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Esta é a razão que dá vida a todos os gambitos (sacrifícios de peão na abertura para acelerar o
desenvolvimento das peças e abrir linhas para as próprias forças) e a justificativa das
combinações. Veremos, num simples exemplo de Spielmann, até que grau é fácil compreender
uma combinação numa partida que se reconhece a verdade irrefutável de que a vantagem de
tempo é superior nos planos a vantagem material.
Temos visto de que maneira se chega a triunfar no xadrez mediante a sabia transformação de
material em tempo. O mistério do sacrifício esta encerrado nesse princípio, que é
simplesmente a ciência de entregar peças para retardar o desenvolvimento inimigo e vence-lo,
antes que este possa fazer valer a teórica superioridade material.
Para evidenciarmos o tema, veremos um final magnífico, em que para triunfar se faz
necessário um série de sacrifícios de material que impedem ao adversário de por em ação suas
demais peças.
Este tema não é, por certo, uma novidade. Tem sido considerado pela maioria dos
técnicos, e com frequência preocupa quem pretende compreender os aparentes mistérios
estratégicos do jogo. Também tem outro aspecto que o faz agradável de ler e considerar
que é o objetivo direto de dar mate, e os procedimentos tão impressionantes (sacrifícios e
jogadas de iniciativa) que fazem este tema bonito e de fácil compreensão.
O sacrifício é a nota vibrante do xadrez, tem o brilho que embeleza a antiga guerra, onde
se lutava de frente e cara a cara, o que sem dúvida era menos hábil que o atual, porém
muito mais digno e emocionante. Eram problemas de vida e morte, e os ataques sobre o
roque em xadrez são sinais disto. Neles, se lutam abertamente em busca de uma vitória,
com planos claros que o adversário conhece e que em muitos casos não pode evitar. Mas
estas combinações não são misteriosas e podem se explicadas.
Para efetuar um ataque sobre o roque é fácil estabelecer alguns princípios estratégicos
indispensáveis para que o ataque tenha perspectivas de êxito. Vejamos estes princípios:
Os pontos atacáveis
As características do roque que se deseja atacar assinalam o tipo do ataque que se deve
lançar. Se o roque esta debilitado (com peão avançado) a maneira de ataca-lo consiste no
avanço dos próprios peões. Se é um roque com a configuração perfeita (todos os peões
em sua casa inicial), o meio para debilita-lo é mais perigoso para que ataca: o sacrifício
de material.
Nos ocuparemos primeiro e exclusivamente deste tipo de ataque e estabeleceremos
alguns princípios estratégicos indispensáveis para realiza-lo.
1º - Quem ataca deve possuir vantagem de espaço no centro do tabuleiro, o que equivale
a dizer que deve dominar o maior número de casas que o adversário.
4º Deve-se dominar alguma diagonal sobre o roque e deve possuir, na generalidade dos
casos, o próprio cavalo em f3.
6º Isto pode completar e até substituir a posição das colunas abertas sobre o roque
adversário.
7º Quando isto não é possivel, se deve substituir com a colocação das torres na terceira
linha. Isto para os ataques por meio de peças, quando os peões do que ataca
permanecem imóveis, que é o tipo de ataque rápido do qual vamos nos ocupar.
Vimos o princípio básico que há em muitas partidas magistrais e aprendemos que o ataque ao roque estão
regidos por uma série de princípios inalteráveis que fazem fácil a tarefa de quem os compreende e aplica
sabiamente. O ataque ao roque é o primeiro obstáculo do enxadrista principiante na marcha pela estratégia
do jogo.
As dificuldades do principiante
Uma vez que o jogador aprende o movimento das peças começa sua odisseia. Dispõe de elementos para
combater e não sabe maneja-los, e isto se converte, não só inúteis em suas mãos, mas a maioria de suas
derrotas acaba acontecendo devido a sua próprias peças que entorpecem sua ação.
