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ISSN 0872-8844

N.º119 . 2015

enfermagem em revista

VI CONGRESSO INTERNACIONAL GESTÃO DE


FERIDAS COMPLEXAS:
DA DÚVIDA NASCE O CONHECIMENTO

ESPECIAL CIÊNCIA E TÉCNICA


O MEL NO UTILIZAÇÃO DE
TRATAMENTO DE ÁCIDOS GORDOS
FERIDAS HIPEROXIGENADOS
NA PREVENÇÃO DE
ÚLCERAS DE PRESSÃO
VII CONGRESSO INTERNACIONAL

GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS


Lisboa | Portugal | 29 e 30 de Abril de 2016
Auditório Metro Lisboa – Estação Alto dos Moinhos

7/03/2016
Submissão de
Comunicações

QUESTÕES EM DEBATE:
• Que contributos e inovações trazem as guidelines de pé diabético de 2015?
• Como os pensos controlam os biofilmes nas feridas complexas infetadas?
• Usa-se sempre pensos absorventes em feridas exsudativas? Organização
• Circuito de introdução de materiais e produtos para tratamento de feridas: do Infarmed/
/ACSS/Comissões de escolha
• Que pensos antimicrobianos existem no mercado em Portugal?
• Quais as Bundles – “Feixe de Intervenções” – de Prevenção de Infeção de Local
Cirúrgico?
• Infecções da pele e tecidos moles: uma abordagem diferencial
• Ostomias: dos fundamentos à prática
Secretariado: Parque Empresarial de Eiras, lote 19, 3020-265 Coimbra | E-mail: suporte@sinaisvitais.pt | www.sinaisvitais.pt | T: 239 801 020 F: 239 801 029 • suporte@sinaisvitais.pt
SUMÁRIO

SUMÁRIO

P04 EDITORIAL

P06 ESPECIAL
ESPECIAL: VI CONGRESSO INTERNACIONAL GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS: DA DÚVIDA NASCE O
CONHECIMENTO

P11 ESPECIAL
CONFERÊNCIA - SÓ A PELE DA PESSOA IDOSA ESTÁ ENVELHECIDA? INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM
DIRIGIDAS À PESSOA COM PELE ENVELHECIDA

P16 ESPECIAL
NEM TODAS AS LESÕES NA REGIÃO SAGRADA SÃO ÚLCERAS POR PRESSÃO. O CASO DAS DAI. QUE
CREMES E MATERIAIS DE PENSO NÃO SÃO RECOMENDADOS?

P19 ESPECIAL
QUAIS OS ANTISSÉPTICOS QUE DEVO USAR? QUAIS OS MAIS CITOTÓXICOS E OS DE NOVA GERAÇÃO?

P21 ESPECIAL
O MEL NO TRATAMENTO DE FERIDAS 3

P27 ESPECIAL
AVALIAÇÃO E CONTROLO DA DOR NO DOENTE COM FERIDA BFOOD- ANA: A IMPORTÂNCIA DA
NUTRIÇÃO NO TRATAMENTO DAS FERIDAS COMPLEXAS

P35 ESPECIAL
Larvaterapia já comercializada em Portugal?

P37 ESPECIAL
UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GORDOS HIPEROXIGENADOS NA PREVENÇÃO DE ÚLCERAS DE PRESSÃO

P47 ESPECIAL
TERAPIA DE PRESSÃO NEGATIVA: EXECUÇÃO DE TRATAMENTO

FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃO Formasau, Formação e Saúde, Lda. Parque Empresarial de Eiras, Lote 19, Eiras - 3020-265 Coimbra T 239 801 020 F 239 801 029 CONTRIBUINTE 503 231
533 CAPITAL SOCIAL 21.947,90 € DIRECTOR António Fernando Amaral DIRECTORES-ADJUNTOS Carlos Alberto Margato / Fernando Dias Henriques EDITORES Arménio Guardado Cruz / João
Petetim Ferreira / José Carlos Santos / Paulo Pina Queirós / Rui Manuel Jarró Margato ASSESSORIA CIENTÍFICA Ana Cristina Cardoso / Arlindo Reis Silva / Daniel Vicente Pico / Elsa Caravela
Menoita / Fernando Alberto Soares Petronilho / João Manuel Pimentel Cainé / Luís Miguel Oliveira / Maria Esperança Jarró / Vitor Santos RECEPÇÃO DE ARTIGOS Célia Margarida Sousa Pratas
CORRESPONDENTES PERMANENTES REGIÃO SUL Ana M. Loff Almeida / Maria José Almeida REGIÃO NORTE M. Céu Barbiéri Figueiredo MADEIRA Maria Mercês Gonçalves COLABORADORES
PERMANENTES Maria Arminda Costa / Nélson César Fernandes / M. Conceição Bento / Manuel José Lopes / Marta Lima Basto / António Carlos INTERNET www.sinaisvitais.pt E-MAIL suporte@
sinaisvitais.pt ASSINATURAS Célia Margarida Sousa Pratas INCLUI Revista de Investigação em Enfermagem (versão online) - Distribuição Gratuita PERIOCIDADE Trimestral FOTOGRAFIA 123rf©
NÚMERO DE REGISTO 118 368 DEPÓSITO LEGAL 88306/ 95 ISSN 0872-8844
EDITORIAL

EDITORIAL

Rui Manuel Jarró Margato, Enfermeiro


rmargato@gmail.com

A edição 119 da Revista Sinais Vitais é subordinada exclusivamente à temática do trata-


mento de feridas, dando especial enfoque ao VI CONGRESSO INTERNACIONAL GESTÃO DE
FERIDAS COMPLEXAS: DA DÚVIDA NASCE O CONHECIMENTO, que decorreu nos dias 2 e 3 de
Outubro de 2015, e do qual aqui divulgamos uma selecção das comunicações apresentadas.
Como referimos este é o VI Congresso Internacional, ou seja, desde 2009 que a FORMA-
SAU dedica dois dias com várias horas de divulgação, análise e debate sobre o tratamento
de feridas. É assim porque atribuímos significado a esta área específica da intervenção dos
enfermeiros. Ela é de extrema utilidade para as pessoas que cuidamos pelo que se exigem
boas práticas.
Esta área tem sido objecto de investigação, sendo as intervenções na sua maioria funda-
mentadas em conhecimento formal, resultante dessa produção científica, em especial da le-
vada a cabo por enfermeiros.
Neste sentido, destaca-se o esforço realizado pela FORMASAU como entidade formativa e
de divulgação do conhecimento produzido pelos enfermeiros portugueses, quer no âmbito
da sua formação académica, quer no âmbito da sua prática clínica.
4 Assim, é importante produzir mais e melhor investigação e aqui existem vários actores. Te-
mos a Academia, com as suas unidades de investigação desempenham um papel essencial,
porque temos o conhecimento produzido pelos mestrados e doutoramentos em enferma-
gem que é necessário valorizar e temos a Ordem dos Enfermeiros, que deve assumir como
desígnio organizar e constituir-se como pivot, facilitar o processo de investigação e orientar
quem pretende desenvolver projectos, nomeadamente em contexto clínico.
Não podemos esquecer o momento inédito que vivemos na nossa sociedade e profissão.
Temos as eleições para a Ordem dos Enfermeiros nos dias 13, 14 e 15 de Dezembro de 2015,
pela primeira vez em voto electrónico, em que todos os enfermeiros podem escolher, a partir
de sua casa, os corpos dirigentes que os vão representar para os próximos 4 anos.
As listas e os candidatos são muitos, o que significa que muitas pessoas querem coisas di-
ferentes para a profissão, ou é um facto que resulta da riqueza e heterogeneidade que a pro-
fissão entusiasticamente emana? O que é definitivamente importante é termos uma votação
participada, para colocar maior legitimidade nas decisões que serão necessárias tomar.
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

ESPECIAL: VI CONGRESSO INTERNACIO-


NAL GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS:
DA DÚVIDA NASCE O CONHECIMENTO

mática – gestão de feridas complexas. Desde


VI Congresso Internacional da Feridasau. já deixamos o nosso agradecimento. O tema
Inovado! Próximo! Prático! faz jus ao processo evocado: da dúvida nas-
O ponto de partida, este ano, foi diferente. ce o conhecimento. Claro está, que para se
colocar questões e ter dúvidas, é necessário
“O mundo está cheio de respostas. O que
já ter conhecimento. A ciência cresce sobre o
demora é o tempo das perguntas”
manto das interrogações. O profissional, que
José Saramago
se interroga e interroga os outros, é aquele
As linhas gerais do programa foram traça- que, mobilizado pela curiosidade inteletual,
das por todos os enfermeiros que colocaram pretende que o seu cuidar seja assente nas
questões à Formasau/Feridasau sobre a te- melhores evidências e estas intrinsecamente
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

ligadas a um melhor agir ético. Para haver um saber partilhado! Tivemos, também, a
um processo de tomada de decisão ético preocupação de trazer as novidades até vós,
juntam-se alguns antecedentes da decisão: até nós. Contámos com a presença da EL-
a motivação, considerando que desejar uma COS, GAIF, APTF, FERIDASAU, ESEL, ESenfC,
ação é uma condição mínima de inteligibi- Associação científica dos enfermeiros.
lidade da ação sensata, e a intenção. A to- O programa cingiu-se não só às feridas, mas,
dos vós que indagaram, congratulamos-vos também, à pele, ao envelhecimento cutâneo,
pelo vosso processo antecipatório para nos às diferenças entre emolientes ocluentes e
vossos contextos poderem ser livres de to- humectantes, ou seja, aos cuidados com a
marem decisões éticas, assentes na melhor pele com xerose cutânea.
evidência disponível, e não no dogma do
Acontece, por diversas vezes, ouvir os co-
empirismo. A prática de Enfermagem não
legas enfermeiros a pronunciarem-se sobre
pode ser assente em ações involuntárias por
outros congressos relacionados com a mes-
coação ou ignorância. As ações em Enferma-
ma temática, e verifica-se reiteradamente o
gem devem ser todas voluntárias. O poder,
mesmo denominador comum nas críticas:
de cada um para ser autor dos seus atos, de-
as dúvidas mantém-se sobre a aplicabilida-
termina a resposta pelo seu agir, nunca es-
de do material de penso dirigido à avaliação
quecendo que o objeto da responsabilidade
da etiologia e do estado da ferida. Este con-
encontra-se na pessoa cuidada com ferida.
gresso foi pensado, elaborado, estruturado
Ao longo dos anos, a prática de Enfermagem para não incorrermos no mesmo erro.
transformou-se, passando da simples execu- 7
Quando devo usar pensos antimicrobianos
ção de ações por repetição, para o desenvol-
tópicos com surfactantes e bioativos? Apli-
vimento de uma prática científica baseada
cando o DIM-E, e se a causa de cronicidade
na evidência. A Enfermagem tem assistido a
da ferida complexa for a infeção e esta apre-
um enorme desenvolvimento técnico-cientí-
sentar sinais de infeção local, aplicam-se
fico. As crescentes exigências dos cuidados
pensos antimicrobianos tópicos durante 2 a
de saúde conduziram os enfermeiros à pro-
4 semanas para controlar a carga biológica
cura de níveis de formação cada vez mais
imposta pelas endotoxinas bacterianas. Se
avançados, bem como à aposta na formação
esta deixar de apresentar sinais de infeção,
contínua, como estratégia de atualização
e se a ferida tiver potencial de cicatrização,
profissional.
for considerada cicatrizável, deve-se avan-
O programa deste congresso foi, então, ba- çar para os pensos bioactivos, controlando a
seado, nas questões colocadas pelos enfer- carga proteásica.
meiros prestadores de cuidados, e o escla-
Foi abordada, também, a temática do mel e
recimento passou por palestras de peritos
a diferença entre méis medicinais, ou seja,
nacionais e internacionais na área de feridas,
MGH – Medical Grade Honey. Sabe-se que
com core de conhecimentos e com expe-
os méis apresentam propriedades antimi-
riência prática. Reunimos experts na área de
crobianas. A elevada osmolaridade, pH ácido
feridas, de várias associações, grupos, esco-
são características comuns aos méis. Alguns
las - num só espaço. Juntos para construir
apresentam, também peróxido de hidrogé-
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

nio, mas sabe-se que este é inativado pela interfere na sua qualidade de vida. Não há
catálase. Outros, sabe-se que, não têm pe- evidências cientificas da terapia por vácuo
róxido mas sim metilglioxal, mas que, sujei- fornecido na rampa!! Foram apresentados
to a processos de neutralização em ensaios, alguns casos de TFPN com irrigação com
mantém a sua capacidade antimicrobiana. plihexametileno de biguanida (polihexanida)
Conclui-se que do mel medicinal ainda há + betaine (ou seja, antissético não citotóxico,
muito por descobrir. sem resistências associadas, e um surfactan-
Falou-se na importância dos pensos de si- te que garanta a destruição da matriz exopo-
licone enquanto pensos atraumáticos, que lissacarídea do biofilme).
não façam o skin stripping, a adesividade O tema da massagem de drenagem linfática
celular, sendo diferentes de pensos não ade- e exercícios miolinfocinéticos foi apresenta-
rentes – aqueles que gelificam. do de um modo muito dinâmico, com apre-
Foi um privilégio e uma honra poder contar sentação de um vídeo, e foi desmistificado
com Toni Hubbard para apresentar a Larva- vários aspetos, como a pouca pressão exer-
terapia, que contamos que venha a revolu- cida, sem recurso a cremes, entre outros as-
cionar as práticas em Portugal. Evidências petos. Muito interessante!
existem muitas, práticas, no nosso país, ain- Foi abordada a observação clínica e os cui-
da, poucas. Permitam-me o denodo: gosta- dados de Enfermagem ao Pé diabético – pa-
ria que este cenário mudasse para obtenção tologia não ulcerativa. Portanto, de uma for-
de mais ganhos em saúde. As larvas libertam ma muito específica, focalizou-se somente
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enzimas proteolíticas, quebrando as pontes na patologia não ulcerativa e os cuidados
de colagénio que unem o tecido inviável ao preventivos.
viável e depois ingerem a carga necrótica No segundo dia de congresso, foi de especial
(entenda-se tecido desvitalizado + tecido interesse a conferência sobre as intervenções
necrótico). É um desbridamento seletivo e de Enfermagem na esfera da atividade pro-
eficaz. Tem, também, efeitos antimicrobia- fissional. Foi para além do expectável, pois
nos. foram lançadas algumas questões incitado-
A temática da nutrição foi abordada em ras ao pensamento dos enfermeiros. Foco:
dois momentos: um abrangente em que se intervenções autónomas e interdependen-
apresentou as evidências, desmontando os tes. Claramente que na área de cuidar uma
mitos associados, e num outro momento, a pessoa com ferida, as intervenções são in-
Alimentação Natural Adaptada (ANA) e seus terdependentes, em que toda a equipa inter-
benefícios. disciplinar tem como foco a pessoa. Todos os
A Terapia de feridas por pressão negativa atos – os de prescrição e os de execução são
(TFPN) é substituível por vácuo fornecido por partilhados. Mas, fomos lançados a pensar
rampa? Não! Não há o garante da pressão mais além!: por vezes, preocupamo-nos em
exercida no leito e nas alterações topográ- fazer a transferência de intervenções inter-
ficas da ferida, a capacidade adaptativa não dependentes para as autónomas, mas estas
é igual e o facto de o doente ficar “preso” últimas são, por vezes, delegadas, até mes-
a uma tubuladura, com conexão à rampa, mo por desconhecimento do nosso campo
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

de ação assente no campo legal. e não responde aos antimicrobianos.


