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Coordenação Editorial
Valter Jeronymo
Diagramação
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Projeto Gráfico
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Revisão Final
Milene Bartolomei Silva
Impressão e Acabamento
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Apresentação.....................................................................................07
Capítulo 1
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação
Infantil de Educandos com Deficiência: possibilitando a formação
continuada........................................................................................20
Fernanda Malinosky Coelho da Rosa, Luciene Cléa da Silva, Milene
Bartolomei Silva, Myrna Wolff Brachmann dos Santos
Capítulo 2
Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil a
Educandos com Deficiência Visual..................................................36
Flora Duarte Stron, Joyce Braga
Capítulo 3
O Atendimento Educacional Especializado para estudantes com de-
ficiência visual na pandemia de Covid-19........................................54
Celi Corrêa Neres, Marcelo Brito dos Santos
Capítulo 4
Surdez: deficiência, sujeitos e educação...........................................71
Karine Albuquerque de Negreiros, Shirley Vilhalva
Capítulo 5
Mitos sobre altas habilidades/superdotação na Educação Infantil:
pontos e contrapontos na perspectiva docente.................................84
Jeanny Monteiro Urquiza, Bárbara Amaral Martins
Capítulo 6
Inclusão de crianças com Transtornos Globais do Desenvolvimento
na Educação Infantil: processos educacionais possíveis.................109
Mirella Villa A. Tucunduva
Capítulo 8
Educação Matemática Inclusiva: considerações acerca do aluno com
deficiência intelectual.....................................................................139
Fernanda Malinosky Coelho da Rosa, Fernanda Oscar Dourado Valentim
Capítulo 9
Publicações sobre pessoa com deficiência e Educação Infantil na Re-
vista de Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) (2000-2020).......................................................................158
Dulcinéia de Figueiredo Aivi, Carina Elisabeth Maciel
Capítulo 10
Educação inclusiva e redes de apoio: a instituição educativa como
lócus de cuidado em saúde.............................................................180
Camila Bartolomei Silva
22. BRASIL. Casa Civil. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 2015.
23. GLAT, R.; PLETSCH, M. D.; FONTES, R. de S. Educação inclusiva & educação especial: propostas
que se complementam no contexto da escola aberta à diversidade. Educação, [S. l.], v. 32, n. 1, 2007. p. 344.
Organização
Fernanda Malinosky Coelho da Rosa
Luciene Cléa da Silva
Milene Bartolomei Silva
Myrna Wolff Brachmann dos Santos
Introdução
O contexto do curso
BRASIL. Estudo exploratório sobre o professor brasileiro. Com base nos resul-
tados do Censo Escolar da Educação Básica 2007, Brasília, DF, maio de 2009a.
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasi-
leira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiên-
cia). Brasília, 2015.
ROSA, Fernanda Malinosky Coelho da; SILVA, Luciene Cléa da; SILVA, Mile-
ne Bartolomei Silva; SANTOS, Myrna Wolff Brachmann dos (Orgs.). Curso de
aperfeiçoamento: serviço de atendimento educacional especializado em educa-
ção infantil de educandos com deficiência. Campo Grande: Oeste, 2022.
Descrição da imagem: Em um retângulo amarelo estão as palavras deficiência visual, e este está as-
sociado a outros dois retângulos. No primeiro retângulo azul está a palavra cegueira, que se associa a
outros dois retângulos, um verde com a palavra congênita, e outro rosa com a palavra adquirida, com
o intuito de simbolizar os dois tipos de cegueira. O segundo retângulo lilás contém as palavras baixa
visão ou visão subnormal.
2. Desenvolvimento Humano
Uma criança com deficiência visual não pode ter ausência de es-
tímulos ou “restrição de experiências”, pois, podem ameaçar o desen-
volvimento normal no processo educativo. Principalmente nos aspec-
tos relacionados às habilidades que envolvem a utilização dos canais
visuais, tais como, às áreas de aquisição de conceitos. Pois é em contato
com o mundo, que a criança estabelece relações de: representações,
linguagem, compreensão, de símbolos, formação de operação simbó-
lica dando início ao período de alfabetização e controle do ambiente
(BRUNO, 1993).
É impossível tratar de Estimulação Educacional da criança,
e principalmente, com deficiência visual, sem nos reportarmos ao
desenvolvimento humano, pois a inteligência consiste na capacidade
de adaptação às novas situações, isto é, se dá por dois processos
Quando uma criança brinca, ela interage com meio, sente-se pro-
dutora da ação, e isso lhe dá prazer. Ocorre bem cedo, quando ela ad-
quire os primeiros esquemas de incentivo para agir, surgindo assim o
sistema lúdico ou imitativo. A reprodução nasce com a repetição ativa,
quando a criança imita e repete aquilo que lhe satisfaz.
A criança com deficiência visual poderá imitar, brincar se tiver
pessoas disponíveis para mediar, interagir com os movimentos coativos,
para que compreenda tátil-sinestesicamente a ação, por meio do con-
tato físico. Essas crianças necessitam incentivo a fim de utilizarem os
movimentos corporais, as expressões fisionômicas e gestuais como for-
ma de comunicação pré-verbal de imitação e representação. A imitação
e o gesto são funcionais pré-simbólicas (BRUNO, 1993, p. 47). Por isso
a intervenção precoce é importante desde o primeiro ano de vida, para
que não haja nenhuma perda no desenvolvimento.
Nos primeiros dias, meses e anos de vida, a criança com deficiência
precisa aprender a ouvir “não”, condição para construção das estruturas
mentais e de sobrevivência. Da mesma forma, necessita de obstáculos
físicos para remover. Precisa ter oportunidade de experimentar, errar,
viver frustrações, acertar, reformular, prever e antecipar seus desejos e
necessidades. E claro, respeitando as possibilidades de cada um, bem
como com a mediação tato-a-tato, corpo-a-corpo.
Cabe ressaltar, que algumas crianças podem apresentar forma ri-
tualística de brincar. Sentem prazer ao ouvir os sons dos objetos contra o
solo, com o barulho e vibrações dos objetos nos dentes, cabeça, queixo.
Isso não necessariamente significa atraso em desenvolvimento, e sim,
que a criança está muito só, está se encapsulando, buscando autossatis-
fação, uma vez que o mundo não a preenche.
4. Alfabetização e Letramento
Considerações Finais
Referências
LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa de Lima.
Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Sum-
mus, 1992.
SILVA, Silvana Maria Moura da; COSTA, Maria da Piedade Resende da. Es-
timulação lúdica ao desenvolvimento de crianças com deficiência visual na
primeira infância. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 32, n. 83, p.
453-470, 2012. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/946/94624915013.
pdf Acesso em 20 jan. 2022.
Outro dado que nos chamou muito atenção foi quanto aos domicí-
lios que tinham microcomputador, pois segundo a pesquisa, no
Tabela 2: Percentual de domicílios em que o microcomputador era usado para acessar a internet
Referências
Palavras iniciais
Dessa forma, o grupo que antes era o da surdez, teve uma divisão
social muito clara em dois grupos: pessoa surda e deficientes auditivos,
que apesar de muitas vezes terem a mesma perda auditiva, ou seja, a
mesma deficiência, socialmente estão posicionados e se relacionam
com o mundo de formas diferentes. É preciso mencionar que tensões
surgiram a partir de então. De um lado temos os surdos sinalizados que
afirmam que usar “pessoa com surdez” é estar se referindo a eles em
uma visão clínico-terapêutico, sendo correto o uso do termo pessoa sur-
da; do outro temos os deficientes auditivos reivindicando o direito de ser
surdo e não mais um deficiente da audição que lhes foi tirado desde o
referido decreto.
A visão reducionista da norma, qualquer que seja ela, contribui
para construção de um padrão, e imediatamente de um desvio que é
seu antagônico. Na concepção de um surdo padrão seja por perda ou
língua criou-se um desvio onde foram lançados todos os outros que não
pertencem ao “normal” da surdez. A divisão de concepções na busca
de classificar teorias, discursos, modelos educacionais, por vezes reforça
o binarismo de oposição. A esse respeito Nogueira (2021, p. 261), nos
respalda:
41. Ensino bilíngue segundo o Decreto nº 5.626/05 é:§ 1º São denominadas escolas ou classes de educação
bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução
utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo (BRASIL, 2005).
Palavras finais
Referências
“Eu penso que a pessoa desse público pode apresentar uma maior
facilidade para determinadas áreas e, para outras, ela pode não
ter o interesse ou não apresentar essa destreza no aprendizado.
Então eu acredito que ela possa ter as altas habilidades ou a su-
perdotação para algumas coisas sim, mas isso não significa que ela
“Não, eu acho que isso não basta. É apenas uma questão que di-
ferencia essa criança das outras, pois ela vai se desenvolver como
as demais, só que apenas mais rápido; uma inteligência mais agu-
çada. O fato de ela nascer superdotada não basta para que ela
desenvolva as suas capacidades. Acredito que ela tenha que ser
encaminhada para isso, tem que ser orientada e precisa de incen-
tivo, mesmo tendo nascido assim. Além do mais, eu penso que
ela não sabe tudo, pois pode ter a sua superdotação focada para
uma coisa sim, mas, mesmo diante disso, ela precisa de estímulos.
Aliás, todo ser humano precisa de estímulos porque ninguém nas-
ce sabendo tudo assim. Então para que haja o desenvolvimento
dessa ou daquela habilidade, é preciso que ela tenha mediação,
estímulos e orientação. Volto a repetir: só o fato de ela nascer
superdotada não é motivo suficiente para ela se desenvolver. E
a parte social, emocional, de interação com o(a) outro(a) e de
afetividade? Tudo isso aí é desenvolvido a partir dos estímulos,
para essa criança se relacionar e para ela aprender também. É
preciso trabalhar as ferramentas que ela tem, estimulá-la para que
ela mesma aprenda a usá-las da melhor maneira possível e assim
se tornar um(a) cidadão(ã) de bem, podendo dar a sua contribui-
ção para a sociedade onde vive. Então eu penso que essa crian-
ça tem sim essa diferença genética, uma predisposição, mas ela
precisa ser desenvolvida para não se tornar como uma criança
selvagem, pois, se não convive com o(a) outro(a), não aprende a
ser humano. Mas, por outro lado, eu penso também que, às vezes,
o entorno pode não contribuir com estímulos ricos, dependo da
origem social dessa criança. Por isso eu acho tão importante a
identificação dela ainda na Educação Infantil porque eu posso
“Eu acho que os estímulos podem contribuir, mas eles não são os
responsáveis. Eu não considero essa questão: ‘Ah, a criança ficou
superdotada porque os(as) professores(as) e os pais estimularam’.
Não, isso não existe porque a criança já tem essa habilidade, só
que ela não era reconhecida. E outra: se fosse só o estímulo de
pais e professores (as), acho que todas as crianças seriam superdo-
tadas. Então eu não diria que isso seria fruto apenas da estimula-
ção porque algumas crianças já têm essas características. Agora,
o que eu posso fazer é estimular essa criança para que ela possa
“Não acredito nisso, até porque se fosse assim todo mundo seria
igual. Vejo como algo mais específico, uma característica indi-
vidual que nem todas as crianças têm, isto é, nem todas nascem
com essa diferença genética e, ainda, nem todas vão se desenvol-
ver dessa mesma forma. Todas as crianças são espontâneas, esper-
tas, têm a capacidade de aprender, de imaginar além do natural e
gostam de brincar, mas nem todas são superdotadas, porque essas
últimas apresentam uma aptidão; uma habilidade maior para de-
terminada área. Se fosse assim, nós estaríamos colocando todo
mundo na igualdade, né. Então eu acho que todas as crianças são
inteligentes, aliás, todo mundo é inteligente, mas o superdotado
é um nível bem mais alto. Eu falo isso porque a cada faixa etária
temos certo desenvolvimento que é esperado, mas a criança su-
“Eu acho que elas podem ter sim dificuldades para se socializar
e se comunicar, mas não que isso seja a regra. Eu ainda acredito
que essas dificuldades ocorrem porque essas crianças são muito
focadas no que querem e isso também pode fazer com que elas
percam o interesse no contato com o outro, pois é sabido que nós
interagimos por algo similar. Já que não encontram pares com o
mesmo interesse, elas acabam preferindo estar um pouco mais
sozinhas, brincando de uma forma diferente, do jeito delas. Mas
eu também penso que tudo isso possa ser trabalhado em sala de
100 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
aula. Digo mais: acho que depende de como essas crianças são
inseridas no meio social. Não que elas não queiram se relacionar,
pois têm dificuldades com isso. Mas, na realidade, somos nós que
não sabemos lidar com essa alta habilidade que elas possuem. Aí
elas tendem a ser vistas mesmo como crianças estranhas. Porém,
eu falo que essa questão dependerá muito de mim, professor(a),
em saber lidar com isso”.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 101
textos sociais, especialmente nas escolas; a não ser que tenham a sorte
de encontrar outras crianças como elas (WINNER, 1998).
