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Olá! Sejam bem-vindos à nossa webaula!

Caro acadêmico, atualmente somos envolvidos pelas contradições do


mundo globalizado. Um dos grandes desafios apresentados à educação
diz respeito à atenção que deve ser dada à Educação de Jovens e
Adultos. Seguindo inclusive a legislação, alguns entendem a EJA como
processo compensatório, no qual, muitas vezes, se desqualifica seus
frequentadores, alunos trabalhadores que trazem para o ambiente da
escola a marca da destituição de direitos e luta pela vida. Não podemos
considerar a EJA ignorando sua história e sua riqueza de experiências.
A Educação de Jovens e Adultos, caracterizada na LDB 9.394/96 como
uma modalidade de ensino, oportuniza aos adolescentes e adultos,
inclusive da terceira idade (pessoas que não tiveram acesso ou
continuidade aos estudos em idade própria), a oportunidade de iniciar ou
regressar à escola para dar continuidade aos estudos, nos Anos Iniciais
ou Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. A organização da
EJA - Educação de Jovens e Adultos se apresenta motivada pela
interação de fatores que historicamente influenciaram e influenciam essa
modalidade de ensino, ganhando relevância a possibilidade de se
oferecer um programa de educação que atenda às diferentes
necessidades do cidadão a partir de seu contexto sociocultural. Dessa
perspectiva também surge a urgência de formação de professores para
atuarem nessa área do ensino.

ALFABETIZAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS

WEBAULA 1 – Proposta Dialógica


O analfabetismo no Brasil. A alfabetização e a democratização da
cultura como ato de criação e recriação; construção reflexiva do
pensamento.
Conteúdos de Ensino: Temas Geradores. Leitura da palavra e Leitura de
mundo.
Nesta Unidade I de nossa webaula pretendemos tratar sobre o
analfabetismo em nosso país a partir de um recorte histórico que nos
permite conhecer algumas contribuições de Paulo Freire para a
Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Com Paulo Freire podemos
entender como a alfabetização e a democratização da cultura podem
favorecer a criticidade, ou seja, a construção reflexiva do pensamento.
Iniciamos por indicar os conceitos e relações existentes entre os
processos de alfabetização e letramento no contexto escolar. A partir
dessa intencionalidade, mais especificamente pretendemos identificar o
conceito de analfabetismo, alfabetização e letramento seguindo a
proposta de Paulo Freire para com a alfabetização de jovens e adultos.
Em nossa Unidade II buscaremos identificar as práticas utilizadas por
Freire para a Educação de Jovens e Adultos. Ao sistematizar tais
práticas, ligadas à alfabetização, indicadas por Paulo Freire, o
educador/professor terá maior possibilidade de escolhas metodológicas
capazes de atender às demandas vivenciadas no contexto da EJA –
Educação de Jovens e Adultos, além de procurar reconhecer como
essas especificidades conceituais articulam-se com o trabalho
pedagógico realizado no espaço educativo.
Questão para reflexão
Caro aluno, ao iniciarmos nosso estudo, convido você à Colocar-se no
lugar do outro..., esse exercício nos auxilia na compreensão de algumas
situações. Muitas vezes carregamos conosco alguns resquícios de uma
educação informal que contribui sem percebermos para a Discriminação
e Preconceito sobre outra pessoa ou grupo social.
1 - Você já foi abordado por um Analfabeto, que lhe solicitou uma
informação?
2 - Aquele que não lê e nem escreve, e vive em meio à uma sociedade
letrada, sobretudo em espaços urbanos, ainda é considerado por muitos
como ANALFABETO.
3 - Você já imaginou como deve ser a sensação, perante as demais
pessoas, de alguém que não consegue realizar a leitura de uma frase,
de um texto, ou de uma carta?
4 - Como expressar o sentimento da pessoa que não consegue escrever
um bilhete, não consegue realizar a leitura do letreiro do ônibus que
indica um caminho, uma parada?

Dando continuidade a nossa REFLEXÃO:


Ao participar da construção da história, penso que você já tenha
encontrado em seu caminho pessoas analfabetas. Eu, como pedagoga
em instituição de ensino, tenho essa oportunidade constantemente. A
convivência com analfabetos ou com aqueles que por algum motivo
tiveram que se afastar da escola, em determinada fase da vida, nos
convida a refletir sobre “como as marcas dessa desigualdade os
marginaliza”.
O contato com essas pessoas nos permite refletir sobre a importância e
a valorização da caminhada escolar em idade adequada. Sendo assim,
fico feliz em poder compartilhar com você esse nosso tempo de estudo,
como possibilidade de maior compromisso, diante da promoção da
aprendizagem dos alunos da EJA.

Conceituando Analfabetismo

Iniciando nosso estudo, vamos conceituar termos ligados ao


Analfabetismo e Alfabetização. Sugiro que você procure outros autores
além daqueles que indicamos nesse material...
ANALFABETO X ALFABETIZADO
1 CONCEITO DE ANALFABETISMO/ANALFABETO X ALFABETIZADO
De acordo com Soares (2001, p. 33), em termos
gerais, analfabetismo passa a ser “o estado ou condição” de analfabeto.
E analfabeto é o que não sabe ler e escrever. A ação de alfabetizar –
ensinar a ler é designada por alfabetização, e alfabetizado é aquele que
sabe ler e escrever.
Concepção de analfabeto, seguindo pesquisa elaborada por Madeira
(1984, p. 25):
Seio lê... Seio lê uma coisinha... Conheço as letras... não sei ajuntá.
Bom... Letra, letra memo num conheço não. Só um “a” de vez em
quando... mai letra memo, num fui apresentado. (Pausa longa). Eu num
leio, num escrevo, mai já fui na escola, as vez. Foi todo meu estudo, foi
esse. (Pausa). Foi esse dois, três mês, de noite.
O não saber ler é verbalizado num contexto de desvalorização de si
(pessoal e social).
Podemos considerar Analfabeto, segundo Moll (2005), aquele que não
sabe algo, ou seja, aquele queapresenta a negação de um saber e que,
por isso, se encontra excluído de um determinado universo de saberes e
poderes. A autora considera que na sociedade atual, caracterizada
pela necessidade de diferentes leituras de mundo, não existem
analfabetos na acepção da palavra. Existem, sim, sujeitos mergulhados
em variadas situações de letramento. Situações que os identificam como
não possuidores de escolaridade, mas que se encontram iniciados em
outros diferentes processos de alfabetização. A qualidade desta
aprendizagem naturalmente se relaciona com a capacidade que cada
um possui em movimentar-se de forma reflexiva pelo universo dos
códigos produzidos pelo mundo da escrita. De acordo com Moll (2005,
p. 13):
O analfabetismo, encarado como problema pessoal, de falta de
capacidade ou de vontade de quem o detém, é também um elemento
que leva as pessoas a construírem estratégias para decodificar o básico
sem que sejam notadas nesta condição de analfabetos.
Alfabetização: Apropriação da língua escrita: “um saber que pode ser
saboreado na medida em que sua construção passa pelas dobras da
vida”. (MOLL, 2005).

2 CONCEPÇÃO DE ALFABETIZADO
Soares (2001), ao tratar sobre o conceito de “adultos em processo de
alfabetização”, os apresenta como: homens e mulheres marcados por
experiências de infância que os tornaram impossibilitados de
permanecer na escola - por contingências alheias à sua vontade. A
autora ainda argumenta que durante o tempo de permanência desses
no espaço escolar, tais pessoas adquiriram apenas os rudimentos da
escrita.
Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e
escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um
indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita e se inserir
nas práticas sociais de leitura e escrita. Letramento é muito mais que a
aquisição da habilidade de codificar o próprio nome. Passou-se a
verificação da capacidade de usar a leitura e escrita para a prática
social, saber ler e escrever e interpretar um bilhete (SOARES, 2001).
LETRAMENTO não significa aprender a fazer algo por repetição. Sua
prática implica em entendê-lo como uma maneira cultural de utilização
da escrita, ou seja, o que se pode fazer com a escrita. A prática do
letramento envolve valores, atitudes, sentimentos e relacionamento
social. São definidos por regras sociais que regulam o uso e a
distribuição de textos, determinando quem pode produzi-los e quem tem
acesso a eles. Assim, o texto, de acordo com a comunidade, acaba por
determinar sua própria situação ou função.
Terzi (2001, p. 16), considera que o letramento, como fenômeno social,
está sujeito a diversas influências. “A prática social de venda de um
imóvel, por exemplo, adquire uma diferente leitura (interpretação), de
acordo com a comunidade participante”. Enquanto em uma comunidade
a escritura de um terreno é parte de uma situação de compra, venda e
registro de um imóvel envolvendo mais de um proprietário, em outra
comunidade a venda de um terreno é garantida pela palavra empenhada
(palavra de honra). Note que em algumas comunidades as relações de
poder são estabelecidas através de ofícios, em outras a palavra
empenhada basta; entretanto, uma alteração no uso convencional da
língua pode representar uma quebra dos padrões culturais a ponto de
causar conflitos. Citamos como exemplo o que acontece em algumas
regiões durante o período de eleições governamentais, formação de
uma cooperativa, entre outros.
Saiba Mais: Para aprofundar a discussão sobre Letramento, sugiro uma
bibliografia – texto publicado no periódico “Presença Pedagógica”, v. 2,
n. 10, jul/ago 1996, na seção “Dicionário Crítico da Educação”.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.

Diferença entre Analfabeto e Letrado:


Soares (2001), apresenta sob forma de exemplo, a existência do que
indica como fenômeno: considera que um adulto pode ser analfabeto
quando é marginalizado social e economicamente, sem contato com a
leitura e escrita; mas se vive em um meio em que a leitura e a escrita
têm presença forte, se se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por
um alfabetizado, se recebe cartas que outros leem para ele, se dita
cartas para que um alfabetizado as escreva (dita textos pequenos
usando vocabulário e estruturas próprias da língua escrita), se pede a
alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em um lugar, esse
analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-
se em práticas sociais de leitura e de escrita.
Saiba Mais
A autora Soares (2001, p. 39) chama atenção para uma observação
importante: “ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a
ler e a escrever”: aprender a ler e escrever significa adquirir uma
tecnologia, codificar e decodificar a língua escrita. Apropriar-se da
escrita é tornar a escrita própria, ou seja, é assumi-la como sua
propriedade.

Letramento, segundo Soares (2001, p. 43),


[...] é ler em diferentes lugares e sob condições diferentes, não só na
escola, em exercícios de aprendizagem. Letramento é informar-se
através da leitura, é buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir com a
imprensa diária, fazer uso dela, selecionando o que desperta interesse,
divertindo-se com as tiras em quadrinhos.
Questão para reflexão: Quem pode ser considerado o Jovem e o Adulto
na EJA?
Caro aluno leia com atenção e analise em seguida a Diversidade
sociocultural presente na EJA... Quando pensamos na composição e no
atendimento escolar disponibilizado a jovens, adultos e idosos da EJA,
nos referimos também a características ligadas à sua faixa etária e
diversidade sociocultural.
De acordo com o Conselho Nacional de Juventude (Brasil, 2006), são
considerados jovens os sujeitos com idade compreendida entre os 15 e
29 anos, podendo ser percebidos como categoria social que expressa,
através de suas atitudes: valores, comportamentos, visão de mundo,
interesses, necessidades singulares, ansiedades, ou seja, expressa uma
fase de transição para a vida adulta.
Questão para reflexão: Quem é o Jovem e o Adulto da EJA? Muitos
profissionais da área da educação, sem ao menos analisar a história de
vida desse aluno(a), consideram-no inculto, preguiçoso, ignorante e
incapaz, entre outros. Porém, muitas vezes, são trabalhadores que
chegam à escola cansados, pelo dia de trabalho estafante em ofício mal
remunerado.