Numa mesa com cariz prático, abordou-se Na mesa das úlceras por pressão (UPP) e
a temática do desbridamento. Posso usar dermatites associadas à incontinência (DAI),
concomitantemente diferentes formas de começou por se defender que nem todas as
desbridamento? Claro! E, Devo! Numa ferida lesões na região sagrada são UPP, fazendo o
com tecido necrosado, posso usar desbri- diagnóstico e abordagem diferencial para as
damento autolítico e enzimático e cortante DAI. Ficou claro que não se devem usar emo-
conservador parcial. Se a ferida estiver exsu- lientes, pensos de hidrocoloide, hidrogel gel
dativa, é contraproducente recorrer ao auto- amorfo, compressas, entre outros, nas DAI
lítico, com recurso ao hidrogel gel amorfo. A Flictenas! As abordagens mais adequadas
palestrante deu enfoque às técnicas de des- nas feridas com flictenas não reúnem con-
bridamento cortante: square, cover – que se senso entre autores. Contudo, foi feita uma
utiliza quando o tecido está necrótico ade- apresentação clara e esquemática de algu-
rente e consistente e slice quando está apre- mas práticas, mais advogadas pelos autores.
senta tecido desvitalizado mais mucoide. Estas foram dirigidas para as flictenas asso-
A temática dos antissépticos não podia ser ciadas à UPP, de conteúdo seroso, hemático
descurada. Claramente que os antissépticos e purulento. Foi feita ressalva que as flitenas
citotóxicos, com relatos de resistências, não no caso da Epidermólise Bolhosa têm uma
são preconizados, por diversas razões. Os abordagem distinta.
que se podem usar, quando a ferida apre- O congresso foi fechado com uma apresen-
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senta sinais de infeção, são os pensos com tação entusiasta e clara sobre as Guidelines
libertação prolongada, sustentada de an- das UPP de 2014, que nos trazem algumas
tisséptico. Abordou-se os antissépticos em novidades, contudo nem todas se sabe se te-
solução, de nova geração: a octenidina e a rão aplicabilidade nacional. Aguardaremos..!
polihexanida (sabendo à priori que este, em
Dou por término este breve preâmbulo e
toda a sua gama, está associado a um surfac-
apresentação das várias temáticas apresen-
tante - betaíne - que irá criar stresse à matriz
tadas no congresso.
do biofilme).
Espero contar com a vossa participação para
Na temática seguinte abordaram-se os sur-
o próximo ano.
factantes - Betaine, F-68. Surfactante é um
Bem hajam.
agente ativo de superfícies, caracterizado
pela sua tendência de adsorver em super- Elsa Menoita – Coordenadora do Ferida-
fícies e interfaces, aumentando a solubili- sau; Gestora do Programa de melhoria das
dade e melhorando a limpeza. O resultado Úlceras por Pressão no CHLC; Membro dos
da baixa tensão superficial induzida pelo Padrões de Qualidade dos Cuidados de En-
surfactante ajuda na remoção de detritos e fermagem do CHLC
bactérias. Estes com as suas propriedades
tensioativas passam pela fragilização da ma-
triz polimérica dos biofilmes, sendo funda-
mental quando a ferida se encontra infetada
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GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

CONFERÊNCIA - SÓ A PELE DA PESSOA IDOSA


ESTÁ ENVELHECIDA? INTERVENÇÕES DE
ENFERMAGEM DIRIGIDAS À PESSOA COM PELE
ENVELHECIDA

ELSA MENOITA
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Coordenadora do Feridasau; Gestora do Programa de melhoria das Úlceras por Pressão no CHLC; Membro dos
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem do CHLC

PELE ENVELHECIDA secos, o que apresenta maior impacto é a


A pele apresenta, com o avançar da idade, exposição solar, sendo responsável pelo fo-
diminuição da espessura epiderme-derme; toenvelhecimento.
redução da elasticidade, redução da secre- A teoria mais advogada que defende o enve-
ção de sebo pelas glândulas sebáceas; res- lhecimento cronológico é a do encurtamento
posta imunológica comprometida; decrés- dos telómeros. Os telómeros são sequências
cimo do número de glândulas sudoríparas; de repetições nucleopeptídicas presentes no
diminuição do leito vascular com fragilidade final dos cromossomas, funcionando como
dos vasos sanguíneos. Assim, evidencia-se a tampão biológico que mantém a integrida-
necessidade de cuidados específicos para a de do ADN durante as divisões celulares. O
pele da pessoa idosa que atendam às altera- tamanho telomérico vai-se reduzindo a cada
ções do sistema tegumentar. mitose. Com a ausência dos telómeros, após
O envelhecimento cutâneo pode ser: várias divisões há a interrupção da divisão
Intrínseco ou cronológico; celular e consequentemente o envelheci-
mento celular.
Extrínseco (cujos fatores causais principais
são: stresse, hábitos tabágicos, dietas restri- Nas peles mais fotoexpostas existe maior
tivas e exposição solar). Dos fatores extrín- mutação no ADN mitocondrial e libertação
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

de ERO – enzimas reativas oxidativas -, que As principais alterações histológicas na der-


desencadeiam stresse oxidativo. me são:
É, ainda, importante referir que, os danos Diminuição do conteúdo total de glicosami-
foto-oxidativos acumulativos, gerando uma noglicanos (GAGs) – como exemplo o ácido
sobrecarga de ERO, aceleram o encurtamen- hialurónico – tendo implicações na migra-
to dos telómeros. ção celular, nomeadamente dos fibroblastos
Há uma expressão do senso comum: “vê-se para a produção de colagénio;
a idade pelas mãos”. De facto, toda a super- Processos mitóticos estão diminuídos, pelo
fície corporal que se encontra fotoexposta, que o número de fibroblastos está reduzi-
mesmo durante o inverno, está sujeita à do, alterando a capacidade de biossíntese de
radiação UVA que atinge a epiderme, mas, colagénio;
também, a derme, provocando alterações na Aumento da atividade proteolítica, como
atividade fibroblástica e por consequência as MMP – metaloproteinases da matriz, au-
na produção de fibras proteicas, como co- mentando a degradação do colagénio;
lagénio – fibra responsável pela arquitetura
Fragmentação das fibras elásticas na derme,
da derme. Por este facto, é necessária a fo-
desenvolvendo-se a elastose solar.
toproteção durante todo o ano, tendo em
Estas alterações na derme serão as respon-
consideração que os raios UVB atingem 5%
sáveis pelos sinais visíveis do envelhecimen-
da biosfera no período de verão entre as 10
to cutâneo observáveis na epiderme, como
-16 horas e os UVA atingem 95% da biosfera,
12 as rugas. Existem as rugas finas e as profun-
em intensidade constante durante todas as
das. As primeiras podem ser categorizadas
horas do dia (Figura nº1).
como: estáticas (gravitacionais associadas
Figura nº 1- Impacto da radiação solar (UVA
à fraqueza das estruturas) e dinâmicas (as-
e UVB) na pele
sociadas aos movimentos repetitivos dos
músculos da face). Por curiosidade, a toxina
botulínica só atua nas dinâmicas. As profun-
das estão associadas aos danos por fotoex-
posição. Uma pele com rugas de classe 3 –
profundas - apresenta vulgarmente elastose
solar e cutis rhomboidalis nuchae.
Verifica-se um aplanamento da junção der-
mo-epidérmica e um aplanamento das papi-
las dérmicas, havendo maior suscetibilidade
para a ocorrência de quebras cutâneas. Adi-
cionados a estes processos, o adelgaçamen-
to da derme e a xerose cutânea contribuem
para que a pele envelhecida se apresente
como uma “folha de papel”.
Porque a pele envelhecida apresenta xerose
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cutânea? pessura dos corneócitos há um aumento de


As glândulas sebáceas segregam menos perda de água transepidermal, fomentando
sebo, que lubrificam o pelo, a pele e têm ainda mais a desidratação da pele. As lame-
propriedade bactericidas e fungidas impor- las lipídicas também são responsáveis pela
tantes por serem um dos responsáveis pelo manutenção do pH ácido da pele, devido à
manto ácido hidrolipidico da pele. Este for- sua composição (lípidos hidrofóbicos, como
ma um manto lipídico que evita as perdas de os ácidos gordos, colesterol e ceramidas)
água excessivas. (Menoita, 2015).
Os corneócitos têm menor espessura e as Deste modo, também, estão reunidas as
lamelas lipídicas estão mais estreitas por di- condições para a pele envelhecida ter altera-
minuição de produção de lípidos, aumentan- ções do pH: diminuição das lamelas lipídicas
do o espaço entre eles, facilitando a entrada e diminuição da produção do sebo.
de agentes irritantes e alergénicos, o que
pode provocar uma resposta inflamatória – Para além das alterações histológicas já
dermatite de contacto - eczemas. Para além apresentadas com implicações nas mani-
deste processo, com a diminuição de es- festações clínicas, a pele exposta à radiação

Figura nº 2 – Xerose cutânea e dermatites de contacto na pele envelhecida

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UV, ao longo dos anos, vai sofrendo efeitos Para garantir a integridade da pele recomen-
acumulativos, como senescência e disfun- dam-se alguns cuidados com a limpeza e hi-
ção celular dos melanócitos, provocando dratação da pele.
fotodermatoses: hipercromias (por exemplo É importante limpar a pele de resíduos or-
o lentigo solar) e hipocromias (leucodermia gânicos e não orgânicos. Se um doente
gutata), entre outras. apresentar restos fecais, a pele deve ser cui-
dadosamente limpa para remover todos os
SÓ A PELE DA PESSOA IDOSA ESTÁ ENVE- microrganismos e toda a carga enzimática,
LHECIDA? como as lípases, ureases, proteases, sais bi-
liares, que irão danificar o manto hidrolipi-
Não. As rugas, a xerose cutânea, as fotoder-
dico da pele. No entanto, na pele envelhe-
matoses, entre outras manifestações clinicas
cida os cuidados de higiene não podem ser
podem surgir sem ser na pessoa idosa. Estas
rotinizados. O sabão pode remover os óleos
dependem da exposição da pele aos fatores
naturais da pele - como por exemplo, o sebo,
extrínsecos, nomeadamente à radiação UV
podendo provocar pele seca. Os sabões pos-
(tanto UVA como UVB).
suem vulgarmente um surfactante, o Lauril
Sulfato de Sódio (LSS) - sodium lauryl sulfate,
INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM DIRIGI- mas este é um potente agente irritativo da
DAS À PESSOA COM PELE ENVELHECIDA pele. Deve dar-se primazia aos produtos de
A primeira abordagem tem como objetivo higiene com surfactantes não iónicos, como
14 prevenir o fotoenvelhecimento, mediante a polisorbato e a agentes de limpeza com pH
sensibilização para os perigos da fotoexpo- ácido (Menoita, 2015).
sição. Algumas recomendações (Menoita, Para a hidratação da pele existem os emo-
2015): lientes ocluentes e os humectantes. A terapia
Use diariamente protetores solares (UVB e emoliente deve ser utilizada regularmente
UVA), nas áreas de pele não protegidas pelas na pele envelhecida, precisamente porque
roupas e que mais envelhecem, como a face, esta apresenta xerose cutânea. Os ocluentes
pescoço, membros superiores e mãos. fazem uma cobertura oclusiva, imitando o
Se houver muita fotoexposição ou transpira- papel do sebo, e evitam as perdas de água
ção, a duração da ação de um filtro solar é transepidermais. Os humectantes são subs-
de cerca de 2 horas. Após este período deve tâncias higroscópicas, que atraem a água da
ser reaplicado. Não confie na indicação “re- derme para a epiderme - water-loving, como
sistente à água”. a glicerina, ureia, glicerol, ácido glicólico, lac-
Use chapéu e guarda-sol quando for à praia. tato de amónio, propilenoglicol. Quando o
Ainda assim, use o filtro solar pois parte dos produto tem os dois papéis, o humectante
UV reflete-se na areia atingindo a sua pele. atrai a água para a epiderme, enquanto o
elemento oclusivo assegura que não se eva-
A segunda abordagem tem como objetivo
pore.
melhorar a integridade cutânea, de modo a
evitar lesões como as úlceras por pressão,
dermatites de contacto e quebras cutâneas.
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Figura nº3 - Emolientes humectantes: Pro- cutâneas, para além das feridas complexas
priedades higroscópicas (como por exemplo, as úlceras por pressão),
torna-se imperioso todo o profissional estar
inteirado das diferenças da pele jovem e da
envelhecida para empregar à sua prática um
agir consciencioso, criterioso e baseado na
melhor evidência (Menoita, 2015).

