Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Conceituando Analfabetismo
2 CONCEPÇÃO DE ALFABETIZADO
Soares (2001), ao tratar sobre o conceito de “adultos em processo de
alfabetização”, os apresenta como: homens e mulheres marcados por
experiências de infância que os tornaram impossibilitados de
permanecer na escola - por contingências alheias à sua vontade. A
autora ainda argumenta que durante o tempo de permanência desses
no espaço escolar, tais pessoas adquiriram apenas os rudimentos da
escrita.
Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e
escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um
indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita e se inserir
nas práticas sociais de leitura e escrita. Letramento é muito mais que a
aquisição da habilidade de codificar o próprio nome. Passou-se a
verificação da capacidade de usar a leitura e escrita para a prática
social, saber ler e escrever e interpretar um bilhete (SOARES, 2001).
LETRAMENTO não significa aprender a fazer algo por repetição. Sua
prática implica em entendê-lo como uma maneira cultural de utilização
da escrita, ou seja, o que se pode fazer com a escrita. A prática do
letramento envolve valores, atitudes, sentimentos e relacionamento
social. São definidos por regras sociais que regulam o uso e a
distribuição de textos, determinando quem pode produzi-los e quem tem
acesso a eles. Assim, o texto, de acordo com a comunidade, acaba por
determinar sua própria situação ou função.
Terzi (2001, p. 16), considera que o letramento, como fenômeno social,
está sujeito a diversas influências. “A prática social de venda de um
imóvel, por exemplo, adquire uma diferente leitura (interpretação), de
acordo com a comunidade participante”. Enquanto em uma comunidade
a escritura de um terreno é parte de uma situação de compra, venda e
registro de um imóvel envolvendo mais de um proprietário, em outra
comunidade a venda de um terreno é garantida pela palavra empenhada
(palavra de honra). Note que em algumas comunidades as relações de
poder são estabelecidas através de ofícios, em outras a palavra
empenhada basta; entretanto, uma alteração no uso convencional da
língua pode representar uma quebra dos padrões culturais a ponto de
causar conflitos. Citamos como exemplo o que acontece em algumas
regiões durante o período de eleições governamentais, formação de
uma cooperativa, entre outros.
Saiba Mais: Para aprofundar a discussão sobre Letramento, sugiro uma
bibliografia – texto publicado no periódico “Presença Pedagógica”, v. 2,
n. 10, jul/ago 1996, na seção “Dicionário Crítico da Educação”.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.
Saiba mais: O trabalho idealizado por Paulo Freire contou com grande
participação dos Movimentos Populares. O que entendemos por
Movimento Popular?
De acordo com Brandão (2005, p. 57), Movimentos Populares podem
ser entendidos como todas as formas de mobilização e organização de
pessoas das classes populares diretamente vinculadas ao processo
produtivo, tanto na cidade quanto no campo. Os Movimentos Populares
também são lugares de educação política do povo.
Podem ser considerados movimentos populares as associações de
bairros da periferia, os clubes de mães, os grupos de loteamentos
clandestinos, as comunidades de base, os grupos organizados em
função da luta pela terra e outras formas de organização. Também é
parte do Movimento Popular o Movimento Sindical, que, pela sua
natureza, possui um caráter de classe definido por determinada
categoria profissional.
acesse:
7 O PRINCÍPIO DO MÉTODO: PROPOSTA DIALÓGICA
7.1 LEVANTAMENTO DO UNIVERSO VOCABULAR
Paulo Freire, seguindo a ideia de que ninguém educa ninguém e
ninguém se educa sozinho, sugeriu que o trabalho fosse construído a
partir do diálogo entre educador e educando. Nada deve ser
apresentado “pronto”, de forma solitária ou impositiva.
Segundo Brandão (2005), Paulo Freire considerava que nas cartilhas e
livros de leitura para adultos, os textos escolhidos acabavam por propor
uma leitura longe da realidade social. Assim, o estudo que desvelava o
segredo da escrita velava a experiência da vida. Apenas existia a
repetição de frases tais como: “Eva viu a uva”, “A ave é do Ivo”, “O Ivo
vai na roça”.
O método indicado por Freire sugere uma construção coletiva na qual o
repertório dos símbolos da alfabetização já é o começo do trabalho de
aprender. Esta primeira etapa pedagógica de construção do método foi
apresentada por Paulo Freire com vários nomes
semelhantes: “levantamento do universo vocabular” (em Educação
como Prática da Liberdade), “descoberta do universo vocabular” (em
Conscientização), “pesquisa do universo vocabular” (em
Conscientização e Alfabetização), “investigação do universo temático”
(em Pedagogia do Oprimido). De livro para livro algumas palavras
mudaram, mas permaneceu viva a ideia de que há um universo de fala
da cultura da gente do lugar, que deve ser: investigada, pesquisada e
descoberta.
Tempo de Pesquisa - A Força da Palavra Vivida
Iniciando o trabalho de construção do material a ser utilizado
posteriormente, em primeiro plano realizava-se a pesquisa do universo
vocabular. Nesse momento, a realidade social entrelaça a vida e o
pensamento dos participantes. A pesquisa se torna um ato criativo, um
momento de descoberta que traduz a visão de mundo colhido através
das falas, da palavra, do desenho, das fotos, da música, da poesia,
entre outros.