O mestre Janovsky, que foi um dos maiores jogadores de combinação da época moderna, se encarrega de
debilitar o roque e quando o adversário apela ao recurso de avançar o peão da torre do rei, realiza um dos
típicos sacrifícios, que mostra a debilidade deste avanço que tanto gostam os principiantes.
Temos visto uma família de ataques sobre o roque pequeno. Este é um tema de grande
interesse e poder de atração ao aficcionado que estudaremos mais adiante vários de seus
aspectos. Agora nos ocuparemos do ataque o contra-ataque, Observaremos um duplo
duelo sobre ambos roques: o pequeno e o grande, e veremos como, por sua maior
debilidade natural deste último, triunfa geralmente que efetuou o roque na ala do rei.
Mas, antes, é justo que detalhemos por que causa é mais débil o roque grande. A razão é
simples: quando o rei se coloca na ala da dama, tem uma maior extensão os pontos
vulneráveis: c2,b2,a2. Também é um convite ao ataque, porque não há jogador, por mais
mediocre que seja, que não vislumbre uma ataque sobre o roque grande. A maior
quantidade de linhas por onde o rei pode ser atacado faz com que geralmente se abra
alguma coluna sobre o mesmo por meio dos avanços de peões, e desta forma os riscos
são muitos maiores.
O jogador que defende o roque não deve avançar os peões do seu roque. O jogador que
defende nunca deve provocar com seus peões a um peão inimigo, salvo em posições
especial; mas isto só é bom quando há tantas peças que defendem quanto as que
atacam, e quando os próprios peões encerram a própria força. Ao abrir o jogo o lado
defensor pode contra-atacar na ala atacada, mas isto é muito pouco usual. O que sucede
geralmente é que quem ataca, melhor dito, quem ataca bem, o faz porque possui maior
número de efetivos que o adversário desta ala.
Mas, dirá o aficionado, não é possivel evitar que o adversário nos provoque ? Neste caso,
cabe a um a opção de aceitar as provocações trocando peões e abrindo colunas, ou
evitar, avançando o peão atacado e começando a bloquear o jogo.
Em síntese: o bloqueio se consegue sempre quando o que atacado por meio de peões
avança seus peões agredidos, evitando que estes possam ser trocados.
Disto resulta sempre que o ataque é um problema tático, fácil de resolver favoravelmente,
sempre para quem sabe valorizar de justa maneira quando a possibilidade de ganhar
espaço se justifica o sacrifício, pois as posições de bloqueio só se desfazem por meio de
entrega de material.
Poderíamos estabelecer, por exemplo, que o roque grande é geralmente mais perigoso
para as brancas nas posições que derivam do gambito da dama que em aberturas do
peão do rei, pelo fato de que tem avançado o PBD, e este avanço deixa a mercê do
adversário a diagonal a2-g8. Igualmente poderíamos estabelecer que em sua maioria os
riscos que se derivam deste roque surgem da facilidade que tem o adversário para abrir
uma coluna sobre o rei; disto se deduz que não é prudente rocar grande quando se
avançou o PBD e tampouco quando o adversário pode trocar rapidamente os peões.
Algumas conclusões
Disto surge o seguinte: que para rocar grande sem risco há que dispor ou de um bom
contra-ataque na ala do rei que impeça ao adversário fazer o que bem intenda, ou estar
muito simplificada a situação, ou ter os peões da ala do rei vulnerados ou desarticulados.
Do ponto de vista do atacante: deve-se conservar o par de bispos a todo custo, pois a
ação cruzada dos mesmo trazem um bom número de combinações de mate. Também
devem tratar de dominar a coluna da "d" para evitar a fuga do rei e forçar o avanço de
algum peão sobre o roque, especialmente o PBD.
