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Fisiologia do Exercício 23/05/2023

EXERCÍCIO E AMBIENTES
EXTREMOS – STRESS TÉRMICO,
ALTITUDE, MERGULHO,
MICROGRAVIDADE E POLUIÇÃO
Ano letivo 2022/23

Ricardo Rebelo-Gonçalves Fisiologia do


ricardo.r.goncalves@ipleiria.pt Exercício

Pretende-se que no final da aula, cada aluno


esteja apto a:
• Descrever as mudanças na pressão atmosférica, temperatura do ar
e densidade do ar com o aumento da altitude;
• Descrever e interpretar como o desempenho aeróbio e anaeróbio é
afetado pela altitude;
• Descrever o processo de adaptação à altitude e o grau em que essa
adaptação pode ser concluída;

OBJETIVOS ▼ • Explicar porque existe uma variabilidade entre os atletas na


diminuição do VO2 máx após a exposição à altitude, o grau de
melhoria do VO2 máx na altitude e os ganhos obtidos no retorno ao
nível do mar;
• Listar e descrever os fatores que influenciam o risco de lesão por
calor;
• Enunciar um conjunto de recomendações para climatização ao
stress térmico;
• Listar as etapas a seguir para lidar com a hipotermia;
• Explicar como o monóxido de carbono pode influenciar o
desempenho e liste as etapas que devem ser tomadas para reduzir
o impacto da poluição no desempenho.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Prova de 5000m masculinos (Braima Suncar Dabo)


Maratona Feminina Mundial Doha, 2019:
 Início da prova: 23:59 | Final da prova: 02:31 (1ª lugar - Ruth Chepn’getich)
 Temperatura: >30º C | Humidade: >70%
 Das 68 atletas que partiram 28 desistiram!

EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

FIGURA 25.1 Fatores que contribuem


para o ganho e a perda de calor com a
finalidade de regular a temperatura
central em cerca de 37ºC (98.6ºF),
sendo mais facilmente toleradas
temperaturas mais baixas [10ºC (18ºF)]
do que elevadas [5ºC (9ºF)].

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

https://www.youtube.com/watch?v=tBCtVoHTMzU
https://www.youtube.com/watch?v=924HEMqUkqo
https://www.youtube.com/watch?v=rNd1JeiNPKY

EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

A regulação Hipotalâmica da temperatura


 O centro regulador hipotalâmico superior é crucial na manutenção do equilíbrio térmico. As células na porção
anterior do hipotálamo identificam leves mudanças na temperatura do sangue, além de receberem o influxo
periférico. A atividade exacerbada dessas células estimula o hipotálamo posterior a desencadear respostas
coordenadas para a conservação do calor ou o hipotálamo anterior a facilitar a perda de calor. Ao contrário da
importância dos receptores periféricos na identificação do frio, a temperatura do sangue que perfunde o
hipotálamo proporciona o sistema primário de monitorização destinado a avaliar o calor corporal, ao contrário dos
receptores periféricos que detectam o frio.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

A regulação Hipotalâmica da temperatura


O hipotálamo contém o centro coordenador para a regulação da temperatura, funcionando como um termostato.

De forma a dar respostas


destinadas a proteger o corpo do
acúmulo ou perda de calor ativa
dois processos:
1. Os recetores térmicos na
pele proporcionam
influxo para a área de
controle central
2. As modificações na
temperatura do sangue
que perfundem o
hipotálamo estimulam
diretamente essa área.

EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Termorregulação no stress induzido pelo frio | conservação e produção de calor


Os indivíduos exibem muito menos adaptações fisiológicas ao stress crónico induzido pelo frio do
que à exposição prolongada ao calor.
 Ajustes vasculares (vasoconstrição, o que reduz o fluxo de sangue quente para a superfície corporal mais fria)
 Atividade muscular (calafrios e atividade física)
 Produção hormonal (duas hormonas “calorigénicas” da medula suprarrenal – epinefrina e norepinefrina)

 Os fatores de predisposição para o


enregelamento incluem ingestão de
álcool, baixo nível de aptidão, fadiga,
desidratação e circulação periférica
precária.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Termorregulação no stress induzido pelo frio | conservação e produção de calor

 Os primeiros sinais de alerta para a lesão


induzida pelo frio incluem formigueiro e
dormência nos dedos das mãos e dos pés ou
sensação de queimadura no nariz e nas orelhas.
 A superexposição que ocorre quando não se
presta a devida atenção aos sinais de alerta
resulta em enregelamento; nos casos extremos,
ocorre dano irreversível que torna necessária a
remoção cirúrgica do tecido lesionado.

João Garcia foi o décimo de 19 alpinistas


mundiais que escalaram as 14 montanhas
com mais de 8000 metros de altitude

EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

FIGURA 25.10 O índice de queda da temperatura induzida pelo vento. A maneira apropriada de avaliar a “frialdade” de um ambiente. A figura mostra as temperaturas de
resfriamento induzido pelo vento para o risco relativo de queimadura pelo frio (frostbite) e os tempos previstos até o congelamento da pele facial exposta. A pele húmida exposta ao
vento sofrerá resfriamento ainda mais rápido e, se a pele estiver húmida e for exposta ao vento, a temperatura ambiente usada para o quadro do resfriamento induzido pelo vento
deve ser 10°C (50°F) mais baixa que a temperatura ambiente real. (Reproduzida, com autorização, de American College of Sports Medicine Position Stand. Prevention of cold
injuries during exercise. Med Sci Sports Exerc 2006;38:2012.)

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Termorregulação no stress induzido pelo calor | perda de calor


 Radiação (O corpo absorve energia térmica radiante a partir das adjacências quando a
temperatura de um objeto ultrapassa a temperatura da pele)
 Condução (depende de dois fatores: (1) Gradiente de temperatura entre a pele e as
superfícies circundantes; (2) Qualidades térmicas das superfícies)

 Convecção (movimento do ar)


 Evaporação (Gradiente de temperatura entre a pele e as superfícies circundantes –
principal defesa contra o sobreaquecimento)

 em temperaturas ambiente elevadas (aumento da evaporação do


suor a partir da pele e do sistema respiratório)

 com humidade elevada (1. superfície exposta ao meio ambiente; 2.


temperatura e humidade relativa do ar ambiente; 3. correntes aéreas de convecção ao
redor do corpo)

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

FIGURA 25.3 Produção de calor no


músculo ativo e a sua transferência
das regiões centrais para a pele. Em
condições ambientais apropriadas, o
excesso de calor corporal dissipa-se
para o meio ambiente a fim de
regular a temperatura central numa
pequena variação. (Adaptada, com
autorização, de Katch VL, McArdle
WD, Katch FI. Essentials of Exercise
Physiology. 4th Ed. Philadelphia:
Wolters Kluwer Health, 2011,
segundo adaptação, com
autorização, a partir de Gisolfi CV,
Wenger CB. Temperature regulation
during exercise: old concepts, new
ideas. Exerc Sport Sci Rev
1984;12:339.)

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

A humidade reduz a perda de calor por


evaporação, i.e., diminui a capacidade de
perda de calor e aumenta a temperatura central
à medida que o ar se torna mais saturado.
WBGT = 0.1Tdb + 0.07Twb + 0.2Tb

Índices térmicos
 Wet bulb globe temperature (WBGT)
 Predicted Heat Strain (PHS)
 Universal Thermal Climate Index (UTCI)
 …

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Calor


O mecanismo de refrigeração do arrefecimento evaporativo dissipa calor metabólico durante a atividade física,
particularmente num clima quente. Isso impõe uma exigência às reservas líquidas do corpo e, com frequência, produz
hipoidratação relativa. A transpiração excessiva resulta num aumento da perda de líquidos, assim como numa
redução do volume plasmático. Isso causa insuficiência circulatória nos casos extremos, e a temperatura central
sobe até níveis letais.

