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MÓDULO 1

TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O SARS-COV-2

CONCEITOS DE VIROLOGIA BÁSICA - MORFOLOGIA E REPLICAÇÃO VIRAL

O SARS-COV-2: CONHEÇA O VÍRUS

PANORAMA HISTÓRICO DA COVID-19


Vamos
relembrar?
O que é um vírus?
O que você sabe sobre virologia?
FUNDAMENTOS DA VIROLOGIA:
O QUE É UM VÍRUS?

Os vírus são estruturas subcelulares, com um ciclo de replicação exclusivamente intracelular, sem nenhum metabolismo ativo fora da

célula hospedeira, e devido a estas características não são considerados seres vivos por alguns autores.

Basicamente, uma partícula viral completa, ou vírion, é composta por uma molécula de ácido nucleico circundado por uma capa de

proteínas, podendo conter lipídios e açúcares.  A função básica do vírion é carrear o genoma viral para dentro da célula, a fim de

ser replicado e amplificado;

Fonte: [SANTOS, N. et. al. 2015]


Figura 1. Tipos de vírus. Fonte: Escola Kids
FUNDAMENTOS DA VIROLOGIA: CAPSÍDEO VIRAL
1. ESTRUTURA VIRAL 2. SIMETRIA DO CAPSÍDEO
VIRAL
São formados por cápsulas proteicas, denominadas capsídeos, que

envolvem o o ácido nucleico, podendo estes ser um RNA ou DNA, com Complexo
excessão dos vírus que possuem os dois. O capsídeo juntamente com
(Cabeça e
o ácido nucleico forma o que é chamado de nucleocapsídeo. Há

drico Cauda)
ainda, vírus que possuem uma proteção lipídica externa, chamada de é
Icos
envelope.

Filamentoso
Figura 3. Tipos de capsídeos. Fonte: Imagem modificada de "Non-enveloped icosahedral
virus," "Non-enveloped helical virus," e "Head-tail phage," by Anderson Brito, CC BY-SA 3,0.

Figura 2. Vírus nu e envelopado.


Fonte: adaptado de Madigan et al. Brock Biology of Microorganisms. 15ª ed. 2019. FONTE: [THEY, N.H. 2020]
NOMECLATURA E DEFINIÇÕES
Unidade proteica: uma cadeia polipeptídica;

Subunidade estrutural ou protômero: uma ou mais unidades proteicas, não idênticas, que se associam para formar estruturas
maiores, denominadas capsômeros;

Unidades morfológicas ou capsômeros: protuberâncias vistas nas superfícies dos vírus não envelopados, por meio da microscopia
eletrônica. Essas unidades morfológicas formam o capsídeo;

Capsídeo: capa de proteína que envolve diretamente o ácido nucleico;

Core ou cerne: é formado pelo ácido nucleico viral mais as proteínas virais envolvidas na replicação e a ele associadas;

Matriz proteica: estrutura de proteínas não glicosadas existentes em alguns vírus, localizada entre o envelope e o capsídeo, que tem
como principais funções sustentar o envelope viral e servir de ancoragem para as proteínas virais de superfície;

Envelope: camada bilipídica proveniente da célula hospedeira, que envolve certas partículas virais em que se encontram inseridas as
glicoproteína;

Vírion: entidade viral completa e infecciosa.

FONTE: [SANTOS, N. ET. AL. 2015]


BLOCO DE
PERGUNTAS
REPLICAÇÃO VIRAL

1. Adsorção: ocorre a ligação específica de uma ou mais proteínas

virais com proteínas na superfície de uma célula. A existência de

receptores na superfície celular, que são reconhecidos pelas proteínas

virais, torna essa célula suscetível à infecção.

2. Penetração: também chamada de internalização, é um evento que

depende de energia e envolve a etapa de entrada do vírus para dentro

da célula. Figura 4. Esquema de replicação do coronavírus. FONTE:SANTOS, N. et .al.


Virologia Humana. 3ª edição. Editora Guanabara Koogan LTDA, 2015.