“Através da pesquisa simples, de procura das palavras geradoras, na
comunidade, chega-se ao objetivo imediato que centra-se na obtenção
dos vocábulos mais usados pela população a se alfabetizar”
(Conscientização e Alfabetização). Nesse momento torna-se importante
saber explorar com a comunidade as situações de vida e trabalho com a
terra, saber de que modo as mulheres guardam a sabedoria do cuidado
de seus filhos. Enfim, o vivido e o pensado, as palavras, frases,
provérbios, modos peculiares de dizer e cantar o mundo e traduzir a
vida, as rezas, as festas e as discussões no sindicato permitem o
desvelamento do mundo particular que se transforma posteriormente
em Tema Gerador.
Nessa perspectiva, alfabetizar deixa de ser um ato mecânico de ensino
de uma habilidade necessária, para se tornar ato individual e coletivo de
reflexão sobre o vivido.
8 PALAVRAS GERADORAS
Link:
Para concluir o Estudo da Unidade I
RESUMO:
Nessa primeira unidade tivemos a oportunidade de refletir sobre a
trajetória de Paulo Freire frente à organização do processo
educacional ligado à modalidade de ensino Educação de Jovens e
Adultos. Identificamos sua participação ainda durante a fundação
do Movimento de Cultura Popular (MCP), em Recife, estando à
frente do projeto de “Educação de Adultos”.
No final da década de 1950 e início da década de 1960,
juntamente com uma equipe de profissionais e lideranças da
comunidade nordestina, assumiu o risco de lutar contra diferentes
formas de opressão e de degradação da dignidade humana.
Seu projeto visava, através da alfabetização, conscientizar a
população oprimida, dentre eles os operários e camponeses
analfabetos, sobre a possibilidade de conquista de uma maior
autonomia e liberdade de expressão. Suas ideias, aliadas à sua
prática educacional, tornaram-se, posteriormente, referência para
os educadores comprometidos com a causa dos oprimidos.
Paulo Freire, Adriano Nogueira e Dermeval Saviani participaram
de um debate (Caderno Pedagógico. A Educação no século XXI,
Pr. APP Sindicato, 2003) no qual se buscava desenhar o perfil do
educador do século XXI. Nesse colóquio, Paulo Freire destaca que
a continuidade da história se torna fundamento para a
compreensão e a explicação sobre o “agir humano”. Uma
continuidade que se conquista não pela repetição, mas pela ação;
pois o homem segue como ser histórico – historicizando até em
meio à fome, à miséria e à degradação humana.
1º Passo: Assim, observe um recorte de texto em que Paulo Freire
(2003, p. 45) argumenta sobre Educação atualmente:
Para Paulo Freire, diante da ciência se torna impossível propor
que a educação deve ser apenas adaptação do homem a um novo
paradigma. Educar é bem mais do que capacitar técnica e
cientificamente. Nesses termos - capacitar significa adestrar. No
passado, muitos pensavam que educar era apenas politizar sem
preocupar-se com a formação técnica, instrumental. Hoje ambas
são importantes: a formação técnico-científica e a leitura de mundo
tornaram-se leituras necessárias. A leitura de mundo e a
competência técnica vão se incorporando à natureza do “ser
homem”, contribuindo para que a história continue sendo
historicamente constituída.
2º Passo: Após a leitura desse recorte, observe as figuras
indicadas abaixo, que lhe foram apresentadas durante a
elaboração dessa Unidade 1, e analise: Qual relação você
consegue esquematizar associando o pensamento de Paulo Freire
e as imagens?
De que forma a leitura de mundo e a competência técnica podem
contribuir para que o homem produza história?
Finalizamos aqui a nossa primeira webaula. Até a próxima.
BERTRAND, Yves. Teorias Contemporâneas da
Educação. Lisboa, Horizontes Pedagógicos - Instituto Piaget,
1998.
BRASIL. Política Nacional de Juventude: diretrizes e perspectivas.
São Paulo: Conselho Nacional de Juventude; Fundação Friedrich
Ebert, 2006.
BRANDÃO, Carlos R. O que é Método Paulo Freire. S. P., Coleção
Primeiros Passos–38, Edit. Brasiliense, 2005.
FERREIRA, Maria das Graças. Uma Pedagogia para o Adulto
Des/Escolarizado. In: XAVIER, Marcia Rejania Souza (Org.). Ciclo
de Leituras Paulo Freire. Londrina: Edições Humanidades, 2007.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se
completam. SP: Cortez/autores associados, 2003. p. 18.
FREIRE Paulo. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1981.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Educação, o sonho possível. In: BRANDÃO, C.
(Org.). Educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Graal,1986.
KOHL, Marta Kohl de Oliveira. Jovens e Adultos como sujeitos de
conhecimento e aprendizagem. Trabalho apresentado na XXII
Reunião Anual da ANPED, Caxambu, set. 1999. Revista Brasileira
de Educação, n. 12, p. 59-73, set/out./nov./dez. 1999.
MADEIRA, M. C. A educação vista pelo analfabeto. In: ANDE, n. 8.
São Paulo: Cortez, 1984.
MOLL, Jaqueline. EJA como política publica local: atores sociais e
novas possibilidades educativas: Educação e Realidade. Porto
Alegre, v.01, n.01, p. 09-24, jul./dez. 2005.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.
TERZI, Silvia Bueno. Para que ensinar a ler o jornal se não há
jornal na comunidade? O letramento simultâneo de jovens e
adultos escolarizados e não escolarizados. In: RIBEIRO, Vera M.
(Org.). Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas
leituras. Campinas, SP: Mercado de Letras – ALB: Ação
Educativa, 2001.
VALE, Maria José. Paulo Freire, educar para
transformar: almanaque histórico. São Paulo: Mercado Cultural,
2005.
BEISIEGEL, Celso de Rui. Política e Educação Popular: a teoria e
a prática de Paulo Freire no Brasil. São Paulo: Ática, 1992.
BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 dezembro de 1996. Estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União,
Brasília, p. 027833, col. 1, 23 dez. 1996.
BRASIL. MEC/ CNE. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação de Jovens e Adultos. Despacho do Ministro em 7 de
junho de 2000, publicado no Diário Oficial da União de 9 junho de
2000.
BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação.
Brasília. 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Proposta curricular para a
educação de jovens e adultos. Volume 1. Brasília, 2002.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
PARECER CNE/CEB nº 5/2011, aprovado em 04/05/2011.
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a
pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra,
1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
FERNANDES, Calazans; TERRA, Antonia. 40 horas de
esperança: O método Paulo Freire: política e pedagogia na
experiência de Angicos. São Paulo: Ática, 1994.
Fórum Paranaense em Defesa da Escola Pública. Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional. Curitiba: APP, 1997.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal, participação da
sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. In: Ensaio:
aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p.27-38, jan/mar.,
2006.
KUENZER, Acácia Zeneida. Ensino Médio: construindo uma
proposta para os que vivem do trabalho. São Paulo: Cortez, 2000.
KUENZER, Acácia. Exclusão Includente e Inclusão Excludente: a
nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações
entre educação e trabalho. In: LOMBARDI, J.C.; SAVIANI, D.;
SANFELICE, J. L. (Org.). Capitalismo, Trabalho e Educação.
Campinas - SP: Autores Associados, 2002.
MADEIRA, M. C. A educação vista pelo analfabeto, em ANDE, nº
08. São Paulo: Cortez, 1984.
MOLL, Jaqueline. EJA como política publica local: atores sociais e
novas possibilidades educativas: Educação e Realidade. Porto
Alegre, v.01, n.01, p. 09-24, jul./dez. 2005.
PAIVA, V. P. Educação popular e educação de adultos. 2.
ed. São Paulo: Loyola, 1983.
PIASSA, Zuleika. Pedagogia do Oprimido. In: XAVIER, Marcia
Rejania Souza (Org.). Ciclo de Leituras Paulo Freire. Londrina:
Edições Humanidades, 2007.
PROEJA. Proposta de documento para análise e consideração
dos coordenadores de Polos da Especialização. Circulação interna
capacitação de profissionais do ensino público para atuar na
Educação profissional integrada à educação básica na Modalidade
de Educação de Jovens e Adultos, 2007.
SEED. Diretrizes Curriculares para Educação de Jovens e Adultos,
Curitiba, 2006. Disponível em: < http://diaadiaeducacao.pr.gov.br
>. Acesso em: 15 abr. 2014.
SEED, Secretaria de Estado da Educação. Departamento de
Educação Profissional. Educação Profissional Integrada à EJA.
Curitiba, 2007.
A proposta de trabalho indicada por Paulo Freire caracteriza que a
apropriação do conhecimento se concretiza pela relação dialética
entre a leitura de mundo aliada à leitura do código escrito, sempre
respeitando os saberes populares. Saberes que se constituem
fundamentados no princípio da dialogicidade, ou seja, a
valorização do diálogo entre aqueles que participam do processo.
Para Paulo Freire, a Leitura de Mundo se encontra atrelada à
cultura. A cultura pode ser entendida como o resíduo que o
trabalho humano deixa sobre o mundo. Passa a ser todas as
formas visíveis ou comunicáveis da significação do diálogo entre
os homens e seu efeito sobre o mundo. (BRANDÃO, 2005).
Seguindo as primeiras discussões envolvendo o conceito de
cultura, o analfabeto descobriria que cultura é toda ação
humana. Tanto é cultura o boneco de barro feito pelo artista do
campo, como também é cultura o trabalho do grande escultor,
pintor ou pensador da cidade grande. Cultura tanto pode ser a
poesia dos poetas letrados como também a poesia do cancioneiro
popular. (VALE, 2005).
Reportando-se ao livro de Paulo Freire intitulado “A importância do
Ato de Ler: em três artigos que se completam” (2003), a autora
Vale (2005, p. 26) confirma que todos os povos têm cultura porque
trabalham, transformam o mundo e, ao transformá-lo, todos se
transformam.
A dança, o ritmo, a ginga dos corpos, a música e a poesia do povo
são manifestações de cultura, como também é cultura o cultivo da
terra. A maneira que o povo tem de se expressar, sorrir, cantar,
andar, falar, os instrumentos que o povo usa para produzir, tudo é
cultura. Enfim, é cultura a forma como o povo entende e expressa
o seu mundo e como o povo entende e compreende suas relações
com o mundo.
3 ALFABETIZAÇÃO
As diferentes formas de linguagem são uma invenção da
humanidade, uma construção social e histórica do homem, um
conjunto sistemático e estruturado de recursos cuja função
principal centra-se na comunicação e na interação.
A conquista quanto à utilização das diferentes formas de
linguagem significa conhecer os seus elementos básicos, os
modos do seu funcionamento e suas dimensões em um
determinado contexto cultural. Assim, segundo Colello (1995), a
alfabetização e o letramento no contexto escolar devem significar
para o educando a possibilidade de lidar com a linguagem e a
produção do discurso.
Assim, de acordo com Colello (1995), o domínio sobre a
linguagem enquanto produto histórico e social representa
participação em sociedade. Ao mesmo tempo em que o homem se
apropria da linguagem, ele também age sobre ela, reinventando-a
enquanto participa efetivamente da construção de seu espaço e do
seu tempo.
A Escola no contexto
No contexto, é dada à escola, “instituição social”, a incumbência
de transmitir e possibilitar à comunidade que a procura, acesso a
todas as manifestações da linguagem, buscando sua formação
plena.
Cabe aqui um questionamento: O que a escola favorece ao sujeito
quando o ensina a ler e escrever de forma intencional e
sistemática?
Colello (1995) argumenta que a leitura e escrita, enquanto produto
cultural e social, deve ser apropriada e adquirida também no
contexto escolar. Em contraponto, Freire argumenta sobre a
importância da leitura de mundo, aquela conseguida enquanto
sujeito participante de todos os espaços. Assim, a leitura e
interpretação ultrapassa o mero ato de decodificação, torna-se
uma atividade extremamente complexa, que se relaciona com
situações culturais, ideológicas, filosóficas, entre outras.
Nessa perspectiva, a leitura se torna a realização do objetivo da
escrita. Alguns preferem entender a língua escrita como um código
que se estrutura pela relação entre sons e letras, enquanto outros
concordam que a língua escrita se dá por meio das relações,
envolvida em um processo de criação e recriação, nunca esgotado
em si mesmo. Fundamentado nessas observações, podemos
dizer que há múltiplas formas do sujeito se alfabetizar, ou seja, de
dominar os códigos da leitura e da escrita, em um determinado
contexto.
Para alguns autores, a escola, ao didatizar a linguagem, não
valorizando a realidade vivida, acaba tornando o processo de
ensinar a ler e a escrever em uma atividade desvinculada do seu
objetivo maior, que é proporcionar a formação do sujeito
competente no uso da língua. Assim, a realidade atual, vivenciada
pelos professores no espaço escolar, conclama-os para que
reflitam sobre sua própria postura enquanto formadores de
sujeitos.
Questão para reflexão
Seria tarefa do professor “apenas reproduzir o conhecimento
sistematizado”, ou auxiliar o aluno a realizar uma “leitura de
mundo”, capacitá-lo para participar ativamente da transformação
social, valorizando seu tempo, seu espaço e sua cultura?
Será que a metodologia utilizada pelo professor em sala de
aula influencia diretamente no sucesso ou fracasso da relação
que o aluno poderá ter com as diversas manifestações da
linguagem?
Qual prática seria ideal ao professor, no sentido de superar o
ensino da escrita como código e promovê-lo à condição de
diálogo, assumindo o seu caráter também político”?
Segundo Colello (1995), tornar o ensino da língua escrita em
simples conteúdos escolares, sem qualquer relação com os
contextos social e cultural, torna-o superficial, sem conexão com a
realidade.
De acordo com a autora, ensinar a ler e a escrever significa
ensinar a especificidade do elemento simbólico da língua em seu
contexto histórico, assim como os usos e práticas sociais em seus
contextos de produção e de interpretação.
Assim, caro aluno, esse momento de estudo também torna-se um
convite à tentativa de superar o didatismo artificial da escola, que
acaba por aprisionar a língua escrita.
O ensino da língua escrita, de acordo com Colello (1995), deve
estar a serviço da inserção social, da participação democrática do
sujeito na sociedade e do livre trânsito linguístico em face das
múltiplas possibilidades de se comunicar, ler o mundo e interpretá-
lo. Seguindo Colello (1995), a escrita contribui para a
promoção do contato sistemático e intencional no qual a língua
deve se fazer presente como algo vivo e enraizada nos usos
socioculturais.
O ato de ler e escrever deve INDICAR a busca pelos sentidos que
um texto possui. Ler e escrever deve ser ação destinada a textos
reais, deve ser concebido como ação dinâmica e não meramente
mecânica, deve ser concebido como processo de resolução de
problemas enfrentados pelo sujeito quando se coloca diante de um
texto a ser lido ou produzido. Nessa perspectiva, o ato de
alfabetizar torna-se uma atividade de ensino e aprendizagem
muito complexa a ser mediada pelo professor.
4 O MÉTODO DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS
De acordo com Brandão (2005), o método de alfabetização
proposto por Paulo Freire representa apenas a fase inicial do
longo processo determinado pelo sistema de educação, que foi
elaborado levando em conta algumas etapas, destacadas abaixo:
1 - O método a princípio foi elaborado e testado por uma equipe da
Universidade Federal de Pernambuco, coordenada por Paulo
Freire, e posteriormente foi disseminado para outras regiões do
Brasil.