Marta Kohl (1999), ao descrever o jovem participante da EJA, e ao


refletir sobre como esses pensam e aprendem, afirma que três campos
devam ser considerados para se chegar à sua identificação e definição
de seu lugar social: primeiro: a condição de “não criança”, segundo: a
condição de excluído da escola, eterceiro: a condição de membro de
determinado grupo social e cultural. O jovem, em muitos casos,
seguindo sua história de vida, pode ser identificado como: inculto,
preguiçoso, ignorante e incapaz ou um excluído da escola, e que
posteriormente venha se incorporar a um curso supletivo em fases mais
adiantadas de escolaridade, com maiores chances de concluir o Ensino
Fundamental ou o Ensino Médio. O jovem é bem mais ligado ao mundo
urbano, geralmente envolvido em atividades de trabalho e lazer mais
relacionadas com a sociedade letrada, escolarizada.
Seguindo nossa reflexão, de acordo com Marta Kohl (1999), o adulto
participante da EJA é geralmente o migrante que chega às grandes
metrópoles proveniente de áreas rurais empobrecidas. Muitos são filhos
de trabalhadores rurais, com uma passagem curta e não sistemática
pela escola. Geralmente são trabalhadores que participam, atualmente,
de ocupações urbanas não valorizadas pela sociedade elitizada. Após
experiência no trabalho rural na infância e na adolescência, buscam a
escola tardiamente para alfabetizar-se ou dar continuidade aos estudos.
Para estes educandos, o domínio da palavra escrita deve ser um
exercício provindo do exercício da palavra falada, ou seja, falar de si
mesmo, dos seus anseios e desejos, dos sonhos e das utopias, deve
ser o caminho a ser percorrido como abertura inicial do aprender a ler e
escrever. (FERREIRA, 2007, p. 34).
Atualmente, outra demanda atendida pela EJA centra-se na participação
das pessoas idosas que buscam na escola o desenvolvimento ou
ampliação de seus conhecimentos, oportunidade de convivência social e
realização pessoal. Também se apresentam como alunos da EJA
mulheres que sofrem as consequências de uma sociedade desigual e
patriarcal, o que as impede de participar das práticas educativas no
espaço escolar.
As pessoas com necessidades educacionais especiais e os privados de
liberdade também são atendidas pela EJA, inclusive através de
metodologias educacionais específicas que viabilizam o acesso,
permanência e o êxito do aluno na escola.
Ao focar a educação do campo, o reconhecimento das peculiaridades de
quem vive no campo, iniciando pelas etnias, gêneros, crenças,
diferentes formas de se organizar, lutar, resistir ou diferentes modos de
trabalho, tais como: assalariados rurais temporários, posseiros, meeiros,
arrendatários, acampados, assentados, reassentados, agricultores, vilas
rurais, povos da floresta, indígenas, descendentes negros provenientes
de quilombos, pescadores ribeirinhos e outros, percebemos a
diversidade que deve ser considerada, pois que retrata a questão
sociocultural presente na EJA, com suas histórias de vida, sua cultura,
seus conhecimentos.

É importante buscarmos na história alguns recortes que auxiliam no


entendimento de como a EJA vai conquistando seu espaço no Brasil.
3 O ANALFABETISMO NO BRASIL

Convite: Caro(a) aluno(a), a história da EJA no Brasil se encontra


envolta em um processo sistemático de exclusão das classes populares
do direito à educação, principalmente em se tratando de adultos
representados pela raça negra, indígenas, mulheres e população
economicamente menos favorecida. Não pretendemos, aqui, aprofundar
o tema - porém, convido você a analisar fragmentos da história que
contribuem para o entendimento sobre o trabalho de Paulo Freire e a
realidade atual que envolve a EJA.

No Brasil, desde a Colônia, posteriormente Império e primeira


República, vê-se, através da história, a marginalização do atendimento
às classes populares. Por volta de 1920, durante a República, o
panorama educacional brasileiro apontava que mais de 72% de sua
população era composta de sujeitos analfabetos. Nessa mesma época,
também se caracterizava a diferença entre trabalho manual e trabalho
intelectual, sustentado pelos interesses da elite na formação econômica
e cultural do país.
As preocupações do Estado privilegiando seus fins políticos, ideológicos
e quantitativos, bem como a preocupação dos educadores interessados
em organizar um sistema de ensino, favoreceram sua busca. Os
educadores começaram a pensar em um sistema de ensino que, além
de atender às verdadeiras necessidades pedagógicas da época, ainda
contribuísse para a conscientização das pessoas sobre sua “real
condição de exploração”.
O modelo de ensino que, desde então, começou a perpassar a história
educacional carrega em seus princípios a segregação, o que deixa
restrita aos pobres a oferta de uma educação elementar e profissional,
enquanto a elite é privilegiada com o Ensino Médio e Ensino Superior.
Nessa perspectiva, a concepção de EJA foi sendo estruturada dentro de
um pensamento hegemônico de complementaridade. Caberia ao
professor da EJA, a princípio, suprir conteúdos educacionais dos quais
os adultos foram privados durante sua infância. Desse pensamento
concebeu-se o adulto não escolarizado como um ser humano
desprovido de saberes e, portanto, de cultura.
Historicamente, seguindo as políticas educacionais da década de 1940,
expressa nas campanhas de “erradicação do analfabetismo”, fica o
entendimento de que o adulto analfabeto representava uma doença e
uma vergonha a ser banida da sociedade.
Já nos anos de 1950 a EJA foi tratada como uma educação de base,
através do desenvolvimento comunitário. Duas tendências significativas
despontaram no final desta década: uma que entendia a Educação de
Adultos como uma educação libertadora (conscientizadora) e outra que
a via como educação funcional (profissional). O avanço com relação ao
pensamento hegemônico sobre a condição do sujeito analfabeto pode
ser identificado posteriormente com as ideias de Paulo Freire. De 1946 a
1958, campanhas nacionais de iniciativa oficial foram levadas a efeito
com vistas a erradicar o analfabetismo no Brasil, porém sem muito
sucesso.
Caracterizada pela busca da conscientização das classes populares, a
proposta de Paulo Freire demarcou uma revolução conceitual para a
Educação de Adultos. Em 1958, o 2º Congresso Nacional de Educação
de Adultos foi marcado pela Organização do Plano Nacional de
Alfabetização de Adultos, dirigido por Paulo Freire. Esse plano foi extinto
pelos militares que assumiram o governo após o golpe de 1964.
Sintetizadas durante os anos de 1950 e durante a primeira metade de
1960, as experiências populares de alfabetização, inicialmente no
Nordeste brasileiro e posteriormente em todo o Brasil, ganharam o
mundo com a iniciativa de Paulo Freire, ficando mais conhecidas por
ocasião de seu exílio imposto pela ditadura militar. Imbuído de
experiências práticas, Paulo Freire conferiu à Educação de Jovens e
Adultos referências teórico-metodológicas próprias, permitindo a
inserção da EJA no debate político-educacional brasileiro.
Caro aluno, desejo que tenha entendido nosso propósito até aqui.
Convido você para participar de nossa Teleaula nº 2, nesse momento.

De acordo com Brandão (2005), poucas vezes, no Brasil, um método de


alfabetização provocou tantas discussões por várias décadas depois de
sua criação. A proposta, diante do trabalho da educação popular, foi
imaginada como um instrumento contra a educação bancária. Uma nova
forma de ensinar e aprender.

4 O LEGADO DE PAULO FREIRE - EDUCAÇÃO BANCÁRIA X


EDUCAÇÃO PROBLEMATIZADORA
Em meio à descontinuidade e fragilidade do poder público, a Educação
de Jovens e Adultos toma maior fôlego na política educacional brasileira
no final da década de 1940, com o grande avanço da industrialização,
as exigências da elite e as pressões sociais dos movimentos em defesa
da educação das massas. Nesse tempo já se observavam experiências
representativas apoiadas pelo Estado, pelas organizações sociais e pela
Igreja Católica.
Freire, por volta de 1950, ao realizar um estudo sobre a sociedade
brasileira, qualificou-a de fechada. Uma sociedade em que grande parte
da população parecia domesticada, alienada, reduzida ao silêncio,
incapaz de tomar decisões ou apresentar uma postura mais crítica.
Assim, Freire propôs uma educação enquanto prática democrática da
liberdade, fundamentada no diálogo e na formação de um julgamento.
(BERTRAND, 1998)
A partir da realidade concreta, idealizou a possibilidade de uma
educação transformadora, emancipatória e humanizadora. Segundo
Vale (2005), Freire assumiu o risco de lutar contra diferentes formas de
opressão e de degradação da dignidade humana. Freire (1986)
argumentava que antes a educação era realizada de forma autoritária.
Os professores, até mesmo diante da leitura de um texto oferecido aos
alunos, não propiciavam o desvelamento daquilo que se encontrava
oculto, à sombra da realidade. Para Freire, a alfabetização entendida
como ato criador, ato político, problematizador, permite a leitura do
mundo e da realidade transformada em palavra.
A educação deveria sensibilizar o estudante para seu papel de agente
social. (BERTRAND, 1998). Segundo Freire (1986), na Educação
Bancária os alunos se tornavam depositários dos conteúdos
transmitidos a eles, pois a prática bancária implicava em uma espécie
de anestesia, que acaba por inibir o poder criador dos educandos. Já a
educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica
num constante ato de desvelamento da realidade.
Para Freire, a educação se torna “libertadora na medida em que
incentiva a reflexão e a ação consciente e criativa das classes oprimidas
em relação ao seu próprio processo de libertação”. (FREIRE, 1986, p.
20) Suas reflexões anunciavam um debate que hoje em dia ainda se faz
presente: o conflito das culturas face aos problemas que devem ser
superados quando se pensa na possibilidade de uma qualidade de vida
melhor e, simultaneamente, a necessidade de formar pessoas para uma
cultura crítica. (BERTRAND, 1998).

Quem participou com Paulo Freire da proposta de trabalho?


Agentes de Pastoral, professores, padres, médicos, religiosas,
estudantes, agentes da base: lavradores(as), lavadeiras, migrantes
subempregados, pedreiros, entre outros. Apoiavam e ajudavam no
esforço popular de se organizarem comunitariamente. Desempenhavam
ações de serviço à organização de grupos e movimentos nas
comunidades, através de mutirões. A participação envolvia presença,
criação de espaços de reflexão da ação popular, troca de
conhecimentos e informações necessárias ao povo. (BRANDÃO, 2005,
p. 61)

Saiba mais: O trabalho idealizado por Paulo Freire contou com grande
participação dos Movimentos Populares. O que entendemos por
Movimento Popular?
De acordo com Brandão (2005, p. 57), Movimentos Populares podem
ser entendidos como todas as formas de mobilização e organização de
pessoas das classes populares diretamente vinculadas ao processo
produtivo, tanto na cidade quanto no campo. Os Movimentos Populares
também são lugares de educação política do povo.
Podem ser considerados movimentos populares as associações de
bairros da periferia, os clubes de mães, os grupos de loteamentos
clandestinos, as comunidades de base, os grupos organizados em
função da luta pela terra e outras formas de organização. Também é
parte do Movimento Popular o Movimento Sindical, que, pela sua
natureza, possui um caráter de classe definido por determinada
categoria profissional.

Questão para reflexão: Paulo Freire incitou o início de um grande projeto


que acabou por se constituir em importante teoria do conhecimento.
Suas ideias e experiências ligadas à prática educacional tornaram-se
referência para inúmeros educadores comprometidos com a formação
humana.
Convido você a refletir sobre as palavras de Paulo Freire:
A Alfabetização implica não uma memorização visual e mecânica de
sentenças, de palavras, de sílabas, desgarradas de um universo
existencial, mas uma atitude de criação e recriação. Implica uma
autoformação de que possa resultar uma postura interferente sobre seu
contexto. (FREIRE, 1983, p. 111)
Antes a alfabetização era tratada e realizada de forma autoritária,
centrada na compreensão mágica da palavra, palavra doada pelo
educador aos analfabetos; se antes os textos oferecidos como leitura
aos alunos escondiam muito mais que desvelavam a realidade, agora, a
alfabetização como ato de conhecimento, como ato criador e como ato
político, é um esforço de leitura do mundo e da palavra. (FREIRE, 1981,
p. 18)
Acho que o papel de um educador conscientemente progressista é
testemunhar a seus alunos, constantemente, sua competência,
amorosidade, sua clareza política, a coerência entre o que diz e o que
faz, sua tolerância, isto é, sua capacidade de conviver com os diferentes
para lutar com os antagônicos. É estimular a dúvida, a crítica, a
curiosidade, a pergunta, o gosto do risco, a aventura de criar. (FREIRE,
2003, p. 54)
5 O TRABALHO DE PAULO FREIRE
O método tornou-se um convite para se repensar a relação do homem
com a história, o trabalho, a cultura, a educação e a liberdade.

Método de Alfabetização: A CARTILHA?

Freire idealizou uma educação que acreditava na transformação do


homem e do mundo em que ele vive. Brandão (2005) argumenta que
geralmente os métodos de alfabetização chegam prontos. A cartilha,
nessa perspectiva, pode ser entendida como um saber abstrato, pré-
fabricado e imposto. Uma espécie de roupa de tamanho único que serve
para todos ou para ninguém. Aparecem prontos os cadernos de
exercício, supondo um vazio para aquele que ainda não sabe. O método
Paulo Freire, pelo contrário, indica uma construção, inclusive do material
a ser utilizado, a partir do diálogo e da história de vida de educador e
educando.
Brandão (2005) indica que para Paulo Freire a essência da
alfabetização não devia consentir que quem apresenta a palavra
apresente o tema, pois muitas vezes quem apresenta o tema dirige o
pensamento, e quem dirige o pensamento pode ter o poder de guiar a
consciência.
Dessa maneira, a prática pedagógica fundamentada em embasamento
político acabou por obrigar aqueles que se preocupavam com a
educação a repensar e reconhecer em cada sujeito um agente da
história. A prática pedagógica assim é apresentada seguindo cinco
características. (BERTRAND, 1998).
Como primeira característica indicamos o Diálogo, nele o professor
constrói o conhecimento de modo permanente com o aluno, longe da
prática de dominação. O diálogo é comunicação democrática que
favorece a participação, implica responsabilidade social e política do
homem. Afirma a liberdade dos participantes para construção da própria
cultura.
A educação dialógica parte das experiências de vida, do concreto, do
senso comum, enfim, do cotidiano, para posteriormente relacioná-la com
o conhecimento científico.
A terceira característica expõe a noção de alfabetização social, ou seja,
uma alfabetização que dê sentido a quem dela participa,
desencadeando um debate (Círculo de Cultura). Portanto, não se trata
de aprender apenas a repetir palavras e frases sem sentido, sem
estarem ligadas à realidade social e cultural das pessoas. Segundo
Bertrand (1998), a prática do professor consiste em encontrar e
representar palavras e situações que pertençam ao cotidiano do aluno.
Nessa prática o aluno trabalhador torna-se o agente da sua própria
aprendizagem, aprendendo inclusive a falar sobre seu mundo.
Assim chegamos à quarta característica, que é a formação do espírito
crítico. Nela a alfabetização torna-se um processo de conscientização
sociocultural, no qual os participantes tomam consciência sobre os
problemas da sociedade em que vivem. Momento em que pode
problematizar criticamente a partir de suas próprias experiências,
assumindo o controle sobre sua cultura e sua história; desmistificando a
ideologia dominante, além de procurar libertar-se dos valores indicados
pela classe dominante.
A quinta característica fundamenta-se em formação através da
intervenção social. Se educar significa dar uma direção, aqui a
educação pode ser entendida como tempo de formação do agente
social.Aquele que tem como função libertar-se e libertar os outros da
dominação. Segundo Bertrand (1998),educação não deve servir para
domesticar, através da transferência de conhecimento. Educação deve
estar unida à prática social, ao controle da própria vida, à liberdade de
pensamento e de atitude. Enfim, educação deve servir para analisar os
valores ocultos nas interfaces do conhecimento.
6 O CÍRCULO DA CULTURA: PRÁTICA INICIADA EM ANGICOS
Por volta de 1960, Brandão (2005) confirma que havia uma equipe de
professores nordestinos, da qual ele mesmo era integrante, trabalhando
no Serviço de Extensão Universitária da Universidade Federal de
Pernambuco. Dentre eles, alguns eram participantes do Movimento de
Cultura Popular do Recife.
A proposta de se pensar uma educação “não domesticadora”,
primeiramente surgiu como experiência do MCP - Movimento de Cultura
Popular, envolvendo cinco alfabetizandos (adultos), na periferia de
Recife. Posteriormente a experiência seguiu para Angicos e Mossoró,
também no Rio Grande do Norte, e em João Pessoa, na Paraíba, com o
pessoal da CEPLAR.

Questão para reflexão: O autor trata sobre “Educação Domesticadora”.


Você já sabe sobre qual modelo de educação ele se refere? Você se
lembra do Ensino Tradicional? Entenda os argumentos de uma
educação proposta como Educação Libertadora?

O Círculo da Cultura acolheu os lavradores do Nordeste para


vivenciarem a experiência de serem os primeiros alfabetizados, através
de seu próprio trabalho. Posteriormente, o método foi levado por muitas
mãos ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Paralelo a esse trabalho ligado à alfabetização de adultos, surgiu no
Brasil a criação dos Movimentos Populares de Cultura (MCP), os
Centros de Cultura Popular do Movimento Estudantil (CPC), o
Movimento de Educação de Base da Igreja Católica (MEB), e a
campanha “De Pé no Chão também se Aprende a Ler”, organizado pela
Prefeitura de Natal, com participação de estudantes, professores e
profissionais de outras áreas, cujo objetivo centrava-se em valorizar a
educação e a cultura popular. Dentre os resultados obtidos, nessa
época destacou-se a alfabetização de 300 trabalhadores em 45 dias,
impressionando profundamente a opinião pública.
Após grande comemoração, entre o mês de junho de 1963 e março de
1964, com o apoio do Governo Federal, decidiu-se aplicar o método em
todo o território nacional. Nesse período foram realizados cursos de
formação de coordenadores com o intuito de organizar o trabalho na
maior parte das capitais dos Estados brasileiros. Cabe destacar que
somente no Estado da Guanabara, nessa época, se inscreveram mais
de 6.000 pessoas para atuarem como educadores. O plano previa a
instalação de 20 mil Círculos de Cultura, com o objetivo de atender, no
mesmo ano, por volta de dois milhões de pessoas. Cada Círculo
propunha alfabetizar, em dois meses, uma média de 30 alunos.
As primeiras experiências, segundo Brandão (2005), não conseguiram
se concretizar, pois nos primeiros dias do mês de abril de 1964, a
Campanha Nacional de Alfabetização, idealizada sob direção de Paulo
Freire, foi denunciada publicamente como “perigosamente subversiva”.
Nesse período foram apreendidos milhares de exemplares da cartilha do
Movimento de Educação de Base: Viver é Lutar.
LINK
Para visualizar a Cartilha Viver é Lutar,

acesse:
7 O PRINCÍPIO DO MÉTODO: PROPOSTA DIALÓGICA
7.1 LEVANTAMENTO DO UNIVERSO VOCABULAR
Paulo Freire, seguindo a ideia de que ninguém educa ninguém e
ninguém se educa sozinho, sugeriu que o trabalho fosse construído a
partir do diálogo entre educador e educando. Nada deve ser
apresentado “pronto”, de forma solitária ou impositiva.
Segundo Brandão (2005), Paulo Freire considerava que nas cartilhas e
livros de leitura para adultos, os textos escolhidos acabavam por propor
uma leitura longe da realidade social. Assim, o estudo que desvelava o
segredo da escrita velava a experiência da vida. Apenas existia a
repetição de frases tais como: “Eva viu a uva”, “A ave é do Ivo”, “O Ivo
vai na roça”.
O método indicado por Freire sugere uma construção coletiva na qual o
repertório dos símbolos da alfabetização já é o começo do trabalho de
aprender. Esta primeira etapa pedagógica de construção do método foi
apresentada por Paulo Freire com vários nomes
semelhantes: “levantamento do universo vocabular” (em Educação
como Prática da Liberdade), “descoberta do universo vocabular” (em
Conscientização), “pesquisa do universo vocabular” (em
Conscientização e Alfabetização), “investigação do universo temático”
(em Pedagogia do Oprimido). De livro para livro algumas palavras
mudaram, mas permaneceu viva a ideia de que há um universo de fala
da cultura da gente do lugar, que deve ser: investigada, pesquisada e
descoberta.
Tempo de Pesquisa - A Força da Palavra Vivida
Iniciando o trabalho de construção do material a ser utilizado
posteriormente, em primeiro plano realizava-se a pesquisa do universo
vocabular. Nesse momento, a realidade social entrelaça a vida e o
pensamento dos participantes. A pesquisa se torna um ato criativo, um
momento de descoberta que traduz a visão de mundo colhido através
das falas, da palavra, do desenho, das fotos, da música, da poesia,
entre outros.
“Através da pesquisa simples, de procura das palavras geradoras, na
comunidade, chega-se ao objetivo imediato que centra-se na obtenção
dos vocábulos mais usados pela população a se alfabetizar”
(Conscientização e Alfabetização). Nesse momento torna-se importante
saber explorar com a comunidade as situações de vida e trabalho com a
terra, saber de que modo as mulheres guardam a sabedoria do cuidado
de seus filhos. Enfim, o vivido e o pensado, as palavras, frases,
provérbios, modos peculiares de dizer e cantar o mundo e traduzir a
vida, as rezas, as festas e as discussões no sindicato permitem o
desvelamento do mundo particular que se transforma posteriormente
em Tema Gerador.
Nessa perspectiva, alfabetizar deixa de ser um ato mecânico de ensino
de uma habilidade necessária, para se tornar ato individual e coletivo de
reflexão sobre o vivido.

Questão para reflexão: Caro aluno, a partir do levantamento das


“palavras”, segundo Brandão (2005), a pesquisa descobre as pistas para
as etapas seguintes do aprendizado coletivo e solidário de uma dupla
leitura: a da realidade social e a da palavra escrita que a traduz. Assim,
o método indica algumas regras, que em momento algum predominam
através da imposição de uma forma única sobre o “como fazer”. Existe a
liberdade constante de recriação e inovação do método e dos
procedimentos de trabalho.

8 PALAVRAS GERADORAS

Brandão (2005), reportando-se ao pensamento de Paulo Freire, indica


que o idealizador de uma cartilha de alfabetização, ao escolher as
palavras para o ensino da leitura, lança mão de critérios linguísticos que,
muitas vezes, de forma neutra, se submetem ao pedagógico. No método
indicado por Freire, das falas registradas, escritas, gravadas, guardadas
na memória que recontam a vida do lugar, valorizava-se as palavras que
posteriormente se transformavam em Tema Gerador. Alfabetizar
deixava de ser um trabalho mecânico.
As palavras deixam de ser apenas um instrumento de leitura da língua
para se tornarem instrumento de releitura coletiva da realidade social, da
relação construída entre os homens. Leva-se em consideração, para o
critério de escolha das palavras geradoras, aquela riqueza fonêmica,
dificuldade fonética da língua (conjunto de sinais e sílabas) e densidade
pragmática de seu sentido (conjunto de reações socioculturais gerado
pela palavra nas pessoas que a utilizam).

As palavras geradoras deixavam de ser apenas um instrumento de


leitura da língua; eram símbolos concretos do cotidiano das pessoas e,
posteriormente, instrumentos de releitura coletiva da realidade social, da
compreensão de mundo.
Como todo o trabalho de alfabetização era então feito em comunidades
de lavradores (camponeses, agregados, peões de lavoura), a ordem das
palavras procurava seguir de perto a sequência do ciclo do trabalho
agrícola do plantio de cereais: o preparo do solo, a aração, o plantio, a
colheita, o armazenamento, a comercialização e o beneficiamento da
colheita.
As palavras geradoras não precisavam ser muitas. De 16 a 23 era o
bastante. Precisavam, em conjunto, responder aos critérios de escolha.
Interessante observar que as palavras codificam o modo de vida das
pessoas e dos lugares, para serem decodificadas num outro momento
de descoberta, ou seja, o do círculo de cultura-debate. Cada palavra
associava um núcleo de questões: existenciais (ligadas à vida) e
políticas (ligadas aos determinantes sociais das condições da
vida). Como exemplo, a palavra “batuque” imprimia como aspectos de
discussão: “cultura do povo, folclore, cultura erudita, alienação cultural”,
enquanto que a palavra “governo” expressava: “plano político, o poder
político, o papel do povo na organização e participação popular”.
Veja alguns exemplos indicados por Brandão (2005): Para uma
comunidade em Cajueiro Seco, no Recife, a equipe escolheu as
seguintes: tijolo, voto, siri, palha, biscate, cinza, doença, chafariz,
máquina, emprego, engenho, mangue, terra, enxada, classe. Para uma
colônia agrícola da cidade do Cabo, em Pernambuco: tijolo, voto,
roçado, abacaxi, cacimba, fome, feira, milho, planta, lombriga, engenho,
guia, barracão, charque, cozinha, sal, enquanto que as palavras
geradoras escolhidas para uma campanha de alfabetização nos morros
e favelas do Rio de Janeiro foram estas: favela, chuva, arado, terreno,
comida, batuque, poço, bicicleta, trabalho, salário, profissão, governo,
mangue, engenho, enxada, tijolo, riqueza.

Quase concluindo a UNIDADE 1 de nossa webaula, apresento para


você um resumo biográfico – Cronologia sobre Paulo Reglus Neves
Freire. É importante que você tome conhecimento, pois alguns detalhes
tratados durante nossas discussões ainda podem ser esclarecidos.
Também indicamos alguns trabalhos desenvolvidos por ele, inclusive
fora do Brasil, que merecem maior aprofundamento...
Paulo Reglus Neves Freire. (Vale, 2005, p. 64)

 1921-Nascido: 19 de setembro de 1921 Local: Recife –


Pernambuco.
 1927- Aos 6 anos é alfabetizado pelos pais. Paulo Freire perdeu
seu pai aos 13 anos de idade e teve que interromper seus
estudos, pois a renda familiar não era suficiente para o sustento de
todos e a permanência na escola.
 1937 – Ingressa no Colégio Osvaldo Cruz, em Recife, como
bolsista.
 1941 – Assume a docência: Língua Portuguesa no mesmo colégio
onde estudou - Colégio Osvaldo Cruz.
 1943 – Inicia Curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife.
 1947/1957 – Freire desistiu da profissão de advogado e aceitou o
convite de um amigo para incorporar-se ao recém-criado Serviço
Social da Indústria – SESI, na Divisão de Educação e Cultura.
Assume a função de diretor do Setor de Educação e Cultura do
SESI.
 1954/1964 – Professor da Escola de Belas Artes da Universidade
do Recife. Com os operários do Recife, Paulo Freire e Ariano
Suassuna desenvolveram uma experiência pioneira no SESI:
lançaram as bases para a prática de um teatro popular autêntico,
participante e comunicativo. Teatro como canal de
conscientização, de leitura de mundo e comunicação entre palco e
plateia, sob a mediação de um coordenador de debates, na figura
de um personagem fantástico ou mítico, cuja função seria de
apresentar comentários e diálogos com a plateia. Nessa
experiência o teatro foi linguagem artística fundamental, aplicada à
educação. Teve atuação importante nos quadros do SESI.
 1958 - Apresenta “A Educação de Adultos e as populações
marginais: o problema dos mocambos”, no II Congresso Nacional
de EJA.
 1959/1960 - Defende a tese: “Educação e Atualidade Brasileira”,
obtém o título de Doutor em Filosofia e História da Educação.
 Na década de 1960, como outros jovens brasileiros, Paulo Freire,
já adulto, engajou-se no movimento transformador e participou da
fundação do Movimento de Cultura Popular, lançado pelas forças
progressistas de Recife, e coordenou, nessa ocasião, o Projeto de
Educação de adultos. Impressionado com os resultados
alcançados pelo Método Paulo Freire, na alfabetização de
camponeses de Angicos, o então Ministro da Educação convida
Paulo Freire para coordenar o Programa Nacional de
Alfabetização.
 A meta era alfabetizar cinco milhões de brasileiros em dois anos, e
implantar, em 1964, mais de 20 mil Círculos de Cultura. Mesmo
que alguns governantes utilizassem a alfabetização apenas com
objetivos eleitorais, o Método Paulo freire ia muito além, buscando
apoiar a transformação dos alfabetizados em sujeitos de sua
própria aprendizagem, de seu próprio processo de
conscientização, de seu protagonismo político, de seu próprio
projeto de vida. O golpe de 1964 interrompeu o governo João
Goulart e todas as suas propostas. O Programa Nacional de
Alfabetização foi oficializado em janeiro de 1964 e extinto, pelo
governo militar, em abril do mesmo ano.
 Desenvolve as primeiras experiências de Alfabetização de Adultos.
 1962/1963 - Estende a experiência com seu Método para a cidade
de Natal, João Pessoa e Angicos. Em Angicos alfabetiza 300
trabalhadores. Este trabalho obteve grande repercussão nacional
e internacional.
 Compromisso com a Educação transformadora, emancipatória e
humanizadora.
 Propõe um Método de Alfabetização, no qual a leitura de mundo
precede a leitura da palavra.
 Lutou através da palavra contra diversas formas de opressão e de
degradação da dignidade humana.
 1963/1964 - Inicia o Projeto que se chamaria, em 1964, Programa
Nacional de Alfabetização, alfabetizando adultos no Gama,
Brasília, DF.
 Coordena o “Programa Nacional de Alfabetização”, no governo de
João Goulart.
 1964 - Golpe militar no Brasil: instaura-se a ditadura militar. O
golpe de Estado, instaurado no Brasil, levou ao poder as forças
armadas. Foi então decretado o AI-1 (Ato Institucional 1), que
cassou mandatos, suspendeu a imunidade parlamentar e os
direitos políticos e acabou com as garantias de vitaliciedade dos
magistrados e a estabilidade dos funcionários públicos. O Brasil,
então, passou a viver sob séria censura, aos meios de
comunicação e aos chamados “de esquerda”, tidos como
comunistas.
 Foi nesse contexto que o método de alfabetização de adultos,
criado pelo educador Paulo Freire, foi considerado uma ameaça
ao sistema, pois buscava a conscientização, o protagonismo
político e a transformação de cada alfabetizando em sujeito de sua
própria aprendizagem e de sua história. Por isso Paulo Freire foi
preso no 14º Regimento de Infantaria em Recife, acusado de
atividades subversivas.
 Depois de 70 dias na prisão, conseguiu a liberdade, mas não a
segurança de poder continuar o seu trabalho de educador e
filósofo da educação sem ser novamente preso. Assim, contra a
sua vontade, parte para o exílio. Foi para a Bolívia. Pressionado
pelas tensões políticas do golpe militar também na Bolívia, onde
permaneceu em torno de um mês, Paulo Freire parte para o Chile.
No Chile integrou o Ministério da Reforma Agrária e coordenou
campanha de alfabetização dos camponeses chilenos. Nesse país
ele conseguiu pôr em prática as suas ideias e experimentou a sua
metodologia em um ambiente diferente daquele em que foi
concebido.
 O Movimento Brasileiro de Alfabetização – Mobral foi criado em
1969 com a proposta de erradicar o analfabetismo do Brasil em 10
anos. Enquanto o objetivo do programa Nacional de Alfabetização,
elaborado por Paulo Freire, em 1963, era alfabetizar despertando
no jovem e no adulto um processo de conscientização sobre a
realidade vivida, pela transformação dessa mesma realidade, o
Mobral propunha um programa de alfabetização funcional, visando
à aquisição de técnicas de leitura, escrita e cálculo.
 O método de alfabetização empregado pelo Mobral fez uso do
Método Paulo Freire, esvaziando seu teor politizador. Palavras
geradoras também estavam presentes nos procedimentos de
alfabetização do Mobral, mas não no sentido dado por Paulo
Freire: palavras selecionadas dentre os vocábulos mais usados
pela população a ser alfabetizada. O Mobral utilizava,
contraditoriamente, palavras geradoras padronizadas para todo o
Brasil, desconsiderando a realidade local. Foi extinto em 1985 com
o fim do regime militar.
 1966 - Como professor convidado, Freire esteve no México,
Estados Unidos, viveu por 10 anos em Genebra, Suíça, Ásia,
Oceania, e para países de língua portuguesa na África – Cabo
Verde, Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau.
 1969 - Lecionou na Universidade de Harvard.
 1970 – Trabalha como consultor do Departamento de Educação
do Conselho Mundial de Igrejas.
 1971 – Funda o IDAC - Instituto de Ação Cultural.
 1975/1979 - Atua na África, com a equipe do IDAC nos programas
de Educação e de Alfabetização da Guiné-Bissau, Cabo Verde,
Angola, São Tomé e Príncipe.
 1979/1980 - Governo militar brasileiro concede anistia aos
exilados.
 Paulo Freire volta definitivamente, do exílio, ingressando como
docente na PUC – São Paulo e UNICAMP – Campinas.
 1986 – Recebe o prêmio “Educação para a Paz” da Unesco, em
Paris-França.
 1989 – Assume a Secretaria de Educação do Município de São
Paulo, na gestão de Luíza Erundina. De 1989 a 1991, atuou no
sentido de “mudar a cara da escola”, na política popular de
educação. Implementou o projeto MOVA – Movimento de
Alfabetização de Adultos.
 1997 - Falece Paulo Freire aos 75 anos, no dia 2 de maio, de
infarto agudo do miocárdio, na cidade de São Paulo.
 VÍDEO
 Importante: Se você sentiu-se atraído no sentido de aprofundar
seus estudos sobre o tema, acesse: Dissertação de Mestrado de
Cláudia Moraes de Souza, intitulada “Nenhum Brasileiro sem
Escola”, orientada pela Profa. Dra. Zilda Marcia Gricoli Iokoi,
concluída em 1999 na Universidade de São Paulo.

 Link:

 Para concluir o Estudo da Unidade I
 RESUMO:
 Nessa primeira unidade tivemos a oportunidade de refletir sobre a
trajetória de Paulo Freire frente à organização do processo
educacional ligado à modalidade de ensino Educação de Jovens e
Adultos. Identificamos sua participação ainda durante a fundação
do Movimento de Cultura Popular (MCP), em Recife, estando à
frente do projeto de “Educação de Adultos”.
 No final da década de 1950 e início da década de 1960,
juntamente com uma equipe de profissionais e lideranças da
comunidade nordestina, assumiu o risco de lutar contra diferentes
formas de opressão e de degradação da dignidade humana.
 Seu projeto visava, através da alfabetização, conscientizar a
população oprimida, dentre eles os operários e camponeses
analfabetos, sobre a possibilidade de conquista de uma maior
autonomia e liberdade de expressão. Suas ideias, aliadas à sua
prática educacional, tornaram-se, posteriormente, referência para
os educadores comprometidos com a causa dos oprimidos.
 Paulo Freire, Adriano Nogueira e Dermeval Saviani participaram
de um debate (Caderno Pedagógico. A Educação no século XXI,
Pr. APP Sindicato, 2003) no qual se buscava desenhar o perfil do
educador do século XXI. Nesse colóquio, Paulo Freire destaca que
a continuidade da história se torna fundamento para a
compreensão e a explicação sobre o “agir humano”. Uma
continuidade que se conquista não pela repetição, mas pela ação;
pois o homem segue como ser histórico – historicizando até em
meio à fome, à miséria e à degradação humana.
 1º Passo: Assim, observe um recorte de texto em que Paulo Freire
(2003, p. 45) argumenta sobre Educação atualmente:
 Para Paulo Freire, diante da ciência se torna impossível propor
que a educação deve ser apenas adaptação do homem a um novo
paradigma. Educar é bem mais do que capacitar técnica e
cientificamente. Nesses termos - capacitar significa adestrar. No
passado, muitos pensavam que educar era apenas politizar sem
preocupar-se com a formação técnica, instrumental. Hoje ambas
são importantes: a formação técnico-científica e a leitura de mundo
tornaram-se leituras necessárias. A leitura de mundo e a
competência técnica vão se incorporando à natureza do “ser
homem”, contribuindo para que a história continue sendo
historicamente constituída.
 2º Passo: Após a leitura desse recorte, observe as figuras
indicadas abaixo, que lhe foram apresentadas durante a
elaboração dessa Unidade 1, e analise: Qual relação você
consegue esquematizar associando o pensamento de Paulo Freire
e as imagens?
 De que forma a leitura de mundo e a competência técnica podem
contribuir para que o homem produza história?



 Finalizamos aqui a nossa primeira webaula. Até a próxima.

BERTRAND, Yves. Teorias Contemporâneas da
Educação. Lisboa, Horizontes Pedagógicos - Instituto Piaget,
1998.
 BRASIL. Política Nacional de Juventude: diretrizes e perspectivas.
São Paulo: Conselho Nacional de Juventude; Fundação Friedrich
Ebert, 2006.
 BRANDÃO, Carlos R. O que é Método Paulo Freire. S. P., Coleção
Primeiros Passos–38, Edit. Brasiliense, 2005.
 FERREIRA, Maria das Graças. Uma Pedagogia para o Adulto
Des/Escolarizado. In: XAVIER, Marcia Rejania Souza (Org.). Ciclo
de Leituras Paulo Freire. Londrina: Edições Humanidades, 2007.
 FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se
completam. SP: Cortez/autores associados, 2003. p. 18.
 FREIRE Paulo. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1981.
 FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1983.
 FREIRE, Paulo. Educação, o sonho possível. In: BRANDÃO, C.
(Org.). Educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Graal,1986.
 KOHL, Marta Kohl de Oliveira. Jovens e Adultos como sujeitos de
conhecimento e aprendizagem. Trabalho apresentado na XXII
Reunião Anual da ANPED, Caxambu, set. 1999. Revista Brasileira
de Educação, n. 12, p. 59-73, set/out./nov./dez. 1999.
 MADEIRA, M. C. A educação vista pelo analfabeto. In: ANDE, n. 8.
São Paulo: Cortez, 1984.
 MOLL, Jaqueline. EJA como política publica local: atores sociais e
novas possibilidades educativas: Educação e Realidade. Porto
Alegre, v.01, n.01, p. 09-24, jul./dez. 2005.
 SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.
 TERZI, Silvia Bueno. Para que ensinar a ler o jornal se não há
jornal na comunidade? O letramento simultâneo de jovens e
adultos escolarizados e não escolarizados. In: RIBEIRO, Vera M.
(Org.). Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas
leituras. Campinas, SP: Mercado de Letras – ALB: Ação
Educativa, 2001.
 VALE, Maria José. Paulo Freire, educar para
transformar: almanaque histórico. São Paulo: Mercado Cultural,
2005.

