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APRESENTAÇÃO
EQUIPE DA EDIÇÃO
MONTAÇÃO
07 DESCONSTRUÇÃO PERMANENTE
Seres e corpos dissidentes sob um novo olhar
MANIFESTO
10 MANIFESTO THEMONIACO
Manifesto de Themonização da Arte e Cultura Paraense
THE M O N I A
APRESENTAÇÃO
É com uma imensa alegria que começou a ocorrer em Belém do nós se conscientizar de que temos
essa revista se torna real. A Pará, mas que hoje extrapola essa os mesmos genes dessas pessoas,
responsabilidade é enorme, mas a cidade e até mesmo o estado. que somos filhos e netos de povos
necessidade dela existir já estava Esse processo é contínuo em cada originários de histórias fantásticas, de
além de qualquer decisão. THEMONIA corpo e em cada arte de todos os rituais e colheitas em agradecimento à
é uma revista necessária em envolvidos, por isso essa revista Natureza, de um cruzamento de culturas
nosso tempo. Acredito que um dos não pretende ser um começo e tão distantes banhadas em rios de
principais pilares do artista é refletir muito menos um fim. Mas sim água doce com fúria de mar. E cada um
seu tempo e suas transformações, um através. Um atravessamento que desperta em si essa consciência,
não só conceitualmente, mas documental e visual do pouco é ele próprio sua cultura, sua história,
agindo decisivamente sobre ele. É que é germinado em nosso seus antepassados vivos, presentes.
fundamental que cada artista discuta tempo, em nosso quintal-floresta. Ser THEMONIA é carregar consigo
e dialogue sua arte com outras Somos donos de saberes ancestrais, toda essa bagagem agregando seus
artes, políticas e culturas e como de povos muito antigos que se conhecimentos empíricos, técnicos
dizia Ariano Suasuna “o artista que comunicavam entre si através da e artísticos vivenciando sua época. E
mergulha profundamente em sua floresta, que entendiam o canto o agora é o único tempo que temos e
própria história e cultura, é universal.” dos pássaros e o som do vento. nele vivemos, dialogamos, crescemos
O conglomerado de corpos que Muito de toda essa cultura está e criamos pensando em um futuro
aparecerá nessa revista é resultado perdida e não está em nossas mãos mais próspero, de mais entendimento,
de um processo da última década que recuperá-la. Mas cabe a cada um de conversas e respeito ao diferente.
WAN ALEIXO
IDEALIZADOR E EDITOR DA REVISTA
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EQUIPE
É performer, atriz, apresentadora, Professor Substituto na Ilustradir de seus sonhos, Mestrando em Artes,
ilustradora, produtora audivisual, ETDUFPa. Mestre em Artes pela performe em descontração. formado em comunicação
diretora de arte e fotografia, UFPa e aluno do Curso Técnico Professir por profissão, social - jornalismo, performer,
produtora cultura, social media, em Figurino Cênico da ETDUFPa. formadir em Artes Visuais. Drag
Especialista em Gestão Cultural fotógrafo e criador audiovisual.
youtuber e transativista. Nascida Themônia Bacuríndia Rabazônia
- Cultura, Desenvolvimento e Desenvolve experimentações
em Belém, criada no município e uma criatura encantad da
Mercado pelo SENAC, graduado
de Barcarena, iniciou no teatro vida. O corpo é visível em seu em vídeo e investiga a arte drag
em Comunicação Social hab.
aos 9 anos e aos 17 ingressou no trabalho, como forma de estudo, belenense
Relações Públicas pelo IESAM,
curso de Licenciatura em Teatro técnico em Cenografia pela reflexão e experimentação. Não
na UFPA. Atuou por 5 anos no ETDUFPa. Experiência em tem muitas definições, até
grupo "Os Varisteiros", em 2013 Eventos voltados para o público porque nem eli sabe o que é
começou a experimentar a arte LGBT, sendo Organizador, exatamente.
da montação drag. Abandonou Produtor e DJ da Produtora
o teatro para mergulhar nas Bafônica (2012-2015). Como
questões de gênero e em sua Drag Themônia tem a identidade
transição. Flores dedica-se a de “Luna Skyyssime” desde
2016.
investigação do movimento
artístico das themonias, a luta
pela visibilidade T e estudos
acerca da travestilidade.
