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N.º119 . 2015
enfermagem em revista
7/03/2016
Submissão de
Comunicações
QUESTÕES EM DEBATE:
• Que contributos e inovações trazem as guidelines de pé diabético de 2015?
• Como os pensos controlam os biofilmes nas feridas complexas infetadas?
• Usa-se sempre pensos absorventes em feridas exsudativas? Organização
• Circuito de introdução de materiais e produtos para tratamento de feridas: do Infarmed/
/ACSS/Comissões de escolha
• Que pensos antimicrobianos existem no mercado em Portugal?
• Quais as Bundles – “Feixe de Intervenções” – de Prevenção de Infeção de Local
Cirúrgico?
• Infecções da pele e tecidos moles: uma abordagem diferencial
• Ostomias: dos fundamentos à prática
Secretariado: Parque Empresarial de Eiras, lote 19, 3020-265 Coimbra | E-mail: suporte@sinaisvitais.pt | www.sinaisvitais.pt | T: 239 801 020 F: 239 801 029 • suporte@sinaisvitais.pt
SUMÁRIO
SUMÁRIO
P04 EDITORIAL
P06 ESPECIAL
ESPECIAL: VI CONGRESSO INTERNACIONAL GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS: DA DÚVIDA NASCE O
CONHECIMENTO
P11 ESPECIAL
CONFERÊNCIA - SÓ A PELE DA PESSOA IDOSA ESTÁ ENVELHECIDA? INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM
DIRIGIDAS À PESSOA COM PELE ENVELHECIDA
P16 ESPECIAL
NEM TODAS AS LESÕES NA REGIÃO SAGRADA SÃO ÚLCERAS POR PRESSÃO. O CASO DAS DAI. QUE
CREMES E MATERIAIS DE PENSO NÃO SÃO RECOMENDADOS?
P19 ESPECIAL
QUAIS OS ANTISSÉPTICOS QUE DEVO USAR? QUAIS OS MAIS CITOTÓXICOS E OS DE NOVA GERAÇÃO?
P21 ESPECIAL
O MEL NO TRATAMENTO DE FERIDAS 3
P27 ESPECIAL
AVALIAÇÃO E CONTROLO DA DOR NO DOENTE COM FERIDA BFOOD- ANA: A IMPORTÂNCIA DA
NUTRIÇÃO NO TRATAMENTO DAS FERIDAS COMPLEXAS
P35 ESPECIAL
Larvaterapia já comercializada em Portugal?
P37 ESPECIAL
UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GORDOS HIPEROXIGENADOS NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DE PRESSÃO
P47 ESPECIAL
TERAPIA DE PRESSÃO NEGATIVA: EXECUÇÃO DE TRATAMENTO
FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃO Formasau, Formação e Saúde, Lda. Parque Empresarial de Eiras, Lote 19, Eiras - 3020-265 Coimbra T 239 801 020 F 239 801 029 CONTRIBUINTE 503 231
533 CAPITAL SOCIAL 21.947,90 € DIRECTOR António Fernando Amaral DIRECTORES-ADJUNTOS Carlos Alberto Margato / Fernando Dias Henriques EDITORES Arménio Guardado Cruz / João
Petetim Ferreira / José Carlos Santos / Paulo Pina Queirós / Rui Manuel Jarró Margato ASSESSORIA CIENTÍFICA Ana Cristina Cardoso / Arlindo Reis Silva / Daniel Vicente Pico / Elsa Caravela
Menoita / Fernando Alberto Soares Petronilho / João Manuel Pimentel Cainé / Luís Miguel Oliveira / Maria Esperança Jarró / Vitor Santos RECEPÇÃO DE ARTIGOS Célia Margarida Sousa Pratas
CORRESPONDENTES PERMANENTES REGIÃO SUL Ana M. Loff Almeida / Maria José Almeida REGIÃO NORTE M. Céu Barbiéri Figueiredo MADEIRA Maria Mercês Gonçalves COLABORADORES
PERMANENTES Maria Arminda Costa / Nélson César Fernandes / M. Conceição Bento / Manuel José Lopes / Marta Lima Basto / António Carlos INTERNET www.sinaisvitais.pt E-MAIL suporte@
sinaisvitais.pt ASSINATURAS Célia Margarida Sousa Pratas INCLUI Revista de Investigação em Enfermagem (versão online) - Distribuição Gratuita PERIOCIDADE Trimestral FOTOGRAFIA 123rf©
NÚMERO DE REGISTO 118 368 DEPÓSITO LEGAL 88306/ 95 ISSN 0872-8844
EDITORIAL
EDITORIAL
ligadas a um melhor agir ético. Para haver um saber partilhado! Tivemos, também, a
um processo de tomada de decisão ético preocupação de trazer as novidades até vós,
juntam-se alguns antecedentes da decisão: até nós. Contámos com a presença da EL-
a motivação, considerando que desejar uma COS, GAIF, APTF, FERIDASAU, ESEL, ESenfC,
ação é uma condição mínima de inteligibi- Associação científica dos enfermeiros.
lidade da ação sensata, e a intenção. A to- O programa cingiu-se não só às feridas, mas,
dos vós que indagaram, congratulamos-vos também, à pele, ao envelhecimento cutâneo,
pelo vosso processo antecipatório para nos às diferenças entre emolientes ocluentes e
vossos contextos poderem ser livres de to- humectantes, ou seja, aos cuidados com a
marem decisões éticas, assentes na melhor pele com xerose cutânea.
