parceiros, porém, a cada dia que passa, as pessoas ficam cada vez mais explosivas,
impacientes e agressivas. Tudo isso acontece em decorrência de uma realidade
machista desenfreada. Os homens, em especial, são os que mais praticam atos
violentos contra as mulheres em seus relacionamentos, apesar de existir também o
contrário, e quanto a isso pode-se dar o nome de relacionamento abusivo.
Apesar de o homem ser grande maioria o protagonista em relacionamentos
abusivos, é importante afirmar também que em uma minoria, os homens também
são vítimas de abusos dentro de seus relacionamentos, vivendo sob domínio,
manipulação e ciúmes de sua parceira. Porém, vale destacar que alguns grupos são
mais vulneráveis ao fenômeno de violência, dentre eles os idosos, crianças, pessoas
com deficiência e mulheres. As investigações sobre a violência em consonância com
cada grupo trazem importantes desdobramentos, inclusive para pensarmos os
relacionamentos abusivos (BARRETO, 2018, p.143).
Conforme destacado na Política Nacional de Enfrentamento à Violência
contra as Mulheres (2011), homens e mulheres sofrem violência de forma
diferenciada, ao passo que homens tendem a ser vítimas nos espaços públicos, as
mulheres são atingidas cotidianamente dentro de seus próprios lares, geralmente,
por seus companheiros e familiares, como mostram estudos populacionais e em
serviços de saúde (SCHRAIBER ET AL, 2002; DESLANDES, GOMES E SILVA,
2011)
Sobre isso, dados levantados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
revela que a cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil (BRASIL, 2017).
E ainda segundo os registros da OMS (2017), uma em cada três mulheres (35%)
sofrem agressão física e sexual em todo o mundo, encaixando-se em um
relacionamento abusivo.
A violência contra a mulher, juntamente do termo “relacionamento abusivo”
tem sido um assunto muito recorrente, sobretudo nos últimos 10 anos. Em 2006 foi
aprovada a Lei 11340/05 (BRASIL, 2010), dando origem à Lei Maria da Penha, que
tem por objetivo penalizar homens que pratiquem violência contra as mulheres. É
importante destacar ainda, que violência não é somente agressão física, mas
também verbal, psicológica, bem como sexual e outras, como bem destaca
Hirigoyen (2006), afirmando que “a violência se inicia com microviolências, que
podem ser morais e verbais e, em seguida, evoluem para agressões físicas, de
forma que a violência tende a ser naturalizada”.
A Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres (2011)
apesar de reconhecer que o conceito de violência contra a mulher é amplo resolve
conceituar como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte,
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público
como no privado” (Art. 1°) (2011). Com base nisso, violência contra a mulher trata-se
de violência doméstica, física, psicológica, patrimonial, moral, sexual, assédio e
entre outros que desrespeitem a integridade do gênero feminino. Viver um
relacionamento onde há algumas dessas ações citadas, é estar dentro de um
relacionamento altamente tóxico e abusivo.
O relacionamento abusivo é conceituado por Barreto (2015), como todo e
qualquer relacionamento que tem como pilar a imposição do domínio, ou seja, o
excesso de poder sobre o outro, onde o agressor explicita o sentimento de tratar o
outro como propriedade, limitando a vivência de seu parceiro. Formando assim um
ciclo vicioso que oscila entre: violência e gentilidade tendo como pano de fundo
pedidos de perdão e juramentos de mudança (NASCIMENTO; SOUZA, 2018).

O relacionamento abusivo é um dos principais métodos utilizados para


coibir, repreender e limitar a independência feminina. Trata-se de uma
relação baseada em laços afetivos com indivíduos que apresentam
comportamentos abusivos - desde abuso emocional, verbal, físico, até
mesmo sexual. Estas relações são caracterizadas por jogos de controle,
manipulação, ciúmes excessivo, violência e frieza emocional. Trata-se de
um relacionamento baseado no controle sobre a figura feminina,
censurando suas ações e vontades a partir de apelações emocionais em um
jogo de sentimentos. Assim, o homem estabelece o comando na relação,
sujeitando a mulher a agir de acordo com aquilo que ele julga correto
independentemente das vontades que esta exprime. (LEÃO et al, 2017,
p.10)

