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2.

Redação de um pequeno ensaio

sobre a

questão: Será o “Ensaio sobre a cegueira”

uma obra distópica?


O romance Ensaio sobre a cegueira não é, em geral, compreendido pela crítica como uma
distopia. Ainda assim, podemos verificar vários indícios distópicos nessa obra de Saramago,
nomeadamente vários aspectos morais que foram violados todo ao longo desta obra. Os
romances distópicos em geral são em alegorias de uma possível sociedade futura; Ensaio sobre
a cegueira, por sua vez, apropriando-se do poder da visão e apresenta personagens que
literalmente ficam cegos, sem explicação médica. Contudo, há uma dimensão metafórica e
alegórica, à qual conduz o leitor a outra interpretação: a sociedade contemporânea está
emoldurada por sujeitos individualistas, indiferentes a seus semelhantes. Em outras palavras,
estamos cegos, esquecemos aqueles que nos rodeiam, induzidos pelas nossas satisfações
pessoais. A cegueira sendo este «cortinado» que nos faz focalizarmo-nos apenas sobre nós
próprios. Esta alegoria dá-nos então a possibilidade de interpretar esta cegueira de duas
perspectivas diferentes. A primeira e a mais evidente à primeira vista sendo a cegueira como
uma catástrofe, sem explicações, um acontecimento trágico. Mas se abandonarmos um pouco
a superfície da linguagem e nos aprofundarmos na obra rapidamente nos aperceberemos que
cegueira levou a humanidade a perceber as suas fraquezas, sem a visão, sem a percepção do
outro, não há organicidade, não há futuro. Os personagens deparados com esta necessidade
de sobrevivência levou-os aperceberem-se disto. A cegueira é aqui então um elemento que os
ajuda a perceber a importância da compaixão humana, e faz isso retirando algo tão simples
que o homem considera como adquirido, a visão e todas as coisas que ela lhes permitia fazer.
Muitos aspetos desta obra são encontrados na nossa sociedade actual. Enquanto os
personagens estão emprisionados num manicómio e incapacitados de ver e tentando
sobreviver, nos também muitas vezes no emprisionamos na nossa «bolha» tentando
igualmente sobreviver por uma incapacidade de nos apercebermos da importância do que nos
rodeia.

Contudo, mesmo que esta obra aparente ser à primeira vista uma clara distopia, na minha
opinião, ela é na reamente um verdadeiro «abre-olhos» que tenta despertar em nós uma
compreensão que vem plena de esperança, de invenção, recusando a repetição destas
catástrofes a que assistimos passivos e resignados. O que se caracteriza como uma utopia.

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