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ASPECTOS DO ROMANCE REGIONALISTA – MODERNISMO DE 30

O ALCANCE DO MODERNISMO DE 22
● Destruiu as barreiras dessa linguagem “oficializada”, acrescentando-lhe a força
ampliadora e libertadora do folclore e da literatura popular.
● Rompeu o bloqueio imposto pela ideologia oficial;
● A deformação do natural como fator construtivo, o popular e o grotesco como
contrapeso ao falso refinamento academista
PROJETO ESTÉTICO DO MODERNISMO X PROJETO IDEOLÓGICO
(LAFETÁ)
a) Projeto estético do Modernismo: renovação dos meios, ruptura da linguagem
tradicional; o que se discute principalmente é a linguagem.
Nos anos 20, a tomada de consciência do país subdesenvolvido é tranquila e
otimista, marcada pelo humor.
b) Projeto ideológico: consciência do país, desejo e busca de uma expressão
artística nacional - discute-se a função da literatura, o papel
do escritor, as ligações da ideologia com a arte - denúncia dos males sociais,
descrição do operário.
Nos anos trinta dá-se início à passagem para a consciência pessimista do
subdesenvolvimento, implicando atitude diferente diante da realidade.

CONFLITOS NO DECÊNIO DE 30 E REPERCUSSÃO NO ROMANCE DE30


● O decênio de 30 é marcado, no mundo inteiro, por um recrudescimento da luta
ideológica: fascismo, nazismo, comunismo, socialismo e liberalismo medem
suas forças em disputa ativa;
● As Frentes Populares se organizam para enfrentá-lo. No Brasil é a fase de
crescimento do Partido Comunista.
● A Revolução de 30, com a grande abertura que traz, propicia — e pede — o
debate em torno da história nacional, da situação de vida do povo no campo e na
cidade, do drama das secas etc. O real conhecimento do país faz-se sentir como
uma necessidade urgente e os artistas são bastante sensibilizados por essa
exigência.

A LITERATURA REGIONALISA DE 30
● Se o projeto estético (fase heroica dos anos 20) consistiu na “revolução na
literatura”, o romance de 30 implica a “literatura na revolução” – porque o
projeto ideológico se volta para as condições políticas e os conflitos do país.
● O romance de 30 incorpora a problematizada da realidade social brasileira.
● O regionalismo de 30 aparece como alargamento do modernismo de22.
A FIGURA DO HEROI FRACASSADO NO ROMANCE DE 30

Mário de Andrade (2002), no ensaio “A elegia de Abril”, presente em seu livro,


Aspectos da literatura brasileira, faz uma avaliação da literatura produzida no período
do regionalismo (1930), no qual se encontram, dentre outros, Graciliano Ramos, José
Lins do Rego, Rachel de Queiroz. Na avaliação ele registra, de modo descontente com a
inteligência brasileira do período, a figura do fracassado como recorrente na literatura
do Brasil, dos anos 30, conforme o que se segue:

● O romance de 30 dedicou sua energia de criação em torno da figura do


fracassado.
● A literatura regionalista de 30 produziu um herói como um ser fracassado,
resultando do “sofrimento humano criado, ou pelo menos largamente
desenvolvido na ficção contemporânea [1930] do Brasil” (p. 212)
● A representação do “indivíduo desfibrado” (ANDRADE, 2002, p. 212).
● Os escritores nacionais se puseram cantando o tipo fracassado.
● “Há sempre qualquer fracasso a descrever: um amor, uma terra, uma luta social,
um ser que faliu” (p. 212)

Mário de Andrade compara a representação do fracasso na ficção brasileira com


outras ficções, a saber:

● “Dom Quixote e Madame Bovary fracassam, mas “como todos os heróis da arte,
são seres dotados de ideias, de ambições enormes, de forças morais, intelectuais,
físicas. (...) São enfim seres capazes de se impor (...), mas que no embate contra
forças maiores são dominados e fracassam”. (ANDADE, 2002, p. 212)*

O que ocorre na literatura brasileira de 30, segundo o crítico em questão:

● O que surge não é o “fracassado derivado de duas forças em luta, mas a


descrição do ser sem força nenhuma, do indivíduo desfibrado, incompetente
pra viver, e que não consegue opor elemento pessoal nenhum, nenhum traço
de caráter, nenhum músculo como nenhum ideal, contra a vida ambiente (p.
212)
● O protagonista “se entrega à sua conformista insolubilidade” (p. 212-213)

● “Existe em nossa intelectualidade (...) a preconsciência, a intuição insuspeita de


algum crime, de alguma falha enorme, pois que tanto assim ela se agrada de um
herói que só tem como elemento de atração, a total fragilidade, e frouxo
conformismo.” (213)
● “Toda esta literatura dissolvente será por acaso um sintoma de que o homem
brasileiro está às portas de desistir de si mesmo?” (p. 213)
● O indivíduo se depara com um “cotidiano de descaminhos” (p. 217)

Referência:
ANDADE, Mário de. A elegia de Abril. In: ANDADE, Mário de. Aspectos da
literatura brasileira. 6ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002, p. 207-218.

Uma Figura-Síntese: o fracassado (Luís Bueno, 2006)

● “A hipótese de Mário de Andrade é a de que o fracasso domina o romance de 30


e define sua visão de nacionalidade”. (p. 75)
● “Contrapondo-se à sua própria visão de nacionalidade, é natural que vá
considera-la derrotista, vetor de desistência”. (p. 75-6)
● O fracassado é uma “hegemonia no romance de 30” (p. 76)
● Trata-se de uma “avaliação negativa do presente, daquela impossibilidade de ver
no presente um terreno onde fundar qualquer projeto” (p. 77), o que autor chama
de “pós-utópico”.
● “A utopia está, então, adiada, mas não de todo afastada” (p. 77)
● Só será possível pensar qualquer utopia depois de mergulhar o mais
profundamente possível nas misérias do presente” (p. 77)
● “Esquadrinhar palmo a palmo as misérias do país” (p. 77)
● Algo semelhante se passa com Eça de Queirós, autor português, “para quem o
debruçar sobre as desgraças do presente é uma forma de entreabrir as cortinas e
vislumbrar o futuro” (p. 78)
● No romance brasileiro de 30: “a formação da consciência de que o país é
atrasado canalizou todas as forças”.
● “O herói, ao invés de promover ações para transformar essa realidade negativa,
servia para incorporar algum aspecto do atraso” (p. 78)
● Para Bueno, no entanto, “esse pessimismo não aponta necessariamente para uma
‘nacionalidade desarmada para viver’”. (p. 79)
● “Trata-se de uma nacionalidade que pretende mostrar sua força e seu
aparelhamento para a vida ao encarar e incorporar o fracasso ao invés de
escapulir para outros planos” (p. )
● Uma grande conquista da literatura de 30: “a incorporação das figuras
marginais” (p. 80) na sociedade (o proletariado, a mulher, o outro).
Referência:
BUENO, Luis. Uma história do romance de 30. São Paulo: EDUSP, 2006.

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