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Tempo e Material

Material contra Tempo

O verdadeiro segredo da combinação é reconhecer o tema acima. No xadrez, as peças valem


pelo que fazem e não por sua simples existência no tabuleiro. Esta verdade "todos
compreendem", mas quase nenhum jogador novato aplica: no ardor de capturar um peão,
esquece do desenvolvimento e o resultado é uma superioridade material aparente e a
desvantagem de tempo , já que perde vários tempos a busca de uma superioridade duvidosa.

Esta é a razão que dá vida a todos os gambitos (sacrifícios de peão na abertura para acelerar o
desenvolvimento das peças e abrir linhas para as próprias forças) e a justificativa das
combinações. Veremos, num simples exemplo de Spielmann, até que grau é fácil compreender
uma combinação numa partida que se reconhece a verdade irrefutável de que a vantagem de
tempo é superior nos planos a vantagem material.

As brancas ameaçam ganhar um peão 12...f5! Spielmann


deduziu que a falta de desenvolvimento do flanco da dama
adversário e a possível abertura da coluna do BR valiam
muito mais que um peão. [12...Bf5 defendendo o peão,
porém deixando as brancas com boa posição de ataque
13.Cbd2 (13.Cg5 Cxg5 14.Bxf5 Ce6 15.-- d4) 13...Cxc3]
13.exf6 Dxf6 14.Bxe4 dxe4 15.Dxe4! Bb3 Spielmann
retira da dama adversária a casa c2 e prepara o ganho de
tempo com T(a)e1. Observe que Spielmann tem em jogo
todas as suas peças menores o que colocará
economicamente em ação a torre e o cavalo adversário em
f3 esta imobilizado, porque deve obstruir a conjugação das
ameaças do BR negro sobre o peão f2. As brancas tem
superioridade material mas estão em inferioridade porque
suas peças da ala da dama estão inertes. 16.c4 Um erro.
O que esta em inferioridade de desenvolvimento deve
evitar o avanço de peões. [16.Be3!?] 16...Dd6 17.Cbd2
[17.Dd5+ quando se tem desenvolvimento inferior há um
grande perigo de ser atacado. Neste caso é prudente a
simplificação , que favorece ao que deve defender. Por
Position after: esta razão estratégica era melhor Dd5+, devolvendo o
peão e chegando a um final inferior, porém com mais
chances.] 17...Tae8 18.Db1 observe ao que chega as
brancas para poderem manter uma vantagem material. A
luta entre espaço e material esta ficando crítica. A medida
que a partida avança, o negro esta assegurando a
fiscalização de maior número de casas do tabuleiro, o que
equivale dizer que domina estrategicamente a situação.
18...Cd4! 19.Ce4 [Com habilidade, Spielmann coordenou
a vantagem em espaço com a debilidade da casa f2
inimiga. Agora não é possível seguir com a manobra
natural 19.Cxd4 Dxd4 20.Cf3 Txf3 21.gxf3 Te1 22.Be3
Txb1 23.Bxd4 Txf1+ 24.Txf1 Bxd4+-] 19...Cxf3+
20.gxf3 Dg6+ 21.Rh1 Txf3 Manobra simples que não só
recobra o peão para as negras , mas põe término a uma
clássica luta estratégia. 22.Te1 [22.Cxc5 Bc2 23.Da2
Txf2! 24.Tg1 Te1 25.Bg5 De4+ 26.Cxe4 Bxe4#] 22...Txf2
23.Bg5 Dh5 24.Cf6+ gxf6 25.Txe8+ Rf7 0-1

Tempo contra Material

Temos visto de que maneira se chega a triunfar no xadrez mediante a sabia transformação de
material em tempo. O mistério do sacrifício esta encerrado nesse princípio, que é
simplesmente a ciência de entregar peças para retardar o desenvolvimento inimigo e vence-lo,
antes que este possa fazer valer a teórica superioridade material.

O enxadrista inexperiente deve compenetrar-se no principio que já esboçamos, de que as


peças tem valor relativo, a simples existência delas nada significa, como não significa o maior
número de efetivos numa batalha se não há possibilidade de faze-lo atuar. As peças valem
pelo que fazem e pela facilidade que tem em atuar no campo de combate, e o sacrifício de
material é um dos procedimentos mais eficazes para retardar o desenvolvimento do
adversário.

Para evidenciarmos o tema, veremos um final magnífico, em que para triunfar se faz
necessário um série de sacrifícios de material que impedem ao adversário de por em ação suas
demais peças.

A posição é aparentemente equilibrada . As brancas


tem o ataque e pressionam a ala do rei adversário,
mas para ganhar precisam abrir brechas no roque
adversário. As negras estão ameaçando trocar o
cavalo c6 pelo cavalo branco e5, que é a peça mais
agressiva, e logo jogar c5 contra-atacando. E
também, em um final, estaria melhor o negro, pela
mais prudente colocação de seus peões. O
enxadrista norte-americano Mr.Fox criou uma
combinação magnífica, que respondia ao plano de
ganhar tempo a custa de material, e para realiza-la
jogou: 17.Cdc4 Apoiando o cavalo em e5 para
retomar o cavalo caso as pretas joguem CxC.
Também há uma excelente cilada. 17...dxc4? Com
desejo de ganhar material, Bauer não vacila e abrir
linhas ao adversário. 18.Dxg6!! hxg6 [Um novo e
perfeito sacrifício, já que põe o adversário no dilema
de capturar e permitir que a combinação siga, ou,
levar mate com: 18...-- 19.Dxh7+ Rf8 20.Dh8#;
18...fxg6 19.Bxc4+ Rf8 20.Cxg6+ hxg6 21.Th8#]
Position after: 19.Cxg6!! O terceiro sacrifício que acaba de abrir
brechas no campo inimigo e que tem enorme força
de ameaçar mate em uma jogada, ou seja, e
portanto, a obrigação de aceita-lo As peças negras
estão inativas, em mérito a habilidade com que o
branco transforma o material (peças que entrega)
em tempo (impossibilidade de que o adversário
ponha em ação os efetivos e remedeie a situação)
19...fxg6 20.Bxc4+ Seguido de Th8 mate. Se o
jogador que conduzia as branca não conhecesse o
valor relativo das peças e a importância que tem os
tempos nas posições abertas não teria podido
conceber a notável combinações de sacrifícios que o
levou a vitória. 1-0
Vejamos agora uma partida de Spielmann, que mostra como jogar com este plano e como os
sacrifícios de peões se justificam quando se ganha tempos com eles ou se obriga o adversário
perde-los, que é por certo, uma das formas de ganha-los.

