Você está na página 1de 22

Brazilian Journal of Health Review 12873

ISSN: 2595-6825

Plantas medicinais utilizadas no tratamento do Diabetes Mellitus: Uma


revisão

Medicinal plants used in the treatment of Diabetes Mellitus: A review


DOI:10.34119/bjhrv4n3-247

Recebimento dos originais: 11/05/2021


Aceitação para publicação: 11/06/2021

Adjaneide Cristiane de Carvalho


Concluinte do Curso de Bacharelado em Farmácia
Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP|WYDEN
Endereço: Rua José Manuel Nunes, 86, Cruzeiro, Bezerros-PE, CEP: 55660000
E-mail: adjaneidecarvalho@hotmail.com

Alceu Alves da Silva Oliveira


Concluinte do Curso de Bacharelado em Farmácia
Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP|WYDEN
Endereço: Rua Elias Felipe, 130, Centro, Altinho-PE, CEP: 55490000
E-mail: alceu.alvesoliveira@gmail.com

Lidiany da Paixão Siqueira


Doutora em Ciências Farmacêuticas
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Endereço: Avenida da República, 287, Divinópolis, CEP: 55004090
E-mail: lidianypaixao.farmacia@gmail.com

RESUMO
O Diabetes Mellitus (DM) representa um problema de saúde pública com aumento
considerável. Trata-se de uma desordem metabólica com etiologia diversa que atinge
pessoas em todas as idades. Classifica-se em tipo 1 e 2 e diabetes gestacional, além de
outros tipos específicos. A patologia é caracterizada por um desequilíbrio glicêmico
associado à ausência da produção de insulina ou secreção inadequada desse hormônio,
ocasionando complicações como degeneração crônica e falência de órgãos. Diante disso,
as plantas medicinais têm sido bastante utilizadas como alternativa terapêutica para o
tratamento dessa doença, especialmente por sua maior acessibilidade, menor custo e
elevado potencial curativo. O objetivo desta pesquisa foi investigar as plantas medicinais
utilizadas no tratamento do diabetes. Para tanto, realizou-se uma revisão de literatura por
meio de artigos científicos, dissertações e teses, a respeito do assunto, disponíveis nas
bases de dados eletrônicas SCIELO, LILACS e MEDLINE. Algumas plantas medicinais
com efeito hipoglicemiante são Buahinia forficata L., Baccharis trimera (Less.) DC.,
Allium sativum L., Eucalyptus globulus, Phyllantus niruri, Cissus sicyoides L., Aloe vera
L. e Marmodica cymbalaria. Segundo algumas teorias, o principal mecanismo de ação
desses vegetais é a inibição da enzima catalisadora dos açúcares, especialmente pela
atividade dos constituintes químicos quercetina e canferol, com consequente redução da
glicemia sanguínea. Pelo baixo custo, efetividade e menos efeitos indesejados, o uso de
medicamentos fitoterápicos e plantas medicinais no tratamento do Diabetes Mellitus tem
se tornado cada vez mais frequente. Apesar disso, seu aspecto natural não exclui a
possibilidade de desencadearem toxicidade, reações adversas e/ou interações

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12874
ISSN: 2595-6825

medicamentosas. Sendo assim, o acompanhamento profissional é essencial,


principalmente pelos farmacêuticos, visando assegurar o uso racional e seguro dessas
substâncias terapêuticas.

Palavras-Chaves: Diabetes Mellitus, Plantas Medicinais, Hipoglicemiante.

ABSTRACT
Diabetes Mellitus (DM) represents a public health problem with an increasing increase.
It is a metabolic disorder with different etiology that affects people of all ages. It is
classified as type 1 and 2 and gestational diabetes, in addition to other specific types. The
pathology is characterized by a glycemic imbalance associated with the absence of insulin
production or inadequate secretion of this hormone, causing complications such as
chronic degeneration and organ failure. Therefore, medicinal plants have been widely
used as a therapeutic alternative for the treatment of this disease, especially for its greater
accessibility, lower cost and high curative potential. The purpose of this research was to
investigate the medicinal plants used in the treatment of diabetes. To this end, a literature
review was carried out through scientific articles, dissertations and theses, on the subject,
available in the electronic databases SCIELO, LILACS and MEDLINE. Some medicinal
plants with a hypoglycemic effect are Buahinia forficata L., Baccharis trimera (Less.)
DC., Allium sativum L., Eucalyptus globulus, Phyllantus niruri, Cissus sicyoides L., Aloe
vera L., Marmodica cymbalaria. According to some theories, the main mechanism of
plant action is the inhibition of the sugar catalyst enzyme, especially by the activity of the
chemical constituents quercetin and canferol, with a consequent reduction in blood
glucose. Due to the low cost, effectiveness and less unwanted effects, the use of herbal
medicines and medicinal plants in the treatment of Diabetes Mellitus has become more
and more frequent. Despite this, its natural aspect does not exclude the possibility of
triggering toxicity, adverse reactions and / or drug interactions. Therefore, professional
monitoring is essential, mainly by pharmacists, seniors, the rational and safe use of these
therapeutic substances.

Keywords: Diabetes Mellitus, Medicinal Plants, Hypoglycemic.

1 INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus (DM) é definido como um problema de saúde pública, com
crescente aumento no número de casos, chegando a afetar milhares de pessoas em todo o
mundo. É uma desordem metabólica com diversas etiologias envolvidas, caracterizado
por hiperglicemia crônica, onde o organismo não produz ou não consegue secretar
adequadamente a insulina, que é produzida pelas células beta do pâncreas. Como
consequência desse distúrbio, estão às degenerações crônicas, falência de diversos
órgãos, resultantes do não controle da hiperglicemia. A patologia possui várias
classificações, dentre elas o tipo 1 (DM1) e 2 (DM2) e DM gestacional, além de existirem
outros tipos específicos associados à outras causas (FERREIRA et al., 2011).