Por outro ângulo, Pérez (2003) reflete sobre o processo de estig-
matização a que essas crianças estão sujeitas. A autora adverte que os
estereótipos de “desajustamento social” e de “instabilidade emocional”
são frequentemente associados à existência de doenças mentais, o que é
errôneo, pois essas últimas não são constatadas, cientificamente, como
um resultado direto das AH/SD (PÉREZ, 2003). No segundo discurso
coletivo estão presentes muitos argumentos com sentido depreciativo: a)
a representação de que as crianças com indicadores de AHSD são “di-
ferentes daquelas crianças mais normais”; b) a qualificação delas como
“impacientes” e “inquietas”, e c) a reflexão de que essas crianças fazem
brincadeiras esdrúxulas com as outras (não as respeitando). Essas acep-
ções ainda são impregnadas de mitos, preconceitos e estereótipos sobre
o público infantil e precisam ser desfeitas mediante o contato com o
conhecimento científico.
A penúltima categoria se refere aos mitos de origem das AH/SD.
O DSC decorrente dessa categorização será evidenciado abaixo:
102 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
As discussões apontam para o fato de que as AH/SD ocorrem “tan-
to em crianças da classe abastada como em crianças da classe pobre”,
entendimento que possui fundamentação científica. Quando se afirma
que as crianças com comportamentos elevados “podem vir de diferentes
classes sociais”, o coletivo reflete que este fenômeno não se relaciona
aos segmentos sociais, o que demonstra grande avanço para a área con-
ceitual. Esses discursos alinham-se às considerações de Martins (2020),
quando esta autora esclarece que a presença de AH/SD independe de
qualquer estrato social, embora eles influenciem na qualidade dos estí-
mulos ofertados.
Finalmente, a última categoria analisada por essa investigação
se refere ao mito de que “as crianças superdotadas se tornarão adultos
eminentes”. Diante da diversidade de respostas, organizamos os depoi-
mentos em três discursos: os que consideram as crianças como adultos
eminentes em potencial; os que concebem as crianças como adultos
que se igualarão à média de seus pares e, por fim, os que consideram os
estímulos recebidos pelas crianças como os responsáveis pelo êxito na
vida adulta. À vista dessa ordem evidenciaremos, seguidamente, cada
DSC:
“Com toda certeza eu acho que sim, pois elas irão desenvolver
até melhor as suas funções, contribuindo no geral. Se alguém ti-
ver um olhar diferente para elas e nelas investirem, essas crianças
futuramente vão se destacar sim. Vão ser reconhecidas, às vezes,
até no mundo todo. Então eu acredito no êxito da sua vida pro-
fissional sim, mas não que os(as) outros(as) não terão o destaque.
É porque as pessoas superdotadas acabam se destacando pelo seu
grau de raciocínio e de inteligência... Porém, para que isso ocorra,
é importante que o atendimento perdure até a vida adulta”.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 103
melhores da turma. Eu também penso que, se essas pessoas não
tiverem motivações e estímulos, elas não se destacarão e a sua
superdotação ainda pode se transformar em um transtorno”.
“Eu acho que vai depender muito de como essas pessoas serão
instruídas, ensinadas e tratadas ao longo de sua infância, ado-
lescência e juventude. Para que essas crianças possam se tornar
adultos de destaque, isso vai depender de muitas condições: da
maneira como a escola, a família e o meio social em que essas
pessoas estavam inseridas tenham trabalhado isso. Não é porque
nasceram superdotadas que já serão adultos de destaque, pois isso
não é automático, não é padrão. Elas precisam ser acompanhadas
e necessitam de vários estímulos para desenvolverem essas capa-
cidades que elas já predispõem”.
Diante dos três DSCs, Winner (1998) elucida que, para que haja
eminência adulta, há uma série de fatores que interferem nessa condi-
ção, que ainda são múltiplos e interagentes. Nessa perspectiva, Pérez
(2003) e Martins (2020) complementam o conceito anterior quando
explanam que a presença de AH/SD, ainda na fase infantil, não garan-
te destaque na vida adulta. Isso porque as crianças podem permanecer
no mesmo campo de interesse; outras seguem por áreas diferentes e há
aquelas que criam aversão pelo campo no qual se destacaram devido às
cobranças exacerbadas de suas famílias. Fato é que somente parte dessas
pessoas conseguirá contribuir inovadoramente para a sua área de domí-
nio (MARTINS, 2020).
Os resultados decorrentes deste estudo permitem a tessitura de
múltiplas análises quanto às categorias mitológicas investigadas: há mitos
que já foram (ou estão) em processo de esclarecimento; há aqueles mar-
cados por ambiguidades; temos, também, uma categoria de mito ainda
não superada e, por fim, existem discursos que demonstram representa-
ções conceituais negativas a respeito do público infantil com indicadores
de AH/SD. Os mitos relacionados à autossuficiência, origem, superdo-
tação global, visão biológica preponderante, visão social preponderante,
família condutora e à concepção de criança superdotada socialmente
bem ajustada registraram respostas que indicam a sua superação, o que
é muito positivo para as AH/SD e o seu público. Por outro lado, eviden-
104 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
ciaram-se discussões ambíguas a respeito da raridade/desconhecimento
do fenômeno e da percepção das crianças superdotadas como adultos
de destaque, o que revela que a desinformação ainda está presente no
imaginário docente. Por fim, há que se ilustrar que o mito referente ao
QI elevado ainda não foi totalmente esclarecido.
É imperante a necessidade de dialogar com o segmento docente
para que eventuais mitos possam ser desenraizados de seu campo repre-
sentacional; o que propiciará muitos benefícios à educação de pessoas
cujas habilidades são superiores, principalmente quando o seu reconhe-
cimento se fizer presente desde a Educação Infantil.
Considerações Finais
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 105
erroneamente estabelecidos, a fim de que as crianças vivenciem pro-
postas condizentes às suas diferenças, como é o caso das AH/SD ou de
quaisquer outras condições pertencentes à Educação Especial.
Precisamos, portanto, desmaranhar os mitos que entrelaçam e re-
forçam a desinformação. É desta maneira que propiciaremos a devida
atenção educacional às necessidades do grupo com indicadores de AH/
SD desde tenra idade. Romper com a negligência que ainda o assola é
um de nossos maiores imperativos...
Referências
106 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
BRASIL, Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas pú-
blicas para a primeira infância. Brasília, DF: Presidência da República, 2016.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/
l13257.htm. Acesso em: 15 jan. 2023.
MOSCOVICI, Serge. École des Hautes Études em Sciences Sociales. 1994. In:
GUARESCHI, P. A.; JOVCHELOVITCH, S. (orgs.). Textos em representa-
ções sociais. 14. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. p. 7-15.
PÉREZ, Suzana Garcia Pérez Barrera. Mitos e crenças sobre as pessoas com
altas habilidades: alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Rev. Bras.
Educ. Espec. [online], n. 22, p. 1-10. 2003. Disponível em: https://periodicos.
ufsm.br/educacaoespecial/article/view/5004/3033. Acesso em: 03 jan. 2023.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 107
URQUIZA, Jeanny Monteiro. Representações sociais sobre altas habilidades/
superdotação: o que pensam os professores da educação infantil?. 2020. Disser-
tação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
Corumbá, Mato Grosso do Sul (MS), 2020. Disponível em: https://ppgecpan.
ufms.br/jeanny-monteiro-urquiza-representacoes-sociais-sobre-altas-habilidades-
-superdotacao-o-que-pensam-os-professores-da-educacao-infantil/Acesso em: 03
jan. 2023.
108 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Capítulo 6
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 109
uma educação especial sim, mas pouco ou quase nada inclusiva. A edu-
cação inclusiva deveria ter como objetivo inserir alunos com deficiência
em escola regular com o intuito de desenvolvimento social, intelectual,
afetivo e físico. No entanto, diversas são as dificuldades ainda enfrenta-
das por quem luta por esse direito.
Para incluir uma criança com deficiência em contexto escolar, é
necessário que a escola seja de qualidade e que a cada dia busque su-
perar os desafios, para que este aluno descubra que ele pode aprender
muito mais do que ele imagina.
Paralelo a esse processo, entende-se por inclusiva uma escola que
esteja ciente de sua função pedagógica, disponibilizando à criança pro-
cedimentos, recursos e pessoal para desenvolver seu papel com compe-
tência e compromisso.
A educação inclusiva é, portanto, um processo de transformação
da escola que passa pela formação de professores, pelo envolvimento de
toda a comunidade escolar (crianças, professores e funcionários, com
participação plena da família), visando auxiliar no entendimento das
diferenças entre integração e inclusão e suavizar a angústia das pessoas
com deficiência que vivenciam esse processo.
Muitos autores apontam que a forma como o professor recebe os
alunos com deficiência depende das relações estabelecidas ao longo de
sua vida pessoal, de sua formação profissional e de sua prática pedagó-
gica, retratando o seu modo de ser e de agir e suas concepções sobre a
vida. Por muito tempo, acreditou-se que havia um processo de ensino-
-aprendizagem “normal” e “linear” para todos os sujeitos. Aqueles que
apresentavam algum tipo de dificuldade, distúrbio ou deficiência, con-
siderados anormais (isto é, fora da norma) e eufemisticamente denomi-
nados “alunos especiais”, eram alijados do sistema regular de ensino.
(GLAT; PLETSCH, 2007).
Essa visão dicotômica reforça o mito, ainda muito impregnado na
prática pedagógica, de que existem dois grupos qualitativamente distin-
tos de alunos: os “normais” e os “especiais” e, consequentemente, duas
categorias distintas de professores: os professores “regulares” e os profes-
sores “especializados”. No entanto, uma escola inclusiva, que atende
110 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
com qualidade crianças com necessidades educacionais especiais, de-
manda não dois tipos de professores, mas simplesmente professores do
ensino regular com um mínimo de conhecimento e prática sobre aluna-
do diversificado; e professores “especialistas” nas diferentes necessidades
educacionais especiais. Estes últimos estariam voltados para apoiar o
trabalho realizado pelos professores de classes “regulares”, bem como,
se for o caso, prestar atendimento complementar a essa criança.
Ao refletir sobre a inclusão de crianças com TGD não se pode ga-
rantir que a turma “comum” seja o ambiente de aprendizagem melhor
para todos e em todas as circunstâncias, sobretudo para os que apresen-
tam comprometimentos de atenção, memória, poder decisório, entre
outros. O que estamos querendo enfatizar é que, dada a diversidade do
comportamento do estudante e das realidades escolares, não temos ain-
da conhecimentos e experiências de escolas que sejam completamente
inclusivas e que permitam afirmar que as classes comuns da maioria
das escolas brasileiras – com número grande de alunos, professores sem
formação adequada, gestores mais preocupados com a administração do
que com o pedagógico – ainda são a melhor opção para aprendizagem
e desenvolvimento de todos.
Portanto, a inclusão das pessoas com deficiência no meio escolar
é necessária, é um caminho sem volta, sendo imperativo reconhecer o
outro como ele é e acreditar que, um dia, a escola será só escola, nem
especial, nem integradora ou inclusiva. “Não serão necessários adjetivos
na inclusão. Será preciso, sim, reconhecer que o mundo está repleto de
elementos parciais que precisam ser ampliados, dando visibilidade às di-
ferenças e afirmando a nova tendência deste século XXI” (JANNUZZI,
2004).
