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COMUNICADO

O P A P E L D O G E R O N T Ó L O G O N A S E R P I
U M A P R O F I S S Ã O D O P R E S E N T E , P A R A O F U T U R O

Assunto: Comunicado sobre o papel do Gerontólogo nas Estruturas Residenciais para Pessoas
Idosas (ERPI) face à conjuntura atual do País.

Tomamos a liberdade de endereçar a Vossa Excelência algumas considerações no que


respeita ao perfil de competências e funções desempenhadas pelo Gerontólogo, em
contexto institucional, nomeadamente em  ERPI:

1. As crescentes preocupações relativas às questões do envelhecimento da população em


torno do globo levaram ao aumento do investimento científico na área da
Gerontologia, originando a criação de licenciaturas, mestrados, doutoramentos e
especializações nesta área. Entre 2003 e 2004, surgiram em Portugal as primeiras
licenciaturas em Gerontologia no âmbito da saúde. Posteriormente, verificou-se uma
acentuada expansão na oferta formativa da Gerontologia, mais direcionadas para as
áreas social e educativa (e.g.: Gerontologia Social, Educação Gerontológica).

2. Atualmente existem quatro licenciaturas em Gerontologia/Gerontologia


Social/Educação Social Gerontológica. São estas as licenciaturas que concedem o título
de técnico superior em gerontologia, conferindo o acesso à profissão de Gerontólogo,
existindo cada vez mais licenciados, em Portugal.

3.  A Gerontologia é a área científica que se dedica ao estudo do processo de


envelhecimento nas suas diversas dimensões: biológica, psicológica e social. A
Gerontologia é uma ciência necessariamente  multi e transdisciplinar, necessária para
enfrentar os grandes desafios do envelhecimento humano.
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Associação Nacional de Gerontólogos


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4. O surgimento do Gerontólogo advém da necessidade de graduar profissionais
formados e tecnicamente preparados para trabalhar com, e em nome, das pessoas à
medida que envelhecem. Assumindo a designação de Gerontólogo, este profissional
contribui para a melhoria da qualidade de vida e promoção do bem-estar das pessoas à
medida que envelhecem, nos contextos familiares, da comunidade e sociedade, através
da investigação, educação e aplicação de conhecimento interdisciplinar do processo de
envelhecimento e das populações envelhecidas (AGHE, 2014).

5. As competências do gerontólogo assentam em três pilares: a componente da saúde, a


componente  psicológica  e a vertente  social  e  organizacional. Estas surgem com o
intuito de (i) promover o envelhecimento ativo e saudável, (ii) diminuir a probabilidade
de doença e incapacidade, mantendo os indivíduos com elevada capacidade cognitiva e
funcional e (iii)  fomentar o envolvimento ativo com a vida e o seu equilíbrio
psicoafectivo.

6. O Gerontólogo é o profissional que compreende o que acontece com o ser humano à


medida que ele envelhece; é um profissional que, pela multidisciplinariedade da sua
visão e do seu conhecimento, consegue agregar as diferentes áreas do indivíduo, de
modo a perpetuar uma melhor qualidade de vida e bem-estar.

7. Sendo o envelhecimento um processo tão complexo e multidisciplinar, faz sentido que


todos os profissionais trabalhem em conjunto e que aceitem o melhor que cada área
científica tem para oferecer, pois só deste modo otimizaremos, todos, o bem-estar das
pessoas mais velhas.

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4. O perfil do Gerontólogo é complexo, destacando-se o carácter multidisciplinar do
seu conhecimento e, consequentemente, a sua prática interdisciplinar, pressupondo
um trabalho realizado em complementaridade com os restantes profissionais (médicos,
psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas fala e ocupacional, educadores
sociais, animadores, auxiliares de geriatria, entre outros...), não substituindo qualquer
classe ou prática profissional, mas complementado-a. Trata-se assim, de uma
abordagem mais completa, holística e específica para as questões do envelhecimento,
onde o gerontólogo assume a coordenação e integração das diferentes áreas.