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S1mone
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DESCONSTRUÇÃO
PERMANENTE
Movimento que combina a experiência sensível das artes,
ao fortalecimento de comportamentos sociais autênticos,
não sistematizado para a descolonização dos corpos.
Texto: Sarita Revisão: Taymã Carneiro
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Corpos que podendo ser as reações diversas em contato significados antes exaltados,
descartados pelo sistema por não com as pessoas que interagem sendo descartados, deixando
representar ou contribuir com a com o nosso corpo montado. de ter a mesma importância,
manutenção do comportamento e tornando a desqualificação um
pensamento hegemônico, sendo A montação virou MEGAZORD e as hábito, um comportamento que
colocados em uma condição de themonias vem em POROROCA. educa ao desprezo, achando
lixo, o lixo humano que a sociedade Vivendo a montação como que os problemas se resolvem
invisibiliza, negligência e tenta determinante na descoisificação quando jogamos fora, na
exterminar, pessoas precárias, dos corpos, e com isso o corpo verdade o problema está apenas
periféricas, afroamerindios e como lugar de visibilidade invisibilizado. Mas ele ainda existe,
sexodissidentes. de outros símbolos, temas e ser inferiorizada não nos impede de
empoderamentos, a montação existir. Nós, sexodissidentes, somos
Se o nosso corpo é um território Themomia nos liberta a custo de jogadas para a margem, para o
em disputa, que seja ocupado muito desconforto, nos exigindo esquecimento, como fazem através
por todas, que o corpo seja o diferentes movimentos e posturas, dos mecanismos de controle social
lugar de outros corpos e com isso colocando o nosso corpo em função como o machismo, homofobia
de outras opiniões, misturando do montação, dando suporte e e racismo, que associando a cor
símbolos e significados, evidência, provocando outra relação preta à sujeira, nos assassina na
principalmente os descartados das pessoas com a nossa arte, periferia, garantindo a “limpeza
pelo heterociscapitalismo e com o corpo e consequentemente social” ou a longo prazo, como parte
cultura ocidental, vivendo assim ressignifica a relação dos corpos do processo de coisificação dos
experiências performativas, montados com o lugar e as pessoas, corpos, a invisibilização é mais um
gerando linhas de intensidade que potencializando assim um espaço dos mecanismos de controle social,
apontam para todas as direções em favorável a comportamentos não por isso também as Themonias
atravessamento individual, coletivo domesticados. somos extravagantes e absurdas,
e diversificado do acontecimento, mais do que viver, sobrevivemos e
tudo acontece no corpo, na Sendo a inferiorização uma prática reexistimos, revelamos o invisível,
tentativa de reproduzir não um relativa para cada grupo, o que não pedimos pra nascer, é aturar ou
comportamento sistematizado, serve para alguns, pode não servir surtar!
mas a repetição da diferença com para outros, nossos símbolos e
Se o nosso corpo é um
território em disputa,
que seja ocupado por
todas, que o corpo
seja o lugar de outros
corpos e com isso
de outras opiniões,
misturando símbolos
e significados” Perséfone
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A cada encontro, o que era esporádico se organizou em movimento e vem ganhando um corpo maior e mais
autônomo de pessoas, nos fazendo entender enquanto grupo cultural, com diversos outros corpos que se
montam, descobrimos, no procedimento simples de fixar objetos no corpo, a desconstrução de nossas imagens
e sentidos humanos, nos percebendo também enquanto Monxtras, termo usado por artistas drags da Bahia.
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O MANIFESTO
Manifesto de Themonização da Arte e Cultura Paraense
Concepção e organização: Sarita & Flores Astrais Revisão: Taymã Carneiro
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1º EIXO – ARTÍSTICO
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Tristan Soledad
Houve a necessidade do sistema, pra controlar, construir essa ideia do que é o demônio em relação a
um oposto a esse deus. Esse personagem vem pra culpabilizar alguém ou alguma coisa por algo que é
responsabilidade nossa. Então, o demônio surge pra ser culpado por tudo aquilo que o sistema não quer se
responsabilizar.