Como visto anteriormente, em um relacionamento abusivo o abusador


mantém uma relação de poder e domínio sobre a pessoa abusada, que é tida como
um objeto (BARRETO, 2018, p.143). A partir disso, o abusador passa a dominar e
manipular constantemente sua parceira, lhe impondo uma série de regras bem como
lhe restringindo de determinados locais, companhias e ocasiões. Uma característica
muito relevante de um relacionamento abusivo é que o abusador, na grande maioria
das vezes, muda de comportamento frente à vítima, ora está bem, paciente, gentil,
ora fica raivoso, agressivo, explosivo.
Os relacionamentos abusivos prevalecem nas relações amorosas, no qual a
vítima possui vínculo afetivo com o agressor, as mulheres são mais
suscetíveis e sendo assim, propensas a manterem-se em uma relação de
dominação, isso pode acontecer no âmbito profissional, nas relações
familiares, nos laços de amizade, etc. (BARRETTO, 2018, p.144)

O relacionamento abusivo faz com que a mulher se sinta menosprezada e


ainda culpada, embora ela não tenha culpa alguma, e isso pode ser caracterizado
como violência contra a mulher. Com o passar do tempo, os abusos e agressões
vão se naturalizando e a vítima permanece na situação com a incapacidade de
reagir para buscar ajuda e/ou solução.
Diante do conceito dado sobre relacionamento abusivo que está diretamente
ligado à violência contra a mulher, será destacado a seguir as consequências de se
viver em um relacionamento tóxico, controlador e abusivo. Infelizmente, pode-se
afirmar que os danos por se viver um relacionamento abusivo são inúmeros. Quando
a mulher que é mãe sofre algum tipo de violência em seu relacionamento,
desencadeiam-se alguns problemas de saúde que podem comprometer sua relação
com os filhos ou outros familiares próximos, pois a mesma passa a sentir-se
insegura, depressiva, ansiosa e não se sente livre para demonstrar seus afetos.
A violência contra a mulher deixa sequelas devastadoras na vida da vítima,
pois, ainda que haja as marcas das agressões físicas que com o passar dos dias
desaparecerão, as sequelas psicológicas de humilhações, insultos, confusões e
traumas continuarão vivas na memória. Para tratar isso, a mulher, após sair de um
relacionamento abusivo precisa procurar urgentemente profissionais capacitados
para lhe ajudar a recuperar sua saúde emocional e psicológica.
Em relação às consequências de violências físicas, além das fraturas, lesões
corporais, cerebrais, dentárias, hematomas, queimaduras, perda de cabelos, lesões
torácicas, abdominais, arranhões, e entre outras, segundo Nanita, Ribeiro e Peixoto
(2009), as vítimas sofrem ainda um tipo de desordem parecido com o mal de
Parkison, em decorrência das lesões sofridas na região do crânio e do rosto.
Ao se tratar da saúde sexual da vítima, muitas delas passam a viver
desordem ao desejo sexual, com sensações de repúdio e rejeição ao ato
(HIRIGOYEN, 2006). Além do mais, mulheres que sofrem violências na gestação
tendem a ter dificuldades para o desenvolvimento do embrião, abortos espontâneos,
nascimento prematuro, baixo peso e falta de saúde emocional.
As agressões psicológicas podem gerar na vítima bloqueios sentimentais e
dificuldades de externar pedidos de ajuda. Por sentir-se controlada e ameaçada, a
mulher acaba se sujeitando às vontades do abusador para que a situação seja
“controlada” de imediato, dando um fim na possibilidade de agressões físicas.
Quando a vítima passa a ceder seus direitos, fica nítido que o sentimento de medo
já é maior do que a coragem de sair desta situação.