O grande desafio é compreender essa prerrogativa tendo um siste-
ma regular de ensino que historicamente tem buscado uma pseudonor-
malização que, de certa forma, engessa a escola para o trabalho com a
diversidade, procurando no imaginário o aluno ideal, tornando, assim,
tudo o que se diferencia dos padrões estabelecidos algo de difícil en-
tendimento. Na maioria das vezes, essa postura resulta em um cruzar
de braços por parte de alguns professores, calcados na afirmativa: “não
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 111
fomos preparados para lidar com eles”.
Observamos que essa afirmativa faz parte do discurso da maioria
dos professores quando são impelidos pela deficiência. Certamente, não
são poucas as resistências. Os pais (ou familiares) são os primeiros a se
impactarem ao receber a notícia de que o seu filho é “deficiente”, ou
seja, o luto pelo filho ideal acaba por acontecer. Em sequência à família,
o segundo momento de luto é por parte dos professores, que, ao se de-
pararem com crianças com deficiência, também rejeitam e partem na
busca daquela criança “normal” imaginária.
O modelo de uma criança ideal perpassa o nosso imaginário e é
perseguido por todos nós, professores. Estamos acostumados aos precon-
ceitos, às crenças prévias de como as pessoas devem pensar e sentir, de
como as mães devem ser, de como os professores devem se relacionar
com seus alunos. Diante desses estereótipos, cresce a crença de que o
saber universal é um produto acabado e que deve ser seguido por todos.
A educação infantil na vida de uma criança com TGD visa de-
senvolver e potencializar a comunicação, as habilidades funcionais, o
convívio social, as funções cognitivas, por meio de jogos, exercícios, téc-
nicas, atividades, e de outros recursos, beneficiando seu lado intelectual,
seu físico e sua afetividade, existindo maiores possibilidades para pro-
mover tanto o acesso quanto a sua permanência no espaço da Educação
“regular”.
Historicamente a educação das crianças, durante séculos eram de
responsabilidade das famílias, em que a convivência com os adultos as
ensinavam as tradições, boa conduta, normas e regras dentro de sua cul-
tura. A partir da Revolução Industrial, começaram a ser criados espaços
para que as mães deixassem seus filhos, pois precisavam trabalhar. No
Brasil, o objetivo da criação das creches teve caráter assistencialista, pas-
sando a se expandir nessa época. Inicialmente as crianças ficavam em
casas de cuidadoras, após criaram-se as primeiras creches. (DIDONET,
2001).
As creches buscavam dar a assistência necessária às crianças en-
quanto suas mães trabalhavam, fornecendo uma alimentação adequada
e cuidados, pois, a partir de fatores como desnutrição, mortalidade in-
112 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
fantil e um aumento considerável de acidentes domésticos envolvendo
crianças em casa de cuidadoras, os setores ligados à religião, às empresas
e à educação, começaram a pensar em um espaço destinado a cuidar
dessas crianças fora do ambiente familiar.
Dessa maneira, “a criança começou a ser vista pela sociedade com
um sentimento filantrópico, caritativo, assistencial, sendo atendida fora
da família” (DIDONET, 2001). Percebeu-se que, as crianças necessita-
vam de cuidados especiais, pois, muitas viam sendo tratadas de forma
inadequada, o que acarretava problemas de saúde graves e um grande
índice de mortalidade.
Foi nesse contexto, que a implantação de creches e jardins de in-
fância, entre os séculos XIX e XX no Brasil, teve ajuda da justiça, defen-
dendo a criança abandonada em sua infância, por parte da saúde, pela
qualidade de cuidados com a intenção de combater a mortalidade, que
na época estava muito acima do normal e pela religião que buscava am-
parar espiritualmente os desamparados. Na realidade, cada instituição
“[...] apresentava as suas justificativas para a implantação de creches,
asilos e jardins de infância onde seus agentes promoveram a constitui-
ção de associações assistenciais privadas” (KUHLMANN, 1998). Es-
ses agentes buscavam nessas instituições uma maneira de proporcionar
uma melhor qualidade de vida às crianças por meio de um cuidado e
uma alimentação mais adequada.
As lutas pelos direitos das trabalhadoras sempre se fizeram pre-
sente ao longo do século XX, que com o avanço na industrialização e o
aumento das mulheres que resolveram deixar suas casas para trabalhar,
apontando a necessidade de um local que atendesse a infância.
Segundo Arce (2004) há uma preocupação em definir a função e
a necessidade de um atendimento de qualidade no âmbito da educação
Infantil. Neste contexto, a busca por direitos assegurava uma constitui-
ção em que obrigava o Estado a cumprir suas obrigações com as crian-
ças. Esta pressão surtiu efeito, quando a Assembleia Constituinte inseriu
na Constituição Federal de 1988, a criação de creches e pré-escolas, o
que pode ser verificado no artigo 208, inciso IV: “[...] O dever do Estado
para com a educação será efetivado mediante a garantia de oferta de
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 113
creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade” (BRASIL,
1988).
A partir daí as creches deixaram de dar apenas assistência às crian-
ças, passando a ter responsabilidade educacional, na qual, além de cui-
dar, deveriam desenvolver um trabalho pautado em propostas pedagó-
gicas. Essas propostas visam o desenvolvimento pleno da criança nos
aspectos sociais, físicos, cognitivos e emocionais.
Em 1996 foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional (BRASIL, 1996), que organiza a composição dos níveis escolares,
inserindo a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica.
Para Kuhlmann (1998), essa lei “define que a finalidade da educação
infantil é promover o desenvolvimento integral da criança até seis anos
de idade, complementando a ação da família e da comunidade”. Assim
como a família é importante no desenvolvimento da criança, entendeu-
-se que a escola é um complemento à sua educação, mas, não somente
como assistência da forma que ocorria no passado, pois, tais crianças são
dotadas de saberes e conhecimentos que precisam ser explorados para
que entrem no ensino fundamental bem preparadas.
O atendimento educacional aos alunos com deficiência tem sido
realizado, no decorrer da história, dentro das instituições especializadas,
que se caracterizam por serem muito assistencialistas, vinculadas princi-
palmente à promoção da saúde e aos cuidados, com propostas pedagó-
gicas voltadas à reeducação e compensação de carências ou déficits dos
alunos com deficiências.
Hoje em dia, o diagnóstico dos TGD é realizado de acordo com
uma avaliação comportamental da pessoa, pois sabemos que não existe
um marcador biológico único que possa caracterizá-lo. A última edi-
ção do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DS-
MIV) (2013) apresenta o Transtorno Autístico inserido nos Transtornos
Globais do Desenvolvimento (TGD) e define o Transtorno Autístico, o
Transtorno de Rett, os Transtornos Desintegrativos da Infância, o Trans-
torno de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Ou-
tra Especificação (incluindo o Autismo Atípico). Nessa classificação, o
autismo é definido por atrasos ou funcionamento anormal: dois itens em
114 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
interação social, um item na linguagem para fins de comunicação social
e um item em jogos imaginativos ou simbólicos, com aparecimento de
pelo menos um desses itens, antes dos três anos de idade.
A categoria TGD Sem Outras Especificações (TGD SOE) define-
-se pela existência de um comprometimento grave e global do desenvol-
vimento da interação social recíproca ou de habilidades de comunicação
verbal ou não verbal, ou na presença de estereotipias de comportamen-
to, interesses e atividades, sem que sejam satisfeitos os critérios para um
Transtorno Global do Desenvolvimento específico.
Em se tratando de processos educacionais possíveis para crianças
TGD, a família é o espaço inicial de estímulo para criança e torna-se um
espaço de afeição, dividindo com a escola a responsabilidade de socia-
lização, bem como de transmissão de valores e conhecimento. A escola
assumiu, progressivamente, o seu papel de lócus da educação, por meio
da ampliação do ensino institucionalizado.
De acordo com o material Saberes e Práticas da Inclusão (BRA-
SIL, 2006), métodos especiais de ensino só são necessários para as crian-
ças cujas deficiências sejam mais complexas por dificuldades de apren-
dizagem resultantes de lesões neurológicas ou similares.
Como com qualquer outro aluno, o professor deverá estar atento
ao processo de ensino e aprendizagem para identificar as necessidades
peculiares do aluno TGD. Crianças que apresentem dificuldades de
apreensão de conceitos podem ser auxiliadas nesse processo se o profes-
sor planejar o ensino organizando objetos em categorias, enfatizando os
aspectos e/ou itens relevantes em um contexto, privilegiando experiên-
cias concretas antes de proceder ao estágio abstrato do trato dos símbo-
los numéricos, por exemplo.
Auxílios sinestésicos, tais como números para recortar, ou de lixa,
que podem ser percebidos pelo tato, podem também ser bons auxiliares
do ensino. Podem-se usar cores para fazer sobressair as configurações e
auxiliar, assim, a percepção dos objetos e dos textos.
Ainda outras recomendações são feitas, no sentido de analisar a
pertinência dos objetivos educacionais e, por consequência, os conteú-
dos a serem trabalhados com o aluno, visando sempre o favorecimento
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 115
do exercício de participação no debate de ideias e no processo decisório
quanto à sua própria vida e à vida da comunidade.
Assim, pode ser útil favorecer ao máximo o enriquecimento de sua
experiência de vida, mediante:
• integração com a vida da escola;
• motivação de interesses e orientação à criatividade nas ativida-
des de recreação;
• estimulação da iniciativa e da capacidade de liderança do alu-
no;
• fortalecimento da experiência da vida na comunidade;
• ampla utilização das bibliotecas públicas e da escola.
116 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
• compreender que educar é um ato político e, para isso, o edu-
cador deve saber estimular o exercício da cidadania.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 117
Por fim, é preciso desenvolver no aluno a percepção de seus pró-
prios êxitos como resultados de suas habilidades e de sua competência,
e não da benevolência dos demais. É, pois, preciso trabalhar atitudes e
habilidades ligadas a questões da autonomia do pensar, do fazer e do
caminhar, tudo sempre relacionando à criatividade e ao interesse da
pessoa com deficiência, como, aliás, deve ser com qualquer educando.
É no início da vida escolar, pelas portas da educação infantil,
que o cotidiano da criança com TGD pode se transformar. Inicia-se a
construção dos conceitos sociais e culturais, por exemplo, os de gostar,
desgostar, do belo, do feio etc. Esta construção e elaboração acontece
de maneira ativa, a criança interagindo vivamente com as pessoas e
sua ambiência. A criança participa de muitas maneiras das variadas
manifestações socioculturais, como sucede com as artísticas, estéticas
e comunicacionais, e, participando, ela é capaz de reelaborá-las, de
reconstruí-las em seu imaginário, formando ideias e sentimentos sobre
as mesmas, e sendo capaz, ainda, de expressá-las em ações.
Que imagens e sons tão estimulantes são esses pelos quais as crian-
ças veem, ouvem e sentem o mundo?
E que mundo é esse que os adultos estão lhes mostrando através
de suas produções artísticas e comunicacionais?
Pare e pense! Querendo ou não, a criança já vivencia a arte pro-
duzida pelos adultos, presente em seu cotidiano. É lógico que essa arte
exerce influências estéticas e artísticas na criança, e com ela interage de
diferentes maneiras.
As imagens, cenas e sons do cotidiano são extremamente ativas,
pois são presença marcante desses elementos culturais em suas conver-
sas, brincadeiras, desenhos, músicas, faz-de-conta, seu modo de vestir,
de usar objetos, de falar, enfim, de se relacionar com as pessoas.
É preciso criar possibilidades para o desenvolvimento e construção
de conhecimento das crianças com deficiência. Para Tédde (2012, p.23)
se faz necessário “a aplicação de estratégias que possibilitem intensificar
o ensino-aprendizagem, podendo ser trabalhadas de forma lúdica por
meio de jogos, pois os jogos despertam o interesse dos alunos”, além
de ser uma importante ferramenta para fixação de conhecimentos mais
118 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
complexos ou complementação de conteúdo.
No entanto, o professor precisa entender e compreender qual o
seu papel perante o aprendizado, pois não basta apenas inseri-lo sem
objetivos previamente definidos. Precisa existir uma conscientização de
que o lúdico não é apenas brincadeira ou recreação para a criança gastar
energia.
