Você está na página 1de 14

Rosa Luxemburgo: evolução do seu pensamento político e influência sobre

Mészáros

Referências:

FRÖLICH, Paul. Rosa Luxemburgo, pensamento e ação. São Paulo: Boitempo/Iskra,


2019.

LOUREIRO, Isabel e ASSUNÇÃO, Diana. A biografia de Rosa Luxemburgo. 2019. Em


https://www.youtube.com/watch?v=1vbAFQMlLxk. Acesso em 14/10/2021.

LOUREIRO, Isabel. A teoria da revolução em Rosa Luxemburgo. s/d. Em:


https://www.youtube.com/watch?v=wp1tIa3o3jk&ab_channel=TVBoitempo. Acesso
em 18/10/2021.

LOUREIRO, Isabel. Comentário sobre o filme ROSA LUXEMBURGO, de Margarethe


von Trotta. 31/10/2017.
Em https://www.youtube.com/watch?
v=EYa5uu17rfU&ab_channel=CristianoBarbaTeologiadeBoteconoYouTube . Acesso
em 15/10/21.

LOUREIRO, Isabel. O marxismo de Rosa Luxemburgo. 2018. Em:


https://www.youtube.com/watch?v=jr1vCm8G5YU&ab_channel=TVBoitempo. Acesso
em 17/10/2021.

LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburgo e a Revolução Russa. 22 de fev. de 2018. Em:


https://www.youtube.com/watch?v=W3XFkaHQr2o&ab_channel=PGFUEM. Acesso
em 15/10/2021.

LOUREIRO, Isabel. Minicurso: Introdução à economia política. 06/09/2020. Em


<https://www.youtube.com/watch?v=7Hnq3QN6-
pQ&ab_channel=InstitutodeEconomiadaUnicamp>. Acesso em 27/10/2021.

LOUREIRO, Isabel. A Revolução Alemã. 03/2021. Em:


https://www.youtube.com/watch?v=Qj-miBzuQKk. Acesso em 13/10/2021.

LÖWY, Michael. Filosofia da práxis e autoeducação dos oprimidos, de Marx à Rosa


Luxemburgo. 8 de dez. de 2013.
Em: https://www.youtube.com/watch?v=RW9TvYvnfT8&ab_channel=T%C3%AAte.
Acesso em 12/10/2021.

.............

https://www.youtube.com/watch?v=wp1tIa3o3jk&ab_channel=TVBoitempo
IL (sd) diz que RL “não tem uma teoria da revolução no sentido de teoria como um
conjunto coerente e metodicamente articulado de conceitos e teses”, mas um “ideário
surgido na luta política” e “muitas vezes sujeitos a contradições, tensões e
ambiguidades”. Rosa foi militante do partido polonês e do partido alemão.

1
Depois do Congresso de Viena, a Polônia foi dividida em três partes e ocupada por três
países: Rússia, Prússia e Áustria-Hungria. A fração do partido ao qual se vinculava
Rosa na Polônia não era nada nacionalista e não queria a unificação e independência da
Polônia, ao contrário do que queria o PSP. (18:00) IL (2020) diz que Rosa, depois dos
27 anos, militou a vida inteira na SD polonesa e na SD alemã. Depois, foi cofundadora
do PCA.

Como os socialdemocratas viam a revolução na Rússia? Todos eles, na Europa e na


Rússia, defendiam que na Rússia deveria haver uma revolução democrático-burguesa:
para acabar com o regime czarista e implantar o regime de liberdades democráticas. Só
quando essa etapa estivesse cumprida, com o capitalismo desenvolvido, se deveria lutar
pela revolução socialista – Rosa também acreditava nisso. Os socialdemocratas só
divergiam em relação a um ponto: quem dirigiria a revolução?

Os mencheviques (“socialistas moderados”) diziam que quem dirigiria a revolução


seria a própria burguesia, já que era uma revolução democrático-burguesa, da burguesia
contra o feudalismo, como no restante da Europa.

Os bolcheviques, por sua vez, acreditavam que quem dirigiria o processo seria o
proletariado industrial em aliança com os camponeses.

Neste ponto, Rosa Luxemburgo tem uma divergência em relação aos bolcheviques e a
Lenin. “Ela tem uma insensibilidade atroz em relação ao campesinato”. A única classe
revolucionária seria o proletariado industrial e o campesinato não teria papel dirigente
nenhum.

1899 - Reforma ou revolução?

 Reforma + Revolução; Crítica a Bernstein, 67-8 e segs.

 Luta cotidiana (interesses imediatos) e luta pela revolução (objetivos últimos),


69;

 Ascensão do mercado mundial e conflitos pelas forças produtivas, 72;

 Luta institucional e luta defensiva: os sindicatos (Sísifo) e seus limites, 73 e


segs.

 Fim da “linha ascendente” traz mais obstáculos à luta defensiva, 73 e segs.