O abuso emocional/psicológico diz respeito a toda ação ou omissão que


causa, ou visa causar, dano à autoestima, à identidade ou ao
desenvolvimento da pessoa. Inclui ameaças, humilhações, chantagem,
cobranças de comportamento, discriminação, exploração, crítica pelo
desempenho sexual, não deixar a pessoa sair de casa provocando o
isolamento de amigos e familiares. É, dentre as modalidades de violência
existente, a mais difícil de ser identificada. Apesar de ser bastante
frequente, ela pode levar a pessoa a se sentir desvalorizada, sofrer de
ansiedade e adoecer com facilidade. Situações que se arrastam durante
muito tempo e, se agravadas, podem levar a pessoa a provocar suicídio
(COELHO, et al, 2010, p.34).

A violência psicológica além de grave e difícil de ser identificada é muito


comum. Pois, é por meio dela que a vítima passa a desenvolver uma série de
transtornos psicológicos, como síndrome do pânico, ansiedade, depressão e entre
outros transtornos. A violência psicológica leva a vítima a uma interiorização de toda
sua realidade vivida com seu parceiro, guardando dentro de si os medos,
inseguranças, experiências dolorosas e isolando-se das pessoas.

“A violência psicológica é negada pelo agressor, bem como pelas


testemunhas, que nada vêem, o que faz a própria vítima duvidar daquilo que
a magoa tão profundamente. Nada vem lhe dar provas da realidade do que
ela sofre. É uma realidade ‘limpa’. Nesse estágio, nada é visível. Ao passo
que, quando há violência física, elementos exteriores (exames médicos,
testemunhas oculares, inquéritos policias) dão testemunho da veracidade da
violência.” (HIRIGOYEN, 2006, p. 42-43)

Dessa forma, viver uma violência psicológica é ainda mais complicado para a
vítimas, pois, além de não haver provas concretas dos abusos a vítima vai criando
traumas na sua mente, dificultando até mesmo o seu processo de diálogo com
outras pessoas para pedir ajuda e conselhos.
A possibilidade de suicídio existe em razão da falta de capacidade de sair do
relacionamento abusivo, pois, a vítima vive tantos sentimentos de angústia dentro de
si, que acaba encontrando no suicídio a solução e o fim da tortura. Os
relacionamentos abusivos costumam causar na vítima, baixa autoestima, falta de
confiança, e por ser constantemente incriminada por tudo o que lhe acontece, o
sentimento de culpa lhe causa vários tormentos.
A vítima que sofre algum tipo de agressão tende à se caracterizar como uma
pessoa silenciosa, isolada, triste e desconfiada. Essas características dizem respeito
ao ciclo vicioso que elas vivem, por base de ameaças e agressões. O abuso
emocional e psicológico, fazem com que a vítima se sinta cada dia mais fragilizada.

Uma das consequências psicológicas mais proeminentes da violência


conjugal é o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Este surge
como uma resposta tardia e/ou protraída a um evento ou situação
estressante (de curta ou longa duração) de uma natureza excepcionalmente
ameaçadora ou catastrófica, a qual provavelmente causa angústia invasiva
em quase todas as pessoas [...]. Sintomas típicos incluem episódios de
repetidas revivescências do trauma sob a forma de memórias intrusas
(flashbacks) ou sonhos, ocorrendo contra o fundo persistente de uma
sensação de "entorpecimento" e embotamento emocional, afastamento de
outras pessoas, falta de responsividade ao ambiente, anedonia e evitação
de atividades e situações recordativas do trauma. (NASCIMENTO; SOUZA,
2018, p.9)

É possível notar que mesmo que a vítima consiga sair da situação do


relacionamento abusivo, ele levará consigo as experiências e poderá revivê-la em
sua mente a qualquer momento, e é por esse e outros motivos que se faz
necessário um tratamento adequado com um psicólogo. Nesse sentido, se os danos
se não forem tratados, podem perdurar por toda vida da vítima.
A mulher que vivencia um relacionamento abusivo mantém-se em um ciclo
vicioso de torturas. Sair dessa situação não é nada fácil. É necessário que haja uma
rede de apoio que lhe ajude, pois na maioria das vezes a vítima não possui força e
nem coragem, como bem destaca Albertim e Martins (2018, p.4):

Como o próprio nome já diz, isso é um ciclo. Cada vez que uma mulher
passa por esse percurso, mais fragilizada psicologicamente e mais
desacreditada de si mesma ela fica, sendo de extrema importância o apoio
de uma terceira pessoa para auxiliá-la no rompimento do ciclo do abuso.