2 - O método de alfabetização de adultos proposto por Paulo
Freire pode ser entendido como um processo que busca acelerar a
aprendizagem da leitura e da escrita ainda em nível elementar.
3 - A introdução da técnica de trabalho em grupo possibilita maior
ênfase no processo de conscientização dos adultos a partir de sua
participação e integração.
4 - O processo sistematizado correspondente ao nível elementar
de aprendizagem buscou a funcionalidade na leitura e na escrita,
além de aprofundamento no que concerne à conscientização e
ampliação do campo de estudos, além da introdução de outros
elementos necessários à educação de adultos.
De acordo com Brandão (2005), o método foi a matriz construída e
testada de um Sistema de Educação, tendo como objetivo inverter
a direção e as regras da educação tradicional. Um método que
valorizou a ação da grande massa oprimida, sem voz nem vez.
Um método que procurou instrumentalizar os sujeitos participantes
para o exercício de conscientização sobre seu papel no mundo, no
trabalho e na sociedade. Sua integração como sujeito social com
perspectiva de mudança.
A tarefa do educador centra-se em contribuir para a “reinvenção
de uma outra educação”. Nesse trabalho, enquanto os educadores
se reeducam, exercitam o “ato político” que começa com a
afirmação de que a educação é um trabalho político que procura
desvelar o oculto, que procura indicar libertação através do ensino,
ou seja, da educação. (BRANDÃO, 2005, p. 51).
Saiba mais
Para Paulo Freire, educação não é apenas um trabalho técnico e
pedagógico, a alfabetização de adultos não é algo neutro. Toda
educação se apresenta carregada de intenção política. O trabalho
de alfabetizar (parte do trabalho de educar) prepara o sujeito
político, instrumentalizando-o através da leitura e escrita.
5 PALAVRA GERADORA: CONTRIBUI PARA O
DESVELAMENTO DA REALIDADE
Na escolha das palavras geradoras incluíam-se, além dos
fonemas da Língua Portuguesa, todas as dificuldades gramaticais,
ligadas à pronúncia e escrita, tais como: s, ss, ch, x, lh.
Também eram escolhidas as palavras que davam sentido à vida e
ao trabalho cotidiano das pessoas. Para o lavrador, as palavras
enxada, chuva e lavoura têm um sentido de pertencimento tanto
quanto as palavras favela, tijolo e salário têm para o operário.
Tais critérios determinavam a própria apresentação das palavras
durante as reuniões de alfabetização, em ordem crescente de
dificuldade de leitura e escrita, além da lógica de linguagem na
explicação progressiva destas dificuldades. A cada palavra era
associado um núcleo de questões existenciais e políticas, fatos
ligados à vida e aos seus determinantes sociais.
Ao se utilizarem da palavra, muitas vezes não denunciam o
discurso ideológico, omitindo sua causalidade política, além de
tratar o analfabeto como seres incapazes e preguiçosos.
Destacamos abaixo algumas observações que podem fazer parte
do contexto: As pessoas continuam analfabetas pela condição ou
pelas circunstâncias, ou seja, foi-lhe negado um direito – o direito
de ler e escrever.
Ainda hoje podemos verificar como causa do analfabetismo no
Brasil a ausência de políticas públicas consistentes de educação
no campo, penalizando assim minorias étnicas, indígenas e
quilombolas. Além do abandono das classes mais pobres, oferta
insuficiente para a educação infantil, baixo investimento na
formação e valorização de alfabetizadores, entre outros.
Saiba mais
Mais que escrever e ler que “a asa é da ave”, os alfabetizandos
necessitam perceber a necessidade de um outro aprendizado: o
de escrever a sua vida, ler sua realidade, o que não é possível se
não tomarem sua história nas mãos. (FREIRE, 1981, p. 11).
6 CÍRCULO DE LEITURA
Segundo Paulo Freire (1983), em lugar de sala de aula tradicional
e aulas exclusivamente expositivas, devemos dar lugar ao diálogo
e à participação de todos.
Em lugar de treinar pessoas para simplesmente se adaptarem,
devemos buscar a formação de agentes sociais de mudança.
O Círculo de Cultura não substitui turma de alunos em sala de
aula, porém, durante as atividades, os envolvidos posicionam-se
em círculo, em um determinado espaço organizado com
antecedência para que o encontro aconteça. Nesse espaço, de
forma planejada, um animador (nem sempre professor) coordena e
anima o trabalho, orientando e incentivando a participação de
todos ao debate e demais atividades propostas.
De acordo com Brandão (2005), muito mais do que o aprendizado
individual de “saber ler e escrever”, o que o círculo da cultura
produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos, de
pensar. E todos juntos aprendem e constroem a cultura que os faz
sentirem-se homens, sujeitos, ou seja, seres da história.
As Fichas de Cultura – Maneira de reler o mundo
Conforme vimos na Unidade 1, segundo Brandão (2005), dentre
as finalidades das Fichas de Cultura, a partir de situações
existenciais, era dada ao grupo a possibilidade de discussão.
Momento em que todos os participantes eram incitados a “pensar
o mundo e sua participação crítica nele”.
7 AS FICHAS DE CULTURA: PRINCÍPIO DO APRENDIZADO
As Fichas de Cultura eram criadas na própria comunidade, com
desenhos sugeridos pelos participantes ou indicados durante o
período de pesquisa. No princípio da alfabetização, as fichas,
representadas em cartazes ou projetadas em slides, partiam
sempre de situações existenciais, provocando as primeiras trocas
de ideias, os primeiros debates.
