Você está na página 1de 1

Notícias Brasil Internacional Economia

PUBLICIDADE

Pesquisadores estudam
tratar depressão com
alucinógeno: 'senti mais
alegria do que achei que
seria possível'
Victoria Gill
BBC

25 abril 2022

SCIENCE PHOTO LIBRARY

Pesquisadores, incluindo brasileiros, vêm investigando


como tratar depressão e dependência química com
drogas alucinógenas

"Tive uma experiência reveladora mística completa


— o grande show psicodélico de luzes e sons
multicoloridos."

É assim que o britânico Steve se lembra de sua


primeira dose de uma droga alucinógena, a
psilocibina, o composto psicodélico encontrado em
cogumelos mágicos (ou cogumelos alucinógenos).

A experiência dele fez parte de um ensaio clínico que


alguns cientistas estão considerando um grande
passo para uma revolução no tratamento da
depressão.

Trata-se de um experimento científico complicado


pelo fato de a droga ser ilegal no Reino Unido, onde
ele é realizado. A psilocibina é uma substância
controlada; seu uso é muito estritamente
regulamentado.

Ou seja, pelas regras atuais, esse tipo de droga não


pode ser usada para fins medicinais. Mas esse
experimento, que examinou os cérebros dos
participantes após o tratamento com psicodélicos,
pintou um retrato físico extraordinário do efeito e da
experiência com a psilocibina. As tomografias
cerebrais mostraram "mais conectividade" entre
diferentes regiões do cérebro.

Matérias recomendadas

O país que abandonou guerra


às drogas e agora tem até
tempero à base de maconha

Demência frontotemporal:
entenda novo diagnóstico de
Bruce Willis

Como drogas psicodélicas


podem tratar depressão

Overdose mata cada vez mais


adolescentes em ‘epidemiaʼ
com 100 mil vítimas por ano
nos EUA

Os pesquisadores dizem que suas descobertas


revelam como os alucinógenos tiram uma pessoa
deprimida "de uma rotina de pensamento negativo"
— que a psilocibina "reintegra" um cérebro
deprimido, tornando-o mais fluido, flexível e
conectado.

Cientistas brasileiros também estão pesquisando a


psilocibina, assim como outras substâncias que têm
origem na natureza, como ibogaína e ayahuasca,
além de compostos sintéticos como LSD e MDMA,
para tratar depressão e dependência química, como a
BBC News Brasil mostrou em reportagem publicada
em 2020.

Então, como é ter seu cérebro "reintegrado" por


drogas psicodélicas?

"É uma experiência inefável — palavras como as que


estamos usando agora não são suficientes", diz Steve
à BBC. "Com a primeira dose, senti uma alegria como
nunca experimentei — pela primeira vez, pude ser eu
mesmo".

Mas a segunda dose do teste, acrescenta ele, foi


muito sombria.

Steve, que agora está na casa dos 60 anos, foi


diagnosticado com depressão há mais de 30 anos.

Os antidepressivos tradicionais simplesmente não


funcionaram para ele.

Essas drogas atuam aumentando os níveis de uma


substância química chamada serotonina no cérebro.
A serotonina, conhecida como "hormônio da
felicidade", é um dos mensageiros químicos que
transmitem sinais de uma parte do cérebro para
outra; baixos níveis de serotonina têm sido
associados à depressão desde a década de 1960.

JANE HERITAGE

Segundo Steve, os antidepressivos tradicionais o


faziam se sentir como um "zumbi funcional"

Mas enquanto as drogas


antidepressivas que
"corrigem" o desequilíbrio Podcast
da serotonina
anestesiavam o impacto
dos pontos baixos de Steve
— pontos baixos que ele
disse que muitas vezes
podem fazê-lo sentir que
sua vida era
completamente inútil —
elas também anestesiavam
Brasil Partido
os altos.
João Fellet tenta
"(Quando estava tomando entender como
brasileiros chegaram
essas drogas)
ao grau atual de
simplesmente não havia
divisão.
cor — nenhuma alegria na
Episódios
minha vida. Você acaba
vivendo como um zumbi
funcional."

Steve tomou a difícil decisão de abandonar as drogas.


Ele continuou seu regime de longo prazo de
meditação, ioga e corrida que, segundo ele, o ajudou
a controlar sua depressão todos esses anos.

Mas quando ouviu uma entrevista no rádio sobre um


novo experimento investigando o uso de psicodélicos
para depressão, ele ligou para se voluntariar.

"Tive que esperar um ano, e os critérios de seleção


foram muito difíceis."

Os participantes tiveram que mostrar não apenas que


outros antidepressivos não tiveram sucesso no
tratamento de sua depressão, mas que não tinham
outros transtornos mentais, incluindo psicose, que
pudessem tornar o uso de psicodélicos
especialmente arriscado.

JANE HERITAGE

Steve, retratado aqui com sua filha, foi diagnosticado


com depressão quando tinha 30 anos

Finalmente, após cuidadosa verificação e sob a


supervisão de um terapeuta profissional, Steve
recebeu sua primeira dose de psilocibina.

"Foi maravilhoso", lembra. "Eu me senti mais


conectado comigo mesmo — foi extraordinário".

EMILY WALKER

Yoga tem sido importante para Steve no controle de


sua depressão

"Minha vida mudou da água para o vinho".

O que Steve sentiu apareceu em exames cerebrais,


segundo os pesquisadores.

Imagens dos cérebros dos participantes antes e


depois de uma dose de "suco de cogumelo mágico"
mostraram o que o pesquisador principal, professor
David Nutt, do Centro Imperial de Pesquisa
Psicodélica, descreveu como uma redefinição do
cérebro.

As imagens mostraram que os psicodélicos induzem


uma conectividade, a partir da qual diferentes regiões
do cérebro se comunicam muito mais, revelando
novas formas de pensar.

"Não tinha a sensação consciente de que meu cérebro


estava 'embaralhado', mas certamente havia muito
mais acontecendo lá do que jamais poderia imaginar",
lembra Steve.

Sua segunda experiência com psilocibina, porém, foi


muito mais difícil.

"Tive que lutar com esses sentimentos e emoções que


costumo suprimir".

"Então, a segunda sessão, embora tenha sido um


trabalho árduo, provavelmente foi terapeuticamente
mais útil, porque tive que lidar com as coisas que não
tinha lidado antes".

O professor Nutt está fazendo campanha para que


essas drogas ilegais sejam reclassificadas para fins de
pesquisa, a fim de tornar experimentos como o dele
menos complicados legalmente — e para permitir o
que pode ser uma "revolução" no tratamento da
depressão, em suas próprias palavras.

Conectividade cerebral

GETTY IMAGES

Conexões entre diferentes regiões do cérebro


aumentaram em pacientes deprimidos que receberam
psilocibina

Mas a droga - tanto Steve quanto o professor Nutt


enfatizam - não faz mágica contra a depressão.

No experimento, o tratamento foi combinado com


terapia profissional. O trabalho em andamento no
Centro de Pesquisa Psicodélica e em outros lugares
está focado no desenvolvimento e teste seguro de
novos protocolos terapêuticos, maneiras de combinar
o tratamento medicamentoso com a terapia para
tratar a depressão de uma nova maneira.

"A droga nos dá parte de um processo de cura. Ela


expõe o paciente a diferentes possibilidades — outra
maneira de ser", diz Steve.

O verdadeiro desafio, acrescenta ele, começa após a


experiência e precisa da orientação de um terapeuta
para torná-la significativa.

"Uma coisa é desenvolver uma droga, mas


precisamos de protocolos para ajudar pessoas como
eu", diz Steve. "Mas não trocaria a experiência por
nada — foi maravilhoso — e não acho que vou
experimentar algo assim novamente."

Sabia que a BBC está também no Telegram?


Inscreva-se no canal.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube?


Inscreva-se no nosso canal!

Tópicos relacionados

Medicina Uso de drogas Ciência

Histórias relacionadas
Brasileiros estudam drogas
psicodélicas para tratar
depressão e dependência
química
11 setembro 2020

Principais notícias
Chuva em São Sebastião foi 3 vezes maior que
temporal de 2014, evento 'mais extremo' da
história recente na região
Há 3 horas

Chuvas no litoral de São Paulo causam destruição


e deixam 36 mortos
19 fevereiro 2023

Terremoto de magnitude 6,4 atinge área na


Turquia já devastada por tremores
Há 5 horas

Leia mais

As histórias secretas de um dos palácios mais


visitados do mundo
19 fevereiro 2023

O ideal do 'parto perfeito' que pode ser


prejudicial às mulheres
18 fevereiro 2023

Varanasi: um passeio na cidade sagrada da


morte na Índia
19 fevereiro 2023

Câncer de pênis; saiba como identificar essa e


outras doenças no órgão
14 fevereiro 2023

'Há momentos em que a infidelidade é melhor


para todos em uma relação'
17 fevereiro 2023

'Estou processando o site que me deu match


com meu agressor'
17 fevereiro 2023

Americano que passou 28 anos preso é solto


após testemunhas provarem sua inocência em
assassinato
15 fevereiro 2023

Por que câncer de pâncreas entrou para a lista


dos que mais matam no Brasil
13 fevereiro 2023

A vida na cidade mais destruída por terremoto


na Síria
16 fevereiro 2023

Mais lidas

1 Como a decisão de não ter filhos tem afetado


a vida de casais

2 Convidada quebra sem querer escultura de


R$ 200 mil em evento exclusivo

3 A história do casal que morreu 'caçando'


vulcões e virou filme indicado ao Oscar

4 O gênio africano que, há mais de 2 mil anos,


com um graveto, provou que Terra é redonda

5 Câncer de pele: como identificar se pintas,


manchas e outros sinais podem indicar
doença
Última atualização: 13 dezembro 2022

6 Como o maior peixe da Amazônia foi parar


nos rios do interior de São Paulo

7 Chuva em São Sebastião foi 3 vezes maior


que temporal de 2014, evento 'mais extremo'
da história recente na região

8 'O diagnóstico terminal de uma das minhas


filhas salvou a vida da outra'

9 Chuvas no litoral de São Paulo causam


destruição e deixam dezenas de mortos

10 'Encontrei minha mãe biológica 59 anos após


ser posto para adoção'

Por que você pode confiar na BBC

Termos de Uso Cookies

Sobre a BBC Contate a BBC

Política de privacidade AdChoices / Do Not Sell My


Info

© 2023 BBC. A BBC não se responsabiliza pelo conteúdo de


sites externos. Leia sobre nossa política em relação a links
externos.

Você também pode gostar