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A MORTE E OS EPICURISTAS

Prof. Antonio Júlio Garcia Freire

UERN-Departamento de Ciências da Religião

A morte é um tema essencialmente filosófico. Os antigos filósofos estabeleceram uma estreita


relação entre a filosofia da natureza, a ética e o desparecimento, ou a morte. Os filósofos
epicuristas, como Lucrécio (séc. I a.C.), afirmavam que tudo o que existe é formado e se
decompõe: desde os corpos físicos, àqueles apreendidos pela sensibilidade e os estados
psicológicos da mente, incluindo as afecções (que chamavam de pathé) e o próprio raciocínio.
Entre esses estados, existe um que é comum a todos os seres vivos pensantes: a preocupação
constante com o medo da morte (em que pese, ser apenas um dos medos fundamentais do
mundo). Lucrécio afirmou que tal medo era comparável aos temores que impressionam as
crianças no escuro, os quais aprisionam os homens, mantendo-os presos às doenças anímicas.
Para o poeta romano, as doenças da alma estão enraizadas na noite da ignorância, no estado de
uma doença controlada por ilusões, que têm a sua própria lógica: o medo do desconhecido e do
ininteligível. Para o filósofo epicurista, esse estado patológico da alma só poderia ser vencido
através do verdadeiro conhecimento da natureza e de suas leis (naturae species ratioque).

Os medos clássicos listados por Lucrécio são os dos deuses, da morte, das punições e da privação
do prazer. Alguns deles estão conectados e são interdependentes. É o caso do medo da morte,
que, de certa forma, alimenta o medo das punições no além e, no âmbito religioso, insinua um
sofrimento eterno. Deste modo, o desejo da vida é motivado pelo medo da morte; o tolo retifica
uma vida baseada em um desejo de riqueza e de poder como forma de compensar a insegurança
advinda de tais temores. São desejos não naturais e não necessários; nunca serão satisfeitos,
porque não se trata de uma necessidade do corpo. No pior caso, levam à frustração e alimentam
o próprio medo pelos quais se justificam, iniciando um novo ciclo de temores.

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