 “A Alegria de pelejar confere à polêmica o tom límpido e a superioridade


moral.”, 86;

 Rosa e o espírito criativo do marxismo X Kautsky e a verificação pedante de


todas as frases do adversário, 87;

1901 (?) - Obras, volume 3

2
 A tarefa do partido no parlamento: oposição, legislação, agitação, propaganda,
78 e segs;

 Alianças: sim, mas com hegemonia do proletariado, 81;

1902 – Obras, volume 4

 Crítica da política socialdemocrata da legalidade: A conformidade burguesa com


a lei é a violência da classe dominante alçada à condição de norma obrigatória,
84-5;

 A violência é a base da legalidade burguesa; A legalidade chancela a violência


burguesa como norma social, 85;

 A violência é a ultima ratio da classe trabalhadora e a lei suprema da luta de


classes, 85;

 GREVE GERAL e insurreição armada, 144-6;

Capital + Estado = Violência + lei (“O direito é a lei do mais forte”): “O que se
apresenta a nós como conformidade burguesa com a lei não passa de violência da classe
dominante, alçada de antemão à condição de norma obrigatória. Uma vez estabelecida
essa fixação dos atos de violência individuais como norma obrigatória, a questão pode
se espelhar de cabeça para baixo no cérebro dos juristas burgueses e dos oportunistas
socialistas: a ‘ordem legal’ como criação autônoma do ‘jurista’ e a violência coercitiva
do Estado meramente como consequência, como ‘sanção’ das leis. Na realidade, é a o
inverso: a própria legalidade burguesa (e o parlamentarismo como a legalidade em seu
devir) é apenas uma forma social da manifestação da violência política burguesa que
brota da base econômica.” (Rosa Luxemburgo, citada por Paul Frölich, p. 84-5)

 Rosa junto com o Iskra contra os economicistas: conscientizar os


trabalhadores acerca da necessidade da revolução, 97;

1904 – Questões de organização da socialdemocracia russa:

PARTIDO, estratégia-tática e consciência em Rosa X Lenin, 97-104.

Ditadura do proletariado em Rosa X Lenin – Influência do parlamento longo


(Inglaterra) e Convenção (França), 108; (data?)

1905 – Primeira Revolução Russa:

Durante este ano, Rosa escreve uma série de artigos para a imprensa socialista alemã
para explicar o que está acontecendo na Rússia. Seria uma revolução burguesa contra o
czarismo, mas contendo germes de revolução socialista. Seria, portanto, uma revolução
formalmente burguesa (por sua meta de instaurar um regime de liberdades
democráticas), mas como era uma revolução que estava sendo dirigida pelo
proletariado, ela seria simultaneamente burguesa (em termos institucionais) e
proletária (em termos dos MÉTODOS UTILIZADOS, que ela chama de GREVES

3
DE MASSAS (para não chamar de “greve geral” e não ser confundida com os
anarquistas).

Ao dizer que a revolução está ocorrendo por meio de uma greve de massas, ela está
criticando os mencheviques, que acreditavam que a revolução deveria ser dirigida pela
burguesia. A burguesia russa não era progressista, como no passado havia sido
progressista a burguesia francesa contra a aristocracia. Neste ponto, Rosa fica com os
bolcheviques e com Trotski contra os mencheviques.

1906 – O que queremos? – vol. 1 da Obra em português

(IL s/d): Este é um programa semelhante ao Programa de Erfurt, mas com inovações.
“Fé na ação autônoma das massas para a construção do socialismo”. “Igualdade social”
“Necessidade do socialismo”. “Ditadura do proletariado”. “Revolução violenta”, ação
autônoma das massas, luta sindical e política para tomar consciência etc. O modelo aqui
é a Revolução Francesa. Este programa dos socialistas poloneses é mais radical que o
dos alemães. Era uma síntese que combinava reivindicações burguesas e socialsitas.

1906 – Como prosseguir?

 Greves gerais e insurreição armada das massas, 120-1;

 O movimento é 1º espontâneo e 2º organizado (como na França em 1789 e


1792), 122;

1906 – Greve de massas, partido e sindicatos:

Ver:https://www.youtube.com/watch?
v=EYa5uu17rfU&ab_channel=CristianoBarbaTeologiadeBoteconoYouTube

Para IL, este é talvez o primeiro texto em que surge uma contribuição original ao
marxismo. É muito influenciado por ideias anarquistas e a sua concepção de
espontaneísmo. É um balanço da Revolução de 1905. “A revolução é magnífica, tudo o
mais é bobagem.”

Para IL (s/d), Rosa começa esse texto ironizando a ideia anarquista da “greve geral”,
que começaria a partir do toque de um sino de alguém. Mas este texto é o mais
anarquista de Rosa no sentido de que ela defende o espontaneísmo e a luta autônoma
das massas como a única solução política a ser proposta pelos socialistas.

 GREVE DE MASSAS “é a forma de expressão da luta proletária na


revolução”, é o “seu motor mais poderoso”, mas não se cria a greve de massas,
ela eclode com a revolução, (sua concepção é produto do aprendizado feito da
experiência da Revolução Russa de 1905), 148 e segs.