Além da possibilidade de apreensão coletiva do conceito de
cultura, as discussões conduziam a outros conceitos fundamentais
apresentados durante o trabalho de alfabetização
De acordo com as condições e peculiaridades de cada lugar, as
fichas de cultura passavam de desenhos imaginados para
sequência de fotos em que as ideias sugeridas eram imagens
concretas da vida das pessoas.
De acordo com Brandão (2005), a finalidade máxima das fichas de
cultura sugeria debates a partir de imagens de situações
existenciais, dando ao grupo a possibilidade de rever criticamente
conceitos fundamentais para pensar o mundo e sua participação
crítica nele.
Com o pessoal já organizado em Círculo de Cultura, a atividade se
inicia. O animador apresenta um cartaz, ou seja, “A Ficha de
Cultura”.
A elaboração das Fichas de Cultura criadas pela própria
comunidade, a partir de desenhos e fotos sugeridas pelos
participantes, é agora representada, no momento da alfabetização,
em cartazes ou projetadas em slides, partindo sempre de
situações existenciais, provocando assim os primeiros debates.
A ficha, segundo Brandão (2005, p. 27), retrata o homem no
mundo, sua relação com a natureza e a cultura. O animador
chama a atenção de todos para a gravura, sugerindo que cada um
descreva o que a figura retrata, quais são os elementos da figura,
o que o desenho deixa transparecer.
Tal discussão toma quase todo o tempo do encontro, provocando
um debate no qual se sustenta a relação do homem com a
natureza e a cultura. O homem entendido como criador e recriador
da realidade através de seu próprio trabalho. Através de seu
trabalho, ele altera sua relação com a natureza de acordo com
suas necessidades.
Questão para reflexão: A indicação do desenho de uma figura
retratando o poço de água e a relação do homem com a água,
inclusive para sua subsistência, faz emergir conceitos básicos. O
homem cavou o poço porque necessitou da água. Seu trabalho
permitiu relacionar-se com o mundo fazendo dele objeto de seu
conhecimento, ao mesmo tempo em que transformou sua
realidade. Assim construiu uma casa, preparou suas roupas e
seus instrumentos de trabalho.
A análise simples, crítica e objetiva da relação do homem com seu
mundo o faz entender que a educação pode ser utilizada como
“Prática da Liberdade”. Como consequência da reflexão, os
homens percebem sua própria capacidade de refletir sobre o tema
abordado, partindo sempre do que são e do que fazem, não do
que pensam e querem os poderosos.
O homem pensa sobre sua posição no mundo, sobre seu trabalho,
sobre seu poder em transformar sua realidade, seu pequeno
mundo. A alfabetização deixa de ser algo externo ao homem para
ser dele mesmo – alfabetização e letramento. A cultura passa a
ser debatida como forma de aquisição sistemática do
conhecimento e democratização.
A finalidade das Fichas de Cultura sugere que os debates se
realizem a partir das imagens e de situações existenciais, levando
o grupo a rever criticamente conceitos fundamentais que
incentivem a motivação para que cada um assuma crítica e
ativamente o trabalho de alfabetizar-se. As Fichas de Cultura
indicavam o fundamento do método que estava centrado em
apresentar conceitos e convidar a refletir coletivamente.
Considerações sobre o Método de Alfabetização
Agora convido você a aprofundar seus conhecimentos a respeito
do Tema Gerador. É através dessa proposta de trabalho, indicada
após o tempo de Alfabetização, que seus participantes encontram
a possibilidade de problematizar situações rotineiras, buscar maior
criticidade e autonomia para participar na sociedade.
8 TEMA GERADOR
A tradição oral, ou seja, o relato de histórias que as pessoas
conhecem e contam, as músicas que cantam, versos, poemas,
receitas culinárias, receitas de remédio e chás caseiros, opiniões e
problemas, após serem aproximados da forma escrita; também
podem ser exploradas suas relações entre o oral e o escrito,
transformando-se em tema gerador. Esse é só um exemplo, dentre
muitos outros ligados à realidade do aluno da EJA.
Em princípio, as palavras geradoras se tornavam instrumento que
conduzia o debate durante o trabalho de alfabetização. O objetivo
principal centrava-se em melhorar a compreensão de mundo dos
integrantes do grupo. Posteriormente, o Tema Gerador sustentava
o debate integrando ou associando palavras geradoras à novas
situações reais, que contribuíam para a compreensão de mundo.
(BRANDÃO, 2005)
Brandão (2005) indica que, tal como no caso das palavras
geradoras, uma série de temas geradores foram estruturados,
seguindo o resultado da pesquisa realizada preliminarmente, entre
os futuros participantes do Círculo da Cultura. Observe abaixo
alguns temas indicados a partir da pesquisa:
1) A natureza e o homem: O ambiente;
2) Relações do homem com a natureza: O trabalho;
3) O processo produtivo: O trabalho como questão;
4) Relações de trabalho (operário ou camponês);
5) Formas de expropriação: Relações de poder;
6) A produção social do migrante;
7) Formas populares de resistência e de luta.