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Shayra Brotero
É necessário ações mais efetivas Corpos brancos sempre escutam Esses corpos periféricos, pretos,
pra esses corpos e querer mudar debates de pessoas negras não precisam invadir o local, eles
essa realidade, pois não adianta falando sobre a negritude e não têm que ter acesso. É direito,
só não ser racista, mas fazer veem a vivência, o que as pessoas não é invasão. Você não tem que
nada e não pensar em de que brancas vão fazer pra contribuir chegar lá e retomar o espaço, você
maneira tu pode tá contribuindo com a luta contra o racismo? Tem tem que entrar de cabeça erguida
pra que isso diminua, pra que que passar assumir isso. “Eu sou porque você tem direito a aquele
essas pessoas tenham algum branco”, mas e aí, todo branco é local também. Não é porque você
amparo. De levar pra essas racista, só que tem como querer é periférico, tem a pele retina, a
pessoas que tão dentro da perifa melhorar, pra estar perto de pele escura ou a pele mais clara.
que não tem muita noção da sua pessoas negras pra estar lá com Você tem acesso porque você é
negritude e do poder que essa elas. É muito fácil chegar na roda, um ser humano, você tem direitos
negritude tem de empoderar, de escutar tudo, mas e aí o quê que e deveres como qualquer um
dizer que ela é capaz, de mudar corpos brancos vão fazer pra outro, independentemente da cor
esse rolê a nosso redor. mudar isso? da tua pele.
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Boa parte da galera periférica não que começar a revolucionar, a Reconhecimento de ancestralidade
tem esse acesso, a educação, a fazer um rebuliço nessa cidade afro amazônica. Está tudo
cultura, a saúde, a segurança e pra começar a colocar em jogo muito intrínseco em relação à
a saneamento básico que é uma essa questão que a gente não ancestralidade. O que te remete
coisa que todo ser humano tem vive de resto, a gente não vive ao ancestral? Teus pais? Teus
direito. Então eles acham que de migalha, ao contrário, a gente avós? Bisavós? Ou seja, família.
isso é algo utópico. E não, todos vive de fartura que quanto mais Ter referências familiares é o que
têm que ter o seu direito, o seu excessos melhor, quanto mais acaba refletindo na nossa relação,
acesso livre. Sem restrições, gritos melhor, quanto mais ecoar principalmente aqui em drag
porquês, porém, sem mais, livres. a voz melhor. amazônica. Sobre esse afeto, esse
acolhimento, essa necessidade
Atuar nesses espaços de Ressignificação de novas de acolher, de ajudar, de ter como
infiltração, sobre os lugares que abordagens de pessoas, de família que vem dar origem às haus
a gente tem alcançado enquanto novas abordagens de relação, é às mães drags, às filhas, às netas,
corpo periférico que tá ocupando ter justamente essa questão da bisnetas, sobrinhas e essa família,
o centro, que tá ressignificando empatia. Não adianta você tá lá, que é na religião de matriz africana,
o centro e pensar de maneira assistindo debates, assistindo no caso a umbanda, se fala muito
eficaz mesmo esse nosso palestras, vendo filmes, que família é quem te resgata do
fortalecimento. Infiltração, voltar documentários, no protesto outro lado e nem sempre tem o teu
ao tema da manipulação da levantando a mão se quando sangue.
nossa imagem, da manipulação chega no teu bairro, na tua
da nossa cultura, porque a quebrada, tu não consegues falar Themonização do afeto. O afeto é
periferia é educada a ser burra, pra aquela senhora que cresceu tu te deixar afetar, o afeto é tu afetar
é educada a ser alienada e não sendo neta, bisneta de escravos alguém, o afeto é tu te permitir ter
perceber a potência que tem o com essa conscientização. um tipo de conexão com alguma
tecnobrega, a potência que tem coisa, pessoa, um movimento e
de maneira mais contemporânea A periferia enquanto lugar de etc. Isso é afetar ou se deixar afetar.
os seus experimentos, criações fortalecimento dos nossos Quando a gente fala disso, a gente tá
artísticas, importância de corpos e a ancestralidade falando especificamente de afetos
reconhecer os mestres de cultura enquanto lugar de fundamento pré-moldados, a gente vive uma
popular da nossa cidade. daquilo que nos protege, daquilo sociedade de afetos pré-moldados.
que nos fortalece enquanto Temos que enxergar o afeto como
Arte não é só ir pra uma exposição, sobrenatural, daquilo que nos construção social, assim como a
uma galeria, que é muito distante atravessa e que nos ergue gente aprendeu a ver o gênero como
que não dá pra gente, sendo que também porque a gente vai sair construção social, a sexualidade
pode acontecer na periferia e dessa matéria física que é o muitas vezes como construção
pode acontecer de uma forma corpo. social, a gente aprendeu a enxergar
mais intensa e articulada com isso na gente. Porque que a gente
todes. O sistema não apoia isso, O que a gente faz diz respeito à não consegue compreender o afeto
porque a arte te dá vez, dá voz, construção de novas formas, de também como construção social?