evidência disponível, e não no dogma do
Acontece, por diversas vezes, ouvir os co-
empirismo. A prática de Enfermagem não
legas enfermeiros a pronunciarem-se sobre
pode ser assente em ações involuntárias por
outros congressos relacionados com a mes-
coação ou ignorância. As ações em Enferma-
ma temática, e verifica-se reiteradamente o
gem devem ser todas voluntárias. O poder,
mesmo denominador comum nas críticas:
de cada um para ser autor dos seus atos, de-
as dúvidas mantém-se sobre a aplicabilida-
termina a resposta pelo seu agir, nunca es-
de do material de penso dirigido à avaliação
quecendo que o objeto da responsabilidade
da etiologia e do estado da ferida. Este con-
encontra-se na pessoa cuidada com ferida.
gresso foi pensado, elaborado, estruturado
Ao longo dos anos, a prática de Enfermagem para não incorrermos no mesmo erro.
transformou-se, passando da simples execu- 7
Quando devo usar pensos antimicrobianos
ção de ações por repetição, para o desenvol-
tópicos com surfactantes e bioativos? Apli-
vimento de uma prática científica baseada
cando o DIM-E, e se a causa de cronicidade
na evidência. A Enfermagem tem assistido a
da ferida complexa for a infeção e esta apre-
um enorme desenvolvimento técnico-cientí-
sentar sinais de infeção local, aplicam-se
fico. As crescentes exigências dos cuidados
pensos antimicrobianos tópicos durante 2 a
de saúde conduziram os enfermeiros à pro-
4 semanas para controlar a carga biológica
cura de níveis de formação cada vez mais
imposta pelas endotoxinas bacterianas. Se
avançados, bem como à aposta na formação
esta deixar de apresentar sinais de infeção,
contínua, como estratégia de atualização
e se a ferida tiver potencial de cicatrização,
profissional.
for considerada cicatrizável, deve-se avan-
O programa deste congresso foi, então, ba- çar para os pensos bioactivos, controlando a
seado, nas questões colocadas pelos enfer- carga proteásica.
meiros prestadores de cuidados, e o escla-
Foi abordada, também, a temática do mel e
recimento passou por palestras de peritos
a diferença entre méis medicinais, ou seja,
nacionais e internacionais na área de feridas,
MGH – Medical Grade Honey. Sabe-se que
com core de conhecimentos e com expe-
os méis apresentam propriedades antimi-
riência prática. Reunimos experts na área de
crobianas. A elevada osmolaridade, pH ácido
feridas, de várias associações, grupos, esco-
são características comuns aos méis. Alguns
las - num só espaço. Juntos para construir
apresentam, também peróxido de hidrogé-
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS
nio, mas sabe-se que este é inativado pela interfere na sua qualidade de vida. Não há
catálase. Outros, sabe-se que, não têm pe- evidências cientificas da terapia por vácuo
róxido mas sim metilglioxal, mas que, sujei- fornecido na rampa!! Foram apresentados
to a processos de neutralização em ensaios, alguns casos de TFPN com irrigação com
mantém a sua capacidade antimicrobiana. plihexametileno de biguanida (polihexanida)
Conclui-se que do mel medicinal ainda há + betaine (ou seja, antissético não citotóxico,
muito por descobrir. sem resistências associadas, e um surfactan-
Falou-se na importância dos pensos de si- te que garanta a destruição da matriz exopo-
licone enquanto pensos atraumáticos, que lissacarídea do biofilme).
não façam o skin stripping, a adesividade O tema da massagem de drenagem linfática
celular, sendo diferentes de pensos não ade- e exercícios miolinfocinéticos foi apresenta-
rentes – aqueles que gelificam. do de um modo muito dinâmico, com apre-
Foi um privilégio e uma honra poder contar sentação de um vídeo, e foi desmistificado
com Toni Hubbard para apresentar a Larva- vários aspetos, como a pouca pressão exer-
terapia, que contamos que venha a revolu- cida, sem recurso a cremes, entre outros as-
cionar as práticas em Portugal. Evidências petos. Muito interessante!
existem muitas, práticas, no nosso país, ain- Foi abordada a observação clínica e os cui-
da, poucas. Permitam-me o denodo: gosta- dados de Enfermagem ao Pé diabético – pa-
ria que este cenário mudasse para obtenção tologia não ulcerativa. Portanto, de uma for-
de mais ganhos em saúde. As larvas libertam ma muito específica, focalizou-se somente
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enzimas proteolíticas, quebrando as pontes na patologia não ulcerativa e os cuidados
de colagénio que unem o tecido inviável ao preventivos.
viável e depois ingerem a carga necrótica No segundo dia de congresso, foi de especial
(entenda-se tecido desvitalizado + tecido interesse a conferência sobre as intervenções
necrótico). É um desbridamento seletivo e de Enfermagem na esfera da atividade pro-
eficaz. Tem, também, efeitos antimicrobia- fissional. Foi para além do expectável, pois
nos. foram lançadas algumas questões incitado-
A temática da nutrição foi abordada em ras ao pensamento dos enfermeiros. Foco:
dois momentos: um abrangente em que se intervenções autónomas e interdependen-
apresentou as evidências, desmontando os tes. Claramente que na área de cuidar uma
mitos associados, e num outro momento, a pessoa com ferida, as intervenções são in-
Alimentação Natural Adaptada (ANA) e seus terdependentes, em que toda a equipa inter-
benefícios. disciplinar tem como foco a pessoa. Todos os
A Terapia de feridas por pressão negativa atos – os de prescrição e os de execução são
(TFPN) é substituível por vácuo fornecido por partilhados. Mas, fomos lançados a pensar
rampa? Não! Não há o garante da pressão mais além!: por vezes, preocupamo-nos em
exercida no leito e nas alterações topográ- fazer a transferência de intervenções inter-
ficas da ferida, a capacidade adaptativa não dependentes para as autónomas, mas estas
é igual e o facto de o doente ficar “preso” últimas são, por vezes, delegadas, até mes-
a uma tubuladura, com conexão à rampa, mo por desconhecimento do nosso campo
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS
ELSA MENOITA
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Coordenadora do Feridasau; Gestora do Programa de melhoria das Úlceras por Pressão no CHLC; Membro dos
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem do CHLC
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ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS
UV, ao longo dos anos, vai sofrendo efeitos Para garantir a integridade da pele recomen-
acumulativos, como senescência e disfun- dam-se alguns cuidados com a limpeza e hi-
ção celular dos melanócitos, provocando dratação da pele.