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12875
ISSN: 2595-6825

No Diabetes Mellitus tipo1 (DM1), os mecanismos autoimunes envolvidos no


processo fisiopatológico destroem as células beta pancreáticas. Essa autodestruição de
células pode ocorrer tanto no início como após anos, antes mesmo do diagnóstico da
doença (FERREIRA et al.,2011). A patologia é considerada mais comum em crianças e
jovens adultos. Entretanto, pode desenvolver-se em qualquer idade, frequentemente antes
dos 20 anos (SESTERHEIM; SAITOVITCH; STAUB, 2007).
Os processos fisiopatológicos do Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), ocorrem devido
a dois mecanismos existentes, sendo eles a resistência à atividade da insulina e a
ineficiência das células beta em secretar níveis adequados desse hormônio. Com a
progressão da doença, ocorrerá um mau funcionamento das células beta pancreáticas,
devido à diminuição da síntese e secreção que acabam sendo comprometidas. Já no DM
gestacional (DMG), considerado também como uma desordem metabólica, compromete
a produção e a resistência à atividade da insulina, caracterizado por intolerância à glicose,
causando um desequilíbrio nos níveis glicêmicos, denominados de hiperglicemia
(FERREIRA et al., 2011).
O diagnóstico do Diabetes Mellitus baseia-se nas normas da Associação
Americana de Diabetes (ADA) tendo como critérios a verificação das alterações da
glicose plasmática de jejum ou após uma sobrecarga da glicose por via oral. Esses
critérios são baseados na glicose plasmática de jejum (8 horas) e através da sobrecarga
oral de 75g de glicose (Teste Oral de Tolerância à Glicose – TOTG) (GROSS et al., 2002).
As plantas medicinais são bastante empregadas como terapia alternativa para
tratamentos de diversas patologias, devido ao seu grande potencial terapêutico. Durante
muito tempo, essa prática de cuidado tradicional é utilizada e passada de geração para
geração através do conhecimento empírico (BADKE, et al., 2016). Apesar de o uso estar
relacionado ao conhecimento popular, sucessivamente elas são incluídas no
conhecimento científico (CARVALHO; CONCEIÇÃO, 2015). A busca por essa
alternativa pela população decorre não somente pelo efeito terapêutico das plantas, mas
também da dificuldade de acesso aos serviços de saúde e aos valores dos medicamentos
industrializados (JÚNIOR; PINTO; MACIEL, 2005).
Uma diversidade de plantas tem sido empregada no tratamento do Diabetes
Mellitus (DM). Estudos comprovaram que as mesmas reduzem os níveis glicêmicos,
devido alguns de seus constituintes químicos, servindo de base para novos agentes
hipoglicemiantes. Em contrapartida, alguns efeitos tóxicos dessas plantas poderão causar
grave hipoglicemia, se utilizadas irracionalmente (NEGRI, 2005).

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12876
ISSN: 2595-6825

A utilização de plantas medicinais para fins terapêuticos praticados sem


acompanhamento do profissional de saúde resulta num grande potencial de perigo para a
população, pois os princípios ativos dessas espécies podem causar interações com
medicamentos, ocasionar alterações laboratoriais, além de algumas apresentarem um alto
grau de toxicidade. Por isso, é fundamental a orientação do profissional da saúde,
enfatizando os possíveis riscos se utilizadas indevidamente e, assim, apresentando
melhores formas de utilização para fins terapêuticos (ZENI et al., 2017).
Neste sentido, de acordo com a resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF)
nº 477/2008, entre as muitas funções e atribuições do profissional farmacêutico está o de
promover o uso racional dessas plantas medicinais e fitoterápicos, a partir de ações
voltadas a divulgação, comunicação e orientação aos usuários. (RIBEIRO, 2013).
A pesquisa desenvolvida tem como principal objetivo apresentar uma revisão de
literatura, tendo como finalidade descrever as plantas medicinais com efeito
hipoglicemiante a partir da patologia descrita e o tratamento através dessas espécies
relatadas, com estudo comparativo na literatura científica.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 CLASSIFICAÇÃO E MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DO DIABETES
MELLITUS
De acordo com as normas de classificação definidas pela ADA (American
Diabetes Associations), o diabetes mellitus é dividido em quatro subtipos principais:
diabetes tipo 1 e 2, diabetes gestacional e outros tipos específicos (PAIVA, 2001).

Tabela 1 – Valores de referência para diagnóstico do DM recomendados pela ADA e SBD.


Exame Normal Pré-diabetes Diabetes
Glicemia de jejum < 100 100 a 125 ≥ 126
(mg/dL)
Glicemia 2 horas após < 140 140 a 199 ≥ 200
TOTG com 75 g de
glicose (mg/dL)
Hemoglobina glicada < 5,7 5,7 a 6,4 ≥ 6,5
(%)
Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019-2020.

2.1.1 DIABETES MELLITUS TIPO 1


O DM1 é um processo patológico autoimune e órgão-específico caracterizado pela
destruição das células betas pancreáticas responsáveis pela produção da insulina. Na
totalidade do diabetes mellitus, o DM1 está num percentual de 5 a 10% dos casos,

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12877
ISSN: 2595-6825

predominando em crianças e adolescentes, apesar de poder surgir em qualquer faixa


etária. A etiopatogenia neste tipo específico associa-se a fatores genéticos, inflamatórios
e ambientais. (SANTANA et al, 2018).
Este tipo de DM insulinodependente desencadeia elevação dos níveis glicêmicos
e distúrbios metabólicos, principalmente pela produção ou ação deficiente do hormônio
da insulina dentro do organismo. Concomitantemente a este fato, o paciente acometido
pode apresentar alterações como retinopatia, neuropatia, doença coronariana,
insuficiência arterial periférica, entre outras. (SESTERHEIM; SAITOVITCH; STAUB,
2007).

2.1.2 DIABETES MELLITUS TIPO 2


O DM tipo 2 ou não insulinodependente surge, especialmente, como consequência
de hábitos sedentários e da obesidade. Estudos apontam que essa característica pode ser
responsável pela maior susceptibilidade dos indivíduos em desenvolverem esta patologia.
Neste tipo de diabetes há incapacidade da insulina em desempenhar suas funções
normalmente. Dentre os problemas que podem surgir em seu detrimento estão
hiperglicemia crônica, metabolismo anormal dos lipídios, disfunções endoteliais, doença
arterial coronariana, entre outros. Quando associada a outros problemas, como a
hipertensão arterial sistêmica, problemas cardiovasculares e dislipidemias, representam
maior risco de mortalidade. (ARSA et al., 2009).