Bibliografia
Menoita, Elsa – A pele da pessoa idosa. Me-
noita, Elsa (org). – Gestão de feridas comple-
xas, Loures: Lusodidacta, 2015
Menoita, Elsa – Abordagem diferencial entre
É importante abordar a temática das quebras úlcera por pressão e quebra cutânea. Menoi-
cutâneas. Estas desenvolvem-se devido a um ta, Elsa (org). – Gestão de feridas complexas,
trauma mecânico, mas estão associadas às Loures: Lusodidacta, 2015
alterações da condição do epitélio. As que-
bras cutâneas são entidades distintas das la-
cerações e das UPP de categoria II, causadas
por fricção.
15
Manter a pele intacta em pessoas com pele
frágil é um desafio. Existem alguns cuidados
preventivos, como: 1) Lavar a pele com água
morna e sabão com pH ácido; 2) Evitar a fric-
ção, como modo de secagem da pele; 3) Uti-
lizar emolientes; 4) Evitar produtos adesivos
e se se utilizar pensos secundários, dar pre-
ferência a atraumáticos – evitar skin striping;
5) Proteger de traumas.

Em suma, uma pessoa com pele envelheci-


da com alterações estruturais e celulares,
mesmo que algumas não visíveis, devem ser
adotados cuidados preventivos, de modo a
evitar lesões. Sabendo que a idade é um fa-
tor de risco de desenvolvimento de quebras
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NEM TODAS AS LESÕES NA REGIÃO


SAGRADA SÃO ÚLCERAS POR PRESSÃO. O
CASO DAS DAI. QUE CREMES E MATERIAIS
DE PENSO NÃO SÃO RECOMENDADOS?
ELSA MENOITA
Coordenadora do Feridasau; Gestora do Programa de melhoria das Úlceras por Pressão no CHLC; Membro dos
Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem do CHLC

Yates (2012) defende que o termo "lesão por propício para a proliferação de microrganis-
humidade" é amplamente utilizado na práti- mos (Menoita, 2015).
ca clínica, mas, mais recentemente a termi- Atualmente, a maioria das fraldas comercia-
nologia advogada é: “danos da pele induzi- lizadas contêm um material acrílico em gel
dos por humidade” - Moisture-Associated superabsorvente, a maioria de poliacrilato de
Skin Damage (MASD). Para a mesma autora, sódio, eficaz em manter a área da fralda seca
os danos da pele induzidos por humidade e em meio ácido.
abrangem:
A fricção que ocorre entre a pele e o ma-
16 1) As dermatites associadas à incontinência terial da fralda é um dos principais fatores
- DAI; desencadeantes de dermatites de contacto,
2) As dermatites associadas à humidade pe- nomeadamente da dermatite irritativa das
riestomais; marés, ou dermatite do "cowboy".
3) As dermatites perilesionais associadas à Quando existe incontinência urinária, a pele
humidade; é exposta à amónia, que resulta da conver-
4) Intertrigo (dermatite intertriginosa). são da ureia, aumentando o pH da pele. Des-
ta forma, o manto da pele ácido é destruído,
aumentando a sua permeabilidade, criando
Por diversas vezes se confunde as DAI com
um ambiente ideal à invasão e proliferação
as UPP, nomeadamente as de Jacquet na re-
de substâncias irritantes.
gião sagrada.
Quando a urina e as fezes se misturam, as
O papel do microclima está a ser cada vez
enzimas digestivas existentes nas fezes na
mais reconhecido como uma influência so-
presença da amónia tornam-se ativas, au-
bre a humidade da pele, desencadeado pe-
mentando o risco de alteração da integrida-
las fraldas e urina/fezes. As fraldas com urina
de cutânea. De facto, o aumento do pH local
e suor constituem um ambiente “tropical”:
aumenta a atividade das proteases, consti-
quente e húmido, provocando a maceração
tuindo estas enzimas fatores importantes na
tecidular, e consequentemente alteração da
etiopatogenia das dermatites (Bianchi, 2012).
função barreira da pele, sendo um ambiente
As fezes também são responsáveis pelo de-
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GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

senvolvimento de dermatites de contacto, tes autolíticos, como por exemplo, o hidrogel


através das suas enzimas lipídicas e proteo- gel amorfo numa dermatite severa, como
líticas, como as ureases bacterianas, protea- por exemplo, uma de Jacquet, com tecido
ses fecais, lipases, sais biliares, danificando a desvitalizado, pois estar-se-á a aumentar os
pele. níveis de humidade.
Os agentes irritativos ou alergizantes que Não se pode descurar o tratamento e gestão
desencadeiam ou agravam a DAI tanto po- da incontinência. Em casos de diarreia gra-
dem ser os do princípio ativo como outros ve e de DAI deve-se considerar a utilização
ingredientes (conservantes, emulsificantes), de um sistema de gestão de fezes (Beldon,
muitos dos quais são encontrados nos pro- 2012). Por vezes, é a única opção de contro-
dutos de higiene. lar a DAI quando há diarreia (Menoita, 2015).
Existem várias classificações para as derma- Em suma, as DAI são um problema frequen-
tites. A apresentação mais severa é de Se- te principalmente na população idosa, dimi-
vestre-Jacquet, e deve-se à perpetuação e nuindo a sua qualidade de vida e acarretan-
intensidade do agente agressor. Estas geral- do custos às instituições de saúde.
mente sucedem-se na fase vesico-erosivo- Cada vez mais as instituições e os profissio-
-ulcerativa. nais de saúde devem investir na prevenção
A melhor estratégia de atuação na DAI é a através da criação de programas estrutura-
capacitação em reconhecer e diferenciar a dos de prevenção, intervenção e de diagnós-
lesão e a prevenção precoce. Esta engloba tico das situações de dermatite.
17
medidas que têm como objetivo manter a
pele seca e a eliminação ou minimização de
BIBLIOGRAFIA
todos os fatores implicados na etiopatogenia
1BELDON - The latest advances in skin pro-
desta entidade.
tection. In: In Wounds UK - Moisture Lesions
Deve-se, sempre, proteger a pele dos agen-
Supplement. 2012, Wounds UK, London
tes agressores, nomeadamente da humida-
2BIANCHI - Top tips on avoidance of inconti-
de e urina/fezes. Como tal, o uso rotineiro
nence-associated dermatitis. In Wounds UK -
de produtos barreira está indicado para as
Moisture Lesions Supplement. 2012, Wounds
pessoas com risco de desenvolver DAI e que
UK, London.
tenham incontinência urinária e/ou fecal.
COOPER P - Skin Care: managing the skin
A terapia por emoliente NUNCA pode ser
of incontinent patients. Wound Essentials 6:
usada para tratamento das DAI.
2011, 69–74
Se existir dermatite severa, recomenda-se a
MENOITA, Elsa - Abordagem diferencial en-
utilização de pensos secundários, pois são
tre úlcera por pressão e lesão por humidade.
impermeáveis à água e bactérias. Contudo,
Menoita, Elsa (Org.) – Gestão de feridas com-
não se aconselha o uso de pensos mais oclu-
plexas, Loures:Lusodidacta, 2015
sivos como os hidrocolóides, pois não fazem
a gestão da humidade, exacerbando a DAI. YATES - Differentiating between pressure ul-
cers and moisture lesions. Wounds Essentials
Não se recomenda a utilização de desbridan-
2012, Vol 1
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GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

QUAIS OS ANTISSÉPTICOS QUE DEVO


USAR? QUAIS OS MAIS CITOTÓXICOS E OS
DE NOVA GERAÇÃO?
ANA RITA CIGARRO
Enfermeira na unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de S. João de Deus de Montemor-o-Novo; Pós Graduada
em Gestão de Feridas crónicas pela Sinais Vitais; Mestranda em Cuidados Paliativos, pela Universidade Católica
Portuguesa de Lisboa

19

RESUMO DE COMUNICAÇÃO sódio que é um excelente desinfetante, mas


Os antimicrobianos são agentes que des- não é um eficaz antisséptico, com prejuízo
troem os microrganismos ou inibem o seu para a cicatrização (OVINGTON, 2004).
crescimento ou divisão. Entre estes desta- No que concerne aos antibiótico tópicos,
cam-se: estes não são recomendados no tratamen-
•Os antibióticos (que atuam em lugares es- to de feridas complexas por vários fatores
pecíficos das células), (YOUNG, 2012; MELLING et al, 20016):
•Os antissépticos (atuam em superfícies vi- •Não há evidência da sua eficácia;
vas – bióticas) (OVINGTON, 2004), •Apresentam atividade decrescente da su-
•Os desinfetantes (atuam em superfícies perfície para a profundidade: apresentam
abióticas), como é o caso do hipoclorito de uma inadequada penetração nos tecidos;
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•Promovem o desenvolvimento de resistên- •Octenidina.


cias bacterianas e de superinfeções (infeções Os antissépticos tópicos em penso também
por bactérias resistentes) são recomendados, pois garantem:
•Provocam reações alérgicas e distúrbios na •Libertação gradual, atividade bacteriana
flora da pele rápida, ação prolongada e permanente do
Em relação ao uso dos antissépticos no tra- princípio ativo no leito da ferida;
tamento de feridas, a sua efetividade deve •Persistente atividade independentemente
ser avaliada de acordo com os efeitos noci- da dose;
vos que poderão originar no tecido saudável,
•Manter a atividade na presença do exsuda-
mais do que nas bactérias e tecidos inviáveis.
do da ferida;
Os antissépticos tópicos em solução, como
•Baixa resistência bacteriana;
é o caso do hipoclorito de sódio, iodopovi-
•Sem toxicidade para os tecidos do hospe-
dona, peróxido de hidrogénio, permangana-
deiro ou reação alérgica;
to de potássio, clorohexidina, entre outros,
apresentam diversas desvantagens docu- •Poucos efeitos adversos.
mentadas, pelo que não são recomendados Dos antissépticos tópicos em penso existe
(ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2009; OVING- uma panóplia no mercado, desde pensos
TON, 2004): com prata, polihexanida, mel, entre outros.
•Revelam pouca penetração nas camadas
20 profundas da ferida;
•Em feridas de grandes dimensões pode
haver absorção sistémica de determinados
agentes;
•Podem provocar hipersensibilidade local ou
reações de dermatites de contacto;
•Podem interferir com o processo de cicatri-
zação;
•São citotóxicos (não poupam as células pre-
ponderantes para a cicatrização)
•Possibilidade de alterar a flora normal cutâ-
nea.
Existem no mercado 2 antissépticos em so-
lução considerados de nova geração, logo,
recomendados no tratamento de feridas
complexas (BRAUN, MCGRATH & DOWNIE,
2013; BUTHCER, 2011; GRAY, 2010):
•Polihexanida (PHMB) + Undecilaminopropil
Betaina;
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O MEL NO TRATAMENTO DE FERIDAS

21
ANA RITA CIGARRO
Enfermeira na unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de S. João de Deus de Montemor-o-Novo; Pós Graduada
em Gestão de Feridas crónicas pela Sinais Vitais; Mestranda em Cuidados Paliativos, pela Universidade Católica
Portuguesa de Lisboa

