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Planificação da apresentação

Bom dia, turma! Durante esta apresentação oral pretendemos fazer uma alusão ao
conteúdo do nosso ensaio filosófico, elaborado a partir da questão “É justificável a
manipulação genómica de embriões humanos para fins estéticos ou de aprimoramento
intelectual?”. Deste modo, nos próximos minutos dedicar-nos-emos ao estudo do
problema da permissibilidade moral das técnicas de melhoramento genético.

A especulação de que, num futuro próximo, os progressos científicos no que respeita a


áreas como a biotecnologia, a biologia molecular e a nanotecnologia, possibilitarão a
alteração contínua de genes do ser humano e a interferência direta do homem no
desenvolvimento embrionário, o que se relaciona intimamente com a possibilidade de
controlar o património genético de gerações futuras.

O aprimoramento humano é pelo menos tão antigo quanto a civilização humana. As


pessoas têm procurado melhorar as suas capacidades físicas e mentais há milhares de
anos, no entanto, até este ponto na história, a maioria das intervenções biomédicas,
bem-sucedidas ou não, tentaram somente restaurar algo percebido como deficiente,
como a visão, a audição ou a mobilidade.

O potencial revolucionário e transformador das manipulações genéticas condiciona a


forma do ser humano se posicionar face à vida, à morte, ao envelhecimento e às doenças
e torna inevitável a formulação de padrões restritos, que delimitam nitidamente as
barreiras da intervenção intencional no genoma humano e resultam na emergência de
questões éticas controversas. Poderá a humanidade estar à beira de uma revolução de
aprimoramento e aproximarmo-nos das visões distópicas de escritores de ficção
científica?

Em resposta a este dilema, instaurou-se a afirmação de duas correntes de pensamento


conflituantes, de um modo geral, podemos distinguir aqueles que se opõem e fazem
alusão ao que significa ser humano e alertam para o modo de como esses procedimentos
ameaçam a salvaguarda da dignidade humana e da sua autodeterminação.

Por outro lado, aqueles que promovem o avanço neste campo afirmam que o
aprimoramento sempre fez parte da natureza humana, e alguns argumentam ainda que é
o nosso dever moral aperfeiçoar a humanidade.

Podemos dizer que atualmente o processo de manipulação genómica de embriões se


encontra estagnado, uma vez que especialistas em ética persuadiram a comunidade
científica a adiar este procedimento, argumentando que ainda não sabemos o suficiente
para fazer, com segurança, mudanças que podem ser passadas para as gerações futuras,
particularmente no que diz respeito a intervenções para fins não-terapêuticos.

Neste cenário, os pais podem escolher uma variedade de opções para seus filhos ainda
não nascidos, desde traços estéticos, como a cor do cabelo ou dos olhos, e até dispor da
possibilidade de dotar os seus filhos de maior capacidade intelectual ou atlética.
Michael Sandel, filósofo e professor da Universidade de Harvard, adota uma postura
bioconservadora da natureza humana, e apresenta um argumento pertinente que, de
forma pouco pormenorizada, alerta para a inevitável deterioração acentuada dos
sistemas de valores humanos, fruto da violação da liberdade dos indivíduos que é uma
consequência direta do envolvimento da sociedade na adulteração genética.

É mais fácil apresentar a sua posição com este exemplo: até que ponto a melhoria
genética em atletas de alta competição não resultaria na desvalorização das conquistas
humanas, na medida em que retira do esforço e do talento do atleta o mérito da
conquista e o transfere para os responsáveis pelo melhoramento proporcionador do
desempenho vencedor. Ou até poderíamos parabenizar o elevadíssimo resultado do teste
de QI de um indivíduo sobredotado por intervenção genética?

Na mente de muitos filósofos e teólogos, a ideia de “crianças projetadas” aproxima-se


demasiado do conceito de eugenia, isto é, a seleção explícita de células reprodutoras
voltada para a obtenção de características desejadas, como inteligência superior,
constituição corporal distinta ou qualquer característica escolhida pelos pais em
laboratório.

A problemática referente à eugenia é que, conforme as teorias precursoras que


justificam a prática eugênica, haveria dentro dos grupos de indivíduos um grupo
considerado superior aos demais. Assim, “Os indivíduos superiores têm as suas
características genéticas perpetuadas, já os inferiores, devem ser de alguma forma,
impossibilitados de transcender a sua herança genética para as gerações futuras”.

Quanto aos dilemas morais, o melhoramento genético é acusado de poder gerar uma
preferência por fenótipos e características psicofísicas consideradas “ideais”, por sua
vez, suscitando discriminação.

Este movimento opressor acabou por inspirar leis de esterilização forçada em vários
países e, mais notoriamente, esteve na base do assassinato de milhões de pessoas pela
Alemanha nazi em nome da promoção da pureza racial.

Como argumento defendido pelos bioliberais, podemos destacar a conclusão de um


estudo de 2002 que revelou que entre 93 e 95% da diferença genética entre os humanos
é encontrada nos indivíduos de um mesmo grupo, quer isto dizer que não existem genes
exclusivos de uma população, podendo o genoma de um africano ser mais semelhante
ao de um norueguês do que ao de alguém de sua cidade. Ou seja, a modificação
genómica individual dificilmente seria responsável por alterações significativas no
fundo genético de uma população.

Não obstante, se for um processo acessível à população comum não será apenas uma
modificação individual. Além disso, se a mudança for dirigida a características
específicas selecionadas por uma comunidade particular, por exemplo numa
comunidade cuja cor de pele é um mecanismo adaptativo ao longo de várias gerações
podem surgir complicações se o tom de pele/ cor dos olhos desejado estiver inadequado
para as condições externas.

No entanto, o mais provável seria este processo não ser acessível à população comum o
que levaria ao agravamento das desigualdades socioeconómicas.

Por outro lado, alguns defensores têm-se pronunciado a favor da “liberdade


morfológica”, argumento este que favorece a autonomia, acrescentado ainda que deveria
ser um direito humano poder aprimorar a própria biologia se há meios que o permitem,
ou seja, a liberdade de escolha individual, ao invés de algo que o Estado deva procurar
restringir.

Para refutar esta objeção, é importante reconhecer que as ações individuais ocorrem em
contextos sociais específicos, que podem, por sua vez, ditar como se avalia o conteúdo
moral de qualquer aprimoramento humano.

Em conclusão, ao adotarmos um ponto de vista bioconservador nesta discussão


filosófica, pretendemos mostrar a preocupação de que a manipulação genómica de
embriões pode comprometer alguma essência natural da humanidade, que embora não
implique uma repulsa imediata ao artificial, pode revelar uma intuição subjacente de
que há algo na biologia humana que não deve ser mudado por medo de alterar algo que
corrompe alguma coisa fundamental- a identidade do ser humano.

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