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⚡Polarização elétrica
⚡Dipolos induzidos
⚡Equações de Maxwell em meios
dielétricos lineares
⚡Condições de contorno
1
ELETROMAGNETISMO I / IFUSP / AULA 8
Polarização
• Todos os materiais são compostos por átomos e moléculas
que, quando sujeitas a um campo elétrico externo, têm suas
densidades de carga deformadas pela presença do campo.
• Essa deformação tem a forma de dipolos: cargas negativas e
positivas se alinham em sentidos opostos, na direção do
campo externo.
• A polarização de um meio é a medida da densidade de
dipolos elétricos naquele meio:
⃗
P⃗= , onde p ⃗ = q d ⃗ denota um dipolo
d p
dV
microscópico (de um átomo ou molécula individual)
Polarização
• Vamos supor, por simplicidade, que o nosso meio é homogêneo — isto é, todos os
átmos/moléculas são iguais, estão organizados espacialmente do mesmo modo
em todos os lugares, e portanto respondem ao campo externo do mesmo modo.
• Na presença de um campo elétrico externo, um dipolo elétrico pré-existente fica
sujeito a um torque:
τ⃗ = p ⃗ × E ⃗
• A energia de um dipolo na presença de um campo elétrico externo é então dada
por:
átomos e moléculas, determina até que ponto esse alinhamento pode se dar. Essa - +- +- +
é a polarizabilidade do meio. - - - -
Polarização
• Agora vamos calcular como a re-orientação desses dipolos induzidos gera, ela mesma, um novo campo elétrico.
• Primeiro, vamos calcular o potencial numa posição x ⃗ , que é gerado por um dipolo d P (⃗ x ′⃗ ) = P ⃗ dV′ numa
posição x ′⃗ . Esse potencial é dado por:
1 ( x ⃗ − x ′⃗ ) ⋅ d P (⃗ x ′⃗ )
dϕ( x ⃗ ) =
4πϵ0 | x ⃗ − x ′⃗ |3
1 ( x ⃗ − x ′⃗ ) ⋅ P (⃗ x ′⃗ )
ϕ( x ⃗ ) =
4πϵ0 ∫
⇒ d 3 x′
| x ⃗ − x ′⃗ |3
• Vamos re-escrever esse resultado num modo mais esclarecedor. Lembre-se que:
x ⃗ − x ′⃗ x ′⃗ − x ⃗
∇ x⃗ ⃗
1 1
=− ↔ ∇ x′ =−
| x ⃗ − x ′⃗ | | x ⃗ − x ′⃗ |3 | x ⃗ − x ′⃗ | | x ⃗ − x ′⃗ |3
• Isso significa que podemos re-escrever o potencial do dipolo acima como:
( | x ⃗ − x ′⃗ | )
d 3 x′ P (⃗ x ′⃗ ) ⋅ ∇′⃗
1 1
ϕ( x ⃗ ) =
4πϵ0 ∫
• Essa expressão pode então ser integrada por partes, resultando em:
+ + +
1 ⃗ P (⃗ x ′⃗ ) 1 ∇′⃗ ⋅ P (⃗ x ′⃗ ) - +- +- +
ϕ( x ⃗ ) =
4πϵ0 ∮S(V ) | x ⃗ − x ′⃗ | 4πϵ0 ∫V
2 3
d S ′⋅ − d x′
| x ⃗ − x ′⃗ |
,
- +- +- +
- - -
onde V é o volume do dielétrico — que, claro, supomos estar limitado a uma região finita do espaço.