1.e4 Cf6 2.Cc3 d5 Ao invés de entrar na abertura


vienense, as negras preferem seguir as rotas típicas
da defesa Alekhine. 3.e5 Cfd7 [Primeira perda de
tempo. O correto era: 3...d4 atacando o cavalo
inimigo. Esta retirada e a consciência exata da
importância dos tempos na abertura permitem a
Spielman conceber um método de bloquear o jogo
inimigo, e obriga-lo a uma grande manobra para que
ponha em ação suas peças. ] 4.e6! Entrega típica de
peão, recomendada em todos os casos similares em
que o adversário, para captura-lo, deve faze-lo com
um peão, o que anula a ação dos bispos, debilita a
ala do rei e da vantagem em espaço ao que entrega
material. 4...fxe6 5.d4 Cf6 As pretas terão graves
dificuldades no desenvolvimento de suas peças e o
branco, em contrapartida, se desenvolverão
rapidamente. [O holandês Landau não esta
compenetrado da maior importância do tempo na
abertura. Deveria devolver o peão mediante: 5...e5
6.dxe5 e6] 6.Cf3 c5 7.dxc5 Cc6 8.Bb5 Bd7 9.0-0
Dc7 10.Te1 h6 Para evitar a ameaça Cg5 que
impede o O-O-O 11.Bxc6 bxc6 12.Ce5 g5 Subsiste
a influência da notável entrega de peão das brancas
na quarta jogada. Para por em ação o desventurado
BR e impedir a jogada Bf4, as negras seguem
debilitando sua posição. Não podem rocar grande
pela ameaça Cf7, e o cavalo branco domina a casa
vital de combate e5. 13.Dd3 Tg8 14.b4 Bg7
15.Dg6+ Rd8 16.Df7 Be8 17.Dxe6 Tf8 18.b5
Ce4 Agora veremos como Spielmann recorre ao
expediente da entrega de material para ganhar
tempo. E agora é tanto mais necessário porque o
negro, mediante a entrega de um peão, pode safar-
Position after: se de suas dificuldades. 19.Txe4! Spielmann quer
abrir a coluna da dama para dar xeque com a torre,
e necessita ganhar tempo mediante sacrifício de
material. 19...dxe4 [19...Bxe5 20.Txe5 Tf6
21.Txd5+] 20.Bf4 Segundo sacrifício orientado pelo
desejo de ganho de tempo. 20...Bxe5 21.Bxe5 Dd7
22.Td1 cxb5 23.Txd7+ [Melhor seria: 23.c6 ]
23...Bxd7 24.Dxh6 Tg8 25.c6 Be8 26.Cxb5 Toda
partida girou ao redor da jogada chave: 4.e6, que
definiu a estratégia e entorpeceu a mobilidade do
negro as custas de um peão, mas permitiu ganhar
tempo no desenvolvimento, ao reduzir o inimigo a
possibilidade de desenvolver as peças. 1-0
Ataques sobre o Roque

Este tema não é, por certo, uma novidade. Tem sido considerado pela maioria dos
técnicos, e com frequência preocupa quem pretende compreender os aparentes mistérios
estratégicos do jogo. Também tem outro aspecto que o faz agradável de ler e considerar
que é o objetivo direto de dar mate, e os procedimentos tão impressionantes (sacrifícios e
jogadas de iniciativa) que fazem este tema bonito e de fácil compreensão.

O Ataque direto sobre o Rei

O sacrifício é a nota vibrante do xadrez, tem o brilho que embeleza a antiga guerra, onde
se lutava de frente e cara a cara, o que sem dúvida era menos hábil que o atual, porém
muito mais digno e emocionante. Eram problemas de vida e morte, e os ataques sobre o
roque em xadrez são sinais disto. Neles, se lutam abertamente em busca de uma vitória,
com planos claros que o adversário conhece e que em muitos casos não pode evitar. Mas
estas combinações não são misteriosas e podem se explicadas.

Para efetuar um ataque sobre o roque é fácil estabelecer alguns princípios estratégicos
indispensáveis para que o ataque tenha perspectivas de êxito. Vejamos estes princípios:

Os pontos atacáveis

As características do roque que se deseja atacar assinalam o tipo do ataque que se deve
lançar. Se o roque esta debilitado (com peão avançado) a maneira de ataca-lo consiste no
avanço dos próprios peões. Se é um roque com a configuração perfeita (todos os peões
em sua casa inicial), o meio para debilita-lo é mais perigoso para que ataca: o sacrifício
de material.
Nos ocuparemos primeiro e exclusivamente deste tipo de ataque e estabeleceremos
alguns princípios estratégicos indispensáveis para realiza-lo.

1º - Quem ataca deve possuir vantagem de espaço no centro do tabuleiro, o que equivale
a dizer que deve dominar o maior número de casas que o adversário.

2º Possuir um peão em e5 contra um peão em e6 do adversário é uma das posições


típicas de ataque sobre o roque.

3º A importância do princípio anterior esta em que o peão em e5 elimina a casa de f6 do


cavalo adversário, peça que defende quase definitivamente o ataque sobre o roque.

4º Deve-se dominar alguma diagonal sobre o roque e deve possuir, na generalidade dos
casos, o próprio cavalo em f3.

5º A existência do bispo do rei, que é o bispo mais agressivo ao ponto h7 inimigo.

6º Isto pode completar e até substituir a posição das colunas abertas sobre o roque
adversário.

7º Quando isto não é possivel, se deve substituir com a colocação das torres na terceira
linha. Isto para os ataques por meio de peças, quando os peões do que ataca
permanecem imóveis, que é o tipo de ataque rápido do qual vamos nos ocupar.

8º O domínio das casa f6,g6 e h6 que assegura o êxito de qualquer ataque.


9º O domínio da quinta horizontal, especialmente a colocação de um cavalo em f5,h5 ou
g5 nesta mesma ordem de importância.

10º Vantagem de material móvel na ala que se desenvolve o ataque.

1.e4 e5 2.Cc3 Cf6 3.Bc4 Cxe4 Antiga variante das


negras contra a abertura Vienense, que tem o
defeito de tirar o cavalo de seu ponto natural f6. Este
detalhe, agora sutiel, é a primeira pista de que
Meises se posiciona para ganhar a partida 4.Dh5
[4.Cxe4 d5] 4...Cd6 Isto apoia o ponto f7, ataca o
bispo e remedeia a situação, mas tem um defeito
fundamental: retira o cavalo da casa f6 e o
compromete para o caso de um eventual roque.
5.Bb3 Be7 6.d3 0-0 Esta jogada das negras
equivale a um desafio. É um roque que viola alguns
princípios fundamentais que esboçamos. As negras
não possuem o cavalo em f3 e seu roque adquire,
por isso, o máximo de vulnerabilidade. Estão pior
desenvolvidas e tem dificuldades para levar as peças
a defesa por obstrução que o cavalo faz em d6.
7.Cf3 Cc6 8.Cg5 As brancas se ajustam em um
todo a procedimento clássico para atacar. Agora,
mediante a aplicação do princípio nove (domínio da
quinta fila) começa o ataque, que logo derivará
sobre outros típicos temas de ofensiva sobre o
roque. 8...h6 As negras são obrigadas a acentuar
sua debilidade 9.h4! Outro método típico. Agora se
apoia o cavalo sacrificando-o, mas para conseguir
abrir a coluna h e permitir que, em troca de um
cavalo perdido, atue a torre, Como se vê, uma
generosidade perigosa. 9...Ce8 As negras tentam
reparar a falha estratégica. Procuram situar i cavalo
em f6 para rechaçar a ofensiva e facilitar o avanço
do PD e permitir que o BD atue. 10.Cd5 planejando
Position after: a combinação clássica. 10...Cf6 As negras tem
procurado levar o cavalo a f6 mas já é tarde. Agora
Mieses apela também a um recurso clássico neste
tipo de posição, que tem seu êxito no oitavo
princípio. Entregará a dama na casa g6 para abrir a
diagonal grande ao bispo e preparar um mate
magnífico. 11.Dg6!! A superioridade em espaço e a
racional disposição das peças no ataque fazem
possivel esta jogada aparentemente surpreendente.
11...fxg6 [11...hxg5 12.hxg5] 12.Cxe7+ Rh8
13.Cxg6# 1-0
Sacrifícios

Vimos o princípio básico que há em muitas partidas magistrais e aprendemos que o ataque ao roque estão
regidos por uma série de princípios inalteráveis que fazem fácil a tarefa de quem os compreende e aplica
sabiamente. O ataque ao roque é o primeiro obstáculo do enxadrista principiante na marcha pela estratégia
do jogo.

As dificuldades do principiante

Uma vez que o jogador aprende o movimento das peças começa sua odisseia. Dispõe de elementos para
combater e não sabe maneja-los, e isto se converte, não só inúteis em suas mãos, mas a maioria de suas
derrotas acaba acontecendo devido a sua próprias peças que entorpecem sua ação.

Uma obra de arte de Janovsky

O mestre Janovsky, que foi um dos maiores jogadores de combinação da época moderna, se encarrega de
debilitar o roque e quando o adversário apela ao recurso de avançar o peão da torre do rei, realiza um dos
típicos sacrifícios, que mostra a debilidade deste avanço que tanto gostam os principiantes.

1.d4 Cf6 2.Cf3 e6 3.Bg5 c5 4.e3 O apoio permanente


do ponto avançado central é o tema estratégico da
abertura. Sustentar um peão central com outro peão não
traz qualquer debilidade. 4...Cc6 5.Cbd2 As brancas
desejam uma espécie de sistema Colle, com o bispo da
dama fora da cadeia de peões. Só isto justifica esta
jogada, já que as posições correntes da abertura do peão
da dama é conveniente desenvolver o cavalo em c3 após
jogar c4. 5...b6 6.c3 Bb7 7.Bd3 cxd4 Esta troca de
peões é um erro. Convém dilatar esta definição central,
porque a possibilidade de troca impede o avanço do peão
do rei, que é, na realidade, o que as brancas tentarão
fazer. Ao trocar os peões se consolida a situação central
das brancas e assegura-se a vantagem em espaço.
8.exd4 Be7 9.Cc4 começa o plano elementar que
desenvolve-se nesta abertura e em todas aquelas
posições em que haja um coluna aberta: colocar um
cavalo na casa que esta diante do peão adversário. 9...0-
0 10.De2 Dc7 11.h4! Um tipo característico de ataque.
Parecerá de difícil concepção este lance, mas não é.
Position after: Basta observar a quantidade de forças de que dispõe o
branco sobre o rei adversário para ver a enorme
desproporção de material. As brancas tem os dois bispos,
ambos cavalos e a dama em excelente posição para
atacar, o negro tem reduzidas defesas, somente duas
peças:o cavalo em f6 e o bispo em e7. Este desequilíbrio
provoca o plano. BxC, seguido de Bxh7 e Cg5+ com
ataque irresistível. Pode-se observar porque as brancas
atacam antes de rocar grande, a a razão também é muito
lógica. Pode-se rocar a qualquer momento e é preferível
efetua-lo se houver necessidade, uma vez que as pretas
acumulem forças sobre a coluna do rei. Também o fato
de poder rocar a qualquer momento atrapalha os planos
das negras, que não tem um alvo definido. 11...h6 O
avanço deste peão facilita o ataque das brancas: cada
peão avançado do roque é uma possibilidade a mais que
se dá ao adversário pela maior facilidade em ataca-lo.
Mas a verdade é que agora resulta difícil evitar a
combinação das brancas sem pensar nesta debilidade.
Esta é, na realidade, a força que se depreende das
posições vantajosas: forçar o rival a incorrer em
debilidades táticas que facilitem a preparação de planos
ganhadores. 12.Dd2 As brancas reforçam suas baterias
contra o peão avançado. Este sacrifício de bispo é típico e
clássico. Sempre que se possua a torre em h1 e o bispo
em d3 é possivel entregar o bispo apoiado pelo peão da
torre do rei. A razão é simples, porque ao retomar o peão
que captura o bispo, se ataca o cavalo, e a ação
conjugada das peças sobre h7 deve ser decisiva. O único
reparo que se pode formular a este princípio existe
quando as negras podem colocar seu cavalo atacado pelo
peão (depois de PxB e PxP) em e4, obstruindo o bispo.
12...Cg4 13.Bf4 d6 14.Ce3 Esta jogada tem por
objetivo eliminar o cavalo em g4, que é a única peça que
impede o sacrifício em h6. É uma troca correta, já que
troca a única peça menor branca que não atava
diretamente o roque, por outro que o apoia. Esta troca de
material na zona ofensiva será decisiva. 14...Cxe3
[14...Cf6 15.g4 -- 16.g5] 15.Dxe3 E agora o roque
negro carece de apoio do cavalo em f6 e oferece a
tentadora possibilidade de um sacrifício pela debilidade
que significou o avanço do peão da torre. Observe que as
brancas atacam com ambos os bispos, que o cavalo
rapidamente pode atacar, e que a torre do rei pode ser
rapidamente posicionada na terceira fila. 15...h5 Evita o
sacrifício mas dá um novo tempo as brancas 16.Th3! e5
As negras se defendem da melhor maneira. Quando o
inimigo ataca e não se pode transportar tropas a zona
atacada, é princípio elementar no xadrez, como na
guerra, contra-atacar em outro ponto, preferencialmente
no centro, pois desta maneira se consegue distrair a
atenção e abrir brechas numa zona cercada e socorrer a
zona atacada. 17.dxe5 dxe5 18.Cxe5 Cxe5 19.Bxe5
Bd6 Aparentemente a posição das negras se equilibrou,
porque além da simplificação, houve a abertura de linhas
sobre o rei inimigo e se ameaça Te8. Mas agora surge a
jogada típica de sacrifício, que mediante a ameaça de um
mate inevitável cria outro. 20.Dh6!! E as negras
abandonam 20...gxh6 [20...g6 21.Dg7#] 21.Tg3# 1-0

Roque grande contra roque pequeno

Temos visto uma família de ataques sobre o roque pequeno. Este é um tema de grande
interesse e poder de atração ao aficcionado que estudaremos mais adiante vários de seus
aspectos. Agora nos ocuparemos do ataque o contra-ataque, Observaremos um duplo
duelo sobre ambos roques: o pequeno e o grande, e veremos como, por sua maior
debilidade natural deste último, triunfa geralmente que efetuou o roque na ala do rei.
Mas, antes, é justo que detalhemos por que causa é mais débil o roque grande. A razão é
simples: quando o rei se coloca na ala da dama, tem uma maior extensão os pontos
vulneráveis: c2,b2,a2. Também é um convite ao ataque, porque não há jogador, por mais
mediocre que seja, que não vislumbre uma ataque sobre o roque grande. A maior
quantidade de linhas por onde o rei pode ser atacado faz com que geralmente se abra
alguma coluna sobre o mesmo por meio dos avanços de peões, e desta forma os riscos
são muitos maiores.

As táticas bem definidas


Quem ataca deve buscar a troca de peões desta ala para abrir colunas sobre o rei, e que,
por consequência lógica, quem se defende em todos os ataques sobre o roque, deve
tratar de evitar estas trocas e bloquear a situação com seus próprios peões, desta
maneira, as peças inimigas, especialmente as torres não tem ação.
E como se chega a isto ? É muito fácil dizer o que se deve fazer, mas o que há de dizer é
como se deve fazer. Na verdade isto é mais difícil, pois entra no terreno da técnica do
jogador, mas apesar disto, há alguns princípios fundamentais que permitem ao
principiante facilitar sua tarefa mental.

Algumas regras fixas

O jogador que defende o roque não deve avançar os peões do seu roque. O jogador que
defende nunca deve provocar com seus peões a um peão inimigo, salvo em posições
especial; mas isto só é bom quando há tantas peças que defendem quanto as que
atacam, e quando os próprios peões encerram a própria força. Ao abrir o jogo o lado
defensor pode contra-atacar na ala atacada, mas isto é muito pouco usual. O que sucede
geralmente é que quem ataca, melhor dito, quem ataca bem, o faz porque possui maior
número de efetivos que o adversário desta ala.
Mas, dirá o aficionado, não é possivel evitar que o adversário nos provoque ? Neste caso,
cabe a um a opção de aceitar as provocações trocando peões e abrindo colunas, ou
evitar, avançando o peão atacado e começando a bloquear o jogo.
Em síntese: o bloqueio se consegue sempre quando o que atacado por meio de peões
avança seus peões agredidos, evitando que estes possam ser trocados.
Disto resulta sempre que o ataque é um problema tático, fácil de resolver favoravelmente,
sempre para quem sabe valorizar de justa maneira quando a possibilidade de ganhar
espaço se justifica o sacrifício, pois as posições de bloqueio só se desfazem por meio de
entrega de material.

Veremos um exemplo de roque grande contra roque pequeno com Nimzowitch,


aparentemente, em uma posição perdida, contra-ataca e, mediante o sacrifício de várias
peças, abre brechas no jogo inimigo.

1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Cf6 4.Bg5 Bb4 Esta jogada da


lugar a variante McCutcheon da Defesa Francesa. É uma
linha de jogo perigosa e de contragolpe. As negras, em vez
de resignar-se a defender sua posição e neutralizar a ação
das peças adversárias, opta por buscar a solução
estratégica da abertura em contra-ataque. As brancas
defenderam o peão em d4 ao cravar o cavalo, e as negras
cravam o CD inimigo e o anulam como peça de ação
central, Uma verdadeira luta pelo centro por
procedimentos indiretos. 5.exd5 [Mais enérgica parece
ser: 5.e5 h6 que tem a dupla virtude de limitar o campo de
réplicas inimigas, já que ataca o cavalo e este só pode ser
defendido por h6, que ameaça o bispo e não permite que o
BD negro jogue.] 5...Dxd5 [É provavelmente melhor:
5...exd5 mas Nimzowitch gostava das posições
desequilibradas, como se denomina todas as que se
caracterizam por existir uma linha aberta para cada
jogador. Da troca de peões só ficaria aberta a coluna "e"
cada adversário acumularia nela força com possibilidades
iguais e por essa via se produziria a simplificação. Ao
Position after: evitar a troca, fica a disposição das brancas parte da
coluna "e" e para as negras parte da coluna "d". As peças
não se trocam e o jogo, por esta causa, se faz mais difícil.]
6.Bxf6 gxf6 Já se abriu a coluna "g", o que impede as
negras de rocarem nesta ala, pela facilidade da torre
branca em atacar g7. 7.Cf3 Cc6 8.Be2 Bd7 9.0-0!?
Provocando um duelo de morte, as brancas buscam o
ataque, porque sabem que o adversário não poderá atacar
sem rocar grande e estão dispostas a contra-atacar neste
setor. 9...Bxc3 10.bxc3 Tg8 11.c4 Dh5 12.d5! A luta
complicou e as negras tentam abrir a posição central,
desejosas de verificar se é verdade que não é possivel
atacar nos flancos enquanto o centro se acha incerto.
Princípio da estratégia militar e enxadristica que tem
resistido a todas as experiências. 12...0-0-0 Colocando o
rei em segurança 13.Cd4 [13.dxc6 Bxc6 14.De1 Bxf3-+]
13...Dh3 14.g3 Tg6 Este é um erro que tem sua origem
no defeito de se levar pelas jogadas "naturais". Em xadrez,
há que desconfiar da primeira impressão e esta partida é
uma prova disto. Observe a aparente razão deste lance,
pois tudo parece indicar que as brancas estão perdidas
depois da jogada Th6 das negras; mas Nimzowitch viu
mais longe, e mediante uma magnífica combinação
destruirá as ilusões de seu adversário. 15.dxc6!! Bxc6
16.Cxc6!! O sacrifício ganhador, que a custa da dama tira
do rei uma coluna de possivel fuga 16...Txd1 17.Tfxd1
bxc6 E agora parece que as brancas estão perdidas, mas a
abertura desta nova coluna coloca o rei em posição de
mate. 18.c5! Tg8 19.Tab1 1-0
Importância da formação de peões

Sabemos de que maneira se vulnera um roque grande e como do duelo de ataques de


força similar entre um setor e outro resume sempre maior periculosidade ao que é
orientado a ala da dama. Mas é bom destacar alguns princípios gerais que facilitam a
tarefa analítica do aficionado.

Poderíamos estabelecer, por exemplo, que o roque grande é geralmente mais perigoso
para as brancas nas posições que derivam do gambito da dama que em aberturas do
peão do rei, pelo fato de que tem avançado o PBD, e este avanço deixa a mercê do
adversário a diagonal a2-g8. Igualmente poderíamos estabelecer que em sua maioria os
riscos que se derivam deste roque surgem da facilidade que tem o adversário para abrir
uma coluna sobre o rei; disto se deduz que não é prudente rocar grande quando se
avançou o PBD e tampouco quando o adversário pode trocar rapidamente os peões.

Algumas conclusões

Disto surge o seguinte: que para rocar grande sem risco há que dispor ou de um bom
contra-ataque na ala do rei que impeça ao adversário fazer o que bem intenda, ou estar
muito simplificada a situação, ou ter os peões da ala do rei vulnerados ou desarticulados.
Do ponto de vista do atacante: deve-se conservar o par de bispos a todo custo, pois a
ação cruzada dos mesmo trazem um bom número de combinações de mate. Também
devem tratar de dominar a coluna da "d" para evitar a fuga do rei e forçar o avanço de
algum peão sobre o roque, especialmente o PBD.

Rabinovich - Romanovsky [E23]

1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cc3 Bb4 A presente partida foi