O lúdico é uma ferramenta poderosa com excelentes resultados,
que deve ser inserido no processo de ensino e aprendizagem das crian-
ças com deficiência, pois se resume em uma forma simples de traba-
lhar para o professor e prazerosa para as crianças que já trazem consigo,
durante toda a sua infância o prazer de brincar, através do cantar, das
histórias, das brincadeiras de rua, dos desenhos, etc.
É inegável que o professor é peça fundamental, pois ele terá a
importante missão de preparar um planejamento adequado de acordo
com as características dessa criança, levando em consideração as
especificidades de sua turma. É preciso considerá-la como uma criança,
que conforme as demais estão em processo de descobertas, compreender
suas características, no que interferem em seu desenvolvimento, e assim,
propor atividades que sejam atrativas e mais adequadas ao conhecimento
já adquirido por elas. (SANTOS; ALMEIDA, 2017).
Assim, na interação com a criança, o professor precisa respeitar
seus limites, e buscar meios para que se interesse pelas atividades. Para
isso acontecer é fundamental prestar atenção a suas características, ges-
tos, expressões, possibilitando a criação de estratégias pedagógicas ade-
quadas a seu pleno desenvolvimento.
É preciso compreender que cada estratégia deve ser flexibilizada
mediante o conhecimento sobre cada aluno individualmente, além
de compreender e valorizar quem ele é para além do transtorno que
apresenta.
Observamos, portanto, que as mudanças ocorridas ao longo dos
anos na educação infantil e na educação inclusiva foram significativas
para que as crianças com deficiência tivessem não somente o acesso e
permanência, mas seu pleno desenvolvimento por meio de propostas
pedagógicas adequadas a suas especificidades.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 119
Na educação infantil, o processo de aprendizagem e inclusão do
aluno com deficiência deve ser realizado de forma cautelosa, no qual
o professor precisa conhecer a criança e suas características, pois, dife-
rente dos demais, nem sempre demonstram seus sentimentos e revelam
seus pensamentos.
É indispensável uma qualificação adequada e condizente com a
realidade dos profissionais da educação, preparando-os para receber e
alcançar aprendizagens significativas com estas crianças, bem como, a
disponibilização de recursos e serviços, união entre a escola e família,
alterações no ambiente físico e pedagógico, políticas públicas e
profissionais empenhados em fazer parte dessa transformação. Portanto,
conclui-se que, o adequado atendimento nessa etapa de ensino fará
a diferença no desenvolvimento da criança com deficiência sendo
que, todos que trabalham na sua educação devem ter conhecimentos
aprofundados sobre sua deficiência, conhecer suas características e
necessidades, de forma a proporcionar uma inclusão realmente efetiva
em termos de desenvolvimento e convívio social em todo o ambiente
escolar.
A inclusão escolar de crianças TGD é dotada de uma estrutura
muito particular que diz respeito precisamente às práticas sociais que ao
longo do tempo foram se delineando, ora de uma forma excludente, ora
num processo contraditório.
Explica-se, assim, as percepções que norteiam a deficiência como
uma característica negativa. A negação do potencial e o olhar tão so-
mente para a incapacidade reside, muitas vezes, na incompreensão das
características individuais e sua relação com o processo de escolarização
e de formação e desenvolvimento para a vida.
Entendida como uma luta constante, representada por diferentes
roupagens históricas e políticas, a inclusão por meio da educação se
estende com sinalizações e buscas em diferentes ordens legais que en-
contram suas resistências nos preconceitos culturais e pedagógicos sobre
a deficiência.
Não devemos esquecer que a escolarização no âmbito da educa-
120 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
ção infantil serve para instrumentalizar a criança para a inserção na cul-
tura letrada, criando possibilidades de operação mental capaz de apre-
ensão dos conceitos mais elaborados e complexos. A escolarização visa
também instrumentalizar o educando, através da essência do currículo
escolar, para uma prática social concreta por meio da qual ele perceberá
as contradições básicas da sociedade, poderá posicionar-se frente a elas
e atuar para sua transformação, em favor das necessidades da maioria da
população.
Nesses anos de observação da prática pedagógica voltada a pessoas
com TGD podemos afirmar que fica evidente que, nos casos em que
houve um percurso de desenvolvimento humano segregado, anterior ao
ingresso na escola, as dificuldades de competências escolarizáveis são
muito maiores.
Os desafios da inclusão das crianças com TGD podem orientar a
experiência da escola comum no caminho de se propor práticas novas,
pautadas na conciliação da organização do trabalho e dos tempos esco-
lares ao tempo e necessidade dos alunos TGD.
Concluímos afirmando que a cada passo, novas possibilidades e
novas estratégias nos desafiam a buscar novas questões que possam mo-
ver alternativas e práticas de sucesso.
Referências
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 121
BRASIL. MEC, Saberes e Práticas da Inclusão, 2006. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/pet/192-secretarias-112877938/seesp-esducacao-es-
pecial-2091755988/12656-saberes-e-praticas-da-inclusao>. Acesso em: 30 jan.
2023.
DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a
creche, um bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. v 18, n. 73. Brasília, p.11-28. 2001.
122 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Capítulo 7
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 123
Autista (TEA), cujas principais características manifestam-se precoce-
mente, já nos primeiros anos de vida e englobam padrões restritos e
repetitivos de comportamento, comprometimento persistente na comu-
nicação social, presença de estereotipias e inflexibilidade a mudanças
(SCHWARTZMAN, 1995).
O Transtorno do Espectro Autista é classificado em três níveis, in-
dicando a gravidade e o suporte requerido. O Nível 1, leve, requer pouco
apoio e o comprometimento está nas interações sociais e comunicação.
Manifesta certa dependência em relação ao autocuidado, organização
e planejamento. Apresenta dificuldade em mudanças de atividade. No
Nível 2, moderado, apresenta prejuízos nos mesmos aspectos do nível
anterior, mas o suporte precisa ser mais substancial. Há pouca abertura
para as interações sociais e estas precisam ser mediadas em decorrência
de déficits na conversação, respostas curtas ou apenas sobre tópicos es-
pecíficos. Em vários momentos precisa de ajuda para mudança de am-
bientes, de atenção e de foco. A última classificação, do Nível 3, indica
maior severidade. Nele, o apoio precisa ser expressivo porque há uma
grande dificuldade em lidar com mudanças e geralmente há hiperfoco.
Os prejuízos são mais severos, com interações sociais muito limitadas.
Evidentemente, o diagnóstico diz respeito a sujeitos diferentes
com contextos socioculturais e familiares diversos, bem como com pos-
sibilidade de vinculação a outras deficiências. Nesse sentido, as peculia-
ridades de cada caso podem não estar relacionadas apenas aos diferentes
graus de comprometimento. Evidencia-se a pertinência de considerar as
experiências individuais para além de uma padronização diagnóstica.
É oportuno ressaltar que as alterações na forma de diagnóstico
do TEA possibilitam que sujeitos identificados no espectro desde cedo
tenham acesso a procedimentos, vivências e intervenções precoces
que possibilitem ganhos em termos de desenvolvimento ainda nos
primeiros anos de vida, devido à plasticidade cerebral. Estas iniciativas
são pertinentes por unirem propostas terapêuticas e educacionais que
consideram as limitações do momento, mas também as potencialidades
do sujeito. Estudos de psiquiatria e psicologia (CANUT et al., 2014;
ALMEIDA; NEVES, 2020) apontam que quanto mais tardiamente o
124 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
transtorno for descoberto, mais consolidados estarão as manifestações
e comportamentos. Canut et al. (2014) apontam que o diagnóstico nos
primeiros anos de vida é de suma importância. Estima-se que o trata-
mento iniciado até os três anos de idade é mais efetivo e permite que a
criança se relacione melhor consigo mesma e com os outros, restabele-
cendo “[...] as funções motoras, cognitivas e comportamentais, adequa-
das para sua idade” (CANUT et al. 2014, p. 35) antes da cristalização de
certos comportamentos e manifestações típicas do espectro.
A idade da criança bem como o comprometimento das áreas de
comunicação e linguagem, interação social, o grau de déficit cognitivo,
a gravidade dos sintomas gerais e sua manifestação devem ser consi-
derados nos processos educacionais. Há casos em que a observação do
comportamento pelos profissionais da Educação Infantil pode contri-
buir com o diagnóstico. Nesse sentido, é pertinente apontar quais possi-
bilidades a Educação Infantil pode oferecer para uma criança com TEA
que frequente a escola comum.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 125
haver pouca divulgação nas pesquisas científicas na área, o impacto de
programas de inclusão na Educação Infantil parece ter resultados favo-
ráveis. Entre as justificativas está a abertura das crianças diante do novo,
o que favorece uma perspectiva inclusiva.
126 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Infantil, porém pode ser potencializada pela inflexibilidade mais expres-
siva da pessoa com TEA. Esses são ambientes que ainda não fazem parte
do cotidiano da criança e neles há muitos estímulos, pessoas e situa-
ções não familiares que podem contribuir para reações mais intensas,
já esperadas por configurarem como alterações de rotina. Ocorre uma
dificuldade de apropriação de sentido pela criança nessa experiência e
ela tende a se fixar apenas no incômodo da nova situação, exigindo da
equipe pedagógica um trabalho intenso e contínuo para a apropriação
da rotina. Não é válido, contudo, uma intervenção pedagógica a todo
custo, por meio de estratégias inadequadas como recompensas ou horá-
rios e atividades muito diferenciados que posteriormente causarão difi-
culdades para os envolvidos, incluindo a própria criança, no momento
em que precisarem ser reformuladas.
No caso de uma criança já diagnosticada com TEA, a Educação
Infantil pode contribuir tanto para a expansão da realidade e experi-
ências desse sujeito como ser um meio de garantir a atenção precoce
necessária nesse momento. Junto às terapias e cuidados específicos da
saúde, a intervenção educativa pode somar em relação ao desenvolvi-
mento, uma vez que todas as crianças, em idade da Educação Infantil,
estão se desenvolvendo nas áreas motora, cognitiva, emocional, apren-
dendo as relações sociais com os pares. Não é diferente para as crianças
com autismo. O ambiente de interação com outras crianças e adultos
pode ser um meio potencial para desenvolverem-se no convívio social,
aprendendo a superar as possíveis estereotipias.
Evidentemente, algumas características precisam ser observadas
para uma Educação Infantil que se pretende inclusiva.
A Educação Infantil prevê como objetivo o desenvolvimento in-
tegral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físi-
co, afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da
família e da comunidade (Lei nº 9.394/96, art. 29 – BRASIL, 1996).
Deve assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício
da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estu-
dos posteriores. A Constituição Federal (artigo 208, inciso IV) expõe o
direito desse público à matrícula em escola pública (art. 205), gratuita e
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 127
de qualidade (art. 206, incisos IV e VI), com igualdade de condições em
relação às demais crianças para acesso, permanência e pleno aproveita-
mento das oportunidades de aprendizagem propiciadas (art. 206, inciso
I) (BRASIL, 1988).
Nesse sentido, a Educação Infantil pode ser um ambiente promis-
sor à inclusão escolar de pessoas com TEA porque essa modalidade visa
contribuir para as primeiras experiências sociais e coletivas das crianças.
Essa modalidade entende que o desenvolvimento motor, emocional,
cognitivo fazem parte dos objetivos educativos para as crianças de 0 a 5
anos, independentemente de suas características. Além disso, é preciso
considerar a peculiaridade desse momento de vida e as múltiplas formas
como as crianças “[...] vivenciam o mundo, constroem conhecimentos,
expressam-se, interagem e manifestam desejos e curiosidades de modo
bastante peculiares” (BRASIL, 2009, p. 5).
A organização pedagógica desta etapa deve privilegiar as intera-
ções, brincadeiras e variadas experiências em “[...] espaços privilegiados
de convivência, de construção de identidades coletivas e de ampliação
de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas” (BRASIL, 2009, p.
5) que permitam às crianças o “[...] acesso a bens culturais e às possibi-
lidades de vivência da infância” independentemente das características
que cada uma delas apresente.