RESUMO DE COMUNICAÇÃO Este “remédio antigo” foi reconhecido como


A presente comunicação sobre o mel no tra- agente antibacteriano tópico em 1982, con-
tamento de feridas complexas teve por base tudo, a sua utilização foi sempre baseada em
três questões fundamentais: princípios empíricos, sem bases científicas
concretas (MOLAN, 2011 citado por GRO-
• Existem diferenças entre o mel medicinal
THIER & COOPER, 2011). Tal facto fez com
e o mel caseiro? Pode usar-se o mel ca-
que, aquando da descoberta dos antibióti-
seiro no tratamento de feridas?
cos, o uso do mel, no tratamento de feridas,
• Os meis medicinais são todos iguais?
tenha sido excluído da prática comum (HEN-
O mel foi documentado e reconhecido como RIQUES, 2004 [s.l.]).
agente terapêutico na literatura médica do
Nas últimas décadas, face ao conhecimento
Egipto, Grécia e Índia, pelas suas proprieda-
cientifico já existente sobre as propriedades
des medicinais, no tratamento de feridas, em
promissoras do mel, assiste-se a um crescen-
2000 a.C. (COOPER et al, 2009; GOTTRUP &
te (re)interesse pelo uso do mel no tratamen-
LEAPER, 2004).
to de feridas.
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No que concerne à primeira questão, a li- • Desodorizante (por eliminação direta das
teratura é peremptória. Não é recomenda- bactérias e por estas metabolizam prefe-
do o uso de mel caseiro no tratamento de rencialmente a glicose);
feridas complexas. Para poder ser usado • Propriedades anti-inflamatórias e antio-
no tratamento de feridas, o mel tem de ter xidantes (neutralização dos radicais li-
a sua atividade antibacteriana comprovada, vres);
tem de existir uma rastreabilidade no que
• Modulador do pH (apresenta ph ácido,
respeita à sua origem, e tem de ser livre de
promovendo um ambiente inóspito à
contaminantes, ou seja, tem de ser sujeito a
proliferação bacteriana e atuação das
um processo de esterilização, por radiação
MMP’s);
gama, o qual permite a neutralização dos es-
• Promotor da cicatrização (higroscópico);
poros bacterianos, contidos na sua estrutura
(COOPER & GRAY, 2012). Quer isto dizer que • Propriedades nutricionais: fonte de nu-
o mel medicinal é produzido segundo crité- trientes e energia.
rios rigorosos, que permitem a sua utilização Concretizando as propriedades antibacte-
segura no tratamento de feridas. rianas do mel, inicialmente, pensou-se que a
O mel consiste numa substância líquida vis- sua ação bactericida se devia essencialmente
cosa, supersaturada em açúcares e com uma dois fatores: elevada osmolaridade (elevada
cor e odor peculiares. Constituído por açú- concentração de açucares e reduzida con-
cares simples (glicose, frutose e sacarose), centração de água)e reduzido pH, na ordem
22 uma reduzida percentagem em água (cerca dos 3.5-3.9 (as bactérias e MMP’s necessitam
de 18%) e enzimas, aminoácidos, vitaminas de um ambiente mais alcalina para pode-
e minerais (COOPER & JENKINS, 2009; COO- rem proliferar e atuar) (GETHIN & COWMAN,
PER et al, 2009; JULL RODGERS & WALKER, 2006).
2008). Contudo, percebeu-se que existiam mi-
Deriva do néctar que é recolhido e modifica- crorganismos resistentes, como S. aureus,
do pelas abelhas Apis melíferas. que conseguem sobreviver em ambientes
de grande stresse osmótico e pH reduzido
Em relação às propriedades do mel, a litera-
(HENRIQUES, 2004 [s.l]). Tal facto levou a
tura aponta-o como uma opção terapêutica,
querer que existisse outro factor que con-
no tratamento de feridas, muito completa.
tribuísse para a atividade antibacteriana do
Atua como/Apresenta (GROTHIER & COO-
mel, o qual foi durante anos designado por
PER, 2011; COOPER, JENKINS & ROWLAN-
“factor de inibição” e só mais tarde se perce-
DS, 2011; COOPER et al, 2009; OKHIRIA et al,
beu ser o peróxido de hidrogénio.
2009 citados por COOPER & GRAY, 2012):
Nas últimas investigações realizadas, perce-
• Desbridante (autolítico);
beu-se que o H2O2 é inibido pela catalase
• Antimicrobiano (bactericida de largo es-
(enzima presente nas bactérias e exsudado
pectro);
de feridas) e além disso, percebeu-se que
• Atua sobre o biofilme (previne e elimina existem méis, cujas concentrações de H2O2
biofilmes); são mínimas, o que quer dizer que apresen-
ESPECIAL - VI CONGRESSO
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tam uma atividade antibacteriana não de- e armazenamento, bem como dos compo-
pendente do H2O2 – é o caso do Mel Ma- nentes antibacterianos. Desta forma, pode
nuka (KWAKMAN et al, 2011). afirmar-se que o mel não é todo igual, pelo
O mel Manuka deriva do néctar das flores que não pode ser considerado um produto
das árvores de Manuka – planta da espécie genérico.
Leptospernum Scoparium, indígena da Nova O mel medicinal (MGH – Medical Grade Ho-
Zelândia. ney), este encontra-se disponível no merca-
A atividade antibacteriana do mel Manuka do, sob a forma de diferentes apresentações,
está dependente de 4 fatores essenciais desde pasta, gel e associações com hidroco-
(MOLAN, 1992 citado por COOPER & GRAY, lóides, alginato de cálcio, poliacrilato, entre
2012; MAVRIC et al, 2008 citados por COO- outros.
PER & GRAY, 2012; KWAKMAN et al, 2011):
• pH reduzido; BIBLIOGRAFIA
• Elevada osmolaridade; COOPER, R.; GRAY, D. – Is manuka honey a
• Metilglioxal (MGO): composto presente credible alternative to silver in wound care?.
no néctar das flores de Manuka, formado In: Wounds UK, V.8, Nº4, 2012. p. 54-64;
a partir da conversão da dihidroxiaceto- COOPER R, JENKINS L (2009) - A compari-
na (DHA). Sabe-se que o MGO existem son between medical grade honey and table
em concentrações, 100 vezes superiores, honeys in relation to antimicrobial efficacy.
no mel Manuka, comparativamente a ou- Wounds 21(2): 29–36 23
tros méis, sendo-lhe conferida uma ação COOPER, R.; JENKINS, L.; ROWLANDS, R. –
bactericida significativa; Inhibition of biofilms through the use of ma-
• Composto catiónicos e não catiónicos, nuka honey. In: Wounds UK, V.7, Nº1, 2011.
ainda não identificados. p. 24-32;
A atividade antibacteriana do mel Manuka GETHIN, G, COWMAN, S - Changes in Sur-
está associada a um sistema de classifica- face pH of Chronic Wounds When a Honey
ção próprio – UMF (Factor Único Manuka), Dressing was Used. In: Wounds UK Confe-
sendo que os méis Manuka, com UMF igual rence Proceedings. Aberdeen. Novembro,
ou superior a 10 (10+UMF) são aqueles que 2006. p. 13–15
apresentam uma atividade antibacteriana GOTTRUP F, LEAPER D. Wound healing: His-
significativa para o uso medicinal (COOPER torical Aspects. EWMA Journal [Internet].
& GRAY, 2012). Outono 2004 [acedido Fev 22]; 4(2): [cerca de
Assim sendo, dando resposta á ultima ques- 6p.]. Disponível em: http://ewma.org/english/
tão colocada no início da comunicação – “Os publications/ewma-journal/latest-issues.
méis medicinais são todos iguais?” A respos- html
ta é não. A atividade antibacteriana do mel GROTHIER, L., COOPER, R. - MedihoneyTM
depende de vários factores, como as condi- Dressings – Products for practice: made easy.
ções geográficas e climáticas, da fonte floral, In: Wounds UK, V. 7, Nº4 (Nov 2011). p.1-6;
das condições de colheita, processamento
HENRIQUES, A. – Mel: um milagre da nature-
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GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

za para o tratamento de feridas? (2004) [s.l.]


JULL, A.; RODGERS, A. & WALKER, N. - Ho-
ney as a topical treatment for wounds. In:
Cochrane Database of Systematic Reviews,
Issue 4, 2008.
KWAKMAN PHS, te Velde AA, de Boer L,
Vandenbroucke-Grauls CMJE, Zaat SAJ
(2011) Two Major Medicinal Honeys Have Di-
fferent Mechanisms of Bactericidal Activity.
PLoS ONE 6(3): e17709. doi:10.1371/journal.
pone.0017709.
MENOITA, E. & CIGARRO, A. (2015). Material
de penso: mel. In E. Menoita, Gestão de Fe-
ridas complexas (pp. 414-421). Lisboa: Luso-
didacta.

24
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

Bfood- ANA: A Importância da Nutrição no


Tratamento das Feridas Complexas

ANA SOFIA GOUVEIA DA CUNHA


Licenciada em Ciências da Nutrição pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde do Norte. Nutricionista da
Empresa Palmeiro Foods. Nutricionista Clínica.

RESUMO DE COMUNICAÇÃO nutricionais inerentes a utentes com diver-


A Palmeiro Foods é uma empresa produto- sas especificidades, nomeadamente, dificul-
ra do ramo alimentar desde 1980, com vasta dades de mastigação e deglutição, doenças
experiência na área dos desidratados e liofi- neurológicas, doenças oncológicas, patolo-
lizados. gias relacionadas com o envelhecimento e
com o défice nutricional.
O sistema de qualidade implementado é
certificado de acordo com as normas ISO Os produtos Bfood-ANA podem ser utiliza-
22000-2005 e ISO 9001-2008. dos, simplesmente, para perfazer todas as
necessidades de um plano alimentar diário
Os projetos de Investigação e Desenvolvi- 25
ou para solucionar casos mais graves e espe-
mento são alicerçados através de parcerias
cíficos como o tratamento de feridas com-
e protocolos com entidades de renome do
plexas.
conhecimento científico e tecnológico, como
o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricar- As feridas complexas são habitualmente tra-
do Jorge, o Instituto de Biologia Experimen- tadas através de métodos convencionais e
tal e Tecnológica, a Faculdade de Ciências e curativos simples, no entanto, a nutrição tem
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa um papel fulcral no tratamento das mesmas.
e a Escola Superior de Tecnologia da Saúde As guidelines existentes para o aporte de
de Lisboa. Hidratos de Carbono no tratamento de feri-
A Bfood-ANA é uma linha de produtos de das complexas são de 50 a 60% do substrato
Nutrição Natural Adaptada desenvolvida energético diário, sendo esta a proporção
pela Palmeiro Foods. Esta linha apresen- oferecida pelos produtos Bfood – ANA. (1)
ta versatilidade de texturas, podendo ser Quanto às necessidades proteicas em caso
adaptável desde a textura líquida à textura de feridas complexas, atualmente é preconi-
de puré, sendo também suplementada em zado um aporte de 1,25 a 1,5 g/Kg/dia. Com
micro e macro nutrientes e tendo como prin- os produtos BFood – ANA, é possível com
cipal referência, ingredientes funcionais e o um aporte energético diário de 1800 Kcal,
seu potencial efeito fisiológico. Assim, tem fornecer cerca de 90 g de proteína, o que
como principal objetivo suprir necessidades corresponde a cerca de 1,5 g/Kg/dia num
ESPECIAL - VI CONGRESSO
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adulto de 60 Kg. (2) BIBLIOGRAFIA


Os produtos Bfood – ANA são enriquecidos 1. MOREIRA JR., J.C. Desnutrição e Cicatriza-
em vitaminas A, E, C, K e do complexo B que ção de Feridas. In: WAITZBERG, D.L. Nutrição
detêm funções metabólicas e estruturais ba- Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica.
silares para o tratamento das feridas com- 3.ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2006. p. 411
plexas. (3) – 421.NOBRE, G.E. “et al”. Terapia nutricional
Minerais como o Ferro, Cobre e Zinco, fun- no paciente com úlceras de pressão. Nutr
damentais para a cicatrização das feridas Bras., n. 4, p. 233 - 238. Rio de Janeiro, Jul./
complexas, estão entre os diversos minerais Agos. 2006.
constituintes dos produtos Bfood-ANA. (4) 2. EPUAP . European Pressure Ulcer Advisory
A quantidade de alimentos servidos numa Panel and National Pressure Ulcer Advisory
refeição é considerada grande para os ido- Panel (NPUAP). Prevention and treatment of
sos que não conseguem realmente ingerir pressure ulcers: quick reference guide. Wa-
todo o alimento servido. A redução da por- shington DC: Nat Press Ulcer Adv Pan.,
ção servida e a utilização de alimentos com 2009. Disponível em: <http://www.epuap.
maior densidade energética e nutricional org/guidelines/Final_Quick_Prevention.pdf>.
podem minimizar significativamente a perda Acesso em: 05 Set. 2010.
em termos de ingestão. (5) 3. Rojas, A. & Phillips, T., Patients with chro-
Assim sendo, os produtos Bfood-ANA têm nic leg ulcers show diminished levels of vita-
um papel fundamental na resolução desta mins A and E, carotenes and Zinc, The Ame-
26
problemática, pois devido à sua elevada con- rican SOciety for dermatologc Surgery, 1999,
centração nutricional, pequenas quantidades 25:601-604.
preenchem as doses diárias recomendadas. 4. Cássia R, Oliveira PA. Úlcera por pressão.
Uma vez que quantidade não é sinónimo de In: Magnoni D, et al. Nutrição na terceira ida-
qualidade, deve-se, cada vez mais, incidir na de. 1ª ed. São Paulo: Sarvier: 2007. p. 121-9.
alimentação suplementada, garantindo as- 5. SAKASSHITA, V.M; NASCIMENTO,
sim o aporte nutricional adequado, não es- M.L;Úlcera por pressão em idosos: a impor-
quecendo nunca que esta se deve manter o tância do manejo nutricional no tratamento.
mais próximo da alimentação natural e tra- Geriatria e Gerontologia. 5(4):253-60. 2011
dicional.
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AVALIAÇÃO E CONTROLO DA DOR NO