Dificilmente uma mulher consegue sair do relacionamento abusivo sem a


intervenção, auxílio ou apoio de uma pessoa externa, isto é, pessoas familiares,
amigas, vizinhos, ou mesmo a Delegacia da Mulher e as instituições públicas com as
leis que defendam e assegurem a vítima com medidas protetivas.
Apesar da realidade de abuso, muitas mulheres decidem permanecer no
relacionamento por inúmeros motivos, o primeiro a ser citado deve ser o medo de
morrer, pois o abusador utiliza constantemente discursos de chantagens e ameaças
para com a vítima, caso ela decida romper com a relação. As vítimas que têm
filho(s) com o abusador não se sentem seguras para sair do relacionamento, pois,
além de não quererem distanciar os filhos do pai, as mesmas, na maioria das vezes,
não possuem condições financeiras de sustentar-se, pois o seu parceiro lhes privam
até disso.
Conforme Kim e Gray (2008), a falta de recursos materiais e os fatores
psicológicos são elementos que se associam à permanência das vítimas nesse tipo
de relacionamento. A dependência financeira da vítima para com o agressor é um
dos motivos mais clássicos que existem, pois, como bem ressalta Moreira, Boris e
Venâncio (2011, p.401), as vítimas, por na maioria das vezes não estarem
engajadas no mercado de trabalho e por não possuírem moradia própria, se sentem
imobilizadas e desencorajadas, sobretudo por desconhecerem, ainda, as redes de
apoio possíveis.
Outro fator que corrobora para que a mulher permaneça em um
relacionamento abusivo é a dependência emocional. Por “amar” o parceiro, muitas
vezes a vítima nem se dá conta dos abusos que está vivendo, pois, diante do seu
sentimento para com o parceiro, a sua atitude de doação e entrega para ele é maior
do que qualquer outra situação que lhes envolva. De acordo com Bution e Wechsler
(2016, p.156), a pessoa que possui dependência emocional possui algumas
características em sua personalidade como:

[...] comportamentos de submissão ao outro, sinais de fissura e abstinência


na ausência da pessoa amada, ausência de decisões no relacionamento,
sentimentos de insatisfação, medo da solidão, vazio emocional, tédio,
frustrações, desejo de autodestruição, sentimentos negativos, falta de
consciência sobre seus problemas, sensação de estarem presos ao
relacionamento e de que não conseguirão deixá-lo, conflitos de identidade,
foco excessivo no outro e autonegligência, assunção de toda a
responsabilidade pelos acontecimentos e necessidade de ajudar o parceiro,
tentando resolver todos os problemas.

Esses traços de personalidade justificam muitas mulheres que permanecem


em relacionamentos abusivos, pois a dependência emocional para com o agressor é
um fator predominante para a duração do relacionamento. Outra questão que pode
ser abordada com relação à dependência emocional da vítima para com o agressor
são os ciclos que eles vivem em seu relacionamento, onde em alguns momentos o
agressor é carinhoso, pede perdão pelas agressões e ofensas, romantiza o
relacionamento, mas em outro momento, traz à tona suas agressões, insultos,
humilhações e abusos.
Tais situações em dados momentos, fazem com que a vítima imagine que o
parceiro poderá mudar um dia, pois o mesmo não está sendo “mau por completo”. E
por viverem nessa montanha russa de sentimentos e emoções, a vítima naturaliza
os momentos de violência e passa a enxergar tudo como breves momentos de fúria,
que logo passarão, fazendo-a ver que logo mais os momentos de carinho virão e
isso diz respeito a um ciclo vicioso, como já citado anteriormente.
As formas de sair de um relacionamento abusivo são várias, por meio de
denúncias, ajuda de familiares e amigos, recorrer à delegacia da mulher, centros de
apoio à mulher e etc. Também há várias formas para tratar uma vítima de
relacionamento abusivo. O tratamento psicológico é primordial para quem viveu
experiências de violências e abusos.
As intervenções psicológicas em um relacionamento abusivo são necessárias
em vista de uma vítima que precisa ter sua saúde psicológica recuperada e muito
embora suas experiências tenham sido vividas por muitos anos, o tratamento com a
Psicoterapia é uma possibilidade de recuperação, cuidado consigo mesma, bem
como oportunidade de recomeço para uma vida nova. A Psicoterapia segundo
Osório et al (2017, p.4),