3. Desnudamento: neste processo, o capsídeo é removido pela ação

de enzimas celulares existente nos lisossomos, expondo o genoma viral.

Além disso, se observa a fase de eclipse, onde não há o aumento do

número de partículas infecciosas na célula hospedeira.

FONTE: [TEVA, A. ET. AL. 2009]


REPLICAÇÃO VIRAL
4. Síntese Viral: compreende a formação das proteínas estruturais e não estruturais a partir dos processos de transcrição e

tradução. Os vírus foram agrupados em sete classes propostas por Baltimore em 1971, de acordo com as características do ácido

nucleico e sua forma de replicação (TEVA, A. et. al. 2009).

- Classe I: vírus de DNA de fita dupla (DNAfd);

- Classe II: vírus de DNA de fita simples (DNAfs);

- Classe III: vírus de RNA de fita dupla (RNAfd);

- Classe IV: vírus de RNA fita simples de polaridade positiva (RNAfs+); 

- Classe V: vírus de RNA de fita simples com polaridade negativa (RNAfs-); 

- Classe VI: retrovírus. Estes vírus contém um genoma diplóide e, durante o ciclo de replicação, sintetizam um DNA intermediário

(transcrição reversa);

- Classe VII: vírus com genoma de DNAfd, com o envolvimento de um intermediário RNA no ciclo replicativo. Esses vírus apresentam

também uma transcriptase reversa codificada em seu genoma, mas a sua produção de RNAm é bastante similar à dos vírus DNAfd

da Classe I (SANTOS, N. et. al. 2015).


REPLICAÇÃO VIRAL
5. Montagem e Maturação: nesta fase, as proteínas vão se agregando ao genoma, formando o

nucleocapsídeo. A maturação consiste na formação de partículas virais completas, ou vírions, que, em alguns

casos, requerem a obtenção do envoltório lipídico ou envelope. Este processo, dependente de enzimas tanto

do vírus quanto da célula hospedeira, pode ocorrer no citoplasma ou no núcleo da célula. De uma forma

geral, os vírus que possuem genoma constituído de DNA condensam as suas partes no núcleo, enquanto os

de RNA, no citoplasma.

6. Liberação: consiste na saída do vírus da célula por lise celular ou brotamento. Na lise celular (ciclo lítico),
a quantidade de vírus produzida no interior da célula é tão grande que a mesma se rompe, liberando novas

partículas virais que vão entrar em outras células. Já no brotamento, os nucleocapsídeos migram para a face

interna da membrana celular e saem levando parte da membrana.

FONTE: [TEVA, A. ET. AL. 2009]


Figura 5. Replicação viral. Fonte: Adaptado de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Virus
BLOCO DE
PERGUNTAS
O SARS-COV-2: CONHEÇA O VÍRUS
CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

Os coronavírus são classificados na ordem Nidovirales, cujos membros incluem 4 famílias: Coronaviridae, Arteriviridae

Mesoniviridae e Roniviridae. A família Coronaviridae é dividida em 2 subfamílias: Coronavirinae e Torovirinae. A

subfamília Coronavirinae apresenta 4 gêneros: Alphacoronavirus, Betacoronavirus, Deltacoronavirus e

Gammacoronavirus. Nestes 2 últimos ainda não foram descritas espécies causando infecção em seres humanos. A

subfamília Torovirinae é subdividida nos gêneros Torovirus e Bafinivirus. No gênero Torovirus há 1 espécie que causa

infecção em seres humanos (torovírus humano).

Transmitido pelos gatos aos


Figura 6. Classificação dos coronavírus que infectam humanos. Fonte: SANTOS,
N. et .al. Virologia Humana. 3ª edição. Editora Guanabara Koogan LTDA, 2015. humanos  na China em 2002;

Transmitido pelo camelo

dromedário aos humanos na

Arábia Saudita em  2012;

FONTE: [SANTOS, N. ET. AL. 2015]


O SARS-COV-2: CONHEÇA O VÍRUS
CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O SARS-CoV-2 é um vírus de RNA fita simples envelopado com proteínas estruturais típicas → proteínas do envelope (proteína

E), membrana (proteína M), nucleocapsídeo (proteína N) e espícula (do inglês Spike, ou proteína S), responsáveis pela

infectividade viral e proteínas não estruturais.

O core dos vírus é envolvido por um envelope glicolipoproteico que é formado durante o brotamento a partir das membranas

celulares (BRANDÃO, S.C.S. et. al. 2020).

Esquema da partícula dos coranavírus. O vírion consiste Você


sabia?
em um nucleocapsídeo helicoidal formado pela

fosfoproteína N complexada com o RNA genômico,

formando a ribunocleoproteína (RNP). A glicoproteína S

forma a espícula longa, presente em todos os

coronavírus. A proteína transmembrana M é altamente O nome CORONAVÍRUS é dado pois

as proteínas S presentes em seu


hidrofóbica e atravessa o envelope viral 3 vezes. A
envelope possuem formato de bastão,
proteína transmembrana E é um componente minoritário
dando ao vírus um formato de coroa.
do envelope. Alguns coronavírus apresentam outra

glicoproteína, hemaglutinino-esterase (HE), que forma a

espícula mais curta do envelope viral (SANTOS, N. et. al.

Figura 7. Esquema da partícula do coronavírus. Fonte: SANTOS, N. et .al. 2015).


Virologia Humana. 3ª edição. Editora Guanabara Koogan LTDA, 2015.
O SARS-COV-2: CONHEÇA O VÍRUS
ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS

As proteínas S na superfície do SARS-CoV-2 se ligam aos seus receptores humanos ECA2 (enzima conversora de angiotensina 2), com

auxílio de uma proteína transmembrana  → transferência do material genético para dentro da célula  para iniciar o processo de replicação.

A ECA2 é uma carboxipeptidase capaz de hidrolisar a angiotensina II em angiotensinas 1-7. Essa enzima é homóloga à enzima conversora de

angiotensina 1 (ECA1), mas desempenha um papel de contrapeso no sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA).

Quando o vírus se liga ao receptor ECA2, reduz a produção de angiotensina 1-7, desencadeando uma série de complicações

cardiovasculares e pró-inflamatórias pela falta desse neurormônio

- Pacientes com doenças cardiovasculares e metabólicas → defeitos no SRAA → aumento do estado inflamatório prévio = O grupo de maior

mortalidade pela COVID-19.

Figura 8. Estrutura viral do coronavírus. Fonte: Li G et al. Coronavírus


infections and immune respobses. J Med Virol. 2020, 92(4):424-432 FONTE: [BRANDÃO, S.C.S. ET. AL. 2020]
O SARS-COV-2: CONHEÇA O VÍRUS
ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS Você
Sabia?
Com base em uma análise de conjuntos de dados de sequenciamento

do RNA de células únicas derivados dos principais sistemas fisiológicos

humanos, os órgãos considerados mais vulneráveis à infecção por

SARS-CoV-2 devido aos seus níveis de expressão de ACE2 incluem os


Sabe-se que a ECA e a ECA2 são quinases, ou seja, são enzimas
pulmões, o coração, o esôfago, os rins, a bexiga e o íleo. Isso pode que realizam a degradação das quininas, susbstâncias essas

envolvidas no processo inflamatório, e que os anti-inflamatórios


explicar as manifestações extrapulmonares associadas à infecção. Uma
não hormonais, conhecidos como AINH ou AINES, controlam a
menor expressão de ECA2 no epitélio nasal de crianças com idade <10
inflamação, reduzem a dor e combatem a febre. Logo, tanto os
anos, em comparação com adultos, pode explicar por que a COVID-19 AINHS quando a ECA2 agem na mesma via de inflamação.

Devido a isto, percebeu-se que o uso do iboprufeno, por


é menos prevalente nas crianças; no entanto, pesquisas adicionais
exemplo, está relacionado com o aumento da expressão de
sobre isso são necessárias.
ECA2 na células, o que, supostamente, pode estar relacionado

com o maior risco de infecção pelo SARS-COV-2.

