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Contextualização
Observe as imagens:
Imagens sobre o trabalho no Brasil é um dos temas mais comuns das imagens produzidas
pelo Brasil.
Para pensar
O que pretendem construir?
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Representações do cotidiano em Debret e Rugendas
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br
Na tela Ilha de Itamaracá, é possível ver dois negros escravos. Note que eles estão descalços
e sem camisa, carregando cestas de frutas. Eles estão acompanhados de outros dois homens,
que, provavelmente, são os administradores do engenho em que eles vivem.
Outra imagem atribuída a Post que documenta o universo do trabalho no Brasil colonial
pode ser vista no Mapa de Pernambuco, criado para o conjunto cartográfico executado pelos
holandeses em 1643.
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Fonte: unoparead.com.br
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
O alemão Johann Moritz Rugendas (1802 – 1858) veio ao Brasil como documentarista
da expedição chefiada por Georg Heinrich von Langsdorff, que tinha por objetivo registrar
a fauna e a flora do Brasil. Em 1824, Rugendas deixou a expedição, mas continuou
registrando os aspectos culturais do país. Retornou à Europa, onde trabalhou na publicação
de Voyage Pittoresque dans le Brésil, que foi publicado em 1835. Em 1845, Rugendas
retornou ao Rio de Janeiro, quando retratou vários membros da família real e participou de
diversas atividades culturais.
Seu livro Voyage Pittoresque dans le Brésil é composto por mais de 100 litogravuras e
forma um dos mais completos registros iconográficos do país no XIX.
Muitos críticos consideram que seu trabalho relativiza a condição da escravidão e do trabalho,
contudo seu trabalho é fundamental para o conhecimento da sociedade e da paisagem brasileira
do período imperial.
O escravo era uma presença constante nas cidades do país e as marcas da escravidão estão
presentes em várias das imagens produzidas por esses autores.
Um das gravuras mais conhecidas de Rugendas é Navio Negreiro, no qual retrata os
escravos sendo transportados para o Brasil. Nesses navios, além da superlotação, que pode
ser observada na imagem, os escravos recebiam pouca água e quase nenhum alimento, o que
ampliava o número de mortes. A composição permite ao observador visualizar as péssimas
condições a que esses indivíduos eram expostos.
Outro elemento que se pode observar na imagem é que os escravos trazidos para o Brasil
eram maioritariamente homens jovens. O número de mulheres e crianças era pequeno, pois
não representavam o perfil desejado pelos compradores.
Navio Negreiro
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Essa situação é descrita tanto por Rugendas como por Debret. Na obra O Mercado de
escravos de Valongo, de Debret, observa-se a comercialização de escravos no Rio de Janeiro.
Nesta imagem, é possível ver os negros seminus que aguardam os compradores e também as
duas figuras à esquerda da tela, que representam o traficante e o comprador.
Fonte: Wikiart.org
Fonte: Wikiart.org
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Um outro elemento presente nas obras de Rugendas é o retrato das condições de vida
dos escravos nas áreas rurais, como pode ser observado na gravura Habitações de Negros.
A moradia mais comum era a senzala, que, geralmente, era um grande barracão com uma
única entrada, a qual era fechada durante a noite. Em outros locais, como o descrito na
imagem, as moradias eram barracos construídos pelos próprios escravos. Deve-se observar,
entretanto, que isso não reduzia o controle sobre os escravos, já que o senhor pode ser visto
no canto superior esquerdo da imagem.
Habitações de Negros
Fonte: Wikiart.org
A relação entre os senhores e seus escravos era violenta, e os cativos tinham poucas formas
de defesa contra o seu proprietário, contudo os escravos nunca foram figuras passivas e
procuravam resistir à dominação, subvertendo a ordem estabelecida através de atos de
resistência, como fugas e desrespeito às regras, o que levou os senhores a repensar suas
práticas, procurando um equilíbrio entre coação e convencimento. A questão dos castigos
físicos aparece em várias das imagens produzidas pelos autores e cabe destacar: A oficina
do Sapateiro e Feitor castigando negros, de Debret, e Punição Pública na Praça de
Santana, de Rugendas.
