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Por fim, assume o Estado a defesa da fé além de suas fronteiras. A organização feudal-
mercantil, estabelecida, vinha lardeada das características da ideologia senhorial portuguesa.
(MERCADANTE, 1980, p.27)
Este domínio alargado criaria uma situação peculiar: dentro do latifúndio o senhor de terras
mantinha uma autoridade semifeudal, oriunda de sua condição de dono de terras, onde
controlava uma fazenda com produção voltada ao mercado externo (mercantilismo), através
da exploração – principalmente – da cana-de-açúcar e, internamente, adotava um regime de
autossuficiência produzindo toda a sorte de víveres para subsistência sua e de seus escravos e
empregados (MERCADANTE,1980, p. 47). Este sistema político-econômico, marcado por uma
feição dúplice entre mercantilismo nas relações externas de produção e comércio e
autossuficiência das propriedades rurais, transformava cada latifúndio numa “pequena
república”:
Todos são falsos, pois, se tomados isoladamente. Mas cada um deles é verdadeiro no que
afirma e falso no que nega. Sendo o erro uma verdade incompleta, encontram-se, em todos os
sistemas, parcelas de verdade, que corretamente reunidas num todo passam a constituir a
verdadeira filosofia, conciliação de todos esses sistemas diferentes (MERCADANTE, 1980,
p.211).
No Brasil, tal maneira de pensar eclética caía como uma luva numa nação que demandava
conciliação e que, pelos fatores anteriormente expostos, também lhe era pré-disposta. Esta
cultura de reduzir todos os sistemas de ideias a quatro tipos e daí tirar-lhes o que é verdadeiro
e rejeitar-lhes o que é falso não produziu implicações apenas acadêmicas. Pode-se ver que ela
foi aplicada ao campo das decisões mais pragmáticas, ao campo da política, mesmo para
resolver os mais sérios problemas sociais da sociedade imperial.
O modo pelo qual se processou o processo de abolição da escravatura no País exemplifica bem
a pragmática eclética. O modelo escravocrata sustentava a elite dos senhores rurais, os
mesmos que “encarnavam os interesses da nação”. A abolição repentina do sistema trazia uma
série de riscos como a incorporação dos cativos à sociedade livre e os prejuízos comerciais que
a indústria rural sofreria por perder o capital e a mão de obra escrava. Esta dupla perda que
sofreriam os senhores rurais, que economicamente não podia ser ignorada, gerava o risco de
uma séria revolta ou a repetição aqui do que ocorrera na Guerra de Secessão norte-americana.
Soma-se aos elementos anteriormente descritos o Direito Privado possuindo dois eixos
principais de atuação o historicismo e o formalismo jurídicos.