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O aprimoramento humano é pelo menos tão antigo quanto a civilização humana. As pessoas têm
procurado melhorar suas capacidades físicas e mentais há milhares de anos, no entanto, até este
ponto na história, a maioria das intervenções biomédicas, bem-sucedidas ou não, tentaram somente
restaurar algo percebido como deficiente, como a visão, a audição ou a mobilidade. Contudo, graças
aos recentes desenvolvimentos científicos em áreas como biotecnologia, tecnologia da informação e
nanotecnologia, a humanidade pode estar à beira de uma revolução de aprimoramento e
aproximamo-nos das visões distópicas de escritores de ficção científica.
De facto, cada caso de manipulação genética é marcado por uma intensificação da polémica e
seguido por discussões éticas fervorosas. Então, evidentemente, quando se cogita aplicar a seres
humanos, assiste-se ao incremento das proporções do debate, afinal é a interferência do homem no
homem.
Um dos mais importantes episódios responsáveis pela revolução no mundo da genética data 1953,
quando o biólogo americano James Watson e o físico britânico Francis Crick divulgaram
publicamente a descoberta de Rosalind Franklin (ainda que não tenham conferido o devido mérito)
sobre estrutura molecular do DNA – a famosa dupla hélice – que é o modelo genético da vida. Mais
tarde, foi possível identificar todos os pares de bases químicas que compõem o DNA humano.
Descodificar e ler com sucesso a base da vida deu aos pesquisadores a oportunidade de alterar a
fisiologia humana no nível mais fundamental. Manipular esse código genético – um processo
conhecido como engenharia genética – pode permitir que os cientistas produzam pessoas com
músculos mais fortes, rostos mais simétricos e cérebros mais rápidos.
“Apesar de toda sua tolice e ignorância, o movimento eugenista do século XX nasceu da aspiração
por aprimorar a humanidade, ou promover o bem-estar coletivo de sociedades inteiras. A eugenia
liberal se exime de tais ambições coletivas. Não é um movimento de reforma social, mas uma forma
de pais privilegiados terem o tipo de filho que desejam e armá-los para o sucesso numa sociedade
competitiva” (SANDEL, 2013, p. 89)
Michael Sandel, filósofo e professor da Harvard university, adota uma postura bioconservadora ou
preservacionista da natureza humana. Argumenta que se o envolvimento da sociedade na
adulteração genética resultar em violações da liberdade dos indivíduos, assiste-se à deteorização
acentuada dos sistemas de valores humanos. É comum dizer que o melhoramento genético, a
clonagem e a engenharia genética ameaçam a dignidade humana, porém persiste algo de
moralmente inquietante em discernir como essas técnicas reduzem a nossa humanidade. Acrescenta
ainda que um dos principais problemas é a perda do carácter de dádiva da vida. Até que ponto a
melhoria genética em atletas de alta competição não resultaria na desvalorização das conquistas
humanas, na medida em que retira do esforço e do talento do atleta o mérito da conquista e o
transfere para os responsáveis pelo melhoramento proporcionador do desempenho vencedor.