Contudo, a OMS não é contra o uso do ibuprofeno,

diferentemente do Ministério da Saúde brasileiro, que

desaconselha o uso dessa substância e de outros ANIES, e ainda,

recomenda o uso de dipirona ou paracetamol em pacientes com

sintomas relacionados à infecção do coronavírus.

1.

Figura 9. Covid-19 é a doença respiratória causada pelo


novo coronavírus. Fonte: Istock Getty Images
PANORAMA HISTÓRICO DA COVID-19
O coronavírus é uma família de vírus RNAfs+ que causa desde o resfriado comum até doenças mais graves, como a

Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS);

Estimula-se que 70-80% das doenças infecciosas emergentes e reemergentes tem origem zoonótica*, ou seja,

podem ser transmitidos entre animais e humanos (*Jones et al (2008)Nature). Entretanto, vários coronavírus

conhecidos circulam em animais e que ainda não infectaram humanos. Um evento de transpasso entre espécies 

“spillover” ocorre quando se descobre que um  vírus que normalmente circula nas espécies  animais foi transmitido

aos humanos;

O aumento da população, a mudança do clima, a  urbanização aumentada e as viagens internacionais, assim

como a imigração aumentam o risco do surgimento, como também influenciam na disseminação de patógenos;

Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de

pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Tratava-se de uma nova

cepa (tipo) de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos;

Uma semana depois, em 7 de janeiro de 2020, as autoridades chinesas confirmaram que haviam identificado um

novo tipo de coronavírus.

FONTE: [OPAS/OMS BRASIL, 2020]


Linha do Tempo: Você
sabia
Covid-19 no Brasil ?
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Repatriação de brasileiros 29 de fevereiro 13 de março 20 de março


Ministério da Saúde declara
que viviam em Wuhan Brasil confirma segundo caso Ministério da Saúde regulamentou
reconhecimento de transmissão
importado de coronavírus critérios de isolamento e quarentena
comunitária do novo coronavírus

26 de fevereiro* 11 de março 17 de março 20 de junho


Primeira morte por
Confirmado o primeiro caso de Organização Mundial de Saúde Secretarias de Saúde registram mais de
coronavírus no Brasil
coronavírus no Brasil declarou pandemia de 50 mil mortes por Covid-19. Número de
coronavírus infectados chega a 1.070.039

Atualmente...
Casos confirmados:
Óbitos:
BLOCO DE
PERGUNTAS
BRANDÃO, S.C.S.; SILVA, E.T.A.G.B.B.; RAMOS, J.O.X.; MELO, L.M.M.P.; SARINHO,

E.S.C. Covid-19, imunidade, endotélio e coagulação: compreenda a interação.

REFERÊNCIAS Recife, 2020.

BIBLIOGRÁFICAS THEY, N.H. VOCÊ SABE O QUE É UM VÍRUS? Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, 2020.

SANTOS, N. et. al. Virologia Humana. 3 ª edição. Editora Guanabara Koogan LTDA,

2015.;

TEVA, A. et. al. Conceitos e Métodos para Formação de Profissionais em

Laboratórios de Saúde. Volume 4. Rio de Janeiro: EPSJV; IOC, 2009;

OPAS/OMS Brasil – Folha informativa COVID-19. Disponível em:

https://www.paho.org/bra/index.phpoption=com_content&view=article&id=6101:co

vid19&Itemid=875. Acesso em: 18 de junho de 2020.

Sociedade Brasileira de Diabetes - Qual a relação entre o ibuprofeno, iECA, BRA e

o novo coronavírus (SARS-Cov2/ Covid-19)? Disponível em:

https://www.diabetes.org.br/covid-19/qual-a-relacao-entre-o-ibuprofeno-ieca-

bra-e-o-novo-coronavirus-sars-cov2-covid-19/. Acesso em 08 de julho de 2020.

Linha do Tempo do Coronavírus no Brasil. Disponível:

https://www.sanarmed.com/linha-do-tempo-do-coronavirus-no-brasil. Acesso em:

21 de junho de 2020.

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