Aprender o convívio com outras pessoas além da família, o de-
senvolvimento das linguagens, o estabelecimento de hábitos e rotina
é objetivo da proposta com todas as crianças da Educação Infantil. É
nessa direção que, apesar de o trabalho com as crianças com TEA ser
específico, não difere substancialmente dos objetivos já esperados na
primeira etapa da Educação Básica, o que pode contribuir para um am-
biente inclusivo e sem grandes diferenciações para atender as crianças
que tenham deficiências. É evidente que certas realidades exigirão pro-
cedimentos específicos, mas não diferem de muitas competências do
trabalho pedagógico da Educação Infantil.
Mendes (2010, p. 77) alerta, contudo, sobre a necessidade de defi-
nir os sujeitos público alvo da Educação Especial que estão em processo
de inclusão escolar. A autora defende que
128 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
[...] a não identificação neutraliza a diferença e, além disso, im-
pede que serviços de suportes possam ser oferecidos, ficando essas
crianças sujeitas a condições iguais, porém não equiparáveis, o
que em longo prazo irá prejudicar seu processo de desenvolvi-
mento em ambientes regulares.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 129
festações, de modo a permitir avanços no âmbito emocional, cognitivo
e de linguagem. Somam-se vários aspectos que enfatizam a importância
da atenção precoce para o desenvolvimento integral da criança. Contu-
do, apesar de a Educação Infantil ser uma etapa favorável a uma inclu-
são das crianças com TEA na escola comum, ressalta-se que o ambiente
educativo deve ser pensado com intencionalidade para que as práticas
ali exercidas atendam a todas as crianças conforme suas necessidades
individuais e coletivas. Todos as intervenções devem ser pensadas, con-
textualizadas e terem propósito.
O planejamento e as práticas da Educação Infantil devem con-
siderar as peculiaridades deste momento de vida, cujas manifestações
expressam com maior ênfase a integralidade e indivisibilidade das di-
mensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética
e sociocultural das crianças. Planejar requer apontar no projeto peda-
gógico as experiências de aprendizagem que se espera que as crianças
desenvolvam e os meios para buscar efetivá-las.
Para as crianças com TEA, a previsão e a rotina na Educação In-
fantil não apenas estruturam o cotidiano, mas se tornam imprescindí-
veis, exigindo intencionalidade na condução, tanto para ajudar a in-
corporar elementos que se repetem cotidianamente como para inserir
elementos novos.
Barbosa (2006) observou que em muitas creches e pré-escolas são
encontradas a presença das rotinas como modelos ou sugestões para o
trabalho pedagógico do educador, mas que em geral elas não são te-
orizadas. Por vezes a rotina se torna uma prescrição, sem explicitação
da justificativa sobre as atividades a serem realizadas bem como de sua
sequência. “A presença significativa das rotinas nas práticas da educação
infantil acabou por constituí-la como categoria pedagógica central, mas
muito pouco estudada e explicitada” (BARBOSA, 2006, p. 36). Em se
tratando de uma Educação Infantil inclusiva, com a presença de su-
jeitos com TEA, a rotina deve ter um caráter central, constantemente
refletida e observada. Se a palavra rotina está muito relacionada à tra-
dição, algo normatizador ou rígido, a autora sugere que se considere a
vertente da imprevisibilidade do cotidiano como algo benéfico, o que
130 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
não impede que as práticas da Educação Infantil tenham uma estrutura
e um fio condutor.
Em crianças com TEA, a capacidade de antecipação está com-
prometida. Isso requer que a criança seja informada previamente, de
forma simples e objetiva, sobre o que ocorrerá no momento seguinte,
independentemente de sua idade. Vale dizer que essa é uma prática res-
peitosa e muito recomendada para ser realizada com qualquer criança
da Educação Infantil, seja um bebê ou criança bem pequena.
A rotina precisa ser compreendida e deixar a criança familiarizada,
portanto, quanto mais a criança com TEA puder compreender as ações
e práticas da escola com antecedência, melhor se contextualizará com a
vivência escolar. A adesão à uma nova incorporação de rotina pode não
ser imediata ou mesmo causar resistência, mas a consistência das práti-
cas de antecipação é importante, bem como a constância da rotina. Isso
para que progressivamente a criança seja capaz de internalizar eventos
cotidianos, dispensando aos poucos a antecipação e sem grande sofri-
mento a cada mudança de atividade. Em suma, é necessário explicitar a
organização do que se pretende no cotidiano educativo, como Barbosa
(2006, p. 36) aponta:
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 131
cessidades das crianças entre zero a seis anos são próprias de qualquer
criança nessa faixa etária. Todas precisam ser conduzidas a uma progres-
siva autonomia, mas há de se considerar as necessidades peculiares de
cada caso para assegurar sua participação.
Mendes (2006) aponta a pertinência de considerar as expectativas
que se têm para o restante do grupo de crianças de modo que as crian-
ças com qualquer deficiência tenham, na medida do possível, as expe-
riências mais similares aos pares. É interessante que sejam práticas não-
-estigmatizantes, que os colegas sejam envolvidos sempre que possível
e o mais importante: que a fonte de avaliação do trabalho tenha como
referência a própria criança, que manifesta seus interesses, preferências,
aversões.
Sobre a avaliação, é fundamental a identificação de todo o proces-
so, sendo importante o registro, as descrições dos professores e constru-
ção de portfólios. Devem ser consideradas nos parâmetros avaliativos a
situação inicial, os avanços, desafios e estratégias usadas nas intervenções
pedagógicas feitas nas diferentes áreas do desenvolvimento humano, em
especial daquelas mais comprometidas nas crianças com TEA. Todos
esses elementos devem nortear os planejamentos, sejam eles bimestrais,
semanais ou diários, para que tenham eficácia e coerência. Os registros
e o histórico do trabalho pedagógico com a criança com TEA precisam
ser visualizados.
A avaliação deve ser considerada em um plano educacional indivi-
dualizado (PEI), que aponte parâmetros relativos a avanços individuais.
Não se deve perder a perspectiva do currículo da turma e os conteúdos
e objetivos do ano escolar devem ser almejados e buscados por meio de
múltiplas estratégias, mas é válido – para a turma toda e não apenas para
as crianças com TEA – considerar critérios relativos ao avanço de cada
aluno no período letivo, considerando o ponto de partida e as conquistas
individuais obtidas.
É objetivo da Educação Infantil ajudar as crianças no
desenvolvimento da linguagem. Alguns parâmetros de linguagem podem
ser estabelecidos sobre o que se espera em determinado momento/
idade, porém, considerando que as crianças podem estar em diferentes
132 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
etapas do desenvolvimento e são provenientes de diversos contextos, são
necessárias avalições diagnósticas que identifiquem como se desenrola
a competência da comunicação. Para as crianças com TEA o parecer
sobre a linguagem, em especial a oral, deve ser considerado com auxílio
de equipe multidisciplinar que identifique as potencialidades e limita-
ções que cada sujeito apresenta. Para tanto, o aspecto da linguagem no
espectro do autismo será melhor discutido a seguir.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 133
dos professores e pares, permitem que as crianças passem a utilizar ver-
balizações nas atividades de pedir, mesmo aquelas que demoram para
adquirir a linguagem verbal ou apresentam ausência de linguagem e
uso instrumental das pessoas para solicitar coisas.
Outras características marcantes na linguagem receptiva de sujei-
tos com TEA envolvem:
134 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
ver o propósito de alcançar uma verbalização objetiva, ou seja, que
indique que o profissional acredita no potencial do aluno em entender
o que está sendo dito e pode agir a partir daí, mesmo que ele não pareça
reagir às intervenções. Outro ponto importante é que o uso desses recur-
sos de apoio visual não deve artificializar as relações com a criança, mas
sim desenvolver novas competências e ampliar sua flexibilidade mental.
As estratégias precisam ser constantemente revistas e atualizadas
para proporcionar desafios cognitivos adequados, que não retenham a
criança em seu desenvolvimento. Isso será fundamental para que haja
abertura ao processo de alfabetização.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 135
vivências, deve trabalhar para aproximar as crianças das práticas de letra-
mento e prepará-las para a alfabetização. O objetivo último da etapa não
é a sistematização da aquisição formal da leitura e escrita pelas crianças,
mas que durante a Educação Infantil vivam significativas experiências
em linguagem, literatura, canções, rimas que deem repertório que pos-
sibilite o desenvolvimento de habilidades fundamentais para a alfabeti-
zação. O fundamental é despertar em todas as crianças, independente-
mente de suas características, o interesse pela leitura e pelo mundo das
palavras.
A linguagem oral e expressiva também é outro aspecto a ser desta-
cado. Estimular as crianças a falar, seja por meio de rodas de conversas
que as convidem a expressar seus gostos e interesses, como a responder
perguntas simples, pertinentes para o seu desenvolvimento. As crianças
com TEA podem ser encorajadas a participar por meio de Comunica-
ção Alternativa, desde que haja constante intencionalidade de desenvol-
ver a verbalização e que gradualmente tenha intuito de que use palavras
para se expressar.
Abordar a percepção de que algumas palavras representam um
objeto, o nomeiam e fazem recordar dele mesmo na sua ausência, é
outra habilidade imprescindível. A utilização de fichas com nomes de
materiais em sala, aprender os nomes dos colegas da turma, permitem
essa aproximação com a linguagem. As crianças apreendem o objetivo
da escrita ao fazer atividades de uso social dela, como escrever bilhetes,
receitas, cartazes.
A leitura e contação de histórias deve fazer parte do cotidiano na
Educação Infantil. Ler em voz alta para as crianças tende a ajudá-las a
expandir vocabulário e compreender o enredo, especialmente porque
os livros podem ser lidos várias vezes, oportunizando a aprendizagem e
a percepção de rimas, aliteração, frases que se repetem, aumentando a
manipulação sonora das palavras, promovendo consciência fonológica.
A leitura contribui no desenvolvimento da memória, atenção e imagi-
nação. É válido que as crianças criem ou recontem histórias, mas que
possam se dedicar a esses enredos. A repetição e familiaridade com as
histórias pode ser muito positiva para os sujeitos com TEA, pois lidam
136 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
melhor com os materiais já conhecidos.
A questão da autoestima na aprendizagem da leitura e da escrita
precisa sempre ser considerada na Educação Infantil. Alfabetizar requer
que a frustração e ansiedade sejam dosadas, tanto das crianças, como
dos adultos – pais e professores. Sem a autoconfiança a criança não se
sentirá segura para tentar, errar e progredir quantas vezes forem neces-
sárias, como parte de toda essa aprendizagem.
É fundamental a documentação de todo o histórico do estudante,
seu percurso, avanços e desafios para que a noção de continuidade
esteja presente e permita que os professores da Educação Infantil façam
um trabalho integrado em toda a trajetória educacional da criança,
observando os desafios e peculiaridades de cada sujeito.
Referências
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 137
nal de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Diário Oficial da União. Brasília, DF, 28 dez. 2012. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em: 10
dez. 2020.
138 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Capítulo 8
Introdução
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 139
Decreto nº 10.502/2020, que instituiu a “Política de Educação Especial:
equitativa, inclusiva e com aprendizado ao longo da vida” (BRASIL,
2020). Esse documento foi considerado a “nova” PNEEPEI, porém, por
sugerir o retorno às propostas segregacionistas e excludentes, superadas
há algumas décadas, foi suspenso em 2021 e revogado em 01/01/2023.
Cabe dizer que este decreto além de ir na contramão de todo arcabou-
ço inclusivo, construído até o momento, também violava os princípios
trazidos na Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência que,
dentre outras diretrizes, prevê o protagonismo das pessoas com deficiên-
cia na elaboração de políticas acerca deles mesmos: “Nada Sobre Nós,
Sem Nós”50.
Infelizmente, temos vivenciado lacunas significativas na efetiva-
ção da proposta de inclusão escolar e vários autores (PLETSCH, 2009,
2010; VALENTIM, 2011; OLIVEIRA, 2012, 2018, 2019; entre outros)
têm apontado tal situação em suas pesquisas. Ou seja, mesmo após mais
de 10 anos da implantação de tal política no Brasil, ainda temos muito
que caminhar.