 Greve de massas não pode ser artificial, não pode ser livremente desencadeada,
150;

 PARTIDO antes da GREVE DE MASSA (revolução) deve ser a vanguarda


consciente que compreende antecipadamente a situação revolucionária e procura

4
acelerá-la, mas não lançando as “palavras de ordem” da revolução e greve de
massas, e sim explicando a “irremediável chegada” deste período
revolucionário, seus fatores e consequências (é o que o 13 de Maio NEP faz e
fez). O partido deve ter clareza na luta e vontade de lutar. Com base na
consciência do processo histórico e de suas tendências principais e possíveis
consequências, deve planejar suas ações a longo prazo, 150-1;

 PARTIDO no processo da GREVE DE MASSA (revolução) deve dar as


palavras de ordem do movimento, deve dar a tática da luta política que realiza o
poder proletário já mobilizado e deflagrado, deve fazer uma “direção técnica” do
moimento e provocar na massa sentimentos de segurança, autoconfiança e
desejo de luta, 151-2;

1907 (a partir de outubro) – Cursos sobre Economia Política:


https://www.youtube.com/watch?v=7Hnq3QN6-
pQ&ab_channel=InstitutodeEconomiadaUnicamp

IL (2020) diz o seguinte: Os cursos na escola do partido eram dados no inverno para
cerca de 30 alunos eleitos pelas organizações do partido e sindicatos. Eram desde jovens
inexperientes até membros antigos do partido. Mas eram raros os que estavam
habituados ao pensamento científico, o que exigia que Rosa fosse didática (ela era a
única professora mulher, que substituiu Hilferding, que não era alemão e não podia dar
aula na Alemanha).

Ela tinha 50 horas de aula por mês. Os cursos iam do final de outubro até março/abril.
Paul Frölich foi aluno de Rosa e elogia muito a sua didática. Ela buscava tornar O
Capital acessível aos alunos. Os cursos foram publicados em 1925 por Paul Levi sob
o título Introdução à economia política . “É uma obra exemplar para a educação
popular” (IL, 2000). (O livro sobre a Acumulação do capital também foi produto das
aulas de Rosa na escola do partido). Dos 10 capítulos planejados do livro, apenas 5
chegaram até nós. É um livro menos considerado pelos comentaristas e estudiosos de
Rosa. A hipótese de Löwy sobre esse descaso diz respeito à exposição pouco
convencional do livro, no qual a sociedades primitivas ocupam boa parte do livro. Essa
ênfase sobre o passado não-capitalista da humanidade daria elementos para uma
concepção de história aberta e não linear, nem “progressista”, que serviria de crítica à
concepção da SD alemã. Hernán Ouviña dá muito importância a esse livro, por
possibilitar criticar o eurocentrismo e pensar as comunidades originárias.

1º Capítulo: O que é economia política? Rosa bate aqui nos economistas


evolucionistas (Escola Histórica), Bücher, Werner Sombart e Max Weber. Marx rejeita
a ideia de “economia nacional” e defende que a economia é mundial, forma uma
totalidade. Há uma interdependência e uma troca das economias dos vários países.
Nesse contexto, há uma desigualdade entre o centro e a periferia do capitalismo. A
compra e venda nesse meio é de uma mercadoria específica, a mercadoria capital. As
crises: As crises modernas são diferentes das crises anteriores.

2º Capítulo: As sociedades comunistas primitivas: Critica as concepções de história


lineares e progressistas, as concepções iluministas e burguesas da história. Mostra e
insiste em formas alternativas de sociabilidade dos seres humanos, apesar de usar fontes
ultrapassadas de teorias antropológicas: Morgan (valoriza as sociedades primitivas),

5
Kovalevski, von Maurer (estudou as antigas comunidades e comunas germânicas),
Hackst Hausen (estudou a comuna russa), etc., que diziam que a terra era uma
propriedade comum e a “essência humana” é comunitária. O comunismo primitivo é o
berço da história social (mas IL acha que isso não pode ser provado hoje – além disso,
Rosa dá umas escorregadas evolucionistas).

1907 – Carta a Clara Zetkin

Crítica ao parlamentarismo, 140-1;

1908 – Discurso de Leo Jogiches

Crítica da teoria da revolução permanente formulada por Trotski (e Lenin), 134-6;

1918 – O que quer a Liga Spartakus?


https://www.youtube.com/watch?v=wp1tIa3o3jk&ab_channel=TVBoitempo
IL s/d: (45:05)

Texto que tem como fano de fundo a Primeira Guerra Mundial, a votação dos créditos
de guerra pelo PSD em agosto de 1914 e a derrota da Alemanha na guerra – uma época
de mentiras e enganações generalizadas na sociedade alemã, censura, fome,
desabastecimento etc. – e a Revolução Russa de 1917.

No fim de outubro, criaram-se conselhos de trabalhadores e soldados que se


expandiram para o país inteiro. No fim de novembro, essa vaga revolucionária chega a
Berlim, cai a monarquia e proclama-se a República pelo deputado Phillip Scheidemann,
do PSD. Duas horas mais tarde, Karl Liebknecht proclama a República Socialista da
Alemanha. O PSD tinha rachado em PSD e PSDI. O PSDI rachou com os spartaquistas,
que depois fundam o PCA.

O texto tem 3 partes: 1) Socialismo; 2) Economia e política; 3) Reivindicações


imediatas, que eram: armamento do conjunto do proletariado masculino adulto em
milícia operária, formação de uma guarda vermelha operária; eleição de todos os
superiores pela tropa com o direito de revogar os mandatos; instituição de um tribunal
revolucionário para julgar os responsáveis pela guerra (Ludendorf, Hindenburg, etc.);
supressão de todos os parlamentos e poder na mão dos conselhos; jornada de trabalho de
seis horas.