fotodermatoses: hipercromias (por exemplo É importante limpar a pele de resíduos or-
o lentigo solar) e hipocromias (leucodermia gânicos e não orgânicos. Se um doente
gutata), entre outras. apresentar restos fecais, a pele deve ser cui-
dadosamente limpa para remover todos os
SÓ A PELE DA PESSOA IDOSA ESTÁ ENVE- microrganismos e toda a carga enzimática,
LHECIDA? como as lípases, ureases, proteases, sais bi-
liares, que irão danificar o manto hidrolipi-
Não. As rugas, a xerose cutânea, as fotoder-
dico da pele. No entanto, na pele envelhe-
matoses, entre outras manifestações clinicas
cida os cuidados de higiene não podem ser
podem surgir sem ser na pessoa idosa. Estas
rotinizados. O sabão pode remover os óleos
dependem da exposição da pele aos fatores
naturais da pele - como por exemplo, o sebo,
extrínsecos, nomeadamente à radiação UV
podendo provocar pele seca. Os sabões pos-
(tanto UVA como UVB).
suem vulgarmente um surfactante, o Lauril
Sulfato de Sódio (LSS) - sodium lauryl sulfate,
INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM DIRIGI- mas este é um potente agente irritativo da
DAS À PESSOA COM PELE ENVELHECIDA pele. Deve dar-se primazia aos produtos de
A primeira abordagem tem como objetivo higiene com surfactantes não iónicos, como
14 prevenir o fotoenvelhecimento, mediante a polisorbato e a agentes de limpeza com pH
sensibilização para os perigos da fotoexpo- ácido (Menoita, 2015).
sição. Algumas recomendações (Menoita, Para a hidratação da pele existem os emo-
2015): lientes ocluentes e os humectantes. A terapia
Use diariamente protetores solares (UVB e emoliente deve ser utilizada regularmente
UVA), nas áreas de pele não protegidas pelas na pele envelhecida, precisamente porque
roupas e que mais envelhecem, como a face, esta apresenta xerose cutânea. Os ocluentes
pescoço, membros superiores e mãos. fazem uma cobertura oclusiva, imitando o
Se houver muita fotoexposição ou transpira- papel do sebo, e evitam as perdas de água
ção, a duração da ação de um filtro solar é transepidermais. Os humectantes são subs-
de cerca de 2 horas. Após este período deve tâncias higroscópicas, que atraem a água da
ser reaplicado. Não confie na indicação “re- derme para a epiderme - water-loving, como
sistente à água”. a glicerina, ureia, glicerol, ácido glicólico, lac-
Use chapéu e guarda-sol quando for à praia. tato de amónio, propilenoglicol. Quando o
Ainda assim, use o filtro solar pois parte dos produto tem os dois papéis, o humectante
UV reflete-se na areia atingindo a sua pele. atrai a água para a epiderme, enquanto o
elemento oclusivo assegura que não se eva-
A segunda abordagem tem como objetivo
pore.
melhorar a integridade cutânea, de modo a
evitar lesões como as úlceras por pressão,
dermatites de contacto e quebras cutâneas.
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS
Figura nº3 - Emolientes humectantes: Pro- cutâneas, para além das feridas complexas
priedades higroscópicas (como por exemplo, as úlceras por pressão),
torna-se imperioso todo o profissional estar
inteirado das diferenças da pele jovem e da
envelhecida para empregar à sua prática um
agir consciencioso, criterioso e baseado na
melhor evidência (Menoita, 2015).
Bibliografia
Menoita, Elsa – A pele da pessoa idosa. Me-
noita, Elsa (org). – Gestão de feridas comple-
xas, Loures: Lusodidacta, 2015
Menoita, Elsa – Abordagem diferencial entre
É importante abordar a temática das quebras úlcera por pressão e quebra cutânea. Menoi-
cutâneas. Estas desenvolvem-se devido a um ta, Elsa (org). – Gestão de feridas complexas,
trauma mecânico, mas estão associadas às Loures: Lusodidacta, 2015
alterações da condição do epitélio. As que-
bras cutâneas são entidades distintas das la-
cerações e das UPP de categoria II, causadas
por fricção.
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Manter a pele intacta em pessoas com pele
frágil é um desafio. Existem alguns cuidados
preventivos, como: 1) Lavar a pele com água
morna e sabão com pH ácido; 2) Evitar a fric-
ção, como modo de secagem da pele; 3) Uti-
lizar emolientes; 4) Evitar produtos adesivos
e se se utilizar pensos secundários, dar pre-
ferência a atraumáticos – evitar skin striping;
5) Proteger de traumas.
