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A Bendita e o Maldito Aula 11 - Arcanjo Gabriel Anunciações
A Bendita e o Maldito Aula 11 - Arcanjo Gabriel Anunciações
«A Bendita e
o maldito»
porque a tua oração foi ouvida porque você encontrou graça diante de Deus
A fórmula não temas é uma expressão estereotipada para mitigar o choque
diante de uma manifestação de Deus. Mas essa simetria novamente leva a um
contraste na mesma linha: no caso de Zacarias, sua oração foi cumprida.
2 - As duas anunciações do Arcanjo
Descobrimos o seu desejo aqui. No caso de Maria não há manifestação de
qualquer desejo ou pedido. No caso dela, tudo é de graça, tudo é graça. Tal é o
sentido do nome que lhe foi dado. Depois vem a mensagem. Em ambos os
casos um nascimento.
Anúncio de um nascimento
1,13-17 1,30.33
Tua mulher Isabel Eis que conceberás no teu ventre
conceberás um filho e darás à luz um filho
e lhe porás e lhe porás
o nome de João. o nome de Jesus
Ele será alegria e exultação para vocês
e muitos se alegrarão
2 - As duas anunciações do Arcanjo
Pois ele será grande Ele será grande
diante do Senhor
de Espírito Santo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi.
Perguntas-objeções
1,18 1,34
De que forma poderei conhecer isto? Como isso vai acontecer?
eu na verdade, sou velho pois não conheço homem
e minha esposa está na velhice [mais uma vez aqui não se menciona o cônjuge]
Existem duas objeções:
- A velhice não permite mais a procriação de Zacarias.
- O estado de Maria de não "conhecer homem" (no sentido bíblico, sexual do termo) se
opõe ao plano de Deus.
2 - As duas anunciações do Arcanjo
A pergunta de Zacarias, formulada em termos de conhecimento, pode levar a
pensar na dúvida, enquanto Maria limita-se ao como e se pergunta como conciliar o
irreconciliável. Ela especifica a sua posição ambígua como virgem (duas vezes em
1,27), concedida em casamento a um homem, dizendo: não conheço nenhum homem, o
que indica a fase matrimonial em que se encontrava.
Dado o estreito paralelismo das duas objeções, o contraste das duas respostas é
surpreendente:
- Zacarias se vê a provar a sua incredulidade, é punido e calado.
- Maria, em sentido contrário, recebe uma resposta favorável, que é o ápice da
mensagem. O anjo lhe revela que este Filho do Altíssimo (1,32) virá somente de
Deus e especifica o caráter teofânico da vinda. O estado paradoxal de Maria
encontra-se com a ação de Deus:
2 - As duas anunciações do Arcanjo
Resposta do anjo
1,19-20 1,35
Em resposta Em resposta
o anjo lhe disse: o anjo lhe disse:
Eu sou Gabriel e estou perante Deus, fui enviado
a falar com você e trazer-lhe esta boa notícia.
Eis que você ficará mudo e você não poderá mais O Espírito Santo virá sobre você e o poder do Altíssimo te
falar até que venha o dia cobrirá com a sua sombra
em que essas coisas acontecerão, portanto, aquele que nascer será chamado Santo, Filho de Deus
porque não acreditaste [1,45] Bem-aventurada aquela que acreditou,
em minhas palavras porque terão
que se cumprirão (plérothesontai) o seu cumprimento (teleiosis)
a seu tempo as palavras proferidas pelo Senhor
2 - As duas anunciações do Arcanjo
O estreito paralelismo das duas introduções: em resposta o anjo lhe disse, destaca
um contraste surpreendente: Zacarias é castigado; Maria plena da graça. A
diferença não parece depender tanto das nuances sutis de suas objeções, mas sim
do direito de falar, reconhecido a Maria e recusado ao sacerdote.
O ditado paulino: as mulheres nas assembléias estão caladas (1 Cor 14,34) parece
ser derrubado aqui: o sacerdote no santuário está calado. As últimas palavras ditas pelo
anjo a Zacarias encontrarão o seu oposto e paralelo tardio nos lábios de Isabel
em Lc 1,45. Zacarias, que pediu um sinal, recebe apenas o seu castigo, e Maria,
que não o pediu, recebe um sinal: e eis que Isabel, tua parente, também
concebeu um filho em sua velhice, e aquela que era considerada estéril já está no
sexto mês; pois nada é impossível para Deus».
2 - As duas anunciações do Arcanjo
Para Zaccaria o diálogo acabou. Para Maria continua. O paralelismo feito de
um contraste crescente termina em uma conclusão irônica. O sacerdote,
oficiando em sua glória, não pode mais falar e fica reduzido a gestos impotentes,
sobre os quais o texto insiste com pleonasmos, enquanto Maria fala e conclui
com uma admirável resposta de fé:
Conclusão
1,22 1,38
Quando saiu
não pôde falar Maria então disse:
Eles entenderam então que ele tivera uma visão no
santuário.
