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Modos de Falhas em Taludes de Grande Altura

3.1.
Generalidades

Os taludes na mineração a céu aberto que apresentam como principal


característica as grandes alturas que podem alcançar, têm provocado uma grande
interes dentro dos estudos de instabilidade. Segundo Sjöberg (1999), os modos de
falhas que se apresentam em taludes mineiros e que principalmente são
provocadas pela geologia estrutural da região, são mais provável de se manifestar
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nesse taludes de grande altura que em qualquer outro talude.


Segundo Stavey (1968), existe uma série de fatores importantes que
governam a estabilidade dos taludes das minas a céu aberto:
• Condições das tensões dentro do talude, incluindo o efeito das águas
subterrâneas;
• A geologia estrutural (presença de planos, zonas de debilidade e
anisotropia do talude);
• A geometria do pit (altura e inclinação);
• Fatores geotécnicos relacionados com o comportamento mecânico do
talude (resistência da rocha intacta e das descontinuidades).
Os fatores desse tipo são considerados fatores “condicionantes”, e são
intrínsecos aos materiais naturais. No caso do maciço rochoso, como tem se
falado anteriormente, a principal causa de instabilidade é a estrutura geológica, ou
seja, a disposição e persistência das descontinuidades e o grau de fraturamento do
maciço.
Junto com os fatores “condicionantes” (passivo), existem fatores
“desencadeantes” (ativos), os quais são capazes de provocar a ruptura sob uma
combinação de condições. Esses fatores são externos e atuam modificando as
características, propriedades e condições de equilíbrio do talude. Como exemplo
desses fatores tem-se:
• Sobrecarga estática;
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• Cargas dinâmicas (vibração por uso de explosivos e eventos


sísmicos);
• Câmbios das condições hidrogeologias;
• Fatores climáticos;
• Variação da geometria;
• Redução de parâmetros resistentes.
O conhecimento de todo estes fatores permitirá uma correta análise do
talude, o estudo do estado de estabilidade do mesmo, a projeção e medidas que se
deveram adotar para evitar ou controlar os movimentos (Gonzalez de Vallejo et
al.; 2002).
Nas análises dos taludes nas minas a céu aberto, devem-se considerar os
tipos de instabilidades que se apresentam geralmente neles, principalmente
aquelas controladas por falhas que estão tipicamente manifestadas pelos seguintes
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modos (Baczinsky, 2000):


• Deslizamento de uma o mais descontinuidades geológicas (falha do
tipo planar, cunha ou tetraédrica);
• Deslizamento com trajetória de falha circular o quase circular através
da rocha intacta ou de tudo o maciço rochoso;
• Ruptura por tombamento;
• Deslizamentos que podem exibir até dois ou mais modos de falhas
(falhas compostas).
As falhas de o tipo planar ou cunha, comumente são controladas por
estruturas ou descontinuidades pequenas (juntas e falhas menores) e manifestam-
se principalmente no nível das bancadas, onde o fator a considerar são as
características estruturais que contém o maciço rochoso por trás da face das
bancadas e a relação que existe entre a orientação das descontinuidades e o ângulo
de inclinação da face da bancada.
Quando a escala aumenta, as falhas controladas pelas estruturas menores
são menos dominantes, e falhas mais complexas como do tipo Step-path
(combinação de descontinuidade e a ruptura da ponte de rocha) começam a se
desenvolver. Em uma escala maior do talude, existem dois tipos de falha
especialmente a se considerar: as falhas do tipo circular ou rotacional e falha do
tipo tombamento.
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3.2.
Modos de Falhas

Os diferentes tipos de falha estão condicionados ao grau de fraturamento


do maciço rochoso e a orientação das descontinuidades em relação ao ângulo de
inclinação do talude. A sua estabilidade fica definida pela resistência nas
descontinuidades e na matriz rochosa.