Ajustes Circulatórios
1. Os músculos utilizados precisam de fornecimento de sangue arterial (O2) para suportar o metabolismo
energético.
2. O sangue arterial necessário é conduzido para a periferia a fim de transportar calor metabólico para que ocorra
arrefecimento na superfície da pele; esse sangue não consegue fornecer o seu O2 aos músculos-esqueléticos
ativos.

O esforço submáximo produz débitos cardíacos semelhantes em ambientes quentes e frios. O volume de ejeção do coração
costuma ser mais baixo no calor, em proporção ao déficit de líquido e ao volume sanguíneo reduzido observados durante a
atividade física. Isso equivale a frequências cardíacas mais altas para todos os níveis submáximos de atividade física no calor. Em
contrapartida, o aumento compensatório reflexo na frequência cardíaca durante o esforço máximo não consegue contrabalançar a
redução do VS, portanto, o DC máximo diminui.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Calor

Constrição e dilatação vasculares


 A manutenção de um fluxo sanguíneo cutâneo e muscular estriado esquelético adequado durante a AF na
vigência de um stress induzido pelo calor torna necessário que outros tecidos venham a comprometer
temporariamente o suprimento sanguíneo.

Manutenção da pressão arterial


 A vasoconstrição nas vísceras eleva a resistência vascular total. O equilíbrio entre a dilatação e a constrição
mantém a pressão arterial durante o exercício no calor. Com um esforço intenso e desidratação concomitante,
uma quantidade relativamente menor de sangue é desviada para as áreas periféricas para que haja dissipação do
calor. O fluxo sanguíneo periférico reduzido reflete a tentativa do corpo de manter o DC na vigência de
diminuição no volume plasmático causada pela transpiração.
 A regulação circulatória e o fluxo sanguíneo muscular estriado esquelético adquirem precedência em relação à
regulação da temperatura durante a atividade física no calor.

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https://www.facebook.com/FedPortCiclismo/videos/910131479542474

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Calor

Temperatura central durante a AF


 O calor gerado pelos músculos ativos pode elevar a temperatura central até níveis febris que incapacitariam uma
pessoa se isso fosse causado apenas por stress externo induzido pelo calor.

 Os indivíduos com melhor aptidão aeróbia


(temperaturas retais até 41ºC) trabalham por
períodos mais longos em ambientes
extremamente quentes, nos quais os
mecanismos termorreguladores são
inadequados, e toleram níveis mais altos de
hipertermia que os indivíduos menos aptos.
 Uma temperatura central anormalmente alta
em indivíduos treinados e destreinados
prejudica o desempenho nos exercícios.
 A fadiga geral coincide com temperaturas
centrais entre 38 e 40ºC.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Perda de água no calor | desidratação


 Desidratação refere-se à perda de água corporal de um estado hiperidratado para a euidratação, ou da
euidratação para a hipoidratação.
 Uma sessão moderada de exercício durante 1h em geral provoca perda de suor de 0,5 a 1,0 ℓ.
 Maior perda hídrica ocorre com várias horas de atividade física intensa num ambiente quente.
 A sudorese também ocorre em ambientes térmicos menos desafiadores, como esqui crosscountry ou natação.
 O risco de doença induzida pelo calor aumenta bastante quando uma pessoa começa uma AF num estado
desidratado.
 Os déficits hídricos nos compartimentos intra e extracelulares (hipovolemia) observados com a hipoidratação
podem alcançar rapidamente níveis que reduzem a capacidade de dissipar o calor e fazem aumentar a taxa de
armazenamento de calor e a sobrecarga cardiovascular em virtude de reduções na taxa de transpiração e no
fluxo sanguíneo cutâneo para uma determinada temperatura central.
 A tolerância reduzida ao calor compromete profundamente a função cardiovascular e a capacidade
física com esforço intenso em ambientes quentes.
 A hipohidratação moderada equivale a uma perda de 1.5% do peso corporal e pode ir até 3.0%.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Os maratonistas de elite
com frequência sofrem
perdas de líquidos
superior a 5 ℓ durante a
competição, o que
equivale a 6 a 10% do
peso corporal.

Os seres humanos aclimatados só conseguem sustentar o seu


excepcional potencial de arrefecimento evaporativo com
reposição adequada de líquidos.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

A perda de líquidos coincide com 5 fatores:


1. Volume plasmático reduzido.
2. Fluxo sanguíneo cutâneo reduzido para uma determinada temperatura central.
3. Volume sistólico reduzido.
4. Frequência cardíaca quase compensatória aumentada.
5. Deterioração geral da eficiência circulatória e termorreguladora durante o exercício.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Boa Aclimatação
Principais Conclusões
 Redução da temperatura corporal (central e periférica)
 Menor produção de ácido láctico
 Menor dispêndio metabólico
 Menor perda de volume plasmático
 Menor pressão arterial
 Maior estabilidade cardíaca
 Mais glicogénio poupado
 Maior eficiência energética
 Maior capacidade para gerar trabalho

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Frio


 A maioria dos ajustes ao frio são comportamentais, e não tanto fisiológicos,
como acontece no calor.
 Para evitar a perda excessiva de calor:
 Vasoconstrição periférica
 Termogénese sem tremores (estimulação do metabolismo pelo SN
Simpático)
 Tremores

 Como esses mecanismos ou efetores de produção e conservação de calor são muitas vezes
inadequados, também devemos confiar em respostas comportamentais, como comportamento de
aglomeração (diminuindo a área de superfície corporal exposta), vestir mais roupas para ajudar a isolar
os tecidos profundos do corpo do ambiente, ou a procurar ambientes mais favoráveis.
 A exposição humana ao frio extremo impõe desafios fisiológicos e psicológicos significativos.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Figure 12.13 Thermoregulatory mechanisms by


which humans strive to maintain a relatively
constant body core temperature. In the
thermoneutral zone, minor adjustments to skin
blood flow minimize heat loss or gain. When
maximal vasoconstriction is not sufficient to
maintain core temperature, metabolic
regulation, first in the form of nonshivering
thermogenesis and then through shivering,
serves to increase metabolic heat production.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Frio


 A água é um excelente meio para estudar o ajuste fisiológico ao frio, pois conduz o calor cerca de 25
vezes mais rapidamente que o ar na mesma temperatura.
 A atividade leve e moderada na água fria produz consumos mais altos de oxigénio e temperaturas
corporais mais baixas que uma atividade idêntica em água mais quente.
 A produção de calor pelos calafrios e pela atividade física contrabalança o fluxo de calor para um meio
ambiente frio. Os calafrios elevam a taxa metabólica em 3 a 6 MET.
 A gordura subcutânea proporciona excelente isolamento contra o stresse induzido pelo frio. Aumenta
muito a efetividade dos ajustes vasomotores, de forma que os indivíduos com gordura corporal
excessiva conservam grande percentagem de calor metabólico.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Frio

https://www.acsm.org/blog-detail/acsm-certified-
blog/2022/01/11/exercising-in-the-cold-chilled-not-shaking

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Figure 1. Wind Chill Temperature Index in ° F and ° C. Time is risk of cheek frostbite in the most susceptible 5 % of the population.