Ele gesticulou para eles – Eis aqui a serva do Senhor
e ele permaneceu mudo. faça-se em mim segundo aquilo que disseste.
2 - As duas anunciações do Arcanjo
Último contraste: Zacarias se afasta do anjo, e o anjo se afasta de Maria: encontramos o
contraste do início:
Disjunção
1,23 1,38
Após
o período de seu serviço
voltou para sua casa E o anjo se afastou dela.
O anúncio a Zacarias continua com a sua realização (Lc 1, 24-25): «depois
daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu, mas escondeu-se durante cinco
meses, dizendo: Assim me fez o Senhor nestes dias, nos quais voltou (para mim)
seu olhar para tirar minha vergonha de entre os homens».
2 - As duas anunciações do Arcanjo
Aqui está um contraste final nada é dito sobre a realização a respeito de Maria.
Essa realização, profetizada para o futuro em 1,35, como uma grande teofania, é
objeto de reticências. Em nenhum lugar é especificado que ela concebeu, como se diz de
Isabel. O fato se manifesta apenas por suas consequências no capítulo 2 de Lucas: a
Visitação. Esta multiplica imensuravelmente e liricamente em alegria e ação de graças
por Isabel e, mais ainda, por Maria, cuja vinda provoca esta nova etapa, o que
corresponde à ação de graças discreta e oculta de Isabel.
Em suma, o paralelismo entre os dois anúncios, manifestado por algumas
palavras-chave, limita-se ao quadro que apresentamos. Este serve sobretudo para
destacar um contraste com a glória de Jesus e de sua Mãe. A história, que havia
insistido na unidade do casal Zacarias-Isabel, dissocia inicialmente o casal José-Maria
para manifestar a união de Maria só com Deus, ao longo do texto (1,28.30.31-32.35).
O paralelismo desaparece mais tarde, quando o nascimento, a circuncisão e o
crescimento das duas crianças acentuam o contraste com a glória de Jesus.
3 - De onde surge o arcanjo Gabriel?
É evidente que Lucas 1-2 depende de Daniel 7-9. O nome de Gabriele
seria suficiente para garantir isso. Os dois únicos textos bíblicos, em que este
nome aparece, são Dn 8,16 «e ouvi uma voz humana vinda do meio do Ulai:
“Gabriel” – gritava –, “explica-lhe a visão» e 9,21 «não havia terminado essa
prece, quando se aproximou de mim, em um relance era a hora da oblação da
noite, Gabriel, o ser que eu havia visto antes em visão»: uma das principais
profecias messiânicas do Antigo Testamento, a profecia das 70 semanas.
O fato do mensageiro desta profecia aparecer significa que o Messias está
lá. Esta justaposição entre Lucas 1-2 e Daniel 7-9 é ilustrada por inúmeras
coincidências, que foram especificadas na estrutura e teologia de Lucas:
3 - De onde surge o arcanjo Gabriel?
❖ Em Lc 1,10-11 e em Dn 9, 20-21 Gabriel aparece na oferta da noite.
❖ Em Lc 1,12 e em Dn 10,7 o aparecimento de Gabriel desperta turbamento.
❖ Em Lc 1,13 como em Dn 10,12 Gabriel diz: não tenhas medo.
❖ Em Lc 1,13 como em Dn 9,20 o vidente orou em sua aflição e foi ouvido.
❖ Em Lc 1,19 como em Dn 9,20-21 e 10,11 Gabriel, que está diante de Deus, é enviado
para falar em nome de Deus
❖ Em Lc 1,20.22 como em Dn 10,15 o vidente permanece "mudo".
❖ Lc 1,22 usa o termo visão como Dn 9-10: optasia, termo usado 6 vezes em Dn 9-10,
raro no Novo Testamento: 4 vezes, das quais 3 em Lucas (1,22; 24,23 e Atos 26,19).
❖ Em Lc 1,28 e Dn 9,23 a vidente (no nosso caso Maria) é qualificada como favorita de
Deus, objeto de sua misericórdia para Daniel, de seu favor ou graça para Maria:
noções próximas!
3 - De onde surge o arcanjo Gabriel?
❖ Em Lc 1,29-30 encontramos o temor e o não temor dirigido a Maria, exatamente
como em Dn 10,11-12;
❖ Em Lc 1,35 Cristo é qualificado de santo por excelência e consagrado como tal,
segundo o cumprimento tipológico da lei sublinhada em 2,23, provável eco da unção
do Santo dos Santos segundo Dn 9,24. Além disso, Lc 1,35 parece implicar o sentido
de uma unção real e divina.
Outras abordagens dizem respeito a Maria:
❖ Em Lc 1, 29 ela reflete e tenta compreender, como Daniel em Dn 8,15.
❖ Em Lc 2,50, como em Dn 8,27, cala-se e não compreende.