Yates (2012) defende que o termo "lesão por propício para a proliferação de microrganis-
humidade" é amplamente utilizado na práti- mos (Menoita, 2015).
ca clínica, mas, mais recentemente a termi- Atualmente, a maioria das fraldas comercia-
nologia advogada é: “danos da pele induzi- lizadas contêm um material acrílico em gel
dos por humidade” - Moisture-Associated superabsorvente, a maioria de poliacrilato de
Skin Damage (MASD). Para a mesma autora, sódio, eficaz em manter a área da fralda seca
os danos da pele induzidos por humidade e em meio ácido.
abrangem:
A fricção que ocorre entre a pele e o ma-
16 1) As dermatites associadas à incontinência terial da fralda é um dos principais fatores
- DAI; desencadeantes de dermatites de contacto,
2) As dermatites associadas à humidade pe- nomeadamente da dermatite irritativa das
riestomais; marés, ou dermatite do "cowboy".
3) As dermatites perilesionais associadas à Quando existe incontinência urinária, a pele
humidade; é exposta à amónia, que resulta da conver-
4) Intertrigo (dermatite intertriginosa). são da ureia, aumentando o pH da pele. Des-
ta forma, o manto da pele ácido é destruído,
aumentando a sua permeabilidade, criando
Por diversas vezes se confunde as DAI com
um ambiente ideal à invasão e proliferação
as UPP, nomeadamente as de Jacquet na re-
de substâncias irritantes.
gião sagrada.
Quando a urina e as fezes se misturam, as
O papel do microclima está a ser cada vez
enzimas digestivas existentes nas fezes na
mais reconhecido como uma influência so-
presença da amónia tornam-se ativas, au-
bre a humidade da pele, desencadeado pe-
mentando o risco de alteração da integrida-
las fraldas e urina/fezes. As fraldas com urina
de cutânea. De facto, o aumento do pH local
e suor constituem um ambiente “tropical”:
aumenta a atividade das proteases, consti-
quente e húmido, provocando a maceração
tuindo estas enzimas fatores importantes na
tecidular, e consequentemente alteração da
etiopatogenia das dermatites (Bianchi, 2012).
função barreira da pele, sendo um ambiente
As fezes também são responsáveis pelo de-
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GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS
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ANA RITA CIGARRO
Enfermeira na unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de S. João de Deus de Montemor-o-Novo; Pós Graduada
em Gestão de Feridas crónicas pela Sinais Vitais; Mestranda em Cuidados Paliativos, pela Universidade Católica
Portuguesa de Lisboa
No que concerne à primeira questão, a li- • Desodorizante (por eliminação direta das
teratura é peremptória. Não é recomenda- bactérias e por estas metabolizam prefe-
do o uso de mel caseiro no tratamento de rencialmente a glicose);
feridas complexas. Para poder ser usado • Propriedades anti-inflamatórias e antio-
no tratamento de feridas, o mel tem de ter xidantes (neutralização dos radicais li-
a sua atividade antibacteriana comprovada, vres);
tem de existir uma rastreabilidade no que
• Modulador do pH (apresenta ph ácido,
respeita à sua origem, e tem de ser livre de
promovendo um ambiente inóspito à
contaminantes, ou seja, tem de ser sujeito a
proliferação bacteriana e atuação das
um processo de esterilização, por radiação
MMP’s);
gama, o qual permite a neutralização dos es-
• Promotor da cicatrização (higroscópico);
poros bacterianos, contidos na sua estrutura
(COOPER & GRAY, 2012). Quer isto dizer que • Propriedades nutricionais: fonte de nu-
o mel medicinal é produzido segundo crité- trientes e energia.
rios rigorosos, que permitem a sua utilização Concretizando as propriedades antibacte-
segura no tratamento de feridas. rianas do mel, inicialmente, pensou-se que a
O mel consiste numa substância líquida vis- sua ação bactericida se devia essencialmente
cosa, supersaturada em açúcares e com uma dois fatores: elevada osmolaridade (elevada
cor e odor peculiares. Constituído por açú- concentração de açucares e reduzida con-
cares simples (glicose, frutose e sacarose), centração de água)e reduzido pH, na ordem
22 uma reduzida percentagem em água (cerca dos 3.5-3.9 (as bactérias e MMP’s necessitam
de 18%) e enzimas, aminoácidos, vitaminas de um ambiente mais alcalina para pode-
e minerais (COOPER & JENKINS, 2009; COO- rem proliferar e atuar) (GETHIN & COWMAN,
PER et al, 2009; JULL RODGERS & WALKER, 2006).
2008). Contudo, percebeu-se que existiam mi-
Deriva do néctar que é recolhido e modifica- crorganismos resistentes, como S. aureus,
do pelas abelhas Apis melíferas. que conseguem sobreviver em ambientes
de grande stresse osmótico e pH reduzido
Em relação às propriedades do mel, a litera-
(HENRIQUES, 2004 [s.l]). Tal facto levou a
tura aponta-o como uma opção terapêutica,
querer que existisse outro factor que con-
no tratamento de feridas, muito completa.
tribuísse para a atividade antibacteriana do
Atua como/Apresenta (GROTHIER & COO-
mel, o qual foi durante anos designado por
PER, 2011; COOPER, JENKINS & ROWLAN-
“factor de inibição” e só mais tarde se perce-
DS, 2011; COOPER et al, 2009; OKHIRIA et al,
beu ser o peróxido de hidrogénio.
2009 citados por COOPER & GRAY, 2012):
Nas últimas investigações realizadas, perce-
• Desbridante (autolítico);
beu-se que o H2O2 é inibido pela catalase
• Antimicrobiano (bactericida de largo es-
(enzima presente nas bactérias e exsudado
pectro);
de feridas) e além disso, percebeu-se que
• Atua sobre o biofilme (previne e elimina existem méis, cujas concentrações de H2O2
biofilmes); são mínimas, o que quer dizer que apresen-
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tam uma atividade antibacteriana não de- e armazenamento, bem como dos compo-
pendente do H2O2 – é o caso do Mel Ma- nentes antibacterianos. Desta forma, pode
nuka (KWAKMAN et al, 2011). afirmar-se que o mel não é todo igual, pelo
O mel Manuka deriva do néctar das flores que não pode ser considerado um produto
das árvores de Manuka – planta da espécie genérico.