Frostbite consiste na vasoconstrição


excessiva → falta de O2 e nutrientes →
morte tecidular → gangrena, perda tecidular

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

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• A exposição ao ar frio e à água pode


potencialmente ter efeitos prejudiciais no
desempenho aeróbio e de força.
• Temperaturas musculares diminuídas
diminuem o V̇O2max, o tempo de exercício e a
capacidade de potência/sprint.
• Para cada queda de 1º C na temperatura
muscular, há um declínio de 4% a 6% nesses
marcadores de desempenho. Por exemplo,
uma diminuição de 8°C no músculo diminui
a produção de energia em 31% e a contração
voluntária máxima em 19%.
• Baixa temperatura do músculo (28°C a
29°C) também causa níveis mais altos de
lactato muscular em fibras musculares tipo 1
e tipo 2 e, em geral, os níveis de lactato
sanguíneo aumentam durante o exercício em
maior extensão no frio em comparação com
ambientes temperados, sugerindo uma maior
dependência do metabolismo anaeróbio.
• A frequência cardíaca máxima é menor em 10
a 30 bpm quando a temperatura profunda é
reduzida em 0,5°C a 2,0°C, e a água fria
diminui o fluxo sanguíneo muscular da perna
durante o exercício.
• No ar frio, onde há pouca mudança na
temperatura profunda ou temperatura
muscular, há uma falta de consenso sobre se
o desempenho aeróbico diminui: estudos
demonstraram prejuízo, melhoria, ou
nenhuma mudança.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Frio


 O uso de roupa apropriada permite aos seres humanos tolerar alguns dos climas mais frios da terra.
 A temperatura ambiente e o vento influenciam a frialdade do meio ambiente. O índice de
resfriamento pelo vento determina o efeito de resfriamento do vento sobre o tecido exposto.
 Vasoconstrição periférica pronunciada durante a exposição ao frio intenso provoca temperaturas
perigosamente baixas na pele e nas extremidades quando acompanhada de aumentos marcantes das
perdas de calor por condução e convecção.
 Ocorre uma perda considerável de água pelas vias respiratórias durante atividade física realizada num
dia frio, porém a temperatura do ar inspirado em geral não representa um perigo para os tecidos do
sistema respiratório.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Atividade Física no Frio


 As diferenças no conteúdo de gordura corporal entre os indivíduos influenciam a função fisiológica no
frio durante o repouso e a atividade física.
 A gordura adicional faz aumentar o isolamento efetivo na água fria quando o sangue periférico é
desviado da superfície para o core.
 O stresse devido ao “frio” é altamente relativo. A sobrecarga fisiológica imposta pelos ambientes de
água fria e de terra fria depende do nível de metabolismo do indivíduo e da resistência da gordura
corporal ao fluxo de calor.
 A água fria proporciona um ambiente termorregulador excecionalmente stressante para as crianças.
 Durante a atividade física no ambiente de ar frio menos stressante, as crianças dependem de dois
mecanismos para compensar sua área superficial corporal relativamente grande:
1. Metabolismo energético aumentado.
2. Vasoconstrição periférica mais efetiva nos membros.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Aclimatação ao Frio
 Os seres humanos têm uma capacidade muito menor de
adaptação à exposição prolongada ao frio que para a
exposição prolongada ao calor.
 A resposta básica de esquimós e lapões consiste em evitar o frio ou
em minimizar seus efeitos. A sua roupa proporciona um microclima
quase tropical; tipicamente, a temperatura dentro de um iglu é, em
média, de 15.6 ºC (60 ºF), não obstante as temperaturas externas
congelantes com fortes ventanias ou chuva congelante.
 As seguintes respostas indicam uma leve aclimatação à exposição
crónica ao frio:
1. Os calafrios ocorrem com temperatura corporal mais baixa, pois
é gerado mais calor sem calafrios;
2. Maior capacidade de dormir ao frio;
3. A alteração na distribuição do fluxo sanguíneo periférico
conserva o calor na área central ou aquece as extremidades a
fim de prevenir lesão induzida pelo frio.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Resumo
 A vasoconstrição periférica diminui a transferência de calor da pele para o ar, diminuindo assim a perda de calor para o
ambiente. Esta é a primeira linha de defesa do corpo no frio.
 A camada isolante do corpo consiste em duas regiões: a pele superficial e a gordura subcutânea e o músculo subjacente.
O aumento da vasoconstrição da pele, o aumento da espessura da gordura subcutânea e o aumento da massa muscular
inativa, especialmente nos membros, podem aumentar o isolamento total do corpo.
 A termogénese sem tremores aumenta a produção metabólica de calor por meio da ativação do SNS e pela ação
hormonal. A termogénese trémula aumenta ainda mais a produção metabólica de calor para ajudar a manter ou
aumentar a temperatura corporal.
 Existem três padrões distintos de adaptação à exposição repetida ao frio: habituação ao frio, aclimatação metabólica e
aclimatação isolante.
 O tamanho do corpo é uma consideração importante para a perda de calor. Tanto uma maior relação área de superfície-
massa e uma menor massa muscular periférica ou gordura subcutânea aumentam a perda de calor corporal para o
ambiente.
 Por terem mais gordura subcutânea isolante, as mulheres têm uma pequena vantagem sobre os homens durante a
exposição ao frio, mas a sua menor massa muscular limita a sua capacidade de gerar calor corporal.
 O vento aumenta a perda de calor por convecção. O poder de resfriamento do ambiente, conhecido como windchill, é
normalmente expresso em temperaturas equivalentes.

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EXERCÍCIO E STRESS TÉRMICO

Resumo
 A imersão em água fria aumenta tremendamente a perda de calor por convecção. Em alguns casos, o exercício pode gerar calor
metabólico suficiente para compensar parte dessa perda.
 Quando o músculo é resfriado, é menos capaz de produzir força e a fadiga pode ocorrer mais rapidamente.
 Durante o exercício prolongado no frio, como a fadiga diminui a intensidade do exercício, a produção metabólica de calor
diminui e os praticantes podem-se tornar suscetíveis à hipotermia.
 O exercício desencadeia a libertação de catecolaminas, que aumentam a mobilização e o uso de AGL como combustível. Mas no
frio, a vasoconstrição prejudica a circulação para os depósitos periféricos de gordura, de modo que esse processo é atenuado.
 O hipotálamo começa a perder a sua capacidade de regular a temperatura corporal quando a temperatura central cai abaixo de
cerca de 34.5º C (94.1º F).
 A hipotermia afeta criticamente o nó sinoatrial do coração, diminuindo a FC, o que, por sua vez, reduz o DC.
 Respirar ar frio não congela as vias respiratórias ou os pulmões porque o ar inspirado é progressivamente aquecido à medida
que se move pelo trato respiratório.
 A exposição ao frio extremo diminui a frequência e o volume respiratório.
 O congelamento ocorre como consequência da tentativa do corpo de evitar a perda de calor pela vasoconstrição da pele. Se a
vasoconstrição for prolongada, a pele esfria rapidamente e o fluxo sanguíneo reduzido, combinado com a falta de O2 e de
nutrientes, pode levar à morte do tecido cutâneo.
 Como o ar frio é inerentemente seco, muitos atletas experimentam os sintomas da asma induzida pelo exercício durante
exercícios de alta intensidade em ambientes frios – tratamento com β-agonistas, e inaladores esteróides.

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 O DESAFIO FISIOLÓGICO DA ALTITUDE


PROVÉM DIRETAMENTE DA MENOR PO2
O EXERCÍCIO AMBIENTE, E NÃO DA PRESSÃO
BAROMÉTRICA TOTAL REDUZIDA EM SI
EA NEM DE QUALQUER MUDANÇA NAS
ALTITUDE CONCENTRAÇÕES RELATIVAS
(PERCENTUAIS) DOS GASES NO AR
INSPIRADO (AMBIENTE).

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

A pressão atmosférica em qualquer local da


Terra é uma medida do peso de uma coluna de
ar diretamente sobre aquele local. Ao nível do
mar, o peso (e a altura) dessa coluna de ar são
maiores. À medida que alguém sobe para
altitudes cada vez maiores, a altura e, claro, o
peso da coluna são reduzidos.
Consequentemente, a pressão atmosférica
diminui com o aumento da altitude, o ar fica
menos denso e cada litro de ar contém menos
moléculas de gás. Como a %O2, CO2 e N2 são
iguais na altitude e no nível do mar, qualquer
mudança na pressão parcial de cada gás é
devida exclusivamente à mudança na pressão
atmosférica ou barométrica.