❖ Em Lc 2,51, como em Dn 7,28, ela guarda essas coisas no coração.
O regresso do arcanjo Gabriel e a realização de sua profecia em anúncio
direto da vinda do Messias comandam toda a dinâmica de Lc 1-2.
4 - O oráculo de Gabriel sobre o nome humano e o nome divino de Cristo
Em Lc 1,32.35 encontramos o anúncio de Gabriel a Maria que atribui dois nomes a
Cristo. Antes de mais nada, o nome humano: você o chamará... Jesus (1,32). Depois o
nome divino: Ele será chamado Santo, Filho de Deus: o contexto (com referência a Ex
40,35) dá a esses dois nomes um significado transcendente. A apresentação é o
cumprimento (cf. 2,21-22.39) deste duplo futuro anunciado pelo anjo Gabriel, enviado
por Deus.
O nome humano de Jesus
1,31.38 2,21
O chamarás (kaleo) foi chamado (kaleo)
com o nome de Jesus com o nome de Jesus (-Salvador)
que pelo anjo lhe fora posto
Conceberás antes de ser concebido
Em teu ventre (en gastri) no seio (en koilia)
4 - O oráculo de Gabriel sobre o nome humano e o nome divino de Cristo
Os contatos dos termos e temas entre o anúncio e o cumprimento são muito
marcantes:
1. A imposição do nome de Jesus, com redundância pleonástica do verbo kaleo
(2,21).
2. A referência ao anjo que o prescreveu.
3. Pleonasmo concebido no seio em 1.31 como em 2.21.
Dizemos pleonasmo, porque conceber (verbo syllambano, o único usado para a
concepção de Isabel em 1,24 e 1,36) era perfeitamente claro por si só. O acréscimo
en koilia (2,21) parece ter a função de atualizar a profecia de Sf 3,20, retomada na
mensagem da anunciação: «você conceberá no seu ventre» (Lc 1,31). Esta expressão
inútil e surpreendente ecoa de forma mais literal e mais material bekirbek (3,15).
Lucas, retomando-o, desenvolve-o usando o termo grego mais óbvio, mais elegante
e mais específico para indicar o seio materno: en koilia.
4 - O oráculo de Gabriel sobre o nome humano e o nome divino de Cristo
Em 2,23 o mesmo verbo kaleo retorna para a atribuição a Cristo do nome de
Santo, igualmente anunciado no futuro pelo anjo, mas realizado (manifestado) no
templo por intermédio da lei. Não devemos esquecer o contexto da shekinah, que
dá seu significado ao nome de Santo em Lc 1,35.
O nome divino de Jesus
1,35 2,23
O Anjo lhe disse O apresentaram (…) para cumprir a lei
Ele será chamado Santo Ele será chamado Santo pelo Senhor
4 - O oráculo de Gabriel sobre o nome humano e o nome divino de Cristo
Essa abordagem parecerá mais tênue, pois se limita a dois termos chamado de Santo.
Mas a retoma de Lc 1,35 é deliberada, porque a tradução óbvia de Êx 13,1, que Lucas
cita, deveria ter sido, segundo o hebraico como segundo o grego: «consagra
(santifica-me) todo homem que abrir a matriz (de sua mãe) entre os filhos de Israel
(Ex 13,1).
Lucas transpõe a expressão de Ex 13,1: «será consagrado» em «será chamado
santo». Esta tradução tem evidentemente o propósito de conformar o texto do Antigo
Testamento com as palavras de Gabriel em Lc 1,35 para qualificar Cristo com um
nome divino. A progressão de Lc 2,21-24 está portanto aqui: no oitavo dia Cristo
recebe o nome de Jesus (isto é Salvador, cf. 2,11), prescrito pelo anjo, e o nome
transcendente de Santo: designação específica de Deus no Antigo Testamento. Isso se
manifesta tipicamente pela observância da lei (Ex 13,l).
4 - O oráculo de Gabriel sobre o nome humano e o nome divino de Cristo
Este duplo nome não deriva apenas do oráculo de Gabriel, mas também de um
primeiro cumprimento contido no oráculo dos anjos do Natal (2,11): «nasceu um
Salvador - tradução do nome humano de Jesus-, quem é Cristo o Senhor - este
segundo termo tem um significado transcendente no contexto.
Segundo Lucas, esses dois oráculos encontram o seu cumprimento nos dois
ritos da circuncisão (2,21), em que a criança recebe o seu nome, e no templo, ao
final das 70 semanas, em que a lei do Senhor tipologicamente atesta que essa
criança é o Senhor do templo em que entra. Neste caso o templo é qualificado por
sua vinda mais do que ele é qualificado pelo templo.
Portanto a apresentação de Jesus no templo significa o cumprimento do oráculo
de Gabriel no qual Jesus é qualificado com o duplo nome anunciado: nome
humano de Jesus (1,32; 2,21) e nome transcendente de Santo (1,35; 2,23).
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