Leptospernum Scoparium, indígena da Nova O mel medicinal (MGH – Medical Grade Ho-
Zelândia. ney), este encontra-se disponível no merca-
A atividade antibacteriana do mel Manuka do, sob a forma de diferentes apresentações,
está dependente de 4 fatores essenciais desde pasta, gel e associações com hidroco-
(MOLAN, 1992 citado por COOPER & GRAY, lóides, alginato de cálcio, poliacrilato, entre
2012; MAVRIC et al, 2008 citados por COO- outros.
PER & GRAY, 2012; KWAKMAN et al, 2011):
• pH reduzido; BIBLIOGRAFIA
• Elevada osmolaridade; COOPER, R.; GRAY, D. – Is manuka honey a
• Metilglioxal (MGO): composto presente credible alternative to silver in wound care?.
no néctar das flores de Manuka, formado In: Wounds UK, V.8, Nº4, 2012. p. 54-64;
a partir da conversão da dihidroxiaceto- COOPER R, JENKINS L (2009) - A compari-
na (DHA). Sabe-se que o MGO existem son between medical grade honey and table
em concentrações, 100 vezes superiores, honeys in relation to antimicrobial efficacy.
no mel Manuka, comparativamente a ou- Wounds 21(2): 29–36 23
tros méis, sendo-lhe conferida uma ação COOPER, R.; JENKINS, L.; ROWLANDS, R. –
bactericida significativa; Inhibition of biofilms through the use of ma-
• Composto catiónicos e não catiónicos, nuka honey. In: Wounds UK, V.7, Nº1, 2011.
ainda não identificados. p. 24-32;
A atividade antibacteriana do mel Manuka GETHIN, G, COWMAN, S - Changes in Sur-
está associada a um sistema de classifica- face pH of Chronic Wounds When a Honey
ção próprio – UMF (Factor Único Manuka), Dressing was Used. In: Wounds UK Confe-
sendo que os méis Manuka, com UMF igual rence Proceedings. Aberdeen. Novembro,
ou superior a 10 (10+UMF) são aqueles que 2006. p. 13–15
apresentam uma atividade antibacteriana GOTTRUP F, LEAPER D. Wound healing: His-
significativa para o uso medicinal (COOPER torical Aspects. EWMA Journal [Internet].
& GRAY, 2012). Outono 2004 [acedido Fev 22]; 4(2): [cerca de
Assim sendo, dando resposta á ultima ques- 6p.]. Disponível em: http://ewma.org/english/
tão colocada no início da comunicação – “Os publications/ewma-journal/latest-issues.
méis medicinais são todos iguais?” A respos- html
ta é não. A atividade antibacteriana do mel GROTHIER, L., COOPER, R. - MedihoneyTM
depende de vários factores, como as condi- Dressings – Products for practice: made easy.
ções geográficas e climáticas, da fonte floral, In: Wounds UK, V. 7, Nº4 (Nov 2011). p.1-6;
das condições de colheita, processamento
HENRIQUES, A. – Mel: um milagre da nature-
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Figura 1 – Escada analgésica da OMS (adaptação).
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O controlo não farmacológico da dor inclui • Dar resposta aos fatores locais (infeção,
várias técnicas, transversais aos três degraus maceração, problemas dermatológicos,
da escada analgésica. Falamos de técnicas entre outros);
cognitivo-comportamentais (ex: informação • Selecionar o apósito criteriosamente (ex:
prévia, relaxamento, distração), físicas (ex: que promova ambiente húmido, seja
imobilização, estimulação elétrica transcutâ- atraumático na remoção e tenha capa-
nea, massagem) e de suporte emocional (ex: cidade de absorção ajustada ao nível de
presença de alguém significativo, toque te- exsudado da ferida);
rapêutico) (6).
• Evitar pressão excessiva do penso ou
De uma forma geral, no doente com ferida adesivos;
para controlar a dor é necessário (4):
• Envolver o doente/família/cuidador ao
• Considerar em equipa as opções analgé- longo do processo;
sicas (farmacológicas e não farmacológi-
cas), após avaliação criteriosa da dor;
CONCLUSÃO
• Ensinar o doente sobre a importância do
Podemos concluir que o controlo da dor no
cumprimento do esquema terapêutico,
doente com ferida é possível, mas implica
administração dos fármacos e gestão
uma avaliação adequada, monitorização re-
dos analgésicos em SOS;
gular, e confiança do doente na equipa que
• Ajustar o esquema terapêutico sempre
o está a tratar. Os objetivos do tratamento
que a reavaliação da dor assim o exija;
32 farmacológico e não farmacológico devem
• Ensinar ao doente técnicas de autocon- visar não só o alívio da dor mas também
trolo da dor (utilizar diário da dor, ver melhoria da funcionalidade, sendo o doente
televisão, ouvir música, identificar pos- com ferida e seus cuidadores, parceiros ati-
turas/movimentos que diminuam a dor, vos e comprometidos com o tratamento. Im-
entre outros); porta ainda salientar que existem Unidades
• Preparar o ambiente onde é feito o trata- especializadas no controlo da dor, tanto nos
mento da ferida (privacidade, manuten- hospitais centrais como distritais, para onde
ção da temperatura da sala, presença de os doentes podem ser referenciados quan-
alguém significativo, entre outros); do, apesar de uma estratégia concertada,
• Considerar analgesia preventiva aquan- não se consegue controlar a dor.
do da realização de procedimentos do-
lorosos; BIBLIOGRAFIA
• Explicar o procedimento ao doente; 1. AZEVEDO, Luis Filipe [et al] – Tradução,
• Expor a ferida durante o tempo estrita- adaptação cultural e estudo multicêntrico
mente necessário à realização do penso; de validação de instrumentos para rastreio
• Evitar estímulos desnecessários na ferida; e avaliação do impacto da dor crónica. DOR.