[...] pode ser definida como um método de tratamento, embasado em


conceitos teóricos e técnicos, que deve ser realizado por um profissional
treinado. Utiliza-se de princípios psicológicos como a comunicação verbal e
a relação terapêutica e seu objetivo principal é influenciar o paciente,
auxiliando-o a modificar problemas de ordem emocional, cognitiva e
comportamental.

É uma técnica muito comum utilizada pelos profissionais de Psicologia para o


tratamento de pessoas que viveram situações dolorosas e estão em busca de
intervenções psicológicas que lhes beneficiem na restauração de sua saúde por
inteiro, principalmente a psicológica e emocional.
A Psicoterapia muito tem a contribuir no tratamento de vítimas de
relacionamentos abusivos, isso porquê as vítimas chegam aos consultórios cheias
de traumas, transtornos e conflitos e para o processo de cura de tudo isso, nada
mais indicado e conveniente que seções de Psicoterapia. Veja a seguir o que diz o
Art. 1° do Conselho Federal de Psicologia:

“Art. 1º – A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e


conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e
intervenção que se realiza através da aplicação sistematizada e controlada
de métodos e técnicas psicológicas reconhecidas pela ciência, pela prática
e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando
condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de
indivíduos ou grupos” (CFP, 2000, p.1)

Desse modo, a Psicoterapia torna-se uma convincente forma de tratar as


dores de pessoas que sofrem algum tipo de agressão, em especial as mulheres que
vivem relacionamentos abusivos e trazem consigo tantas marcas. É por meio da
seção de Psicoterapia que “um chega com palavras que demandam um desejo de
ser compreendido em sua dor, o outro escuta as palavras por ver nestas as vias de
acesso ao desconhecido que habita o paciente” (MACEDO, FALCÃO, 2005, pág.
65).
Essa relação de vítima/paciente para com o profissional da Psicologia
possibilita caminhos de recuperação, reconhecimento, cicatrização, superação e
acima de tudo recomeço. A saúde psicológica da vítima precisa ser reestabelecida o
quanto antes, por isso, é recomendável que em casos de relacionamentos abusivos
e violências as vítimas procurem o mais rápido possível meios de sair dessa
situação e tratar de sua saúde em geral, pois todo ser humano possui o direito de
viver com bem estar e qualidade de vida.
Portanto, nota-se que o papel da Psicologia com suas intervenções são muito
relevantes diante de um caso de relacionamento abusivo e violências. Cuidar da
mente, do corpo e da alma são elementos fundamentais para se viver bem. Procurar
um profissional da saúde psicológica será sempre um caminho certo a percorrer,
pois dará a vítima uma nova forma de sentir, viver, pensar e agir. A Psicoterapia, em
especial, torna-se uma válvula de escape na ajuda de mulheres que são vítimas de
relacionamentos abusivos.

MÉTODOS
Para o desenvolvimento desse artigo científico foi utilizado o método de
pesquisa qualitativa e as características desse tipo de pesquisa são: objetivação do
fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão
das relações entre o global e o local em determinado fenômeno (GERAHRDT;
SILVEIRA, 2009, p.31).
A pesquisa se caracteriza ainda por uma pesquisa de cunho bibliográfica, pois
foi realizada por meio da leitura de livros, artigos científicos e documentos em
plataformas confiáveis de pesquisas acadêmicas como: Scientific Electronic Library
Online - Scielo (www.scielo.org), Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde - Lilacs (lilacs.bvsalud.org) e PEPSIC – Periódicos Eletrônico de
Psicologia. Desse modo, a pesquisa foi feita com base no pensamento e relato de
pesquisadores e teóricos renomados que abordam esta temática.
RESULTADOS