Veremos mais uma vez o mestre austríaco Spielmann demonstrando com seus exemplos a
força do recurso estratégico nas posições abertas do sacrifício de material, não tendo o mate
como meta, mas limitar o campo de réplica do adversário, assegurar vantagem em tempo e
espaço e obrigar o adversário (para safar-se do ataque) a devolver generosamente o sacrifício.
Observaremos que quem ataca, nestas posições, tem superioridade de peças móveis e que
dispõe de alguma linha aberta ou possibilidade de conquista-la. Desta maneira, chega-se a
máximo da eficiência das forças e assim criam vital importância e o máximo de seu poderio Se
um jogador possui uma torre e um bispo nos pontos culminantes de sua eficiência, e tem a
possibilidade de atacar mediante a ação conjugada destas peças, entregar um peão para
chegar ao ataque não é um ato temerário, mas inteligente.
Geralmente, para este tipo de estratégia, a peça que se sacrifica é o peão, por ser a
menos valiosa. Mesmo que o propósito para ganhar tempo fracasse, será possivel, com
vantagem posicional, um procedimento para compensar sua perda. Paul Morphy foi o
primeiro que chegou a este detalhe como tema estratégico, e suas vitórias foram produto
de sua habilidade para especular com o sacrifício de material como meio para assegurar
vantagem nos planos em desenvolvimento.
Para dar maior realidade ao afirmado começaremos por estudar uma partida jogado por
Spielmann contra Flamberg.
Vista a impossibilidade de chegar a um bom fim por meio deste tipo de ataque, os mestres
foram complicando a técnica do jogo e surgiu a escola moderna. Mas isto não acabou com a
combinação direta, já que seria infantil repudia-la sistematicamente; o que se fez foi retira-la
da prática das posições que não a justificavam, e os mestres modernos buscaram novas
variações da mesma ideia para complicar sua realização e faze-la menos acessível aos olhos
inexperientes.
Uma dais manobras mais interessantes deste tipo foi a do sacrifício em f7, não para dar mate
imediatamente, mas para colocar o rei inimigo diante de sua cadeia de peões. Veremos duas
curtas partidas com idêntica ideia.
Position after:
Position after:
Position after:
Dois monumentos de combinações
A "Evergreen" e a "Imortal"
A pesar de que a partida entre Anderssen e Kieseritzky, conhecida por "Imortal", é a que
tem maior prestigio, em nossa opinião, muito mais valiosa pela situação crítica em que
ambos adversários se encontram é a segunda imortal de Anderssen, que na Alemanha foi
batizada com o nome de "Evergreen", ou "Sempre viva".
Um dos aspectos mais valiosos da beleza no xadrez é, casualmente, o grande risco que
corre quem faz a combinação. A maior abundância de sacrifícios traz mais emoção e as
maiores probabilidades de derrota caso o sacrifício fracasse. A vitória chega com maior
mérito. No conceito antigo, a importância de uma partida de xadrez residia na audácia que
o jogador emanava e na temeridade que o destacava entre os demais. Evidentemente,
havia uma grande profundidade na análise, pois ao menor erro todo este monumento de
trabalho se vem abaixo neste tipo de xadrez. Mas, os mestres antigos preferiam ganhar
combinando com perigo em lugar de faze-lo por vias mais naturais e tranquilas. Havia
nisto um prazer singular em jogar com o perigo e uma vaidade, criada pelo ambiente, que
os impedia de "acovardar-se", renunciar a combinação e fazer um xadrez mais
especulativo.
A influência de Steinitz
Quando Steinitz surgiu não se depreciou a combinação, apenas se considerou que antes
de lançar-se em uma aventura semelhante era necessário haver assegurado a própria
posição. Ou seja, surgiu em primeiro plano o princípio da própria segurança, que não
deve estar em nenhum caso sujeito aos recursos heróicos, especialmente quando não há
necessidade. Nisto fundamentou-se o xadrez moderno ao não comprometer o futuro
numa aventura luminosa.
A combinação moderna
A "Sempre Viva"
A 'Imortal"