 BEISIEGEL, Celso de Rui. Política e Educação Popular: a teoria e
a prática de Paulo Freire no Brasil. São Paulo: Ática, 1992.
 BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 dezembro de 1996. Estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União,
Brasília, p. 027833, col. 1, 23 dez. 1996.
 BRASIL. MEC/ CNE. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação de Jovens e Adultos. Despacho do Ministro em 7 de
junho de 2000, publicado no Diário Oficial da União de 9 junho de
2000.
 BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação.
Brasília. 2001.
 BRASIL. Ministério da Educação. Proposta curricular para a
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 BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
PARECER CNE/CEB nº 5/2011, aprovado em 04/05/2011.
 FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 2001.
 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a
pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1992.
 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra,
1987.
 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
 FERNANDES, Calazans; TERRA, Antonia. 40 horas de
esperança: O método Paulo Freire: política e pedagogia na
experiência de Angicos. São Paulo: Ática, 1994.
 Fórum Paranaense em Defesa da Escola Pública. Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional. Curitiba: APP, 1997.
 GOHN, Maria da Glória. Educação não formal, participação da
sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. In: Ensaio:
aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p.27-38, jan/mar.,
2006.
 KUENZER, Acácia Zeneida. Ensino Médio: construindo uma
proposta para os que vivem do trabalho. São Paulo: Cortez, 2000.
 KUENZER, Acácia. Exclusão Includente e Inclusão Excludente: a
nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações
entre educação e trabalho. In: LOMBARDI, J.C.; SAVIANI, D.;
SANFELICE, J. L. (Org.). Capitalismo, Trabalho e Educação.
Campinas - SP: Autores Associados, 2002.
 MADEIRA, M. C. A educação vista pelo analfabeto, em ANDE, nº
08. São Paulo: Cortez, 1984.
 MOLL, Jaqueline. EJA como política publica local: atores sociais e
novas possibilidades educativas: Educação e Realidade. Porto
Alegre, v.01, n.01, p. 09-24, jul./dez. 2005.
 PAIVA, V. P. Educação popular e educação de adultos. 2.
ed. São Paulo: Loyola, 1983.
 PIASSA, Zuleika. Pedagogia do Oprimido. In: XAVIER, Marcia
Rejania Souza (Org.). Ciclo de Leituras Paulo Freire. Londrina:
Edições Humanidades, 2007.
 PROEJA. Proposta de documento para análise e consideração
dos coordenadores de Polos da Especialização. Circulação interna
capacitação de profissionais do ensino público para atuar na
Educação profissional integrada à educação básica na Modalidade
de Educação de Jovens e Adultos, 2007.
 SEED. Diretrizes Curriculares para Educação de Jovens e Adultos,
Curitiba, 2006. Disponível em: < http://diaadiaeducacao.pr.gov.br
>. Acesso em: 15 abr. 2014.
 SEED, Secretaria de Estado da Educação. Departamento de
Educação Profissional. Educação Profissional Integrada à EJA.
Curitiba, 2007.

 WEBAULA 2 – Redimensionamento da Educação de Jovens e


Adultos
 As teorias de Freire para a Alfabetização e as fases do seu
Método.
 Fases do Método - Levantamento do universo vocabular; escolha
das palavras selecionadas do universo vocabular pesquisado;
criação de situações existenciais e apresentação de fichas com a
decomposição das famílias fonéticas.
 Caro aluno, dando continuidade às nossas reflexões, convido você
a aprofundar um pouco mais seus conhecimentos sobre o tema.
Nessa introdução resgatamos as discussões da Unidade 1 para
melhor compreensão dos itens posteriores.
 Questão para reflexão: Será que a Educação na visão do
analfabeto tem a ver com as relações de poder estabelecidas pela
sociedade?
 1 INTRODUÇÃO
 No início dos anos de 1960, a juventude resolveu se assumir como
sujeito da história e construir seu mundo. O entusiasmo da época
idealizava que a participação de todos em projetos sociais
pudesse contribuir para que a população conquistasse maior
liberdade de expressão e um futuro mais feliz.
 A União Nacional dos Estudantes (UNE) discutia questões
nacionais e perspectivas de transformação que sugeriam a
mobilização de todos os envolvidos. O Centro Popular de Cultura
(CPC), ligado à UNE, se espalhava pelo país, travando contato
com bases universitárias, operárias e camponesas. Seu ideal era a
construção de uma cultura nacional, popular e democrática,
através de atividades que possibilitassem a conscientização das
classes populares, restituindo-lhes a consciência de si mesmas.
 De acordo com Vale (2005), o movimento estudantil abalava os
alicerces do mundo adulto, envolvendo principalmente áreas
ligadas à cultura e à política. A participação radical de estudantes
era estabelecida através de teatro popular, shows de música,
cinema, produção de livros, revistas e panfletagem, entre outros. A
efervescência cultural e política em pouco tempo acabou por
provocar uma transformação social.
 Paulo Freire, jovem da época, engajou-se na cidade de Recife, em
um dos grupos que buscavam transformação social. Participou da
fundação do Movimento de Cultura Popular (MCP), coordenando,
nessa ocasião, o Projeto de Educação de Adultos.
 De acordo com Vale (2005), o pensamento dos entusiastas da
época era o de que, mesmo que alguns governantes utilizassem a
alfabetização apenas para fins eleitorais, haja vista que os
analfabetos não podiam votar, o Método Paulo Freire ia muito
além. O método buscava apoiar a transformação dos alfabetizados
em sujeitos de sua própria aprendizagem, de seu processo de
conscientização, de seu protagonismo político e de seu próprio
projeto de vida.
 O então Ministro da Educação, Paulo de Tarso, impressionado
com os resultados alcançados pelo Método Paulo Freire, na
alfabetização de camponeses de Angicos (RN), convida Paulo
Freire, em 1963, para coordenar o Programa Nacional de
Alfabetização. A meta era alfabetizar cinco milhões de brasileiros
em dois anos, e implantar, em 1964, mais de 20 mil Círculos de
Cultura em cidades brasileiras.
 Posteriormente, o golpe de 1964 interrompeu o governo de João
Goulart, com todas as suas propostas. O Programa Nacional de
Alfabetização oficializado em 21 de janeiro de 1964 foi extinto,
pelo governo militar, em 14 de abril do mesmo ano.
 Assim, como já indicamos anteriormente na Unidade 1, as
primeiras experiências com a alfabetização em massa, segundo
Brandão (2005), não conseguiram se concretizar, pois nos
primeiros dias do mês de abril de 1964 a Campanha Nacional de
Alfabetização, idealizada sob direção de Paulo Freire, foi
denunciada publicamente como “perigosamente subversiva”.
Tempo em que foram apreendidos milhares de exemplares da
cartilha do Movimento de Educação de Base: “Viver é Lutar”.
 Questão para reflexão: Indique a partir do texto e de suas análises,
uma resposta para nossa pergunta:
 1- A Educação na visão do analfabeto tem a ver com as relações
de poder estabelecidas pela sociedade?
 Madeira (1984) aborda, em uma de suas pesquisas, como o
homem analfabeto entende a Educação:
 “Cabra educado”, aquele que sabe viver dentro de uma ordem
preestabelecida que é de origem divina, sem colocá-la em questão
ou contestá-la. As qualidades morais enfatizadas estão sempre a
serviço da dependência. Privilegia-se assim a submissão a uma
ordem simbólica pela ratificação da dependência.

 “Ser educado”, significa saber viver dentro de seus limites e se
opõe a “ser revoltado”, ou seja, se condena a atitude de
questionamento à ordem estabelecida por Deus, de contestação
aos patrões e às leis. A contestação é associada à falta de
educação e ao pecado, enquanto que a submissão é valorizada.
 Link
 Convido você para que a partir de agora observe com maior
atenção como as Fichas de Cultura contribuíam com a
alfabetização de adultos. Para tanto, acesse o link indicado abaixo
e faça a leitura do material disponibilizado.

Considerações sobre o Método de Alfabetização


 2 CONCEITO DE CULTURA NA VISÃO DE PAULO FREIRE


 A proposta de trabalho indicada por Paulo Freire caracteriza que a
apropriação do conhecimento se concretiza pela relação dialética
entre a leitura de mundo aliada à leitura do código escrito, sempre
respeitando os saberes populares. Saberes que se constituem
fundamentados no princípio da dialogicidade, ou seja, a
valorização do diálogo entre aqueles que participam do processo.
 Para Paulo Freire, a Leitura de Mundo se encontra atrelada à
cultura. A cultura pode ser entendida como o resíduo que o
trabalho humano deixa sobre o mundo. Passa a ser todas as
formas visíveis ou comunicáveis da significação do diálogo entre
os homens e seu efeito sobre o mundo. (BRANDÃO, 2005).
 Seguindo as primeiras discussões envolvendo o conceito de
cultura, o analfabeto descobriria que cultura é toda ação
humana. Tanto é cultura o boneco de barro feito pelo artista do
campo, como também é cultura o trabalho do grande escultor,
pintor ou pensador da cidade grande. Cultura tanto pode ser a
poesia dos poetas letrados como também a poesia do cancioneiro
popular. (VALE, 2005).
 Reportando-se ao livro de Paulo Freire intitulado “A importância do
Ato de Ler: em três artigos que se completam” (2003), a autora
Vale (2005, p. 26) confirma que todos os povos têm cultura porque
trabalham, transformam o mundo e, ao transformá-lo, todos se
transformam.
 A dança, o ritmo, a ginga dos corpos, a música e a poesia do povo
são manifestações de cultura, como também é cultura o cultivo da
terra. A maneira que o povo tem de se expressar, sorrir, cantar,
andar, falar, os instrumentos que o povo usa para produzir, tudo é
cultura. Enfim, é cultura a forma como o povo entende e expressa
o seu mundo e como o povo entende e compreende suas relações
com o mundo.


 3 ALFABETIZAÇÃO
 As diferentes formas de linguagem são uma invenção da
humanidade, uma construção social e histórica do homem, um
conjunto sistemático e estruturado de recursos cuja função
principal centra-se na comunicação e na interação.


 A conquista quanto à utilização das diferentes formas de
linguagem significa conhecer os seus elementos básicos, os
modos do seu funcionamento e suas dimensões em um
determinado contexto cultural. Assim, segundo Colello (1995), a
alfabetização e o letramento no contexto escolar devem significar
para o educando a possibilidade de lidar com a linguagem e a
produção do discurso.
 Assim, de acordo com Colello (1995), o domínio sobre a
linguagem enquanto produto histórico e social representa
participação em sociedade. Ao mesmo tempo em que o homem se
apropria da linguagem, ele também age sobre ela, reinventando-a
enquanto participa efetivamente da construção de seu espaço e do
seu tempo.

A Escola no contexto

 No contexto, é dada à escola, “instituição social”, a incumbência
de transmitir e possibilitar à comunidade que a procura, acesso a
todas as manifestações da linguagem, buscando sua formação
plena.
 Cabe aqui um questionamento: O que a escola favorece ao sujeito
quando o ensina a ler e escrever de forma intencional e
sistemática?
 Colello (1995) argumenta que a leitura e escrita, enquanto produto
cultural e social, deve ser apropriada e adquirida também no
contexto escolar. Em contraponto, Freire argumenta sobre a
importância da leitura de mundo, aquela conseguida enquanto
sujeito participante de todos os espaços. Assim, a leitura e
interpretação ultrapassa o mero ato de decodificação, torna-se
uma atividade extremamente complexa, que se relaciona com
situações culturais, ideológicas, filosóficas, entre outras.
 Nessa perspectiva, a leitura se torna a realização do objetivo da
escrita. Alguns preferem entender a língua escrita como um código
que se estrutura pela relação entre sons e letras, enquanto outros
concordam que a língua escrita se dá por meio das relações,
envolvida em um processo de criação e recriação, nunca esgotado
em si mesmo. Fundamentado nessas observações, podemos
dizer que há múltiplas formas do sujeito se alfabetizar, ou seja, de
dominar os códigos da leitura e da escrita, em um determinado
contexto.
 Para alguns autores, a escola, ao didatizar a linguagem, não
valorizando a realidade vivida, acaba tornando o processo de
ensinar a ler e a escrever em uma atividade desvinculada do seu
objetivo maior, que é proporcionar a formação do sujeito
competente no uso da língua. Assim, a realidade atual, vivenciada
pelos professores no espaço escolar, conclama-os para que
reflitam sobre sua própria postura enquanto formadores de
sujeitos.
 Questão para reflexão
 Seria tarefa do professor “apenas reproduzir o conhecimento
sistematizado”, ou auxiliar o aluno a realizar uma “leitura de
mundo”, capacitá-lo para participar ativamente da transformação
social, valorizando seu tempo, seu espaço e sua cultura?
 Será que a metodologia utilizada pelo professor em sala de
aula influencia diretamente no sucesso ou fracasso da relação
que o aluno poderá ter com as diversas manifestações da
linguagem?
 Qual prática seria ideal ao professor, no sentido de superar o
ensino da escrita como código e promovê-lo à condição de
diálogo, assumindo o seu caráter também político”?
 Segundo Colello (1995), tornar o ensino da língua escrita em
simples conteúdos escolares, sem qualquer relação com os
contextos social e cultural, torna-o superficial, sem conexão com a
realidade.
 De acordo com a autora, ensinar a ler e a escrever significa
ensinar a especificidade do elemento simbólico da língua em seu
contexto histórico, assim como os usos e práticas sociais em seus
contextos de produção e de interpretação.