ISSN 0872-4814. vol. 15, nº 4 (2007), p.6-56.
• Considerar a temperatura da solução de
limpeza (líquidos frios podem aumentar 2. BENBOW, Maureen – A practical guide to
a dor); reducing pain in patients with wounds. Bris-
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CONFERÊNCIA
Larvaterapia já comercializada em Portugal?
TONI HUBBARD - QUEENLABS
A Toni Hubbard, enquanto enfermeira, trabalhou no setor privado e público no Reino Unido, embora tenha estado
a maior parte da sua carreira de enfermagem no setor comunitário do Sistema Nacional de Saúde em Londres.
Posteriormente, trabalhou como Enfermeira Consultora na Indústria Farmacêutica em variados projetos, antes de
se ter juntado à empresa Biomonde, em 2011. Já nesta empresa, começou a trabalhar como Especialista de Produto
para formar profissionais de saúde e prestar apoio na utilização da Terapia Larvar em feridas crónicas e necrosadas.
Cinco anos após a sua entrada para a Biomonde, a Toni é atualmente Gestora da Distribuição Europeia da empresa
e apoia a utilização da Terapia Larvar por toda a Europa.
• Deiscências cirúrgicas
CIÊNCIA & TÉCNICA
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RESUMO ABSTRACT
Contexto: Nos últimos anos têm-se observa- Context: In the last years it has been obser-
do avanços notáveis da ciência na área das ved remarkable science advances in the area
úlceras de pressão mas a sua prevenção con- of pressure ulcers but its prevention remains
tinua a ser um grande desafio. Este trabalho a major challenge. Thus, this study follows
surge na sequência da utilização de um pro- the use of an innovative product – the hyper-
duto inovador – os ácidos gordos hiperoxi- -oxygenated fatty acids (HOFA).
genados (AGHO). Goal: Determine the efficacy of the HOFA in
Objectivos: Determinar a eficácia dos AGHO pressure ulcers prevention, its evidence level
na prevenção de úlceras de pressão, o seu and recommendation degree.
nível de evidência e grau de recomendação. Drawing: Systematic review with meta-analy-
Desenho: Revisão sistemática com metaná- sis.
lise. Methods: We followed the principles propo-
Métodos: Foram seguidos os princípios pro- sed by the Cochrane Handbook. The review
postos pelo Cochrane Handbook. A análise was conducted by two singly researchers
crítica foi realizada isoladamente por dois and statistical analysis was performed using
investigadores e a análise estatística com re- the program STATA 11.1.
curso ao programa STATA 11.1. Results: The patients treated with HOFA have
Resultados: Os utentes tratados com AGHO 58% lower risk of developing pressure ulcers
38 apresentam 58% de menor risco de desen- (odds ratio = 0.42, IC 95% = 0.25-0.70, p =
volverem úlceras de pressão (odds ratio= 0.001) and that could be reflected in a grade
0.42, IC 95% = 0.25-0.70, p= 0.001) o que se of recommendation A.
traduz num grau de recomendação A. Conclusion: The use of HOFA is a safe practi-
Conclusão: A utilização de AGHO é uma ce in the prevention of pressure ulcers.
prática segura na prevenção das úlceras de Descriptors: Hyper oxygenated fatty acid;
pressão. pressure ulcer; prevention.
Descritores: Ácidos gordos hiperoxigenados;
úlcera de pressão; prevenção.
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postos pelo Cochrane Handbook(13). A loca- Para além das bases electrónicas foi consul-
lização e selecção dos estudos foi realizada tada a base de dados da Biblioteca da Uni-
através de uma estratégia de pesquisa que versidade de Coimbra, da ESEnfC e as publi-
incidiu sobre várias bases de dados electró- cações da Wounds International, do GAIF e
nicas. da EWMA.
A primeira amostra de artigos ficou, então,
LOCALIZAÇÃO E SELECÇÃO DOS ESTUDOS composta por 177 trabalhos. Após a leitura
e análise dos títulos e resumos dos estudos
As pesquisas electrónicas realizaram-se en-
encontrados, constatou-se que 16 artigos se
tre Fevereiro de 2011 e Abril de 2011 atra-
encontravam repetidos e 143 não se refe-
vés de vários motores de busca científica:
riam ao tema em estudo especificamente e/
PubMed-MEDLINE, Google Scholar, SciELO
ou não se enquadravam no limite temporal
Scientific Electronic Library Online, The Co-
e/ou participantes estabelecidos anterior-
chrane Library, The Joanna Briggs Institute;
mente, tendo a amostra ficado reduzida a 18
CINAHL Plus with Full Text, MedicLatina, Aca-
trabalhos.
demic Search Complete, MEDLINE with Full
Text (via EBSCO); Elsevier - Science Direct (via
b-on – Online Knowledge Library) e CUIDEN. ANÁLISE CRÍTICA DOS ESTUDOS
Apenas foram considerados estudos com A partir deste ponto foram definidos e apli-
população adulta (maior de 18 anos), pu- cados critérios de selecção (Tabela 1) mais
40 blicados em língua portuguesa, espanhola rigorosos, de forma a estreitar e refinar o
(castelhano) ou inglesa e com limitação tem- corpus de estudo que constituiria esta revi-
poral de 2001 até à actualidade. são. Neste sentido, foram obtidas cópias dos
Os descritores utilizados foram: hyper oxyge- títulos e resumos dos estudos identificados
nated fatty acid, pressure ulcer, randomized pela estratégia de pesquisa e a sua selecção
controlled trial as topic e systematic review, foi realizada por dois investigadores isola-
tendo sido adoptada a seguinte estratégia damente e nenhum teve conhecimento dos
de pesquisa para as bases de dados mencio- resultados da análise um do outro em qual-
nadas: quer momento deste processo(13,14).