3.2.1.
Falha por Cisalhamento de tipo Planar o tipo Cunha

As falhas desse tipo estão referidas a varias combinações geométricas de


descontinuidades, as quais formam blocos ou cunhas que são cinematicamente
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livres. A condicionante para que ocorra a falha depende de dois fatores: a


resistência ao cisalhamento da descontinuidade ou a resistência na interseção das
descontinuidades.
A superfície de falha pode se desenvolver por uma única descontinuidade
(falha de o tipo planar), duas descontinuidades interceptando uma com outra
(falha do tipo cunha) ou uma combinação de descontinuidades interconectadas
(falha do tipo Step Path ou do tipo Step Wedge).
Devido que esse tipo de falha se desenvolve ao longo de uma
descontinuidade (falhas menores ou combinação de juntas), a sua presença
geralmente é encontrada no nível das bancadas dentro das minas a céu aberto, mas
essa característica não deve se considerar como uma regra. Em maciços rochosos
onde existam falhas maiores de grandes dimensões ou taludes que apresentem
eventos onde umas séries de falhas menores ou juntas que se interconectem
através da rocha intacta (pontes de rocha), também pode existe a possibilidade de
desenvolver grandes trajetórias de falha (ao nível inter-rampa ou global) com
características de falhas tipo plana ou cunhas.

3.2.2.
Falha por Cisalhamento do tipo Rotacional

A falha por cisalhamento do tipo rotacional ocorre tipicamente em talude


com material tipo solo ou em maciços rochosos de muita baixa qualidade, onde há
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um alto grau de fraturamento, e um comportamento isotrópico. Neste tipo de


falha, não existe orientação critica de descontinuidades ou plano de fraqueza, e
não existe nenhum controle estrutural associado à instabilidade, simplesmente o
seu comportamento mecânico é condicionado pelo grande número de pequenas
descontinuidades existentes.
Segundo Hoek & Bray (1981), a condição para que ocorra esse tipo de
falha é que as partículas individuais pertencentes a um solo ou maciço rochoso
devem ser muito pequenas em comparação com as dimensões do talude e, essas
partículas não estejam bloqueadas para o movimento por causa de sua forma.
As trajetórias resultantes de falhas dentro de taludes de grande altura não
precisam ser totalmente curvas, elas podem se combinar com planos de falha ou
falhas do tipo step path, com ou sem trincas de tração no topo (crest) do talude
com mostra a Figura 3.1.
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Figura 3.1 - Falhas rotacionais e combinação de falhas do tipo rotacional com falhas
planas (Hoek e Bray, 1981)
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3.2.3.
Falha por Tombamento

É um tipo de ruptura que implica a rotação e movimento dos blocos, onde a


estabilidade deste não só está condicionada à resistência ao cisalhamento das
descontinuidades, também depende da resistência às tensões de tração na base de
cada bloco.
Goodman & Bray (1976) descreveram três tipos de mecanismos de ruptura
por tombamento: tombamento por flexão, tombamento de blocos e tombamento
bloco-flexural.
Tombamento Flexural
O evento ocorre em taludes onde exista uma série de colunas de rocha
continuas, separadas por descontinuidades bem definidas mergulhando na
orientação contraria ao talude, onde, devido à ação do peso próprio, e dependendo
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do atrito, as colunas convençam a deslizar uma sobre outra e fletir, levando a uma
ruptura por tração na base da lamina e, finalmente, ao tombamento das mesmas.
Deslocamentos, escavações, ou algum tipo de erosão no pé do talude
permitem o começo do processo do tombamento com a formação de trincas
devido às tensões por tração que se desenvolvem na base das colunas.
Sjöberg (1999) expõe que a ocorrência de ruptura por tombamento em
talude de grande altura é governada principalmente por três fatores:
• Resistência e orientação das juntas;
• Resistência da rocha intacta;
• Deformabilidade (ou rigidez) do maciço rochoso.
Conseqüentemente se o tombamento flexural ocorrer, primeiramente deve
existir deslizamento ao longo das descontinuidades, o que depende da orientação e
da magnitude da tensão cisalhante atuando na zona, e logo tensões capazes de
provocar a ruptura da rocha intacta.
Tombamento em Blocos
Ocorre em rochas de elevada qualidade, onde existam colunas de rochas
individuais formadas e limitadas por um conjunto de descontinuidades
mergulhando em sentido contrário à face do talude e onde existe um segundo
grupo de juntas ortogonais separadas e definindo a alturas de cada coluna, que
mergulham de forma paralela ou sub-paralela à direção do talude.
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As pequenas colunas que são formadas no pé do talude fletem devido


carregamento provocado pela queda das longas colunas acima do talude, isto vai
permitir o deslizamento no pé, permitindo maiores tombamentos dos blocos
localizados na zona superior do talude.
Tombamento em Bloco-Flexural
É uma combinação de tombamento e deslizamento dos blocos, caracterizado
por uma flexão pseudocontínua ao longo de colunas que são divididas por um
grande número de juntas. A falha flexural ou o tombamento das colunas neste
caso é resultado dos deslocamentos acumulados nas juntas transversais.