jogada a mais de quinze anos e já então o sistema
Nimzowitch mantia seu atual prestígio. A jogada das
negras é o sistema moderno mais racional para
apoderar-se com as negras da casa e5. Observe que
ao vulnerar o cavalo branco que toma este quadro,
este fica a mercê do cavalo negro em f6. 4.Db3 c5
5.dxc5 Cc6 6.Bd2 Atualmente se joga nesta posição
Cf3 mas duvidamos que seja superior a do texto, já
que agora não é possivel a réplica Ce4 que tanto
molesta a variante normal. 6...Bxc5 7.e3 0-0 8.Cf3
d5 Depois da ameaçadora variante Nimzowitch, se
chegou a uma espécie de variante ortodoxa do
gambito da dama, em que estão um pouco melhor as
negras pelo domínio do ponto e5 e por ter vantagem
no centro pela existência de um peão em d5 9.0-0-0
E aqui se produz o desnível estratégico. As brancas
realizaram uma jogada muito delicada que gravitará
fundamentalmente sobre o curso ulterior da partida.
O roque que efetuam é muito valente, e até
tentador, pois coloca economicamente a torre em d1
Position after: vulnerando o peão central inimigo, e se livram das
dificuldades que o roque na ala do rei causaria, pois
teriam que perder um tempo. Mas o rei foi colocado
em local seguro ? Este é um grave dilema, pois a
coluna "c" esta semiaberta e a diagonal a2-g8 esta
igualmente a mercê da possibilidade de ação do
bispo da dama negro. É evidente que as brancas
terão de atacar o flanco do rei, mas é evidente
também que há mais debilidade na ala da dama
branca, e ainda é necessário produzir debilidades no
roque negro. 9...dxc4 10.Dxc4 De7 11.Bd3 Cb4 A
partida é interessante. As brancas colocam seu bispo
na diagonal vital b1-h7 para evitar que o adversário
faça o mesmo com seu bispo da dama, e também
preparam um ataque ao roque negro. Para este
ataque, é necessário avançar o peão para e5, de
acordo com os princípios vistos, de acordo com o
qual é necessário desalojar o cavalo negro de f3.
12.Bb1 b6 13.Dh4 As negras precisam mover seu
bispo da dama para dar jogo a torre sobre a coluna
"c". As brancas orientam suas baterias sobre o roque
adversário, que só esta defendido (solidamente) pelo
cavalo em f6. 13...Ba6! Muito hábil. As negras
planejam, com esta manobra, eliminar o bispo do rei
inimigo para aliviar o ataque conjugado deste bispo e
da dama sobre a casa h7, e para começar a reduzir o
campo de retirada do rei inimigo e apoderar-se com
seu bispo desta importante diagonal. 14.e4 Começa
a manifestar-se a contra-ofensiva branca. 14...Cd3+
15.Bxd3 Bxd3 16.Bg5 As brancas jogaram bem. A
primeira vista tudo parece indicar que estão melhor
pela força do avanço incontivel do peão em e4, já
que agora atacam o bispo de d3 e as negras devem
perder um tempo para apoia-lo. Mas, nesta partida,
se porá em evidencia a debilidade do roque grande
na abertura de peão da dama. 16...Tfd8! Começa a
preparar-se a notável combinação. As negras
colocam uma torre na diagonal vulnerada pelo bispo
branco. 17.e5 Ba3!! E novamente surgiu o tema de
combinação do dois bispos como meio de ataque ao
roque grande. O duplo ataque da a luta notável
relevo e a perda de um tempo pode ser decisiva.
18.exf6 [18.Txd3 Txd3 19.Rc2! Dc5 20.Rxd3 Bxb2
21.Dd4 Dc7 22.Cd5²] 18...Dc5 19.Bd2 Bg6!
20.Da4 b5 21.Dxa3 [21.Dxb5 Tab8; 21.Db3 b4
22.bxa3 bxc3 23.Bxc3 Tdb8] 21...Df5 0-1
Vantagem de espaço e sua conseqüência no ataque

Veremos mais uma vez o mestre austríaco Spielmann demonstrando com seus exemplos a
força do recurso estratégico nas posições abertas do sacrifício de material, não tendo o mate
como meta, mas limitar o campo de réplica do adversário, assegurar vantagem em tempo e
espaço e obrigar o adversário (para safar-se do ataque) a devolver generosamente o sacrifício.
Observaremos que quem ataca, nestas posições, tem superioridade de peças móveis e que
dispõe de alguma linha aberta ou possibilidade de conquista-la. Desta maneira, chega-se a
máximo da eficiência das forças e assim criam vital importância e o máximo de seu poderio Se
um jogador possui uma torre e um bispo nos pontos culminantes de sua eficiência, e tem a
possibilidade de atacar mediante a ação conjugada destas peças, entregar um peão para
chegar ao ataque não é um ato temerário, mas inteligente.

Spielmann - Grunfeld [C33]

1.e4 e5 2.f4 exf4 As negras aceitam o gambito


desejosas de provar que para a técnica moderna este
tipos de ataques rudimentares, cujo fundamento é
deficiência em f7, nada significam. Grunfeld deve ter
sentido um pouco de repugnância ao entrar nesta
abertura e quis castigar a ousadia de Spielmann.
[Melhor que aceitar o gambito, que obriga a saber
muitas variantes, é simplesmente seguir com 2...d5
chamado contra-gambito Falkbeer.] 3.Bc4
[habitualmente se joga aqui 3.Cf3 por temor ao
xeque da dama em h4. Mas a experiência tem
provado que as brancas, mediante a aparente
desagradável jogada 4.Rf1, ficam com grandes
recursos de contra-ataque, pelas perdas de tempo
que se derivam da situação da dama em h4. 3...Cc6]
3...Cc6 4.Cf3 g5 Sem dúvida, o mais lógico. As
negras ganharam um peão, mas tem de ceder as
brancas a possibilidade inevitável de jogar d4 e
Position after: assegurar o centro. É justo que tratem de compensar
isto com a vantagem material. 5.0-0 d6 6.d4 Bg7
7.c3 h6 A primeira vista, parece que Grunfeld chegou
a seu propósito, já que o peão ganho esta
solidamente apoiado, e possui uma cadeia de peões
aparentemente invencível, enquanto as peças da ala
da dama branca tem dificuldade em desenvolvimento,
especialmente por causa da força de contenção do
peão negro em f4. Mas não devemos nos contentar
com isso. Devemos procurar um plano de ação. Note
que há um ponto na posição negra que esta atacado
pelo bispo do rei, e se não houvesse o peão em f4,
estaria atacado pelo bispo e pela torre. Este ponto é
sempre a conjugação das linha geométricas: a ação
diagonal do bispo se encontra com a horizontal da
torre nesta casa; este ponto é chamado de ponto de
coincidência das peças, que é a casa f7. Temos,
agora, traçado o plano. O que devemos fazer é tratar
de desalojar o peão f4 e devemos fazer
imediatamente, já que a medida que a partida avança
se fará mais poderosa a força da vantagem material
negra (um peão). Assim deve ter raciocinado
Spielmann 8.g3 Sem temer a debilidade de seu
roque, pois sabe que o domínio da coluna "f" deve ser
mais valioso. 8...g4 As negras não querem ceder às
brancas a coluna "f" e tentam colocar um fortíssimo
peão na sexta fila (peão defendido por outro peão).
9.Ch4 f3 10.Cd2 Bf6 Ameaçando BxC, eliminando o
incomodo cavalo, apesar de estar quase inativo em
h4. Mas Spielmann viu isto e abrirá quase a força a
coluna "f" que vale muito mais que a peça entregue.
Aprofundando um pouco, veremos a simplicidade e
lógica do sacrifício. O cavalo em b1 não servia para
outra coisa senão entorpecer sua própria torre. As
brancas tem um plano geral que esta dificultado por
um bloqueio de peões que só pode ser destruído pelo
sacrifício e o adversário não desenvolveu suas peças,
preocupado com o avanço de peões, e segundo
Tarrash: "os movimentos de peões na abertura
significam perda de tempo". Então a superioridade
em tempo é a justificativa deste sacrifício, que
também vai assegurar vantagem em espaço, pois as
brancas dominam um amplo setor da tabuleiro.
11.Cdxf3 gxf3 12.Dxf3 Th7 O primeiro erro sério
de Grunfled. O melhor era Bh6, seguido de Dd7 e O-
O-O, para sair com o rei da zona atacada. Mas
Grunfeld não vê a urgência desta estratégia, e sua
lentidão em defender-se será explorada por
Spielmann. 13.Cg6 Notável manobra para salvar o
cavalo e coloca-lo numa casa mais poderosa.
13...Tg7 14.Cf4 Bg4 15.Dg2 Bg5 É interessante
observar que as brancas entregaram um peça e os
resultado não podem ser vistos ainda. Foi
simplesmente um sacrifício com finalidade estratégica
tendo como meta desorganizar a posição adversária.
16.h3 Bd7 [16...Bxf4 17.Bxf4 Bd7 18.Tae1] 17.Ch5
Th7 A posição é muito instrutiva. As negras tem uma
peça a mais, porém as brancas possuem
superioridade agressiva na zona central do combate.
As brancas conseguem livrar linhas para sua torre e
seu bispo bispo pressiona o peão f7 adversário.
Agora, conhecendo a importância das linhas abertas
nas partidas de ataque, realizam uma manobra
magistral: em lugar de acumular forças sobre um
ponto atacado, tratam de abrir novas brechas antes
que seu adversário possa achar solução para seus
males por meio do roque grande. Por esta razão seria
mau Df3, porque as negras jogariam De7 para rocar.
Para que obrigar o adversário fazer um bom lance ? E
isto que parece tão simples é a causa de muitas
derrotas entre aficionados. 18.e5! Dando a dama
branca a casa e4, e dela pode-se atacar a torre do
rei, que é toda a esperança defensiva negra.
Novamente, a importância das aberturas de linhas.
18...dxe5 19.De4 f5 20.Txf5! Spielmann segue
entregando material para definir a luta a seu favor
antes que seu rival afirme sua condição defensiva.
Observe como aumentou a força agressiva do bispo
do rei branco e como a torre será recapturada com
vantagem para a dama branca. Que importa perder
uma torre se elimina-se um bispo poderoso, se desfaz
a configuração de peão que podia apoiar o rei e pode-
se trazer rapidamente a outra torre para a luta?
20...Bxf5 21.Dxf5 Te7 22.Bxg5! hxg5 23.Tf1 As
brancas não se apressaram a capturar o cavalo,
mesmo porque este não tem aonde ir, já que esta
atacado, e é necessário para evitar a ameaça Cf6+, e
que, por outra parte, se for a h6 poderia ser
capturado. Com uma torre a menos, mas todas as
suas peças coincidem no ataque sobre o roque e as
negras não podem coordenar suas forças para
defender-se bem. Não há, em realidade, a
desvantagem de material, porque as forças brancas
que atacam são superiores as que defendem e o
adversário não pode reunir rapidamente seus efetivos
para defender-se. 23...Dd6 24.Bxg8 exd4 25.Df8+
Rd7 26.Dxa8 As brancas recobraram o material e
contam com uma peça a mais de vantagem. O resto
não tem importância para o tema que tratamos aqui.
26...Dd5 27.Cf6+ Rd6 28.Df8 De5 29.Rg2 d3
30.Tf2 De1 31.Dh6 1-0
O domínio do centro, base de toda operação
Até o presente temos estudado o xadrez através de sua primaria finalidade que é dar
xeque-mate ao rei adversário. Nos temos ocupado de diversos tipos de ataque sobre o
rei, tema que, por outra parte, não esgotamos e sobre o qual voltaremos oportunamente.
Agora veremos como a combinação é também um instrumento magnífico na etapa
intermediária do abertura, quando se faz necessário abrir linhas para dominar o centro do
tabuleiro, ou para obter vantagem de espaço. É simplesmente uma variação do tema que
tratamos em nossos primeiros estudos, ou seja, a luta do tempo contra material. Esta é a
base de quase toda a estratégia do jogo de combinação e é a ideia animadora de quase
todos os gambitos, especialmente do bispo do rei.