Lukács faz uma análise filosófica do texto A Revolução Russa, de Rosa. Diz que ela
superestima o caráter orgânico do desenvolvimento histórico, por isso ela critica o terror
vermelho dos bolcheviques. Isso porque ela pensava que a revolução socialista iria se
comportar segundo a forma estrutural da revolução burguesa, ou seja, uma revolução na
qual haveria uma transição lenta, gradual e segura em direção a uma outra sociedade. É
essa concepção organicista de Rosa que a levaria a acreditar numa transição lenta e
gradual e a criticar a substituição do parlamento burguês pela democracia conselhista.
Para Lukács, a revolução proletária seria um processo inteiramente novo, que precisa de
novas formas de organização (o partido leninista) e novas formas de poder (os soviets).
Na opinião de Lukács, quem critica a Revolução Russa leva água ao moinho da
contrarrevolução e faz a defesa do “liberalismo”. IL diz que Lukács tem razão num
ponto, ao criticar a concepção de história “organicista” de Rosa, desde que não se

6
conceba isso com “evolucionismo”. IL diz que o “organicismo” de Rosa tem uma
afinidade com as concepções românticas da história. (1:50:00)

...................XXXXXXXXXXXXXXXX..................

Introdução à teoria política de Rosa Luxemburgo

De LÖWY, Michael. Filosofia da práxis e autoeducação dos oprimidos, de Marx à


Rosa Luxemburgo. 8 de dez. de 2013.
Em: https://www.youtube.com/watch?v=RW9TvYvnfT8&ab_channel=T%C3%AAte

Para Marx, nas Teses sobre Feurbach, a mudança da consciência e mudança das
circunstâncias coincidem na práxis revolucionária. Em A Ideologia Alemã, Marx e
Engels desenvolvem essa tese, dizem que a revolução é necessária para derrubar a
classe dominante e para transformar a própria classe trabalhadora (sua consciência e
ideias) a fim de que seja a construtora de uma sociedade nova.

Rosa Luxemburgo desenvolve tais ideias. Para ela, os explorados e oprimidos se


autoeducam em sua práxis revolucionária. Essa ideia é o fio condutor que atravessa os
escritos políticos de Rosa Luxemburgo.

Em 1904 ela escreve um texto ( Questões de organização da socialdemocracia russa )


em que polemiza com Lenin (Ambos faziam parte do Partido Operário Social-
Democrata Russo – Rosa era da fração concernente à Polônia-Lituânia). Tinham
acordos e desacordos. Tinham acordo da importância do partido para a revolução. Mas
Lenin (em Que fazer?, de 1902) defendia a ideia de um partido de vanguarda, separado
da classe, que representa a consciência socialista, enquanto a classe nunca supera, pela
sua ação, a consciência sindicalista. A consciência socialista vem graças ao partido e
aos intelectuais do partido. Rosa responde a Lenin no seu texto Questões de
organização da socialdemocracia russa, de 1904:

“É somente no curso da luta que o exército do proletariado se recruta e toma


consciência dos fins dessa luta. A organização, a conscientização (Aufklerung) e o
combate não são fases distintas, mecanicamente separadas no tempo. São apenas
aspectos diversos de um único e mesmo processo. A classe revolucionária pode cometer
erros, mas os erros cometidos por um movimento realmente revolucionário são
historicamente infinitamente mais fecundos e valiosos que a infalibilidade do melhor
comitê central.”

A divergência de Lenin e Rosa, em 1904, pode ser sintetizada da seguinte maneira.


Lenin tinha criado um jornal da sua fração do partido (bolchevique), o Iskra (Centelha).
Lenin achava que a consciência revolucionária, como uma faísca/centelha, era
introduzida de fora para dentro da classe graças aos intelectuais socialistas e ao partido
de vanguarda. A classe, por sua própria experiência e lutas sindicais e econômicas
localizadas nunca chegaria à consciência de classe. A “centelha” tem que ser
introduzida pela vanguarda revolucionária organizada de fora para dentro do movimento

7
dos trabalhadores. Rosa Luxemburgo usará essa mesma palavra, centelha, para dizer
que ela, a centelha revolucionária, se acende no combate, na ação das massas.

Pouco depois, em 1905 estoura a Primeira Revolução Russa. Nela, tanto Lenin
quanto Rosa vão participar, na Rússia e na Polônia, respectivamente. Rosa verá nessa
revolução a confirmação da sua hipótese, de que a maioria dos trabalhadores se tornou
revolucionária a partir da sua experiência prática revolucionária.

Em 1906, ela escreverá uma brochura, Greve de massas, partido e sindicato (onde
faz uma reflexão sobre a Revolução Russa procurando tirar lições para a revolução que
ela esperava que aconteceria na Alemanha), onde diz o seguinte: “É o proletariado que
vai derrubar o absolutismo/czarismo na Rússia. Mas, para isso, o proletariado precisa de
um alto grau de educação política, de consciência de classe e de organização. Todas
essas condições não podem surgir da leitura de panfletos e brochuras, mas somente da
escola da luta política viva, no curso geral da revolução em marcha. O levante súbito do
proletariado russo, em janeiro de 1905, foi um ato político de declaração de guerra
revolucionária ao absolutismo. Mas essa ação teve um impacto interno na consciência,
despertando pela primeira vez, como por um choque elétrico o sentimento e a
consciência de casse em 18 milhões de indivíduos.”

A categoria da práxis, para Rosa, é a unidade dialética entre o objetivo e o subjetivo,


que permite superar o impasse paralisante e metafísico da socialdemocracia alemã, que
era o seu partido. O Partido Social-Democrata Alemão era dividido entre Bernstein,
o revisionista, e Kautsky, o ortodoxo.