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

FIGURA 24.1 Modificações nas variáveis


ambientais e fisiológicas com elevações
progressivas na altitude. (PaO2, pressão
parcial do oxigénio arterial; PaCO2,
pressão parcial do dióxido de carbono
arterial; PiO2, pressão parcial do oxigénio
no ar inspirado; SaO2 saturação com
oxigénio da hemoglobina.)

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

 A diminuição da pressão parcial de O2 (PO2)


com o aumento da altitude tem efeito um
direto na saturação da hemoglobina com
oxigénio (HbO2) e, consequentemente, no
transporte de O2. Por exemplo, a 2.000 m de
altitude, a HbO2 é 93%, a 3.000 m é 86% e a
4.000 m é 73%.
 Este PO2 inferior é chamado de hipóxia, com
normóxia sendo o termo para descrever o PO2
em condições ao nível do mar.
 O termo hiperóxia descreve uma condição na
qual a PO2 inspirada é maior do que ao nível
do mar.
 Além da condição de hipóxia em altitude, a
temperatura e a humidade do ar são mais
baixas, adicionando potenciais problemas de FIGURA 24.2 Cascata do transporte de O2 do nível mar
regulação da temperatura ao stresse hipóxico para 4.300 m (14.108 pés).
da altitude.

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O EXERCÍCIO E A ALTITUDE

FIGURA 13.4 A. Curva de dissociação da oxihemoglobina.


As linhas indicam a saturação percentual da hemoglobina
(linha contínua amarela) e da mioglobina (linha
interrompida amarela) em relação à pressão do O2. A
coordenada da direita mostra o volume de O2 transportado
em cada decilitro de sangue em condições normais. As
curvas dos anexos dentro da figura ilustram os efeitos da
temperatura e da velocidade no sentido de alterar a
afinidade da hemoglobina pelo O2 (efeito Bohr). O quadro
anexo apresenta a saturação da oxihemoglobina e a
capacidade de transportar O2 do sangue arterial para
diferentes valores da PO2 com uma concentração da
hemoglobina de 14 g/dℓ de sangue para um pH de 7.40. A
linha horizontal branca na parte superior do gráfico indica
a saturação percentual de hemoglobina para a PO2 alveolar
média ao nível do mar de 100 mmHg.

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

 Os desempenhos mais precários de homens e mulheres na natação e corridas de média e longa distâncias
durante as Olimpíadas de 1968 na Cidade do México (altitude de 2.300 m) resultaram da pequena redução no
transporte de O2 a essa altitude.
 Não foram estabelecidos novos recordes mundiais nas provas com duração superior a 2.5 min.
 Uma exposição à altitude não afeta negativamente os desempenhos de alta velocidade e de potência de curta
duração (anaeróbios), que dependem quase inteiramente da energia proveniente dos fosfatos intramusculares
de alta energia e das reações glicolíticas.
 A altitude não prejudica o sistema de energia anaeróbica a curto prazo numa elevação moderada
(armazenamento de glicogénio, vias de glicólise e atividade correspondente das enzimas fosforilase e
fosfofrutoquinase) nem o sucesso nas atividades de velocidade/potência, como sprint nas corridas,
patinagem de velocidade, ciclismo de pista, saltos e lançamentos.
 O desempenho em sessões únicas dessas atividades costuma melhorar, porque a densidade do ar mais baixa
reduz a resistência do ar ou a força dinâmica mais na altitude que ao nível do mar.
 A resistência do ar mais baixa, em virtude da redução de 24% na densidade do ar aos 2.300 m (7.546 pés),
aprimoraria também o desempenho no lançamento do peso, no lançamento do martelo e do dardo.
 Um desempenho deteriorado foi relatado para os intervalos repetidos de produção de potência a curto prazo
(intervalos de treino de 15 s) em atletas de elite.

51

O EXERCÍCIO E A ALTITUDE

A PO2 reduzida e a consequente hipoxia na altitude estimulam respostas fisiológicas e ajustes que
aprimoram a tolerância à altitude durante o repouso e o exercício. A hiperventilação e o maior débito
cardíaco submáximo em virtude de frequência cardíaca elevada proporcionam as respostas imediatas
primárias. Simultaneamente, outros ajustes de ação mais lenta ocorrem durante uma permanência
prolongada na altitude. Três importantes ajustes a longo prazo melhoram a tolerância à hipoxia relativa
das médias e grandes altitudes:

1. Regulação do equilíbrio ácido-básico dos líquidos corporais alterado pela hiperventilação.


2. Síntese de hemoglobina e de hemácias (glóbulos vermelhos ou eritrócitos), e alterações
concomitantes na circulação local e na função celular aeróbia.
3. Atividade neurohumoral simpática elevada refletida por uma maior concentração de
norepinefrina, que se alcança no máximo em 1 semana.

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Fisiologia do Exercício 23/05/2023

O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

FIGURA 24.3 Comparação do custo de oxigénio e da dificuldade FIGURA 24.4 Resposta generalizada a curta permanência em grande altitude
relativa do exercício submáximo ao nível do mar e a uma grande (4.300 m; 14.108 pés) sobre a norepinefrina e a epinefrina urinárias em 8
altitude. homens residentes ao nível do mar. (Adaptada, com autorização, de Surks
MJ et al. Changes in plasma thyroxine concentration and metabolism,
catecholamine excretion and basal oxygen uptake during acute exposure to
high altitude [14,100 ft.] J Clin Invest 1966;45:1442.)

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

FIGURA 24.6 Dessaturação arterial em função do aumento da altitude e da correspondente deterioração (↓) de diversas
funções sensoriais e mentais. (Adaptada, com autorização, de Fulco CS, Cymerman A. Human performance and acute hypoxia.
In: Pandolf KB et al., eds. Human performance physiology and environmental medicine at terrestrial extremes. Carmel, IN:
Cooper Publishing Group, 1988.)

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

Adaptações imediatas e a longo prazo à hipoxia da altitude:


Sistema Imediatas A longo prazo
Ácido-básico pulmonar Hiperventilação Hiperventilação
Os líquidos orgânicos ficam mais alcalinos por Excreção de bases (HCO3-) pelos rins e redução concomitante
causa da redução do dióxido de carbono (H2CO3) da reserva alcalina
com a hiperventilação
Cardiovascular Aumento da FC submáxima A FC submáxima mantém-se elevada
Aumento do débito cardíaco submáximo O débito cardíaco cai para valores observados ao nível do mar
ou abaixo deles
O volume sistólico continua o mesmo ou sofre O volume sistólico diminui
uma ligeira redução
O débito cardíaco máximo continua o mesmo ou O débito cardíaco máximo diminui
sofre uma ligeira redução
Hematológico Redução do volume plasmático
Aumento do hematócrito
Maior concentração de hemoglobina
Aumento da contagem total de hemácias (eritrócitos),
decorrentes da síntese e libertação de EPO
Local ou Outras Aumento da TMB, com aumento da secreção de Possível aumento na capilarização do músculo esquelético
tiroxina e catecolaminas, e o necessário aumento Aumento do 2, 3-DPG hemático
do consumo energético. Aumento na densidade das mitocôndrias
> U lização de glicose (↑ácido lá co) do que de Aumento nas enzimas aeróbias do músculo
gordura. Perda de peso corporal e de massa magra

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

O termo ACLIMATAÇÃO à altitude descreve amplamente a tolerância à hipoxia da


altitude. Cada ajuste a maior elevação processa-se progressivamente, e a aclimatação
plena requer um período de tempo apropriado. O ajuste bem sucedido a uma altitude
média representa um ajuste apenas parcial para uma elevação mais alta.

! O tempo necessário para aclimatar-se à altitude depende da elevação terrestre. A


aclimatação a determinada altitude garante um ajuste apenas parcial a uma maior
elevação. Como orientação geral, são necessárias 2 semanas para se adaptar a uma
altitude de até 2.300 m (7.545 pés). Daí em diante, cada aumento de 610 m (2.000
pés) na altitude torna necessária 1 semana adicional para conseguir-se a aclimatação
plena até 4.600 m (15.091 pés). Os atletas que desejam competir na altitude devem
iniciar um treino intenso imediatamente durante a aclimatação. O início rápido do
treino minimiza os efeitos do destreino induzido pela tendência normal de reduzir a
atividade física nos primeiros dias na altitude. As adaptações produzidas pela
aclimatação dissipam-se em 2 ou 3 semanas após o retorno ao nível do mar.