DOENTE COM FERIDA

ELSA CRISTINA MORAIS FIGUEIREDO SANTOS


Enfermeira; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. 27

RESUMO tencial, ou descrita em função dessa lesão. A


No doente com ferida, a dor não controlada dor, é pessoal, subjetiva e multidimensional,
decorrente da lesão tem um impacto nega- e como tal é diferente de individuo para indi-
tivo na cicatrização e na qualidade de vida viduo, devendo a sua abordagem integrar o
(2). Para minimizar esta situação é necessá- modelo biopsicossocial, tendo em conta não
rio, por parte dos profissionais de saúde, a só os aspetos sensoriais da dor, mas também
combinação de um conhecimento primário as suas implicações psicológicas, sociais e
da fisiopatologia da dor, de uma avaliação até culturais (3).
da dor feita com exatidão, de um tratamen- A Ordem dos Enfermeiros (6) sugere um al-
to especializado de feridas e de um regime goritmo que orienta os profissionais quanto
analgésico individualizado (4). aos principais itens a ter em conta no contro-
lo da dor, desde a seleção dos instrumentos
de avaliação, passando pela história de dor,
INTRODUÇÃO
até ao estabelecimento dos diagnósticos e
A Associação Internacional para o Estudo
intervenções de enfermagem, monitorização
da Dor (IASP) define a dor como uma expe-
e reavaliação da dor.
riência sensorial e emocional desagradável,
Sabendo que, no doente com ferida é prati-
associada a uma lesão tecidular real ou po-
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GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

camente impossível garantir ausência de dor entre outros;


em todos os momentos do dia-a-dia, é fun- • Componente comportamental - é refe-
damental estabelecer metas realistas, que rente à forma como o doente manifesta
visem a redução da dor e do desconforto ao a dor (ex: taquicardia ou bradicardia com
mínimo aceitável por este. Uma abordagem possível perda de consciência, gritos, la-
estratificada vai ajudar na avaliação e defini- mentações, choro, palidez, mutismo, en-
ção de um plano terapêutico individualiza- tre outros;
do e multidisciplinar, que deve sempre que
Sobressai até aqui, que são muitos os pro-
possível envolver o doente e seus familiares/
cessos de índole psicológica que influenciam
cuidadores (4).
a experiência dolorosa. Compreende-se as-
sim, que um doente possa referir dor inten-
DIMENSÕES DA DOR sa, apesar de na opinião do profissional de
Quando existe dor, qualquer que seja a causa saúde a queixa não ter relação lógica com a
ou o mecanismo envolvido, a sua representa- extensão ou importância da lesão orgânica
ção cerebral apresenta quatro componentes: que a provoca (5). Portanto, mais do que du-
sensório-discriminativa, afetivo-motivacio- vidar do doente, e entrar em conflito, é preci-
nal, cognitiva-avaliativa e comportamental so perceber as suas motivações, avaliando a
(5). dor de forma minuciosa para estabelecer um
plano terapêutico individualizado.
• Componente sensório-discriminativa -
28 corresponde às características da dor
(duração, localização, qualidade e inten- CLASSIFICAÇÃO DA DOR NO DOENTE COM
sidade). Com questões simples como: Há FERIDA
quanto tempo dói?, Onde dói?, Como De uma forma geral, no doente com ferida
dói?, e Quanto dói?, consegue-se evocar pode classificar-se a dor da seguinte forma:
possíveis causas da dor e classifica-la; quanto à duração (aguda ou crónica); quan-
• Componente afetivo-motivacional - re- to à fisiopatologia (nociceptiva somática su-
porta-se à forma como o doente sente a perficial ou profunda, neuropática e mista);
dor (ex: ansiedade, medo, aborrecimen- quanto à manifestação (dor de fundo, episó-
to, depressão) e depende do carater e da dica, procedimental e operatória) e quanto à
personalidade deste; intensidade (sem dor, dor ligeira, moderada,
• Componente cognitivo-avaliativa - cor- intensa ou máxima) (2,4).
responde ao significado, consciente ou Quanto à duração:
não, que o doente atribui à experiência Dor aguda – é de início recente (menos de
dolorosa (ex: limitante, incapacitante, três meses), bem localizada, com relação
fatal, compensatória) e depende da his- causal com a ferida que lhe deu origem e
tória familiar/pessoal, do meio social, da provável duração limitada.
natureza da causa da dor (benigna ou
Dor crónica – tem duração superior a três/
maligna), das experiências anteriores e
seis meses, pode persistir para além da cura
dos ganhos secundários que possa acar-
da ferida e pode não ter intensidade correla-
retar (atenção, compensação financeira),
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

cionável com o estímulo desencadeante. a dor neuropática;


Quanto à fisiopatologia: Dor mista - resulta da presença simultânea
Dor nociceptiva somática - surge devido à de dor nociceptiva e neuropática.
ativação dos nocicetores (terminações ner- Quanto à manifestação:
vosas livres que enviam os sinais dolorosos Dor de fundo - está relacionada com a cau-
para o sistema nervoso central), causada pela sa subjacente à ferida (ex: isquémia), fatores
lesão de tecidos não nervosos. Se a cicatriza- locais (ex: infeção, maceração) ou outras pa-
ção da ferida for retardada, o prolongamen- tologias (ex: diabetes, artrite reumatoide). É
to da fase inflamatória leva à hipersensibili- sentida em repouso, sem manipulação da fe-
zação dos nocicetores, e ao aparecimento de rida, podendo ser continua ou intermitente;
hiperalgesia primária e/ou secundária bem
Dor episódica - corresponde a agravamen-
como de alodinia. Estes sintomas, pouco va-
tos intermitentes da dor de fundo e pode
lorizados, explicam o porquê de estímulos
ser dividida em incidental (surge de forma
aparentemente pouco dolorosos, tanto no
esperada após estimulação voluntária ou in-
leito da ferida como na região circundan-
voluntária), fim-de-dose (surge sempre antes
te, serem percecionados pelo doente como
da administração do fármaco basal), irruptiva
muito dolorosos (hiperalgesia); e estímulos
(surge espontaneamente sem relação com
não dolorosos serem percecionados como
fármacos, funções ou movimentos corpo-
dolorosos (alodinia). Este tipo de dor pode
rais);
ser superficial ou profunda consoante os
Dor procedimental - resulta de um procedi- 29
tecidos lesados sejam respetivamente pele
mento básico como seja a remoção/aplica-
e tecido subcutâneo ou músculos, tendões,
ção de um apósito ou limpeza da ferida;
ossos e articulações;
Dor operatória - surge quando é executada
Dor neuropática é resultante de lesão ou
uma intervenção que necessita de anestesia
doença do sistema nervoso periférico ou
local ou geral para ser realizada.
central, decorrente de traumatismos, proces-
sos inflamatórios ou infiltrativos, cirurgias,
doenças metabólicas (diabetes) e toxicidade AVALIAÇÃO DA DOR
(quimioterapia). Manifesta-se normalmente O sucesso da estratégia terapêutica depende
por sensações, ditas aberrantes, como por da avaliação da dor em todas as suas ver-
exemplo: formigueiro, picada, choque elé- tentes. A realização da história de dor, na
trico, queimadura, frio doloroso, dormência, avaliação inicial, faculta um conhecimento
guinada. De uma forma geral a dor neuro- da experiência de dor do doente único. Deve
pática é sub-diagnosticada, e por isso causa constar desta história: exame físico, caracte-
de ineficaz controlo da dor. Na tentativa de rísticas da dor, formas de comunicar a dor,
ultrapassar esta situação, a Direção-Geral da fatores de alívio e agravamento, estratégias
Saúde (DGS) publicou orientações e normas de coping, implicações na vida diária, com-
para o diagnóstico e controlo da dor neu- preensão da doença, impacto emocional,
ropática em 2011 e 2014 e a IASP definiu social, económico e espiritual, sintomas as-
2014/2015 como o ano global de luta contra sociados e estratégias terapêuticas utilizadas
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GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

(6). abreviado da dor (Brief Pain Inventory), que


Se se for cuidadoso e criterioso na realiza- avalia a evolução da dor na última semana
ção da história de dor, “facilmente” se chega em várias vertentes. A escala para rastreio
a um diagnóstico e se definem intervenções de dor neuropática (DN4) pode também ser
com elevada probabilidade de sucesso, que muito útil, facilitando a identificação deste
podem passar apenas por um simples diá- tipo de dor. É importante ainda utilizar um
logo…, se o que efetivamente estiver a con- diagrama corporal, sobretudo se houver
dicionar a perceção de dor forem elevados mais do que uma área dolorosa que neces-
níveis de ansiedade ou de medo. Nem sem- site de ser pontuada de forma diferente (1).
pre são necessários reajustes na terapêutica A documentação de todos estes dados é fun-
farmacológica. damental para perceber a evolução tenden-
Depois do estabelecimento de intervenções cial da dor e adequar estratégias, facilitando
é fundamental monitorizar a dor pois só as- a avaliação da qualidade, análise epidemio-
sim se percebe a eficácia do plano terapêu- lógica e investigação. O próprio doente em
tico. A monitorização deve ser feita de for- ambulatório pode recorrer à utilização de
ma continua e regular, antes, durante e após um diário de dor como promotor do auto-
procedimentos dolorosos e aquando da ad- controlo e da continuidade dos cuidados (6).
ministração de terapêutica farmacológica ou
intervenções não farmacológicas (6). CONTROLO DA DOR
Para avaliar a dor devem, por rotina, ser uti- São inúmeros os métodos que podem ser
30
lizadas escalas de avaliação escolhidas em utilizados para controlar a dor, sendo o re-
função da idade do doente, situação clini- curso a analgésicos um ato quase reflexo
ca, propriedades psicométricas, critérios de perante alguém que sofre (5). No entanto é
interpretação e facilidade de aplicação. A necessário não esquecer que as estratégias
DGS, na circular normativa n.º9 /DGCG de não farmacológicas também têm o seu pa-
14/06/2003, sugere a utilização de escalas pel, e quando utilizadas em complementa-
de autoavaliação (ex: numérica, qualitativa, ridade com as estratégias farmacológicas
faces, visual analógica) em que é o doente a potenciam o efeito terapêutico global, per-
avaliar a sua dor. No entanto é fundamental mitindo a redução da dose de fármacos, de
que o enfermeiro se assegure que o doente efeitos secundários e, por vezes, diminuição
compreendeu corretamente o significado e dos custos (6).
utilização da escala. Quando existem altera-
O controlo farmacológico da dor passa por
ções cognitivas ou dificuldade de comunica-
um mundo vasto de diferentes fármacos,
ção deverão ser utilizadas escalas de hete-
com diferentes indicações, diferentes vias e
roavaliação (ex: escala comportamental da
formas de administração, que exigem cuida-
dor), onde quem avalia a dor é o enfermeiro
doso ajuste, com o objetivo de conseguir o
através da observação do comportamento
máximo de analgesia com o mínimo de efei-
do doente.
tos secundários.
Podem ainda ser utilizadas escalas multidi-
Em 1986 a OMS (Organização Mundial de
mensionais. Um exemplo é o questionário
Saúde) criou a escada analgésica (Fig. 1) que
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deve servir de base de orientação para a dimental ou operatória, seguindo a mesma


prescrição de analgésicos. Esta escada advo- escada de utilização, isto é, se a dor é intensa
ga o uso sequencial de fármacos no trata- devem utilizar-se opióides fortes (desde que
mento da dor, começando na dor ligeira com o doente os tenha prescritos de base) e se é
fármacos não opióides (paracetamol, anti- ligeira utilizar não opióides.
-inflamatórios não esteróides e metamizol) Em qualquer um dos degraus é importante
passando aos opióides fracos na dor mode- considerar a hipótese de associar adjuvan-
rada (ex: tramadol, codeína), mantendo os tes… fármacos que apesar de terem outras
não opióides. Na dor intensa introduzem-se indicações primárias, podem em determina-
os opióides fortes (ex: morfina, buprenorfi- das situações exercer efeito analgésico (ex:
na, fentanilo, entre outros), com suspensão ansioliticos, relaxantes musculares, anticon-
dos opióides fracos e manutenção dos não vulsivontes, antidepressivos). Especificamen-
opióides. te no doente com dor neuropática a não
Os fármacos em SOS devem ser acrescenta- introdução de adjuvantes pode, na grande
dos à medicação de base, e ficar reservados maioria dos casos, inviabilizar o controlo da
para a dor episódica ou em casos de ser ne- dor (5).
cessária analgesia preventiva na dor proce-

31
Figura 1 – Escada analgésica da OMS (adaptação).
ESPECIAL - VI CONGRESSO
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O controlo não farmacológico da dor inclui • Dar resposta aos fatores locais (infeção,
várias técnicas, transversais aos três degraus maceração, problemas dermatológicos,
da escada analgésica. Falamos de técnicas entre outros);
cognitivo-comportamentais (ex: informação • Selecionar o apósito criteriosamente (ex:
prévia, relaxamento, distração), físicas (ex: que promova ambiente húmido, seja
imobilização, estimulação elétrica transcutâ- atraumático na remoção e tenha capa-
nea, massagem) e de suporte emocional (ex: cidade de absorção ajustada ao nível de
presença de alguém significativo, toque te- exsudado da ferida);
rapêutico) (6).
• Evitar pressão excessiva do penso ou
De uma forma geral, no doente com ferida adesivos;
para controlar a dor é necessário (4):
• Envolver o doente/família/cuidador ao
• Considerar em equipa as opções analgé- longo do processo;
sicas (farmacológicas e não farmacológi-
cas), após avaliação criteriosa da dor;
CONCLUSÃO
• Ensinar o doente sobre a importância do
Podemos concluir que o controlo da dor no
cumprimento do esquema terapêutico,
doente com ferida é possível, mas implica
administração dos fármacos e gestão
uma avaliação adequada, monitorização re-
dos analgésicos em SOS;
gular, e confiança do doente na equipa que
• Ajustar o esquema terapêutico sempre
o está a tratar. Os objetivos do tratamento
que a reavaliação da dor assim o exija;
32 farmacológico e não farmacológico devem
• Ensinar ao doente técnicas de autocon- visar não só o alívio da dor mas também
trolo da dor (utilizar diário da dor, ver melhoria da funcionalidade, sendo o doente
televisão, ouvir música, identificar pos- com ferida e seus cuidadores, parceiros ati-
turas/movimentos que diminuam a dor, vos e comprometidos com o tratamento. Im-
entre outros); porta ainda salientar que existem Unidades
• Preparar o ambiente onde é feito o trata- especializadas no controlo da dor, tanto nos
mento da ferida (privacidade, manuten- hospitais centrais como distritais, para onde
ção da temperatura da sala, presença de os doentes podem ser referenciados quan-
alguém significativo, entre outros); do, apesar de uma estratégia concertada,
• Considerar analgesia preventiva aquan- não se consegue controlar a dor.
do da realização de procedimentos do-
lorosos; BIBLIOGRAFIA
• Explicar o procedimento ao doente; 1. AZEVEDO, Luis Filipe [et al] – Tradução,
• Expor a ferida durante o tempo estrita- adaptação cultural e estudo multicêntrico
mente necessário à realização do penso; de validação de instrumentos para rastreio
• Evitar estímulos desnecessários na ferida; e avaliação do impacto da dor crónica. DOR.
ISSN 0872-4814. vol. 15, nº 4 (2007), p.6-56.
• Considerar a temperatura da solução de
limpeza (líquidos frios podem aumentar 2. BENBOW, Maureen – A practical guide to
a dor); reducing pain in patients with wounds. Bris-
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

tish Journal of Nursing. ISSN 0966-0461. vol.