Para Bernstein, o importante era a mudança subjetiva, moral e espiritual dos seres
humanos, que ele via em termos kantianos. Para que a justiça social se realize, é preciso
mudar a moral e a consciência dos indivíduos, esta é a concepção subjetivista kantiana
de Bernstein. Para Kautsky, dizia que são as condições objetivas que determinam a
crise do capitalismo, as leis férreas da economia vão derrocar o capitalismo. Este era o
dilema teórico-político da Social-Democracia alemã no início do século XX.

Para Rosa, esse dilema só é superado com a dialética revolucionária: a práxis é a


unidade dialética do objetivo e do subjetivo. Essa visão também permite a Rosa superar
outro impasse da Social-Democracia alemã incorporado no seu programa, o Programa
de Erfurt, do fim do século XIX, onde o partido se apresentou dois programas, o
partido mínimo, de reformas, e o programa máximo, a revolução (e entre ambos não
havia nada). Rosa se propõe a superar essa dicotomia com a teoria da práxis
revolucionária e a ideia da greve geral de massas como o meio de se passar do
programa mínimo para o programa máximo, das reformas (ex.: sufrágio universal)
para uma transformação revolucionária para a sociedade. Então o processo se daria com
a luta por reformas (ex.: sufrágio), no qual surgiria uma greve geral de massas que
levaria à revolução que derrubaria a monarquia e etc.

Ainda nessa brochura de 1906, Rosa tenta analisar os níveis da consciência de classe
de uma maneira diferente de Lenin, que via dois níveis da consciência de classe (1º
sindical; 2º socialista). Rosa distingue entre o que ela chama de consciência teórica
latente (que é o do movimento operário na época da vida na democracia burguesa
ordinária) e a consciência prática e ativa, que surge no movimento da greve geral ou
da revolução, quando as classes subalternas entram num processo de ação coletiva.

8
Nesse momento, os setores que se mostravam os mais atrasados podem acabar se
tornando, surpreendentemente, os mais avançados e revolucionários. Tudo isso se
explica pelo papel conscientizador da experiência da práxis. Rosa desenvolve essa
teorização para criticar aqueles que, ao analisar a Revolução de 1905, só veem o papel
fundamental dos sindicatos, organizações e partidos e não veem que o processo real
envolve as enormes massas e é mais complexo do que o mero protagonismo de partidos,
sindicatos e organizações. A Revolução de 1905 mostra o papel pedagógico da própria
luta revolucionária. “Seis meses de revolução farão mais para a educação das massas
atualmente não organizadas do que dez anos de reuniões públicas e distribuição de
panfletos”. (Mas ela passava em reuniões e panflatagens...).

PARTIDO/DIREÇÃO X ESPONTANEÍSMO: Muitas vezes se interpreta o


pensamento de Rosa como espontaneísta, mas não é exatamente o que ela diz. Ela
insiste no papel da VANGUARDA CONSCIENTE, que não espera que o movimento
caia do céu. “O papel dessa vanguarda é o de preceder o movimento das coisas e tentar
acelerá-lo. O partido deve tomar a direção do movimento de greve de massas quando
este se expressar na história. Deve dar à batalha a sua palavra de ordem, sua tendência e
sua tática da luta política”. A organização socialista na Rússia e na Alemanha é a
vanguarda dirigente de todo o povo trabalhador. A clareza política, a força e a unidade
do movimento resultam dessa organização.

Há divergências com Lenin, mas essas divergências não devem ser exageradas, visto
que sua organização era muito parecida com os bolcheviques: organização de quadros,
de vanguarda, centralizado, com jornal, células e comitê central.

Em 1914 ocorre a Primeira Guerra Mundial, que é percebida por Rosa e Lenin como
uma grande catástrofe, porque quase todos os partidos socialistas apoiam os seus
governos e a Internacional Socialista praticamente desaparece. Rosa e Lenin são quase
os únicos que condenam a guerra. Rosa é presa e na prisão escreve alguns dos seus
textos políticos mais importantes.

Em 1915, ela escreve A crise da socialdemocracia (publicado depois como


“Brochura Junius”, em homenagem a um panfletário inglês do século XVII). Nesse
texto aparece a ideia da “faísca” (iskra) de Lenin. Rosa diz que a situação é catastrófica
mas ainda tem esperança que a revolução ocorra (o saldo do reino animal ao reino da
liberdade). Mas a revolução só será possível se a faísca incendiária da vontade
consciente das massas não surja das circunstâncias materiais que são fruto do
desenvolvimento anterior. Como se produz a faísca? Da experiência das lutas, nas quais
o proletariado faz a sua educação, sob a direção dos socialistas, e toma nas mãos a sua
própria história. É graças à pedagogia da luta que se acende a faísca da consciência
revolucionária dos oprimidos e explorados.

É nessa brochura que surge a expressão socialismo ou barbárie? Se não surgir o


socialismo, surgirá a barbárie, tal como ocorreu após o fim do Império Romano. Mas
Rosa está pensando aqui numa barbárie moderna, e não numa barbárie primitiva: na
própria guerra mundial como expressão da barbárie moderna. Além disso, a derrota do
socialismo dará origem a coisas ainda piores: fascismo, nazismo etc. É de se destacar o
termo ou na sentença socialismo ou barbárie, significando que a história é um processo
aberto, não predeterminado, um processo que depende dos fatores objetivos e
subjetivos, da consciência, iniciativa etc.