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

Aclimatação:
 As estratégias que combinam a aclimatação à altitude e a manutenção da intensidade do treino ao nível do
mar proporcionam benefícios sinérgicos para o desempenho de endurance ao nível do mar. A exposição ao treino
regular num meio ambiente próximo do nível do mar previne a deterioração na função sistólica (i. e., volume de
ejeção máximo e débito cardíaco reduzidos) observada tipicamente durante o treino em altitude. As capacidades
muscular e sistémica de manutenção dos equilíbrios de pH e K+ durante o esforço intenso permaneceram sem
modificações após uma exposição de 4 semanas a tal protocolo de treino.
 Esse tipo de abordagem ao treino melhora também a economia da corrida e o impulso ventilatório hipóxico dos
corredores de longa distância de elite, juntamente com os benefícios dos aumentos induzidos pela hipoxia na
eritropoetina sérica (EPO – hormona que controla a produção de células vermelhas) e da eritropoese acelerada.
Para eliminar a inconveniência e o custo da estratégia de viver no alto – treinar no baixo, uma modificação fornece
oxigénio suplementar durante o treino na altitude.

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

Aclimatação:
 Em comparação com ensaios controles, o oxigénio suplementar eleva o seguinte:
 A saturação arterial da oxihemoglobina.
 O consumo de oxigénio durante o exercício.
 A produção média de potência durante as sessões de trabalho de alta intensidade em uma altitude moderada.
Essa forma de treino permite aos atletas viverem na altitude, porém “treinando em baixo” efetivamente com
despesas e inconvenientes mínimos das viagens, e sem induzir o stresse oxidativo adicional por parte dos
radicais livres.
 Para os atletas de endurance nativos de uma altitude moderada, a hemoglobina total e o volume sanguíneo aumentam
sinergicamente graças ao treino e à exposição à altitude em comparação com os atletas de endurance que treinam ao nível do
mar. Essa resposta adaptativa, ímpar para os atletas que nascem e vivem em grande altitude (p. ex., os corredores quenianos,
os ciclistas colombianos, os pedestres mexicanos), pode contribuir para o seu extraordinário desempenho de endurance. Os
ciclistas aclimatados à altitude por um período mais longo também mostram uma melhoria na capacidade aeróbia e na
produção máxima de potência durante as simulações com exercícios realizados ao nível do mar.

 Nem todos os indivíduos são beneficiados no mesmo grau pela estratégia de viver no alto e treinar no baixo.

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

 Para usufruir os benefícios da combinação de


viver a uma grande altitude e treinar numa
altitude menor são necessários três requisitos:
 A elevação tem de ser suficientemente
alta para elevar as concentrações de
EPO de forma a aumentar o volume total
de hemácias e o O2máx.
 O atleta precisa responder positivamente
com maior produção de EPO.
 O treino tem de ser realizado numa
elevação suficientemente baixa para
poder manter a sua intensidade, assim
como o consumo de oxigénio, em valores
próximos daqueles do nível do mar.

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

Aclimatação:
 Uma outra abordagem (mais cautelosa quando comparada com a dopagem sanguínea) segue a observação de que os
efeitos benéficos da altitude sobre a eritropoese e a capacidade aeróbia podem tornar necessária uma exposição
relativamente curta à hipoxia.
 Por exemplo, as exposições diárias intermitentes de 3 a 5 h durante 9 dias a altitudes simuladas de 4.000 a 5.500 m (13.123
a 18.044 pés) numa câmara hipobárica conduzem a melhorias no desempenho, na contagem de hemácias e na concentração
de hemoglobina em alpinistas de elite.
 Essa abordagem reduz também a velocidade de aparecimento do lactato durante o esforço intenso.
 Esses efeitos podem depender do tempo e do protocolo, pois um esquema de 4 semanas de hipoxia normobárica
intermitente em repouso (uma razão de 5:5 min de hipoxia para normoxia durante 70 min, 5 dias por semana) não melhorou a
endurance nem aumentou os marcadores eritropoéticos em corredores treinados.

 O treino hipóxico intermitente em condições normobáricas proporciona uma bonificação adicional com implicações clínicas e
cardioprotetoras – isso aumenta o efeito do treino sobre fatores de risco metabólicos e cardiovasculares selecionados.
 Para tal tem-se recorrido a: (1) câmara hipobárica, (2) simular a altitude ao nível do mar aumentando o percentual de
nitrogénio do ar em recinto fechado, e (3) tenda de hipóxia.
 Os resultados não são ainda consistentes, e as implicações pulmonares e hematológicas não reproduzem o treino em
altitude.

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O E X E R C Í C I O E A A LT I T U D E

Levine BD, Stray-Gundersen J. "Living high-training low": effect of moderate-altitude acclimatization with low-altitude
training on performance. J Appl Physiol (1985). 1997 Jul;83(1):102-12. doi: 10.1152/jappl.1997.83.1.102. PMID: 9216951.

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MERGULHO
A água é essencialmente
incompressível em virtude da sua
alta densidade relativa ao ar.
Consequentemente, a sua pressão
contra o corpo de um mergulhador
aumenta diretamente com a
profundidade do mergulho. Duas
forças produzem o aumento da
pressão externa (hiperbaria) no
mergulho:
1. O peso da coluna de água
imediatamente acima do
mergulhador, pressão
hidrostática.
2. O peso da atmosfera (ata ou
bar) na superfície da água.

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MERGULHO

A lei de Boyle estabelece que, a uma temperatura constante, o volume de determinada massa de gás varia
inversamente com sua pressão.

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Fisiologia do Exercício 23/05/2023

MERGULHO

FIGURA 26.1 O volume de um gás varia


inversamente com a pressão que atua
sobre o mesmo. Um volume de 6 ℓ,
seja em uma campânula aberta ou na
cavidade torácica flexível, é
comprimido para 3 ℓ aos 33 pés (10 m)
de profundidade na água do mar (fsw),
por causa da duplicação da pressão
externa da água. Aos 99 fsw, ou 4 ata,
o gás é reduzido para 25% do volume
original, ou 1,5 ℓ. O detalhe da figura
ilustra graficamente a relação
curvilínea entre o volume pulmonar na
superfície e nas profundidades da água
do mar. A modificação volémica por
unidade de mudança na profundidade
é maior mais próximo da superfície da
água. Os dois mergulhadores
autónomos mantêm-se próximos ao
mergulhador livre para proporcionar-
lhe segurança e apoio.

65

MERGULHO

Snorkel
 O seu comprimento e volume são limitados por: 1) Maior pressão hidrostática sobre
a cavidade torácica ao descer sob a água; e 2) Maior espaço morto pulmonar ao
aumentar o volume do snorkel.

Capacidade inspiratória e profundidade do mergulho


Quando se respira por um tubo (snorkel), o mergulhador inspira ar na pressão atmosférica. A uma profundidade de
aproximadamente 1 m (3 pés), a força compressiva da água contra a cavidade torácica torna-se tão grande que os músculos
inspiratórios não conseguem superar a pressão externa e ampliar as dimensões torácicas. Isso torna a inspiração impossível sem
ar externo a uma pressão suficiente para contrabalançar a força compressiva da água a uma determinada profundidade.

Tamanho do respirador e espaço morto pulmonar


Cerca de 150 mℓ de cada incursão respiratória enchem o nariz, a boca e outras partes do sistema respiratório que não são
responsáveis pelo processo da difusão, isto é, nem todo o ar inspirado penetra nos alvéolos. O respirador (snorkel), que
constitui um prolongamento das vias respiratórias, amplia o volume do espaço morto anatómico. Qualquer aumento adicional no
tamanho do respirador (ou volume) amplia o volume do espaço morto anatómico, comprometendo assim a ventilação alveolar.