autonomia e autoridade e pra um novas vivências, dos nossos corpos Aí começamos a analisar esse
periférico isso não pode existir. descolonizados, descentralizados. afeto a partir de vários ângulos; qual
Decolonial de não colonizade, a o primeiro afeto que a gente precisa
O sistema acha que o periférico tem gente está descolonizando o nosso ter que a gente merece ter na vida?
que ser leigo, tem que ser invisível entendimento. Despertar pra uma O afeto familiar e aí entramos num
e tem que ser submisso. Que você coisa que não está distante de ponto delicado, porque a grande
dá migalhas e ele aceita, de todo nós, que aconteceu lá atrás e ainda maioria de Themônias pertence
bom grado, porque é só aquilo que acontece e que gente ainda carrega ao espectro LGBT e esse é sim o
ele tem direito, e não é isso que por sermos agentes atuais da primeiro afeto que é negado em
tem que acontecer. A gente tem ancestralidade que a gente vive. plenitude na nossa vida.
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2º EIXO – POLÍTICO-ECONÔMICO
Sugerimos que se coloque em Adequação dos locais que não Quanto mais confuso pra gente,
contrato cláusulas que garantam têm acesso pra cadeirantes, melhor pra eles, né. Porque eles
o aparo e ressarcimento caso dificilmente a gente tá em lugares abrem uma cortina de fumaça
haja alguma questão de racismo, que têm acesso pra cadeirantes, sobre gênero, sexualidade, mas na
de transforbia, de LGBTQIfobia, dificilmente a gente tá num local verdade é aposentadoria, mas na
as produtoras precisam planejar- que têm acesso pra uma pessoa verdade é direitos trabalhistas, na
se anteriormente com seus surda, pra uma pessoa cega. De verdade são direitos sociais que
terceirizados, se adequando ao quais formas a gente pode pensar estão sendo retirados e se usa de
público que recebem, colocam em esse rolê pra ser acessível de um discurso de desvio uma cortina
contrato de forma burocrática para verdade, sensibilidade de olhar pras de fumaça pra gente dá foco pra
termos medidas mais eficazes mães e pras mães solo, as pães, as uma outra coisa que nem é tão
contra as questões já citadas. themonias que se montam e fazem importante.
atividades em eventos a gente
Inclusão de pessoas com começar a estabelecer um piso Reinventando essa forma de auto
necessidades especiais, pessoas salarial pra gente, né? Começar a gestão, a partir dessa relação dos
surdas, pessoas cegas, cadeirantes. entender quanto a gente cobra pra afetos pra uma outra significação
fazer um evento, quanto a gente que é a organização coletiva, das
Formação e estudos em libras cobra pra tocar, quanto a gente toca experiências políticas que a gente
e inclusão de pessoas que são por hora por evento, quanto é que já teve com outras organizações
themonizados, eles são tão a gente cobra pra fazer um baby partidárias, religiosas e
themonizados quanto a gente. chá, quanto é que a gente cobra institucionais pro que a gente tá
Quando é que a gente vai permitir pra fazer isso. A gente anexar nisso vivendo aqui hoje e como a gente
que eles alcancem o que a gente tá uma planilha de preço dos nossos avança.
debatendo aqui? serviços.
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3º EIXO – CULTURAL
Grupos culturais que coligamos
Convocatória às demais produções culturais independentes e periféricas
Dar conta do processo cultural artístico na cidade por estarmos em todo Reação aos dados de inserção
o lugar porque a gente precisa e a cidade precisa da gente. Não é porque muito grande das igrejas dentro
tá na moda. É porque o que a gente tá fazendo tá chamando atenção e das periferias. Sobretudo as
reinventando um monte de coisa artística e culturalmente na cidade, em igrejas evangélicas pentecostais
disputa de narrativas e do imaginário, como a defesa e valorização das que doutrinam esses corpos
diversas expressões e produções artísticas culturais. periféricos.
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REVISTA
THEMONIA
SET 2020 | Nº 01
Design Gráfico e
Diagramação
Wan Aleixo
Textos
Sarita
Flores Astrais
Revisão de Textos
Taymã Carneiro
Ilustrações
Perséfone
Fotos
Wan Aleixo
PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE