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Roteiro podcast

Olá! Me chamo Rafael Alves, sou acadêmico do curso de Filosofia na Unioeste,


e apresentarei agora uma breve introdução ao pensamento político de Rosa
Luxemburgo, influente teórica marxista do início do século XX, que em vida, contribuiu
efetivamente com os movimentos políticos de emancipação da classe trabalhadora.

Rosa nasceu em 1871, numa Polônia ainda dominada pelo império russo feudal.
Seu tempo era de crise generalizada do capital e das sociedades burguesas, momento em
que a tensão gerada entre as potências imperialistas em sua corrida desenfreada pelo
acúmulo exorbitante de capital, pela conquista dos mercados e territórios ao redor globo
eclodia na trágica era das grandes guerras. Durante a primeira guerra mundial, Rosa
Luxemburgo se aliou às tendências radicais que exigiam o fim da guerra, defendiam o
antimilitarismo e a participação mais efetiva das massas nas decisões políticas da
sociedade. Imortalizou seu nome na história enquanto teórica crítica e militante política
em dois países, participando ativamente nos processos políticos ao se vincular à Social-
Democracia da Polônia (SDKP), ao Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e ao
Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD); além de ter participado
na fundação da vertente marxista do SPD, que viria a ser tornar o Partido Comunista da
Alemanha (KPD). Devido ao intenso envolvimento com a política e ao caráter crítico
revolucionário de suas ideias, acabou sendo assassinada em 1919, possivelmente à
mando ou com o consentimento do partido social-democrata da Alemanha.

O pensamento político de Rosa Luxemburgo se fundava na poderosa crítica


materialista-dialética do marxismo à sociabilidade capitalista. Pensadora além de seu
tempo, não se envergonhava a criticar os “camaradas” revisionistas e reformistas,
defendendo a ruptura total com as instituições burguesas, com a dominação do capital
sobre o trabalho e com a burocratização do partido. Este que é um dos pontos mais
contundentes de seu pensamento, que veio a produzir, inclusive, críticas ao próprio
partido bolchevique e às suas decisões burocráticas em pleno desenvolvimento do
processo revolucionário russo, como o centralismo democrático leninista e a expressão
política dos dirigentes intelectuais como representantes de todo o proletariado. Assim,
portanto, para Rosa, o movimento revolucionário de emancipação da classe trabalhadora
deve partir da própria classe e não de um partido que supostamente represente os
interesses de todo o proletariado, uma vez que os partidos podem se corromper e
degenerar o processo positivo da revolução, a partir da supressão de direitos
democráticos, essenciais para a consolidação do socialismo. A emancipação humana
deve vir de baixo para cima, deve se desenvolver a partir da efetivação da consciência
de classe dos oprimidos, da autocrítica de seus erros e acertos, que, com auxílio do
partido deve cumprir a missão histórica de abolir todas as relações de dominação e
opressão existentes. Vale ressaltar que o partido deve criar as condições para que as
massas tomem consciência da possibilidade de superação de seus grilhões socais, e
nunca subjuga-las ao domínio de um Estado inflacionado que mais represente os
interesses privados de seus dirigentes que os interesses de todo o proletariado.

Rosa sempre defendeu o princípio de autodeterminação dos povos, combatendo


o imperialismo em todas suas formas de manifestação. Considerada por alguns como
mais marxista que o próprio Marx, sempre se dedicou profundamente a combater toda
forma de burocratização e dominação das massas, se opondo veementemente à
supressão de direitos democráticos para a criação de um socialismo real que signifique o
movimento autônomo da imensa maioria em favor dos interesses da imensa maioria.
Finalizarei o podcast com uma breve citação da autora, extraída da obra os dilemas da
ação revolucionária, que afirma o caráter universal do socialismo como condição
essencial de seu sucesso:

“A luta pelo socialismo é a mais prodigiosa guerra civil conhecida até hoje pela história
do mundo, e a revolução proletária deve-se preparar para ela com os instrumentos
necessários, precisa aprender a utilizá-los – para lutar e vencer. Munir assim a massa compacta
do povo trabalhador da totalidade do poder político, para que realize as tarefas da revolução, eis
a ditadura do proletariado e, portanto, a verdadeira democracia. Não há democracia quando o
escravo assalariado se senta ao lado do capitalista, o proletário agrícola ao lado do Junker,
numa igualdade falaciosa, para debater seus problemas vitais de forma parlamentar. Mas
quando a massa dos milhões de proletários empunha com sua mão calosa a totalidade do poder
do
Estado, tal o deus Thor com seu martelo, para arremessa-lo à cabeça das classes
dominantes, só então haverá uma democracia que não sirva para lograr o povo. “
(LUXEMBURGO, 1991, p. 105)
Referência da citação: Rosa Luxemburgo: os dilemas da ação revolucionária.
São Paulo: UNESP, 1995.

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