No contexto das ERPI o Gerontólogo tem um papel interventivo na/o:

i. Avaliação, numa perspetiva biopsicossocial, as necessidades da pessoa mais velha, que


possam comprometer a sua qualidade de vida, bem-estar e participação social, quer em
contexto comunitário como institucional;

ii. Selecão e aplicação de instrumentos de avaliação multidimensional, validados e


adaptados para a população portuguesa, à pessoa idosa, família e organizações;

iii. Planificação, acompanhamento e avaliação dos planos individuais de intervenção


(cuidados) para pessoas mais velhas e suas famílias, a partir do modelo de Gestão
Individual de Caso;

iv. Ativação e mobilização de recursos, formais e informais, que respondam às


necessidades e expetativas das pessoas mais velhas, numa linha do continuum of care;

v. Criação, desenvolvimento e implementação de  atividades e programas de


envelhecimento ativo/bem-sucedido, em termos de prevenção e promoção da saúde e
do bem-estar da pessoa mais velha;

 
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vi. Encaminhamento da pessoa mais velha para outros profissionais, de domínio
específico, perante a sinalização de situações de vulnerabilidade e fragilidade, em
estreita articulação com as equipas de da área da saúde e social;

vii. Desenvolvimento de intervenções não farmacológicas, sustentadas em processos de


avaliação de necessidades, que visem a otimização do funcionamento pessoal e social;

viii. Desenvolvimento de uma análise funcional de equipamentos sociais gerontológicos


e desencadear procedimentos de gestão e garantia da qualidade dos processos;

ix. Desenho, implementação e avaliação de ações de formação, no âmbito da


Gerontologia, para cuidadores formais e informais;

xi. Transferência do conhecimento científico, no âmbito da Gerontologia, para o


desenvolvimento de produtos e serviços inovadores dirigidos às necessidades e
interesses das pessoas mais velhas, apoiada numa prática baseada na evidência;

xii. Prestação de consultadoria na elaboração e gestão de projetos, no âmbito da


Gerontologia;

xiii. Apoio e orientação das respostas sociais/serviços gerontológicos, em conformidade


com os requisitos/normativos definidos na legislação em vigor.

Note-se ainda que a Gerontologia é uma ciência reconhecida mundialmente, embora no


contexto português ainda haja muito desconhecimento e muito desinteresse sobre a sua
importância, o que faz permanecer estereótipos, falsas crenças marginalizações,
isolamento, abandono, solidão, violência, negligência e más práticas, já não admissíveis
no século XXI e não aceitáveis à luz dos direitos humanos.
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Reconhecemos que a situação que se vive atualmente nas ERPI  exige a urgência na
definição e desenvolvimento de estratégias, medidas de ação concretas, em contexto
institucional, em estreita articulação com a àrea da Saúde e Segurança Social.

Acreditamos que Portugal necessita urgentemente de “absorver” os gerontólogos,


profissionais formados e tecnicamente preparados, no mercado de trabalho, de forma a
responder às necessidades, problemas e desafios que atualmente persistem nas
respostas sociais, que prestam serviços e cuidados às pessoas mais velhas.

Consideramos, de facto, que a contratação de Gerontólogos se refletirá na exigência


permanente da qualidade dos serviços prestados, com e pela dignidade do
envelhecimento.

É da mais elementar justiça e dever gerontológico defender os direitos das pessoas


mais velhas. É tempo  de re(criar) a intervenção gerontológica e construir um futuro
digno para todos, independentemente da sua idade.

Encontramo-nos ao dispor para quaisquer esclarecimentos adicionais,

Aveiro, 1 de Setembro de 2020

Com elevada consideração,


Os nossos melhores cumprimentos,
Filipa Sousa Luz
Presidente da Associação Nacional de Gerontólogos

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