 Assim, caro aluno, esse momento de estudo também torna-se um
convite à tentativa de superar o didatismo artificial da escola, que
acaba por aprisionar a língua escrita.

 O ensino da língua escrita, de acordo com Colello (1995), deve
estar a serviço da inserção social, da participação democrática do
sujeito na sociedade e do livre trânsito linguístico em face das
múltiplas possibilidades de se comunicar, ler o mundo e interpretá-
lo. Seguindo Colello (1995), a escrita contribui para a
promoção do contato sistemático e intencional no qual a língua
deve se fazer presente como algo vivo e enraizada nos usos
socioculturais.


 O ato de ler e escrever deve INDICAR a busca pelos sentidos que
um texto possui. Ler e escrever deve ser ação destinada a textos
reais, deve ser concebido como ação dinâmica e não meramente
mecânica, deve ser concebido como processo de resolução de
problemas enfrentados pelo sujeito quando se coloca diante de um
texto a ser lido ou produzido. Nessa perspectiva, o ato de
alfabetizar torna-se uma atividade de ensino e aprendizagem
muito complexa a ser mediada pelo professor.

4 O MÉTODO DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS
 De acordo com Brandão (2005), o método de alfabetização
proposto por Paulo Freire representa apenas a fase inicial do
longo processo determinado pelo sistema de educação, que foi
elaborado levando em conta algumas etapas, destacadas abaixo:
 1 - O método a princípio foi elaborado e testado por uma equipe da
Universidade Federal de Pernambuco, coordenada por Paulo
Freire, e posteriormente foi disseminado para outras regiões do
Brasil.
 2 - O método de alfabetização de adultos proposto por Paulo
Freire pode ser entendido como um processo que busca acelerar a
aprendizagem da leitura e da escrita ainda em nível elementar.
 3 - A introdução da técnica de trabalho em grupo possibilita maior
ênfase no processo de conscientização dos adultos a partir de sua
participação e integração.
 4 - O processo sistematizado correspondente ao nível elementar
de aprendizagem buscou a funcionalidade na leitura e na escrita,
além de aprofundamento no que concerne à conscientização e
ampliação do campo de estudos, além da introdução de outros
elementos necessários à educação de adultos.
 De acordo com Brandão (2005), o método foi a matriz construída e
testada de um Sistema de Educação, tendo como objetivo inverter
a direção e as regras da educação tradicional. Um método que
valorizou a ação da grande massa oprimida, sem voz nem vez.
Um método que procurou instrumentalizar os sujeitos participantes
para o exercício de conscientização sobre seu papel no mundo, no
trabalho e na sociedade. Sua integração como sujeito social com
perspectiva de mudança.
 A tarefa do educador centra-se em contribuir para a “reinvenção
de uma outra educação”. Nesse trabalho, enquanto os educadores
se reeducam, exercitam o “ato político” que começa com a
afirmação de que a educação é um trabalho político que procura
desvelar o oculto, que procura indicar libertação através do ensino,
ou seja, da educação. (BRANDÃO, 2005, p. 51).
 Saiba mais
 Para Paulo Freire, educação não é apenas um trabalho técnico e
pedagógico, a alfabetização de adultos não é algo neutro. Toda
educação se apresenta carregada de intenção política. O trabalho
de alfabetizar (parte do trabalho de educar) prepara o sujeito
político, instrumentalizando-o através da leitura e escrita.
 5 PALAVRA GERADORA: CONTRIBUI PARA O
DESVELAMENTO DA REALIDADE
 Na escolha das palavras geradoras incluíam-se, além dos
fonemas da Língua Portuguesa, todas as dificuldades gramaticais,
ligadas à pronúncia e escrita, tais como: s, ss, ch, x, lh.
Também eram escolhidas as palavras que davam sentido à vida e
ao trabalho cotidiano das pessoas. Para o lavrador, as palavras
enxada, chuva e lavoura têm um sentido de pertencimento tanto
quanto as palavras favela, tijolo e salário têm para o operário.
 Tais critérios determinavam a própria apresentação das palavras
durante as reuniões de alfabetização, em ordem crescente de
dificuldade de leitura e escrita, além da lógica de linguagem na
explicação progressiva destas dificuldades. A cada palavra era
associado um núcleo de questões existenciais e políticas, fatos
ligados à vida e aos seus determinantes sociais.
 Ao se utilizarem da palavra, muitas vezes não denunciam o
discurso ideológico, omitindo sua causalidade política, além de
tratar o analfabeto como seres incapazes e preguiçosos.
Destacamos abaixo algumas observações que podem fazer parte
do contexto: As pessoas continuam analfabetas pela condição ou
pelas circunstâncias, ou seja, foi-lhe negado um direito – o direito
de ler e escrever.
 Ainda hoje podemos verificar como causa do analfabetismo no
Brasil a ausência de políticas públicas consistentes de educação
no campo, penalizando assim minorias étnicas, indígenas e
quilombolas. Além do abandono das classes mais pobres, oferta
insuficiente para a educação infantil, baixo investimento na
formação e valorização de alfabetizadores, entre outros.
 Saiba mais
 Mais que escrever e ler que “a asa é da ave”, os alfabetizandos
necessitam perceber a necessidade de um outro aprendizado: o
de escrever a sua vida, ler sua realidade, o que não é possível se
não tomarem sua história nas mãos. (FREIRE, 1981, p. 11).
 6 CÍRCULO DE LEITURA
 Segundo Paulo Freire (1983), em lugar de sala de aula tradicional
e aulas exclusivamente expositivas, devemos dar lugar ao diálogo
e à participação de todos.
 Em lugar de treinar pessoas para simplesmente se adaptarem,
devemos buscar a formação de agentes sociais de mudança.


 O Círculo de Cultura não substitui turma de alunos em sala de
aula, porém, durante as atividades, os envolvidos posicionam-se
em círculo, em um determinado espaço organizado com
antecedência para que o encontro aconteça. Nesse espaço, de
forma planejada, um animador (nem sempre professor) coordena e
anima o trabalho, orientando e incentivando a participação de
todos ao debate e demais atividades propostas.
 De acordo com Brandão (2005), muito mais do que o aprendizado
individual de “saber ler e escrever”, o que o círculo da cultura
produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos, de
pensar. E todos juntos aprendem e constroem a cultura que os faz
sentirem-se homens, sujeitos, ou seja, seres da história.
 As Fichas de Cultura – Maneira de reler o mundo
 Conforme vimos na Unidade 1, segundo Brandão (2005), dentre
as finalidades das Fichas de Cultura, a partir de situações
existenciais, era dada ao grupo a possibilidade de discussão.
Momento em que todos os participantes eram incitados a “pensar
o mundo e sua participação crítica nele”.


 7 AS FICHAS DE CULTURA: PRINCÍPIO DO APRENDIZADO
 As Fichas de Cultura eram criadas na própria comunidade, com
desenhos sugeridos pelos participantes ou indicados durante o
período de pesquisa. No princípio da alfabetização, as fichas,
representadas em cartazes ou projetadas em slides, partiam
sempre de situações existenciais, provocando as primeiras trocas
de ideias, os primeiros debates.
 Além da possibilidade de apreensão coletiva do conceito de
cultura, as discussões conduziam a outros conceitos fundamentais
apresentados durante o trabalho de alfabetização
 De acordo com as condições e peculiaridades de cada lugar, as
fichas de cultura passavam de desenhos imaginados para
sequência de fotos em que as ideias sugeridas eram imagens
concretas da vida das pessoas.
 De acordo com Brandão (2005), a finalidade máxima das fichas de
cultura sugeria debates a partir de imagens de situações
existenciais, dando ao grupo a possibilidade de rever criticamente
conceitos fundamentais para pensar o mundo e sua participação
crítica nele.
 Com o pessoal já organizado em Círculo de Cultura, a atividade se
inicia. O animador apresenta um cartaz, ou seja, “A Ficha de
Cultura”.


 A elaboração das Fichas de Cultura criadas pela própria
comunidade, a partir de desenhos e fotos sugeridas pelos
participantes, é agora representada, no momento da alfabetização,
em cartazes ou projetadas em slides, partindo sempre de
situações existenciais, provocando assim os primeiros debates.
 A ficha, segundo Brandão (2005, p. 27), retrata o homem no
mundo, sua relação com a natureza e a cultura. O animador
chama a atenção de todos para a gravura, sugerindo que cada um
descreva o que a figura retrata, quais são os elementos da figura,
o que o desenho deixa transparecer.
 Tal discussão toma quase todo o tempo do encontro, provocando
um debate no qual se sustenta a relação do homem com a
natureza e a cultura. O homem entendido como criador e recriador
da realidade através de seu próprio trabalho. Através de seu
trabalho, ele altera sua relação com a natureza de acordo com
suas necessidades.
 Questão para reflexão: A indicação do desenho de uma figura
retratando o poço de água e a relação do homem com a água,
inclusive para sua subsistência, faz emergir conceitos básicos. O
homem cavou o poço porque necessitou da água. Seu trabalho
permitiu relacionar-se com o mundo fazendo dele objeto de seu
conhecimento, ao mesmo tempo em que transformou sua
realidade. Assim construiu uma casa, preparou suas roupas e
seus instrumentos de trabalho.
 A análise simples, crítica e objetiva da relação do homem com seu
mundo o faz entender que a educação pode ser utilizada como
“Prática da Liberdade”. Como consequência da reflexão, os
homens percebem sua própria capacidade de refletir sobre o tema
abordado, partindo sempre do que são e do que fazem, não do
que pensam e querem os poderosos.
 O homem pensa sobre sua posição no mundo, sobre seu trabalho,
sobre seu poder em transformar sua realidade, seu pequeno
mundo. A alfabetização deixa de ser algo externo ao homem para
ser dele mesmo – alfabetização e letramento. A cultura passa a
ser debatida como forma de aquisição sistemática do
conhecimento e democratização.
 A finalidade das Fichas de Cultura sugere que os debates se
realizem a partir das imagens e de situações existenciais, levando
o grupo a rever criticamente conceitos fundamentais que
incentivem a motivação para que cada um assuma crítica e
ativamente o trabalho de alfabetizar-se. As Fichas de Cultura
indicavam o fundamento do método que estava centrado em
apresentar conceitos e convidar a refletir coletivamente.


 Considerações sobre o Método de Alfabetização

 Agora convido você a aprofundar seus conhecimentos a respeito
do Tema Gerador. É através dessa proposta de trabalho, indicada
após o tempo de Alfabetização, que seus participantes encontram
a possibilidade de problematizar situações rotineiras, buscar maior
criticidade e autonomia para participar na sociedade.

8 TEMA GERADOR
 A tradição oral, ou seja, o relato de histórias que as pessoas
conhecem e contam, as músicas que cantam, versos, poemas,
receitas culinárias, receitas de remédio e chás caseiros, opiniões e
problemas, após serem aproximados da forma escrita; também
podem ser exploradas suas relações entre o oral e o escrito,
transformando-se em tema gerador. Esse é só um exemplo, dentre
muitos outros ligados à realidade do aluno da EJA.


 Em princípio, as palavras geradoras se tornavam instrumento que
conduzia o debate durante o trabalho de alfabetização. O objetivo
principal centrava-se em melhorar a compreensão de mundo dos
integrantes do grupo. Posteriormente, o Tema Gerador sustentava
o debate integrando ou associando palavras geradoras à novas
situações reais, que contribuíam para a compreensão de mundo.
(BRANDÃO, 2005)
 Brandão (2005) indica que, tal como no caso das palavras
geradoras, uma série de temas geradores foram estruturados,
seguindo o resultado da pesquisa realizada preliminarmente, entre
os futuros participantes do Círculo da Cultura. Observe abaixo
alguns temas indicados a partir da pesquisa:
 1) A natureza e o homem: O ambiente;
2) Relações do homem com a natureza: O trabalho;
3) O processo produtivo: O trabalho como questão;
4) Relações de trabalho (operário ou camponês);
5) Formas de expropriação: Relações de poder;
6) A produção social do migrante;
7) Formas populares de resistência e de luta.