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MERGULHO

Mergulho em apneia
A duração de um mergulho em apneia depende de dois fatores:
1. Duração da apneia até que a pressão do dióxido de carbono alcance o ponto de ruptura da apneia.
2. Relação entre a capacidade pulmonar total (CPT) do mergulhador e o volume pulmonar residual (VPR).

 Uma inspiração plena de ar ambiente faz com que 1 ℓ de oxigénio penetre nas vias respiratórias e nos pulmões.
Com a apneia, 650 mℓ de oxigénio apoiam o metabolismo antes de as pressões parciais do oxigénio arterial
(PO2) e do dióxido de carbono (PCO2) assinalarem a necessidade de retomar a respiração. Com alguma prática, a
maioria das pessoas consegue ficar em apneia por até 1 min, com 2 min representando um limite superior típico.
 Durante esse período de tempo, a PO2 arterial cai para 60 mmHg, enquanto a PCO2, que é o fator mais
importante do controle da apneia, sobe para 50 mmHg, assinalando a necessidade urgente de respirar. A
atividade física reduz grandemente o tempo de apneia, pois o consumo de oxigénio e a produção de dióxido de
carbono aumentam com a intensidade do exercício.

A hiperventilação antes do mergulho em apneia prolonga o período de apneia; ao mesmo tempo, o risco
para o mergulhador aumenta grandemente.

67

MERGULHO

Reflexo de mergulho nos seres humanos


As respostas fisiológicas à imersão, denominadas coletivamente reflexo de mergulho, permitem aos mamíferos
aquáticos passar um período de tempo considerável debaixo de água. Essas quatro respostas incluem:

 Bradicardia
 Débito cardíaco reduzido
 Vasoconstrição periférica aumentada
 Acúmulo de lactato no músculo
precariamente profundido

FIGURA 26.2 A. Frequência cardíaca, volume sistólico e débito cardíaco


para um mergulhador de elite em apneia durante um mergulho de 40
m (131 pés) em água morna (35°C [95°F]) e fria (25°C [77°F]).
Linha verde, profundidade do mergulho em relação ao tempo; linha
amarela, débito cardíaco por todo o mergulho; CTRL, medidas de
controle antes do mergulho. B. Traçado eletrocardiográfico mostrando
um intervalo RR mais longo durante o mergulho em águas a 25°C. (*),
Complexo QRS durante o mergulho. (Adaptada, com autorização, de
Ferrigno M et al. Cardiovascular changes during deep breathhold dives
in a pressure chamber. J Appl Physiol 1997;83:1282.)

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MERGULHO

A lei de Henry estabelece que o volume


de gás dissolvido num líquido a uma
determinada temperatura varia
diretamente com dois fatores:
1. O diferencial de pressão entre o gás
e o líquido.
2. A solubilidade do gás no líquido.

Os sistemas de respiração subaquática precisam de


suprir ar, oxigénio ou outras misturas gasosas com uma
pressão suficiente para superar a força da água contra o
tórax do mergulhador. Por exemplo, para 3 ata
(profundidade de 20 m) o gás respirado precisa ser
fornecido com aproximadamente 2.280 mmHg (3 ×
760 mmHg), enquanto o fornecimento do gás a 60 m
exige uma pressão de 5.320 mmHg. A FIGURA 26.6
resume os principais perigos do mergulho autónomo
(SCUBA) gerados por uma equalização inadequada da
pressão nos espaços aéreos do corpo e da máscara de
mergulho com as mudanças na pressão externa.

69

MERGULHO

Narcose induzida pelo nitrogênio | “Êxtase das profundezas” resulta do acúmulo de nitrogénio dissolvido nos
líquidos corporais e nos tecidos, produzindo um efeito narcótico caracterizado por um estado geral de euforia
semelhante à intoxicação alcoólica, e pode provocar um efeito de entorpecimento e anestésico sobre o SNC em
níveis mais elevados.
O Mal da descompressão ocorre quando o nitrogénio dissolvido sai da solução e forma bolhas nos tecidos e líquidos
corporais.

Descompressão
 A descompressão por etapas exige que o mergulhador faça uma ou mais paragens durante a
ascensão para a superfície.
 O tempo necessário para que o compartimento tecidual mais lento perca nitrogénio suficiente para permitir a
subida para a próxima profundidade determina a duração dessas pausas (denominadas paragens para a
descompressão por etapas).
 Por exemplo, um mergulho até 30 m (98 pés) por 50 min torna necessária uma paragem para descompressão de 2
min aos 6 m e uma paragem de 24 min aos 3 m. A descompressão no estágio de superfície envolve a transferência
do mergulhador da água (após várias paragens na água) para uma câmara de descompressão na superfície.
 Uma abordagem conservadora recomenda que o mergulhador desportivo não deve ultrapassar a profundidade de
20 a 25 m (66 a 82 pés) (máximo de 30 m [98 pés]).

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Fisiologia do Exercício 23/05/2023

MERGULHO

FIGURA 26.8 Limites de descompressão zero. Qualquer mergulho isolado que se enquadre no lado esquerdo da curva não exige
descompressão, desde que a taxa de ascensão não ultrapasse os 60 pés por minuto (m = pés × 0,34048). Os mergulhos no lado
direito da linha precisam de um período de descompressão especificado pelas tabelas padrão de descompressão. (Reproduzida de U.S.
Navy Diving Manual, Vol. 5, Superintendent of Documents, U.S. Government Printing Office, Washington, DC 20402, 2008.)

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MERGULHO - RESUMO

 O meio ambiente subaquático expõe sistematicamente os mergulhadores a altas pressões (hiperbaria) e à


possibilidade de alterações rápidas na pressão. Podem ocorrer lesões e até mesmo a morte se o mergulhador
não realizar ajustes que permitam igualar as pressões nas cavidades corporais cheias de ar.
 A duração do mergulho em apneia depende do período de tempo necessário para que a PCO2 alcance o ponto de
ruptura da apneia.
 A hiperventilação reduz consideravelmente a PCO2 arterial e aumenta o tempo de apneia; faz aumentar também
a probabilidade de desmaio (blackout) debaixo de água.
 O ponto no qual o volume pulmonar do mergulhador é comprimido até ao volume pulmonar residual (VPR) em
geral, determina a profundidade máxima para o mergulho em apneia. Ocorre compressão pulmonar abaixo dessa
profundidade crítica quando as pressões internas e externas não podem ser igualadas.
 O mergulho em apneia realizado por mergulhadores de elite provoca grandes alterações cardiovasculares que se
assemelham aos padrões de resposta dos mamíferos que mergulham.
 O treino de periodização para o mergulho livre concentra-se nos princípios básicos do treino, incluindo treino de
força, treino cardiovascular, de flexibilidade e regimes de ioga. Também estão incluídos treinos específicos para
mergulho, com um posterior treino especializado para otimizar a capacidade de apneia do mergulhador por
longos períodos em baixo de água, concentrando-se na musculatura respiratória, a fim de promover a tolerância
aos mais altos níveis de CO2 possíveis.