Polarização
• Essa expressão que acabamos de encontrar (e que é completamente geral) está
escrita em termos de uma integral de volume e uma integral de superfície:
⃗ x ′⃗ ) ⃗ ⋅ P (⃗ x ′⃗ )
d S ′⃗ ⋅
1 P ( 1 ∇′
ϕ( x ⃗ ) =
∮ ∫
2 3
− d x′
4πϵ0 S(V ) | x ⃗ − x ′⃗ | 4πϵ0 V | x ⃗ − x ′⃗ |
• Esses dois termos têm significados físicos diferentes, que podemos expressar
em termos de uma densidade volumétrica de polarização, e uma densidade
superficial de polarização:
ρP = − ∇ ⃗ ⋅ P ⃗ , e σP = P ⃗ ⋅ n ̂ ,
1 σP( x ′⃗ ) 1 ρP( x ′⃗ )
ϕ( x ⃗ ) =
4πϵ0 ∮S(V ) | x ⃗ − x ′⃗ | 4πϵ0 ∫V
2 3
d S′ ⋅ + d x′
| x ⃗ − x ′⃗ | + + +
+-
- +- +- +
Polarização
• Note também que, quando a polarização é uniforme, encontramos que o campo elétrico
dos dipolos dentro do material dielétrico é dado por:
( | x ⃗ − x ′⃗ | ) 4πϵ0
d 3 x′ P (⃗ x ′⃗ ) ⋅ ∇′⃗ P ⃗ ⋅ d 3 x′ ∇′⃗
1 1 1 1
ϕ( x ⃗ ) =
4πϵ0 ∫ ∫V
=
| x ⃗ − x ′⃗ |
E p⃗ = − ∇ ⃗ ϕ( x ⃗ ) = − ∇ ⃗ P ⃗ ⋅ d 3 x′ ∇′⃗
4πϵ0 [ | x ⃗ − x ′⃗ | ]
1 1
∫V
⇒
x ⃗ − x ′⃗
P ⃗ ⋅ ∇⃗ = − ( P ⃗ ⋅ ∇ ⃗) ℰ ⃗
[ ∫V | x ⃗ − x ′⃗ | ]
1
=− d 3 x′
4πϵ0 3
onde o campo ℰ ⃗ funciona como se fosse um campo elétrico com uma “carga unitária”
(carga=1).
+ + +
- +- +- +
- +- +- +
- - -
Polarização: um exemplo
• Como exemplo, tome uma esfera com Q cargas positivas e Q cargas +
negativas com distâncias típicas D entre elas. Se todos os dipolos +
- +
⃗ 1
p i⃗ =
3 ⃗
V∑
P = Q D
i
4π R 3
+
seria uma polarização absolutamente descomunal — verifique!
- +
+
• O que ocorre é que esses dipolos não estão todos alinhados! Quando o
-
⃗ , cada um dos dipolos
+
material é exposto a um campo externo E ext
microscópicos se alinha muuuuuito pouquinho na direção do campo.
• O resultado é que o material adquire uma polarização que, no caso da esfera,
pode ser expresso como uma distância média coerente d = α D : -
+
+
+ -
⃗ 1 3 ⃗= α E ⃗
-
p i⃗ =
+
V∑
P = Q d ext
-
i
4π R 3
Polarização: um exemplo
• Vamos agora retornar ao um resultado anterior e aplicar à esfera desse exemplo:
+
x ⃗ − x ′⃗
- +
⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ⋅ ∇ ⃗) ℰ ⃗ ,
[∫ | x ⃗ − x ′⃗ |3 ]
1
⃗
+
3
E p = − ∇ ϕ( x ) = − P⋅∇ d x′ = − ( P -
-
+
4πϵ0 -
Podemos usar a Lei de Gauss para mostrar que o “campo” ℰ é dado por:
x ⃗ − x ′⃗ x⃗
ℰ⃗ =
1
4πϵ0 ∫
3
d x′ = dentro da esfera (r ≤ R), e
| x ⃗ − x ′⃗ |3 3ϵ0
⃗ ⃗
ℰ⃗ =
3
x V x R
= fora da esfera (r ≥ R)
4πϵ0 x 3 3 ϵ0 x 3
• Agora, use o fato de que ∇i xj = δij e que ∇i (xj /x 3) = ∇j (xi /x 3) para mostrar que:
P⃗
⃗ P⃗ Isso é
Ep = − dentro da esfera (r ≤ R), e exatamente tal qual um
3ϵ0
“grande dipolo” no centro
⃗ x̂ − P ⃗ da esfera!