Nessa etapa os alunos trabalham com análise de textos simples,
retratando a leitura da realidade social, bem como as dificuldades
da língua. Os alunos que apresentavam maior dificuldade em
acompanhar o grupo recebiam atendimento voltado à revisão do
estudo.
Desde as primeiras ideias de Paulo Freire e sua equipe da
Universidade Federal de Pernambuco, nada precisou ser rígido no
método, nada imposto sobre a realidade. Ele servia a cada
situação. O mesmo trabalho coletivo de construir o método, a cada
vez que fosse utilizado, centrava-se também no trabalho de
ajustar, inovar e criar a partir dele. Nada era lei, a não ser as leis
da lógica do ato de aprender os princípios gramaticais da língua.
De acordo com Brandão (2005), o Círculo da Cultura ampliava o
diálogo, que favorecia a leitura crítica da realidade social e uma
leitura correta da língua, que é parte desta realidade.
10 REDIMENSIONAMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
Paulo Freire (1992) argumenta que não podemos deixar de lado,
desprezado como algo imprestável, o que o aluno traz consigo
sobre a compreensão do mundo, nas mais variadas dimensões de
sua prática individual e social. Sua fala, sua forma de contar, de
calcular, seus saberes, sua religiosidade, seus saberes em torno
da saúde do corpo - remédios caseiros, sexualidade, vida, morte,
entre outros. Sua experiência de vida contribui para o crescimento
de todos.
A alfabetização e a democratização da cultura como ato de criação
e recriação; construção reflexiva do pensamento.
O redimensionamento do conceito da EJA na atualidade,
compreendida como prática social, possibilitou para alguns a
compreensão de que a EJA passa a ser entendida como a
educação que ocorre ao longo da vida de sujeitos adultos. A EJA
atualmente preocupa-se com a formação humana, e com a prática
social.
11 RELAÇÃO ENTRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Em nossa Unidade I, iniciamos uma reflexão buscando, a
princípio, conceituar Alfabetização e Letramento. Agora damos
continuidade à nossa proposta, com o propósito de aprofundar
conhecimentos sobre o tema.
O sentido do processo de Alfabetização e Letramento se revela
em sua própria função, seu uso e sua prática a partir da realidade.
Para a autora, o processo de Alfabetização pressupõe um
processo de mediação intencional, ou seja, acontece de maneira
sistemática e direcionada, na qual o próprio texto se torna ponto
de partida e chegada do trabalho pedagógico desenvolvido em
sala de aula.
O processo de alfabetização exige preparo teórico e metodológico
do educador, entendido no contexto como um agente mediador do
conhecimento. Alfabetização deve garantir ao aluno a reflexão
contínua sobre a língua, quando aproximada ao Letramento. Isso
quer dizer que cabe ao professor organizar o seu planejamento
tendo em vista que as situações de ensino e aprendizagem
garantam, na prática, reflexão sobre a língua de um modo vivo e
dinâmico. Assim, a organização do trabalho pedagógico do
professor alfabetizador deve prever o planejamento de atividades
e ambiente que estimulem a alfabetização e o letramento, que
garantam ao aluno o contato efetivo e reflexivo sobre a língua.
Soares (2001), ao traçar um paralelo entre Alfabetização e
Letramento, argumenta que o Letramento envolve as múltiplas
formas de apropriação, domínio e uso da língua oral e escrita, ou
seja, implica na forma como se empregam a leitura e escrita diante
da prática social. Implica na apropriação, no uso e práticas sociais
de leitura e escrita, circulares em determinada cultura.
Dessa reflexão, o Letramento, ou seja, o ato de alfabetizar, ganha
“nova roupagem” perante as discussões ligadas ao trabalho da
escola e, por conseguinte, o trabalho do professor mediador entre
o ensino e a aprendizagem. Tanto a escola como seu corpo
docente, ao assumirem compromisso para com a formação de
sujeitos plenos, devem lhes dar condições de se envolverem em
práticas e usos sociais de leitura e escrita demandados pelo
contexto social.
diferentes abordagens:
Como tratamos até aqui, pensar no trabalho a ser desenvolvido
pelo professor em sala de aula cujos alunos são jovens e adultos
indica também pensar na prática do professor em sala de aula, no
acolhimento dado a esse aluno, no respeito à história de vida
desse aluno.
Muitos autores que tratam sobre a Alfabetização de Jovens e
Adultos chamam a atenção dos professores para que tomem
cuidado com a “Infantilização do Ensino” durante o
desenvolvimento das atividades em sala de aula. Isso significa que
a Alfabetização deve ser tratada de forma diferente do momento
em que o professor alfabetiza as crianças nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental.
Qual espaço pode ser utilizado como sala de aula?
Todos os espaços solidificam aprendizagem
Ao tratar sobre a permanência e aprendizagem do aluno da EJA
no espaço escolar, muitos autores argumentam que, diante da
garantia de continuidade do processo de ensino e aprendizagem,
é preciso redesenhar a configuração da escola.
Questão para reflexão:
Caro aluno, desde o inicio de nosso estudo, chamamos sua
atenção sobre a relação do aluno para com a escola e seus
professores , afinal essa relação se torna uma das principais
ferramentas que contribui, inclusive para a mudança de
paradigmas proposto por Paulo Freire.