Um dos primeiros sites pesquisados foi o Scielo como filtro “relacionamento


abusivo”, e apenas alguns tiveram consonância com a temática do artigo. No
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde com o filtro
“violência emocional” foi encontrado vários artigos que também abordam o assunto
em questão.
Já na PEPSIC - Periódicos Eletrônico de Psicologia (www.bvsalud.org) descritor
“violência conjugal” menos da metade dos artigos tinham relação direta com os
objetivos.
A partir dessa busca, foram selecionados 54 artigos científicos. Após a leitura
dos títulos e resumos, alguns foram excluídos por não abordarem de forma direta o
tema do estudo. Para melhor sistematização foi criado um instrumento para compilar
as informações das publicações. Os textos foram lidos de forma sistematizada,
primeira leitura para compreensão do contexto e a segunda leitura para
aprofundamento e recorte bibliográfico, categorizados e analisados com vistas à
busca dos elementos que precipitaram o relacionamento abusivo. A partir da
exploração do material selecionado, foram elaboradas dois aspectos descritos do
decorrer do corpo do trabalho: conceituação de relacionamento abusivo e as
consequências de viver um relacionamento abusivo e as principais intervenções
promovidas por psicólogos no atendimento de vítimas de relacionamentos abusivos.

DISCUSSÃO
Com base na indagação de como a as intervenções psicológicas podem
ajudar no tratamento de uma mulher que vive ou viveu um relacionamento abusivo,
foi possível observar na pesquisa desenvolvida que a Psicologia oferece meios de
tratamentos eficazes para vítimas de situações dolorosas. Um desses caminhos é a
Psicoterapia, que com sua especificidade, possibilita o tratamento de vítimas de
relacionamentos abusivos, tornando situações traumáticas em cicatrizes saradas.
O relacionamento abusivo, embora seja um assunto em alta, precisa de
medidas mais eficazes para ser combatido. Pois infelizmente, o que se notou, é que
é uma realidade muito comum e muitas vítimas nem se quer percebem que vivem
dentro de um relacionamento como esse. Nesse sentindo, a pesquisa desenvolvida
permitiu um olhar mais aprofundado a respeito desse tema e deixou mais claro ainda
a importância que há nas intervenções psicológicas em casos como esse.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo abordou de maneira sucinta a influência das intervenções
psicológicas na vida das vítimas que sofrem relacionamentos abusivos. Os
relacionamentos abusivos, apesar de incluírem como vítimas também, idosos e
crianças, tem a mulher como a principal e mais comum vítima.
O relacionamento abusivo além de explorar, torturar e humilhar a vítima, faz
com que o agressor permaneça na condição de domínio e poder. E na maioria das
vezes, quem assume esse papel é o homem. Qualquer tipo de agressão e violência
contra a mulher/vítima dentro de um relacionamento torna-se abusiva.
Os motivos e as consequências de se viver um relacionamento abusivo são
inúmeros, infelizmente. Mulheres que vivem dependência emocional, econômica e
outras são as que mais suportam tais situações de abuso. As consequências
existem desde as marcas físicas deixada pelas agressões violentas, até as
psicológicas que traumatizam e geram uma série de transtornos na vítima.
Ao sair de relacionamento abusivo a mulher precisa buscar tratamento para
as feridas vividas neste relacionamento. Muitos traumas as impedem de viver a vida
com a mesma disposição de antes das experiências de violência. Por meio das
intervenções que a Psicologia oferece para as vítimas, as chances de tratamento e
reestruturação para uma nova vida são altas.
A Psicoterapia surge como uma medida de tratamento eficaz para vítimas de
relacionamentos abusivos, isso porquê, por meio de suas seções, todas as
experiências negativas vão se transformando em memórias curadas, para que então
a vítima tenha sua saúde psicológica e mental restaurada. Por isso, a Psicologia
possui grande relevância na sociedade, ajudando a tratar a saúde pública, sobretudo
das vítimas de relacionamentos abusivos.

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