A oficina do sapateiro
Na obra A oficina do sapateiro, podemos
ver o envolvimento dos escravos no trabalho
urbano, contudo o destaque está na relação
estabelecida entre o senhor e o escravo,
que é punido por alguma transgressão,
enquanto seus companheiros acompanham
o acontecimento com aspecto preocupado.
Fonte: Wikiart.org
Na prancha Feitor castigando negros, a ação violenta é ainda mais clara, já que se trata de
um tipo de açoite, e, como no caso anterior, a violência é acompanhada pelos outros escravos
da fazenda.
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Feitor castigando negros
Fonte: Wikiart.org
A imagem indica que os castigos tinham um aspectos pedagógico, pois, além de punir
a transgressão do envolvido, o ato indicava aos outros escravos que todos poderiam ter o
mesmo destino. Esse aspecto dos castigos físicos é ainda mais claro na imagem Punição
Pública na Praça de Santana, de Rugendas, já que o escravo é representado sendo punido
em um espaço público e, como se pode observar, outros escravos tiveram o mesmo destino.
Fonte: Wikiart.org
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Cabe observar que o Código Penal de 1830, no artigo 60, determinava que os escravos
condenados pela justiça brasileira deveriam ter suas penas comutadas para açoites:
Art. 60. Se o réo fôr escravo, e incorrer em pena, que não seja a capital, ou
de galés, será condemnado na de açoutes, e depois de os soffrer, será entregue
a seu senhor, que se obrigará a trazel-o com um ferro, pelo tempo, e maneira
que o Juiz designar
O numero de açoutes será fixado na sentença; e o escravo não poderá levar
por dia mais de cincoenta.
(BRASIL, CODIGO PENAL 1830)
Somente em 1886, com a Lei nº 3.310, de 15 de outubro, essa situação foi revertida
e ficou determinado que os escravos deveriam ser julgados e, se condenados, punidos
como os outros cidadãos do império. Na verdade, as punições aplicadas pelos senhores
a seus escravos não eram claramente controladas, entretanto o excesso de violência era
considerado um erro e desperdício de importante mão de obra.
A riqueza produzida no Brasil foi, na sua maior parte, resultado do trabalho escravo e
eles trabalhavam não só nos grandes latifúndios, produzindo cana ou café, mas também
na mineração, nas lavouras de subsistência e em muitas atividades urbanas. Dentre estas,
destacam-se imagens do trabalho das escravas de ganho, que povoavam a cidade do
Rio de Janeiro.
Esse tipo de trabalho era bastante diversificado e, pelas obras de Debret, podemos
mapear diversas atividades: vendedores ambulantes de diversos produtos, artesãos
(como os sapateiros), amas de leite e mesmo prostitutas e mendigos.
Fonte: Wikiart.org
Nessa imagem, podemos observar a atividade dos barbeiros. A imagem traz indícios
de que todos os envolvidos são escravos, já que todos estão descalços.
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Outra imagem que merece destaque é a da Vendedora de Cajus. Nessa aquarela, como
na anterior, a figura central é o escravo realizando sua atividade diária. Nela pode-se ver uma
vendedora de frutas, provavelmente melancias, e a vendedora de cajus, que pode ser vista em
primeiro plano.
Fonte: Wikiart.org
Os escravos de ganho viviam sós e deviam entregar ao senhor uma quantidade fixa de
dinheiro, além de serem responsáveis por sua alimentação e moradia.
Em Rua Direita no Rio de Janeiro, Rugendas retrata a multiplicidade desses trabalhadores
no ambiente urbano
Fonte: Wikiart.org
Nessas imagens, pode-se, ainda, observar parte da dieta dos brasileiros nesse período,
como as frutas e doces, que podem ser vistos em várias representações.