2.1.3 DIABETES MELLITUS GESTACIONAL


O diabetes mellitus gestacional (DMG) apresenta maior incidência em mulheres
predispostas geneticamente durante o período da gravidez, podendo surgir como
consequência dos mecanismos hiperglicêmicos dessa fase. Esse problema afeta
diretamente o ambiente de desenvolvimento do feto, aumentando a ocorrência das
malformações congênitas e dos partos prematuros em gestantes diabéticas.
(MENICATTI; FREGONESI, 2006).
Embora existam algumas hipóteses levantadas pela American Diabetes
Association, a causa exata dessa patologia permanece desconhecida. Dentre as ideias
propostas pela ADA encontram-se causa hormonal, visto que neste período ocorre a
produção de grande quantidade de hormônios importantes para o desenvolvimento fetal
(estrogênio, progesterona e somatotrofina), podendo interferir na ação da insulina ou
aumentar a resistência do organismo a ela; obesidade, que pode desencadear o DMG ou

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12878
ISSN: 2595-6825

DM2; e genética, pela atuação de alguns genes responsáveis pelo DM2, já que mulheres
que desenvolvem o diabetes gestacional são mais susceptíveis a este tipo específico.
(CASTILHO, 2008).
Nas gestantes que possuem o diabetes mellitus gestacional não controlado, podem
surgir complicações como rotura prematura de membranas (RPM), parto prematuro,
macrossomia fetal e feto com apresentação pélvica, além de complicações neonatais,
como hiperbilirrubinemia, retardo do crescimento intrauterino, policitemia,
hipocalcemia, entre outras. As manifestações clínicas frequentemente apresentadas no
DMG são polidipsia, poliúria, irritabilidade, fadiga, feridas cutâneas que custam a sarar e
formigamentos nas mãos e nos pés (COSTA; SANTOS; MENDONÇA, 2013).

2.1.4 OUTROS TIPOS ESPECÍFICOS DO DIABETES MELLITUS


As elucidações em relação à fisiopatologia do diabetes mellitus, destacam os seus
marcadores genéticos e mecanismo de ação como sendo responsáveis pela descoberta de
tipos específicos dessa doença, assim sendo incorporados na lista das patologias
específicas. A patogênese é decorrente da disfunção do pâncreas, onde as células beta
sofrem defeitos genéticos, ocasionando resistência à ação do hormônio insulina e diabetes
associadas a outras endocrinopatias (GROSS et al, 2002).

2.2 INSULINA E SEU MECANISMO DE AÇÃO


Os pacientes portadores do Diabetes Mellitus apresentam insuficiência na
produção adequada de insulina para atender as necessidades fisiológicas do organismo,
como regular os níveis de glicose no sangue, sendo dependentes da aplicação exógena
desse hormônio (BRAGANÇA. 1996).
A insulina é um hormônio anabólico proteico, composto por duas cadeias de
aminoácidos, A e B, que são interligadas entre si por pontes dissulfeto. Esse hormônio é
secretado pelas células β das ilhotas pancreáticas (BRAGANÇA, 1996).
O mecanismo de ação da insulina ocorre através da ligação com receptores
específicos da membrana celular, onde são encontrados em quase todos os tecidos dos
mamíferos. Esses receptores são glicoproteínas, que têm o papel atravessar a membrana
celular, sendo constituídos por duas unidades, uma extracelular, denominada de alfa (α)
e a outra, beta (β), além de uma membra proteica (tirosina cinase) transmembrana.
Posteriormente a sua ligação ao receptor de insulina, a atividade intrínseca da tirosina
quinase é ativada no receptor. Após essa ativação, o receptor de insulina tem como função

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12879
ISSN: 2595-6825

catalisar a fosforilação de outras proteínas, como proteínas solúveis IR (IRS1, IRS2, IRS3
e IRS4), servindo assim, de moléculas de encaixe para outras proteínas, contribuindo para
o processo de sinalização da insulina (COSTA, 2013).
Entretanto, quando há uma deficiência na ativação da sinalização da insulina,
ocorrerá uma diminuição no processo de estimulação da glicose pela insulina, acarretando
em hiperglicemia (COSTA, 2013).

2.3 DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS


No âmbito laboratorial, o diagnóstico do Diabetes Mellitus é confirmado a partir
de alguns testes. São considerados positivos aqueles pacientes que apresentarem glicemia
superior ou igual a 126 mg/dl (jejum de 8 horas); glicemia casual (coletada em qualquer
horário do dia, independente da última refeição) indicando valor glicêmico superior ou
igual a 200 mg/dl em pacientes apresentando sintomas característicos da doença como
poliúria, polidipsia, perda de peso repentinamente; glicemia superior ou igual a 200 mg/dl
após uma sobrecarga oral de 75 g de glicose (CARVALHO, 2011).
Pacientes podem ser considerados pré-diabéticos quando apresentarem os
seguintes valores: glicemia de jejum ≥100 mg/dl e ≤ 125 mg/dl; glicemia 2 horas após
uma sobrecarga de 75 g de glicose oral entre 140 mg/dl e 199 mg/dl. Portanto, esses
pacientes devem ser acompanhados pelo médico, onde os mesmo devem ser submetidos
a tratamentos preventivos, que incluirão mudanças nos hábitos alimentares (SOUSA et
al.,2012).

2.4 TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS


Para o tratamento do Diabetes Mellitus estão indicadas medidas não
farmacológicas como dieta e atividade física e, farmacológicas, onde são utilizados
hipoglicemiantes orais e em casos mais graves em que não se consegue controlar os níveis
glicêmicos, utiliza-se terapia com a insulina (CARVALHO, 2011).
A alimentação é um dos fatores mais importantes no controle dessa patologia. A
quantidade de carboidratos deve ser reduzida na alimentação. Pois, são macronutrientes
que mais comprometem a glicemia, onde quase toda quantidade ingerida transforma-se
em glicose. Segundo estudos, alguns carboidratos não refinados, com fibra natural intacta
possuem muitos benefícios em comparação com os refinados, sendo detentores de um
menor índice glicêmico, além de proporcionar saciedade. Para a obtenção desses
nutrientes é importante o consumo de fibras hidrossolúveis, sendo responsável pela

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12880
ISSN: 2595-6825

redução da absorção da glicose pós-prandial, além de redução dos níveis de triglicerídeos


e LDL-colesterol (GIOVANNINI, 2018).
O controle de determinadas patologias como hipertensão e hipercolesterolemia,
podem contribuir para redução de complicações macrovasculares do diabetes, que
representa 65% no total de mortes desses portadores (CARVALHO, 2011).
A utilização de hipoglicemiantes orais é uma opção quando a dieta e exercícios
físicos não forem satisfatórios na redução dos níveis glicêmicos. Esses fármacos podem
causar hipoglicemia e reações adversas que podem complicar o diabetes (CARVALHO,
2011).