9
Em 1917, ocorre a Revolução Russa.

Em 1918, Rosa publica uma análise sobre a Revolução Russa, uma brochura
intitulada, justamente, de A Revolução Russa (não se sabe se era para publicação
ou não), um dos documentos mais importantes de sua autoria. Ela começa com uma
expressão de solidariedade e uma homenagem aos bolcheviques, especialmente Lenin e
Trotski, dizendo que eles salvaram a honra do socialismo internacional ao fazer a
revolução na Rússia. Mas também há uma crítica. O primeiro aspecto da crítica
(problemático) refere-se à questão nacional e da autodeterminação das nações, que ela
acha um erro. O segundo aspecto (também problemático) dizia respeito à questão
agrária, da distribuição das terras aos camponeses.

O terceiro capítulo, o mais importante, é sobre a questão da democracia. Ela critica


os bolcheviques por terem colocado entre parênteses a democracia. Rosa diz que sem
democracia, sem a atividade e experiência política das massas é impossível a dominação
por parte das classes dominadas. A emancipação só é possível por uma educação das
massas e acumulação de experiência das massas. Mas a educação só pode nascer da
escola da experiência, e não da direção não-democrática de cima para baixo por parte do
comitê central. De outro modo, o socialismo é “decretado” ou “outorgado” por um
grupo de intelectuais sentados em redor de uma mesa com toalha verde. Os erros que
ocorrerão serão corrigidos pela autoatividade da experiência política das massas. Esta é
a crítica que ela faz aos bolcheviques.

Lukács tem um capítulo em HCC, o primeiro, chamado Rosa Luxemburgo


marxista (1921), onde insiste na importância do conceito de práxis, que estabelece a
unidade dialética da teoria e da prática e que supera o dilema da socialdemocracia alemã
entre o objetivismo fatalista das leis puras da história (Kautsky) e o subjetivismo ético
da moral pura (Bernstein). Quando Rosa fala da democracia está falando da democracia
socialista e não da democracia burguesa.

Em dezembro de 1918, na fundação do Partido Comunista Alemão (Liga


Spartakus), Rosa publica um dos seus últimos e mais importantes textos. Nesse
texto Rosa afirma que é só exercendo o poder que a massa trabalhadora aprende a
exercer o poder. “Não há outra maneira de ensinar-lhe”. Em seguida ela se refere a uma
famosa fórmula de Goethe, que polemizava com uma famosa afirmação religiosa que
dizia que “no princípio era o verbo”. Goethe diz o contrário, que “no começo de tudo
vem a ação”. “Esta é nossa divisa: é na ação que os conselhos de operários e soldados se
tornam a força principal dirigente do país”. Pouco depois, há uma insurreição semi-
espontânea no qual os spartaquistas participam e fracassam, e em seguida Rosa é
assassinada em janeiro de 1919.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

LOUREIRO, Isabel. A Revolução Alemã. 03/2021. Em:


https://www.youtube.com/watch?v=Qj-miBzuQKk. Acesso em 13/10/2021.

A Revolução Alemã (1918-1923) foi uma revolução no país mais desenvolvido na


Europa de então. Se não tivesse sido derrotada, teria contribuído para que a Revolução
Russa não ficasse isolada. A derrota da Rev. Alemã marca, por isso, a história do século

10
XX, e também pela influência que teve na emersão do fascismo e do nazismo. Após a
derrota da Rev. Alemã, vem o período chamado República de Weimar.

Para Marx, a Alemanha era o país das restaurações sem revolução, ou da


contrarrevolução sem revolução. Nesse sentido, é semelhante ao Brasil. Fórmulas como
“modernização conservadora”, ou “via prussiana”, procuram traduzir o
desenvolvimento capitalista na Alemanha a partir do entendimento dos processos de
modernização feitos pelo alto e mediante a aliança entre a burguesia e os nobres
proprietários de terra (junkers). Era uma aliança entre o atrasado e o moderno, traduzido
por Marx (Crítica do Programa de Gotha) nesses termos: “O Estado que não passa de
um despotismo militar, com uma armadura burocrática e blindagem policial, adornado
de formas parlamentares, com misturas de elementos feudais e de influências
burguesas.” É uma mistura de atrasado e moderno, que excluía politicamente as classes
trabalhadoras, apesar do gigantesco crescimento industrial e da socialdemocracia alemã
no fim do século XX.

Assim como na Revolução de 1848, a R. Alemã de 1918-23 também foi derrotada pelo
Partido da Ordem, uma derrota que tornou anêmica a própria República, que logo seria
subvertida. A República (de Weimar) não se enraizou nesse país de modernização
conservadora porque a democracia radical, corporificada nos conselhos, que surgiram
espontaneamente no início do movimento revolucionário, foi liquidada pelas forças
conservadoras do movimento operário, em particular pela socialdemocracia majoritária,
liderada naquele momento por Friedrich Ebert e Gustave Noske. A história dessa
revolução derrotada é típica dos países de desenvolvimento desigual e combinado, que
ao economizar o poder da revolução burguesa preservaram o poder das antigas elites.
Historiadores dizem que esse poder das antigas classes dominantes podia ter sido
quebrado em 1918-19 a partir da aliança entre o governo socialdemocrata e a vontade
das massas democráticas que se expressava nos conselhos. Essa aliança poderia ter
lançado os alicerces da república democrática, já que a revolução socialista não estava
na ordem do dia, por mais que a extrema esquerda pensasse o contrário.