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MERGULHO - RESUMO

 O aparelho autónomo (SCUBA) fornece misturas respiratórias nas grandes profundidades e pressões.
 Perigos específicos do dispositivo autónomo resultam da equalização inadequada das pressões nos pulmões, nos seios da face
e nos espaços da orelha média com a pressão externa da água. Os perigos importantes incluem embolia gasosa, pneumotórax,
compressão da máscara e da orelha média e aerossinusite.
 Os gases inalados sob altas pressões atravessam a membrana alveolar para se dissolver e equilibrar nos líquidos de todos os
tecidos.
 As altas pressões teciduais do oxigénio e do nitrogénio exercem profundos efeitos negativos sobre a função fisiológica.
 A profundidade máxima recomendada do mergulho por inalação de ar comprimido é de aproximadamente 30 m (98,4 pés).
 A inalação prolongada de um gás com uma PO2 acima de 2 atmosferas eleva a suscetibilidade do mergulhador à intoxicação
pelo oxigénio.
 Os sistemas autónomos (SCUBA) de circuito fechado que utilizam oxigénio puro restringem acentuadamente a profundidade e a
duração do mergulho.
 Formam-se bolhas de nitrogénio nos tecidos quando o excesso de nitrogénio não consegue sair pelos pulmões se a ascensão
progride com rapidez excessiva. Mal da descompressão (bends) é o nome dessa condição dolorosa.
 Os mergulhos até profundidades superiores a 60 fsw tornam necessária a inalação de misturas gasosas comprimidas. O
controle preciso das concentrações de oxigénio torna-se uma consideração primária.
 A inalação de misturas de hélio e oxigénio (heliox) permite realizar mergulhos até profundidades de 2.000 fsw. O mergulho com
heliox elimina o risco da narcose induzidas pelo nitrogénio e minimiza o risco de intoxicação pelo oxigénio.

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M I C R O G R AV I DA D E

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M I C R O G R AV I DA D E

O voo espacial proporciona a condição omnipresente de um g quase zero (microgravidade)


 Na microgravidade, os volumes do sangue e dos demais líquidos deslocam-se para cima e penetram na região
toracocefálica. Isso produz um aspecto inchado da face quando os líquidos se transferem do espaço extracelular
para o espaço intracelular. Concomitantemente, ocorre redução de 2 a 5 cm na circunferência da cintura. O
deslocamento efetivo inicial do líquido faz também com que os olhos fiquem avermelhados e que as pernas se
tornem emaciadas, e causa congestão nasal, cefaleia e náuseas. As reduções concomitantes no volume sanguíneo
afetam a função cardiovascular, o que se manifesta por reduções no volume do plasma e das hemácias, maior
estagnação venosa, reflexo barorreceptor abafado e intolerância ortostática, definida como um retorno venoso
comprometido para o coração durante a postura ortostática num ambiente gravitacional.
 Na Terra, a pressão constante para baixo de 1 g comprime os discos intervertebrais. Na microgravidade, a
eliminação da força gravitacional acarreta expansão dos discos, fazendo com que a estatura aumente em até 5 cm.
 A postura também se modifica durante a exposição à microgravidade. Em comparação com a condição existente
antes do voo, as articulações deslocam-se para o ponto médio de sua amplitude de movimento, fazendo com que
os quadris e os joelhos sejam flexionados ligeiramente, colocando o corpo em agachamento. Os braços tendem a
flutuar adiante do corpo, a menos que sejam forçados conscientemente para baixo. Observa-se a inclinação
postural com protrusão da cabeça para a frente e a lordose concomitante imediatamente após o retorno à Terra.

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M I C R O G R AV I DA D E

FIGURA 27.8 Esquema geral dos


efeitos da microgravidade sobre
as alterações fisiológicas
devidas a (1) gradientes
hidrostáticos reduzidos e (2)
cargas reduzidas e desuso dos
tecidos responsáveis pela
sustentação do peso corporal.
(Adaptada de Lujan BF, White
RJ. Human Physiology in Space;
www.nsbri.org/humanphysspac
e/.)

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M I C R O G R AV I DA D E

Voos espaciais de longa duração (>2 semanas)


Voos espaciais de curta duração (1 a
Medidas Fisiológicas
14 dias) Pré-voo Pós-voo

Estatura Discreto aumento durante a primeira Aumentada durante as primeiras 2 A altura retorna ao normal em R+0
semana de voo (cerca de 1.3 cm); RPB semanas do voo (máximo de 3 a 6
de 1 dia cm); estabiliza-se a seguir
Massa corporal As perdas ponderais após o voo são, em As perdas ponderais durante o voo Aumento rápido durante os primeiros
média, de aproximadamente 3.4%; são, em média, de 3 a 4% durante os dias de voo, principalmente por
cerca de 66% da perda são devidos à primeiros 5 dias; daí em diante, o reposição do líquido; aumento mais
perda de água, com o restante sendo peso declina ou aumenta para o lento do peso de R+5 dias e R+2 ou 3
devido à perda de massa corporal restante da missão; as perdas iniciais semanas; a perda ponderal após o voo
magra e de gordura durante o voo são causadas está relacionada inversamente à
provavelmente por perda de líquido; ingestão calórica durante o voo
as perdas subsequentes são
metabólicas
Síntese Proteica Elevada em 40% do dia 8 do voo (SLS-1),
sugerindo uma “resposta ao stress”
Composição corporal A gordura está provavelmente a
substituir o tecido muscular; a massa
muscular é preservada parcialmente,
na dependência do esquema de
exercícios

RPB (return to preflight baseline) = retorno ao valor basal pré-voo; SLS = Spacelab Life Science; R = retorno à Terra; EMG = eletromiografia.

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M I C R O G R AV I DA D E

Voos espaciais de longa duração (>2 semanas)


Voos espaciais de curta duração (1 a
Medidas Fisiológicas
14 dias) Pré-voo Pós-voo

Volume corporal total Diminuído após o voo O centro de massa desvia-se na Reduzido após o voo
direção da cabeça
Volume dos membros O volume dos MI durante o voo diminui O mesmo das missões curtas no início Aumento no volume dos membros
exponencialmente durante o primeiro do voo; o volume dos MI continua inferiores imediatamente após o voo,
dia do voo; daí em adiante, o ritmo da diminuindo ligeiramente durante toda seguido por RPB lento
redução declina e alcança um plateau a missão; o volume dos membros
dentro de 3 a 5 dias; reduções após o superiores diminui ligeiramente
voo no volume dos MI de até 3%;
aumento rápido imediatamente após o
voo, seguido por RPB mais lento
Força muscular Reduzida durante e após o voo; RPB de Redução pós-voo na força dos músculos
1 a 2 semanas dos MI, particularmente os extensores;
a maior utilização do exercício durante
O músculo esquelético adapta-se um voo parece reduzir as perdas da
rapidamente à exposição à força depois do voo,
microgravidade, com perda significativa independentemente da duração da
da área transversal, na atividade missão; a força dos MS é normal ou
enzimática selecionada e na ligeiramente reduzida depois do voo
capilarização das fibras musculares, e
estas respostas variam em função da
aptidão física anterior ao lançamento

RPB (return to preflight baseline) = retorno ao valor basal pré-voo; SLS = Spacelab Life Science; R = retorno à Terra; EMG = eletromiografia.

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Fisiologia do Exercício 23/05/2023

M I C R O G R AV I DA D E

Voos espaciais de longa duração (>2 semanas)


Voos espaciais de curta duração (1 a
Medidas Fisiológicas
14 dias) Pré-voo Pós-voo

Força muscular As EMG pós-voo do músculo As EMG pós-voo do músculo


gastrocnémio sugerem maior gastrocnémio mostram desvio para
susceptibilidade à fadiga e eficiência frequências mais altas, sugerindo
muscular reduzida; as EMG dos deterioração do tecido muscular. As
músculos dos MS não mostram EMG indicam maior susceptibilidade à
modificação fadiga; RPB em cerca de 4 dias
Reflexos (tendão de Aquiles) Duração do reflexo reduzida após o voo Duração do reflexo reduzida após o voo
em 30% ou mais; magnitude do reflexo
aumentada; aumento compensatório
na duração do reflexo cercade 2
semanas após o voo; RPB
aproximadamente 1 mês
Equilíbrio do nitrogénio e do Equilíbrio negativo no início do voo Retorno rápido a um equilíbrio
fósforo que evolui para um equilíbrio menos acentuadamente positivo depois do
negativo ou ligeiramente positivo nos voo
períodos subsequentes

RPB (return to preflight baseline) = retorno ao valor basal pré-voo; SLS = Spacelab Life Science; R = retorno à Terra; EMG = eletromiografia.