2.5 IMPORTÂNCIA DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS


O uso de plantas medicinais por todos os povos é descrito desde os tempos mais
antigos. Dentre as suas muitas aplicações estava a busca por soluções ao mal-estar e a
cura de doenças. Além disso, o conceito de “natural” exerceu forte influência para que o
consumo dessas plantas aumentasse ao longo das últimas décadas, uma vez que, para
muitas pessoas, tratam-se de vegetais livres de constituintes químicos e que não trazem
perigos a sua saúde. Desse modo, a partir dos conhecimentos tradicionais a respeito
desses vegetais, surgiram os interesses comerciais e científicos, no intuito de avaliar e
validar sua eficácia e segurança. (MENGUE; MENTZ; SCHENKEL, 2001).
A Fitoterapia é uma prática terapêutica, definida como ciência que estuda as
plantas medicinais e suas aplicações em benefício da população, com a finalidade de
promover cura e tratamento de diversas doenças (SILVA, 2017).
No Brasil, a biodiversidade dessas plantas com potencial terapêutico é
considerada uma das maiores do mundo, com cerca de 55 mil espécies catalogadas,
resultante de uma mistura entre as culturas africana, europeia e indígena, sendo esta
última a precursora na introdução de plantas medicinais como terapia alternativa. (MELO
et al., 2007).
A busca da população por medicamentos fitoterápicos é crescente, principalmente
por apresentarem menos efeitos adversos, por se tratar de uma terapia natural e apresentar
baixo custo em comparação aos tratamentos utilizando medicamentos sintéticos.
(IBIAPINA et al., 2014).
São muitas as maneiras para preparação de plantas medicinais, como maceração
e infusão. (SILVA, 2017). Entretanto, apesar de serem consideradas substâncias naturais,
seu uso ou de seus derivados, de modo irracional pode provocar danos à saúde. Por esse

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12881
ISSN: 2595-6825

motivo, a utilização deve ser com muita cautela, sob orientação profissional. (DE
SANTANA et al., 2018).

2.6 POLÍTICA NACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS


O Decreto n°5.813, de 22 de junho de 2006, intitulado como Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi criado no intuito de inserir a Fitoterapia no Brasil,
a partir de uma política regulamentada por diretrizes que contemplam o desenvolvimento
de ações voltadas a promoção segura, uso racional e consumo sustentável de plantas e
fitoterápicos. (SILVA, 2017).
Entre essas plantas, já estão inclusas na Relação Nacional de Plantas Medicinais
de Interesse ao SUS (Renisus), que lista espécies com potencial para gerar produtos de
interesse ao Sistema único de Saúde, alguns vegetais com efeito hipoglicemiante, dentre
eles a pata-de vaca (Bauhinia forficata Link.), o melão-amargo (Momordica charantia
Link.) e picão-preto (Bildes pilosa Link.). (BARBOSA, 2019).
Neste sentido e com o objetivo de resgatar práticas milenares, baseadas nos
conhecimentos empíricos e científicos, como forma de tratamento e cura de doenças, a
Fitoterapia foi inserida como um modelo de terapia alternativa no SUS, designando os
profissionais de saúde como responsáveis por aplicar seus conhecimentos e técnicas em
benefício da população, tendo a ANVISA como entidade regulamentadora de plantas
medicinais e fitoterápicos. (MATSUCHITA; MATSUCHITA, 2015; SILVA, 2017).

2.7 PLANTAS MEDICINAIS COM INDICAÇÕES PARA O TRATAMENTO DO


DIABETES
Uma grande variedade de plantas tem sido aplicada no tratamento do diabetes
mellitus e de suas complicações, em virtude do efeito hipoglicemiante desempenhado por
seus constituintes químicos. Em contrapartida, nem sempre a hipoglicemia surge como
atividade terapêutica, mas como efeito colateral produzido pela toxicidade desse produto
natural. Outras vezes, pode ocasionar acidentes hipoglicêmicos, especialmente se
utilizadas de maneira inadequada. Por esse motivo, devem ser usadas com cautela e
orientação profissional, dando sempre atenção para identificação correta da planta, parte
utilizada, método de preparação, dosagem, interações e contraindicações. (VOLPATO et
al., 2002).
O mecanismo de ação dessas plantas hipoglicemiantes ocorre pelo
desencadeamento de fatores como estimulação das células beta pancreáticas com

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12882
ISSN: 2595-6825

consequente aumento da liberação do hormônio da insulina; elevação do consumo de


glicose pelos tecidos e órgãos; maior número e sensibilidade do sítio que funciona como
receptor da insulina, entre outros. (NEGRI, 2005).

Tabela 1 – 8 espécies de plantas medicinais indicadas para o tratamento do Diabetes Mellitus


Família Nome científico Nome popular
Fabaceae Bauhinia forficata L. Pata-de-vaca
Asteraceae Baccharis trimera (Less.) DC. Carqueja
Liliaceae Allium sativum L. Alho
Myrtaceae Eucalyptus globulus Eucalipto
Phyllanthaceae Phyllanthus niruri Quebra-pedra
Vitaceae Cissus sicyoides L. Insulina
Asphodelaceae Aloe vera L. Babosa
Cucurbitaceae Marmodica cymbalaria Melão de São Caetano

Fonte: Adaptado pelo próprio autor.

2.7.1 PATA-DE-VACA (Bauhinia forficata L.)


A planta medicinal Pata-de-vaca, pertencente à família Fabaceae, é amplamente
utilizada pela sociedade a partir de preparações caseiras para o tratamento de algumas
doenças, dentre elas o Diabetes Mellitus. É composta por uma variedade de constituintes
químicos, especialmente flavonoides e terpenos, que se distribuem pelos diferentes
órgãos da planta e podem sofrer influência de fatores como clima e localização
geográfica. (DA SILVA, 2016).