E p⃗ =
V 3( x ̂ ⋅ P )
fora (r ≥ R)
4πϵ0 x3
Cargas de polarização
• A discussão anterior significa que podemos definir cargas de +
polarização: +
- +
-
σP = P ⃗ ⋅ n ̂ ρP = − ∇ ⃗ ⋅ P ⃗
- +
-
e
d 3x ρP = d 3x [− ∇ ⃗ ⋅ P ]⃗ = − d S ⃗ ⋅ P ⃗ = − dS σP
∫ ∫ ∮ ∮
Portanto, num certo sentido a densidade de cargas de
polarização desenvolvem uma discontinuidade justamente
na superfície do dielétrico — onde o próprio meio sofre uma
discontinuidade (ali o material termina, e começa o vácuo!)
ELETROMAGNETISMO I / IFUSP / AULA 8 9
Cargas de polarização
• Vamos associar o campo gerado pelos dipolos de polarização como:
+
⃗ ⃗ ρP - +
∇ ⋅ EP = +
ϵ0 -
-
+
-
Para todas as outras cargas do sistema (chamadas “cargas livres”) são aquelas que dão
origem ao campo externo, na ausência do material — ou seja, no vácuo:
ρf
∇ ⃗ ⋅ E f⃗ =
ϵ0
Note que assumimos que essas “cargas livres” são fixas de antemão, ou seja, elas mesmas
não se reconfiguram como resultado das cargas de polarização do material!
• O campo resultante é, portanto: “Deslocamento” elétrico
ρf + ρP D ⃗ = ϵ0 E ⃗ + P ⃗
∇ ⃗ ⋅ E ⃗ = ∇ ⃗ ⋅ ( E f⃗ + E P⃗ ) =
ϵ0 ∇ ⃗ ⋅ D ⃗ = ρf
• Por outro lado, vimos acima que ρP = − ∇ ⃗ ⋅ P ⃗ , portanto podemos escrever: ( ∇ ⃗ × D ⃗ = ??? . . . )
ρf − ∇ ⃗ ⋅ P ⃗
∇⃗ ⋅ E ⃗ = ⟹ ∇ ⃗ ⋅ (ϵ0 E ⃗ + P )⃗ = ρf ⟹ ∇ ⃗ ⋅ D ⃗ = ρf
ϵ0
Condições de contorno
• Vamos examinar o que ocorre na interface entre um dielétrico e o vácuo, em termos
do “deslocamento elétrico” D ⃗ e do campo elétrico E ⃗ .
n̂
• Aplicando a Lei de Gauss a um volume com espessura muito pequena que inclui uma
A
área A dessa interface nos dá:
d 3x ∇ ⃗ ⋅ D ⃗ = d S ⃗ ⋅ D ⃗ = d 3x ρf
∫V ∮ ∫
⃗
A (n ̂ ⋅ D )
cima
⇒ = A ΔD⊥ = Qf = σf A
baixo
• Por outro lado, as componentes paralelas são contínuas pela condição de que:
Δ E ||⃗ = 0
• Portanto, as condições de contorno são tais que, no caso mais geral:
P ⃗ = χE ϵ0 E ⃗ ,
D ⃗ = ϵ0 E ⃗ + χE ϵ0 E ⃗ = (1 + χE ) ϵ0 E ⃗ = ϵ E ⃗ ,
ΔD⊥ = σf
• Se essa interface ocorre de ser também a superfície de um meio
dielétrico, temos:
ϵ0E⊥(acima) − ϵE⊥(abaixo) = σf
• Note que, mesmo que não tenhamos nenhuma carga livre nessa
interface (σf = 0), mesmo assim teremos uma discontinuidade no
campo elétrico, devido às cargas superficiais de polarização:
0 = ϵ0E⊥(acima) − (1 + χE)ϵ0E⊥(abaixo) = 0
⇒ ϵ0ΔE⊥(acima) = χEϵ0E⊥(abaixo) = P ⃗ ⋅ n ̂ = σP
ELETROMAGNETISMO I / IFUSP / AULA 8 13
∇ ⃗ ⋅ D ⃗ = ϵ1 ∇ ⃗ ⋅ E ⃗ = ρf = q δ( r ⃗ − d z)̂
∇ ⃗ ⋅ D ⃗ = ϵ2 ∇ ⃗ ⋅ E ⃗ = ρf = 0
ΔD⊥ = σf = 0 e Δ E ||⃗ = 0
• Portanto, nós podemos expressar os campos logo acima e logo abaixo da interface como:
• OK, mas e agora, como resolver esse problema? Que técnica vamos usar?