Arno Mayer (A força da tradição: a persistência do Antigo Regime) diz que foram
necessárias duas guerras mundiais para extirpar o Antigo Regime na Alemanha.

A Revolução Alemã pode ser analisada como uma peça de teatro em dois atos, além de
um prólogo e um epílogo.

Prólogo: O Império do Kaiser e o Partido Socialdemocrata Alemão. Eles nasceram


juntos. O Império nasce em 18 de janeiro de 1871, com Guilherme I reinando até 1888,
sendo substituído por Guilherme II, que reina até 1918. A partir de 1871, ano também
da Comuna de Paris, a Alemanha se torna a primeira força da Europa continental,
organizada agora como uma confederação sob hegemonia da Prússia, que era um Estado
conservador. Essa sociedade se caracterizava pela aliança entre os junker do leste do rio
Elba e a burguesia industrial. Os junker foram muito influentes, eles glorificaram a
força e o militarismo, o imperialismo e o colonialismo e a servidão por parte das classes
dominadas. Na entrada do século XX, a Alemanha era um Estado policial e militar, ao
qual correspondia uma sociedade autoritária e uma mentalidade de súdito. Esse tipo de
sociedade cria o caldo de cultura propício ao nazismo. Ver o livro O Súdito, de Heinrich
Mann, que mostra bem isso. A Alemanha se modernizava economicamente, mas
permanecia presa às estruturas de poder herdadas do passado, que mantinham os

11
privilégios das antigas elites. Em 1890, A Alemanha já havia ultrapassado
economicamente a Inglaterra, mas a pobreza dos trabalhadores era enorme, o que
representava um grande problema.

A socialdemocracia surge problematizando exatamente esse tema, que se pode


chamar de “a questão social”. O chanceler Bismarck usou todas as estratégias para
combater a SD, inclusive leis para distribuir renda etc. quando isso não funciona, ele
recorre a leis de exceção contra o socialismo, de 1878 a 1890, que proibia a imprensa e
os livros, mas não excluía a possibilidade de parlamentares da SD. Esse partido foi
sempre dividido entre uma ala reformista, herdeira de Lassalle, e uma ala
revolucionária, herdeira de Marx e Engels. O compromisso entre essas duas correntes se
manteve até a guerra de 1914. Na prática, o que predominava o reformismo com fins
eleitoreiros. A partir de 1906, o partido havia começado a sua burocratização, quando
homens pragmáticos, patriotas e amigos da ordem, como Scheidemann, Ebert e Noske
chegam à direção do partido. A ala esquerda, liderada por Rosa Luxemburgo, começou
a ficar isolada. O sucesso eleitoral fez com que o partido se tornasse uma maquina
eleitoral, reformista e conservador. Os funcionários do partido, recrutados entre a classe
trabalhadora, eram o coração do partido. Werner Sombart afirmou que a SD precisava
neutralizar as pessoas inteligentes e colocar em seu lugar “rotineiros hábeis”.
“Transformou-se no grande partido dos oportunistas e acomodados”. Kurt Eisner,
presidente da República da Baviera, e que era um reformista, diz que a SD era um
partido monárquico-oligárquico, de funcionários e empregados, se super-lideranças e
negócios e dinheiro, que oferecia carreira aos proletários mais inteligentes e mais
medíocres etc. A SD se desenvolveu num período de décadas de pacificação social, o
que contribuiu fortemente para a sua integração na sociedade imperial.

A partir de 1907, com uma derrota eleitoral, a SD começou a ser pressionada para ser
cada vez mais nacionalista, e de fato acabou se tornando. Passaram a se integrar cada
vez mais na sociedade guilhermina. Em 1914, votou pela entrada da Alemanha na
Guerra.

A partir de 1913, a ala esquerda começa a se organizar, liderada por Rosa Luxemburgo,
mas é muito fraca e pouco influente.

A Primeira Guerra Mundial (1914): ler as memórias de Stefan Zweig sobre isso. No
início houve um entusiasmo chauvinista. Karl Liebknecht foi o único deputado que
votou contra os créditos de guerra. A guerra provocou miséria e lucro das empresas
militares. Em 1917, começaram muitas greves na Alemanha. Em outubro, os
bolcheviques chegam ao poder na Rússia e firmam um tratado de paz em separado com
a Alemanha, o tratado de Brest-Litovsk, de 3 de março de 1918. Isso tem grande
repercussão na Alemanha. Surge depois uma greve pela paz que é derrotada e deixa
uma forte memória nos trabalhadores alemães. Com a derrota iminente, o
descontentamento do povo torna-se imenso. Os militares, então, propõem a formação de
um governo militar sob a direção do príncipe Max von Baden. Ele foi nomeado
chanceler no dia 3 de outubro. Em 4 de outubro, o príncipe faz a proposta de paz aos
aliados. Essa trama foi arquitetada pelo general Ludendorff, que junto com Hindenburg,
eram líderes dos militares. Com isso, queriam que a responsabilidade da derrota e do
armistício recaísse nas costas do parlamento. Mais especificamente, dos civis, dos
judeus e dos socialistas. Foi a lenda da “punhalada pelas costas”, que fez sucesso na
época do nazismo.