Figura 1: Folha de B. forficata

Fonte: TONELLI, 2019.

Sua utilização pela população para o controle do diabetes ocorre em grande parte
a partir do extrato aquoso das suas folhas e raízes. Estudos realizados em camundongos
normoglicêmicos, ou seja, em equilíbrio, e hiperglicêmicos, aplicando esse extrato

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12883
ISSN: 2595-6825

aquoso, apesar de não demonstrar reparação tecidual consequente desta patologia,


evidenciou o ganho e também a recuperação do peso nos camundongos que apresentavam
diabetes. Além disso, constituintes químicos como a canferitrina e o canferol, flavonoides
que fazem parte da composição da Pata-de-vaca, demonstraram resultados promissores
para ação hipoglicemiante. (DE PONTES et al., 2017).
Quanto ao mecanismo de ação dessa planta, algumas teorias apontam que pode
ser atribuído ao seu potencial de inibição da enzima catalisadora dos açúcares,
especialmente pela atividade dos constituintes químicos quercetina e canferol,
consequentemente reduzindo a glicemia do sangue. (DE PONTES et al., 2017; DA
SILVA, 2016).

2.7.2 CARQUEJA (Baccharis trimera)


A carqueja é uma planta amplamente utilizada na medicina e produção de
medicamentos fitoterápicos. É composta principalmente por terpenoides e flavonoides,
tendo este último como metabólito secundário em maior quantidade e consequentemente
maior potencial terapêutico. Possui inúmeras aplicações medicinais, tais como analgésica,
antioxidante, antiviral, citotóxica, gastroprotetora, antidiabética, entre outros. (KARAM
et al., 2013).

Figura 2: Arbusto e flores da B. trimera.

Fonte: KAUT, 2013.

Para análise de seu efeito hipoglicemiante foram realizados alguns estudos a partir
de seu extrato aquoso, aplicando durante sete dias em ratos diabéticos. A partir desses
testes validou-se sua ação antidiabética. (CECÍLIO et al., 2008).

2.7.3 ALHO (Allium sativum L.)


O alho é um tipo de hortaliça e planta comestível utilizado no tratamento do
diabetes mellitus por apresentar compostos químicos que lhe conferem ação
hipoglicemiante. Outras atividades são efeito antioxidante, anti-hipertensivo e

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12884
ISSN: 2595-6825

cardioprotetor. Na sua composição encontram-se os chamados compostos


organossulfurados como Ajoeno, Tiosulfato e Aliina, sendo este último o principal
responsável pela atividade hipoglicemiante e encontrando-se em maior abundância. (DE
OLIVEIRA et al., 2018; KISS et al, 2006).

Figura 3: Flores do A. sativum.L.

Fonte: GOUVEIA; SIMIONATO, 2018.

O consumo do bulbo ou da cápsula de alho permite que o constituinte químico


aliina entre em contato com uma enzima presente no organismo denominada aliinase, que
a converte em alicina, uma espécie de antibiótico natural extraído dessa planta. (DE
LIMA et al., 2018).
Um estudo realizado durante 24 semanas, em 60 pessoas que possuíam DM2,
demonstrou diminuição significativa da glicemia em jejum do grupo tratado com cápsulas
de alho de 300mg em comparação ao grupo placebo. Apesar dos estudos, o mecanismo
de ação ainda não está bem elucidado, mas acredita-se que atua pela elevação da secreção
de insulina pelo pâncreas, especialmente pela ação da alicina. (DE OLIVEIRA et al,
2018).

2.7.4 EUCALIPTO (Eucalyptus globulus)


O eucalipto é uma planta medicinal muito utilizada pela sociedade na forma de
chás e óleos essenciais. De acordo com alguns estudos, seus principais constituintes
químicos são os flavonoides. Experimentos realizados em camundongos, com a
administração dessa planta em forma de decocto, verificaram atividade hipoglicemiante
em virtude da diminuição da hiperglicemia. Hipóteses sugerem que essa ação ocorre
devido à estimulação da secreção do hormônio da insulina. Outro experimento através do
extrato aquoso do eucalipto apresentou resultados satisfatórios em ratos diabéticos,

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12885
ISSN: 2595-6825

diminuindo a perda de peso quando comparados com os ratos do grupo controle. Os


estudos demonstram potencial promissor da planta como terapia alternativa no tratamento
do Diabetes Mellitus. (CECÍLIO et al., 2008; NEGRI, 2005).

Figura 4: Folhas do E. globulus.

Fonte: GOUVEIA; SIMIONATO, 2018.

2.7.5 QUEBRA-PEDRA (Phyllanthus niruri)


A quebra-pedra caracteriza-se como planta medicinal por suas muitas
propriedades e aplicações terapêuticas, possuindo atividade antibacteriana, antioxidante,
anti-inflamatória e antidiabética, além de ser usualmente aplicada para tratamento de
algumas complicações renais e urinárias. Seus constituintes químicos variam entre
compostos fenólicos, alcaloides e lignanas. Quanto ao seu efeito hipoglicemiante, um
estudo realizado no período de dez dias em portadores do Diabetes Mellitus,
administrando preparações feitas a partir de seus extratos, envolvendo todas as partes da
planta, indicou efeito antidiabético em seres humanos, além de diurético e hipotensivo.
(UGALDE; ETHUR, 2019).

Figura 5: Folhas do P. niruri.

Fonte: SIQUEIRA et al., 2012.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12886
ISSN: 2595-6825

2.7.6 INSULINA (Cissus sicyoides)

Figura 6: Planta do C. sicyoides.

Fonte: LEAL, 2013.

A insulina vegetal é um tipo de planta com potencial terapêutico aplicada no


tratamento de diversas patologias, especialmente por possuir atividade anti-inflamatória,
anti-hipertensiva, antitérmica, antidiabética, entre outros. Os chás feitos com suas partes
aéreas são aplicados popularmente como terapia alternativa para o Diabetes Mellitus tipo
2. (PESSINI; USHIROBIRA, 2006). Estudos envolvendo o extrato aquoso dessa planta
administrado em ratos demonstrou ação hipoglicemiante em virtude de seus compostos
químicos ativos flavonoides. (SOUZA, 2019).