18, nº 11 (2009), p. 11-24.
3. DIREÇÃO-GERAL DA SAUDE (DGS) – Plano
nacional de luta contra a dor. [1ª ed.] Lisboa:
DGS, 2001. ISBN 972-9425-95-7.
4. MEDICAL EDUCATION PARTNERSHIP Ltd
– Minimizar a dor nos procedimentos rela-
cionados com pensos: um document de con-
senso. Úlceras de Perna: uma abordagem de
aprendizagem baseada na resolução de pro-
blemas IN. Loures: Lusodidata, 2010. ISBN
978-989-8075-25-3. Pt. 29, p. 489-499.
5. METZEGER, Christiane [et al] – Cuidados de
enfermagem e dor. 1ªed. Loures: Lusociência,
2002. ISBN 972-8383-32-0.
6. ORDEM DOS ENFERMEIROS-CONSELHO
ENFERMAGEM – DOR-Guia orientador de
boa prática. [1ªed.] Ordem dos Enfermeiros,
2008. ISBN 978-972-99646-9-5.
33
ESPECIAL - VI CONGRESSO
GESTÃO DE FERIDAS COMPLEXAS

CONFERÊNCIA
Larvaterapia já comercializada em Portugal?
TONI HUBBARD - QUEENLABS
A Toni Hubbard, enquanto enfermeira, trabalhou no setor privado e público no Reino Unido, embora tenha estado
a maior parte da sua carreira de enfermagem no setor comunitário do Sistema Nacional de Saúde em Londres.
Posteriormente, trabalhou como Enfermeira Consultora na Indústria Farmacêutica em variados projetos, antes de
se ter juntado à empresa Biomonde, em 2011. Já nesta empresa, começou a trabalhar como Especialista de Produto
para formar profissionais de saúde e prestar apoio na utilização da Terapia Larvar em feridas crónicas e necrosadas.
Cinco anos após a sua entrada para a Biomonde, a Toni é atualmente Gestora da Distribuição Europeia da empresa
e apoia a utilização da Terapia Larvar por toda a Europa.

RESUMO DE COMUNICAÇÃO das.


Introdução Estas larvas alimentam-se de tecidos mortos
A pele normal é composta por células e ma- e podem ser muito eficientes na limpeza de
triz extracelular (ECM = ExtraCellular Matrix), feridas difíceis de cicatrizar.
em equilíbrio no que diz respeito à sua sín- Estudos demonstram que a Terapia Larvar
tese e degradação por proteases. A pele tem atua de forma completa percorrendo todas
2 tipos principais de proteases: as MMP (me- as ações do TIME:
taloproteases da matriz) e as Serinaprotea- T (1) = Desbrida a ferida, removendo o tecido
ses (ou seja, tripsina e quimotripsina). Estas morto e não viável, e removendo e prevenin- 35
enzimas são entidades químicas que agem do os biofilmes bacterianos.
cortando as ligações entre as proteínas. E,
I (2) = Possui atividade antibacteriana e
em tecido saudável, são reguladas por inibi-
anti-inflamatória, pois remove e previne os
dores das proteases. No tecido normal, exis-
biofilmes bacterianos e secreta fatores an-
te um equilíbrio entre proteases e inibidores
tibacterianos que eliminam as bactérias
de proteases e a ECM é regulada no tecido
(Streptococus pyogenes, S. pneumoniae,
normal.
Enterobacter cloacae, Bacillus cereus, Clos-
Nas feridas crónicas, este equilíbrio é com- tridium difficile e MRSA; bacterias Gram po-
pletamente interrompido, proteases e inibi- sitivas (ex.: Streptococci, Staphylococcen) e
dores das proteases estão em desequilíbrio. Gram negativas (ex.: Escherichia coli, Pseu-
Como consequência, a ECM necrótica é um domonas aeruginosa))(5).
paraíso para as bactérias e o Desbridamen-
M (3) = Normaliza a produção de exsudado
to da ECM necrótica deve ocorrer para que
da ferida (efeito secundário)
seja possível o progresso da cicatrização da
E (4) = Suporta a granulação, remodelação e
ferida.
o fechamento da ferida; estimula a contração
dos bordos da ferida; e, ao mesmo tempo,
Terapia Larvar promove atração de células e a mobilidade
Na Terapia Larvar são utilizadas as larvas de de fibroblastos, células endoteliais e quera-
mosca da espécie Lucilia sericata esteriliza- tinócitos.
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As secreções das larvas incluem as enzimas • Local doador de enxerto vascular


Tripsina e Quimiotripsina. Estas enzimas vão • Úlceras venosas de perna
permitir a degradação das ligações proteicas
• Úlceras de calcanhar
do tecido não viável ao tecido viável e ainda
• Úlceras de calcanhar de grau 4
a reorganização da ECM. Permitem ainda a
rápida degradação de coágulos, quebra de • Úlceras de pressão
ligações de fibrina e de tecido necrosado.
A amónia é também um dos componentes Vantagens da Terapia Larvar
das secreções larvares, permitindo que es- • Atua em todas as etapas do TIME, fazen-
tejam reunidas as condições alcalinas ideais do a preparação completa para a cura da
para que a tripsina e a quimiotripsina pos- ferida.
sam exercer as suas funções. • Excelente relação custo-efetividade.
• O método de desbridamento recomen-
Particularidade das larvas dado pela EWMA.
A quimiotripsina larvar é diferente da qui- • Pode ser usado em múltiplos tipos de fe-
miotripsina endógena, pois os inibidores ridas
endógenos da quimiotripsina endógena não .
inativam a quimiotripsina larvar.
Fontes bibliográficas
Além disso, a quimiotripsina larvar é sensível
(1) Dumville et al. (2009): Larval therapy for
36 à alfa-2-macroglobulina, a qual se encontra
leg ulcers (VenUS II): randomized controlled
nas células humanas vitais, o que significa
trial. Brit. Med. J. 338: b773.
que a LDT é seletiva - só vai desbridar tecido
(2) Cazander et al. (2013): Multiple actions of
morto e não viável.
lucilia sericata lavae in hard-to-heal wounds.
Submitted for publication.
Efeito terapêutico
(3) Schultz, G. et al (2003): Wound Bed Prepa-
Os efeitos clínicos mais amplamente relata- ration: a systematic approach to wound ma-
dos da utilização da Terapia Larvar (LDT = nagement. Wound Repair and Regeneration
Larval Debridement Therapy) são: Desbrida- 11, Supplement, 1-28.
mento da ferida; Desinfeção da ferida e Au-
(4) Bexfield A. et al. (2010): Amino acid deri-
mento da cicatrização da ferida.
vatives from lucilia sericata excretions/secre-
A BioMonde coloca à disposição dos profis- tions may contribute to the beneficial effects
sionais de saúde 2 apresentações distintas: of maggot therapyvia increased angiogene-
Larvas livres e Larvas em saco. sis. Br J Dermatol 162, 554-562.
Aplicações da Terapia Larvar: (5) Andersen A. et al (2010): A novel approa-
• Úlcera de pé diabético ch to the antimicrobial activity of maggot
• Hematomas (ex: pré-tibial) debridement therapy. J Antimicrob Chemo-
• Feridas cirúrgicas ther, doi:10.1093/jac/dkq165.

• Deiscências cirúrgicas
CIÊNCIA & TÉCNICA

Artigo recepcionado em Abril de 2012

UTILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GORDOS


HIPEROXIGENADOS NA PREVENÇÃO
DE ÚLCERAS DE PRESSÃO

37

EDUARDO JOSÉ FERREIRA DOS SANTOS MARGARIDA ALEXANDRA NUNES CARRAMANHO


Pós-Graduado em Tratamento de Feridas e Regeneração GOMES MARTINS MOREIRA DA SILVA
Tecidular. Enfermeiro - Fundação Aurélio Amaro Diniz Mestre em Ciências de Enfermagem. Professora Adjunta
(Serviço de Medicina) na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
CIÊNCIA & TÉCNICA

RESUMO ABSTRACT
Contexto: Nos últimos anos têm-se observa- Context: In the last years it has been obser-
do avanços notáveis da ciência na área das ved remarkable science advances in the area
úlceras de pressão mas a sua prevenção con- of pressure ulcers but its prevention remains
tinua a ser um grande desafio. Este trabalho a major challenge. Thus, this study follows
surge na sequência da utilização de um pro- the use of an innovative product – the hyper-
duto inovador – os ácidos gordos hiperoxi- -oxygenated fatty acids (HOFA).
genados (AGHO). Goal: Determine the efficacy of the HOFA in
Objectivos: Determinar a eficácia dos AGHO pressure ulcers prevention, its evidence level
na prevenção de úlceras de pressão, o seu and recommendation degree.
nível de evidência e grau de recomendação. Drawing: Systematic review with meta-analy-
Desenho: Revisão sistemática com metaná- sis.
lise. Methods: We followed the principles propo-
Métodos: Foram seguidos os princípios pro- sed by the Cochrane Handbook. The review
postos pelo Cochrane Handbook. A análise was conducted by two singly researchers
crítica foi realizada isoladamente por dois and statistical analysis was performed using
investigadores e a análise estatística com re- the program STATA 11.1.
curso ao programa STATA 11.1. Results: The patients treated with HOFA have
Resultados: Os utentes tratados com AGHO 58% lower risk of developing pressure ulcers
38 apresentam 58% de menor risco de desen- (odds ratio = 0.42, IC 95% = 0.25-0.70, p =
volverem úlceras de pressão (odds ratio= 0.001) and that could be reflected in a grade
0.42, IC 95% = 0.25-0.70, p= 0.001) o que se of recommendation A.
traduz num grau de recomendação A. Conclusion: The use of HOFA is a safe practi-
Conclusão: A utilização de AGHO é uma ce in the prevention of pressure ulcers.
prática segura na prevenção das úlceras de Descriptors: Hyper oxygenated fatty acid;
pressão. pressure ulcer; prevention.
Descritores: Ácidos gordos hiperoxigenados;
úlcera de pressão; prevenção.
CIÊNCIA & TÉCNICA

INTRODUÇÃO vez que atraem plaquetas e granulócitos, es-


A utilização de substâncias oleosas e ricas timulam a estase do fluxo sanguíneo e pro-
em ácidos gordos desde sempre ocuparam duzem uma microtrombose, que posterior-
uma posição de relevo na prevenção e trata- mente diminui o fluxo sanguíneo e estimula
mento de feridas, sendo empiricamente apli- o desenvolvimento de tecido necrosado(8).
cados ao longo da história(1,2). No âmbito do material de penso com acção
No entanto, atualmente, já existem evidên- terapêutica os AGHO entram na formulação
cias científicas sobre os seus benefícios para de soluções, que devem ser aplicadas três
a regeneração da epiderme e da prevenção vezes ao dia nas zonas de risco/ pressão(12).
de úlceras crónicas(3). Neste contexto, o presente artigo pretende
Os ácidos gordos hiperoxigenados (AGHO) conhecer e sistematizar a eficácia dos AGHO
são um produto composto por ácidos gor- na prevenção de UPr pelo facto de estas não
dos essenciais (AGE) que foram submetidos constituírem exclusivamente um importante
a hiperoxigenação, o que lhes confere maior problema de saúde mas também um rele-
estabilidade e penetração da pele; e são de vante indicador de qualidade directamente
uso tópico para a prevenção e no tratamen- implicado com os cuidados de Enfermagem.
to de úlceras de pressão (UPr) de catego- Assim, com o intuito de focalizar o campo da
ria I apresentando as seguintes proprieda- nossa problemática, delineando claramente
des(4-10): as suas fronteiras, foi enunciada a seguinte
Proporcionam a protecção da pele contra os questão de investigação: Qual é a eficácia
39
efeitos de alguns agentes causais mais im- dos ácidos gordos hiperoxigenados na pre-
portantes das UPr (pressão e fricção); venção de úlceras de pressão?
Permitem uma óptima hidratação; Após a formulação da questão orientadora
e de modo a limitar o campo de pesquisa
Facilitam as renovações das células da pele;
desta revisão definiram-se os seguintes ob-
Permitem reverter as lesões iniciais produzi-
jectivos:
das pela isquémia (eritema não branqueável
- Determinar a eficácia dos ácidos gordos hi-
ou UPr categoria I), aumentando a microcir-
peroxigenados na prevenção de úlceras de
culação sanguínea;
pressão;
Aumentam a resistência da pele;
- Determinar o nível de evidência e o grau
Reduzem o efeito dos radicais livres.
de recomendação da utilização dos ácidos
Quando na pele não há presença de AGE, a gordos hiperoxigenados na prevenção de úl-
nível cutâneo produz-se uma tendência de ceras de pressão.
interrupção na produção de prostaglandinas
e, secundariamente, um estado de hiperpro-
1 – METODOLOGIA
liferação (descamação)(11).
De forma a identificar os principais estudos
Por outro lado, nos tecidos submetidos a
primários e secundários que permitissem
pressão, os radicais livres não são suficien-
responder à questão anteriormente men-
temente eliminados. Quando há um excesso
cionada, foram adoptados os princípios pro-
de radicais, estes danificam o endotélio, uma
CIÊNCIA & TÉCNICA