Neste texto traremos algumas considerações sobre uma parcela de
indivíduos que faz parte do público-alvo da Educação Especial51, os in-
divíduos com deficiência intelectual. Discutiremos possíveis processos
favorecedores à inclusão destes sujeitos com foco e um dos componen-
tes curriculares da educação básica, a Matemática.
Importante esclarecer que este trabalho não se propõe a trazer
“receitas”, porque não há, mas, reflexões e indicativos acerca de pos-
sibilidades de atuação pedagógica em Matemática frente ao aluno
com deficiência intelectual, inserido na classe comum, já que tal
componente curricular, historicamente, se apresenta como um fil-
tro social, privilegiando as pessoas consideradas com alta capacidade
intelectual, o que nos coloca frente a um paradoxo: intelectualidade
versus deficiência.
140 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
1. Deficiência intelectual e escolarização
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 141
e as relações estabelecidas, sem desconsiderar o aspecto biológico que
está presente, abrimos possibilidades de intervenção para com este su-
jeito, ou seja, a escola passa a ter função primordial no desenvolvimento
deste sujeito, não só por oferecer interações e socializações, mas por
produzir meios para que a pessoa com deficiência intelectual saia de
uma condição, por vezes limitada e, avance nas questões relacionadas à
aprendizagem e, por consequência, em seu desenvolvimento.
Tal posicionamento vai ao encontro do que Vigotskii (2006) pre-
coniza quando menciona que, somente o aprendizado adequadamente
organizado estimula os processos internos de desenvolvimento. E, por-
tanto, tal ideia faz-nos valorizar o potencial que a escola tem nos proces-
sos de desenvolvimento destes alunos, assim como, questionar práticas
educativas que se baseiam apenas em conhecimentos que o aluno já
sabe e domina, ou que se caracterizem como simplificados e reduzidos.
Desse modo faz-se necessário refletir sobre os modos e formatos
de ensinar que a escola tem proposto, para que o aluno com deficiência
intelectual tenha suas especificidades atendidas, há “[...] necessidade de
transformações das metodologias educacionais, em uma nova forma de
compreender os processos de aquisição do conhecimento e no plane-
jamento de estratégias diferenciadas de ensino-aprendizagem” (SILVA,
MENDONÇA, MIETO, 2015, p. 214).
Basear o ensino dos alunos com deficiência intelectual, em pro-
postas simplistas e/ou reduzidas em sua complexidade, por acreditar
que ele não é capaz de compreender conceitos complexos, não colabo-
ra para que o mesmo saia de uma condição, muitas vezes limitante da
deficiência.
E será a partir da Educação Infantil que as propostas de aprendiza-
gem devem ser pensadas para todos os alunos. Para Mello (2007, p. 85)
“A creche e a escola da infância podem e devem ser o melhor lugar para
a educação das crianças pequenas [...] pois aí se pode intencionalmente
organizar as condições adequadas de vida e educação para garantir a
máxima apropriação das qualidades humanas”, e dentre todas aquelas
com deficiência intelectual.
Mello (2007) ainda indica que não é apressando e antecipando
142 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
conteúdos do Ensino Fundamental, adiantando-os para a fase da Edu-
cação Infantil que teremos um desenvolvimento e aprendizagem am-
pliados. A autora ainda complementa que:
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 143
intencional do professor é condição para a aprendizagem [...]” (p. 150).
Considerar a importância do papel da intervenção do professor nos pro-
cessos de aprendizagem do aluno com deficiência intelectual faz com
que caia por terra a ideia de que somente ele, o indivíduo, é responsável
por tais processos. Isso abre um campo de possibilidades de atuação em
relação a este aluno, ou seja, o grande papel que o ensino tem, já que
não podemos considerar que a deficiência é, por si só, condição para
não-aprendizagem.
Vigotskii (2006) indica que a aprendizagem devidamente organi-
zada ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento e conduz
a criança ao desenvolvimento mental. E, portanto, a aprendizagem é
um momento intrinsecamente necessário e universal que não podemos
furtar o indivíduo com deficiência intelectual de se beneficiar.
Contudo, práticas pedagógicas tradicionais têm sido frequentes na
escola e, desta forma, pouco exploram a totalidade de possibilidades de
aprendizagem dos alunos. Atividades estas que acabam por exigir pouca
reflexão dos alunos, podem inibir a aprendizagem de novos conheci-
mentos. (VALENTIM, 2011).
Ampliar as possibilidades de aprendizagem de alunos com defici-
ência intelectual têm sido um caminho pelo qual a escola deve seguir.
Faz-se necessário oferecer estratégias e mediações pedagógicas sistema-
tizadas e planejadas para que estes não só participem, mas interajam
com os colegas e construam conceitos científicos necessários para o seu
desenvolvimento social. (LIMA; PLETSCH, 2018). E, desta forma, a
escola terá cumprido seu papel de ser/tornar-se inclusiva.
144 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
por meio de fórmulas a serem decoradas, com situações-problemas des-
contextualizados e com foco apenas em algoritmos a serem exercitados
sem que se tenha uma explicação sobre suas aplicações no cotidiano
e/ou sobre as circunstâncias de sua descoberta, impõe aos estudantes,
verdades absolutas e inquestionáveis.
Nesse sentido, as dificuldades dos alunos em aprender os conte-
údos relacionados à Matemática são naturalizadas, além dos alunos se-
rem rotulados como “sem talento ou aptidão” para tais temas, o que, às
vezes, é tão marcante na vida escolar de alguns que tal ideia é verba-
lizada anos mais tarde. Isso ecoa, marca e exclui pessoas com ou sem
deficiência.
Outro aspecto posto e que demonstra a superioridade da Matemá-
tica e de quem a domina é destacar que:
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 145
persistem no contexto escolar. Ademais, os conteúdos presentes no cur-
rículo escolar, geralmente, são escolhidos por quem pouco frequenta
as salas de aula e com pouca (ou nenhuma) experiência educacional
efetiva (isso não é uma particularidade desta disciplina). As escolhas são
baseadas quase sempre por convicções do campo da Matemática Aca-
dêmica, pela tradição que alguns conteúdos têm no currículo escolar
ou, ainda, por influência de avaliações externas, o que contribui para
aumentar a dificuldade frente a este componente curricular.
Sob este ponto de vista, a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) possuem um
aspecto de padronização do conteúdo, o que não privilegia a contextu-
alização da Matemática, evidenciando-a como filtro social ou, que ela
seja para as pessoas mais talentosas ou para grupos sociais privilegiados
(BRASIL, 1998; 2018).
Na BNCC, há um silenciamento acerca da Educação Especial,
como uma modalidade de ensino, e/ou da educação inclusiva. Na área
que diz respeito à Matemática menciona apenas: “Desenvolver e/ou
discutir projetos que abordem, sobretudo, questões de urgência social,
com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários,
valorizando a diversidade de opiniões de indivíduos e de grupos sociais,
sem preconceitos [...]” (BRASIL, 2018, p. 267), não explicitando a quais
indivíduos ou grupos se referem e qual a especificidade da diversidade
mencionada.
De acordo com Froehlich e Meurer (2021, p.3), na BNCC “[...]
não há enfoque voltado à Educação Especial nem ao seu público-alvo,
trazendo ofuscada essa modalidade. As pequenas colocações, vagas, tra-
zem a Educação Especial de forma frágil, sem a atenção necessária”.
No caso de alunos com deficiência intelectual, há vertentes que
defendem o retorno do ensino destes exclusivamente em escolas espe-
cializadas pautadas em argumentos de que os mesmos comprometem o
desenvolvimento dos demais alunos na escola comum ou ainda, que a
escola/professor da classe comum não sabe lidar com esse aluno por não
possuir formação específica para tal atuação.
Quando a deficiência é naturalizada, considerada apenas locali-
146 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
zada no indivíduo e de que, nada no seu entorno precisa se adequar
para atender tais particularidades, associamos a ela uma concepção de
ineficiência do indivíduo, de que ele não é capaz de aprender algo por-
que não possui condições inerentes ao seu próprio desenvolvimento que
permita que o mesmo aprenda.
Tal concepção impõe riscos de minimizar ações na escola, ou de
que elas deixem de ser feitas, tais como a realização de um planejamen-
to de ensino que atenda às necessidades educativas deste alunado, do es-
tabelecimento de um ensino colaborativo com o professor especializado
no Atendimento Educacional Especializado (AEE) e de atividades que
sejam promotoras de aprendizagem, independente da disciplina.
No que segue, focaremos algumas possibilidades no trabalho pe-
dagógico, no contexto da Matemática, e que podem contribuir para
aprendizagem e desenvolvimento de alunos com deficiência intelectual
e, consequentemente, para efetivar os processos de inclusão escolar.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 147
rotular, limitando a ação do sistema educacional em relação ao aluno
com deficiência. O aluno está matriculado, “incluído” na classe co-
mum, mas, na verdade, o que se tem, muitas vezes, é uma segregação
ou exclusão mascarada (TABORDA; RODRIGUES; ROSA, 2019).
Em relação à Matemática, Moraes (2017, p. 178) aponta que:
148 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Os materiais manipulativos ou concretos são uma boa opção de
trabalho na Matemática, eles podem proporcionar a exploração e junto
à mediação do professor, com objetivos claros e definidos do que se quer
ensinar, levar o aluno a aprendizagem de conceitos científicos inerentes
à Matemática.
É importante ressaltar que a ideia de concreto, muitas vezes,
atrela-se diretamente a noção de manipulativo. A dimensão material
existe, porém, não é única, é necessário pensar que há também outra
dimensão, trata-se de seu conteúdo de significações, ou seja, nem sempre
o concreto é manipulável, mas concretiza-se por ter um significado
expresso para o que se deseja propor (ARAGÃO; VIDIGAL, 2012).
Esta ideia é muito importante quando nos remetemos à defici-
ência intelectual, já que muito se apregoa que a aprendizagem de tais
alunos deve sempre ser baseada no concreto/manipulativo, esta é uma
possibilidade, porém, não deve ser a única, já que é importante que o
aluno avance na aprendizagem de conteúdos e que possa também, se
apropriar sobremaneira dos conceitos abstratos, tão subjacentes ao co-
nhecimento matemático.
Na Educação Infantil é muito importante que, desde cedo, os alu-
nos possam manipular objetos de quantidades, cores, texturas e tama-
nhos diferentes para que percebam atributos e características inerentes
a tais materiais que podem ser explorados e aprofundados futuramente
em conceitos como de geometria, por exemplo. Contudo, tal explora-
ção não pode ser realizada de forma isolada do contexto real.
O brincar, condição essencial para o desenvolvimento das crianças
com ou sem deficiência, também envolve desde muito cedo questões
matemáticas. As músicas infantis, utilizadas nas brincadeiras, contêm
contagens, ordenação, classificação, por exemplo, que serão exploradas
futuramente de forma mais sistematizada pela Matemática do Ensino
Fundamental em diante. É importante mencionar que os espaços, ati-
vidades e ações devem ser organizadas intencionalmente, com objetivos
claros que se desejam atingir.
Marcolino e Mello (2015, p. 151) indicam que “[...] para que a
criança brinque e para que esse brincar possa afetar processos psíqui-
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 149
cos – fazendo com que um desenvolvimento potencial torne-se real
– é preciso criar determinadas condições e circunstâncias de modo que
a brincadeira possa acontecer e se desenvolver”.
Mello (2007, p. 89) aponta ainda que:
150 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Se brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização
deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais pre-
valece a incerteza do ato e não se buscam resultados. Porém, se os
mesmos objetos servem como auxiliar da ação docente, buscam-
-se resultados em relação a aprendizagem de conceitos e noções,
ou mesmo, ao desenvolvimento de algumas habilidades. Nesse
caso, o objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função
lúdica, deixa de ser brinquedo para tornar-se material pedagógico.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 151
deficiência intelectual.
Tais sugestões são importantes, pois é comum vermos o trabalho
com alunos com deficiência intelectual com propostas pouco instigan-
tes, mecanizadas e repetitivas que não favorecem em certa medida a
aprendizagem. Um ensino da Matemática de maneira metódica e pou-
co motivadora pode ser uma dentre as causas das frequentes dificulda-
des encontradas pelos estudantes na aprendizagem, e isso pode ocorrer
com alunos com ou sem deficiência.