 Saiba Mais: Tema Gerador é utilizado na fase de Pós-


Alfabetização

 Posteriormente, a partir das palavras articuladoras e tema gerador,


o animador conduzia a problematização, como se tudo fosse um
jogo de adivinhação. O grupo sentia o exercício do diálogo, ao
problematizar situações sugeridas a partir do contexto de sua
própria realidade.
 Exemplo de Palavra Geradora (Brandão, 2005, p. 31- 41): Salário.
 A partir da palavra geradora surgiam ideias para provocar
discussão, tais como:
 • a valorização do trabalho e a recompensa.
• finalidade do salário: manutenção do trabalhador e de sua
família.
• o horário do trabalho segundo a lei.
• o salário mínimo e o salário justo.
• repouso semanal — férias — décimo terceiro mês.
 Finalidades da conversa:
 • levar o grupo a discutir sobre a situação do salário dos
camponeses.
• discutir o porquê dessa situação.
• discutir com o pessoal sobre o valor e a recompensa do trabalho.
• despertar no grupo o interesse de conhecer as leis do salário.
• levar o grupo a descobrir o dever que cada um tem de exigir o
salário justo.
Encaminhamento da conversa:
 • o que é que vocês estão vendo neste quadro?
• como é que está a situação do salário dos camponeses? por
quê?
• o que é o salário?
• como deve ser o salário? por quê?
• o que é que a gente sabe das leis sobre o salário?
• o que podemos fazer para conseguir um salário justo?”
 Posteriormente, o monitor apresentava aos participantes do
Círculo da Cultura um outro cartaz com o nome de um de seus
participantes, desdobrado em seus fonemas-partes. Exemplo:
BENEDITO:
 Be-ne-di-to
be bi ba bu bo
ne ni na nu no
di de da du do
to te ta tu ti
 A partir dessa apresentação fazia a seguinte indicação: assim
como uma casa tem as suas partes: quarto, cozinha; sala,
varanda, os nomes próprios também os têm: Be - ne - di - to.” O
monitor, ao ler, acompanhava com as mãos as sílabas, os
fonemas, na medida em que os pronunciava, repetindo-os de
acordo com as necessidades. Ainda indicava que cada pedaço do
nome do Benedito tem a sua família. Ex: Be do Benedito, a família
do Be: be, bi, ba, bu, bo. A família do ne: ne, ni, na, nu.
 Quando alguém sugeria a ideia das vogais, o animador chamava a
atenção sobre elas, até chegar o momento mais criativo do
trabalho, quando era colocada diante de todos a ficha de
descoberta, momento em que o grupo começa a criar, separar,
juntar, compor famílias, formando inclusive palavras ou frases.
 Primeiro os participantes liam os fonemas em todas as direções
possíveis:
 a) na horizontal — ba, be, bi, bo, bu;
b) na vertical — ba, na, da, ta;
c) em diagonais livres — ba, ne, di, to; bu, no, di, te;
d) salteadas, ao acaso — be, to, di, na, du.
 A passagem de uma maneira de ler para uma outra era realizada
quando o monitor sentia que cada ordem já estava bem
reconhecida. Quando alguém no Círculo se animava a criar
qualquer palavra, isso era muito incentivado. O coordenador do
círculo construía apenas algumas poucas palavras. Apenas
mostrava o processo de reconstrução de palavras.
 Brandão (2005) comenta que os educandos eram incentivados a
escrever em casa todas as palavras que fossem capazes de
formar, iguais ou não às que foram formadas na reunião.
 As dificuldades - o monitor trabalhava mais tempo – até quando o
grupo já se sentisse pronto para enfrentá-las. Exemplo, para a
palavra geradora casa a ficha de descoberta foi escrita assim: ca _
_ _ _ co cu; sa se si so su e a questão de ce, ci, que, qui foi
apresentada mais tarde, quando o grupo teve que conhecer a
palavra: máquina. Entre palavras geradoras os alunos formavam
não só frases curtas, ou pequenas falas escritas, mas períodos:
“ideias completas”. As folhas que recebiam sugeriam incentivo
todo o tempo para fazerem os seus próprios escritos: bilhetes aos
companheiros, pequenas “redações”, notícias de fatos do lugar,
jornal do grupo.

9 ALFABETIZAÇÃO E PÓS-ALFABETIZAÇÃO
 De acordo com Brandão (2005), vencida a primeira etapa do
processo de alfabetização, em alguns lugares abriu-se a
possibilidade de se dar sequência aos trabalhos através de um
projeto de Pós-Alfabetização. Entendido como exercício de
aperfeiçoamento de leitura-escrita e cálculo, nesse momento não
se trabalha mais com as Palavras Geradoras, mas sim com Temas
Geradores.


 Nessa etapa os alunos trabalham com análise de textos simples,
retratando a leitura da realidade social, bem como as dificuldades
da língua. Os alunos que apresentavam maior dificuldade em
acompanhar o grupo recebiam atendimento voltado à revisão do
estudo.
 Desde as primeiras ideias de Paulo Freire e sua equipe da
Universidade Federal de Pernambuco, nada precisou ser rígido no
método, nada imposto sobre a realidade. Ele servia a cada
situação. O mesmo trabalho coletivo de construir o método, a cada
vez que fosse utilizado, centrava-se também no trabalho de
ajustar, inovar e criar a partir dele. Nada era lei, a não ser as leis
da lógica do ato de aprender os princípios gramaticais da língua.
 De acordo com Brandão (2005), o Círculo da Cultura ampliava o
diálogo, que favorecia a leitura crítica da realidade social e uma
leitura correta da língua, que é parte desta realidade.

 10 REDIMENSIONAMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
 Paulo Freire (1992) argumenta que não podemos deixar de lado,
desprezado como algo imprestável, o que o aluno traz consigo
sobre a compreensão do mundo, nas mais variadas dimensões de
sua prática individual e social. Sua fala, sua forma de contar, de
calcular, seus saberes, sua religiosidade, seus saberes em torno
da saúde do corpo - remédios caseiros, sexualidade, vida, morte,
entre outros. Sua experiência de vida contribui para o crescimento
de todos.

 A alfabetização e a democratização da cultura como ato de criação
e recriação; construção reflexiva do pensamento.
 O redimensionamento do conceito da EJA na atualidade,
compreendida como prática social, possibilitou para alguns a
compreensão de que a EJA passa a ser entendida como a
educação que ocorre ao longo da vida de sujeitos adultos. A EJA
atualmente preocupa-se com a formação humana, e com a prática
social.

 11 RELAÇÃO ENTRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
 Em nossa Unidade I, iniciamos uma reflexão buscando, a
princípio, conceituar Alfabetização e Letramento. Agora damos
continuidade à nossa proposta, com o propósito de aprofundar
conhecimentos sobre o tema.
 O sentido do processo de Alfabetização e Letramento se revela
em sua própria função, seu uso e sua prática a partir da realidade.
 Para a autora, o processo de Alfabetização pressupõe um
processo de mediação intencional, ou seja, acontece de maneira
sistemática e direcionada, na qual o próprio texto se torna ponto
de partida e chegada do trabalho pedagógico desenvolvido em
sala de aula.
 O processo de alfabetização exige preparo teórico e metodológico
do educador, entendido no contexto como um agente mediador do
conhecimento. Alfabetização deve garantir ao aluno a reflexão
contínua sobre a língua, quando aproximada ao Letramento. Isso
quer dizer que cabe ao professor organizar o seu planejamento
tendo em vista que as situações de ensino e aprendizagem
garantam, na prática, reflexão sobre a língua de um modo vivo e
dinâmico. Assim, a organização do trabalho pedagógico do
professor alfabetizador deve prever o planejamento de atividades
e ambiente que estimulem a alfabetização e o letramento, que
garantam ao aluno o contato efetivo e reflexivo sobre a língua.
 Soares (2001), ao traçar um paralelo entre Alfabetização e
Letramento, argumenta que o Letramento envolve as múltiplas
formas de apropriação, domínio e uso da língua oral e escrita, ou
seja, implica na forma como se empregam a leitura e escrita diante
da prática social. Implica na apropriação, no uso e práticas sociais
de leitura e escrita, circulares em determinada cultura.
 Dessa reflexão, o Letramento, ou seja, o ato de alfabetizar, ganha
“nova roupagem” perante as discussões ligadas ao trabalho da
escola e, por conseguinte, o trabalho do professor mediador entre
o ensino e a aprendizagem. Tanto a escola como seu corpo
docente, ao assumirem compromisso para com a formação de
sujeitos plenos, devem lhes dar condições de se envolverem em
práticas e usos sociais de leitura e escrita demandados pelo
contexto social.

 12 EDUCAÇÃO COMO DIREITO SOCIAL


 A LDB 9394/96, ao tratar sobre o conceito de educação, deixa
claro que podemos entendê-la como meio de difundir de forma
sistemática os conhecimentos científicos construídos pela
humanidade. Gohn (2006), confirma que a Educação também
pode ser considerada uma construção histórica que assume
diferentes significados em tempos e espaços diversos e tem
relação com os lugares de onde falam os sujeitos, os grupos
sociais a que pertencem, os interesses e os valores envolvidos.

 Conceito de Educação Formal:



 A autora Gohn (2006), ao tratar sobre Educação Formal,
argumenta que esse modelo de educaçãoacontece, de
preferência, no espaço escolar. Requer tempo e local específico,
ou seja, a escola.Nela se fazem presentes pessoal especializado e
organização curricular com caráter metódico. A Educação
Formal se caracteriza como possibilidade de ensino e
aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados,
seguindo determinada ordem sequencial, determinada estrutura,
organização, bem como um planejamento intencional. Tem
como intuito auxiliar na formação do indivíduo como cidadão ativo,
favorecendo-lhe assim o desenvolvimento de certas habilidades,
competências, criatividade, percepção e motricidade, dentre
outros. Apresenta a possibilidade de uma aprendizagem efetiva
confirmada com certificação (boletim, histórico escolar,
diploma), ou titulação que capacite o indivíduo a prosseguir graus
mais avançados em seus estudos.
 Educação Não Formal atua como promotora de mecanismos de
inclusão social. A educação não formal se torna eixo central da
educação, diante dos destituídos de direitos básicos,
imprescindíveis à sobrevivência, segurança, habitação, saúde,
educação, lazer, dignidade.Apresenta menor grau de estruturação
e sistematização, porém persistem uma intencionalidade e uma
prática pedagógica que seguem certa formalização. O espaço
onde ela acontece provém de ambientes e situações interativas,
construídas coletivamente. A educação não formal é distinta da
escola, mas é ato planejado, intencional, apresenta organização
específica. Ainda de acordo com Gohn (2006), a educação não
formal possibilita: aprendizagem política dos direitos do
sujeito. Formação do sujeito para a vida e suas adversidades.
Construção de regras éticas relativas à condutas aceitáveis
socialmente. Consciência e organização de como agir em grupos
coletivos: identidade coletiva. Capacitação para o trabalho:
aprendizagem de habilidades-desenvolvimento de potencialidades.

 Link
 Caro aluno: Acesse o link indicado abaixo e observe como pode
ser elaborado o Planejamento de uma aula da EJA, seguindo

diferentes abordagens:

 Como tratamos até aqui, pensar no trabalho a ser desenvolvido
pelo professor em sala de aula cujos alunos são jovens e adultos
indica também pensar na prática do professor em sala de aula, no
acolhimento dado a esse aluno, no respeito à história de vida
desse aluno.
 Muitos autores que tratam sobre a Alfabetização de Jovens e
Adultos chamam a atenção dos professores para que tomem
cuidado com a “Infantilização do Ensino” durante o
desenvolvimento das atividades em sala de aula. Isso significa que
a Alfabetização deve ser tratada de forma diferente do momento
em que o professor alfabetiza as crianças nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental.
 Qual espaço pode ser utilizado como sala de aula?


 Todos os espaços solidificam aprendizagem

 Sala de Aula: Espaço de Diálogo


 Ao tratar sobre a permanência e aprendizagem do aluno da EJA
no espaço escolar, muitos autores argumentam que, diante da
garantia de continuidade do processo de ensino e aprendizagem,
é preciso redesenhar a configuração da escola.
 Questão para reflexão:
 Caro aluno, desde o inicio de nosso estudo, chamamos sua
atenção sobre a relação do aluno para com a escola e seus
professores , afinal essa relação se torna uma das principais
ferramentas que contribui, inclusive para a mudança de
paradigmas proposto por Paulo Freire.
 Na perspectiva de trabalho indicada por Freire, a sala de aula
“silenciosa e silenciadora” deve ser entendida, pelo professor,
como “espaço de escuta”, diferente da escola do passado, em que
a cópia, o decoreba e os castigos imperavam, juntamente com o
autoritarismo do professor.
 Contudo, ressignificar a escola não equivale reduzir exigências em
termos de produção de leitura e leitura. Ressignificar a escola
significa valorizar o aluno como alguém pleno, cheio de
possibilidades, alguém que pode sistematizar saberes alcançados
pela memória e traduzidos pelo registro, pelas novas maneiras de
interpretá-los. Atualmente, a principal função da escola está em
procurar democratizar os conhecimentos produzidos
historicamente pela humanidade.

 O trabalho dos profissionais na escola deve estar voltado em
buscar formas de elevar a consciência alienada e fragmentária dos
alunos a uma consciência clara e coerente de mundo.

 Para ressignificar a sala de aula, deve-se ter presente:
 1 - O entendimento de que alunos da EJA possuem experiências
sociais, culturais e afetivas que lhes permitam acúmulo de
saberes,
2 - A convicção de que a condição de analfabeto não implica em
patologias tais como: déficit ou deficiência,
3 - O analfabetismo não deve ser entendido como expressão
individual de fracasso, mas sim como forma de exclusão
socialmente construída,
4 - A mediação entre o universo da oralidade e o universo da
língua escrita pode se realizar através da compreensão de que a
leitura da palavra escrita não deva ser descontextualizada da
leitura do mundo. Deve ser valorizado o universo vocabular dos
alunos (linguagem falada), bem como sua representação de
mundo, socialmente produzido.