Na perspectiva de trabalho indicada por Freire, a sala de aula
“silenciosa e silenciadora” deve ser entendida, pelo professor,
como “espaço de escuta”, diferente da escola do passado, em que
a cópia, o decoreba e os castigos imperavam, juntamente com o
autoritarismo do professor.
Contudo, ressignificar a escola não equivale reduzir exigências em
termos de produção de leitura e leitura. Ressignificar a escola
significa valorizar o aluno como alguém pleno, cheio de
possibilidades, alguém que pode sistematizar saberes alcançados
pela memória e traduzidos pelo registro, pelas novas maneiras de
interpretá-los. Atualmente, a principal função da escola está em
procurar democratizar os conhecimentos produzidos
historicamente pela humanidade.
O trabalho dos profissionais na escola deve estar voltado em
buscar formas de elevar a consciência alienada e fragmentária dos
alunos a uma consciência clara e coerente de mundo.
Para ressignificar a sala de aula, deve-se ter presente:
1 - O entendimento de que alunos da EJA possuem experiências
sociais, culturais e afetivas que lhes permitam acúmulo de
saberes,
2 - A convicção de que a condição de analfabeto não implica em
patologias tais como: déficit ou deficiência,
3 - O analfabetismo não deve ser entendido como expressão
individual de fracasso, mas sim como forma de exclusão
socialmente construída,
4 - A mediação entre o universo da oralidade e o universo da
língua escrita pode se realizar através da compreensão de que a
leitura da palavra escrita não deva ser descontextualizada da
leitura do mundo. Deve ser valorizado o universo vocabular dos
alunos (linguagem falada), bem como sua representação de
mundo, socialmente produzido.
13 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – DIREITO NEGADO?
Alguns autores entendem a Educação de Jovens e Adultos como
educação que tenta restaurar um direito negado ao cidadão.
Dentre esses direitos, destaca-se o direito do cidadão de ter
acesso e frequentar em tempo oportuno o espaço escolar. Uma
escola de qualidade priorizando um modelo de educação que
atenda às reais necessidades de aprendizagem, específica de
cada aluno. Essa educação ainda deve favorecer aos sujeitos sua
inserção no mundo do trabalho, na vida social e cultural.
Nessa perspectiva, a EJA permite a possibilidade de efetivação de
um caminho em que jovens e adultos atualizem seus
conhecimentos de forma permanente. Desenvolvam seu potencial,
suas habilidades, troquem experiências e busquem acesso a
novas formas de inserção na prática social.
A Pedagogia de Paulo Freire na sala de aula, segundo (Vale,
2005), prioriza:
1 - Trabalho educacional, sintonizado com princípios éticos,
políticos e pedagógicos de Freire. Prioriza temas de relevância
social, ou seja, Temas Geradores.
2 - Importante valorizar o conhecimento anterior do educando,
próximo de sua realidade, sua linguagem, concepção de mundo,
de seu nível de desenvolvimento. A partir desses, caminhar para o
conhecimento sistematizado, analisando criticamente a
necessidade de transformação da realidade que se apresenta.
3 - Freire inovou na forma de alfabetizar, criticou o ensino
tradicional, isto é, a simples transmissão e repetição de conteúdos,
pois o Método de Alfabetização indicado por Freire “prioriza a
leitura de mundo que precede a leitura da palavra”.
4 - Freire afirma que a criticidade ou a indignação podem aliar
denúncia e anúncio a relatos e conquistas, alcançados a partir de
confrontos, interesses contraditórios e busca coletiva de soluções.
5 - Os temas sociais podem ser trabalhados de forma crítica,
criativa e estética, seguindo manifestações artísticas valorizadas
pelo trabalho educativo.
6 - Freire foi reinventado quando a linguagem midiática e o acesso
às novas tecnologias foram aplicados à educação de jovens e
adultos.
7 - Passaram a ser analisados e questionados os preconceitos
usuais que retratam a mulher em sua condição feminina, negros,
índios e analfabetos. Também analisam a imposição de valores
ligados à classe dominante, tais como: competição, fanatismo,
diálogo e consenso.
8 - Tais princípios éticos, políticos e pedagógicos defendidos por
Freire se aplicam a toda situação pedagógica.
9 - O método de alfabetização de adultos criado pelo educador
Paulo Freire foi considerado uma ameaça ao sistema, pois
buscava a conscientização, o protagonismo político e a
transformação de cada alfabetizando em sujeito de sua própria
aprendizagem e de sua história.
Caro aluno, quase finalizando a UNIDADE II de nossa webaula,
deixo para você indicação de algumas obras escritas por Paulo
Freire durante sua caminhada pela Educação. Importante a leitura
das obras do autor, para conhecê-lo melhor. Através da leitura,
dos escritos do autor, você tem a oportunidade de viajar através
da imaginação, dar “corpo à melhor essência de seus
pensamentos”.
A Educação na Cidade
Política e Educação
Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar
À sombra desta mangueira
Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis
Educação como prática da Liberdade
Extensão ou Comunicação
Ação Cultural para a Liberdade
Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa
Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos
Pedagogia dos sonhos possíveis
Pedagogia da Tolerância
Pedagogia do Oprimido
Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do
Oprimido.
Nossas despedidas:
Desejo que possamos ter contribuído nessa caminhada de “suas
conquistas diárias”.
Não se esqueça de seu compromisso com a Educação...
Muito sucesso para você...