2.7.7 BABOSA (Aloe vera)


A planta Aloe vera, ou babosa, como é mais conhecida, tem sido amplamente
utilizada na sociedade graças as suas inúmeras propriedades terapêuticas, dentre elas a
atividade hipoglicemiante. Esse efeito foi verificado em ratos que possuíam diabetes tipo
1 e 2, quando em contato com seu extrato aquoso, feito a partir de suas folhas. O
experimento demonstrou, inclusive, maior efeito antidiabético no DM2 que a
glibenclamida, medicamento sintético aplicado com esse fim. Em contrapartida, outro
estudo realizado com o gel das suas folhas observou efeito hiperglicemiante. Neste caso,
apenas o extrato dessa parte da planta sem o gel pode ser aplicado, com efeito
antidiabético. (NEGRI, 2005).

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12887
ISSN: 2595-6825

Figura 7: Plantas da A. vera.

Fonte: VEGA et al., 2005.

2.7.8 MELÃO DE SÃO CAETANO (Momordica cymbalaria)

Figura 8: Frutos curtos e longos da M. cymbalaria.

Fonte: GUARNIZ, 2020.

O melão de São Caetano, nome popular para planta medicinal Momordica


cymbalaria, pertence a uma família vegetal conhecida como Cucurbitaceae, e é bastante
utilizada pela população por suas propriedades antidiabéticas. Um experimento observou
a propriedade hipoglicemiante dessa planta a partir do pó de seu fruto administrado
durante 15 dias em ratos. Outro estudo utilizando o seu extrato aquoso, também do fruto,
demonstrou alta redução da glicose plasmática num período de três horas após sua
administração em ratos hiperglicêmicos, em contrapartida não se observou hipoglicemia
em ratos não diabéticos. Acredita-se que seu mecanismo de ação está relacionado à
estimulação de células beta pancreáticas e pelo melhoramento da ação da insulina no
organismo. (PESSINI; USHIROBIRA, 2006).

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12888
ISSN: 2595-6825

2.8 TOXICIDADE DAS PLANTAS MEDICINAIS


A utilização de plantas medicinais com fins terapêuticos é uma das práticas mais
antigas da humanidade. O conceito de que esses vegetais são isentos de reações adversas
e efeitos tóxicos, por serem considerados “naturais” contribuiu para que essa terapêutica
passasse a ser utilizada de forma ampla no tratamento de diversas patologias. O uso
milenar dessas plantas, ao longo dos anos, vem comprovando que determinadas espécies
possuem um nível elevado de toxicidade (RODRIGUES et al., 2011).
No entanto, as plantas medicinais possuem muitos efeitos terapêuticos. São
bastante empregadas pela população de forma empírica para cura, tratamento e prevenção
de diversas patologias. Contanto, o uso indiscriminado, sem o devido conhecimento pode
acarretar em danos graves e até a morte. Algumas espécies possuem efeitos teratogênicos,
embriotóxicos e abortivos, onde os constituintes químicos presentes nessas plantas
atravessam a placenta, chegando ao feto, causando um desses efeitos mencionados. O que
são contraindicadas na gravidez (RODRIGUES et al., 2011).
Os estudos para avaliar o nível de toxicidade das plantas envolvem animais, mas
nem sempre esse modelo de toxicidade se reproduz no organismo humano. Em muitos
casos de intoxicação pelos constituintes desses vegetais ocorrem por falta de informações
sobre a correta identificação botânica, partes e quantidades utilizadas (DUARTE et al.,
2018).
Por apresentarem diversas substâncias químicas, as plantas apresentam variadas
atividades biológicas, podendo ser relevante para uma terapêutica eficaz ou tóxica. Essas
espécies vegetais produzem metabólitos secundários que podem causar sérios distúrbios
ao organismo, seja pelo contato, pela inalação ou ingestão (CAMPOS et al., 2016).
Portanto, a toxicidade das plantas medicinais pode estar relacionada a fatores
como armazenamento do material vegetal, a forma de uso, a dosagem, interações com
medicamentos ou utilizadas conjuntamente com outros vegetais. Além disso, fatores
como contaminação por toxinas fúngicas, pesticidas, acabam contribuindo para a
toxicidade da planta (CAMPOS et al., 2016). Algumas plantas utilizadas para a redução
dos níveis glicêmicos são consideradas tóxicas, apresentando hepatotoxicidade e bloqueio
β- adrenérgico (SILVA, 2017).

2.9 PAPEL DO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO FARMACÊUTICA


Fatores como baixo custo, efetividade significativa e menos efeitos indesejados
tem tornado cada vez maior o uso de medicamentos fitoterápicos e plantas medicinais.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12889
ISSN: 2595-6825

Entretanto, seu aspecto natural não exclui a possibilidade de desencadearem toxicidade,


reações adversas e/ou interações medicamentosas. Sendo assim, o acompanhamento
profissional e capacitado é essencial, principalmente pelos farmacêuticos, visando
assegurar o uso racional e ao mesmo tempo seguro dessas substâncias terapêuticas.
(TRINDADE et al., 2019).
Neste sentido, é fundamental que se adotem práticas de atenção farmacêutica, a
fim de prevenir, identificar e resolver problemas relacionados ao uso das plantas
medicinais e fitoterápicos. Essa atenção centrada no paciente, objetiva promover a
eficácia no tratamento medicamentoso, diminuindo os riscos à saúde e os erros, e ao
mesmo tempo garantindo a qualidade de vida. (XAVIER; DA SILVA, 2018).
O farmacêutico precisa ser capacitado e dotado de informações e conhecimentos
técnico-científicos associados aos saberes tradicionais e populacionais a respeito dessas
plantas medicinais, sempre promovendo a conscientização dos pacientes quanto ao seu
uso, analisando e buscando prevenir ou melhorar a terapia a partir da correção de
interações medicamentosas em caso de administração incorreta pelos usuários,
diminuindo toxicidade e riscos à saúde. Por essa razão é que se torna tão importante a
presença desse profissional nesta prática, realizando as orientações do modo mais correto
e seguro possível. (TRINDADE et al., 2019).