postos pelo Cochrane Handbook(13). A loca- Para além das bases electrónicas foi consul-
lização e selecção dos estudos foi realizada tada a base de dados da Biblioteca da Uni-
através de uma estratégia de pesquisa que versidade de Coimbra, da ESEnfC e as publi-
incidiu sobre várias bases de dados electró- cações da Wounds International, do GAIF e
nicas. da EWMA.
A primeira amostra de artigos ficou, então,
LOCALIZAÇÃO E SELECÇÃO DOS ESTUDOS composta por 177 trabalhos. Após a leitura
e análise dos títulos e resumos dos estudos
As pesquisas electrónicas realizaram-se en-
encontrados, constatou-se que 16 artigos se
tre Fevereiro de 2011 e Abril de 2011 atra-
encontravam repetidos e 143 não se refe-
vés de vários motores de busca científica:
riam ao tema em estudo especificamente e/
PubMed-MEDLINE, Google Scholar, SciELO
ou não se enquadravam no limite temporal
Scientific Electronic Library Online, The Co-
e/ou participantes estabelecidos anterior-
chrane Library, The Joanna Briggs Institute;
mente, tendo a amostra ficado reduzida a 18
CINAHL Plus with Full Text, MedicLatina, Aca-
trabalhos.
demic Search Complete, MEDLINE with Full
Text (via EBSCO); Elsevier - Science Direct (via
b-on – Online Knowledge Library) e CUIDEN. ANÁLISE CRÍTICA DOS ESTUDOS
Apenas foram considerados estudos com A partir deste ponto foram definidos e apli-
população adulta (maior de 18 anos), pu- cados critérios de selecção (Tabela 1) mais
40 blicados em língua portuguesa, espanhola rigorosos, de forma a estreitar e refinar o
(castelhano) ou inglesa e com limitação tem- corpus de estudo que constituiria esta revi-
poral de 2001 até à actualidade. são. Neste sentido, foram obtidas cópias dos
Os descritores utilizados foram: hyper oxyge- títulos e resumos dos estudos identificados
nated fatty acid, pressure ulcer, randomized pela estratégia de pesquisa e a sua selecção
controlled trial as topic e systematic review, foi realizada por dois investigadores isola-
tendo sido adoptada a seguinte estratégia damente e nenhum teve conhecimento dos
de pesquisa para as bases de dados mencio- resultados da análise um do outro em qual-
nadas: quer momento deste processo(13,14).
#1 MeSH descriptor “hyper oxygenated fatty Quanto à avaliação crítica da qualidade dos
acid” (“All of the Above”) trabalhos incluídos foram utilizados os ins-
trumentos “Grelha para avaliação crítica de
#2 MeSH descriptor “pressure ulcer” (“All of
um artigo descrevendo um ensaio clínico
the Above”)
prospectivo, aleatorizado e controlado” e
#3 MeSH descriptor “randomized controlled
“Grelha para avaliação crítica de uma revisão
trials as topic” (“All of the Above”)
sistematizada” do Centro de Estudos de Me-
#4 MeSH descriptor “systematic review” (“All dicina Baseada na Evidência da F.M.L.
of the Above”)
Apenas foram considerados “estudos de
#5 [(#1 OR #2) AND #3] (All fields) qualidade” os que obtivessem um score igual
#6 [(#1 OR #2) AND #4] (title and abstract) ou superior a 75%(15).
CIÊNCIA & TÉCNICA

Tabela 1 – Critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos estudos


Critérios de seleção Critérios de inclusão Critérios de exclusão
Participantes Doentes com risco de UPr ou Todas as feridas de
(Tipo de feridas) com presença de UPr catego- outra etiologia
ria I
Intervenções Avaliem a utilização de AGHO Todos os estudos que
na prevenção de UPr ou no não utilizem AGHO
tratamento de UPr categoria I
Comparações Comparação dos AGHO com -
placebos ou controlo
“Outcomes” Estudar pelo menos as se- Todos os estudos que
guintes medidas de associa- não analisassem as
ção: medidas de associa-
- Incidência de UPr; ção de inclusão
- Risco relativo de UPr.
Desenho Ensaios clínicos aleatorizados Outros desenhos para
(randomized controlled trial além dos critérios de
– RCT) e revisões sistemáticas inclusão

Os níveis de evidência e graus de recomen- 2 – RESULTADOS


dação foram estabelecidos a partir do ma- De todos os estudos identificados apenas
terial do CEBM (Centre for Evidence Based três foram seleccionados para o corpus de
Medicine da Universidade de Oxford) e do estudos. Assim, os principais resultados da
EBOC (Evidence-Based On-Call). análise dos estudos seleccionados foram
Para efectuar metanálise dos resultados, foi agrupados e organizados em duas “tabelas 41
realizada a análise estatística com recurso ao de evidências” (tabela 2 e 3) que resumem
comando metan do programa STATA 11.1. os dados de maior interesse. Os mesmos
são seguidos de uma síntese descritiva dos
aspectos mais importantes e da análise da
qualidade de cada um.

Tabela 2 – Principais resultados dos RCT incluídos nesta revisão

Autores/ Título Desenho/ Intervenção/ Resultados (RRA, RRR


Ano/País amostra Comparação e NNT – IC 95%)
Gallart et Estudio experimental RCT/ Comparar os RAR = 16,0 (3,9–28,1)
al., 2001 para comprobar n=192 efeitos dos RRR = 45,7 (11,8–
(Espanha) la efectividad de AGHO com a sua 66,6)
los ácidos grasos não aplicação NNT = 7 (4–26)
hiperoxigenados en (controlo) na
la prevención de las prevenção de UPr
úlceras por presión en
pacientes ingresados
Torra i Bou Efectividad de un RCT/ Comparar os RAR = 10,0 (3,1–17,0)
et al., 2005 compuesto de ácidos n=331 efeitos do RRR = 57,9 (20,3–
(Espanha) grasos hiperoxigenados Mepentol® com 77,7)
en la prevención de las um placebo NNT = 10 (6–33)
úlceras por presión (controlo) na
prevenção de UPr
CIÊNCIA & TÉCNICA

A tabela 2 resume as principais característi- comparar os efeitos do Mepentol® (AGHO)


cas e dimensões dos RCT incluídos na nossa com um placebo (controlo) na prevenção de
amostra. UPr. Neste processo foram incluídos 331 uten-
Quanto a Gallart et al.(5), os autores desenha- tes que constituíram aleatoriamente o grupo
ram um estudo que contou com 192 utentes de controlo (n=167): foi aplicado placebo; e
sem úlceras de pressão e dividiram aleato- o grupo experimental (n=164): foi aplicado
riamente os participantes em dois grupos, o Mepentol®. Estabeleceram-se como crité-
grupo experimental (n=96) onde foi aplicado rios de inclusão que os utentes tinham de ter
AGHO duas vezes ao dia nas zonas de risco e um risco médio, alto ou muito alto de desen-
cumprido o protocolo de medidas preventi- volver UPr; internamento de pelo menos 30
vas de UPr (os autores não especificam quais) dias; e dar o seu consentimento informado.
e o grupo de controlo (n=96) onde apenas se Como factores de exclusão rejeitaram-se to-
seguiu o já referido protocolo. Foram defini- dos os casos de utentes com doenças termi-
dos como critérios de inclusão: inexistência nais ou que tenham realizado quimioterapia;
de UPr na admissão, internamento de pelo que tenham mais de três UPr; com alergias a
menos 7 dias, utentes com mobilidade e ac- AGHO; e com doença vascular periférica. Os
tividade alterada (score mínimo de 3 pontos autores concluíram que a incidência de UPr
segundo a escala de risco EMINA) e que qui- foi de 7.32% no grupo experimental versus
sessem participar voluntariamente no estu- 17.37% no grupo controlo (p<0.006). Estes
do. Como critérios de exclusão rejeitaram-se resultados mostram que o risco relativo é de
42 os casos de utentes admitidos na unidade de 0.42 (IC 95%= 0.22-0.80) e que por cada 10
queimados. Os autores concluíram que a in- utentes tratados com Mepentol uma UPr é
cidência de UPr no grupo controle foi de 35% prevenida (NNT=9.95), sendo esta considera-
(IC 95%, 27-47%) e no grupo experimental da custo-efectiva.
19% (IC 95%, 12-29%) esta diferença foi esta- Relativamente à análise da qualidade dos es-
tisticamente significante (p = 0,007). tudos é de referir que o estudo de Gallart
No que concerne ao estudo apresentado por et al.(5) é um ensaio clínico randomizado
Torra i Bou et al.(7), os autores procuraram (evidência alta), com um grande constrangi-
mento para não ser cego, contudo é consis-
Tabela 3 – Principais resultados das revisões sistemáticas incluídas nesta revisão

Autores/ Título Desenho/ Objectivo Resultados


Ano/País amostra
Escribano Eficacia de los Revisão - Conhecer a - Os estudos incluídos são
et al., 2007 ácidos grasos sistemática da eficácia dos de um nível de evidência alta
(Espanha) hiperoxigenados literatura com AGHO na (classificação GRADE);
en la prevención base em: prevenção de - Os AGHO podem ser uma
de las úlceras - 2 RCT/ UPr; medida preventiva eficaz
por presión n=523 - Determinar nas UPr e quando não são
o nível de capazes de evitá-las, atrasam
evidência da a sua ocorrência.
utilização
dos AGHO na
prevenção das
UPr.
CIÊNCIA & TÉCNICA

tente e apresenta validade interna e externa. score de 95% nas grelhas de avaliação crítica.
Como tal, obtém como classificação um alto Consideramos, portanto, que a qualida-
nível de evidência (1b) e um score de 93% de metodológica dos estudos analisados ​​é
pelas grelhas de avaliação crítica utilizadas. muito alta, pelo que a utilização de AGHO
Por outro lado, o estudo de Torra i Bou et na prevenção de úlceras de pressão se pode
al.(7) é um RCT duplamente cego, sem limi- traduzir num grau de recomendação A.
tações importantes e também obtém uma
classificação de alto nível de evidência (1b) e
2.1 – ANÁLISE ESTATÍSTICA
um score de 95% nas grelhas de avaliação já
Para se proceder à análise estatística – me-
mencionadas.
tanálise dos resultados foram calculados os
Na tabela 3 podem-se observar os principais
odds ratio e desvios padrão de acordo com
resultados das revisões sistemáticas incluí-
o modelo de efeito fixo, o qual assume que
das neste trabalho.
existe um tamanho do efeito semelhante e
verdadeiro em todos os estudos, sendo que
Em relação ao trabalho efectuado por Escri- as diferenças são explicáveis apenas devido
bano et al.(9) os autores realizaram uma re- a erros de amostragem(16).
visão sistemática da literatura com base em Para a verificação de existência de hetero-
dois RCT (n=523). Assim, apontam os AGHO geneidade entre os estudos foi calculado
como uma medida preventiva eficaz nas UPr o teste Q de Cochran e o I² de Higgins e
denotando que os estudos incluídos são Thompson, tendo por base que um valor de 43
de um nível de evidência alta (classificação I² próximo a 0% indica não heterogeneidade
GRADE). Todavia, salientam a necessidade da entre os estudos, próximo a 25% indica baixa
realização de mais RCT neste domínio. heterogeneidade, próximo a 50% indica he-
Devemos referir que esta revisão apresen- terogeneidade moderada e próximo a 75%
ta um reduzido corpus de estudo mas, por indica alta heterogeneidade entre os estu-
outro lado, manifesta alta qualidade meto- dos (Idem).
dológica e relevância dos resultados para a Na tabela 4 e figura 1 apresentamos os re-
prática clínica. Assim, este obtém como clas- sultados da metanálise.
sificação um alto nível de evidência (1a) e um

Tabela 4 – Resultados da metanálise

Method Pooled Est 95% CI Asymptotic Number of


Lower Upper z_value p_value studies
Fixed 0.415 0.245 0.703 -3.269 0.001 2
Random 0.415 0.245 0.703 -3.269 0.001
CIÊNCIA & TÉCNICA

Figura 1 – Forest Plot


Heterogeneity chi-squared = 0.067 (d.f. = 1) p = 0.796
I-squared (variation in ES attributable to heterogeneity) = 0.0%