Geralmente, para este tipo de estratégia, a peça que se sacrifica é o peão, por ser a
menos valiosa. Mesmo que o propósito para ganhar tempo fracasse, será possivel, com
vantagem posicional, um procedimento para compensar sua perda. Paul Morphy foi o
primeiro que chegou a este detalhe como tema estratégico, e suas vitórias foram produto
de sua habilidade para especular com o sacrifício de material como meio para assegurar
vantagem nos planos em desenvolvimento.

Para dar maior realidade ao afirmado começaremos por estudar uma partida jogado por
Spielmann contra Flamberg.

Spielmann - Flamberg [C29]

1.e4 e5 2.Cc3 Cf6 3.f4 A ideia da abertura Vienense


nesta variante é a que justifica quase todos os gambitos.
Se entrega um peão para desviar o de e5 adversário do
domínio do centro, obrigando ao rival, se quiser manter o
material, a efetuar jogadas ilógicas pelo flanco e
assegurar-se de uma posição estrategicamente dominante
no centro do tabuleiro. As negras não devem capturar o
peão, mas fazer uma contra-ofensiva no centro para
assegurar o equilíbrio na zona vital do combate. 3...d5
4.fxe5 Cxe4 5.Cf3 Bg4 [A experiência aconselha como
melhor jogada a menos agressiva 5...Be7 preparando o
roque e o avanço libertador de f6, que permitirá equilibrar
as ações no centro e da ala do rei.] 6.De2 Cc5 [É melhor
6...Cxc3 ] 7.d4! Bxf3 8.Dxf3 Dh4+ As brancas iniciaram
no lance 7 uma manobra ousada que lhes custará nada a
menos que dois peões centrais. Mas, em troca, lhes
permitirá ganhar tempos e abrir linhas para seus bispos e
torres e assegurar vantagem de desenvolvimento, que vale
mais do que os dois peões entregados. Spielmann podia
jogar Df1 defendendo-se, mas ele prefere as complicações.
9.g3! Dxd4 10.Be3! Dxe5 11.0-0-0 Simplesmente isto é
o que deseja Spielmann em troca dos peões entregues.
Seu plano não foi dar mate nem atacar o rei diretamente.
O objetivo que o guiou foi tirar vantagem do
desenvolvimento, consciente de que isto necessariamente
deve influenciar de maneira definitiva o curso da partida.
11...c6 12.Cxd5! E agora seguem os sacrifícios lógicos. As
brancas tem praticamente todas as peças em jogo e as
negras só duas, e mal apoiadas. Agora, o problema da
brancas é atacar antes que as negras cheguem a atenuar
esse defeitos básicos de sua posição. 12...cxd5 13.Txd5
De6 A posição é muito interessante e digna de análise.
Flamberg não jogou o melhor, mas, na verdade, era muito
difícil o problema. 14.Bc4 De4 15.Bxc5 Dxf3 16.Te1+
Be7 17.Txe7+ Rf8 18.Td8# Partida curta, mas
demonstra a valiosa vantagem em desenvolvimento na
Position after: abertura e os perigos que resulta perder tempos para
ganhar peões. Dr.Tarrasch disse: "Ganhar peões na
abertura é sempre um erro" 1-0

Spielmann - Eljaschov [C39]