3 CONCLUSÃO
As plantas medicinais são utilizadas pela população como alternativa para o
tratamento do Diabetes Mellitus. Essa prática existe há muito tempo, mas tem aumentado
consideravelmente nas últimas décadas, como um reflexo dos estudos científicos que
comprovam os efeitos desses vegetais no organismo, a partir de suas propriedades e
constituintes químicos.
Embora o efeito hipoglicemiante das plantas medicinais não esteja completamente
elucidado em todas elas, estudos sugerem que seu mecanismo de ação antidiabético pode
ser explicado por seu potencial estimulador de células beta pancreáticas, que favorecem
o aumento da liberação do hormônio da insulina; por sua capacidade em elevar o consumo
da glicose pelos tecidos e órgãos; ou ainda, por aumentar o número e sensibilidade dos
receptores de insulina.
Considerando essas informações, a fitoterapia, regulamentada pela Anvisa, surge
como terapia alternativa e ciência que estuda essas plantas medicinais e suas aplicações
na população, a fim de promover a cura e o tratamento de inúmeras doenças, por meio de

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12890
ISSN: 2595-6825

seu consumo seguro, racional e sustentável. Devendo, portanto, ser orientada mediante
atuação de profissional da saúde capacitado, especialmente o farmacêutico.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12891
ISSN: 2595-6825

REFERÊNCIAS

ARSA, Gisela et al. Diabetes Mellitus tipo 2: Aspectos fisiológicos, genéticos e formas
de exercício físico para seu controle. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum, v. 11,
n. 1, p. 103-11, 2009.

BADKE, Marcio Rossato et al. saber popular: uso de plantas medicinais como forma
terapêutica no cuidado à saúde. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 6, n. 2, p. 225-234,
2016.

BARBOSA, Luisa Carla Santos. Plantas Medicinais no Tratamento Suplementar de


Diabetes Mellitus Presente na Renisus: Uma Revisão de Literatura. PLAMEVASF, 2019.

BRAGANÇA, L. A. R. Plantas medicinais antidiabéticas: uma abordagem


multidisciplinar. Niterói: EDUFF, v. 278, 1996.

CASTILHO, Sandra Aparecida Rabelo. Diabetes mellitus gestacional. Trabalho de


CAMPOS, S. C. et al. Toxicidade de espécies vegetais. Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, v. 18, n. 1, p. 373-382, 2016.

Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia)-Faculdade Integrado INESUL, Londrina-


PR, 2008.

CARVALHO, Antonia Patrícia da Silva; DA CONCEIÇÃO, Gonçalo Mendes.


Utilização de plantas medicinais em uma área da estratégia de saúde da família, Caxias,
Maranhão. Enciclopédia Biosfera, v. 11, n. 21, p. 3477-88, 2015.

CECÍLIO, Alzira B. et al. Espécies vegetais indicadas no tratamento do diabetes. Revista


Eletrônica de Farmácia, v. 5, n. 3, 2008.

COSTA, Fabiana Amâncio; SANTOS, Naira Cristina; MENDONÇA, Brenda de O. M.


Consequências da diabetes gestacional no binômio mãe-filho. Revista Eletrônica
Faculdade Montes Belos, v. 6, n. 1, 2013.

COSTA, Mariana Socorro Cunha. RESISTÊNCIA À INSULINA, OBESIDADE E


SÍNDROME METABÓLICA. 2013.37 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Tese), Curso
de Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2013.

DA SILVA, Ana Paula Paiva. Análise do remédio artesanal “tintura de patade-vaca”


tendo a tintura de Bauhinia monandra Kurz como referência. 2016. Dissertação –
Universidade Federal do Pará, Pará, 2016.

DE CARVALHO, Luciana Silva. Plantas Medicinais no Tratamento de Diabetes


Mellitus. 2011.34 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Tese), Curso de veterinária,
Universidade Federal de Goiás (UFG), 2011.

DE LIMA, Nairla Nayara Monteiro Félix et al. Allium sativum (alho): tratamento
alternativo da diabetes mellitus. Mostra Científica da Farmácia, v. 4, n. 2, 2018.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12892
ISSN: 2595-6825

DE OLIVEIRA, Anita Ferreira et al. Efeito hipoglicemiante do alho (Allium sativum L.)
no diabético. VI ENCONTRO DE MONITORIA E INICIAÇÃO CIENTÍFICA, XIV
semana acadêmica, 2018.

DE PONTES, Maria Alana Neres et al. Bauhinia forficata L. e sua a ação


hipoglicemiante. ARCHIVES OF HEALTH INVESTIGATION, v. 6, n. 11, 2017.

DE SANTANA, Rebeca Chrístel Dos Santos Félix. Controle glicêmico de portadores de


diabetes mellitus tipo 1 atendidos em ambulatório específico no estado de sergipe: dados
de 2010 e 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (TESE) - UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE - CCBS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA- DME - Aracaju-SE 2018.

DUARTE, Ana Flávia Schvabe et al. O uso de plantas medicinais durante a gravidez e
amamentação. Visão Acadêmica, v. 18, n. 4, 2018.
FERREIRA, Leandro Tadeu et al. Diabetes melito: hiperglicemia crônica e suas
complicações. Arquivos Brasileiros de Ciências da Saúde, v.36, n. 3, p. 182-8, Set/Dez
2011.

GIOVANNINI, Elaine Cristina et al. Consumo de Carboidratos x Diabetes Mellitus Tipo


2: uma revisão bibliográfica. Revista Higei@-Revista Científica de Saúde, v. 2, n. 3,
2018.

GOUVEIA, Gisele Damian Antonio; SIMIONATO, Cesar. Memento Fitoterápico para


prática Clínica na AB. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da
Saúde. Núcleo Telessaúde Santa Catarina. 2019.

GROSS, Jorge L. et al. Diabetes melito: diagnóstico, classificação e avaliação do controle


glicêmico. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 46, n. 1, p. 16-26,
2002.

GUARNIZ, Willian Antônio Sagastegui. Melão-de-são-caetano do Nordeste do Brasil


(Momordica charantia l.): estudo farmacognóstico e microbiológico integrado ao estudo
químico. Universidade Federal do Ceará, Tese, 2020.

IBIAPINA, Waléria et al. Inserção da Fitoterapia na atenção primária aos usuários do


SUS. Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança, v. 12, n. 1, p. 60-70, 2014.

JUNIOR, Valdir F.; PINTO, Angelo C.; MACIEL, Maria Aparecida M. Plantas
medicinais: cura segura. Química nova, v. 28, n. 3, p. 519-528, 2005.