É importante enfatizar que cabe ao docente preparar, planejar e
desenvolver o jogo, ou qualquer outra atividade matemática com um
objetivo didático, de aprendizagem, para que se alcance os objetivos
traçados para com aquele aluno ou turma.
Outra importante consideração, que não podemos deixar de men-
cionar é a necessidade do trabalho diversificado nas aulas de Matemáti-
ca. Se compreendermos que há uma heterogeneidade presente na sala
de aula e que dentre estas está a deficiência intelectual, as proposições
nunca serão iguais para turma toda e, desta forma, todas as necessidades
de aprendizagem poderão ser atendidas.
Considerações Finais
152 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
bre os processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento, os filtros
sociais assim como as exclusões promovidas por esse componente cur-
ricular.
Nesta direção, “[...] os esforços devem ser empreendidos para que
o conhecimento matemático seja acessível a todos os alunos. Conside-
rando então apenas o pressuposto essencial e os objetivos da Educação
Matemática e da Educação Inclusiva os entrelaçamentos entre elas já
estão estabelecidos [...]” (NOGUEIRA, 2020, p. 126, grifos da autora).
A crença de que o aluno com deficiência intelectual não tem con-
dições de aprender conhecimentos mais elaborados e abstratos em Ma-
temática deve ser derrubada, já que pensar desta forma pode influenciar
no trabalho pedagógico do professor, que acaba por oferecer propostas
pouco desafiadoras, repetitivas, com pouco potencial de desenvolvi-
mento e aprendizagem.
Smole (2019, p. 1) assevera que:
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 153
As possibilidades aqui apresentadas não são propostas específicas
de trabalho para alunos com deficiência intelectual, são sugestões de
trabalho que podem e devem ser desenvolvidas na classe comum para
todos os alunos.
A ideia em reuni-las neste texto é também a de desmistificar que
a educação de alunos público-alvo da Educação Especial deve ser sem-
pre diferente, apartada do currículo comum. Haverá sim momentos que
necessitarão de adequações, entretanto, muitas propostas pedagógicas
que já projetamos na sala de aula comum, se desenvolvidas com plane-
jamento adequado, atendem as necessidades e particularidades desses
alunos. E caberá ao AEE, num trabalho colaborativo com o professor da
sala comum e outros profissionais envolvidos, o papel de complementa-
ção da educação destes.
Construir uma escola inclusiva requer mudanças urgentes em toda
sociedade, mas podemos começar a partir do nosso local/espaço. Enquan-
to professores, nosso primeiro passo deve ser dado na sala de aula e, ao
mesmo tempo, almejar e lutar por mudanças em contextos mais amplos.
Referências
154 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Es-
pecial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC, 2008.
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasi-
leira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiên-
cia). Brasília, 2015.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 155
MORAES, M.C.V. Educação Matemática e deficiência intelectual para in-
clusão escolar além da deficiência: uma metanálise de dissertações e Teses
1995 a 2015. 2017. 240f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e
Matemática) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.
156 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
ROSSIT, R. A. S.; GOYOS, C. Deficiência intelectual e aquisição matemática:
currículo como rede de relações condicionais. Revista Semestral da Associação
Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), vol. 13, n. 2, p.
213-225, Julho/Dezembro 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pee/a/
hgL6ZDBTBYhG9mq6F37TWsF/. Acesso em: 10 abr. 2023.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 157
Capítulo 9
Introdução
158 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
gráfico, a partir de busca na Revista de Educação Especial da UFSM. A
pesquisa consiste em investigação bibliográfica e documental, tendo em
vista a contextualização do tema por meio de documentos nacionais e a
busca pelos dados empíricos no periódico destacado.
Um marco importante na história da Educação Especial no Brasil
foi a Resolução n.º 2 do Conselho Nacional de Educação (2001) ao
declarar que os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos,
sendo responsáveis por se organizarem, no sentido de atender aos edu-
candos com necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2001b).
De acordo com o disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção Nacional de 1996 – LDB/1996:
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 159
A Educação Infantil faz parte do sistema educacional brasileiro
e é responsável pelo início da escolarização das crianças, inclusive das
crianças público-alvo da Educação Especial.
O artigo está estruturado em quatro partes: a Educação Especial
e Educação Inclusiva, a criança com deficiência e a Educação Infantil;
publicações sobre deficiência e Educação Infantil da Revista Educação
Especial da UFSM e conclusão.
160 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Fonte: SAVIANI, R. R et al. (2019, p. 545).
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 161
sos multifuncionais (SRM); pode ser ofertado também em Centros de
Atendimento Educacional Especializado (CAEE), com atividades que
complementem o apresentado nas salas regulares:
162 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
o cuidar e educar são indissociáveis, de acordo o Currículo Referência
do Mato Grosso do Sul:
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 163
Nas escolas regulares, a atuação de profissionais do Atendimento
Educacional Especializado (AEE) é necessário para um processo mais
eficaz de aprendizagem à aqueles que necessitem de Educação Espe-
cial. Cabe salientar que o AEE é garantido na Constituição Federativa
do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988).
57. Como resultado da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, realizada entre
7 e 10 de junho de 1994, criou-se a Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994).
164 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Na educação infantil, o contato entre o professor e o aluno é de
proximidade, é o profissional, na maioria das vezes, quem percebe algu-
ma necessidade especial na criança. Familiares que não aceitam a defi-
ciência da criança, a falta de acessibilidade e de formação profissional
dificultam o processo inclusivo do aluno, e com as alterações da LDB
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), por meio da Lei nº
12.796, de 4 de abril de 2013 (BRASIL, 2013), todas as crianças com ou
sem deficiências deveriam estar matriculadas e incluídas no processo de
ensino (ALMEIDA; SANTOS, 2017).
A inclusão escolar é importante para a criança, pois a aceitação do
grupo social em que vive é salutar para seu desenvolvimento sociocultu-
ral. A luta contra a discriminação na escola é recente, somente em 1960,
com a Declaração da UNESCO58 foi que se iniciou essa preocupação
de erradicar a discriminação do ensino: “A discriminação no campo do
ensino constitui violação dos direitos enunciados nesta Declaração”
(BRASIL, 1968, p. 2), para assegurar a todos o respeito universal dos
direitos do homem e oportunidades iguais de educação.
O direito à educação é um direito fundamental, “o direito à in-
clusão [escolar] não pode ser negado a nenhum grupo social nem a
nenhuma faixa etária” (BAPTISTA 1999; BÉNARD DA COSTA, 1999;
CÉSAR, 2003 apud BRANDÃO; FERREIRA, 2013). A inclusão é im-
portante, mas ainda temos muito que conquistar, pois o processo de
inclusão escolar é complexo. Para Cross et al. (2004, p. 488), pode-se
falar em sucesso no processo de inclusão quando:
58. Adotada em 14 de dezembro de 1960 pela Conferência Geral da organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura, entrou em vigor em 22 de maio de 1962, em conformidade com o Art. 14.
A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, em sua
décima primeira reunião, celebrada em Paris, de 14 de novembro a 15 de dezembro de 1960.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 165
Apesar da obrigatoriedade da inclusão de crianças com defi-
ciências em salas regulares, não há uma inclusão efetiva. Alguns
elementos dificultam, como a falta de estrutura física nas escolas e,
também, a falta de professores com formação especializada na Edu-
cação Inclusiva.
166 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Quadro 2 – Publicações sobre pessoa com deficiência e Educação Infantil na Revista de Educação
Especial da UFSM (2000-2020)
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 167
família. Segundo Morejón, Freitas e Munhó (2000), “Estímulos acom-
panhados de amor, afeto, carinho, compreensão e apoio certamente
contribuirão para o desenvolvimento do potencial da criança [...]”.
Em 2002, foram publicados dois artigos tratando desse tema, am-
bos da Universidade Federal de Santa Maria. Um deles foi o artigo in-
titulado “A importância do brincar para a construção do conhecimento
na educação infantil” (ALMEIDA E CASARIN, 2002), e tinha como
objetivo verificar o quão importante é o brincar nessa fase escolar. O
resultado, segundo os autores, foi que as brincadeiras são essenciais para
formação de um adulto crítico e consciente.
O outro artigo publicado no mesmo ano foi de Gil et al. (2002),
“O significado do jogo e do brinquedo no processo inclusivo: conhecen-
do novas metodologias no cotidiano escolar”, tendo por objetivo discu-
tir o significado de jogos e brincadeiras na Educação Infantil e Ensino
Fundamental com crianças com necessidades especiais. Como resul-
tado dessa pesquisa, os autores dizem que os jogos e brincadeiras são
meios de incluir alunos com “necessidades especiais” e que devem ser
usados como recursos pedagógicos nas aulas, e não serem vistos como
um recurso de “final de aula” (GIL et al., 2002).
Entre os anos 2003 a 2010, não houve publicações com as duas
temáticas propostas para o estudo, somente em 2011 com a publicação
do “Reflexões sobre a inclusão escolar de uma criança com diagnósticos
de autismo na Educação Infantil”, de Mattos e Nuremberg (2011). O
foco principal desse estudo foi de auxiliar no desenvolvimento de inte-
ração social de uma criança com o Transtorno Espectro Autismo (TEA),
em uma turma de Educação Infantil. Os principais resultados foram
de aceitação pela turma, flexibilização nas aulas e, de modo geral, a
criança, objeto da pesquisa, mostrou melhora significativa no desenvol-
vimento da linguagem e interações sociais (MATTOS; NUREMBERG,
2011).
No ano 2012, O Centro Universitário UNIVATES publicou um
artigo intitulado “Encaminhamento de crianças com necessidades edu-
cacionais especiais em idade de estimulação precoce a escolas de Edu-
cação Infantil de um município de médio porte do Vale dos Sinos”, de
168 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
Pereira e Grave. O objetivo do estudo foi a verificação de como crianças
com necessidades educacionais especiais (NEE), entre zero e três anos
e onze meses, são estimuladas em escolas de Educação Infantil no mu-
nicípio de Vale dos Sinos, totalizando treze escolas como universo da
pesquisa, porém uma escola de Educação Infantil não participou da
pesquisa, por não ter criança com NEE matriculada. Segundo Pereira e
Grave (2012, p.1):
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 169
especificas de cada aluno, como cartões com imagens, miniaturas, pran-
chas temáticas.
No ano de 2015, Rocha e Garrutti-Lourenço publicaram na Re-
vista Educação Especial da UFSM, o artigo com o título “A criança com
deficiência visual em situação de brincadeiras na educação infantil”.
Essa pesquisa foi um estudo de caso em uma sala de Educação Infantil
no maternal, com um aluno com deficiência visual, em um município
na região metropolitana de São Paulo. O objetivo principal foi obser-
var o contexto da brincadeira do aluno com a deficiência visual. Esse
estudo se realizou em dois momentos, em março e em junho de 2012.
Como resultado da pesquisa, ficou demonstrado que a criança com a
deficiência usa nas brincadeiras seus outros sentidos e, também, utiliza
formas não convencionais com os brinquedos e, ainda, que a professora
necessita mediar as brincadeiras para evitar eventuais atritos com os ou-
tros alunos, auxiliar na integração da criança e desenvolvimento da sua
comunicação. As autoras salientam que:
170 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
me de Down está em processo ininterrupto, dialético e profundo
de aprendizado e desenvolvimento, na medida em que tem se
apropriado das características tipicamente humanas pelo contato
com o outro e com o conhecimento sistematicamente organizado
(DRAGO; DIAS, 2017, p. 522).
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 171
Quadro 3 – Evolução da Educação Infantil na Rede Municipal de Niterói
172 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
traduzido para o verbal, estimulando o desenvolvimento e participação
pessoas com diferentes deficiências, como os deficientes visuais, idosos,
disléxicos e, também, pessoas com deficiência intelectual (MOTTA;
ROMEU FILHO, 2010).