4π ϵ1 ( | x ⃗ − d z ̂ | | x ⃗ + d z ̂| )
1 q qi ϵ1
ϕ> = +
qi ϵ2
1 q′
ϕ< =
4π ϵ2 | x ⃗ − d z ̂ |
ϵ2
z
z
q
ϵ1
ϵ2 > ϵ1 ϵ2 < ϵ1 qi ϵ2
q ϵ0(ϵ2 − ϵ1) 2
Exercício: mostre que as cargas superficiais de polarização são σP = −
2π ϵ1(ϵ2 + ϵ1) (x 2 + y 2 + d 2)3/2
Aℓ r ℓ Pℓ(cos θ)
∑
ϕ< = e
ℓ
Bℓ r −ℓ−1 Pℓ(cos θ)
∑
ϕ> = − E0 r cos θ + ,
ℓ
onde o primeiro termo da solução fora da esfera está destacado para satisfazer explicitamente a condição de
contorno em r → ∞ , que determina que E ⃗ → E ext
⃗ .
∂ϕ< ∂ϕ>
ΔD⊥ = 0 ⇒ −ϵ = − ϵ0 , e
∂r ∂r
r=R r=R
Δ E ||⃗ = 0
∂ϕ< ∂ϕ>
⇒ =
∂θ ∂θ
r=R r=R
ϵ0 ϵ − ϵ0
A1 = − E0 , e B1 = E0 R 3 ϵ
ϵ + 2ϵ0 ϵ + 2ϵ0
• Inserindo esses valores de volta nas expressões para o potencial nos permite calcular o
campo elétrico:
E <⃗ = − ∇ ⃗ ϕ< =
3ϵ0
E0 z ̂ , e
ϵ + 2ϵ0
3
E >⃗ = − ∇ ⃗ ϕ> = E0 z ̂ +
ϵ − ϵ E R
( 2 cos θ r ̂ + sin θ θ)
0 0 ̂
ϵ + 2ϵ0 r 3
+ +
+ +
− −
− −
Observações finais
• Meios dielétricos lineares são muito simples: basta substituir
E ⃗ → D ⃗ = ϵ E ⃗.
• Entretanto, o nosso modelo simplificado de polarizabilidade de meios
dielétricos (que se chama modelo de Lorentz) é… errado! De fato, nós não
podemos simplesmente dizer que a polarização de um material pode ser
expressa pela soma de seus “dipolos microscópicos”, algo como:
⃗ 3 dp
⃗
∫
P = d x
dV
• Na realidade, a polarização elétrica em átomos e moléculas é um fenômeno
bem mais complexo e interessante, que envolve a natureza quântica da
matéria.
• A estrutura detalhada dos materiais estabelece relações muito interessantes
entre as propriedades elétricas e magnéticas dos materiais.
• Para mais detalhes nesse tópico, veja a discussão no livro do Zangwill, Cap.
6.
Próxima aula:
• Meios dilétricos lineares: equações de Maxwell
• Exemplos e exercícios