Torra i Bou

Gallart

Combined

.01 .1 1 10
Odds ratio

44 Os resultados da metanálise apontam que o 3 – DISCUSSÃO


risco de desenvolver UPr é de 0.42 (odds ra- Esta revisão sistemática de literatura com
tio= 0.42, IC 95% = 0.25-0.70, p= 0.001). Por metanálise é alvo de algumas limitações. Pri-
outras palavras, a análise revela que os uten- meiramente devemos referir que o reduzido
tes tratados com AGHO apresentam 58% de número de estudos analisados, motivo que
menor risco de desenvolverem UPr. se deve, por um lado, ao facto da temática
Quanto à heterogeneidade dos estudos in- ser relativamente recente e por outro, de ter-
cluídos, o valor p encontrado indica não mos adoptado rigorosos critérios de selec-
existirem diferenças estatisticamente signifi- ção e seguido rigidamente todas etapas da
cativas (Q= 0.067, p=0.796), o que é corrobo- realização de uma revisão sistemática.
rado pelo valor calculado de I² (I²= 0.0%) que Contudo, a qualidade metodológica dos es-
sugere não existir heterogeneidade entre os tudos analisados, a sua homogeneidade e o
estudos. facto de terem um nível de evidência eleva-
Da análise do forest plot (figura 1) podemos do contribuíram para a validade e fiabilidade
inferir que todos os resultados apresentam dos resultados encontrados.
uma redução de risco, devido às interven- É de salientar que foram preferidos os RCT e
ções clínicas, ou um efeito benéfico da in- revisões sistemáticas por constituírem peças
tervenção em relação ao grupo de controlo. de evidência absolutamente fundamentais
para a prática clínica(17).
Futuramente, a realização de novos RCT e
CIÊNCIA & TÉCNICA

de estudos meta-analíticos a partir de uma nar a incidência de UPr nos calcâneos através
maior amostra de estudos podem contribuir da aplicação de um protocolo de prevenção
para resultados ainda mais rigorosos. que incluía a aplicação combinada de pen-
Consideramos igualmente, como uma limita- sos hidrocelulares (Allevyn Heel®), AGHO
ção, termos imposto um horizonte temporal (Mepentol®) e superfícies de apoio para a
de 10 anos, o que restringiu em grande nú- re-distribuição de pressão (SEMP) (sistemas
mero as publicações encontradas. Contudo, alternantes de ar da gama Aerocare®). Os
tal atitude conduziu-nos um conhecimento autores concluíram que após a adopção des-
mais aproximado do “estado da arte” sobre te protocolo de prevenção o risco de desen-
esta problemática. volver UPr nos calcâneos foi reduzido para
4% (IC95% = [0,28%-7.72%]).
Apesar disto e da sua recente utilização no
tratamento de feridas, os AGHO possui já um Todavia e apesar destes resultados a aplica-
suporte científico bem estruturado tendo ção per si de AGHO (isolada) nas zonas de
um grau de recomendação A. Aliás, pode-se risco não é suficiente na prevenção das UPr.
referir que a utilização de AGHO é eficaz na Tudo isso é complementado com cuidados
prevenção de UPr e que existe uma redução adequados da pele, como a utilização de
de risco de UPr de 58%. produtos barreira nas agressões à pele, as-
sim como a protecção de zonas de risco com
Estes resultados têm concordância com os
pensos ou dispositivos especiais redutores
resultados de estudos clínicos não compara-
da pressão, como os pensos hidrocelulares.
tivos e comparativos como os de Gouveia, et
Para além disso é premente a implementa- 45
al.(8) que realizaram um ensaio clínico aberto
ção de escalas para avaliar o risco de desen-
(sem aleatorização) para avaliar a efectivida-
volver UPr e protocolos de prevenção, segui-
de de ácidos gordos hiperoxigenados (Me-
das de recomendações específicas para um
pentol®) na prevenção de UPr dos calcâneos
tratamento efectivo da pressão, mediante
numa amostra de 96 utentes tendo concluí-
programas activos de posicionamentos pos-
do que a incidência total de UPr no grupo
turais, assim como a utilização de superfícies
Mepentol® foi de 2% versus 17,4% no gru-
de apoio adequadas para a “re-distribuição”
po de controlo (Qui-Quadrado de Pearson:
da pressão de acordo com as características
0,01).
de cada situação de risco. Outros pontos que
Também, Meaume et al.(18) num estudo
não se podem omitir são a manutenção de
descritivo correlacional que envolveu 1.121
um estado de nutrição e hidratação óptimos,
pacientes com risco elevado ou muito ele-
programas de formação periódicos e actua-
vado de UPr concluíram que a utilização de
lizados para os profissionais de saúde, assim
AGHO (Sanyrène / Corpitol) reduziu signifi-
como a monitorização epidemiológica do
cativamente a incidência de UPr pélvica (p =
problema(8,12).
0,04) apresentando um OR= 0,61 (0.38-0.98)
o que sugere que a intervenção reduziu 40%
dos casos de UPr. CONCLUSÃO
Similarmente, Soriano et al.(19) reuniram 100 Embora pareça contraditório, as úlceras de
utentes de risco com o objectivo de determi- pressão, apesar dos avanços da ciência e
CIÊNCIA & TÉCNICA

consequente evolução dos cuidados em bético. Gerokomos. 2009; 20(1):41-46.


saúde, continuam a constituir um importante 4. Colin D, Chomard D, Saumet JL, Desvaux B,
problema que afecta os utentes indiferente- Marie M. An evaluation of hyper-oxygenated
mente dos níveis de cuidados assistenciais. fatty acid esters in pressure sore manage-
É incontestável que o melhor tratamento das ment. Journal of Wound Care. 1998; 7(2):71-
UPr é a sua prevenção, contudo verifica-se, 72.
na maior parte das vezes, que não lhe é atri- 5. Gallart E, Fuentelsaz C, Vivas G, Garnacho
buída devida ponderação e a mesma não se I, Font L, Arán R. Estudio experimental para
encontra baseada em consistente evidência comprobar la efectividad de los ácidos gra-
científica. sos hiperoxigenados en la prevención de las
De acordo com a evidência disponível prove- úlceras por presión en pacientes ingresados.
niente dos ensaios clínicos os AGHO consti- Enfermería Clínica. ISSN: 1130-8621. 2001;
tuem uma medida preventiva eficaz na pre- 11(5):179-83.
venção de UPr e quando não as conseguem 6. Torra i bou JE, Gomez T. Aplicación tópica
evitar, retardam o momento do seu desen- de un compuesto de ácidos grasos hipero-
volvimento. Assim, devido ao consenso en- xigenados. Revista ROL de enfermería. 2003;
tre os diversos autores e as evidências en- 26(1):54-61.
contradas pode-se afirmar que a utilização
7. Torra i bou JE, Gómez TS, Soriano JV, Bon-
de AGHO, em conjunto com pensos hidro-
mati NA, López JR, Arboix i Perejamo M.
celulares e superfícies de apoio adequadas
46 Efectividad de un compuesto de ácidos gra-
e personalizadas, constitui a medida mais
sos hiperoxigenados en la prevención de las
eficaz e económica para a prevenção de UPr.
úlceras por presión. Journal of Wound Care.
Futuramente, é imperativa a realização de 2005; 14(3):117-21.
mais RCT e de estudos meta-analíticos a par-
8. Gouveia J, Miguéns C, Torra i Bou JE, Gó-
tir de uma maior amostra de estudos selec-
mez T. Ensaio Clínico aberto sobre a efectivi-
cionados.
dade do Mepentol®, um composto de áci-
dos gordos hiperoxigenados, na prevenção
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GAIF; 2009. ISBN 978-989-20-1596-5. 10. Martín B. Efecto de los ácidos grasos hipe-
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CIÊNCIA & TÉCNICA

Master. ISSN: 1989-5305. 2010; 2(1):1265-81. lihexanida. Referência. ISSN 0874-0283. 2011;
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clínica: O exemplo da avaliação crítica de um
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17. Santos E, Silva M. Tratamento de feridas
colonizadas/infetadas com utilização de po-
CIÊNCIA & TÉCNICA

TERAPIA DE PRESSÃO NEGATIVA:


EXECUÇÃO DE TRATAMENTO

48

RUI RAFAEL SANTOS RUI MANUEL JARRÓ MARGATO


Enfermeiro - Ortopedia Oncológica, CHUC Enfermeiro - Ortopedia Oncológica, CHUC; Especialista
em Enfermagem de Reabilitação; Mestre em
Enfermagem; Pós-graduado em Gestão e Administração
de Serviços de Saúde
CIÊNCIA & TÉCNICA

A Terapia VAC® (Vacuum Asisted Closure) d) Redução de pelo menos 50% do tempo de
é um tratamento avançado de cicatrização enfermagem,
de feridas que se pode integrar facilmente e) Diminuição significativa de complicações.
na prática terapêutica dos Profissionais de
Saúde para a cicatrização de feridas optimi-
A terapia VAC que está protocolada para o
zando o cuidado ao paciente e reduzindo os
tratamento de diversas feridas:
custos. Trata-se de um tratamento flexível
que pode ser usado tanto no Hospital como • Feridas agudas ou traumáticas
em Ambulatório. • Feridas Abdominais
A terapia VAC é eficaz no tratamento de • Feridas esternais
úlceras crónicas, facilitando a fixação dos • Úlceras por decúbito
enxertos em zonas difíceis, favorecendo • Úlceras nas extremidades inferiores
o encerramento de feridas cirúrgicas com
• Úlceras de pé diabético
complicações (esternotomías abertas), O
• Feridas infectadas
VAC pode ser usado como adjuvante de pro-
cedimentos cirúrgicos para facilitar o encer- • Feridas no pós-operatorio
ramento de feridas. O VAC pode ser usado • Enxertos em malha e substitutos de pele
como alternativa ou até que um procedi- • Retalhos
mento cirúrgico de menor envergadura pos- • Fístulas enterocutâneas
sa ser realizado.
49
Os fundamentos da Terapia VAC e as suas
Orientações para execução do tratamento:
aplicações clínicas assentam nos seguintes
pressupostos: Frequência

• Impedir a contaminação exógena De acordo com as características da ferida.


Preconiza-se um período máximo de cinco
• Limpar, instilando soluções tópicas na
dias
ferida de forma sistemática e controlada
(VAC VeraFLO)
Orientações quanto à execução
• Promover a formação de tecido de gra-
nulação • Consultar o processo clínico para indivi-
dualizar, diagnosticar, planear os cuida-
• Acelerar a cicatrização
dos e avaliar resultados
• Observar o cliente: face, postura, cheiro
A poupança que VAC gera produz-se princi-
da ferida, entre outros sinais
palmente nas seguintes áreas:
• Examinar o cliente: dor, bem-estar
a) Redução entre um 40-60% do tempo de
cicatrização, • Orientar sobre os cuidados de higiene e
protecção do local
b) Redução dos dias de hospitalização,
• Providenciar a execução do tratamento
c) Possibilidade de instaurar tratamentos em
da ferida em local apropriado, sempre
ambulatório, o que reduz ainda mais o tem-
que possível
po de hospitalização,
CIÊNCIA & TÉCNICA

•Aprontar o material de acordo com o tipo •Evitar o atrito na limpeza da ferida, utilizan-
de ferida e as necessidades do cliente do força mecânica mínima, de modo a pre-
•Executar com técnica asséptica e com recur- venir o traumatismo dos tecidos em vias de
so a máscara, se indicado cicatrização
•Limpar a ferida, da área menos contamina-
da para a mais contaminada

ACÇÕES DE ENFERMAGEM JUSTIFICAÇÃO


Providenciar os recursos para junto do cliente
Lavar as mãos
Instruir o cliente sobre o procedimento
Calçar luvas não esterilizadas
Remover o penso
Observar as características do penso removido, a ferida e a região Avaliar a evolução cicatricial
circundante
Remover as luvas
Lavar as mãos Prevenir a contaminação
Aprontar o “Kit” de penso e/ou material esterilizado
Limpar e pele circundante a ferida com soro fisiológico hipotónico
50 Desinfectar a ferida com solução de polihexanida
Aplicar compressa embebida em solução de polihexanida sobre a Descontaminar a ferida. Remover e prevenir
ferida e deixar actuar durante no mínimo 15 minutos a formação de biofilme
Aplicar Cavilon na pele circundante à ferida Prevenir a maceração da pele peri-lesional
Aprontar o “kit” de vácuo
Calçar luvas esterilizadas
Recortar a espuma de poliuretano com um tamanho inferior ao Promover a cicatrização reduzindo
da ferida progressivamente o tamanho e
aproximando os bordos da ferida
Aplicar película adesiva cuidadosamente removendo bolhas de ar Minimizar a presença de fugas
Recortar a película em forma de círculo, com o diâmetro do “Pad”
de aspiração (local de aspiração) do sistema
Aplicar o “Pad” de aspiração cuidadosamente removendo bolhas O interface deve estar em contacto com a
de ar espuma devido à presença de sensores que
monitorizam a ferida
Caso o tamanho da ferida não permita o recorte da película, fazer
pequena incisão sobre a mesma
Recortar um novo pedaço de espuma em círculo, com o diâmetro
do “Pad” de aspiração, e espessura com cerca de 0,5 cm
Aplicar o círculo sobre a pequena incisão realizada na película
Aplicar o “Pad” de aspiração
Conectar a tubuladura do “Pad” de aspiração à tubuladura do
reservatório
Ligar a máquina, realizar teste de fugas e iniciar terapia
CIÊNCIA & TÉCNICA

Análise de caso

A ferida consiste em
duas locas de tama-
nho variável, sem ex-
sudato

51

Aplicação da esponja de poliuretano adaptada à dimensão da ferida

Colocação da esponja de
poliuretano de ligação en-
tre as duas feridas (no caso
de não possuir o Y de co-
nexão)
CIÊNCIA & TÉCNICA

Após realizar uma in-


cisão em cruz ou re-
mover um pequeno
pedaço de pelicula
auto-adesiva sobre a
esponja de poliureta-
no colocada sobre a
ferida mais exsudativa
e “suja”, aplicar o pad
de aspiração numa
orientação que facili-
te a drenagem.

Com a conexão em Y, in-


dividualizar a colocação
da esponja de poliuretano
para aspiração indepen-
52 dente das feridas

Evolução cicatricial: 26/02


CIÊNCIA & TÉCNICA

Evolução cicatricial:
03/03

Evolução cicatricial:
09/03
53

Evolução cicatricial:
encerramento final
por primeira intenção
(18/03)
NORMAS DE PUBLICAÇÃO
A Revista Sinais Vitais publica artigos sobre a área disciplinar de
enfermagem, de gestão, educação, e outras disciplinas afins. Publica
também cartas ao director, artigos de opinião, sínteses de investigação,
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Conselho Científico. A Revista Sinais Vitais publica ainda entrevistas, re-
portagem, notícias sobre a saúde e a educação em geral.

A Publicação de artigos na Revista SINAIS VITAIS dependerá das se-


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