12
Primeiro Ato, a Fase Moderada da Revolução, entre novembro e dezembro de
1918.

Em novembro, os marinheiros da tropa do Mar Báltico, no norte, se revoltam porque se


recusam a sair de uma batalha decisiva contra a tropa inglesa. Com essa revolta teve
início o que ficou conhecido como a Revolução de Novembro. (34:00)

A partir daí surgem conselhos de soldados e trabalhadores no país inteiro e exigem o


fim imediato da guerra. O Estado fica momentaneamente paralisado e as forças políticas
de direita saem momentaneamente de cena. A iniciativa fica nas mãos dos SD
majoritários, que se sentem orgulhosos de colaborar com as antigas elites. Ebert tenta
até o último minuto salvar a monarquia, mas não consegue.

Em 9 de novembro de 1918, Rosa é libertada e a monarquia é substituída pela


república e Ebert se torna o chanceler do Reich. Essa passagem foi relativamente
tranquila, a vida social prosseguiu seu ritmo “normal”. Ebert queria tirar o povo armado
da rua e encaminhar o movimento para a formação de uma Assembleia Nacional com
poderes constituintes, que decidiria se a Alemanha seria uma república conselhista ou
parlamentar. Da parte dos trabalhadores havia um clamor pela unidade dos socialistas,
Ebert usa isso a seu favor. No dia seguinte, ele cria uma aliança com os militares contra
os “radicais”.

Os spartaquistas e os independentes queriam uma república conselhista, mas não tinham


muita influência entre as massas. A burguesia e os sindicatos se opunham aos conselhos
à revolução, que de fato não estavam na ordem do dia. Eles eram a favor da assembleia
constituinte, que acabou sendo eleita numa eleição em 19 de janeiro de 1919. Foi esse
parlamento que elaborou a Constituição de Weimar. Os conselhos, que existiam e eram
formados na maioria por SD moderados e sindicalistas, apoiavam um governo de
coalizão. Os conselhos lutam por uma constituição socialista genérica e fim do Estado
autoritário. Eles querem democratizar o país e instituir a república parlamentar, e não
instaurar na Alemanha um governo conselhista nos moldes do que aconteceu na Rússia.
Os delegados, num congresso em dezembro, rejeitam a república conselhista e rejeitam
dar a eles o poder supremo. Ver: Ernst Toller, da área esquerda dos independentes, seu
livro de memórias trata disso. Ele diz que, com essa decisão, a república decidiu por sua
própria sentença de morte.

No natal de 1918 houve em Berlim uma revolta vitoriosa de marinheiros, e isso foi o
pretexto dos independentes para sair do governo, que se torna exclusivamente um
governo de SD majoritários, apoiados pelos ministros burgueses e pela burocracia. A
situação se radicaliza em Berlim. Em 1º de janeiro é fundado o Partido Comunista da
Alemanha. Os comunistas presentes nessa fundação adotam uma posição esquerdista e
votam pelo boicote às eleições para a constituinte, indo assim contra a orientação dos
líderes Rosa Luxemburgo e Karl Libknecht.

Segundo Ato – A fase radical da revolução, de janeiro a maio de 1919, que é fruto
da desilusão com a timidez do processo revolucionário. Gustave Noske representa
a mão direita de Ebert. Agem diretamente da repressão à revolução.

13
Ebert tinha uma visão tacanha e pragmática da política e acreditava que era preciso
eliminar pela violência ara eliminar o que restava da revolução. Nesse contexto, ocorre
o assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Libknecht.

Na primeira semana de 1919 ocorre a “Insurreição de janeiro”, que foi afogada em


sangue e resultou no assassinato dos líderes comunistas em 15 de janeiro por milícias
paramilitares financiadas pela indústria. Em março, Leo Jogiches é assassinado, fazendo
com que se eliminassem as principais lideranças dos comunistas. Nesse contexto
também surge a República dos Conselhos da Baviera, que dura três meses. Eles são
massacrados também pelos corpos francos. O governo SD impõe a ferroe e fogo a
ordem na Alemanha. As eleições de janeiro deram maioria aos SD. Mas eles fazem um
governo de coalizão com os partidos burgueses. A Assembleia Nacional se instala em
Weimar no dia 6 de fevereiro de 1919 e no dia 11 elege Ebert provisoriamente como
presidente da república.

Epílogo – Do fim da República dos Conselhos da Baviera até a derrota do Outubro


Alemão em 1923.

Ver Oskar Maria Graff, sobre a Baviera e as milícias de extrema-direita.

Em março de 1920 há a derrota do golpe de Kapp. Até aqui a história foi de lutas mais
ou menos espontâneas protagonizadas pelas massas organizadas nos conselhos.

A partir de 1921, o panorama muda. As massas saem de cena e o protagonista passa a


ser o Partido Comunista da Alemanha (PCA), que está totalmente dilacerado por lutas
fratricidas e submetido às exigências da Internacional Comunista. Nesse contexto, o
PCA embarca em alguns movimentos que acabam frustrados, o primeiro uma tentativa
de golpe em março de 1921 e depois o Outubro Alemão de 1923. Esses golpes
frustrados acabam levando o PCA ao isolamento.

14

Você também pode gostar