#1 MeSH descriptor “hyper oxygenated fatty Quanto à avaliação crítica da qualidade dos
acid” (“All of the Above”) trabalhos incluídos foram utilizados os ins-
trumentos “Grelha para avaliação crítica de
#2 MeSH descriptor “pressure ulcer” (“All of
um artigo descrevendo um ensaio clínico
the Above”)
prospectivo, aleatorizado e controlado” e
#3 MeSH descriptor “randomized controlled
“Grelha para avaliação crítica de uma revisão
trials as topic” (“All of the Above”)
sistematizada” do Centro de Estudos de Me-
#4 MeSH descriptor “systematic review” (“All dicina Baseada na Evidência da F.M.L.
of the Above”)
Apenas foram considerados “estudos de
#5 [(#1 OR #2) AND #3] (All fields) qualidade” os que obtivessem um score igual
#6 [(#1 OR #2) AND #4] (title and abstract) ou superior a 75%(15).
CIÊNCIA & TÉCNICA
tente e apresenta validade interna e externa. score de 95% nas grelhas de avaliação crítica.
Como tal, obtém como classificação um alto Consideramos, portanto, que a qualida-
nível de evidência (1b) e um score de 93% de metodológica dos estudos analisados é
pelas grelhas de avaliação crítica utilizadas. muito alta, pelo que a utilização de AGHO
Por outro lado, o estudo de Torra i Bou et na prevenção de úlceras de pressão se pode
al.(7) é um RCT duplamente cego, sem limi- traduzir num grau de recomendação A.
tações importantes e também obtém uma
classificação de alto nível de evidência (1b) e
2.1 – ANÁLISE ESTATÍSTICA
um score de 95% nas grelhas de avaliação já
Para se proceder à análise estatística – me-
mencionadas.
tanálise dos resultados foram calculados os
Na tabela 3 podem-se observar os principais
odds ratio e desvios padrão de acordo com
resultados das revisões sistemáticas incluí-
o modelo de efeito fixo, o qual assume que
das neste trabalho.
existe um tamanho do efeito semelhante e
verdadeiro em todos os estudos, sendo que
Em relação ao trabalho efectuado por Escri- as diferenças são explicáveis apenas devido
bano et al.(9) os autores realizaram uma re- a erros de amostragem(16).
visão sistemática da literatura com base em Para a verificação de existência de hetero-
dois RCT (n=523). Assim, apontam os AGHO geneidade entre os estudos foi calculado
como uma medida preventiva eficaz nas UPr o teste Q de Cochran e o I² de Higgins e
denotando que os estudos incluídos são Thompson, tendo por base que um valor de 43
de um nível de evidência alta (classificação I² próximo a 0% indica não heterogeneidade
GRADE). Todavia, salientam a necessidade da entre os estudos, próximo a 25% indica baixa
realização de mais RCT neste domínio. heterogeneidade, próximo a 50% indica he-
Devemos referir que esta revisão apresen- terogeneidade moderada e próximo a 75%
ta um reduzido corpus de estudo mas, por indica alta heterogeneidade entre os estu-
outro lado, manifesta alta qualidade meto- dos (Idem).
dológica e relevância dos resultados para a Na tabela 4 e figura 1 apresentamos os re-
prática clínica. Assim, este obtém como clas- sultados da metanálise.
sificação um alto nível de evidência (1a) e um
Torra i Bou
Gallart
Combined
.01 .1 1 10
Odds ratio
de estudos meta-analíticos a partir de uma nar a incidência de UPr nos calcâneos através
maior amostra de estudos podem contribuir da aplicação de um protocolo de prevenção
para resultados ainda mais rigorosos. que incluía a aplicação combinada de pen-
Consideramos igualmente, como uma limita- sos hidrocelulares (Allevyn Heel®), AGHO
ção, termos imposto um horizonte temporal (Mepentol®) e superfícies de apoio para a
de 10 anos, o que restringiu em grande nú- re-distribuição de pressão (SEMP) (sistemas
mero as publicações encontradas. Contudo, alternantes de ar da gama Aerocare®). Os
tal atitude conduziu-nos um conhecimento autores concluíram que após a adopção des-
mais aproximado do “estado da arte” sobre te protocolo de prevenção o risco de desen-
esta problemática. volver UPr nos calcâneos foi reduzido para
4% (IC95% = [0,28%-7.72%]).