Aproveitaremos este tema para revisar outra partida de


Spielmann, em que joga o gambito Allgaier, uma das mais
extraordinárias concepções da técnica antiga. Este gambito
encaixa-se em nosso tema porque as brancas entregam
material para tirar o rei de sua casa original. Entra-se
assim, no tema que trataremos adiante, o sacrifício em f7
para por o rei adversário em perigo e tomar importantes
filas e colunas por quais se filtrará a vitória antes que o
adversário tenha tempo para por suas peças em ação. Não
é simplesmente a finalidade do sacrifício dar mate, mas
obrigar o adversário, para neutralizar o ataque, a devolver
material em posição desvantajosa. 1.e4 e5 2.f4 O
gambito do rei, que somente se justifica como tema
estratégia de abertura abrindo linhas antes que o
adversário se desenvolva. 2...exf4 3.Cf3 g5 Um mal
negócio. Se as negras querem conservar o peão devem
fazer jogadas ilógicas no flanco descuidando-se do
principio estratégico de toda abertura: o domínio do
centro. E isto bem vale um peão. O melhor, neste caso, é
capturar o peão e logo entrega-lo novamente, jogando d5
e desafogando rapidamente o jogo. 4.h4 g4 5.Cg5 h6
6.Cxf7 Este lance é o famoso gambito Allgaier. As brancas
entregam sua única peça em ação para tirar o rei de sua
casa de origem e especulando com a desmantelada
situação do rei conseguem um ataque. Se engano, a
técnica moderna demostra que este excessivo liberalismo
é imprudente. Mas isto é só teoria, pois na prática alguns
jogadores muito experiente não sabem como defender-se.
6...Rxf7 7.Bc4+ d5 O melhor. Contra todos os gambitos
o verdadeiro antídoto radica na realização deste sacrifício
que da jogo ao bispo da dama. 8.Bxd5+ Rg7 9.d4 Df6
[Melhor seria 9...Cf6 ] 10.e5 Dg6 11.h5 Df5 12.Cc3 Bb4
13.0-0 f3 14.Ce4 Dxh5 15.Cg3 Dh4 Agora parece que
são as negras que tem o ataque, já que ameaçam DxC, e
eventualmente g3. Mas Spielmann conhece o princípio das
colunas abertas e agora seguirá sacrificando material para
fazer eficaz a ação que esta desenvolvendo o bispo de d5
sobre o ponto f7. 16.Txf3! gxf3 17.Dxf3 Cf6 [17...De7
18.Ch5+ Rg6 19.Be4+ Bf5 20.Dxf5#] 18.exf6+ Rf8
19.Bf4! Ca6 [19...Dxf6 20.Bd6+ Rg7 21.Ch5+; 19...Bd6
20.Bxd6+ cxd6 21.De3 Th7 22.Te1 Bd7 23.Bxb7] 20.De4
Position after: Dg4 21.Bxb7 Bxb7 22.Bxh6+ Txh6 23.Dxg4 As
brancas ganharam a dama em troca de uma torre e dois
bispos, o que seria pouco em situações normais. Mas as
peças negras estão desconexas. Não podem apoiar-se
entre si e existe a poderosa ameaça Dg7+ 23...Th7
[23...Txf6 24.Cf5 Tf7 25.Dh5] 24.Dg6 Tf7 25.c3 Bd6
26.Cf5 Be4 27.Dh6+ Rg8 28.Dg5+ Rf8 29.Ch6 1-0
Ataques sobre o ponto f7
O ataque sobre o ponto F2/F7 é um dos temas primitivos da técnica enxadrística. O mate
Pastor é sua primeira expressão e o de "Legal" a segunda prova do gênio do talento
enxadristíco. Os quatro séculos do xadrez vividos na Europa girou ao redor deste tema e
somente neste século se observou uma reação contra essa unilateralidade da técnica de jogo.

Vista a impossibilidade de chegar a um bom fim por meio deste tipo de ataque, os mestres
foram complicando a técnica do jogo e surgiu a escola moderna. Mas isto não acabou com a
combinação direta, já que seria infantil repudia-la sistematicamente; o que se fez foi retira-la
da prática das posições que não a justificavam, e os mestres modernos buscaram novas
variações da mesma ideia para complicar sua realização e faze-la menos acessível aos olhos
inexperientes.

Uma dais manobras mais interessantes deste tipo foi a do sacrifício em f7, não para dar mate
imediatamente, mas para colocar o rei inimigo diante de sua cadeia de peões. Veremos duas
curtas partidas com idêntica ideia.

Holzhausen - Tarrasch [C50]

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 Be7 4.d4 exd4 5.Cxd4 Cf6


6.Cc3 d6 7.0-0 0-0 8.Te1 Te8 9.b3 Cd7 Esta é a
posição típica dos sacrifícios de que vamos nos ocupar: o
peão do bispo do rei se encontra carente de sólido apoio,
o que obriga o rei a capturar a peça que se entrega e
deixa a casa e6, igualmente sem fiscalização do peão
capturado. Começa a extração forçado do rei, para
obriga-lo a colocar-se numa casa da qual pode ser
facilmente atacado. 10.Bxf7+ Rxf7 Para não perder o
peão e qualidade. 11.Ce6!! O segundo sacrifício típico. A
força do mesmo radica na situação em que se acha a
dama negra bloqueada. Por isto, deve-se ter em conta, ao
realizar o sacrifício, se o adversário pode desenvolver a
dama ou se pode eliminar com outra peça, que não seja o
rei, o cavalo em e6. 11...Rxe6 12.Dd5+ Rf6 13.Df5#
1-0

Position after:

Alekhine - Feldt [C11]


1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Cf6 4.exd5 Cxd5 5.Ce4 f5
6.Cg5! Muito bem jogado. Como o cavalo não pode ser
economicamente desalojado por meio de h6, por causa de
Dh5+ (consequência da debilidade que se origina no
avanço do peão do bispo do rei) as brancas começam a
atacar o flanco inimigo. 6...Be7 7.C1f3 c6 8.Ce5 0-0
[8...Bxg5 9.Dh5+] 9.Cgf3 b6 10.Bd3 Bb7 11.0-0 Te8
12.c4 Cf6 13.Bf4 Cbd7 14.De2 c5 Alekhine esta
preparando a varias jogadas sua combinação. Agora o
ponto f7 adversário esta apoiado somente pelo rei, e o
peão de e6 também esta pobremente defendido. Se inicia
o assalto final 15.Cf7 Alekhine entrega o cavalo e este
deverá ser capturado, pois não é possivel defender em
uma só jogada a dama e o peão de e6 15...Rxf7
16.Dxe6+!! Notável e surpreendente sacrifício de dama
16...Rg6 [16...Rxe6 17.Cg5#] 17.g4 e mate na jogada
seguinte. 1-0

Position after:

Alekhine - News [D45]

1.d4 d5 2.Cf3 Cf6 3.c4 e6 4.Cc3 c6 5.e3 Be7 6.Bd3


Cbd7 7.0-0 0-0 8.e4 dxc4 9.Bxc4 b6 10.Te1 Bb7
11.Bg5 Te8 12.Dc2 Tc8 13.Tad1 Tc7 14.Ce5 Ch5 A
posição é típica. O peão em f7 esta somente apoiado pelo
rei e o de e6 apoiado pelo peão f7. A dama negra esta
semi-bloqueada pela existência de uma torre em e1, do
bispo em e7 e do cavalo em d7, situação de peças que da
vida ao sacrifício. E agora, sem demora, qualquer
aficionado achará a manobra ganhadora. 15.Cxf7! Rxf7
16.Bxe6+! Rf8! [16...Rxe6 17.Db3+ Rd6 18.e5+ Cxe5
19.dxe5+ Rc5 20.Ce4#] 17.e5!! Nesta partida a
combinação é muito mais difícil, porque se entregou uma
peça e a manobra não é absolutamente clara, mas
considerando que o rei negro esta reduzido em sua ação
pelo domínio da diagonal a2-g8 que exerce o bispo, a as
possibilidades que as brancas tem por sua vantagem de
espaço e a ação da dama sobre as casa f5 e h7, se faz
claro que a situação negra não é muito "tranquila".
17...g6 18.Bh6+ Cg7 19.Te3 c5 20.Cd5! Bxd5
21.Bxd5 cxd4 22.Tf3+ Cf6 E agora se produz um
bonito desenlace em que se conjugam dois temas.
Primeiro, a do duplo sacricífio de peças para extrair o rei,
e logo a ação combinada dos bispos sobre o rei.
23.Txf6+ Bxf6 24.exf6 Te5 [24...Txc2 25.Bxg7#]
25.fxg7+ Txg7 26.Bb3 Retira-se o bispo para arrematar
a luta mediante a colocação da dama diante do bispo.
26...d3 27.Dc4 1-0

Position after:
Dois monumentos de combinações

A "Evergreen" e a "Imortal"

A pesar de que a partida entre Anderssen e Kieseritzky, conhecida por "Imortal", é a que
tem maior prestigio, em nossa opinião, muito mais valiosa pela situação crítica em que
ambos adversários se encontram é a segunda imortal de Anderssen, que na Alemanha foi
batizada com o nome de "Evergreen", ou "Sempre viva".