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M I C R O G R AV I DA D E

Voos espaciais de longa duração (>2 semanas)


Voos espaciais de curta duração (1 a
Medidas Fisiológicas
14 dias) Pré-voo Pós-voo

Densidade mineral óssea Densidade do calcâneo diminuída Densidade do calcâneo diminuída


depois do voo; o rádio e a ulna mostram depois do voo; a quantidade de perda
alterações variáveis, dependendo do correlaciona-se com a duração da
método de mensuração missão; pouca ou nenhuma perda por
parte dos ossos que não são
responsáveis pela sustentação do peso
corporal. O RPB é gradual; evolução
temporal indeterminada
Equilíbrio do cálcio Equilíbrio do cálcio progressivamente Excreção da Ca na urina no O conteúdo de Ca na urina cai abaixo
negativo durante o voo transcorrer do primeiro mês durante dos valores basais pré-voo no dia 10; o
o voo, atingindo, a seguir, um plateau; conteúdo fecal de Ca declina, porém
a excreção fecal de Ca declina até ao não alcança o valor basal pré-voo no dia
dia 10 e, a seguir, aumenta 20; equilíbrio do Ca acentuadamente
continuamente durante todo o voo; o negativo após o voo, tornando-se
equilíbrio de Ca torna-se cada vez menos negativos no dia 10; o equilíbrio
mais negativo durante todo o voo de Ca ainda é ligeiramente negativo no
dia 20; RPB de pelo menos várias
semanas

RPB (return to preflight baseline) = retorno ao valor basal pré-voo; SLS = Spacelab Life Science; R = retorno à Terra; EMG = eletromiografia.

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Fisiologia do Exercício 23/05/2023

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Estratégias com medidas defensivas


 As medidas defensivas tentam sistematicamente neutralizar (ou minimizar) os efeitos do descondicionamento
potencialmente prejudiciais do voo sobre a função fisiológica, o desempenho e a saúde global da tripulação
durante as manobras críticas para a missão, particularmente a reentrada e a aterragem.
 Na ausência de gravidade, nenhuma força de aceleração linear descendente da cabeça para os pés (designada de 1
Gz) atua sobre o corpo. Isso torna as funções biológicas normais mais suscetíveis às adaptações inadequadas a
curto e longo prazos, tais como a cinetose espacial ou doença de locomoção espacial (DLE). Essa síndrome
manifesta-se habitualmente no decorrer das primeiras 72 h após o início da missão e, com frequência, caracteriza-
se por falta de coordenação motora, dificuldade de concentração, desorientação, sensação persistente de efeitos
subsequentes, náuseas, palidez, sonolência, vertigem ao caminhar e ao ficar de pé, dificuldade de caminhar em
linha reta, névoa visual e respiração ofegante.
 Por este motivo, nas primeiras 48 a 72 h do voo os astronautas não realizam exercício com a finalidade de
proporcionar uma recuperação suficiente da DLE, que afeta quase 70% dos astronautas e cosmonautas no seu
primeiro voo.

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Adaptação do Tecido Ósseo


 Os Astronautas perderiam cerca de 25% de massa óssea após um ano no
espaço
 SEDENTARISMO: pessoas acamadas sofrem uma severa perda de massa
óssea (1% por semana).
 Steady state ósseo é atingido após perda de cerca de 30 a 40% - funções
comprometidas.
 Nas missões mais longas com duração de 100 a 237 dias, a perda média
na força do músculo bíceps dos astronautas variou entre 20 e 50%.
 O importante papel das contrações musculares concêntricas e excêntricas
durante as missões espaciais focou as experiências para avaliação pré e
pós-voo das funções musculares submáximas e máximas.

https://www.nasa.gov/mission_pages/station
/research/news/b4h-3rd/hh-preventing-
bone-loss-in-space/

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Fisiologia do Exercício 23/05/2023

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1. Caminhada e corrida na esteira


rolante.
2. Cicloergometria, incluindo o
esforço máximo realizado 24 h
antes do pouso.
3. Remada com as pernas.
4. Exercício de resistência dinâmica
multiarticular realizado com os
segmentos superiores e
inferiores do corpo.

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M I C R O G R AV I DA D E

FIGURA 27.25 Modelo da relação entre


stresse físico no meio ambiente espacial e
adaptação dos sistemas cardiovascular e
muscular com o inerente aumento da
sobrecarga fisiológica e redução do
desempenho físico. SNS = sistema nervoso
simpático; PVC = pressão venosa central; β
= beta-adrenérgica; NE = norepinefrina; FC
= frequência cardíaca; VS = volume
sistólico; dif aO2 = diferença arteriovenosa
de oxigênio; ↑ = aumento; ↓ = redução;
↓↓ = grande redução; ↔ = nenhuma
modificação. (De Convertino VA. Effects of
microgravity on exercise performance. In:
Garrett WE, Kirkendall DT, eds. Exercise
and Sport Science. Philadelphia: Lippincott
Williams & Wilkins, 2000.)

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POLUIÇÃO

• A poluição do ar inclui uma variedade de


gases e partículas que são produtos da
combustão de combustíveis fósseis. A
“poluição” que resulta quando esses poluentes
[partículas, ozono, dióxido de enxofre e
monóxido de carbono] se encontram em
elevada concentração pode ter um efeito
prejudicial à saúde e ao desempenho.
• Os gases podem afetar o desempenho,
diminuindo a capacidade de transportar
oxigénio, aumentando a resistência das vias
aéreas e alterando a percepção do esforço
necessário quando os olhos "queimam" e o
peito "dói".

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POLUIÇÃO

Respostas Fisiológicas
 As respostas fisiológicas a esses poluentes estão relacionadas à quantidade, ou “dose” recebida. Os
principais fatores que determinam a dose são a concentração do poluente, a duração da exposição ao
poluente e o volume de ar inspirado (concentração × tempo × VE).
 Este último fator aumenta durante o exercício e é uma razão pela qual a atividade física deve ser
reduzida durante os momentos de pico dos níveis de poluição.

O monóxido de carbono pode-se


ligar à hemoglobina para formar
carboxihemoglobina (HbCO) e
diminuir a capacidade de transporte
de oxigénio

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POLUIÇÃO

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POLUIÇÃO

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POLUIÇÃO

Seong Rae Kim, Seulggie Choi, Kyuwoong Kim, Jooyoung Chang, Sung Min Kim, Yoosun Cho, Yun Hwan Oh, Gyeongsil Lee, Joung Sik Son, Kyae Hyung
Kim, Sang Min Park, Association of the combined effects of air pollution and changes in physical activity with cardiovascular disease in young adults,
European Heart Journal, 2021;, ehab139, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehab139

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POLUIÇÃO

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POLUIÇÃO

Recomendações
 Reduza a exposição ao poluente antes do exercício porque os efeitos fisiológicos dependem
do tempo e da dose.
 A atividade física e o exercício está associada a um risco menor de desenvolver doenças
cardíacas e dos vasos sanguíneos entre os adultos jovens. No entanto, quando os níveis de
poluição do ar são altos, o exercício além da quantidade recomendada pode compensar ou
até mesmo reverter os efeitos benéficos.
 Fique longe de áreas onde você possa receber uma dose “bolus” de CO: áreas para
fumantes, áreas de alto tráfego, ambientes urbanos.
 Não programe atividades para horários em que os poluentes estejam nos seus níveis mais
altos (7–10 da manhã e 4–7 da tarde) devido ao tráfego.

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POLUIÇÃO

O Índice de Qualidade do Ar
(AQI) é uma medida da
qualidade do ar para os cinco
principais poluentes do ar
regulamentados pela Lei do
Ar Limpo: ozono ao nível do
solo, partículas e materiais
particulado, monóxido de
carbono, dióxido de enxofre
e dióxido de nitrogénio.

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BIBLIOGRAFIA

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