Apesar disto e da sua recente utilização no
tratamento de feridas, os AGHO possui já um Todavia e apesar destes resultados a aplica-
suporte científico bem estruturado tendo ção per si de AGHO (isolada) nas zonas de
um grau de recomendação A. Aliás, pode-se risco não é suficiente na prevenção das UPr.
referir que a utilização de AGHO é eficaz na Tudo isso é complementado com cuidados
prevenção de UPr e que existe uma redução adequados da pele, como a utilização de
de risco de UPr de 58%. produtos barreira nas agressões à pele, as-
sim como a protecção de zonas de risco com
Estes resultados têm concordância com os
pensos ou dispositivos especiais redutores
resultados de estudos clínicos não compara-
da pressão, como os pensos hidrocelulares.
tivos e comparativos como os de Gouveia, et
Para além disso é premente a implementa- 45
al.(8) que realizaram um ensaio clínico aberto
ção de escalas para avaliar o risco de desen-
(sem aleatorização) para avaliar a efectivida-
volver UPr e protocolos de prevenção, segui-
de de ácidos gordos hiperoxigenados (Me-
das de recomendações específicas para um
pentol®) na prevenção de UPr dos calcâneos
tratamento efectivo da pressão, mediante
numa amostra de 96 utentes tendo concluí-
programas activos de posicionamentos pos-
do que a incidência total de UPr no grupo
turais, assim como a utilização de superfícies
Mepentol® foi de 2% versus 17,4% no gru-
de apoio adequadas para a “re-distribuição”
po de controlo (Qui-Quadrado de Pearson:
da pressão de acordo com as características
0,01).
de cada situação de risco. Outros pontos que
Também, Meaume et al.(18) num estudo
não se podem omitir são a manutenção de
descritivo correlacional que envolveu 1.121
um estado de nutrição e hidratação óptimos,
pacientes com risco elevado ou muito ele-
programas de formação periódicos e actua-
vado de UPr concluíram que a utilização de
lizados para os profissionais de saúde, assim
AGHO (Sanyrène / Corpitol) reduziu signifi-
como a monitorização epidemiológica do
cativamente a incidência de UPr pélvica (p =
problema(8,12).
0,04) apresentando um OR= 0,61 (0.38-0.98)
o que sugere que a intervenção reduziu 40%
dos casos de UPr. CONCLUSÃO
Similarmente, Soriano et al.(19) reuniram 100 Embora pareça contraditório, as úlceras de
utentes de risco com o objectivo de determi- pressão, apesar dos avanços da ciência e
CIÊNCIA & TÉCNICA
Master. ISSN: 1989-5305. 2010; 2(1):1265-81. lihexanida. Referência. ISSN 0874-0283. 2011;
11. Ríos J. Efecto de los ácidos grasos hipero- 3(4): 135-42.
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tes con pie diabético. Reduca (Enfermería, Fi- G, Allaert FA. Preventing the occurrence of
sioterapia y Podología) Serie Trabajos Fin de pressure ulceration in hospitalized elder-
Master. ISSN: 1989-5305. 2009; 1(2). ly patients. Journal of Wound Care. 2005;
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13. Higgins JPT, Green S. Cochrane hand-
book for systematic reviews of interventions:
version 5.0.2 [internet]. London: The Cochra-
ne Collaboration; 2009 [Acess: 10 mar. 2010]
Available form: WWW:<URL:http://www.co-
chrane-handbook.org>.
14. Ramalho A. Manual para redacção de es-
tudos e projectos de revisão sistemática com 47
e sem metanálise. Coimbra: FORMASAU;
2005. ISBN 972-8485-54-9.
15. Carneiro A. Como avaliar a investigação
clínica: O exemplo da avaliação crítica de um
ensaio clínico. J Port Gastrenterol. ISSN 0872-
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um guia prático. Revista HCPA. ISSN: 1983-
5485. 2010; 30(4): 435-446.
17. Santos E, Silva M. Tratamento de feridas
colonizadas/infetadas com utilização de po-
CIÊNCIA & TÉCNICA
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A Terapia VAC® (Vacuum Asisted Closure) d) Redução de pelo menos 50% do tempo de
é um tratamento avançado de cicatrização enfermagem,
de feridas que se pode integrar facilmente e) Diminuição significativa de complicações.
na prática terapêutica dos Profissionais de
Saúde para a cicatrização de feridas optimi-
A terapia VAC que está protocolada para o
zando o cuidado ao paciente e reduzindo os
tratamento de diversas feridas:
custos. Trata-se de um tratamento flexível
que pode ser usado tanto no Hospital como • Feridas agudas ou traumáticas
em Ambulatório. • Feridas Abdominais
A terapia VAC é eficaz no tratamento de • Feridas esternais
úlceras crónicas, facilitando a fixação dos • Úlceras por decúbito
enxertos em zonas difíceis, favorecendo • Úlceras nas extremidades inferiores
o encerramento de feridas cirúrgicas com
• Úlceras de pé diabético
complicações (esternotomías abertas), O
• Feridas infectadas
VAC pode ser usado como adjuvante de pro-
cedimentos cirúrgicos para facilitar o encer- • Feridas no pós-operatorio
ramento de feridas. O VAC pode ser usado • Enxertos em malha e substitutos de pele
como alternativa ou até que um procedi- • Retalhos
mento cirúrgico de menor envergadura pos- • Fístulas enterocutâneas
sa ser realizado.
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Os fundamentos da Terapia VAC e as suas
Orientações para execução do tratamento:
aplicações clínicas assentam nos seguintes
pressupostos: Frequência
•Aprontar o material de acordo com o tipo •Evitar o atrito na limpeza da ferida, utilizan-
de ferida e as necessidades do cliente do força mecânica mínima, de modo a pre-
•Executar com técnica asséptica e com recur- venir o traumatismo dos tecidos em vias de
so a máscara, se indicado cicatrização
•Limpar a ferida, da área menos contamina-
da para a mais contaminada
Análise de caso
A ferida consiste em
duas locas de tama-
nho variável, sem ex-
sudato
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Colocação da esponja de
poliuretano de ligação en-
tre as duas feridas (no caso
de não possuir o Y de co-
nexão)
CIÊNCIA & TÉCNICA
Evolução cicatricial:
03/03
Evolução cicatricial:
09/03
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Evolução cicatricial:
encerramento final
por primeira intenção
(18/03)
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e cuja pertinência e rigor técnico e científico sejam reconhecidas pelo
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