Um dos aspectos mais valiosos da beleza no xadrez é, casualmente, o grande risco que
corre quem faz a combinação. A maior abundância de sacrifícios traz mais emoção e as
maiores probabilidades de derrota caso o sacrifício fracasse. A vitória chega com maior
mérito. No conceito antigo, a importância de uma partida de xadrez residia na audácia que
o jogador emanava e na temeridade que o destacava entre os demais. Evidentemente,
havia uma grande profundidade na análise, pois ao menor erro todo este monumento de
trabalho se vem abaixo neste tipo de xadrez. Mas, os mestres antigos preferiam ganhar
combinando com perigo em lugar de faze-lo por vias mais naturais e tranquilas. Havia
nisto um prazer singular em jogar com o perigo e uma vaidade, criada pelo ambiente, que
os impedia de "acovardar-se", renunciar a combinação e fazer um xadrez mais
especulativo.

A influência de Steinitz

Quando Steinitz surgiu não se depreciou a combinação, apenas se considerou que antes
de lançar-se em uma aventura semelhante era necessário haver assegurado a própria
posição. Ou seja, surgiu em primeiro plano o princípio da própria segurança, que não
deve estar em nenhum caso sujeito aos recursos heróicos, especialmente quando não há
necessidade. Nisto fundamentou-se o xadrez moderno ao não comprometer o futuro
numa aventura luminosa.

A combinação moderna

A combinação de sacrifício deve realizar-se, pois, a pesar da beleza que tem e do


irresistível encanto que a faz tentadora, quando não há outro recurso para evitar a derrota
ou quando não se corre nenhum risco de contra-ataque ou quando se recobra o material
com rapidez. Este é o xadrez moderno, e não há dúvida de que, se falta o poder
emocional do antigo, é muito mais generoso em solidez e esta muito mais afinado com a
inteligência e o raciocínio. A mecânica e a matemática deram maior solidez as ciências e
o reflexo desta transformação no espirito humano se faz sentir de intensa maneira na
técnica enxadrística. O que antes era um problema de audácia, agora é um método de
análise e de lógica.

Anderssen - Dufresne [C52]

A "Sempre Viva"

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 Bc5 4.b4 Esta jogada se


denomina gambito Evans. Seu autor, o Capitão Evans, a
introduziu na prática das partidas rápidas em 1832, sem
supor o alcance que teria na técnica do xadrez. Se trata de
um gambito que tem por objetivo ganhar tempo no
desenvolvimento, as custas de um sacrifício de peão
lateral. A técnica provou que não é tão eficaz como se
pensava e agora sua prática é quase nula. 4...Bxb4 5.c3
Ba5 6.d4 exd4 7.0-0 d3 Uma das variantes mais lógicas.
As negras devolvem o sacrifício sem favorecer o
desenvolvimento do adversário. 8.Db3 Df6 9.e5 Dg6
10.Te1 Cge7 11.Ba3 As brancas tem dois peões a menos,
mas observe que magnífica mobilidade possuem. A
dificuldade máxima das negras é o desenvolvimento do
bispo da dama e agora, visando resolver este problema,
entregam um peão para buscar a contra-ofensiva. 11...b5
12.Dxb5 Tb8 13.Da4 Bb6 14.Cbd2 Bb7 15.Ce4 Df5
16.Bxd3 Dh5 Neste momento se inicia uma das
combinações mais extraordinárias da história do xadrez. O
valor da mesma reside no fato de que, para leva-la a cabo,
as brancas devem se colocar numa posição de mate.
17.Cf6+ gxf6 18.exf6 Tg8 As negras parecem agora ter
um ataque mais direto pela grave ameaça DxC. Um jogador
moderno teria achado o caminho da vitória de uma maneira
mais simple que Anderssen. Haveria seguido, sem dúvida,
a prudente jogada indicada por Lasker 19.Be4, defendendo
o cavalo previamente, mas isto haveria sido uma
deselegância para o impetuoso Anderssen, e o que esta
partida perdeu em simplicidade ganhou em emoção e
brilho. 19.Tad1!! Finíssima jogada, que a primeira vista
parece uma barbaridade. A uma ameaça tão direta como
DxC, com sua desagradável derivação de mate em g2, as
brancas replicam com uma manobra preparatória, mas
encerra um propósito muito recôndito. 19...Dxf3
20.Txe7+! Cxe7 21.Dxd7+!! A segunda surpresa. Agora
Position after: as brancas sacrificam a dama para poder dar um mate tão
bonito e original 21...Rxd7 22.Bf5+ Re8 [22...Rc6
23.Bd7#] 23.Bd7+ Rf8 24.Bxe7# 1-0

Anderssen - Kieseritzky [C33]

A 'Imortal"

1.e4 e5 2.f4 exf4 3.Bc4 b5 Esta jogada se chama


contra-gambito Kieseritzky. Se trata de um sacrifício
de desviação, que tem a finalidade de ganhar tempo
no desenvolvimento. Kieseritzky foi o primeiro
mestre que a praticou. 4.Bxb5 Dh4+ 5.Rf1 Cf6
6.Cf3 Dh6 7.d3 Ch5 8.Ch4 c6 9.Cf5 Dg5 10.g4
Este tipo de jogada fazia a delicia dos enxadristas do
século XIX e também agrada a multidão de
aficionados de hoje, que buscam mais a beleza que a
correta e fria técnica. 10...Cf6 11.Tg1! cxb5 12.h4
Dg6 13.h5 Dg5 14.Df3 Cg8 Única para salvar a
dama. 15.Bxf4 Df6 16.Cc3 Bc5 17.Cd5 Anderssen
segue a magnífica combinação que começou no lance
11 e agora define a partida de impressionante
maneira. Mas é evidente que a desproporção de
material em ação deve dar seus frutos. 17...Dxb2
18.Bd6!! Bxg1 [18...Dxa1+ 19.Re2 Dxg1 20.Cxg7+
Rd8 21.Bc7#; 18...Bxd6 19.Cxd6+ Rd8 20.Cxf7+
Position after: Re8 21.Cd6+ Rd8 22.Df8#] 19.e5 Dxa1+ 20.Re2
Ca6 21.Cxg7+ Rd8 22.Df6+! Cxf6 23.Be7# As
brancas deram mate com somente três peças
menores e possuem nada a menos que duas torres,a
dama e um bispo a menos, mas as peças valem pelo
que fazem e não por sua simples existência. A
partida é, sem dúvida, notável, mas o erros de
abertura foram muito graves por parte de
Kieseritzky. Se este tivesse seguido com a jogada
lógica 5... B2C na abertura nada teria havido. Mas
isto não atenua o mérito de Anderssen, que explorou
de maneira espetacular os erros de seu rival. 1-0

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