 13 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – DIREITO NEGADO?


 Alguns autores entendem a Educação de Jovens e Adultos como
educação que tenta restaurar um direito negado ao cidadão.
Dentre esses direitos, destaca-se o direito do cidadão de ter
acesso e frequentar em tempo oportuno o espaço escolar. Uma
escola de qualidade priorizando um modelo de educação que
atenda às reais necessidades de aprendizagem, específica de
cada aluno. Essa educação ainda deve favorecer aos sujeitos sua
inserção no mundo do trabalho, na vida social e cultural.
 Nessa perspectiva, a EJA permite a possibilidade de efetivação de
um caminho em que jovens e adultos atualizem seus
conhecimentos de forma permanente. Desenvolvam seu potencial,
suas habilidades, troquem experiências e busquem acesso a
novas formas de inserção na prática social.
 A Pedagogia de Paulo Freire na sala de aula, segundo (Vale,
2005), prioriza:
 1 - Trabalho educacional, sintonizado com princípios éticos,
políticos e pedagógicos de Freire. Prioriza temas de relevância
social, ou seja, Temas Geradores.
2 - Importante valorizar o conhecimento anterior do educando,
próximo de sua realidade, sua linguagem, concepção de mundo,
de seu nível de desenvolvimento. A partir desses, caminhar para o
conhecimento sistematizado, analisando criticamente a
necessidade de transformação da realidade que se apresenta.
3 - Freire inovou na forma de alfabetizar, criticou o ensino
tradicional, isto é, a simples transmissão e repetição de conteúdos,
pois o Método de Alfabetização indicado por Freire “prioriza a
leitura de mundo que precede a leitura da palavra”.
4 - Freire afirma que a criticidade ou a indignação podem aliar
denúncia e anúncio a relatos e conquistas, alcançados a partir de
confrontos, interesses contraditórios e busca coletiva de soluções.
5 - Os temas sociais podem ser trabalhados de forma crítica,
criativa e estética, seguindo manifestações artísticas valorizadas
pelo trabalho educativo.
6 - Freire foi reinventado quando a linguagem midiática e o acesso
às novas tecnologias foram aplicados à educação de jovens e
adultos.
7 - Passaram a ser analisados e questionados os preconceitos
usuais que retratam a mulher em sua condição feminina, negros,
índios e analfabetos. Também analisam a imposição de valores
ligados à classe dominante, tais como: competição, fanatismo,
diálogo e consenso.
8 - Tais princípios éticos, políticos e pedagógicos defendidos por
Freire se aplicam a toda situação pedagógica.
9 - O método de alfabetização de adultos criado pelo educador
Paulo Freire foi considerado uma ameaça ao sistema, pois
buscava a conscientização, o protagonismo político e a
transformação de cada alfabetizando em sujeito de sua própria
aprendizagem e de sua história.
 Caro aluno, quase finalizando a UNIDADE II de nossa webaula,
deixo para você indicação de algumas obras escritas por Paulo
Freire durante sua caminhada pela Educação. Importante a leitura
das obras do autor, para conhecê-lo melhor. Através da leitura,
dos escritos do autor, você tem a oportunidade de viajar através
da imaginação, dar “corpo à melhor essência de seus
pensamentos”.

Alguns títulos publicados por Paulo Freire:

 A Educação na Cidade
 Política e Educação
 Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar
 À sombra desta mangueira
 Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis
 Educação como prática da Liberdade
 Extensão ou Comunicação
 Ação Cultural para a Liberdade
 Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa
 Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos
 Pedagogia dos sonhos possíveis
 Pedagogia da Tolerância
 Pedagogia do Oprimido
 Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do
Oprimido.

Saiba mais sobre as obras de Paulo Freire:


Apresento a você a Resenha de Obra de Paulo Freire, intitulada
Pedagogia do Oprimido
Paulo Freire escreveu Pedagogia do Oprimido em 1970. Nessa obra, de
acordo com Piassa (2007), Paulo Freire afirma que o atual modelo de
sociedade acaba por favorecer certa manipulação e dominação
econômica e cultural, por parte de alguns. Passam a coexistir na
sociedade homens e mulheres que oprimem em determinadas situações
e que em outras situações se tornam oprimidos, mesmo trazendo
consigo o “ser transformador e criador”. Como oprimido, o homem tem
medo da liberdade e acaba tornando-se conivente com a mesma.
Paulo Freire argumenta que a educação bancária – tradicional –
considera o aluno como um depósito do conhecimento, que serve à
opressão. Se a Pedagogia pode ser entendida como intenção de intervir
na formação e no desenvolvimento do outro, o ensino tradicional
favorece a formação ingênua, momento em que os opressores definem
suas intenções para se manter no poder. Utilizam-se de instrumentos,
métodos e discursos que inibem o pensamento crítico, enquanto que a
pedagogia libertadora favorece uma aprendizagem significativa, por
favorecer a leitura de mundo, exercitar a reflexão e colaborar para o
desenvolvimento da consciência crítica.
Assim, de acordo com Piassa (2007, p. 42), a Pedagogia do Oprimido
suscita reflexão sobre o pensamento de que “não nascemos humanos,
nos tornamos humanos por meio do processo de educação”. A práxis
auxilia na tarefa de transformar a realidade opressora, desvela o mundo
para que o aluno seja capaz de transformá-lo. O método fundamenta-se
no fato de partir da realidade do sujeito, alfabetizando-o, através do
valor prático das coisas e fatos da vida cotidiana, enfim de situações
existenciais. Homens e mulheres se alfabetizam ao se apropriarem do
código escrito com vistas à sua politização. Nessa perspectiva, a
educação apresenta uma intencionalidade, a de superar a contradição
que existe entre o opressor e o oprimido. (PIASSA, 2007).
Paulo Freire visualiza uma história de opressores, na qual a academia
passa a ser entendida como um ambiente favorável ao gênero
masculino, ambiente de opressão, porém questiona em determinado
momento quem são os opressores e quem seriam os oprimidos. Tal
questionamento sugere a necessidade de “busca pela humanização”, e
não busca pelo sujeito alienado.
Essa obra foi escrita após sua volta do exílio, sob o olhar de sua
experiência vivenciada na volta ao mundo. Ele fala da vocação histórica
do homem e da distorção da mesma, sendo a primeira a recuperação da
própria autonomia em potencial, e da distorção, a do ser menos,
argumentando que o homem tem que recuperar a sua humanização,
que exclui a opressão e a suposta relação de dominação, superando a
contradição entre opressores e oprimidos, questionando que o opressor
também precisa se submeter à opressão. Paulo Freire luta por valorizar
a libertação, e essa busca deve partir dos oprimidos, pois são eles que
sentem a dominação. Segundo o autor, o opressor sofre a violência de
opressor, pois depende dos oprimidos, e da violência de oprimir, onde
este, através de uma suposta generosidade, procura minimizar sua
opressão doando um pouco do que tem, sendo que, segundo Freire
(1987), generosidade consiste em buscar a libertação dos oprimidos,
objetivando a formação de um educador que se educa, pois defende a
ideia de que a vocação do homem é a do ser mais, e que ainda que o
opressor não queira se libertar, deve ser liberto.
De acordo com Freire (1987), o oprimido hospeda o opressor em si, e
tem no opressor um modelo de homem, então imagina no opressor
aquilo que quer ser denominando essa ideia de “dialética da
dominação”. O opressor não se percebe oprimido, mas à medida que
tem medo de deixar de ter, se torna oprimido, através do medo e da
insegurança, pois sabe que numa sociedade de classes a opressão se
espalha.
Segundo Freire (1987), para toda dominação só existe uma solução: a
libertação, mas o oprimido não conhece a autonomia, ou seja, a
liberdade; pois está acostumado à prescrição, à pedagogia que dita as
regras, e a um sistema dominador, castrador e domesticador.
Defende que o objetivo final da libertação é acabar com a divisão de
classes, através da conscientização, que deve levar a transformação do
atual sistema, tendo como princípio do processo o diálogo.
Questão para Reflexão: Diante do trabalho proposto até aqui, e
finalizando nosso estudo, deixo uma questão para você: Como podemos
contribuir para que a Educação de Jovens e Adultos possa fazer a
diferença na vida de pessoas analfabetas?
Links:
Acesse < http://forumeja.org.br/brasil > para saber mais sobre as últimas
conquistas relacionadas à Educação de Jovens e Adultos.
Nesse site encontramos as discussões realizadas pela sociedade civil
organizada em todo o Brasil.
Além disso, podemos acessar documentos referentes a: VI
CONFINTEA, realizada em Belém do Pará, a CONAE, PNE, revistas de
EJA e muito mais.
Acessando o site < forumeja.org.br/miltonsantos >, também podemos
assistir à entrevista com Milton Santos: em tempo; ele afirma que o
maior problema do Brasil relaciona-se ao fato de que as escolas
atualmente não formam cidadãos e sim consumidores.
Caro aluno(a), com esse estudo tivemos a oportunidade de
conhecermos o trabalho de Paulo Freire, ao mesmo tempo em que
ganhamos subsídios para identificarmos uma proposta de trabalho a ser
realizada durante o período de Alfabetização do aluno da EJA.
Não podemos considerar a EJA ignorando sua história e sua riqueza de
experiências. A Educação de Jovens e Adultos, caracterizada na LDB
9.394/96 como uma modalidade de ensino, oportuniza educação às
pessoas que não tiveram acesso ou continuidade aos estudos em idade
própria. Assim, adolescentes e adultos, inclusive da terceira idade, têm a
oportunidade de iniciar ou regressar a instituições que desenvolvem
atividades ligadas à educação formal. Tanto a escola, quanto seus
profissionais, devem acolher o aluno, incentivando-o a PARTICIPAR do
tempo escolar através da Alfabetização, ou dar continuidade aos seus
estudos no Ensino Fundamental e Ensino Médio, até a conclusão da
Educação Básica, “direito assegurado por lei”.
Historicamente essa modalidade de ensino ganha relevância, diante das
demandas e ações que evidenciam a possibilidade de se oferecer um
programa de educação que atenda às necessidades do cidadão a partir
de seu contexto sociocultural. Dessa perspectiva também surge a
urgência de formação de professores, para atuarem na construção,
organização e difusão do saber. Saber que se consolida através da
experiência científica, de conteúdos historicamente construídos e
sistematizados pela escola, mas, principalmente, com muito respeito às
experiências de vida, carregada pelos sujeitos que contribuem na
construção da sociedade.
Pensar sobre a importância da Escola e de seus profissionais, como
auxiliar na formação do cidadão, nos remete a alguns questionamentos,
deixados a seguir:

Após leitura de nosso material, convido você a refletir acerca das


questões abaixo:

1 - Por que nem todos os alunos matriculados na escola pública


permanecem nela até a conclusão de seus estudos? Quais seriam as
maiores dificuldades encontradas pelos alunos durante seu período de
permanência na escola?
2 - Se uma das finalidades da EJA é favorecer o desenvolvimento da
autonomia intelectual para que os educandos possam aprender, refletir
de modo crítico, agir com responsabilidade, participar do trabalho e da
vida coletiva, comportar-se de forma solidária, acompanhar as
mudanças sociais, enfrentar problemas apresentando soluções originais
com agilidade e rapidez, utilizando-se de metodologias adequadas e
envoltas em conhecimento científico e tecnológico – quais são as
atribuições do professor da EJA para que essa finalidade seja
cumprida?

Nossas despedidas:
Desejo que possamos ter contribuído nessa caminhada de “suas
conquistas diárias”.
Não se esqueça de seu compromisso com a Educação...
Muito sucesso para você...

BRANDÃO, Carlos R. O que é Método Paulo Freire. S.P., Coleção


Primeiros Passos–38, Edit. Brasiliense, 2005.
COLELLO, Silvia M. Gasparin. Alfabetização em questão. São Paulo:
Graal, 1995.
FREIRE Paulo. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1981.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. RJ: Paz e Terra,
1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a
pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal, participação da
sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. In: Ensaio: aval. pol.
públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n.50, p. 27-38, jan/mar., 2006.
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PIASSA, Zuleika. Pedagogia do Oprimido. IN: XAVIER, Marcia Rejania
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SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
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VALE, Maria José. Paulo Freire, educar para transformar: almanaque
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BEISIEGEL, Celso de Rui. Política e Educação Popular: a teoria e a


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BERTRAND, Yves. Teorias Contemporâneas da Educação. Lisboa,
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PROEJA - Proposta de documento para análise e consideração dos
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(Org.). Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas leituras.
Campinas, SP: Mercado de Letras – ALB: Ação Educativa, 2001.

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