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Cabe destacar que a maior parte da população tinha uma dieta bastante simples e os
observadores eram unânimes em dizer que os escravos eram mal alimentados o que reduzia a
perspectiva de vida desse grupo. Debret descreve em seu livro:
O trabalho no mundo rural também foi retratado pelos autores em sua diversidade.
Encontram-se imagens dos tradicionais engenhos de açúcar, das atividades de mineração, da
cafeicultura e mesmo da produção de farinha de mandioca.
Comboio de Café Seguindo para a Cidade - Debret Preparação da raiz de mandioca – Rugendas
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Todas essas atividades tinham um denominador comum: a presença maciça dos escravos,
o que evidencia o fato de que a riqueza brasileira era gerada “em costas negras”.
Tudo assenta pois, neste país, no escravo negro; na roça, ele rega
com seu suor as plantações do agricultor; na cidade, o comerciante
fá-lo carregar pesados fardos; se pertence ao capitalista é como
operário ou na qualidade de moço de recados que aumenta a
renda senhor.
Jean Baptiste Debret
O espaço do trabalho, para os escravos, ajudava a forjar solidariedades e criar alianças que
obedeciam a muitas lógicas diferentes. Os escravos podiam se agrupar de acordo com sua
origem, profissão ou pelo fato de pertencer ao mesmo senhor. Esses grupos organizavam
Cena de Carnaval - Debret festas grandiosas e levavam centenas de
pessoas às ruas. Eram momentos de reunião,
de reforçar solidariedade e encontrar amigos,
tudo regado por batuques, comida e dança,
como pode ser visto na aquarela.
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Um exemplo é a cena apresentada pelo viajante francês Jacques Arago, autor de Voyage
autour du monde, no qual descreve sua passagem pelo Brasil.
Elas vão em fila, umas atrás das outras [...]. Assim, no Rio, a dama
que dirige as outras deve, de vez em quando, voltar-se e ver se a
linha foi interrompida por algum obstáculo e se todas têm sua chefe
de fila. As escravas, trajadas com elegância e quase sempre de
pés descalços, seguem suas senhoras a quatro, seis ou oito passos
de distância. Quanto mais longe elas estiverem, mais dignidade
há na marcha.
Jacques Arago, autor de Voyage autour du monde
Saiba Mais
O trabalho de Hercule Florence foi reconhecido através da pesquisa minuciosa de
Boris Kossoy sobre o tema e que resultou no livro Hercules Florence: 1833, a
descoberta isolada da fotografia no Brasil. EDUSP: São Paulo, 2006
Entre os anos de 1840 e 1860, a fotografia difundiu-se no país e isso permitiu que
novos registros da paisagem e dos tipos humanos brasileiros fossem desenvolvidos. Desse
período, destacam-se os trabalhos de Victor Frond (1821 - 1881), Marc Ferrez (1843 - 1923),
Augusto Malta (1864 - 1957), Militão Augusto de Azevedo (1837 - 1905) e José Christiano
Júnior (18-- - 1902).
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Um dos maiores incentivadores da propagação da fotografia foi D. Pedro II, que possuía
um daguerreotipo, colecionava fotografias e incentivava a atividades dos fotógrafos. Segundo
o pesquisador Pedro Karp Vasquez:
Fonte: Wikiart.org
O projeto não foi implementado completamente, contudo, em 1859, foi publicado o livro
Le Brésil Pittoresque, com textos de Charles Ribeyrolles. Esse foi o primeiro registro
fotográfico do trabalho escravo no Brasil e ajudou a popularizar locais do Rio de Janeiro,
como o Pão de Açúcar.
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Cruzador Marinheiro
Fonte: Wikiart.org
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Em 1875, passou a integrar a Comissão Geológica do Império, que foi enviada ao Nordeste
para providenciar um registro da paisagem natural e dos tipos humanos. Foi nesse contexto
que Ferrez fez o primeiro registro dos índios botocudos.