3.3.
Condições Gerais dos Tipos de Falha

Cada modo de falha e as suas probabilidades de ocorrência estão


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condicionados a fatores geológicos estruturais e às geometrias que sejam


projetadas para os taludes da mina.
As instabilidades geotécnicas, como tem se comentado anteriormente, são
subdividas em dois grupos: instabilidades com controle estrutural (dependem das
propriedades das descontinuidades e a sua orientação), instabilidades sem
controle estrutural (dependem das condições e propriedades do maciço rochoso).
Aquelas falhas com controle estrutural, que envolvem movimentos de
blocos de rocha sobre uma ou mais descontinuidades, estão condicionados a uma
serie de fatores:

Falhas de o Tipo Planar (Hoek & Bray, 1981)

• Deve existir uma estrutura ou


descontinuidade (plano de
fraqueza) e pertencer ao
domínio estrutural da zona;
• O plano sobre o qual o
deslizamento ocorre deve
formar um ângulo não maior a 20° com a face do talude (condição de sub
paralelismo);
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• A descontinuidade deve aflorar na face do talude, ou seja, o ângulo do


plano de fraqueza deve ser menor ao ângulo da face do talude;

• O ângulo da descontinuidade deve ser maior ao ângulo de atrito nesse


plano (condição de resistência);

• O ponto final da falha, na zona mais elevada, pode aflorar na face do


talude ou no topo, mas a descontinuidade pode se desenvolver em
combinação com uma trinca de tração ou uma falha que aflore de
igual forma;
• Na prática é necessário que existam planos ou juntas laterais que
limitem o deslizamento.
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Falhas de o Tipo Cunha (Goodman, 1989)

• Devem existir duas estruturas


ou descontinuidades (planos de
fraquezas) que se interseptem
definindo um bloco tetraedro
(cunha);
• A linha de intersecção das estruturas deve aflorar na cara do talude;
• O ângulo das estruturas ou descontinuidades e da linha de intersecção
devem ser de um valor tal que o ângulo de atrito das estruturas sejam
insuficiente para manter a cunha estável.

Tombamento (Toppling)

• O plano sobre o qual se


encontra a estrutura ou
descontinuidade deve formar
um ângulo com a face do
talude não maior a 30°
(condição de paralelismo),
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(Goodman, 1989);
• A estrutura deve mergulhar na direção oposta do ângulo da face do
talude.
• O ângulo da estrutura deve cumprir a seguinte condição (Goodman,
1989):

onde é o ângulo da descontinuidade; é o ângulo da face da bancada e :é


o ângulo de atrito da descontinuidade, determinado para uma baixa pressão de
confinamento.

Falhas sem controle estrutural ou da descontinuidade


Esses tipos de instabilidades geralmente ocorrem em materiais tipo solo,
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aterros sanitários, depósitos de material estéril e rejeito com materiais não


consolidados. No caso de maciços rochosos, principalmente se apresentam em
casos muito fraturados, sem nenhum controle estrutural ou de descontinuidades
associados à falha.
O fato de não ter estruturas predominantes ou planos de fraquezas, faz com
que o maciço se comporte de forma isotrópica e o deslizamento fica livre de
encontrar as zonas de menor resistência para desenvolver a trajetória de falha.
Observações de falhas nesse tipo taludes confirmam que geralmente desenvolvem
uma trajetória circular e a maioria das teorias de estabilidade utilizada nesse
mecanismo está baseada nessa caracteristica.

Falhas com um controle estrutural parcial


Esse tipo instabilidade é a mais comum nos taludes rochosos de grande
altura devido às características estruturais do maciço (ponte de rocha e
descontinuidades) e o tipo de mecanismo de falha.
A falha mais característica é do tipo Step path, falha de avance
progressivo, onde a trajetória que descreve a superfície de deslizamento
interconecta famílias ou sets de descontinuidades através da ruptura das pontes de
rocha.
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A sua análise deve considerar a orientação dos diferentes sistemas ou sets


estruturais (família de descontinuidades) e as propriedades de resistência das
estruturas e do maciço rochoso.
Ao como nos casos onde a instabilidade do maciço é controlada pelas
descontinuidades, as análises podem ser feitas pelo método de equilíbrio limite,
usualmente bidimensionais e, também mediante modelos numéricos (2D ou 3D).
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