Conclusão
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 173
foram sobre a brincadeira na Educação Infantil, totalizando quatro
artigos publicados: No ano 2000 “O brinquedo na estimulação essen-
cial como suporte para o desenvolvimento da linguagem de crianças
com necessidades especiais”; em 2002 “A importância do brincar para
a construção do conhecimento na educação infantil”; o outro artigo
de 2002 “o significado do jogo e do brinquedo no processo inclusivo:
conhecendo novas metodologias no cotidiano escolar” e, em 2015, o
artigo “A criança com deficiência visual em situação de brincadeiras
na educação infantil”.
Diante do exposto, pode-se observar que, no início dos anos 2000,
o tema principal era brincadeiras e nos anos mais recentes são diversas
as temáticas abordadas nas publicações, sendo a Síndrome de Down a
que mais apareceu nas publicações analisadas, com dois artigos sobre
esse tipo de deficiência.
Conclui-se, dessa forma, que, nos últimos anos, o tema Educação
Infantil e Educação Especial tiveram maior destaque, possivelmente
pelo movimento de inclusão presente nos documentos que normatizam
a educação nacional.
Referências
174 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
BRANDÃO, M. T; FERREIRA, M. Inclusão de Crianças com Necessidades
Educativas Especiais na Educação Infantil. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília,
v. 19, n. 4, p. 487-502, out./dez., 2013. Disponível em: <https://www.scielo.
br/j/rbee/a/RdYKyf485LtXLGjN6n5yKtn/abstract/?lang=pt >. Acesso em: 26
jun. 2021.
BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: plano de ação para
satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Jomtiem: UNESCO, 1990.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 175
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Brasília: Presidente da República, 1996. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em 19 abr.
2023.
176 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
BRASIL. Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007b. Dispõe sobre a imple-
mentação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União
Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados,
e a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de
assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da
qualidade da educação básica. Brasília: Presidente da República, 2007.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 177
BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras provi-
dências. Brasília: Presidente da República, 2013. Disponível em: https://www2.
camara.leg.br/legin/fed/lei/2013/lei-12796-4-abril-2013-775628-publicacaoorigi-
nal-139375-pl.html. Acesso em: 19 abr. 2023.
DRAGO, R.; DIAS, I.R. O bebê com Síndrome de Down na de educação infan-
til: um estudo de caso. Revista Educação Especial, v. 30, n. 58, maio/ago. 2017.
Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/issue/view/1220.
Acesso em 26 jun. 2021.
178 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
MASSARO, M.; DELIBERATO, D. Uso de sistema de comunicação suple-
mentar e alternativa na educação infantil: Percepção do professor. Revista Edu-
cação Especial. v. 26, n. 46, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/
educacaoespecial/article/view/4821. Acesso em: jun./2021.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 179
Capítulo 10
180 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
ças da Educação Infantil, é necessário fortalecer a formação dos pro-
fessores e criar uma rede de apoio entre crianças, docentes, gestores es-
colares, família e profissionais de saúde que atendem as crianças com
necessidades educacionais especiais.
De acordo com Silva, Zalamena e Balk (2019) partimos do pres-
suposto de que a efetividade da inclusão educacional requer contínua
articulação em rede, com destaque para a intersetorialidade entre as po-
líticas sociais de educação, saúde e assistência social, fazendo-se neces-
sário, assim, a articulação com outras instituições, órgãos e associações,
favorecendo o acompanhamento e atendimento integral das crianças.
Assim, as redes de apoio são exemplos de ações articuladas com
profissionais dentro ou fora da escola, num espaço de debate comparti-
lhando ideias, conhecimentos e alternativas construídas no grupo (SIL-
VA; ZALAMENA; BALK, 2019).
Os profissionais da área de saúde que trabalham com a criança,
também compõem a rede. Uma das estratégias utilizadas, quando se
fala em aproximação do serviço de saúde com a escola é o Programa
Saúde na Escola (PSE), que foi instituído em 2007, tornando-se a
escola um lócus para ações de promoção da saúde para crianças e
adolescentes, sendo o principal objetivo do programa em discussão é
contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de ações
de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao enfrenta-
mento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvi-
mento de crianças e jovens da rede pública de ensino (FERREIRA,
et al., 2019).
Esse artigo trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva e ex-
ploratória, alicerçada na revisão narrativa ou crítica da literatura. O uni-
verso explorado consistiu em leis, políticas públicas, obras e publicações
que versavam sobre a educação inclusiva e saúde, com foco no desen-
volvimento integral da criança. As publicações foram selecionadas por
conveniência e as análises empreendidas buscaram compreender o de-
senvolvimento infantil e o impacto no processo de ensinar e de cuidar,
na educação infantil.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 181
A Pediatria e a Educação inclusiva
182 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
tornam peças fundamentais na observação desses parâmetros
Dessa maneira, as características, interesses, habilidades e necessi-
dades de aprendizagem são únicas, portanto, a educação inclusiva deve
ser defendida pela pediatria, pois reconhecer a individualidade em meio
ao coletivo é de suma importância, afinal, todos são diferentes entre si.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 183
A instituição educativa como lócus de cuidado em saúde
184 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
políticas de saúde no âmbito nacional, reconhecendo ser a escola um
espaço de ensino-aprendizagem, convivência e crescimento importante
para a pessoa, no qual se adquirem valores fundamentais para a vida,
dentre estes os vinculados à saúde. A escola é concebida como ambiente
propício para o desenvolvimento de programas da Promoção e Educa-
ção em Saúde, com amplo alcance e repercussão na medida em que
tem a potencialidade de influenciar as pessoas que lá estão com desdo-
bramentos para suas vidas (GONÇALVES, et al., 2008).
Dessa maneira, os docentes devem saber se há utilização de al-
guma medicação por parte da criança, o tempo de duração desse me-
dicamento e os efeitos colaterais, visto que isso pode interferir na par-
ticipação da criança nas atividades escolares. Diagnósticos exatos são
de extrema importância e precisam ser respeitados, ainda mais se estes
orientarem sobre a melhor maneira de atender a criança, pois é funda-
mental conhecer o seu histórico e a sua condição. Deve-se, contudo, se
atentar para não ser confundidos com rótulos reduzindo o educando a
determinada condição.
Considerando o quanto as crianças são suscetíveis a doenças, a
agressões ambientais e psíquicas decorrentes das especificidades orgâ-
nicas e fisiológicas do corpo infantil, um aspecto importante e bastante
considerável, diz respeito ao sistema imunológico das crianças que não
está totalmente desenvolvido, até os cinco anos de idade. Ele se iguala
ao adulto somente aos 12 anos de idade. Dessa forma, a convivência em
espaços coletivos aumenta o risco de transmissão de doenças (YAMA-
MOTO; CAMPOS JÚNIOR, 2011).
Estabelecimentos que dão assistência à criança em idade pré-esco-
lar e escolar são reconhecidos como ambientes com características epi-
demiológicas especiais, por abrigar população com perfil característico
e sob risco específico para a transmissão de doenças infecciosas: crianças
aglomeradas recebendo assistência de forma coletiva. O risco relaciona-
-se a qualquer instituição ou estabelecimento que dê assistência diurna
a crianças em grupo, independentemente de ser chamada de creche
ou escola, ou de ser pública ou privada (NESTI; GOLDBAUM, 2007).
A imaturidade neurológica também merece destaque. As crianças
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 185
possuem maior sensibilidade a eventos estressantes – separações; perdas;
conflitos domésticos e na escola; doenças; mudanças de moradia, de
local e de cidade. Apresentam muitos sintomas físicos e psíquicos – ce-
faleias, taquicardia, insônia, tonturas, irritabilidade, apatia, baixo rendi-
mento escolar, entre outros. Necessitam de relacionamentos protetores
e contínuos, que ofereçam segurança emocional, afeto e atenção para
um desenvolvimento cognitivo e socioafetivo adequado. Vínculos segu-
ros favorecem a formação da autoestima e da visão positiva do mundo
(BRASIL, 2009b).
Em relação ao desenvolvimento neuropsicológico, o fortaleci-
mento da resiliência por meio da escuta ampliada e qualificada; am-
biente acolhedor e permissivo à expressão de sentimento de tristeza,
raiva e medo, assim como apoio a iniciativas de busca de soluções para
os problemas e estabelecimento de vínculos seguros, principalmente,
com a família, impactam no processo de cuidar, de educar e aprender
(BRASIL, 2009b).
Toda a comunidade escolar pode se envolver com planejamento e
organização de formas seguras de exploração do ambiente interno e exter-
no; estimular medidas de prevenção de acidentes, tanto na própria escola,
como também no ambiente familiar e comunitário, e prezar por um espa-
ço com boa iluminação, estruturalmente adequado a crianças pequenas.
A higiene íntima também oportuniza a observação de comporta-
mentos de descaso com a higiene da criança ou de desconhecimento
ou até de dificuldades motoras ou emocionais dos pais em prestar cui-
dados esses cuidados, assim como sinais e sintomas de violência sexual
e a operacionalização de ações de proteção à criança (YAMAMOTO;
CAMPOS JÚNIOR, 2011).
Um dos registros essenciais a serem controlados pela equipe de
saúde é o calendário vacinal, que está contida na Caderneta da Crian-
ça, visto que a vacinação é essencial para a garantia da saúde de todas as
crianças. Essa caderneta deve sempre estar atualizada e ser acompanha-
do pela creche ou escola, pois a identificação de atrasos e aprazamento
das mesmas é uma ação de promoção em saúde indispensável no con-
texto da educação infantil.
186 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
A avaliação do desenvolvimento infantil é outra atribuição doa equi-
pe de saúde que pode e deve ser explorada no ambiente da educação infan-
til. Os marcos do desenvolvimento infantil são referências para avaliação da
aquisição de habilidades da criança e são divididos por idade, sendo impor-
tante para identificar padrões que levem a suspeitas de atrasos no desenvol-
vimento. Porém a observação constante através do cotidiano da educação
infantil permite entender a criança de maneira individual, tendo em vista
que cada criança possui seu próprio tempo para desenvolver-se, podendo
variar de acordo com fatores biológicos, ambientais e sociais.
A parceria entre o setor da Educação e Saúde, pode se ampliar
para envolver outros parceiros na construção de um território mais sau-
dável. Os princípios estabelecidos pela Política Nacional de Atenção Bá-
sica, na qual as equipes de Saúde da Família assumem o protagonismo
e a responsabilidade pela coordenação dos cuidados dos escolares, além
do desafio de um processo de trabalho que considere a integralidade das
ações, o cuidado longitudinal e o acesso dos escolares às ações específi-
cas do Programa Saúde na Escola, considerando suas diretrizes e priori-
dades em cooperação com os profissionais da educação (SILVA, 2018).
Considerações finais
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 187
ticadas, iniciado o tratamento e devolvidas para a escola, sem a elabora-
ção e efetivação de planos conjuntos de atendimento que levem a uma
direção da educação inclusiva, garantindo assim ações intersetoriais.
Buscar por integração entre saúde e educação para promoção de
um sistema educacional efetivamente inclusivo exige uma série de es-
tratégias coordenadas, o qual os sujeitos terão condições de desenvolver
um trabalho coletivo em prol da educação inclusiva.
Entre essas estratégias, certamente estão a necessidade de refor-
mulação da formação de profissionais de saúde, a articulação entre ins-
tituições de ensino superior e redes de serviços para o desenvolvimento
de pesquisas, métodos e formação continuada, além da reestruturação
do funcionamento escolar, a fim de que valorize professores e alunos e
assim ofereça melhores condições de um fazer educativo que promova
o desenvolvimento de todos.
Referências
188 Fernanda M. C. da Rosa, Luciene C. da Silva e Milene B. Silva, Myrna W. B. dos Santos
FERREIRA, Lorena et al. Educação Permanente em Saúde na atenção primá-
ria: uma revisão integrativa da literatura. SAÚDE DEBATE, Rio de Janeiro, v.
43, n. 120, p. 223-239, 2019.
SILVA, Carla Cilene Baptista da; MOLERO, Elaine Soares da Silva; ROMAN,
Marcelo Domingues. A Interface entre Saúde e Educação: percepções de edu-
cadores sobre educação inclusiva. Psicol. Esc. Educ.v. 20, n. 1, 2016.
Serviço de Atendimento Educacional Especializado em Educação Infantil de educandos com deficiência 189
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