Índios Botucudos
Fonte: povosindigenas.com
Além de Post, as imagens de Albert Eckhout ficaram conhecidas pelo fato de retratarem a
fauna, a flora e os tipos humanos da colônia.
Fonte: povosindigenas.com
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Outro tema das imagens de Ferrez é a representação do trabalho escravo, que, segundo a
historiadora Lilia Moritz Schwarcz, era representado sem qualquer problema e constrangimento;
ao contrário, era apresentado de forma naturalizada e ordeira, como se pode observar na
imagem a seguir:
Fonte: blogdoims.com.br
As suas paisagens urbanas produzem um registro das mudanças trazidas pela modernização
do Rio de Janeiro e, entre seus registros mais importantes, está o registro da construção da
nova avenida central no Rio de Janeiro, marco da passagem da cidade colonial para a capital
moderna, já no período republicano
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Além desses registros, Ferrez produziu algumas da melhores imagens do cotidiano da
família real brasileira, mesmo sem ter recebido o título de Fotografo da Casa Real, como
muitos de seus contemporâneos.
Com a expansão do número de fotógrafos da capital, Ferrez destacou-se por introduzir várias
novidades tecnológicas, como a tecnologia das chapas fotográficas coloridas (autochrome),
desenvolvidas pelos irmãos Lumière.
Seu trabalho ganhou notoriedade quando suas fotografias foram reproduzidas nas notas de
dois e cem mil réis.
Outro fotografo de destaque no período foi o açoriano José Christiano Júnior que, entre 1866
e 1875, se estabeleceu no Rio de Janeiro. Nessa época, retratou africanos ou descendentes,
escravas ou libertas, enfocando seus rostos ou mostrando suas atividades profissionais.
As fotos eram realizadas em estúdio e as composições davam destaque ao tipo físico e à
atividade realizada pelo retratado. Cabe observar que eles foram tratados como “tipos” ou
exemplos genéricos e sua condição de indivíduos é minimizada no próprio título das imagens,
como Escrava da Nação Africana Olunan ou Escravo vendedor de cadeiras.
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Unidade: Outras imagens do Brasil Imperial
Outro nome de peso é o do carioca Militão Augusto de Azevedo, que ficou conhecido
pela produção do Álbum comparativo da cidade de São Paulo 1862-1887, no qual
apresentou fotografias de vários lugares da cidade nessas duas datas, criando, assim, um
enfoque comparativo para a paisagem urbana retratada. Documentou, ainda, as mudanças
sofridas pela cidade portuária de Santos, na década de 1870.
O Álbum comparativo da cidade de São Paulo é formado por 60 imagens, sendo algumas
vistas parciais de ruas, largos e prédios públicos e algumas, panorâmicas. Entre essas imagens,
Militão produziu dezoito pares comparativos, que privilegiam a cidade em construção.
Militão mostrou, com suas fotografias, a grande mudança que a cidade de São Paulo sofreu
com as transformações ocasionadas por intensa expansão urbana. A partir de 1890, com a
cultura cafeeira e o início da industrialização, o processo de ocupação da área urbana acelerou-
se: no maciço, os bairros ricos e, na várzea, os bairros mais pobres.
As fábricas eram construídas na várzea, pois os terrenos eram mais baratos e cortados por
ferrovias para escoar a produção. O baixo preço dos terrenos incentivou o surgimento de casas
de operários. Surgiram ou foram povoados bairros como Brás, Mooca, Belém, Belenzinho,
Pari, Barra Funda, Bom Retiro e Bela Vista e também trechos da Lapa, Cambuci e Água
Branca. Além de áreas distantes, como os bairros da Penha e Tatuapé.
O trabalho de Militão foi explorado como evidencia do “progresso” da cidade de São Paulo
e, além de registrar as mudanças, serviu de suporte para o orgulho do cidadão diante de sua
cidade, que se tornou moderna, graças às novas tecnologias, que permitiram registrar essas
alterações, como observado por Iris Araujo:
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