KARAM, Thaysa Ksiaskiewcz et al. Carqueja (Baccharis trimera): utilização terapêutica


e biossíntese. Revista Brasileira de plantas medicinais, v. 15, n. 2, p. 280-286, 2013.

KISS, A. et al. Efeito do extrato aquoso de Allium sativum L. sobre parâmetros


bioquímicos de ratas com diabete induzido por Streptozotocin. Revista Brasileira de
Plantas Medicinais, p. 24-30, 2006.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12893
ISSN: 2595-6825

LEAL, Adriana da Silveira. Avaliação de infusos de folhas de insulina vegetal (Cissus


sicyooides L.) desidratada em ratos wistar sadios e com diabetes mellitus induzida. UFRJ,
2013.

MATSUCHITA, Hugo Leonardo Pereira; MATSUCHITA, Ana Silvia Pereira. A


Contextualização da Fitoterapia na Saúde Pública. Uniciências, v. 19, n. 1, 2015.

MELO, Joabe Gomes de et al. Qualidade de produtos a base de plantas medicinais


comercializados no Brasil: castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum L.), capim-limão
(Cymbopogon citratus (DC.) Stapf) e centela (Centella asiatica (L.) Urban). Acta
Botanica Brasilica, v. 21, n. 1, p. 27-36, 2007.

MENGUE, S. S.; MENTZ, L. A.; SCHENKEL, E. P. Uso de plantas medicinais na


gravidez. Revista brasileira de Farmacognosia, v. 11, n. 1, p. 21-35, 2001.

MENICATTI, Maurício; FREGONESI, Cristina Elena Prado Teles. Diabetes


Gestacional: Aspectos fisiopatológicos e tratamento. Arquivos de Ciências da Saúde da
UNIPAR, v. 10, n. 2, 2006.

NASCIMENTO, Natália Nogueira. Avaliação dos efeitos do extrato de Baccharis trimera


(carqueja) sobre parâmetros metabólicos e de estresse oxidativo em modelo de diabetes
melito tipo 1 induzido por aloxano em ratas. UFOP, 2013.

NEGRI, Giuseppina. Diabetes melito: plantas e princípios ativos naturais


hipoglicemiantes. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, Brazilian Journal of
Pharmaceutical Sciences vol. 41, n. 2, abr./jun., 2005.

PAIVA, Clara. Novos critérios de diagnóstico e classificação da diabetes


mellitus. Medicina Interna, v. 7, n. 4, p. 234-38, 2001.

PESSINI, GREISIELE LORENA; USHIROBIRA, TÂNIA MARA ANTONELLI.


Plantas medicinais no tratamento do Diabetes Mellitus. REVISTA UNINGÁ, v. 8, n. 1,
2006.

RIBEIRO, Dayane Affonso et al. Estudo exploratório sobre a formação do profissional


farmacêutico na área de plantas medicinais e fitoterápicos em universidades públicas e
privadas do Estado do Rio de Janeiro. Fiocruz, 2013.

RODRIGUES, H. G. et al. Efeito embriotóxico, teratogênico e abortivo de plantas


medicinais. Revista brasileira de plantas medicinais, v. 13, n. 3, p. 359-366, 2011.

SANTANA, Martin Dharlle Oliveira et al. O Poder das Plantas Medicinais: uma Análise
Histórica e Contemporânea sobre a Fitoterapia na visão de Idosas. Multidebates, v. 2, n.
2, p. 10-27, 2018.

SESTERHEIM, Patrícia; SAITOVITCH, David; STAUB, Henrique L. Diabetes mellitus


tipo 1: multifatores que conferem suscetibilidade à patogenia auto-imune. Scientia
Medica, Porto Alegre, v. 17, n. 4, p. 212-217, out./dez. 2007.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021
Brazilian Journal of Health Review 12894
ISSN: 2595-6825

SIQUEIRA et al. O quebra-pedra e suas propriedades medicinais. Centro de Informações


sobre Medicamentos Plantas Medicinais e Tóxicas. 2012.

SILVA, Francinaldo Araújo. Tratamento do diabetes mellitus tipo 2 através do uso de


plantas medicinais. 2017. 41 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Tese), Curso de
Farmácia, Faculdade de Educação e Meio Ambiente - FAEMA, Rondônia, 2017.

SOUZA, Camila Furtado de et al. Pré-diabetes: diagnóstico, avaliação de complicações


crônicas e tratamento. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 56, n.
5, p. 275-284, 2012.

SOUSA, Larissa da Silva dos Santos. Conhecimento e prática de profissionais de atenção


básica sobre plantas medicinais e fitoterápicos no tratamento de hipertensão e diabetes
em município do Recôncavo da Bahia. 2019.

TONELLI, Carlos André. Avaliação da eficácia clínica de cápsulas contendo extrato


padronizado de Bauhinia forficata Link (pata-de-vaca) em pacientes diabéticos. 2019.

TRINDADE, Marianne Teixeira et al. Atenção farmacêutica na fitoterapia. ANAIS


SIMPAC, v. 10, n. 1, 2019.

UGALDE, Rita; ETHUR, Luciana Zago. QUEBRA-PEDRA (PHYLLANTHUS


NIRURI L.)-IMPORTÂNCIA, COMPOSTOS BIOATIVOS E USO
MEDICINAL. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 11, n. 2,
2019.

VEGA G, A.; AMPUERO C, N.; DIAZ N, L. El. Aloe vera (Aloe barbadensis miller)
como componente de alimentos funcionales. 32 (3): 208-214. 2005. Scielo, 2005.

VOLPATO, G. T. et al. Revisão de plantas brasileiras com comprovado efeito


hipoglicemiante no controle do Diabetes mellitus. Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, p. 35-45, 2002.

XAVIER, Adriana Tosta; DA SILVA NUNES, Jucélia. Tratamento de diabetes mellitus


com plantas medicinais. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente,
v. 9, n. edesp, p. 603-609, 2018.

ZENI, Ana Lúcia Bertarello et al. Utilização de plantas medicinais como remédio caseiro
na Atenção Primária em Blumenau, Santa Catarina, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v.
22, p. 2703-2712, 2017.

Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p.12873-12894 may./jun. 2021

Você também pode gostar